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Falácia

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Falácias são argumentos que têm a pretensão de ser corretos e conclusivos mas
que, no entanto, possuem algum erro em sua estrutura ou seu conteúdo. São
majoritariamente encontradas em pensamentos envolvendo maus raciocínios ou
ilusões que fazem com que um mau argumento pareça adequado quando, na
verdade, é frágil ou inconsistente. Também podem ser chamadas sofismas, que são
raciocínios elaborados maliciosamente a fim de enganar o interlocutor, ou
paralogismos, que são raciocínios falsos mas, diferentemente dos sofismas, sem a
intenção de enganar.

São diversos os modos de uso do termo ‘falácia’. De maneira mais geral, é utilizada
para fazer referência a qualquer falsa crença ou ideia equivocada, como quando
alguém afirma que “todos os patos são brancos.” Em filosofia, as falácias fazem
parte do campo de estudos da lógica e nesse campo são definidas, mais estrita e
tecnicamente, como erro de argumentação ou de raciocínio e são, geralmente,
aplicados pelos lógicos àqueles argumentos que, apesar de incorretos, podem
parecer convincentes, de modo que apenas um exame cuidadoso é capaz de
revelar seu erro. Contudo, alguns argumentos são tão claramente falaciosos que
não são capazes de enganar a ninguém. O termo também foi utilizado por filósofos
da Escolástica para se referir à obra Refutações sofísticas, de Aristóteles, onde o
autor se põe a analisar as falácias de seu tempo.

A respeito da classificação das falácias, o matemático e lógico moderno Augustus


De Morgan afirma que “não há coisa alguma que possa ter o nome de uma
classificação dos modos como os homens chegam a um erro; e é muito duvidoso
que possa haver alguma.” No entanto, conhecer e classificar as falácias é muito útil
para que as mesmas possam ser identificadas. As falácias são, portanto, divididas
em dois grupos: falácias formais e falácias não-formais.

Falácias formais
Falácias formais são erros que dizem respeito à forma de um raciocínio,
independentemente de seu conteúdo, violando, assim, alguma regra formal das
diversas que são tratadas no campo da lógica. O seguinte exemplo apresenta uma
falácia formal:

Messi é craque

Cristiano Ronaldo é craque

Logo, Messi é Cristiano Ronaldo

O exemplo acima é um tipo do que chamamos de inferência lógica e pode ser


logicamente apresentado da seguinte maneira:
A=B
C=B
C=A

É possível perceber a falácia desta inferência apenas pela observação de sua


forma, não importando qual é o contexto, o tema ou os elementos que são tratados
na argumentação. Neste exemplo, a falácia é encontrada na identificação de A
(Messi) com C (Cristiano Ronaldo) por meio de sua relação com B (craque). Ou seja,
não é porque tanto Messi quanto Cristiano Ronaldo são craques que Messi e
Cristiano Ronaldo são o mesmo craque.

Falácias não-formais
Diferentemente das falácias formais, as falácias não-formais são os erros de
raciocínio em que é possível incorrer por falta de atenção, de cuidado, de
conhecimento, por um engano provocado por alguma ambiguidade da linguagem
ou, ainda, por uso de alguma argumentação maliciosa no que diz respeito ao tema
tratado. Veja-se o exemplo abaixo:

Todos os prédios são plantas

Todas as plantas têm clorofila

Portanto, todos os prédios têm clorofila

Esta inferência possui a seguinte forma lógica:

A=B
B=C
A=C

Pode-se ver que a forma acima está correta, não possui falácia formal. Contudo, há
no conteúdo da argumentação um engano provocado pelo duplo sentido da
palavra ‘planta’, que pode significar tanto uma espécie de vegetal quanto o projeto
de um determinado edifício. É, portanto, uma falácia não-formal.

As falácias não-formais possuem uma quantidade considerável de classificações


que se acumularam no decorrer da história da lógica, de maneira a dificultar seu
agrupamento em um único campo. Aristóteles as havia dividido em dois grupos,
chamados pelos escolásticos de in dictione, quer dizer, os de acordo com o modo de
se expressar, e extra dictionem, ou seja, aqueles que são independentes do modo de
expressão. Estas somavam treze diferentes classificações de falácia.
Posteriormente, diversas variações das classificações de Aristóteles foram
identificadas como falácias não-formais, além de novas classificações, de modo que
os manuais de lógica ainda não estabeleceram nenhum sistema definitivo de
classificações dos tipos de falácias não-formais.
Exemplos de falácias não-formais
Apesar dos problemas em se estabelecer uma sistematização geral das falácias
não-formais, pode-se recorrer àquela utilizada pelo lógico norte-americano Irving
M. Copi (1917 – 2002) que, em sua Introdução à lógica as separou em dois grupos:
falácias de relevância e falácias de ambiguidade. Alguns exemplos do primeiro
caso, são: Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento contra o homem),
Argumentum ad Ignorantiam (argumento por ignorância), Argumentum ad
Populum (argumento ao povo) e Argumentum ad Verecundiam (apelo à autoridade);
do segundo caso, podemos elencar a falácia do equívoco, a Anfibiologia, a falácia
da composição e a falácia da ênfase.

Leia também:

Bibliografia:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho


Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge


University Press, 1999.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy.


Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:


Mestre Jou, 1974.

JOSEPH, Horace William Brindley. An Introduction to Logic. Oxford: Claredon


Press, 1906.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/falacia/


Argumentum ad Hominem
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

O Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento contra o homem) é um


tipo de falácia de relevância, um subgrupo do que é conhecido no campo da
lógica como falácias não-formais. Nesse modelo de falácia é necessária a
participação de uma ou mais pessoas em um debate e ela acontece quando um
debatedor ataca diretamente a pessoa de seu oponente e não seu argumento, a fim
de invalidá-lo. Pode aparecer de três formas: ad hominem ofensivo, ad hominem
circunstancial e tu quoque (“você também”, em latim).

No caso ofensivo, o debatedor, em vez de refutar a verdade do argumento


adversário, ataca diretamente o caráter pessoal do oponente. Sendo assim, pode-se
encontrar o seguinte argumento:

O sr. Nestor está, neste exato momento, sendo acusado e julgado por lavagem
de dinheiro. É óbvio que não podemos levar em conta o que fala uma pessoa tão
desonesta.

Neste caso, a possível desonestidade do oponente é irrelevante para a verdade de


sua afirmação, tendo em vista que, mesmo que seja verdade a acusação adversária,
isto não implica que o sr. Nestor só diga mentiras.

O caso circunstancial é mais indireto, apontando, como o nome aponta,


circunstâncias envolvendo a vida particular do oponente.

É evidente que a motivação de Júlio em combater o consumo de vegetais


oriundos de fazendas que utilizam agrotóxicos em suas plantações é seu
interesse em aumentar as vendas de seus vegetais orgânicos. Não devemos,
portanto, aceitar sua argumentação sobre esse tema.

O argumento acima deseja invalidar a posição do oponente atacando seu tipo


particular de negócios. No entanto, o tipo de trabalho empreendido por Júlio não é
relevante para a verdade lógica de seu argumento. Júlio pode estar fundamentado
em pesquisas científicas que apontam como os agrotóxicos são prejudiciais à saúde
humana. Este tipo de argumentação é, às vezes, denominado de “envenenar o
poço”.

No terceiro e último caso, o ataque falacioso é cometido na tentativa de fazer com


que o adversário seja considerado hipócrita. Assim, num debate político um
candidato é acusado de agir de modo contrário à sua conclusão, como a seguir:
O candidato agora afirma que, para o bem do povo, os impostos sobre
alimentos devem ser reduzidos. No entanto, o público deve saber que em seu
último mandato o candidato votou a favor do aumento destes mesmos
impostos. Devemos concluir, portanto, que o candidato mente descaradamente.

