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Druuna – Ou: Uma reflexão sobre a natureza da arte!

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Rafael Ranieri

Druuna é uma bela obra de arte no sentido estético; mas é seu


conteúdo ainda aceitável?
Pornografia é arte? Esse é um limite perigoso – no mínimo, capcioso. Quando escrevi no
Formiga minhas considerações sobre Garras de Anjo , da dupla Jodorowsky / Moebius ,
disse o seguinte: “Uma profunda resistência, da parte de críticos e críticos, em reconhecer
que, sim, trata-se de uma obra de arte por eles existem, de uma certa forma de publicidade
com a obscenidade, a indecência ea imoralidade que, em suas opiniões, seria inerente ao
tema. É difícil para a maior parte das pessoas, em qualquer parte do mundo, admitir que a
pornografia pode ser arte e – pior – arte que pode interessar-las de alguma forma. Então,
para aliviar esse falso limiar ético, os críticos e resenhistas assimilaram e disseminaram a
ideia de que se trata de ´erotismo´ e não pornografia . Por que resgato minhas próprias
palavras? Porque novamente me vejo diante dos mesmos cismas quando me proponho a
falar sobre Druuna , de Paolo Serpieri .

A pergunta que abre o primeiro


parágrafo, por si só, já é um interminável
pano pra manga. Exatamente por isso,
pergunte se pornografia é arte
envolvemos primeiro o que é arte – uma
tarefa hercúlea e ingrata. E também
dentro desse contexto. Intuitivamente,
podemos assumir, dadas como suas
características, que Druuna é sim uma
peça artística. De enorme qualidade e
envergadura técnica, diga-se de O autor Paolo Serpieri!
passagem. Como colocaremos a seguir,
a HQ pode não ser exatamente um
primor narrativo, mas artisticamente é uma verdadeira aula; imensos storyboards em
forma de uma ficção científica, cujas artes de Serpieri mesmo os estudantes mais
esmerados de desenho têm dificuldade de emular.

Existe sim, uma obviedade relacionada ao tópico da pornografia. Trata-se de um conceito


que está, hoje mais do que nunca, diretamente associado a um nicho de mercado e uma
certa prática que é, para além de uma moralidade natural reprovável, dentro de uma
sociedade herdeira do puritanismo judaico-cristão como a nossa , também diretamente
ligada a uma objetificação, que torna o corpo uma mercadoria. As principais vítimas
disso são bastante conhecidas – mulheres e ainda mais abominavelmente, crianças.
Então, como defender uma ideia de pornografia? Como aceitar que Druuna é sim um
objeto de arte, e não uma peça que apenas a mesma objetificação e mercantilização do
corpo feminino, apenas de maneira mais prática e glamourizada?

Vamos assumir, para efeitos de argumentação, que a HQ de Serpier é sim, uma forma de
arte avançada – apenas um aceno aos seus detratores, pois nossa posição oficial é
absolutamente ativa. Mas por que ainda temos resistência em lidar com essa ideia?
Chegaremos lá. Para entender melhor o impacto que Druuna provoca, é preciso primeiro
entender o que a HQ é. E o que ela é trata-se da herança de algumas das melhores
linhasgens dos quadrinhos. Mas antes, alguns avisos:

Aviso 1 – Este texto contém temas e fortes relacionados a gatilhos de


violência sexual

Aviso 2 – Este artigo contém imagens pornográficas inapropriadas para


menores

Aviso 3 – Este artigo contém  spoilers

Entre os quadros e os quadrinhos

Paolo Eleuteri Serpieri foi alguém com medo de se arriscar ou se expor. Desde cedo, sua
veia artística se sobrepunha à outras qualidades – a parcimônia inclusa. Veneziano um
ano antes do termo da Segunda Guerra, Serpieri passou a maior parte de sua vida em
Roma, onde, sendo um apreciador das artes, foi profundamente influenciado pelos
movimentos artísticos italianos – incluindo o Renascimento e Barroco. Imerso na beleza
da Cidade Eterna, o artista estudou arquitetura e pintura na Accademia di Belle Arti di
Roma , onde chegou a ser tutelado por Renato Gattuso , grande expoente do
neorrealismo italiano.

Formado, tentando buscar carreira nas artes plásticas – pintura principalmente –


chegando a um reconhecimento. Entretanto, havia uma dissonância entre a arte de
Serpieri e o momento vivido pelas artes plásticas na Europa: Serpieri, como aqui, era um
apreciador das belas artes, das formas perfeitas, das cores vívidas; enquanto as artes
plásticas, sempre vanguardistas, relegavam modelos antigos e buscavam o novo. O
autor entendeu que sua carreira tanto quanto o universo teria duração, ou a atenção
restrita, ou.

Curiosamente, longe dali, um ambiente efervescente desenhistas do seu calibre eram


mais apreciadores, e sua qualidade havia onde, por natureza, chamava a atenção de um
explorador das formas humanas como é Serpieri: os quadrinhos. Tendo flertado com o
expressionismo, chamava a atenção do autor como formas exageradas e o teor quase
sempre bombástico dos estilos quadrinísticos. Quando passar a se dedicar ao
figurativismo, encontra uma
oportunidade de desenvolver suas
formas dentro de um sentido – coisa que
jamais poderia fazer nas artes plásticas.

