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Introdução à Lógica e

Argumentação
(Argumentos: premissas e
conclusão)

IF SUDESTE – CAMPUS MURIAÉ


FILOSOFIA
Prof. Rone Santos
Argumentos: premissas e conclusão
I)- A ação humana difere da ação animal. É uma ação feita
juntamente com a palavra. O seres humanos associam o fazer com
a palavra em busca de uma atividade racional que é a ação.

II)- Daí a necessidade do domínio da palavra, da língua falada e


escrita, das regras gramaticais que determinam o uso correto da
língua. O que serve tanto para expressar o que se quer quanto para
desenvolver a capacidade de argumentação, de convencimento dos
outros, de persuasão.

III)- Na Grécia Antiga, a formação do homem grego era feita


através de três disciplinas básicas que formavam o chamado
Trivium:
Argumentos: premissas e conclusão
a)- Gramática: o estudo da Gramática (de gramma
que quer dizer letra em grego) era a condição necessária
para o domínio da língua, quer seja oral ou escrita.
b)- Lógica: o estudo da Lógica implicava no estudo do
que dizia respeito ao exercício da capacidade de
argumentação e no saber discernir entre os bons e maus
argumentos.
c)- Retórica: o domínio da Retórica significava ter
passado pelo aprendizado da Gramática e da Lógica. Na
Retórica o ponto alto era o convencimento dos outros, a
persuasão através de uma boa argumentação.
Argumentos: premissas e conclusão
IV)- A argumentação é, em geral, o encadeamento do conjunto
de sentenças (premissas) cuja finalidade é fundamentar a
conclusão. As premissas são as boas razões afirmadas pela
conclusão de um argumento que lhe dão sustentação e validade.
Vejamos os exemplos a seguir:
Argumentos: premissas e conclusão
Argumentos: premissas e conclusão
Nos exemplos anteriores pode-se ver que a conclusão de um
argumento pode ser: enunciada no início e seguida pelas premissas
(1º exemplo), enunciada no final e precedida pelas premissas (2º
exemplo) ou enunciada entre as premissas (3º exemplo).

V)- No estudo da Lógica é preciso, antes de tudo, aprender a


distinguir um agrupamento de frases de um argumento de fato, ou
seja, argumentos de não-argumentos. Vejamos alguns exemplos:

Conclusão:
1)- Começou a chover. Há pouco, o sol
estava brilhando. A meteorologia não previu
chuva alguma.
2)- Amanhã deverá fazer sol porque o 2)- Amanhã
serviço de meteorologia previu muita chuva deverá fazer sol;
e ele sempre erra em suas previsões.
Argumentos: premissas e conclusão
Conclusão:

3)- Joaquim é português. Ele é dono da


maior padaria do bairro, que fabrica 10.000
pães por dia.
4)- Joaquim não é português pois ele 4)- Joaquim não
nasceu no Brasil e quem nasce no Brasil é é português;
brasileiro.
5)- Penso muito na vida.
6)- Penso, logo, existo. 6)- Existo.
Argumentos: premissas e conclusão
VI)- Uma frase que pode ser classificada como verdadeira ou como
falsa, não podendo ser as duas coisas simultaneamente, é
chamada de proposição. Nem todas as frases enunciadas são
proposições. Uma proposição é uma sentença declarativa da qual
se pode afirmar sem dúvida se é verdadeira ou se é falsa.

Por exemplo:
“Estáchovendo agora.”: não pode ser classificada como
falsa ou verdadeira sem a fixação de um contexto.
“Está chovendo agora na minha rua.”: pode ser
classificada porque contextualizo minha declaração.
Argumentos: premissas e conclusão
VII)- De modo geral, apenas frases declarativas podem ser
associadas a um valor de verdade, i.e., somente delas é possível
dizer se são verdadeiras ou falsas. Sentenças exclamativas ou
interrogativas não podem, por isso não são consideradas como
sendo proposições.

Por exemplo:
“Está chovendo agora na minha rua?”
“Que ótimo! As férias vão começar daqui uma semana!”
“Qual o caminho para chegar no cinema?”
“Nossa que golaço!”

Nesses casos não se pode dizer se as sentenças são


verdadeiras ou falsas.
Argumentos: premissas e conclusão

VIII)- Quando decidimos defender uma CONCLUSÃO em uma


ARGUMENTAÇÃO é porque tal conclusão é uma PROPOSIÇÃO e
pretendemos que ela seja VERDADEIRA. Para esta defesa,
encadeamos as PREMISSAS de modo que elas fundamentem a
CONCLUSÃO, ou seja, construímos um ARGUMENTO.

