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2 sofia, tinha que descobrir e trilhar o caminho coerente da

Lógica. Os sofistas, elementos perturbadores da coerência


Lógica moderna
lógica

pensamento anterior a ele, viu-se embaraçado com uma


Conceito atual de série de contradições, algumas aparentes e outras reais.
Essas contradições tomaram vulto a partir dos sofistas.
lógica Diante disso, o filósofo reagiu elaborando o primeiro
sistema lógico que, por sinal, mostrou-se útil até hoje.
Sentiu que, antes de prosseguir nas especulações
Todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos forçados racionais da Filo
a tomar lugar num banquete de consequências. Os sofistas foram pensadores do século V a.C. Iam de
Robert Louis Stevenson cidade em cidade, ensinando a troco de dinheiro. Para
atrair a atenção sobre seus ensinamentos, já que a
Grécia era composta na sua maioria de cidades
democráticas, tratavam em suas aulas de como se
defender, como atacar os adversários em juízo e como
Antônio Xavier Teles sair vencedor nas discussões. Nesta tarefa, porém, não
se preocupavam com qualquer norma lógica. A única
regra era sair vitorioso.

Na vida prática e profissional, temos necessidade de


um melhor conheci mento das regras e do proceder Incoerência do raciocínio
lógico, tanto para nossa defesa, como para atingirmos
com mais precisão nossos objetivos. O ideal máximo da Lógica é a coerência. É coerente
aquilo que está de acordo com as regras ou condições
Um pouco de história do sistema. Assim, algo pode parecer inco erente,
absurdo, num sistema e ser coerente em outro. É o caso
A Lógica foi sistematizada por Aristóteles (384-322 do problema de Zenão, conhecido pelo nome de “Aquiles
a.C.) e se constituiu durante toda a Idade Média como e a tartaruga”. No nosso sistema de linguagem vulgar é
matéria principal ao lado da Teologia e da Filosofia. um absurdo, é a própria incoerência, mas dentro do
Na Idade Moderna, sua influência não é pequena. sistema ou dos termos em que ele colocou a questão,
Está intimamente ligada ao método e à Ciência apresenta-se coerente e lógico.
matemática. Para provar que o movimento é impossível, Zenão
Aristóteles, deparando-se com todo o acervo de propôs, em resumo, os seguintes argumentos:
1º) Aquiles numa corrida com a tartaruga — se
esta tiver uma pequena dianteira, Aquiles jamais a Weierstrass, Dedekind e Cantor eliminaram da
alcançará. Matemática o problema do infinitamente pequeno. De
2º) Uma flecha em voo, na verdade está em repouso. acordo com a concep ção do infinitesimal ou do
Tais argumentos, depois de refutados por Aristóteles, infinitamente pequeno, em termos lógicos e matemá
serviram de base para um renascimento matemático, ticos, é sempre possível colocar (mentalmente ou por
quando professores alemães, que talvez nunca suposição), entre um ponto qualquer e o seguinte, um
sonhassem haver uma ligação entre eles e Zenão, novo ponto.
criaram a teoria do infinita mente grande em Matemática. A Lógica é uma Ciência abstrata. Abstrato significa
desligado do real, aquilo
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que é puramente mental.
1, 2, 3, 4, 5, — infinito.
2, 4, 6, 8, 10 — infinito.
Passagem do concreto para o abstrato
Uma parte igual ao todo. Há tantos números na série inferior como na
Se possuo um pedaço de madeira, primeiramente paradoxos, isto é, apresentam-se como falsos, mas,
posso cortá-lo em duas partes, em seguida, cortar estas dentro das condições do contexto em que surgem, são
em outras duas e assim sucessivamente. Os pedaços se verdadeiros. O movi mento consiste apenas no fato de