Porém, é necessário sobressair que,


apesar de uma das grandes escolas de
nascimento do mundo, Serpieri só se
reagrupar, como nona Arte por conta de
um período muito específico: a partir da
metade dos anos de 1960, a Itália do
resto da Europa, passa a profunda
influência da contracultura americana. A
grande revolução subterrânea das HQ´s
iniciada por Crumb e Kurtz estendia seus
braços pelo Ocidente, e os rebentos do
Ocidente na Botaman se transformam os
predecessores que influenciariam o
trabalho de Serpieri.
Renato Gattuso, uma das grandes referências de
Isso inclui desde os fumetto neri das Serpieri.
irmãs Giussani , passando pela linha de
produção industrial Bonelli , até quadrinhos autorais de gente de calibre, como o ítalo-
argentino Hugo Pratt . Falando sobre esse último, é curioso notar que, quando decide se
aventurar nos quadrinhos a partir de 1975, lançando junto com Raffaele Ambrosio séries
de histórias de western – a eterna obsessão italiana – Serpieri é publicado pela primeira
vez nas revistas LancioStory e, em 77 , também na Skorpio. Ambas conhecidas na Itália
por publicarem de grandes artistas sul-americanos – notadamente argentinos. Isso fez
com que muitas pessoas associassem a arte do italiano com o estilo de nomes como
Solano Lopez .

Entretanto, os westerns eram apenas o mais importantes. Serpieri tinha outros


interesses.

Donne italiano

Mais importante e diretamente relevante para o caso de Serpieri, esse período que o
precede também representa o dos quadrinhos adultos na Itália, onde se proliferaram
diversos títulos qasi -eróticos, eróticos ou mesmo pornográficos. A lista é imensa, e velha
é conhecida dos italianos como Zora la Vampira, Maghella, Biancaneve, Vartan, Jacula,
Jolanda de Almaviva, Yra, Sukia e, mais notavelmente, Lucifera , que monopolizou a
imaginação masculina italiana da mesma forma que sua editora , a Ediperiodici ,
monopolizou o mercado. Todas as mulheres, independentes, sexualmente desinibidas e
essencialmente malignas. Isso não é mera coincidência.
Como diz Simone Castaldi no livro Drawn
and Dangerous , essas anti-heroínas dos
neri e vietati representam, para o público
masculino italiano, uma maneira de
exorcizar o medo da emancipação
feminina durante o boom econômico
vivido no país após a década de 60. A
sociedade patriarcal italiana estava
lentamente redefinindo suas hierarquias
– uma transformação o homem italiano
não estava. Entenda esta relação do
homem italiano com o símbolo dessa
mulher nas HQ´s é extremamente
importante para entender a
apresentação da visão de Serpieri
relação em Druuna.

Entretanto, é necessário também


observar que havia um meio termo na
Itália entre as HQ´s mais conhecidas
como de Pratt, e a diversão pervertida e
descerebrada de Lucifera. Guido Crepax , Lucifera foi um sucesso de vendas na década de
ao desenvolver sua Valentina , que o 1970.
erotismo são precisa ser algo esvaziado
de sentir; que a objetificação do corpo feminino poderia oferecer um fio condutor
narrativo. Isso é particularmente importante, visto que o foco desse artigo é o Druuna de
Serpieri. Criada em 1965 e apresentada no grande expoente dos quadrinhos alternativos
italianos, a revista Linus , Valentina foi um personagem pop desenvolvido em inúmeras
nuances por Crepax, apresentando super-heróis, agentes secretos, feiticeiros, etc. onde o
erotismo era uma metáfora em si. A ideia de uma narrativa erótica de nuances mais
profundas e obviamente impactante no trabalho de Serpieri, e o autor italiano sempre se
referiu ao seu colega com grande deferência.

Não obstante, o trabalho de Crepax foi influenciado por outro personagem importante da
ficção científica de HQ, que também exerceu influência – em alguma medida – sobre a
Druuna de Serpieri, e que é a ponte para outra grande linhagem dos quadrinhos que serve
de fundamento para o trabalho do artista veneziano. Barbarella , Jean-Claude Forest ,
apresentado em 1962, foi uma das primeiras grandes protagonistas femininas de uma
HQ de ficção científica de teor – senão a primeira. E sua posição como ícone do
feminismo e da posição contracultura um contraponto interessante com Druuna , a qual
influenciou. Mas retornaremos a isso depois.

O que é mais importante nesse momento entender que, na França, Barbarella e Forest,
outros autores e artistas – destaca -se Moebius e Dr. a atenção do grande público para
esse gênero. A menção aos dois e à revista que fundaram, a lendária Métal Hurlant , é
particularmente relevante por dois motivos: primeiro, como aqui acima, Serpieri é
publicado pela primeira vez nos quadrinhos em 1975, mesmo no lançamento da primeira
edição da revista francesa. A transição do interesse de Serpieri pelos westernspara o sci-
fi não foi totalmente aleatório, e tem muito a ver sim com a influência da retomada
francesa do sci-fi sobre o artista italiano.

Aliás, isso nos leva ao segundo motivo:


dez anos depois da sua estreia como
quadrinista, Serpieri deixa de lado seus
queridos westerns para começar uma
empreitada em território desconhecido,
ma non troppo – e, justamente, em uma
das versões do Hurlant, a Heavy Metal :
Druuna .