Um argumento bem construído é um argumento VÁLIDO, ou seja,


ele É COERENTE. E isso ocorre quando entre as premissas e a
conclusão existe uma ligação tal que é impossível termos
premissas verdadeiras e conclusão falsa (i.e., se as premissas são
verdadeiras, a conclusão também tem de ser verdadeira). Por
exemplo:
Argumentos: premissas e conclusão

Um argumento mal construído é um argumento NÃO-VÁLIDO, ou


seja, ele NÃO É COERENTE. O que ocorre quando é possível
termos todas as premissas verdadeiras e, simultaneamente, a
conclusão falsa (nesse caso temos uma FALÁCIAS ou SOFISMA).
Por exemplo:
Argumentos: premissas e conclusão
No exemplo anterior, as premissas não são suficientes para
garantirem a conclusão. O argumento, portanto, não é válido,
não é coerente.

O mesmo ocorre no caso de Otávio ser francês – situação em que a


conclusão seria verdadeira – porque ainda assim o argumento não
seria válido já que a verdade da conclusão não seria inferida
(consequência lógica) da verdade das premissas.

IX)- Como visto antes é incorreto defender a verdade de uma


conclusão partindo de premissas verdadeiras mas argumentando
de modo não-válido; assim como o é recorrer a um argumento válido
mas partir de premissas falsas.
Argumentos: premissas e conclusão

A validade de um argumento é determinada pela sua FORMA,


pelo tipo de vínculo existente entre as premissas e a conclusão,
e não diretamente pela verdade ou falsidade das premissas.

A validade de um argumento repousa na suposição da verdade


das premissas; o que deve ser garantido é o fato de tal
suposição acarretar inevitavelmente a verdade da conclusão.
Importa mais a forma do argumento e não o conteúdo do
argumento.

Vejamos o exemplo:
Argumentos: premissas e conclusão
Argumentos: premissas e conclusão
X)- Na lógica aristotélica são examinados detalhadamente
argumentos que consistem em duas premissas e uma conclusão
que são chamados de SILOGISMOS. A palavra silogismo provém
do grego sýllogos que significa reunião, ação de recolher, de
interconectar palavras ao raciocinar.

Nos silogismos aristotélicos tanto as premissas como a conclusão


são proposições categóricas de um dos tipos vistos anteriormente.
Vejamos alguns exemplos:
Argumentos: premissas e conclusão

Em um silogismo aristotélico cada proposição envolve dois termos –


um sujeito e um predicado. As duas premissas não podem ser
totalmente desvinculadas, devendo apresentar um elemento –
sujeito ou predicado – em comum. Esse elemento é chamado
TERMO MÉDIO.
O argumento abaixo não é um silogismo porque não existe o termo
médio:
Argumentos: premissas e conclusão
RECAPITULANDO....

Argumentos são compostos de:

•Premissas: normalmente compostas de sentenças assertivas, isto


é, passíveis de verdade ou falsidade. São bases. Dizem aquilo que
é, e às vezes dão definições. “Entendemos felicidade como x”.

•Conclusões: normalmente compostas de asserções, assim como


as premissas, mas podem tomar a forma de ordens ou
recomendações. “Intervenha”, “feche a porta”, etc.
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Argumento não é explicação:

- Um argumento e uma explicação podem ter a mesma forma: Q


porque P. No entanto, numa EXPLICAÇÃO, a força inferencial
parte do Q — um fato acontecido — , e a partir dele buscam-se
explicações. Por exemplo:

“A fábrica de colchões pegou fogo PORQUE as instalações


elétricas tinham problemas”.

- Aqui, o Q não é questionado. Ele é o ponto forte, um fenômeno ou


fato realmente acontecido em decorrência de outro fenômeno ou
fato originário.
Argumentos: premissas e conclusão
- Já num ARGUMENTO, a conclusão é fraca, duvidosa. Por
exemplo:

“Ele deve ser preso PORQUE é um assassino confesso”.

- Começa-se com algo que pode ser duvidado — a recomendação


de prender tal indivíduo. Não se duvidaria (…tão facilmente) que
uma fábrica pegou fogo se ela realmente pegou fogo.

- Por isso que a força de um argumento está nas premissas


que ele apresenta para fundamentar a conclusão.