tornariam cada vez menores e. . . (fazendo uma os corpos estarem ora num lugar, ora noutro, em tempos
abstração) de tama nhos infinitamente pequenos. Não há diferentes e estarem em lugares intermediários em
nenhuma lei lógica ou mental que nos pro íba continuar momentos inter mediários. Não consiste em terem de
dividindo mentalmente aquele pedaço de madeira. Isto, passar por uma série infinita de pontos intermediários.
no campo abstrato, é sempre possível. Por menores que Desta última suposição surgiram os problemas lógicos
sejam, ainda podemos cortá-los, dividi-los, reduzi-los, de Zenão, como dissemos.
entenda-se, no nosso pensamento. Desta forma, nunca Para chegarmos à compreensão de seu problema
poderíamos chegar a um pedaço indivisível, desde que o lógico, suscitado por estes exemplos, é preciso ter certa
problema passou a ser mental. noção de infinito, entendendo-se por infinito uma coleção
Costumava-se pensar que uma trajetória a ser de entidades que contêm como partes outras coleções,
percorrida estivesse dividida numa série de pequenos que possuem tantas entidades como a primeira. Por
intervalos ou pontos. Esta suposição levou Zenão ao exemplo: existem tantos números pares quantos
problema que segue: é melhor considerar que, quando números naturais. Isto pode ser mostrado escrevendo-se
um corpo se desloca, ora está num lugar, em números pa res e ímpares da seguinte maneira:
determinado momento considerado, ora está em outro superior e, neste caso, pode-se concluir que uma parte é
lugar, em outro momento. Com isto, eliminamos a ideia igual ao todo, porque a série de números pares é uma
de que o corpo passaria por uma série de pontos parte da série dos números naturais. Este para doxo é
intermediários até atingir sua meta. Baseado nesta logicamente certo, porque é um elemento da definição de
suposição de que o corpo passa por uma série de “séries infini tas”. Afirmar que “uma parte é igual ao todo”
pontos, é que Zenão fez sua argumentação. Estes são torna-se falso, é claro, quando se trata de série finita.
Por que, afinal de contas, Zenão afirmava que Aquiles uma série infinita de pontos, não só nunca chegarão ao
não poderia alcançar a tartaruga? ponto final (que é um ponto infinito), como nunca Aquiles
1º) Aquiles e a tartaruga iniciam a corrida, ao mesmo encon trará a tartaruga, por causa da dianteira inicial.
tempo, levando a tar taruga, como ele achou justo, certa
vantagem. Definição de Lógica
2º) Dada a partida, Aquiles parte do ponto A e a
tartaruga do ponto A’. No momento seguinte, Aquiles Poderíamos definir Lógica como a Ciência ou o
está em A’ a tartaruga em A”, e assim sucessivamen te: estudo das inferências corretas do ponto de vista de sua
Em cada momento Aquiles está num ponto e a validade.
tartaruga no outro seguinte e assim por diante. A Lógica tanto se refere a um estudo como a um sistema
3º) Como se pode considerar uma série infinita de feito de inferências corretas. A Lógica se preocupa mais
pontos na trajetória que os dois devem percorrer, chega- com a validade destas inferências que com sua verdade
se à conclusão que, de acordo com o raciocí nio exterior. Seu ideal é a coerência entre os elementos do
empregado, Aquiles e a tartaruga nunca se encontrarão, sistema. Pelo estado atual desta Ciência somos
pois, devendo cada um deles percorrer, sucessivamente, obrigados a dividi-la em Lógica clás
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sica e Lógica formal moderna. O critério desta divisão está baseado no méto
do que cada matéria adota em seu estudo.
1. Lógica clássica. Não adota axiomatização no seu tratamento, isto é, não