Mas por quê outra mudança tão


repentina de rumor e interesse? Como
dissemos, Druuna começou a ser
publicado em 1985, pela Dargaud , para
depois chegar na HM . Na década que se
passou entre a fundação da Hurlant , o A Barbarella de Forest foi uma das precursoras de
mundo mudou; mudou ainda mais em Druuna.
relação à década de Barbarella e
Valentina . Serpieri vive dizendo em entrevistas que criou Druuna para desafiar a
“moralidade judaico-cristã ocidental”. Convenhamos: em 85, isso já era chutar cachorro
morto. Havia atrás dele um sem-número de artistas que fizeram isso de todas as formas
possíveis, desde o duo citado no primeiro parágrafo do artigo, seus
conterrâneos/predecessores, como Manarae Crepax. Ironicamente, mesmo o autor
reconhece em determinados momentos, como na entrevista para o Actua BD , em 2003,
que Druuna é uma paródia de ficção científica, um pretexto para a pornografia expressa.

Talvez um excesso de sinceridade; mas, talvez, uma certa de paciência – italianos… –


falta também explanar sobre certas nuances, obras ou involuntárias, da sua. Entretanto,
como a opinião do autor sobre sua obra não é tão importante quanto a interpretação que
ela permite, nos foquemos neste último aspecto. A apresenta da pornografia mas não
reside exatamente em ela apresenta como ela apresenta. Afinal, que se trata Druuna ?

Uma Mulher Ideal

A sinopse é relativamente longa; afinal, estamos falando de 10 volumes, publicados ao


longo de 33 anos: Morbus gravis (1985), Druuna (1987), Creatura (1990), Carnivora (1992),
Mandragora (1995), Aphrodisia (1997), The Forgotten Planet ( 2000), Clone (2003), Anima
— Tomo 0: Les origines (2016) e Venuta dal Vento(2018). Como o foco de Serpieri nunca
foi exatamente o que foi publicado nas narrativas de Druuna, a trama se desdobra em
diversas ocasiões, com grandes saltos no tempo do enredo – o que, como pontuado é
apontado por aventura muitas, não poucas vezes gera inconsistências e incoerências
internas. De toda a sua forma em cada volume, o autor é mais interessado em seu
protagonista a sua forma específica, que revela os aspectos de sua personalidade e seus
significados, do que em desenvolver uma história propriamente dita.

Nos primeiros volumes da série urbana, o enredo se desenvolve em um lugar chamado


apenas de “A Cidade” – um ambiente urbano genérico, cuja degradação é deliberada e
explicitamente exacerbada pelo autor. O que sobrou da é violenta e decadente, onde é
hostilizado e a sociedade é poder-afirmável o conhecimento de burocratas militares, em
associação com uma instituição religiosa questionável com o controle sobre “Verdade” –
o último fiapo de inteligência que acredita há nesse mundo. Ou seja, o be-á-bá no manual
das distopias contemporâneas.

Embora nunca explicitado pelo autor, pois o contexto é mais importante do que a
informação aqui, o período em questão na narrativa é conhecido como “Era dos
Homens”, e acredita-se que seja consequência, claro, de uma grande guerra de escala
apocalíptica . De toda forma, isso é história, e a população local tem preocupações mais
imediatas. Uma doença altamente desconhecida, que é tão conhecida como todos os
seres humanos difíceis de identificar – uma dose tão básica de Lovecraft para piorar o
que já é tão misteriosas para todos quantos tentaculares – dose básica de Love já é
misteriosamente complicada. Como medida preventiva, os habitantes são obrigados a
tomar um soro, que é distribuído em lugares que parecem ter saído da mente doentia de
um frequentador do SUS.

Muitos lugares selecionados da maior


parte podem ter uma vida sem qualquer
tipo de necessidade ou privacidade. Na
outra ponta da doença, aqueles
espectros contaminados por são os
níveis inferiores. Afinal, que tipo de
distopia está completa sem uma
sociedade de castas e sua hierarquia,
certo? Desnecessário dizer que Serpieri,
esse velho sádico, estabelecer sua
protagonista e seu consorte, Shastar ,
neste último local.

É necessário fazer aqui nossa primeira


inserção contextual. Pois, apesar de
eventualmente abrir de se aprofundar no
conceito de sua obra, é um fato
conhecido que o autor baseou sua
doença imaginária em algo terrivelmente
real: Morbus Gravis foi uma reação de
Serpieri à epidemia de AIDS que explodiu
nos anos 1980. Alguns de seus amigos A perfeição dos traços de Druuna contrastam com
pessoais podem ter consequências o ambiente degradado ao seu redor.
relacionadas à doença, ou que ele via
como uma ameaça aos impulsos naturais humanos, que tornam o próprio ato sexual
uma sentença de morte. O verão do amor não havia apenas acabado; era agora uma
memória distante, obscura pelo inverno de uma realidade literalmente doentia.

Essa visão lúgubre foi destilada através dos primeiros volumes, afogado em um
pessimismo soturno, muito distante do ímpeto vanguardista de Forest ou do esoterismo
de Moebius, e mais próximo do zeitgeist de um mundo cansado da Guerra Fria e agora
assolado por uma incompreensível e imparável . As páginas de Druuna são e são
infectados por Druuna são e correçados pela população saudável, e uma imagem de uma
espécie condenada – aparentemente – por suas próprias ações, é uma metáfora tão
poderosa que se sobressai até mesmo sobre uma pornografia explícita que desfila por
suas pornografias. Ou, talvez, exatamente por causa dela.