Por mais que a acusação acima seja comum e que, de fato, este argumento põe em
questão a confiança no candidato, este argumento não é logicamente válido para
invalidar a verdade de sua afirmação.

O Argumentum ad Hominem é uma falácia porque não é uma argumentação lógica


mas, sim, apela para questões psicológicas. Não afeta a verdade das conclusões
mas sim sua confiança. No entanto, verdade e confiança são intimamente
conectados. Assim, quem faz uso dessa falácia é frequentemente bem sucedido,
pois apelam para as emoções do espectador.

Existem, contudo, casos em que o Argumentum ad Hominem não incorre em


falácia. Isto se na ausência de um segundo debatedor, de modo que os ataques que
um argumentador faz podem ser relevantes para a conclusão. Então, a fim de
estabelecer um juízo sobre uma pessoa, pode-se aludir ao fato de ela agredir
crianças ou ser um terrorista, por exemplo. Aqui, a intenção não é invalidar um
argumento mas demonstrar a qualidade da pessoa. Nesse caso, que ela é má.

Bibliografia:

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:


Mestre Jou, 1974.

HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California:


Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

Texto originalmente publicado em


https://www.infoescola.com/filosofia/argumentum-ad-hominem/
Argumentum ad Populum
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

O Argumentum ad Populum (argumento ou apelo ao povo, em latim) é um tipo


de falácia não-formal e é a tentativa de, ao despertar as paixões e o entusiasmo da
multidão, ganhar o apoio do público ouvinte ou leitor para uma determinada
conclusão. Publicitários e políticos estão entre aqueles que mais fazem uso desse
tipo de falácia.

Esse tipo de falácia envolve duas diferentes abordagens, a direta e a indireta.

Na abordagem direta, a pessoa que tem a palavra dirige-se à multidão a fim de


despertar um sentimento humano de pertencimento, de modo que todas as
pessoas presentes se unam para a aprovação do que lhe está sendo dito, dando a
sensação de que o argumento ou conclusão apresentada está correta. Esta
abordagem desperta uma espécie de mentalidade de massa e qualquer indivíduo
se vê compelido a concordar com a multidão, sob o risco de ser excluído e perder a
identidade e a segurança.

Ilustração: ivector / Shutterstock.com

A forma direta é mais comum em discursos políticos. Aquele que talvez tenha dado
maior visibilidade a esta forma de argumentação foi Adolf Hitler, em seus
discursos para o povo alemão durante a ascensão e o regime do partido nazista na
Alemanha. Contudo, não é somente através da fala que se pode utilizar a
abordagem direta. Ela também é aplicada a campanhas e propagandas escritas.
Frases como “somos todos trabalhadores” ou “este é o desejo do povo brasileiro”
provocam o mesmo efeito.
A abordagem indireta, por sua vez, não se dirige diretamente à multidão, mas a
um indivíduo ou a um grupo seleto e é frequentemente utilizada em campanhas
publicitárias. Esta abordagem possui três formas específicas de uso: o argumento
“eleiçoeiro” (Bandwagon argument, em inglês), o apelo à vaidade e o apelo ao
esnobismo.

O argumento eleiçoeiro é utilizado para dar a impressão de que alguém será


deixado para trás ou de fora de um determinado grupo se não se comportar da
mesma forma. Seu termo em inglês faz referência aos carros de som, comumente
utilizado em anúncios e campanhas. Como nos exemplos abaixo:

É claro que você quer almoçar em nosso restaurante. 99% das pessoas
almoçam aqui!

O povo brasileiro quer me eleger. Só você não quer?

O apelo à vaidade associa um produto a personalidades que a sociedade segue e


admira e provoca a sensação de que, se alguém adquirir aquele produto, será
igualmente admirado. Assim, uma atriz famosa é apresentada em um comercial
utilizando um vestido e dizendo: “use este vestido e seja como eu.”.

Por fim, o apelo ao esnobismo associa um determinado produto ou uma ideia a


uma condição especial, fazendo com que o espectador se sinta uma pessoa
diferenciada. Podemos encontrá-lo em campanhas publicitárias, como de bancos
ou de carros, que afirmam que uma pessoa será especial se for seu cliente. Mas
também é utilizado em diversos casos cotidianos. Por exemplo:

Este carro não para qualquer um. É para pessoas especiais e admiráveis!

Se você comer toda a sua comida vai ficar forte igual ao Super-homem!

Em todos os casos, portanto, a abordagem indireta desperta no ouvinte ou leitor


uma sensação de nobreza, caso possua aquele produto ou aja de uma determinada
maneira.

Então, enquanto a abordagem direta fala ao grupo como um todo, a abordagem


indireta se dirige a cada indivíduo, fazendo-o se sentir imediatamente forte e
seguro por fazer parte de um grupo.

O Argumentum ad Populum é uma falácia porque, apesar de ser bastante efetivo ao


ser utilizado, a aprovação da maioria não é suficiente para comprovar a verdade
de um argumento.

Bibliografia:

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:


Mestre Jou, 1978.
HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California:
Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

Texto originalmente publicado em


https://www.infoescola.com/filosofia/argumentum-ad-populum/
Apelo à autoridade
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

Para atribuir peso e validade a algum argumento é muito comum que se recorra a
autoridades no assunto tratado. Cientistas, juristas, filósofos, teólogos e
historiadores são sempre citados em discussões e trabalhos acadêmicos para
legitimar uma posição defendida. Esta é uma atitude adequada e altamente
recomendável. No entanto, desejando sair vitorioso de uma discussão ou a fim de
defender um ponto de vista a qualquer custo em um texto dissertativo, alguém
pode recorrer a uma certa autoridade que, contudo, não dispõe de legitimidade
para apontar a verdade sobre determinado assunto. Agir assim é recorrer a uma
falácia à qual dá-se o nome de apelo à autoridade (Argumentum ad Verecundiam,
em latim).

O apelo à autoridade é uma falácia de relevância, um subgrupo dentro das falácias


conhecidas no campo da lógica como falácias não-formais. São diversos os tipos de
pessoas às quais pode-se atribuir autoridade em uma discussão, desde cientistas e
pesquisadores acadêmicos até pessoas famosas. Como apontado no parágrafo
anterior, nem sempre o apelo à autoridade é uma falácia. Quando um grupo de
pessoas comuns, leigos, discute temas relacionados à física, é legítimo recorrer à
autoridade de Albert Einstein um Isaac Newton como fontes confiáveis. Entretanto,
se em um debate como esse alguém recorrer ao filósofo grego Platão ou ao
historiador Eric Hobsbawm, ele ou ela incorrerá em uma falácia.

Um dos campos em que mais podemos encontrar esse tipo de falácia é em debates
entre religiosos cristãos e darwinistas a respeito da evolução das espécies.

O pastor Silas Malafaia afirmou que não existe evolução, porque a Bíblia diz
que Deus criou o mundo. Então, é claro que Darwin estava errado.

O tema discutido no exemplo acima pertence ao campo da biologia. O pastor


Malafaia, no entanto, atua na área da religião, não possuindo nenhuma autoridade
reconhecida para legitimar posições sobre o campo acima.

Além da falta de especialidade sobre o tema, há outras formas em que o apelo a


autoridade pode ser utilizado como falácia, como apontam os exemplos a seguir:
Heinrich Himmler, comandante nazista, dizia que os judeus usavam o
capitalismo para escravizar trabalhadores e estabelecer o seu poder. Devemos,
portanto, acreditar que os judeus desejam dominar o mundo.

Representantes de uma grande rede de fastfood afirmam que um lanche da rede


pode, perfeitamente, fazer parte de uma alimentação balanceada. Logo,
devemos crer que é saudável comermos regularmente no McDonald’s.