foi reduzida a uma linguagem simbólica como a da Matemática. O silogismo,
por exemplo, obedece a regras que são expressas na Química, podemos nos deter na descrição e na
linguagem comum. É uma lógica mais intuitiva. experiência do “movimento browniano”. Se misturarmos
2. Lógica formal moderna. É estritamente um pouco de goma num líquido e olharmos para o
axiomatizada. Adota o método matemático. Por isto mesmo a seguir, tudo parecerá tranquilo, nada parecerá
mesmo se apresenta bastante distinta de sua coirmã. É alterado, nem sequer a cor. Posto sob a lente de um
quase Matemática. microscópio, veremos que as minúsculas partículas
sólidas da goma descrevem continuamen te percursos
A natureza da lógica variados e caprichosos. Esse fato foi observado pela
primeira vez pelo botânico Brown, daí levar seu nome.
Brown observou que os movimentos das partículas são
Existe um mundo de coisas perceptíveis pelos sentidos provocados tanto pelo choque das moléculas do líquido,
e um mundo de leis inferidas pelo pensamento. quanto pelo choque com outras partículas de goma em
Spinoza suspensão.
Um texto científico como este nos dá vários
conhecimentos novos sobre o fenômeno estudado. Fala
na atividade das moléculas de que se compõe o líqui do,
Para entendermos melhor o que é Lógica, vamos abrir em choque de partículas, em seus movimentos ao acaso
um livro de Ciência e um de Lógica. Se for um livro de etc.
Estes conhecimentos, porém, são apresentados experiência científica.
através de elementos da co municação que não O estudo das proposições do raciocínio e o da
pertencem à Ciência. Estes elementos se compõem de coerência lógica são temas e objeto central da Lógica
ideias ou conceitos, de proposições, afirmações, como a Ciência ou o estudo das inferências cor retas do
negações, raciocínios, inferências e outras operações ponto de vista de sua validade.
mentais que, se não forem exatas, invalidam a
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Quando uma inferência é válida? Em geral, podemos Aí temos um exemplo de sistema lógico-dedutivo o
dizer que uma inferência é válida quando está de acordo mais simples possível. Seus elementos e sua única regra
com as regras do seu sistema. Quando uma jogada é só permitem uma única conclusão. Inferências primitivas.
válida (permitida)? Quando está de acordo com as Como vimos, inferir é o ato de tirar conclusões. De p
regras do jogo. Válido é, de certa maneira, sinônimo de concluo q através de regras estabelecidas ou através da
correto. Uma inferência, na linguagem comum, é válida evidência natural, como no caso de haver nuvens negras,
se estiver de acordo com as evidências dos fatos. concluir chuva próxima. A inferência tem o seu
Quando o camponês infere de nuvens negras chuva fundamento biológico num fato comum a homens e
próxima, o critério, a regra pela qual o faz é a evidência.
animais. Se quando o fato A ocorre, vem sempre junto
Evidência, em geral, é a clara manifestação dos fatos. com B, aparecendo A, conclui-se B, ou me lhor, espera-
Esta evidência do exemplo acima é secundada pela se B.
experiência pessoal de ter visto dezenas e dezenas de Nos experimentos de Pavlov, tocava-se uma
vezes associados aqueles dois fatos — as nuvens campainha e dava-se comida ao cachorro. Ora, depois
negras e a chuva. de algumas repetições, bastava tocar a campainha
para que o cachorro começasse a salivar, na expectativa
Inferência de sua refeição. Pode mos dizer que: de A (campainha)
concluía B (refeição do cachorro), ou que: ao servir A,
É o ato pelo qual de um antecedente qualquer esperava-se B. Este fato biológico é conhecido pelo