Adiante, a saga de Druuna entra em loops , que, no geral, representa uma visão de
Serpieri sobre a natureza humana, onde a beleza perfeita e passiva de Druuna se opõe
aos avanços tecno-orgânicos ouiundos de ações eminentemente masculinas – todos os
coadjuvantes a sua volta. Se descobrir que os restos da busca da humanidade foram
identificados de novo em uma nave enorme, vivendo para perpetuar a dessa nave
espacial do “estrela” – um homem chamado Lewis , que também foi o primeiro
comandante nave. Entretanto, Lewis enfrenta muito um problema: o computador da nave,
Delta , tomou o controle de tudo e não permite que Lewis morra.

Este tenta convencê-lo, apenas para que


ela descubra que, na verdade, os dois se
“fundiram” em uma única entidade, e a
destruição de qualquer um uma
representação também a destruição da
Cidade. Dr. Dr., com o passar do tempo,
com o passar do tempo a transformar a
cidade de matéria orgânica, acaba por se
transformar em uma enorme quantidade
de matéria orgânica. Em seguida, Druuna
é resgatada por uma equipe composta
por mais homens; e, dificuldade, a
doença que sofreu na cidade passa a
persegui-los na nave de resgate. E daí
em diante, os tais loops narrativos se
repetem em variações, sempre com
Druuna representando uma natureza
abusiva e explorada por uma
humanidade deformada pela tecnologia
amoral.
No geral, existe uma transição do Nos dois primeiros quadros, Lewis já assimilado
volume, Mor Gravis , os metáforas No por Delta.
geral, existe uma transição do volume,
Mor Gravis , os: passada a histeria subsequentes provocada pela disseminação da AIDS,
Serpieri usa o tropo na figura de Druuna, enquanto uma natureza semper abusada, mas
nunca corrompida, para estabelecer uma primeira metáfora visual pornográfica da
relação da humanidade com a natureza – “humanidade” aqui com “h” buscada, já que
representa apenas metade dela. A metade patriarcal, historicamente sem controle, que
sempre praticou um tipo determinado de ideologia de dominação.

De muitas formas, há uma sensibilidade irônica na escolha da pornografia do autor.


Consciente ou não, ele acaba por desenvolver, dentro de uma descrição sexual explícita,
uma espécie de crítica ecofeminista, onde a pornografia acaba para explicitar a
brutalidade do abuso da humanidade sobre a natureza, usando como metáfora os
abusos do homem sobre a mulher .

Fantasias de poder

Como diz o filósofo ético Peter Singer em seu livro Ética Prática , o ato sexual em si não
significa absolutamente nada – muito menos para quem não está participando dele.
Tudo o que nós entendemos, promulgamos e julgamos em relação ao sexo são
construções sociais, culturais e históricas. O uso da pornografia pelo mundo
contemporâneo se encaixa nesse contexto. Pense em qualquer ato pornográfico que
você já tenha visto (somos todos adultos aqui). São os elementos da representação
pornográfica que realmente estimulam ou desestimulam o espectador – a diferença
entre um filme estrelado por Sasha Gray e aquela vez em que você pegou seus pais na
cama (sinto muito por te lembrar disso).

No geral, fazer alguma coisa parecer estimulante não é tão fácil. O fato é que o tipo de
desenho é prático e porque ele gosta, ele é realmente muito bom nisso. As
representações eróticas são extremamente estimulantes, pois residem num limiar
delicado entre o realismo das e o absurdo do contexto fazendo com que, suas mesmas
formas que a saga Druuna não seja um primor narrativo, o leitor seja arrastado por outros
estímulos dentro daquele universo. O sexo apresentado por Serpieri é envolvente – até a
página dois. Pois, em algum momento, o fiapo de trama vem à tona. E o que importa.

A maior parte do sexo em Druuna não é consensual. E não, não há como dourar a
medicina. São 10 volumes de páginas e mais páginas de violação. Dada uma habilidade
de Serpieri em desenhar e criar ambientes envolventes – principalmente para o fã de
ficção científica, normalmente deixamos isso passar. Mas em algum momento, a
pornografia perde seu impacto inicial, e algumas características começam a se
sobressaltar – e não é por falta de esforço do autor de tentar impedir isso. Uma das
razões que dizemos que a narrativa de Druuna é, no mínimo, um tanto abstrata pela, é
porque existe pouquíssimo texto adornando os belos quadros, mesmo da protagonista;
ou seja, uma maneira de apreciar o corpo feminino para interagir com a mulher em si.
Entende para onde isso vai?

Trata-se menos de uma capacidade


protagonista como escritor de Serpieri e
mais um reforço da ilusão platônica
causada pelas formas apolíneas da
forma aos ambientes dionisíacos.
Entretanto, evocando aqui um certo
sarcasmo filosófico, era exatamente
Platão quem condenava a arte por ser
uma imitação da realidade, e que
deveríamos buscar essa última. O
problema em Druuna é que a realidade é
bastante controversa. Claro –
interiormente a história natural distintiva
do fato de que apocalíptico se mostra o
espetáculo da civilização é a emersão de
instintos brutais, como a satisfação da
libido masculina forçada sobre as
mulheres. Não é sem precedentes, nem
absolutamente irreal, pelo contrário.