A sra. Lourdes, de 95 anos e que possui 75% de deficiência em sua visão,


testemunha ter visto, a uma distância de 200 m, o réu atirar à queima roupa na
vítima. O júri deve, portanto, condená-lo culpado.

No primeiro exemplo, a posição do comandante nazista Himmler é diretamente


influenciada por uma visão ideológica e preconceituosa, que afeta seu julgamento
a respeito do povo judeu e não deve, portanto, ser considerada legítima. No
segundo, os representantes da rede de fastfood não desejam perder clientes ao
reconhecer os problemas à saúde causados pela ingestão regular de seus
alimentos. Têm, portanto, claros motivos para mentir a respeito dos resultados. Por
fim, o testemunho da sra. Lourdes não é confiável devido à deficiência em sua
visão.

Na experiência cotidiana, a falácia do apelo à autoridade é largamente utilizada


em campanhas publicitárias, como de bebidas e cosméticos, que tomam
personalidades famosas como autoridade. Desse modo, somos estimulados a
consumir uma determinada marca de café por ser a preferida de um
mundialmente famoso astro de cinema.

Uma das formas de se evitar esta falácia, é ter sempre em mente que, mesmo que
alguém seja realmente uma autoridade legítima, o parâmetro de verificação de um
argumento será sempre sua correspondência com a verdade.

Bibliografia:

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge


University Press, 1999.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy.


Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:


Mestre Jou, 1978.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/apelo-a-


autoridade/
Falácia da composição
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

A falácia da composição (fallacy of composition, em inglês) é um exemplo de


falácia da ambiguidade e, portanto, um tipo de falácia não-formal. Ela acontece
quando, em uma argumentação, um dos envolvidos em uma discussão toma o todo
pela parte, ou seja, assume que se algumas partes de um todo detém uma certa
característica, o todo possui necessariamente a mesma característica. Por exemplo:
se todas as peças de uma máquina são leves, logo, esta máquina é uma máquina
leve. Este argumento é falacioso porque claramente pode-se ter uma máquina que
é pesada justamente por possuir um número considerável de peças leves. Outro
exemplo de argumentação possível para este tipo de falácia afirma que se todos os
membros de um determinado grupo possuem uma certa qualidade, o grupo possui
aquela qualidade. Por exemplo: se todos os cidadãos alemães pagam todas as suas
dívidas, logo, a Alemanha paga todas as suas dívidas.

A falácia presente nos exemplos acima é clara. No entanto, deve-se ter em mente
que nem sempre a falácia da composição, bem como qualquer outra falácia,
aparece de maneira tão facilmente identificável. Veja-se o seguinte exemplo: cada
um dos soldados está devidamente preparado para a batalha. Por consequência, o
batalhão está devidamente preparado para a batalha. Em um primeiro momento, é
comum acreditar que se cada indivíduo está pronto para uma batalha, eles estão
preparados para lutar como um grupo. Contudo, este modo de reflexão deixa de
considerar elementos que são próprios do trabalho em equipe necessário para
uma batalha mas que não o são de cada soldado individual, como a organização do
grupo, as estratégias de combate e a divisão de tarefas entre os membros do
batalhão.

Para que se possa compreender melhor a natureza da falácia da composição, pode-


se aqui recorrer a exemplos mais próximos das discussões cotidianas. Veja-se o
seguinte exemplo:

Todos os escalados para a final a ser disputada pelo Flamengo são excelentes
jogadores. Logo, o time está em excelentes condições para a partida.

Na argumentação acima, o fato de cada jogador ser excelente é transferido para o


time inteiro, de modo a se considerar que se cada um está bem preparado, o time
como um todo está bem preparado. Contudo, esta crença pode não ser verdadeira,
tendo em vista que o time pode ser liderado por um mal treinador ou que cada
jogador não tenha o devido entrosamento com os outros. Este caso é o mesmo caso
do exemplo do batalhão apresentado no parágrafo anterior.

É, todavia, importante destacar que tais afirmações podem ser verdadeiras, quer
dizer, que de fato um time ou um batalhão pode estar bem preparado devido ao
fato de os jogadores e os soldados estarem bem preparados. É esta possibilidade
que faz com que a falácia da composição seja uma falácia não-formal, quer dizer, é
pela análise de seu conteúdo que se pode identificar se ela é ou não uma falácia e
não pela análise de sua mera forma.

A falácia da composição caminha de mãos dadas com seu inverso, a falácia da


divisão (fallacy of division, em inglês), que consiste em seu exato oposto, quer dizer,
afirma que se um todo possui uma certa característica, logo, todas as suas partes
possuem a mesma característica. Pode-se utilizar como exemplo dessa falácia o
inverso de um dos exemplos citados no primeiro parágrafo, a crença de que, se
uma máquina é pesada, logo, todas as peças que compõem essa máquina também
são pesadas. Esta é uma crença falaciosa porque, claramente, uma máquina
pesada pode ser composta por um grande número de peças leves que, por sua
quantidade, tornam tal máquina pesada.

Referências:

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy.


Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:


Mestre Jou, 1974.

HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California:


Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/falacia-da-


composicao/
Falácia do verdadeiro escocês
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

A falácia do verdadeiro escocês (No True Scotsman Fallacy, em inglês) é uma


falácia de ambiguidade, do grupo das falácias definidas como não-formais. Essa é
uma falácia utilizada em debates a fim de qualificar as palavras, ações e crenças de
uma pessoa, ou as características particulares de uma determinada coisa, como
sendo uma característica geral de um todo. No entanto, ao se apontar uma parte do
grupo que possui atributos diferentes, imediatamente argumenta-se que esta
pessoa ou coisa não faz parte do grupo referido, e apresenta-se uma redefinição do
argumento anterior.

Foto: u-farr / Shutterstock.com

Para se compreender tanto a natureza dessa falácia quanto sua denominação


singular, segue o exemplo abaixo:

A – Nenhum escocês põe gelo em seu uísque.


B – Eu tenho um amigo escocês que só bebe uísque com gelo.
A – Ah, mas nenhum verdadeiro escocês põe gelo em seu uísque.

Vê-se que, quando B aponta uma irregularidade no argumento inicial de A, este


imediatamente redefine seu argumento, excluindo o escocês referido por B do
grupo daqueles reconhecidos como escoceses. A, portanto, não somente altera
subitamente seu argumento inicial como atribui aos escoceses uma característica
que não possui nenhuma justificativa lógica, já que a forma como alguém bebe
uísque não está entre os elementos que fazem de um indivíduo um escocês, como
ter nascido e crescido na Escócia e ser de família escocesa, por exemplo.
Mas a Falácia do Verdadeiro Escocês costuma aparecer em sentenças muito mais
sutis do que no exemplo acima. Geralmente, quem faz uso desta falácia já
pressupõe a existência de “membros” nominais do grupo ao qual se refere, e já faz
sua afirmação sem precisar citar um argumento anterior:

Nenhum verdadeiro cristão é a favor do aborto.

O Alcorão ensina que o Islã é uma religião de paz, um verdadeiro muçulmano não
faz ataques terroristas.

Comida vegetariana não é comida de verdade.

Quem nasce no Rio de Janeiro e não gosta de praia não é um verdadeiro carioca.

Pode-se ver, portanto, que, dos assuntos mais sérios às discussões mais banais, a
Falácia do Verdadeiro Escocês é sempre um recurso fácil para quem deseja, sem
fundamento lógico, legitimar suas afirmações.

Se o que pode ser visto facilmente no uso dessa falácia é a súbita reformulação do
argumento anterior, mais discretamente o que está em jogo é a discussão sobre o
significado do conceito tratado. Ao se referir ao escocês, ao cristão, ao muçulmano,
à comida e ao carioca, inicia-se um novo debate sobre o que significa ser escocês,
cristão, muçulmano, carioca ou sobre o que é comida, que suspende a discussão
anterior. Isto nada mais é do que trocar uma discussão por outra, mas
pretendendo estar dentro da mesma discussão. Esta tática é claramente falaciosa
por não apresenta nenhuma evidência lógica que a justifique e por sua vaga
generalização.