- Ou seja: o ponto de partida e de chegada estão invertidos quer se


trate de um argumento ou de uma explicação.
Argumentos: premissas e conclusão
SOBRE AS INFERÊNCIAS EM UM ARGUMENTO:

-O movimento inferencial em um argumento é sempre


unidirecional: parte das premissas básicas, bem estabelecidas, para
sustentar a conclusão.

- Formulações em linguagem informal nem sempre respeitam essa


ordem — formam estruturas sentenciais confusas, as vezes
repetitivas.

- Além disso, certas premissas podem estar implícitas;até mesmo


a conclusão.

- Daí a importância da técnica, da análise metódica, lógica, para


detectar passagens argumentativas.
Argumentos: premissas e conclusão
EXPLICANDO PREMISSAS IMPLÍCITAS:

- Algumas sentenças são omitidas do argumento mas operam


implicitamente nas inferências. Essa omissão comumente ocorre por
efeito retórico, pra que o texto não se torne insuportável, ou por conta
das premissas serem “óbvias” ou de conhecimento comum.

- Um exemplo: “Donald Trump ganhou a última eleição presidencial


dos EUA. Portanto, o partido republicano assumiu o Executivo
naquele país.” Este argumento é entendido por quem conhece de
política global e que Donald Trump é filiado ao Partido Republicano, e
que o partido do eleito é o que assume o Executivo.

- Por isso, a formulação implícita deve se guiar pela conclusão. Foque


em pressupostos pertinentes, que tornem a conexão entre conclusão
e premissa mais razoável.
Argumentos: premissas e conclusão
PARA RECONHECER ARGUMENTOS EM TEXTOS:

- Deve haver a pretensão de justificar uma sentença por meio de


outras. Indicadores gramaticais, quando presentes, tornam
visíveis as relações argumentativas e inferenciais — e podem
indicar premissas ou conclusões:

Indicadores de premissas: conjunções explicativas e causais,


advérbios como “afinal de contas”, expressões como “é sabido
que”, “é estabelecido que”.

Indicadores de conclusões: conjunções ou locuções conjuntivas


conclusivas, expressões como “segue-se que”, “depreende-se daqui
que”, “pode-se afirmar então…”
Argumentos: premissas e conclusão
Argumentos: premissas e conclusão
PARA DISTINGUIR CORRETAMENTE SENTENÇAS EM FUNÇÃO
ARGUMENTATIVA:

- Normalmente, a cada oração corresponde uma sentença, mas


podem haver diferentes funções dentro de um período. “O
rapaz deve ser preso pois sem dúvida foi o autor do crime.” Temos
a conclusão em “O rapaz deve ser preso” e a premissa em “Sem
dúvida foi o autor do crime” — “pois” é o indicador de premissa.

- Geralmente, não se separam frases divididas por ou/ou.

- Não se separam frases que compõem uma explicação. A


explicação é uma sentença só — a fábrica explodiu porque houve
uma pane elétrica.
Argumentos: premissas e conclusão
- Não se separam sentenças condicionais. Se x então y não é
argumento — é sentença, porque o se não é afirmado. “Se João for
goiano, então João é brasileiro” não é um argumento; é só uma
relação condicional. Já “João é goiano (e todo goiano é brasileiro),
logo João é brasileiro” é um argumento.

- Não se separam citações. Valem como uma só sentença.

- Sentenças incompletas devem ser reescritas de modo completo


e, se possível, assertivo — assim como questões retóricas. “Não
teria o nobre colega caído em erro?” = “O colega caiu em erro”.

- Separam-se sentenças no interior de outras. “Nenhum cachorro


deveria, tal como ocorre com esse, ser abandonado por seus
donos.” viraria “Nenhum cachorro deveria ser abandonado por seus
donos. Este cachorro foi abandonado por seus donos.”
Bibliografia
- BARNES, Jonathan. Aristóteles. 3ª edição. São Paulo: Edições
Loyola, 2013.
- COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. 2ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2013.
- MACHADO, Nilson José. Lógica e linguagem cotidiana: verdade,
coerência, comunicação, argumentação. 2ª edição. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
- SACRINI, Marcus. Introdução à análise argumentativa: teoria e
prática. São Paulo: Paulus, 2016.
- VELASCO, Patrícia Del Nero. Educando para a argumentação.
Contribuições do ensino da lógica. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2010, pág. 35-45.

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