Serpieri cria imagens grotescas de violência


Mas a pergunta é: é realmente
sexual.
necessário representar tais atos de uma
maneira glamourizada – quase apolínea,
como dissemos? Afinal, se sua intenção, diz ser, ao criar o de Dr. Una era fazer uma
crítica ao trabalho com medo nos anos bem, AIDS e pelo sexo 190, ele faz um homem
merda nesse sentido, ao universo leitor de todas as formas possíveis e imagináveis. O
ponto é: todas as “críticas” e o contexto absolutamente que o autor clama para sua obra,
como a questão da AIDS e da hipocrisia judaico-cristã seriam consistentes. Se não
existir tanto violência para relativizarmos a obra.

Como aponta RM Rhodes , uma das representações mais perturbadoras da pornografia


de Serpieri é reservada para um personagem coadjuvante, Hale . Depois de aparecer pela
primeira vez, Druuna e um grupo de poucos encontrar em terras ermas, ou paile é
assassinado e ela é obrigada a ser soldados por um soldado que toma posse dela. Uma
das coisas mais perturbadoras desse painel é uma outra representação de Druuna e
soldados esperando passivamente enquanto um “NÃO” clamoroso é gritado fora de
cena, apenas para ser ignorado. Não satisfeito, Serpieri apresenta o estupro
graficamente nas páginas seguintes, para encerrar o processo com uma imagem
perturbadora de Hale selecionado apenas a si mesma pós-trauma.
Dentro do contexto narrativo, faz todo o sentido – e, graficamente, é um primor na
condução do olhar do leitor para a progressão da ação. É um dispositivo brutal do tipo de
mundo que estamos vendo: essa ação abominável ainda é o melhor destino do que ser
tomada “Mal”. Entretanto, público-alvo da HM – esses jovens do sexo masculino – essas
imagens de uso têm significados para o contexto social, para mais profundo histórico e
cultural que trazem em relação a relação. Essas cenas tinham uma função narrativa –
mais o evento do que o ato em si, para sermos honestos – é difícil acreditar que o que
fica é a mensagem subjacente, e não uma pornografia explícita.

E, embora não seja muito conhecido do público, um personagem enorme sucesso na


Europa, onde ganhou apenas inúmeras reimpressões, até mesmo edições contendo –
claro – apenas sketches de nudez pornográfica. Mesmo que seja feito choque causado
por Serpier o mesmo a HMi adotar uma política até mesmo de auto-cens – louvável – a
arte do italiano era um dos chefes de venda da revista. E, sendo um dos bastiões dos
quadrinhos quando do seu criativo, também um oásis de liberdade, o fato de se
estabelecer uma auto-sura por conta da obra de Serpieri (e,mos justos, de alguns outros)
diz muito sobre certos limites cruzados pelo autor.

Novamente, Rhodes aponta uma outra circunstância emblemática: no terceiro volume,


Creatura , há uma cena em que Druuna é drogada e estuprada coletivamente. O problema
é que o contexto do estupro não é absolutamente claro – se fosse apenas uma imagem
espetacular, seria apenas uma das composições visuais espetaculares do autor, com
curvas e traços beirando a perfeição, e uma colorização de encher os olhos. Entretanto,
após o ato, há a fala de Druuna: “ Me perdoem, talvez nós pudéssemos viver juntos. Seus
diabinhos me deram muito prazer, sabe? Não sei o quanto das drogas foi responsável por
isso… Mas posso assegurar que foi uma experiência maravilhosa”. ( Tradução do editor ).

Percebam que, nesse caso, o problema não é exatamente a representação da cena em si;
é o contexto que torna todo o ato absolutamente desprezível e, quando percebe o prazer
evocado por ela em relação ao contexto dado pela fala no final dele, vem a náusea. Pois
existem poucas coisas tão perigosas quanto relativizar um tipo de ideia baseada na
vítima; um delírio claramente masculino, e que pode ter consequências severas se sua
audiência para uma mente já não é muito estável. Não basta dizer “ eu, como leitor,
jamais faria algo assim ”. Nesses momentos, é necessário abandonar essa mentalidade
pequena-burguesa e entender que a arte, pode sim, ter resultados muito graves.

Neste ponto, o leitor deve estar questionando se continuar publicando Druuna é viável, ou
mesmo moralmente viável hoje. Sobre isso, há que se relembrar coisas que já foram
ditas: a obra possui sim, um contexto narrativo. E esse contexto apresenta aspectos da
nossa organização e existência como espécies que não são de forma diferente. E se
consideramos que um papel da arte não é apenas apresentar o que é belo nos provoca
deleite, mas provocar e explicitar o que também rejeitamos muito e que nos incomoda,
Druunaresidir num limiar, no mínimo, digno de atenção. Para além dos peitos, além do
sexo e naturalmente estimulantes –
principalmente dentro de padrões de
beleza disseminados – existem
proposições estupidamente
contundentes, oriundas de um mundo
que enlouqueceu e deca.

De formas, a eterna da violência, sexual


ou não, serve como uma espécie de
alerta e lembrança contínua de como
esse é perturbado – e não há como não
ser usado por essa metáfora, final,
violência e feminicídio não são ficção,
muitas vezes mas algo
perturbadoramente real para qualquer
um. Todas as formas de opressão, o
autoritarismo político, religioso, sexual e
até mesmo médico, são claramente
identificados pela figura orgânica de
Druuna – nossa referência nietzscheana
humana-mais-que-humana da obra. Se é Os skecthbooks são a prova do sucesso de
intencional, o contraste entre o realismo Druuna – como imagem, não como conteúdo.

de Serpieri com a alegoria narrativa


apresenta questões que são profundas e bastante incômodas. Mas que podem ser
descritos da seguinte forma: o que significam os estupros em Druuna ?