A origem do termo é atribuída ao filósofo britânico Antony Flew que, na obra de


1975 intitulada Thinking about Thinking, escreveu:

“Imagine Hamish McDonald, um escocês, sentando com seu jornal e vendo um


artigo sobre como o ‘maníaco sexual de Brighton ataca novamente’. Hamish
está chocado e declara que ‘nenhum escocês faria uma coisa dessas’. No dia
seguinte, ele senta novamente para ler o seu jornal e desta vez encontra um
artigo sobre um homem de Aberdeen cujas ações brutais fazem com que as do
maníaco sexual de Brighton pareçam cavalheirescas. Este fato mostra que
Hamish estava errado em sua opinião, mas ele irá admitir isso? Provavelmente
não. Desta vez ele diz, ‘Nenhum verdadeiro escocês faria uma coisa dessas’”.

Referências:

FLEW, Antony. Thinking About Thinking. In.: ThoughtCo. Disponível em:


<https://thoughtco.com/the-no-true-scotsman-fallacy-250339>. Acesso em: 22 de
nov. 2019.
PBS IDEA CHANNEL. The “No True Scotsman” Fallacy | Idea Channel | PBS
Digital Studios. Disponível em: https://youtu.be/5zzSqL--d_I. Acesso em: 22 de nov.
2019.

RATIONALWIKI. No True Scotsman. Disponível em:


<https://rationalwiki.org/wiki/No_True_Scotsman>. Acesso em: 22 de nov. 2019.

THOUGHTCO. Understanding the “No True Scotsman” Fallacy. Disponível em:


<https://thoughtco.com/the-no-true-scotsman-fallacy-250339>. Acesso em: 22 de
nov. 2019.

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Falácia da falsa causalidade
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

A falácia da falsa causa ou da falsa causalidade é um tipo de falácia não formal e


aparece em qualquer argumentação que estabeleça uma relação de causa e efeito
entre dois elementos quando, na verdade, não existe esse tipo de relação entre
elas.

Pode-se encontrar a falácia da falsa causa em três formas distintas. A primeira


delas é conhecida como post hoc ergo propter hoc (“depois disto, portanto por
causa disso”, em latim). Neste caso, o argumento é construído de modo a
estabelecer uma relação de causalidade entre um elemento e outro por que o
primeiro é temporalmente anterior do segundo. Por exemplo:

Nas últimas copas do mundo de futebol, toda vez que o cantor Mick Jagger
vestiu a camisa da seleção brasileira ela foi derrotada. Portanto, para que que
seleção brasileira seja campeã da copa do mundo, Mick Jagger deve parar de
usar a camisa da seleção.

A conclusão deste exemplo depende da suposição de que a causa da derrota da


seleção brasileira nos jogos da copa do mundo é o fato de que, antes do início da
partida, o cantor Mick Jagger vestiu a camisa da seleção e assistiu ao jogo com ela.
No entanto, a simples sucessão temporal de acontecimentos não é suficiente para
determinar que o primeiro seja causa do segundo. Outros fatores, como um mau
preparo físico, pouco desenvolvimento nos treinamentos e má relação entre os
membros da equipe apresentam razões muito mais prováveis para o mau
desempenho do time em campo. Acreditar que o uso da camisa de um
determinado time pode ser a causa de sua derrota ou de sua vitória é uma
superstição e é nelas que se encontram a maioria dos casos desse tipo de falsa
causa.

A segunda forma é comumente denominada non causa pro causa (“o que não é a
causa pela causa”, em latim). Ela acontece quando o que é tomado como causa de
algo não é realmente sua causa e este erro de causalidade é acontece por outros
fatores além da mera sucessão temporal. Veja-se o exemplo:

O Brasil possui um número excessivo de leis e, no entanto, nunca houve tantos


escândalos de corrupção. Portanto, se diminuirmos o número de leis a
corrupção também diminuirá.
O erro do exemplo acima é considerar que o excesso de leis no Brasil é a causa da
existência da corrupção. Mesmo que, em um exercício de imaginação, possamos
conceber mundos possíveis onde as leis sejam a causa da corrupção (talvez a
existência de leis impossíveis de se dessa maneira estaria desconsiderando
elementos como fraqueza moral, interesses econômicos e mesmo políticos como
causas mais próprias da corrupção).

Por fim, a falsa causalidade aparece em sua terceira forma como causa
simplificada. Aqui, a falácia acontece quando são diversas as causas de um
determinado acontecimento e, no entanto, escolhe-se considerar apenas uma delas
como causa, simplificando um caso complexo, como no exemplo abaixo:

O desempenho nas escolas públicas do Rio de Janeiro há anos vai de mau a


pior, formando até alunos analfabetos. É óbvio que a culpa é dos professores.

A falácia do exemplo acima está em considerar que os professores são os únicos


responsáveis pelo mau desempenho dos alunos nas escolas do Rio de Janeiro,
quando, obviamente, há diversos outros fatores envolvidos, como: se os alunos
vivem em área de risco, se têm se alimentado adequadamente, como é sua
estrutura familiar, etc.

Bibliografia:

AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge


University Press, 1999.

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy.


Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:


Mestre Jou, 1974.

HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California:


Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/falacia-da-


falsa-causalidade/
Falácia da falsa dicotomia
infoescola.com/filosofia/falacia-da-falsa-dicotomia/

Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

A falácia da falsa dicotomia é uma falácia não-formal e acontece quando as


premissas de um argumento são colocadas em forma disjuntiva (“ou isto… ou
aquilo”) a fim de enganar o ouvinte e faze-lo acreditar que as duas alternativas
apresentadas são as únicas possíveis no que diz respeito à questão discutida. Ela
pode ser facilmente encontrada em diálogos de crianças e adolescentes com seus
pais, em campanhas publicitárias e também entre adultos nas mais diversas
situações. Em geral, quem utiliza essa falácia prefere uma das alternativas,
enquanto a outra é indesejada. O intuito aqui é fazer o ouvinte optar pela
alternativa favorável, eliminando a indesejada. Esse modelo argumentativo é
recorrente na experiência de pais quando seus filhos adolescentes desejam obter
algo deles. Veja-se o exemplo abaixo:

1. Ou você me deixa ir na casa da Paula ou eu vou morrer. Eu sei que você não
quer que eu morra, então você tem que me deixar ir na casa da Paula.

Pode-se facilmente identificar o erro na argumentação acima. Deixar de fazer uma


visita a alguém não é, necessariamente, uma atitude mortal. Essa pessoa pode ficar
triste por alguns dias mas, certamente, não morrerá por causa disso. Percebe-se o
erro nas premissas por elas, de modo algum, esgotarem as possibilidades da
situação apresentada.

Os diferentes tipos de propaganda também podem incorrer em falsas dicotomias.


Estes dois exemplos apresentam situações que podem ser bastante comuns:

2. Compre o novo carro X ou você sempre chegará atrasado em seus


compromissos!