concluímos um consequente necessariamente ligado a nome de reflexo condicionado e se constitui como
ele. De p concluo q ou, em linguagem mais lógica: se p, fundamento básico das inferências da vida diária. Foi
então q. mediante o mecanismo de inferências que o homem
A Lógica se interessa pelo modo como se pode conseguiu sobre viver.
chegar a conclusões corre tas ou válidas, partindo de Inferências não-demonstrativas. Tanto o homem
determinadas sentenças antecedentes. Vamos imaginar comum, na vida diária, como o cientista, em sua
um sistema lógico que tivesse apenas dois símbolos, p e pesquisa, estão quase sempre fazendo inferências. Isto
q, e uma regra, “p precede sempre q”. Que se poderia é, de determinados antecedentes concluem certo ou
concluir validamente deste sistema em miniatura? certos consequentes. Estas inferências da vida diária
Vejamos: não são muito estudadas pela Lógica. Bertrand Russell
Sejam: p e q chama-as por isto de não-demonstrativas. As inferências
p precede sempre a q podem ser demons trativas (ou lógicas) e não-
Logo: pq demonstrativas. Estas não são lógicas, porque o motivo
pelo qual as fazemos é extralógico. Nas inferências não- apenas possivel mente certa. Logo, não é do tipo lógico.
demonstrativas ocorre o seguinte: O canto das aves poderia sair de um
1. As premissas, os antecedentes são verdadeiros. disco, digamos, o disco do canto das aves do Brasil.
2. O raciocínio empregado é correto. Poderia ser uma alucina ção passageira de minha
3. A conclusão é apenas provável, por isto, seu mente. A conclusão, por isto, é apenas provável com um
mecanismo não é rigorosa mente lógico. grau maior ou menor de probabilidade, tendo a certeza
Uma conclusão lógica tem de ser necessária e não como seu limite. A este respeito recomendo: Meu
apenas provável, o que não acontece quando concluo de Pensamento Filosófico, de Bertrand Russell (Ed.
nuvens negras, chuva próxima. Outro fenô meno Civilização Brasileira, p. 168-84).
meteorológico pode interferir, impedindo que a chuva
caia. Inferências lógicas
Vejamos alguns exemplos: amanhece o dia e ouço lá
fora a sinfonia do canto dos pássaros. Infiro daí a A inferência lógica é necessária e nunca, como a anterior,
existência de muitas aves neste bairro. Esta conclu são, provável. Em Ló-
apesar de nos parecer necessariamente certa, não o é. É
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gica só se pode inferir um enunciado de outro ou de inferências. Nem todas as inferências são simples assim.
outros, quando está impli cado ou incluído nos seus Pelo contrário, há longos e complicados siste mas
antecedentes (premissas). Esta inferência apenas dedutivos. Empregamos:
explicita o que estava oculto. Se concluo que o carneiro Inferência: quando o ato concluído é imediato ou
tem quatro estômagos partindo da sentença: “todos os curto.
ruminantes têm quatro estômagos”, estou fa zendo uma Dedução: quando o ato concluído envolve
inferência logicamente certa, desde que não me baseio operações complexas ou mais longas.
na realidade mas sim no valor lógico da frase ou Nos sistemas dedutivos temos o seguinte: um
sentença. O mundo da Lógica é o mundo formal ou conjunto de axiomas, regras de proceder estabelecidas
abstrato. de antemão e, finalmente, uma série de conclusões
Simbolizemos: tiradas dos axiomas de acordo com as regras.
Ruminantes ....................................... (M)
Carneiros .......................................... (S)
Possui quatro estômagos ................... (P) A TA — axiomas
— símbolo de implicação
Teríamos: | — M é P
SéM T — todos os teoremas dedutíveis de A
Logo: S é P Indução