Se o amigo leitor estiver disposto, podemos apresentar uma proposta ainda da crítica ao
trabalho do italiano Vamos falar sobre ecofeminismo .

Gaia ciência

“Dizemos que a ciência «explica», mas, na realidade, apenas «descreve». Descrevemos hoje
melhor, mas explicamos tão pouco quanto todos os nossos predecessores. Descobrimos
uma percepção de ocorrência múltipla e o homem ing investigador das civilizações mais
antigasbia apenas de duas coisas'causa' e 'e 'e dizer', como se costumava dizer. E
deduzimos: isto e isto tem de se dar primeiro para que se siga aquilo – mas, com isso, não
compreendemos absolutamente nada.”  –  Nietzche

O Ocidente é herdeiro das tradições platônica e aristotélica. O que, para todos os efeitos,
significa que, ao menos em tese, buscamos um objetivismo absoluto; um distanciamento
que nos permite compreender o todo sem sermos “contaminados”, num sentido
metodológico, pelo meio ambiente. Assim, nossa compreensão do mundo é sempre
dualista, binária, opondo qualidades objetivas e intuitivas, e onde existe uma relação
poder de um sobre o outro. Dos dualismos mais comuns, podemos perceber valores que
se disseminaram desde o aristotelismo, até mais recentemente com os positivistas –
entre eles, mente vs. corpo, civilização vs. natureza, o “eu” vs. o “outro” e, claro, homem
vs mulher.

Após o conjunto não apenas físico, mas também moral e sociológico que foi a Segunda
Guerra, e com a ascensão da Era Atômica que, não apenas não aprendeu nada com a
Guerra já pensou no preparo para uma escalada possivelmente terminal de Violência,
movimentos políticos, sociais e culturais foram questionados com maior precisão e
veemências como estruturas de poder que perpetuam esse ciclo de violência.

Entre os anos 60 e 70, surge uma nova perspectiva que analisa essas estruturas, dessa
vez não através de objetos de estudos isolados, como gêneros, etnias ou o meio-
ambiente, mas sim lança uma luz sobre o todo. O ecofeminismo busca fazer uma
associação importante entre a pressão realizada pelo homem branco contra as mulheres
e outras etnias e seu comportamento em relação ao meio-ambiente e à natureza.

Com isso, podemos muito bem fazer um


cruzamento de conceitos, de uma
reflexão extraí importante sobre Druuna .
A Lori Gruen , em Ecofeminism: Women,
Animals, Nature, Nature , busca a do
ecofeminismo, uma busca a do
ecofeminismo do método, uma busca a
do ecofeminismo como “caracterizando
a experiência espontânea, os seres
humanos, os seres vivos e as Françoise d'Eaubonne, em 1974, cunhou o termo
consequências epistemológicas do “ecofeminismo”.
método científico: , e estabelecendo um
privilégio epistemológico baseado na razão desvinculada, uma mentalidade mecanizada
distingue-se firmemente do homem da natureza, da mulher dos animais.”É uma extensão
da argumentação que diversos pensadores éticos pós-Segunda Guerra apontaram com
frequência, nos lembrando de que uma bomba atômica, por exemplo, nada mais é do que
o produto de um vasto conhecimento científico completamente dissociado de uma ética.

Da mesma forma, únicos recomeçamos uma citação de Serpier na supracitada


entrevista para o Actua BD : “ Todo o contraste da psicologia de (…) Druuna, o verdadeiro
ser humano da história. (Ela) é usado para descrever o que os seres humanos são:
atormentados, de fato, mas possuem valores. Eles são pessoas, não entidades anônimas,
números. Druuna não é uma heroina. Ela é uma mulher, com suas complexidades, uma
mulher comum, uma mulher contemporânea. (…) A mulher, psicologicamente, representa o
futuro do homem. Mas também é um outro lado da humanidade, tal qual o homem. Isto
aqui, para mim (a mulher representa) a dimensão carnal, erótica, o símbolo do ímpeto da
vida que nos impulsiona. Se eu tivesse que desenhar um homem nas mesmas condições,
eu não seria capaz de transmitir esse sentimento”.
Unindo essas duas perspectivas, do
autor e de uma interpretação
ecofeminista, pode extrair uma
aproximação desse conceito – que
naturalmente cria uma rejeição
imediatamente de homens com
dificuldades de se desvencilhar das
amarras do patriarcado – embora da
pornografia expressa e violenta, mas por
causa dela. Por polêmica e controversa
que tal afirmação parece parecer, existe
uma lógica no mundo, que aponta para
um dualismo constantemente em
ficcional científica do tradicionalismo do
– o “um” que domina “o outro” – onde o
abuso sexual é a ferramenta de escolha
para oprimir. Não parece uma realidade
absurda.

Visto que, submissos , mulheres são A aproximação de Druuna com a esfera naturalista
degradantes mesmo, submissos ou é uma demonstração latente da visão de Serpieri
complexos – como são apresentados do feminino como representação da vida e da
em geral, não são de ser uma estratégia nutrição.
interessante. Pensar que os elementos
de horror e pornografia em Drunna servem para questionar como temas ecofeministas
funcionam dentro de uma HQ, que presumivelmente serão lidas por homens brancos que
se deleitam em imagens sexualmente violentas, é um ponto central para redimir a
pornografia exegética de Serpieri.