3. Vote no partido Y ou esse país irá à falência!

As duas propagandas acima, uma comercial e a outra política nos apresenta casos
bastante simples de falácias da falsa dicotomia. A primeira, pressupõe que
somente comprando o carro X o espectador chegará sempre no horário. A segunda,
que nenhum outro partido senão o Y é capaz de salvar o país. Tanto uma
propaganda quanto a outra desconsidera a possibilidade de que outras opções
atendam tanto ao desejo do consumidor quanto às expectativas do eleitor. Um
carro Z poderia ser suficiente para a demanda de um certo consumidor e um
partido B poderia muito bem apresentar propostas mais coerentes para a
realidade de um país.
Também é possível encontrar esse modelo de falácia no cotidiano, quando duas
pessoas põem-se a debater a respeito de um ponto comum a respeito da qual
ambas têm posições divergentes. Uma das situações mais evidentes é a seguinte,
bastante comum no debate político:

4. Ou você é de esquerda ou é de direita.

Este argumento pode até soar correto, em um primeiro momento. Mas, na verdade,
ignora todo um campo de possibilidades políticas com as quais uma pessoa pode se
identificar. Uma breve pesquisa sobre os diferentes espectros políticos existentes é
suficiente para que se possa demonstrar a falácia desse enunciado.

Por fim, é importante notar a forma como os exemplos 2, 3 e 4 foram postos: eles
não apresentam a fórmula completa do argumento, ou seja, o “ou isto… ou aquilo”,
como no enunciado de número 1. No entanto, apenas a apresentação das
premissas disjuntivas é suficiente para o espectador compreender o enunciado. É
nesta forma que as falsas dicotomias são mais comumente encontradas.

REFERÊNCIAS

CARNEADES.ORG. False Dichotomy (Logical Fallacy). Disponível em:


https://youtu.be/XIyLqUOJ0lY. Acesso em 13 de nov. 2019.

HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California:


Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/falacia-da-


falsa-dicotomia/
Falácia da falsa equivalência
infoescola.com/filosofia/falacia-da-falsa-equivalencia/

Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

Existem muitas questões que não possuem necessariamente uma verdade, são
questões que, na maioria das vezes, dependem do gosto de quem os avalia. Por
exemplo: “qual a melhor música de Chico Buarque: Construção ou Geni e o
Zeppelin?” ou “Qual é o melhor super-herói do cinema, Capitão América ou Homem
de ferro?” Estes são exemplos simples, que não afetam direta ou gravemente a
ninguém. No entanto, esse tipo de questão também existe em temas mais
complexos que afetam uma grande variedade de pessoas, são temas que exigem
uma análise mais profunda, como discussões sobre políticas públicas. Por exemplo:
devem ser aplicadas cotas raciais para o ingresso em universidades públicas? Deve
ser criado um imposto sobre as grandes fortunas? Estas são questões em que se faz
necessária uma análise séria e rigorosa, mas não há sobre elas um consenso sobre
onde (ou com quem) está a verdade, de modo que em alguns contextos uma
alternativa é mais adequada que a outra e vice-versa.

Entretanto, não são todos os casos que devem ser considerados a partir de dois ou
mais pontos de vista. Alguns debates não devem ser levados em conta porque um
dos lados não possui respaldo para a discussão, quer dizer, não possui o
conhecimento científico necessário para assumir um posicionamento sério a
respeito da questão. Um exemplo é a discussão sobre o verdadeiro formato da
Terra. Desde a antiguidade diversos pensadores realizaram análises científicas que
confirmavam a forma esférica da Terra até que o ser humano pudesse ir ao espaço
e confirmar com seus próprios olhos o formato do planeta. Todavia, pessoas de
diversas partes do mundo tem questionado essa verdade fundamentados em
crenças ideológicas, preconceitos e opiniões divulgadas nas redes sociais que não
possuem nenhum suporte científico. Sendo assim, dar lugar a um debate como esse
é atribuir o mesmo valor de relevância aos dois lados quando, na verdade, essa
igualdade não existe. A esse tipo de erro dá-se o nome de falácia da falsa
equivalência.

A falácia da falsa equivalência é uma falácia não-formal e acontece quando dois


lados opostos de um argumento são apresentados como equivalentes quando, na
verdade, não o são. É bastante recorrente em discussões políticas e científicas,
como no exemplo anterior. Um exemplo político de falsa equivalência pode ser
encontrado em argumentos que tendem a equiparar dois personagens políticos,
por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro ao ditador nazista Adolf Hitler, como se
ambos fossem equivalentes quando, na verdade, não o são.
No âmbito dessa falácia pode-se encontrar também a falácia do equilíbrio (balance
fallacy, em inglês), que é bastante comum em debates promovidos por programas
de auditório e jornais televisivos. Nesse caso, a falácia se dá em inserir na
discussão alguém que não possui autoridade sobre o assunto a fim de discutir com
uma pessoa devidamente qualificada. Um exemplo desse caso são as frequentes
discussões a respeito do meio ambiente em que, para debater com um cientista
devidamente qualificado, que apresenta dados preocupantes sobre incêndios e
desmatamentos em regiões florestais, coloca-se em oposição uma pessoa sem a
devida qualificação para o debate, apenas para provocar uma tensão no debate.

As falácias de equivalência e de equilíbrio não produzem nenhum conhecimento


verdadeiro e, na maioria das vezes, deixam o espectador ainda mais confuso ou
provocam a confiança em crenças equivocadas.

Referências:

ABOVE THE NOISE. False Equivalence: Why It’s So Dangerous. Disponível em:
https://youtu.be/oFC-0FR2hko. Acesso em: 16 de nov. 2019.

SKEPTICAL RAPTOR. False equivalence and false balance. Disponível em:


https://www.skepticalraptor.com/skepticalraptorblog.php/logical-fallacies/false-
equivalence-logical-fallacies/. Acesso em: 16 de nov. 2019.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/falacia-da-


falsa-equivalencia/

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Falácia do espantalho
infoescola.com/filosofia/falacia-do-espantalho/

Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

Um espantalho é um boneco intencionalmente construído para assemelhar-se a


um ser humano a fim de espantar aves indesejadas de determinadas plantações. A
falácia do espantalho (the straw man fallacy, em inglês) é um tipo de falácia não-
formal e é um modo de argumentação onde, em um debate entre duas pessoas, um
oponente se propõe a refutar o argumento adversário mas, no fim, o faz
distorcendo este argumento e, ao atacar a versão distorcida, mais fácil de ser
refutada, considera ter derrotado o argumento original. Diz-se a respeito de quem
argumenta dessa maneira que ele criou um espantalho e o derrotou em uma luta,
considerando, assim, que também derrotou o homem verdadeiro (no caso, o
argumento adversário).

A falácia do espantalho é bastante comum e pode acontecer tanto por engano


quanto por malícia. Ela acontece por engano quando falta ao interlocutor
conhecimento a respeito de alguma informação referente ao tema discutido. Por
exemplo:

O evolucionismo afirma que os seres humanos não são diferentes dos macacos.
No entanto, os seres humanos são diferentes dos macacos porque são muito
mais inteligentes do que eles. Logo, o evolucionismo está errado.

O erro, ou o espantalho, do exemplo acima está em se acreditar que o


evolucionismo afirma que macacos e seres humanos não são diferentes. Esta
afirmação é falsa porque, claramente, o evolucionismo afirma que os seres
humanos são muito diferentes dos macacos. Esta crença não é maliciosa, mas é um
engano causado pela falta de conhecimento a respeito do tema.

A falácia do espantalho é utilizada de forma maliciosa quando alguém distorce


intencionalmente um argumento adversário a fim de tornar mais fácil sua
refutação. Veja o exemplo abaixo, utilizado por Patrick J. Hurley:

O Sr. Goldberg argumentou contra a oração nas escolas públicas. Obviamente o


Sr. Goldberg é a favor do ateísmo. Mas ateísmo é o que havia na Rússia. O
ateísmo leva à supressão de todas as religiões e à substituição de Deus por um
estado Onipotente. Isto é o que queremos para este país? Eu duvido.
Claramente o argumento do Sr. Goldberg não tem nenhum sentido.
Aqui, o ateísmo é um espantalho utilizado pelo opositor do Sr. Goldberg a fim de
vencer seu argumento de maneira mais fácil, pois claramente o argumento do Sr.
Goldberg possui premissas, tais como a pluralidade religiosa e a laicidade do
Estado, que são desconsideradas quando se trata do ateísmo.