O símbolo | — significa: estabeleço, afirmo. Para a É um modo, ou uma forma, de pensamento pelo qual,
conclusão, basta simpli ficar o M em cima e embaixo. de alguns casos parti culares, se conclui um proceder
Simples inferências. Na vida diária, fazemos muitas geral. É a operação criadora da Ciência, por excelência.
Ligado à indução está o hábito mental de generalizar. A é B, ou melhor, se A então B”. Esta última formulação
A indução parece se basear no mecanismo dos reflexos recebe a designação de condicional contrafato.
condicionados. Quando se vê que vem A sempre A lei da gravitação de Newton pode ser assim
seguido de B, basta aparecer A para se esperar B. enunciada: “Se tivermos uma porção de matéria em face
Aristóteles distinguia dois tipos de indução: a de outra, então teremos uma atração entre ambas, na
amplificante e a incompleta. Chama-se amplificante razão direta das massas e na razão inversa do quadrado
quando se tem conhecimento de todos os casos particu das distâncias”. A indução:
lares. Nesta modalidade, não é uma marcha do 1) é uma generalização;
conhecido para o desconheci do. Depois de sentir calor 2) baseia-se no princípio de que a natureza age
de segunda a domingo, eu afirmo: esta semana foi sempre da mesma manei ra;
quente. É uma indução amplificante. 3) prende-se, de certa maneira, aos nossos hábitos de
No entanto, a verdadeira indução da Ciência é a pensamento. Até o século XIX, por força da indução, se
incompleta. Baseados no exame de alguns casos dizia: “todos os gansos são brancos”. Dever-se-ia dizer:
particulares, concluímos para todos os elementos da “em 90% dos casos, ou em X% dos casos, os gansos
classe. Digamos: “Conheço vários A que são B. Há são brancos”. Na Austrália, descobriram-se gansos
vários A que não conheço, mas deles afirmo que são inteiramente negros. A indução é uma inferência cuja
também B, baseando-me na crença de que a natureza verdade é sempre provável. A probabilida de desta
age sempre da mesma maneira”. verdade tende para a certeza como a um limite e muitas
Uma lei natural é geralmente redutível à forma: “todo vezes se
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identifica com ela. Assim, a probabilidade de uma generalização aumenta com n
exemplos que a confirmem e desaparece totalmente quando surge um único
exemplo que a contradiga.