Techne vs. Phusis


No caso de Druuna , a metáfora gira em torno de, como diz o pesquisador de quadrinhos
Matthew Jones , uma epistemologia masculina– algo que remete mesmo aos
primórdios da humanidade. Não há mesmo uma distinção do masculino e do feminino,
que distinguem a tecnologia do orgânico, o inflexível, o pacífico – existem coisas mais
resistentes nesse sentido do afrodite, deusas mais resistentes. do amor e da beleza, por
Zeus para Hefesto, armeiro e ferreiro dos deuses. Tais relações se agravaram com o
passar do tempo, pois nossa tecnologia só pode confirmar a relação dualista de poder.
Já citamos o positivismo e seu produto mais sombrio, a bomba atômica, mas a
misoginia inata produzida por relações chegam tão longe ao ponto de o homem querer
se desvencilhar da sua co-dependência da mulher, tornando-a, em definitivo, um objeto
sem função a serviço de consumo. Como disseHeidegger , “ parece que o homem
moderno corre a cabeça para este objetivo de se tecnologicamente ”.
Talvez, não à toa, um dos arcos de Druuna trate justamente de um pedaço da civilização
repleto de ciborgues e clones. Além de, no geral, o início, Serpieri aponta sua narrativa
para os perigos apocalípticos dessa linha de pensamento. O dualismo do autor não é
nada sutil. Todo o horror que vemos em Druuna foi produzido pela mão humana; e, visto
que a narrativa aponta claramente para a relação de poder onde os homens detém o
monopólio da violência, para usar uma expressão hobbesiana, os prováveis ​responsáveis
​pela obliteração da raça são humanos os homens. De muitas formas, o “Mal” e as
representações tecno-orgânicas dos monstros que habitam esse mundo nada mais são
do que uma externalização dessa epistemologia masculina pervertida que Jones
percebe na obra de Serpieri.

O fato de autor reafirmar várias vezes seu como um símbolo de pureza parece um toque
de sadismo sobre sua pornografia reveladora, mas diante desse subtexto ecofeminista
oferecido pela ambientação da narrativa nos faz perceber que, na verdade, os abusos
contínuos um homem muito profundo, e que mais profundo significado uma realidade,
com muitos homens, lidar como, um pouco mais importante a lidar. Mais do que uma
fantasia de poder, é uma crítica ecofeminista severa à maneira como esse poder
perverte, corrompe e extrapola ainda mais amoralidade inerente a essa epistemologia
masculina. O fato de Druuna permanecerá essencialmente boa – embora nunca nunca –
em um mundo doente é uma celebração da figura feminina como fundamento de uma
existência humana mais ética, mais isonômica e, em última instância,

Citando o computadorótico e homicida Delta em Morbus Gravis : “A mente feminina é


completamente completamente para mim, por causa de sua natureza humana e orgânica”.
E, tão sutil é a perspectiva de Serpieri que, no final de Creatura , quando a mente de Lewis
já está completamente fundada com a Delta, ele incumbe à Druuna libertá-lo de seu
sofrimento; ergo , cabe a figura feminina libertar o homem das chagas da tecnocracia
autofágica a qual ele se submeteru. Um mundo em que a criatividade tecnológica
masculina supera a criatividade física feminina reduz nossa humanidade e o valor da
vida. Simples assim.

Serpieri não desassocia a passividade e a natalidade da figura feminina –


diferentemente, reafirma sua necessidade para garantirmos a perpetuação da vida e seu
poder de resiliência diante da ruína do mundo causado pelos homens. E, duas silhuetas
por este lado, justifique-se – em tese – autor: duas mulheres atraentes por este lado e
incorruptível de beleza; e violência lançada sobre produtos da civilização e de uma
mentalidade essencialmente masculina. Dessa forma, a pornografia expressa, mais do
que simplesmente um diferente da mente de um homem masturbatório e sádico, possui
uma função narrativa essencial para entendermos a crítica subjacente aqui.

A pornografia brutal em vista e expressa de Paolo Serpieri é aceitável para a


sensibilidade contemporânea?
A completa epistem da espécie humana resultado
a que se refere a Jones.

Diz-me como transas, e te direi quem és

Então, voltamos à grande cruzilhada deste texto, apresentado logo no início deste: 1 –
pornografia pode ser arte?; 2 – e, Druuna pode ser qualificado como tal?; 3 – e, neste
caso, a escolha de pornografia apresentada pelo tipo autorredimida pelo ensejo na qual é
apresentada? As respostas objetivas que este colunista pode oferecer são: 1 – Não sei; 2
– Não faço a menor ideia; 3 – Talvez sim, talvez não, mas o mais provável é “quem
sabe?”

Podemos entender seu desapontamento, amigo leitor, mas você deve ser indulgente
conosco. Resgato novamente a minhas próprias palavras: “ É difícil para maior parte das
pessoas, em qualquer parte do mundo, admitir que pornografia pode ser arte e – pior – arte
que pode interessá-las de alguma forma. ” O problema, aparentemente, não é aqui o que
fazer com a definição de de- finição, como aqui no início do artigo elusivo e, para todos
os mecanismos protegidos – instalados. Porque o cerne do questionamento que ronda
Druuna e Serpieri não é o que é feito com a arte, mas o que é feito com o sexo.