O uso malicioso da falácia do espantalho também pode ser encontrado em


respostas a perguntas. É muito comum percebermos seu uso em meio a debates
políticos. Como abaixo:

Candidato 1: Candidato 2, é verdade que o senhor utilizou da verba pública


para fazer viagens particulares?

Candidato 2: Muito obrigado pela sua pergunta, Candidato 1. No meu


governo, aplicaremos a verba para viajarmos pelo país para conhecer a
condição de vida do nosso povo, para atendermos melhor aos mais
necessitados.

Neste exemplo, a resposta do Candidato 2 é um espantalho criado


intencionalmente para fugir da pergunta que lhe foi feita. Ele não responde à
pergunta do Candidato 1, mas sim à pergunta “como o senhor pretende utilizar a
verba pública em seu governo?”, que pode ser mais facilmente respondida.

Referências:

BUNNIN, Nicholas; YU, Jiyuan. The Blackwell Dictionary of Western Philosophy.


Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

HURLEY, Patrick J. A Concise Introduction to Logic. California:


Wadsworth/Thomson Learning, 2000.

WIRELESS PHILOSOPHY. CRITICAL THINKING – Fallacies: Straw Man Fallacy


[HD]. Disponível em: https://youtu.be/hfil34ayaEU. Acesso em: 12 de nov. 2019.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/falacia-do-


espantalho/
Argumentum ad Nauseam
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Por Matheus Maia Schmaelter


Doutorado em andamento em Filosofia (UERJ, 2018)
Mestre em Filosofia (UERJ, 2017)
Graduado em Filosofia (UERJ, 2015)

Nos dias atuais, especialmente em discussões em redes sociais na internet, as


discussões a respeito dos mais variados temas têm-se tornado cada vez mais
comuns. Devido à velocidade da informação e da rapidez com que passa-se de um
tema a outro, os debates passaram a ser cada vez mais rápidos, a fim de atender às
necessidades imediatas desenvolvidas na sociedade. No entanto, a agilidade em
argumentações nem sempre favorecem aos debates e são raros aqueles que
possuem a habilidade de argumentar de maneira rápida com argumentações
corretas e bem fundamentadas, o que faz com que sejam frequentes as
argumentações falaciosas, quer dizer, que não fundamentam corretamente,
acidental ou intencionalmente, suas conclusões.

Ilustração: autumnn / Shutterstock.com

Destes modos de argumentação falaciosa, um das que se pode ver recorrentemente


é o chamado Argumentum ad Nauseam (literalmente “argumento até a náusea”,
em latim), também conhecido como argumento pela repetição. Esta forma de
falácia pode ser vista em discussões onde um dos debatedores tenta ganhar seu
oponente pelo cansaço, como se diz popularmente, ao repetir até à exaustão (ad
nauseam) seu argumento sobre o assunto, conforme o exemplo abaixo:
A – O ex-presidente Lula é inocente e deve ser solto da prisão.

B – Mas o que prova que ele é inocente?

A – Ele é inocente. Seu julgamento foi injusto e, portanto, deve ser anulado.

B – Sim, eu entendo sua posição. Mas quais são as provas?

A – A prova é que ele não fez nada.

B – (desiste da discussão)

Aqui, vemos como A é tão convicto de sua conclusão a respeito da inocência do ex-
presidente que, para ele, basta sua própria afirmação, considerando-a um
argumento suficiente. Em geral, quem assume essa forma de posição considera-se,
ao fim do debate, vencedor, tendo em vista que o adversário, a seu ver, não foi
capaz de rebater seus argumentos, enquanto este, na verdade, apenas cansou do
debate.

Mas não é só em debates nas redes sociais que esta argumentação pode ser
encontrada. Na história dos embates entre religião e ciência esse modo de
argumentação é tão comum dentro do tema que é frequentemente utilizado como
exemplo nas fontes que se propõe a explicar o Argumentum ad Nauseam.

A – Se a Bíblia diz que Deus existe, então é verdade.

B – Mas que evidências você encontra da existência de Deus?

A – Eu encontro na Bíblia.

B – Ok. Você já falou isso. Mas, e as evidências?

A – Minha evidência é a Palavra de Deus.

Ainda que a crença e a descrença sejam igualmente possíveis, bem como a


existência ou não de uma entidade espiritual superior, seja o Deus cristão ou um
orixá do candomblé, a argumentação do exemplo acima é logicamente insuficiente
por não demonstrar nenhuma comprovação da verdade do argumento. Nesse caso,
mais uma vez, o que resta para a defesa do argumento é a repetição do mesmo.

Outro exemplo, menos explícito que os apresentados acima, pode ser o seguinte:

As pessoas burras são muito chatas! Elas mostram a sua burrice falando coisas
burras!

Neste exemplo, quem enuncia a afirmação não fundamenta a verdade de seus


argumentos, apenas repete seu juízo. Pode-se perceber que essa fórmula pode ser
repetida à exaustão.
O Argumentum ad Nauseam pode, claramente, ser utilizado de maneira maliciosa
por alguém que não deseja ser vencido em um debate, mas este não é o único caso.
Muitas vezes acontece de uma pessoa não ter conhecimento suficiente do assunto
para prover nenhuma evidência para além de suas certezas.

Aparentemente, esta forma de falácia é relativamente recente na história da lógica


de maneira geral e nos debates, sejam públicos ou privados, de modo a ser difícil
encontrar referências e estudos acadêmicos sobre este caso.

Referências:

LOGICALLY FALLACIOUS. Argument by Repetition. Disponível em:


https://www.logicallyfallacious.com/tools/lp/Bo/LogicalFallacies/49/Argument-by-
Repetition. Acesso em: 20 de nov. 2019.

LOGICAL FALLACIES. Argument from Repetition. Disponível em:


https://www.logicalfallacies.org/argument-from-repetition.html. Acesso em: 20 de
nov. 2019.

RATIONALWIKI. Argumentum ad Nauseam. Disponível em:


https://rationalwiki.org/wiki/Argumentum_ad_nauseam. Acesso em: 20 de nov.
2019.

Texto originalmente publicado em


https://www.infoescola.com/filosofia/argumentum-ad-nauseam/

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"Não cometerás nenhuma dessas 24 falácias lógicas"
papodehomem.com.br/falacias-logicas/

O filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce fala que as


lógicas são "ferramentas para o raciocínio correto".

Não sou nenhum grande entendido sobre o assunto, mas acho lógica um assunto
fascinante. O pouco que conheço e observo já acaba sempre sendo muito útil em
conversas, diálogos, em qualquer ocasião que peça algum tipo de análise,
construção e exposição de raciocínio ou argumentação.

Agora, quando falamos "construção e exposição de raciocínio ou


argumentação", isso pode ficar parecendo uma coisa meio séria, sisuda, de
professor de filosofia ou discussões inflamadas entre ateus e crentes na internet.
Mas a verdade é que fazemos isso o tempo todo. As lógicas são o próprio esqueleto
que torna as linguagens (dos idiomas à matemática, passando, e muito, por
tecnologia da informação) possíveis.

Como de fato dependemos disso pra nos relacionarmos uns com os outros, para
nos fazer entender claramente, melhorar nossa forma de pensar e para
resolvermos as coisas práticas da vida, pode ser bem útil conhecer e entender estes
processos, ainda que superficialmente.

Já demos algumas pinceladas sobre o


tema aqui no PapodeHomem,
mencionando algumas das famosas
falácias de lógica argumentativa -- que
são um capítulo específico dentro do
tema, mas que tem aplicações bem
práticas. E estamos também
preparando um novo material, bem
completo, tratando não só de lógica,
mas das noções de debate, diálogo e
conversação, que são temas
relacionados, igualmente ricos,
complexos e comumente pouco
explorados.
Platão, Sócrates e Aristóteles estão sempre
Agora achei o site Thou Shalt Not prontos para uma boa argumentação
Commit Logical Fallacies, o mais
simpático que já vi sobre o assunto. Ele lista as 24 falácias mais comuns, em
linguagem simples, com exemplos engraçadinhos, e tem até um pôster para você
baixar em PDF, mandar imprimir na gráfica e colar na parede. Tudo de graça.
Como em português o material sobre isso é escasso, e esse é um conhecimento bem
importante quando se quer travar diálogos e debates saudáveis, resolvemos fazer
um esforço extra e traduzir todo o conteúdo do Thou Shalt Not... para
disponibilizar aqui.

Abaixo, 24 das mais comuns falácias lógicas argumentativas. A numeração não


indica nenhum tipo de hierarquia entre elas, é apenas para facilitar futuras
referencias a exemplos específicos.

Leia, entenda e não as use.

1. Espantalho

Você desvirtuou um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento de alguém, fica


bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou válida. Este tipo de
desonestidade não apenas prejudica o discurso racional, como também prejudica a
própria posição de alguém que o usa, por colocar em questão a sua credibilidade –
se você está disposto a desvirtuar negativamente o argumento do seu oponente,
será que você também não desvirtuaria os seus positivamente?

Exemplo: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e
educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a
ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.

***

2. Causa Falsa

Você supôs que uma relação real ou percebida entre duas coisas significa que
uma é a causa da outra.

Uma variação dessa falácia é a "cum hoc ergo propter hoc" (com isto, logo por causa
disto), na qual alguém supõe que, pelo fato de duas coisas estarem acontecendo
juntas, uma é a causa da outra. Este erro consiste em ignorar a possibilidade de
que possa haver uma causa em comum para ambas, ou, como mostrado no
exemplo abaixo, que as duas coisas em questão não tenham absolutamente
nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma coincidência.

Outra variação comum é a falácia "post hoc ergo propter hoc" (depois disto, logo
por causa disto), na qual uma relação causal é presumida porque uma coisa
acontece antes de outra coisa, logo, a segunda coisa só pode ter sido causada pela
primeira.

Exemplo: Apontando para um gráfico metido a besta, Rogério mostra como as


temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o
número de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a
resfriar as águas, e o aquecimento global é uma farsa.

***

3. Apelo à emoção

Você tentou manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento


válido ou convincente.

Apelos à emoção são relacionados a medo, inveja, ódio, pena, orgulho, entre
outros.

É importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode


inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas o problema e a falácia
acontecem quando a emoção é usada no lugar de um argumento lógico. Ou, para
tornar menos claro o fato de que não existe nenhuma relação racional e
convincente para justificar a posição de alguém.

Exceto os sociopatas, todos são afetados pela emoção, por isso apelos à emoção são
uma tática de argumentação muito comum e eficiente. Mas eles são falhos e
desonestos, com tendência a deixar o oponente de alguém justificadamente
emocional.

Exemplo: Lucas não queria comer o seu prato de cérebro de ovelha com fígado
picado, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas de algum país de
terceiro mundo que não tinham a sorte de ter qualquer tipo de comida.

***

4. A falácia da falácia
Supor que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não foi
bem construída ou porque uma falácia foi cometida.

Há poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém argumentar de maneira fraca
alguma posição. Na maioria dos casos um debate é vencido pelo melhor debatedor,
e não necessariamente pela pessoa com a posição mais correta. Se formos ser
honestos e racionais, temos que ter em mente que só porque alguém cometeu um
erro na sua defesa do argumento, isso não necessariamente significa que o
argumento em si esteja errado.

Exemplo: Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos
comer alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu ignorar a
posição de Amanda por completo e comer Whopper Duplo com Queijo no Burger
King todos os dias.

***
5. Ladeira Escorregadia

Você faz parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que
aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.

O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a questão
real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como não se apresenta nenhuma
prova de que tais hipóteses extremas realmente ocorrerão, esta falácia toma a
forma de um apelo à emoção do medo.

Exemplo: Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo


sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e seus macacos
Bonobo de estimação.

Exemplo 2: a explicação feita após o terceiro subtítulo - "O voto divergente do
ministro Ricardo Lewandowski e a ladeira escorregadia" - deste texto sobre aborto.
Vale a leitura.

***

6. Ad hominem

Você ataca o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de refutar o


argumento dele.

Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra


alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O
resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente de alguém
sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.

Exemplo: Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma


possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos
presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher
que não é casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um cheiro meio estranho.

***

7. Tu quoque (você também)

Você evitar ter que se engajar em críticas virando as próprias críticas contra o
acusador – você responde críticas com críticas.

Esta falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”, é geralmente


empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a atenção do acusado ter que
se defender e mudar o foco para o acusador.
A implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de que acusa o
outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade da contra-acusação, o fato é
que esta é efetivamente uma tática para evitar ter que reconhecer e responder a
uma acusação contida em um argumento – ao devolver ao acusador, o acusado não
precisa responder à acusação.

Exemplo: Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de
retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia
anteriormente no debate.

Exemplo 2: O político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter
desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a
acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou
licitações irregulares em seu mandato.

***

8. Incredulidade pessoal

Você considera algo difícil de entender, ou não sabe como funciona, por isso
você dá a entender que não seja verdade.

Assuntos complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem


alguma medida de entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém
possa entendê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no lugar desse
entendimento.

Exemplo: Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém


efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o
bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através
de, sei lá, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos.

***

9. Alegação especial
Você altera as regras ou abre uma exceção quando sua afirmação é exposta
como falsa.

Humanos são criaturas engraçadas, com uma aversão boba a estarem errados.

Em vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um novo


entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas crenças. Uma das
maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é pós-racionalizar um motivo
explicando o porque aquilo no qual elas acreditavam ser verdade deve continuar
sendo verdade.
É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos
favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína
consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na
armadilha da auto-justificação.

Exemplo: Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram
testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele
explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.

***

10. Pergunta carregada

Você faz uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela
não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa.

Falácias desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões


racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta carregada é
compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na defensiva. Esta falácia não
apenas é um apelo à emoção, mas também reformata a discussão de forma
enganosa.

Exemplo: Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia,


enquanto ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em
tom de acusação: “como anda a sua rehabilitação das drogas, Helena?”

***

11. Ônus da prova


Você espera que outra pessoa prove que você está errado, em vez de você
mesmo provar que está certo.

O ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação, nunca
com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de intenção, de provar
errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a ela nenhuma credibilidade.

No entanto, é importante estabelecer que nunca podemos ter certeza de qualquer


coisa, portanto devemos valorizar cada afirmação de acordo com as provas
disponíveis. Tirar a importância de um argumento só porque ele apresenta um
fato que não foi provado sem sombra de dúvidas também é um argumento
falacioso.

Exemplo: Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando o
Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está errado, a sua
afirmação é verdadeira.

***
12. Ambiguidade

Você usa duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar a sua verdade
de modo enganoso.

Políticos frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos,


para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam tecnicamente
mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é intrinsecamente enganoso.

Exemplo: Em um julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo,


tenta convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter cometido tal crime,
e não deve ser julgado como um humano normal.

***

13. Falácia do apostador

Você diz que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente


independentes, como rolagem de dados ou números que caem em uma roleta.

Esta falácia de aceitação comum é provavelmente o motivo da criação da grande e


luminosa cidade no meio de um deserto americano chamada Las Vegas.