Como mostramos a introdução do tópico, Singer nos aponta para o fato de que nada
relacionado ao poder sexual é humano, de fato, relacionado ao ato, mas sim, a um
universo criado em si mesmo em torno dele. Então, por uma série histórica e social, o
sexo se tornou culturalmente repreensível de significado publicamente, assim como uma
ferramenta poder e dominação na esfera. Dessa forma, toda e toda ficção de ficção que
se utiliza como motor da narrativa – Druuna – necessariamente qualquer processo de
fabricação de sexo antes de experiência arte.

Para pensadores, como Alva Noe em seu Strange Tools: Art and Human Nature ,
pornografia porque ela não cumpre uma função específica, a masturbatória, que tira do
pode ser a possibilidade de um livro imer e fruto da obra per se . E que, por ser incapaz de
permitir ao seu espectador transcender e questionar, ela não pode ser arte. É um
argumento muito parecido com aquele estabelecido por hermeneutas como Ga
funcionar em sua função e que dizem, se o visualizador não é de alguma forma
refigurado e/ou ressignificado que imergir numa obra, então ou a obra em cumprir sua
como arte, ou ela simplesmente não é arte.

(O vídeo só possui legendas em inglês)

Mas, possivelmente, uma brecha, possivelmente, é uma brecha: como dissemos a


respeito de nós, que são reprodutíveis e também um significado de “arte, uma vez que
são sérios e reais e também exegética de significado mais abstratos, embora nós
tenhamos e seus aspectos de reprodutibilidade mundo contemporâneo. Tal qualificante
apontado por esses pensadores e Benjamin , que nos lembram que, independente do
tipo de julgamento de gosto, nem por isso elas são fornecidas de ser arte.

Que tipo de reflexão um filme como Transformers oferece? Existe uma distinção
qualitativa tão grande desta relação à, por exemplo, um clássico do soft porn como
Emmanuelle no Espaço ? São obras de consumo, que cumprem uma função específica:
entretenimento. E ninguém duvida nem por um instante que o cinema seja uma forma de
arte, pois na mesma medida em que o cinema oferece Transformers , ele oferece
Bergman . E a mesma lógica se aplica aos quadrinhos – na mesma medida em que
oferece super heróis descartáveis, oferece Eisner e Tezuka. A pornografia pode
certamente ser uma forma de arte, se a arte é compreendida no sentido de ofício; como
muitas outras, pode ser tanto uma arte aplicada (tem sua utilidade de alienação e
consumo) ou uma bela arte (criada pela sua beleza estética e ajuizada pela sua beleza
inata).

E mesmo violência é algo tão publicamente condenável quanto o sexo mas que não
recebe nem campo moral ou mesmo tipo de repreensão. Doses excessivas de violência
não causam impacto nem são nem mesmo sexo explícito – motivo pelo qual o terror é
considerado uma forma de arte natural, mas pornografia não. A arte, sob medidas o
crítico de uma lógica e filosófica, não permite dois pesos duas.

O que leva justamente para uma extensão do que não apresenta razão não ser aplicado
sobre a pornografia: sim, existem principalmente problemas sobre essa maneira de
entretenimento que ela produz, o tipo de argumento de coisa que ela produz e seus
efeitos sobre as mentes não muito estáveis ​de seus consumidores. Entretanto, se
argumenta dentro de uma lógica ética, como uma proposta por Singer, o problema não
está na pornografia em si, mas enquanto ela é aplicada como conceito. O que significa
que ela é hoje não necessariamente sendo o que ela significa.

Alguns pensadores já trabalham nesse sentido. As pornografias feministas como


Madison Young são um exemplo de como as que defendem a pornografia podem ser
subvertidas. Seu trabalho deve ser observado com base na comunicação para projetar o
sexo – como o objetivo de uma percepção mais realista. O que não somente educa a
audiência sobre como sexo realmente é – ou deveria ser – como também não apresenta
uma percepção degradante e objetificadora da mulher. Não obstante, enquanto esse
artigo é escrito, estreia no Brasil o filme da diretora argentina Albertina Carri , As Filhas
do Fogo , que se auto-denomina uma pornô feminista, cuja criadora afirma: “sexualidade
sem repressão nos levará a sociedades mais maduras ”.

Não é o caso de não haver pornografia,


ou de que ela não pode ser considerada
uma forma de arte. É o de caso de que
ela ainda está passando por essa
ressignificação, enquanto a sociedade
também ressignifica as relações de
poder entre os gêneros e o lugar da
mulher na sociedade. E ressignificar a
pornografia como forma de arte é uma
maneira de desassociar um pérfido de
mercado e/ou também desconstruir um A diretora argentina Albertina Carri.
objeto nicho e apropriação do corpo
como também presente – especialmente
o feminino. Afinal – com o perdão do “argumento de Godwin” – se Hitler pôde usar as
belas artes, a exegese do mundo clássico e do Renascimento, para capitanear a
revolução ideológica de algo tão struoso como o nazismo,

E se o efeito for provocado pelo grotesco e pelos abusos refigura sua própria visão do
sexo, então talvez Druuna possa funcionar sua obra enquanto existirem perguntas
enquanto escolhas, assim como pode não ser com o julgamento de gosto do leitor
compatível. Mas não questiona sua validade como um objeto de arte e entretenimento e,
em alguma medida, de reflexão.

Ou talvez todo esse argumento seja vazio, e falte sensibilidade e alteridade para este
colunista. Não cabe dizer. Cabe apenas entender que, após contemplar a obra de Paolo
Serpieri, o leitor – para bem ou para mal – nunca mais será mesmo.

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