Apesar da probabilidade geral de uma grande sequência do resultado desejado ser


realmente baixa, cada lance do dado é, em si mesmo, inteiramente independente
do anterior. Apesar de haver uma chance baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara
20 vezes seguidas, a chance de dar cara em cada uma das vezes é e sempre será de
50%, independente de todos os lances anteriores ou futuros.

Exemplo: Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório
teve quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma
econômica de seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.

***

14. Ad populum

Você apela para a popularidade de um fato, no sentido de que muitas pessoas


fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de validação dele.

A falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem


absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra teria se
feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que todos acreditavam que ela
era assim.

Exemplo: Luciano, bêbado, apontou um dedo para Jão e perguntou como é que
tantas pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba.
Jão, por sua vez, já havia tomado mais Guinness do que deveria e afirmou que já que
tantas pessoas acreditam, a probabilidade de duendes de fato existirem é grande.

***

15. Apelo à autoridade

Você usa a sua posição como figura ou instituição de autoridade no lugar de


um argumento válido. (A popular "carteirada".)

É importante mencionar que, no que diz respeito a esta falácia, as autoridades de


cada campo podem muito bem ter argumentos válidos, e que não se deve
desconsiderar a experiência e expertise do outro.

Para formar um argumento, no entanto, deve-se defender seus próprios méritos,


ou seja, deve-se saber por que a pessoa em posição de autoridade tem aquela
posição. No entanto, é claro, é perfeitamente possível que a opinião de uma pessoa
ou instituição de autoridade esteja errada; assim sendo, a autoridade de que tal
pessoa ou instituição goza não tem nenhuma relação intrínseca com a veracidade e
validade das suas colocações.

Exemplo: Impossibilitado de defender a sua posição de que a teoria evolutiva "não é


real", Roberto diz que ele conhece pessoalmente um cientista que também questiona
a Evolução e cita uma de suas famosas falas.

Exemplo 2: Um professor de matemática se vê questionado de maneira insistente


por um aluno especialmente chato. Lá pelas tantas, irritado após cometer um deslize
em sua fala, o professor argumenta que tem mestrado pós-doutorado e isso é mais do
que suficiente para o aluno confiar nele.

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16. Composição/Divisão
Você implica que uma parte de algo deve ser aplicada a todas, ou outras,
partes daquilo.

Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em parte, isso também se aplica ao todo,
mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o caso.

Já que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se tornar


enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde eles não existem.

Exemplo: Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento
lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por ser feito
de átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma partida de esconde-
esconde.

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17. Nenhum escocês de verdade...

Você faz o que pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar
críticas relevantes ou falhas no seu argumento.

Nesta forma de argumentação falha, a crença de alguém é tornada infalsificável


porque, independente de quão convincente seja a evidência apresentada, a pessoa
simplesmente move a situação de modo que a evidência supostamente não se
aplique a um suposto "verdadeiro" exemplo. Esse tipo de pós-racionalização é um
modo de evitar críticas válidas ao argumento de alguém.

Exemplo: Angus declara que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que
Lachlan aponta que ele é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, como um
"escocês de verdade", Angus berra que nenhum escocês de verdade põe açúcar no seu
mingau.

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18. Genética

Você julga algo como bom ou ruim tendo por base a sua origem.

Esta falácia evita o argumento ao levar o foco às origens de algo ou alguém. É


similar à falácia ad hominem no sentido de que ela usa percepções negativas já
existentes para fazer com que o argumento de alguém pareça ruim, sem de fato
dissecar a falta de mérito do argumento em si.

Exemplo: Acusado no Jornal Nacional de corrupção e aceitação de propina, o


senador disse que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia, já que
todos sabemos como ela pode não ser confiável.

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19. Preto-ou-branco

Você apresenta dois estados alternativos como sendo as únicas possibilidades,


quando de fato existem outras.

Também conhecida como falso dilema, esta tática aparenta estar formando um
argumento lógico, mas sob análise mais cuidadosa fica evidente que há mais
possibilidades além das duas apresentadas.

O pensamento binário da falácia preto-ou-branco não leva em conta as múltiplas


variáveis, condições e contextos em que existiriam mais do que as duas
possibilidades apresentadas. Ele molda o argumento de forma enganosa e
obscurece o debate racional e honesto.
Exemplo: Ao discursar sobre o seu plano para fundamentalmente prejudicar os
direitos do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do lado dos
direitos do cidadão ou contra os direitos.

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20. Tornando a questão supostamente óbvia

Você apresenta um argumento circular no qual a conclusão foi incluída na


premissa.

Este argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde as


pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas verdades
absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são ruins principalmente
porque não são muito boas.

Exemplo: A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso


porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais Infalíveis Coisas do
Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras e Não Devem Nunca Serem
Questionadas.

Exemplo 2: O plano estratégico de marketing é o melhor possível, foi assinado pelo


Diretor Bam-bam-bam.

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21. Apelo à natureza

Você argumenta que só porque algo é "natural", aquilo é válido, justificado,


inevitável ou ideal.

Só porque algo é natural, não significa que é bom. Assassinato, por exemplo, é bem
natural, e mesmo assim a maioria de nós concorda que não é lá uma coisa muito
legal de você sair fazendo por aí. A sua "naturalidade" não constitui nenhum tipo
de justificativa.

Exemplo: O curandeiro chegou ao vilarejo com a sua carroça cheia de remédios


completamente naturais, incluindo garrafas de água pura muito especial. Ele disse
que é natural as pessoas terem cuidado e desconfiarem de remédios "artificiais",
como antibióticos.

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22. Anedótica

Você usa uma experiência pessoal ou um exemplo isolado em vez de um


argumento sólido ou prova convincente.
Geralmente é bem mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no
testemunho de alguém do que entender dados complexos e variações dentro de
um continuum.

Medidas quantitativas científicas são quase sempre mais precisas do que


percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação é acreditar naquilo que
nos é tangível, e/ou na palavra de alguém em quem confiamos, em vez de em uma
realidade estatística mais "abstrata".

Exemplo: José disse que o seu avô fumava, tipo, 30 cigarros por dia e viveu até os 97
anos -- então não acredite nessas meta análises que você lê sobre estudos
metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e expectativa de
vida.

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23. O atirador do Texas

Você escolhe muito bem um padrão ou grupo específico de dados que sirva
para provar o seu argumento sem ser representativo do todo.

Esta falácia de "falsa causa" ganha seu nome partindo do exemplo de um atirador
disparando aleatoriamente contra a parede de um galpão, e, na sequência,
pintando um alvo ao redor da área com o maior número de buracos, fazendo
parecer que ele tem ótima pontaria.

Grupos específicos de dados como esse aparecem naturalmente, e de maneira


imprevisível, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal.

Exemplo: Os fabricantes do bebida gaseificada Cocaçúcar apontam pesquisas que


mostram que, dos cinco países onde a Cocaçúcar é mais vendida, três estão na lista
dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, Cocaçúcar é saudável.

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24. Meio-termo

Você declara que uma posição central entre duas extremas deve ser a
verdadeira.

Em muitos casos, a verdade realmente se encontra entre dois pontos extremos,


mas isso pode enviezar nosso pensamento: às vezes uma coisa simplesmente não é
verdadeira, e um meio termo dela também não é verdadeiro. O meio do caminho
entre uma verdade e uma mentira continua sendo uma mentira.

Exemplo: Mariana disse que a vacinação causou autismo em algumas crianças, mas
o seu estudado amigo Calebe disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa,
com provas. Uma amiga em comum, a Alice, ofereceu um meio-termo: talvez as
vacinas causem um pouco de autismo, mas não muito.

***

Espero que essa lista seja útil.

Por fim, questiono: onde já identificaram falácias lógicas em seu dia-a-dia?


Compartilhem suas dúvidas e percepções sobre o tema.

publicado em 03 de Maio de 2012, 08:00

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