Signos e ideias

Cada pessoa é apenas o portador (neste mundo)


de uma mensagem (desconhecida). Todos nós so
mos não mais que um símbolo para significar algo
que nós mesmos não sabemos o que seja.
Guimarães Rosa

Os homens, para se comunicar, precisam usar signos. Linguagem é um con


junto de signos. As palavras, como signos, servem para indicar, para se referir
às ideias.
O signo é alguma coisa que representa alguma coisa.
O filósofo americano Charles Peirce o define como “algo que, sob certo
aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém... O signo
representa alguma coisa, seu objeto”. Para Peirce, o signo poderia ser icônico
(de ícone), indicial (de índice) ou simbólico (de símbolo).
Signo icônico é o que reproduz o objeto segundo sua “imagem e seme
lhança”. A fotografia, a escultura, o retrato são signos icônicos. A televisão é o
veículo de comunicação que mais usa os signos icônicos porque é formada
basicamente da produção e transmissão de imagens. Aliás, a criancinha, por
não entender de ícone, pensa que dentro da televisão há gente. Índice (ou indi
cador) será o signo “que se refere ao objeto que denota em razão de ver-se
realmente afetado por aquele objeto”, ou seja, um signo que tem relação direta
com seu objeto. Exemplo: uma área molhada significa que choveu.
Símbolo é um signo que se refere ao objeto de maneira arbitrária. Exemplo:
as palavras do dicionário de uma língua qualquer.
13 14 noel que aquela criança criou mentalmente é um produto do seu pensamento. E
Ideias e imagens Por ocasião do Natal, uma repórter de televisão,
procurando ver como a criança percebe “Papai-Noel”,
Conceito ou ideia é definido pela Lógica clássica símbolo desta festividade, perguntou a um me nino de
como a representação intelectual de alguma coisa. A oito anos:
imagem, por sua vez, seria a representação sensível de — Como é Papai-Noel?
alguma coisa. A lembrança de uma casa é uma imagem, O menino respondeu que é alto, tem botas, usa
ao passo que a palavra casa se refere a um conceito ou roupas vermelhas, tem um gorro e leva um saco.
ideia. Assim, temos a palavra que se refere a uma ideia e — Estes que estão aí nas lojas são o Papai-Noel?
uma descrição que se refere a uma imagem, coisa, — Não são.
situação ou pessoa particular. — Então, onde está Papai-Noel?
O menino pensou um pouco, concentrou-se e
Palavra  ideia  coisa respondeu:
— Não existe.
Descrição imagem coisa, fato, pessoa No mundo, encontramos sempre o particular: coisas,
particular acontecimentos, pes soas, isto é, João, Pedro, Maria etc.
O particular é percebido pelos sentidos. Está fora, no
mundo: os papais-noéis, cada um em sua loja, as coisas
Do Singular ao Universal e as pessoas, nos seus lugares. Mas, cada uma destas
coisas e pessoas particulares tem uma significação
comum e esta determina caracteres também comuns. inteligente garoto da entrevista reconheceu que
Esta significação é um produto do pensamento (conceito, aquele universal ou aquela
ideia). O papaisignificação estava, apenas, em sua mente e como tal
um conceito ou ideia universal. Cada papai-noel que ele não se achava em nenhum lugar. Daí, num segundo
via em cada loja do centro de São Paulo tinha a mesma momento, afirmar que Papai-Noel não existia, depois de
significação e os mesmos caracteres comuns. Sua descrevê-lo.
significação é o “espírito de Natal”. Assim, podemos dizer Como se formam as ideias? No processo de formação
que o “espírito de Natal” é um universal. das ideias, há o fenômeno da categorização.
Resumamos: Categorização é o ato mental pelo qual despreza mos as
— Uma palavra (realidade física qualquer) particularidades dos objetos para guardar, apenas,
tem uma significação. — Uma obra de Arte aqueles elementos que são comuns a todos. Se
tem uma significação. desprezarmos as características particulares da traíra, da
— Um ato religioso tem uma significação. tainha, da garoupa e da sardinha, chegaremos a
— Uma ação tem (um valor) uma significação. São, algumas característi cas comuns que passarão a ser
por isso, universais. Esta significação é, até certo designadas pela palavra “peixe”, isto é, esta palavra
ponto, a intenção de apontar, indicar algo. O passará a se referir a um “constructo” mental, existente
na mente, que é a ideia.
15 16 negação (onde existe um juízo).
estabelecer uma relação ou afirmação entre dois ou mais
Proposições ou termos. A expressão vocal ou gráfica deste ato é a propo
sição ou sentença. Como nem todas as proposições têm
sentenças sujeito, é melhor defi nir proposição ou sentença como:

Um enunciado suscetível de verdade ou de


Por trás de cada fato há sempre uma ideia e, apoi falsidade.
ando todo pensamento, há sempre uma lógica.
Projetamos no mundo nossas representações men Se considerarmos as ideias isoladas, como que
tais. Cada elemento dessas representações deveria flutuantes, sem ligação entre si, tais como colégio, bom,
corresponder a um elemento do mundo. As cone ouro, maleável, equilátero, triângulo, não teremos, ainda,
xões dos elementos da linguagem deveriam pensamento estruturado. O pensamento começa
corresponder também às conexões existentes no quando, no mínimo, se associam duas ideias pela
mundo. afirmação, negação ou através de uma relação qual
quer. Por exemplo: o colégio é bom, o ouro é maleável, o
triângulo é equilátero. Em última análise, o juízo é a
expressão de um “comportamento das coisas”. Foi
Aristóteles quem criou a teoria do juízo. Ela pode ser
A Lógica clássica define juízo como o ato de afirmar resumida nos se guintes princípios:
um predicado de um sujeito. Juízo seria o ato de pôr ou 1. A verdade (V) ou falsidade (F) só se dá onde existe
uma afirmação ou geralmente. c. Um significado, isto é, uma referência a
2. Com respeito ao juízo é legítimo colocar o um fato, ocorrência ou coi sa. Por exemplo, se digo
problema da verdade ou falsidade. “João foi à aula” há, evidentemente, um ato mental de
3. Nem toda enunciação contém um juízo (ato afirmação — um juízo.
mental de afirmação ou negação). A interrogação e Há igualmente:
a súplica, por exemplo, têm significado, po rém não a. Um enunciado gráfico.
são nem verdadeiras (V), nem falsas (F), e por isto b. Um valor lógico: é falso ou verdadeiro. Ele foi ou
não são juízos. não foi à aula. c. Um significado: existe uma
4. Provavelmente podemos dizer que um juízo é referência a um fato externo concreto. O significado
verdadeiro quando se associa nele o que está consiste nesta referência.
associado na realidade ou quando se separa nele o Em Lógica formal prescindimos geralmente do
que está separado na realidade. significado e ficamos apenas com:
(A) — Um enunciado ou expressão gráfica pura; por
O juízo é falso quando une mentalmente o que está exemplo: se p  q, que se lê: p, então q. Se dermos
separado na realidade ou quando separa mentalmente o significado a p e a q, o enunciado se transforma em
que está unido. sentença ou proposição: se fizer bom tempo (p), então
Resumindo: Juízo é um ato mental. Está, portanto, irei ao cinema (q). E uma proposição por ser suscetível
mais ligado à Psicologia do que à Lógica. Proposição é a de verdade ou de falsidade.
expressão deste ato mental e consta de: a. Um A sentença ou proposição é uma expressão gráfica
enunciado gráfico ou fônico. Este varia em cada língua. dotada de significado e valor lógico verdadeiro ou falso
b. Um valor lógico: falso (F) ou verdadeiro (V), (V, F).
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Estruturas das proposições brilha.
O Sol é brilhante.
Para a Lógica clássica, a estrutura sentencial De acordo com esta forma, todas as proposições
teriam apenas a função de negar ou afirmar a inerência
de um atributo em uma substância. Exemplos: A moça é
se resumia na forma: S é PS — bonita; Guilherme é inteligente.
Contudo, este esquema, que orientou os linguistas na
sujeito criação das gramáti cas, é falho. Quando digo: “Pedro é
maior do que Paulo”, maior do que Paulo não é um
atributo inerente a Pedro, porque não está em Pedro. A
é — verbo função desta expressão maior do que consiste em
estabelecer uma relação entre dois termos ou sujeitos:
P — predicado Pedro e Paulo. A análise sintática desta expressão
apresenta-se quase sempre artificial. Isto pelo fato de
Para Aristóteles, qualquer verbo seria esta estrutura sentencional não se con formar ao
redutível ao verbo ser. Exemplo: O sol esquema anterior. O símbolo >, maior do que (A > B),
exprime com nem uma inerência. É uma relação.
mais propriedade esta estrutura. A forma lógica ou a
estrutura desta proposição é: O estudo tradicional das proposições

x R y R — representa uma relação binária De acordo com a quantidade, as proposições podem


ser universais ou par ticulares. Universais quando se
entre os dois termos.
referem a toda uma classe. Exemplo: Todos os homens
Exemplo: “A moça é bonita”, isto é, está inerente são mortais.
(presa) à moça esta quali dade. Há, porém, inúmeras Uma proposição é particular quando seu sujeito é
proposições que não se enquadram nestas duas afirmado somente de uma parte da extensão do sujeito.
categorias. Exemplos: Pedro ama Maria, João está na Exemplo: Alguns homens são brasileiros. Todos e
frente de Pedro, Mário prefere Dirce etc. Nestas nenhum junto a sujeitos ou substantivos são sinais de
sentenças afirmamos uma relação entre dois termos. universalida de. Alguns é sinal de particularidade.
Entre Pedro e Maria estabelece-se uma relação afetiva Quando a proposição tem um único sujeito, como
de amor, unívoca, se for só de Pedro para com Maria, ou “Pedro é estudioso”, é uma proposição singular, podendo
biunívoca, se também de Maria para com Pedro. A ser tomada como um caso especial da pro posição
estrutura lógica destas proposições não é: S é P, nem é singular.
uma inclusão
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i . j: “O Brasil construiu a Transamazônica e não gastou dinheiro” é falsa.
I — Conjunção. As proposições estão ligadas pelo conectivo e. Esta ope
ração se assemelha, de certo modo, à multiplicação. Exemplifiquemos: Associ
emos através da conjunção e as seguintes sentenças: “O
Cálculo sentencial Brasil construiu a Transamazônica” e “O Brasil não
gastou dinheiro na construção da Transamazônica”.
Simbolizemos:
“O Brasil construiu a Transamazônica”, por p,
Uma proposição e sua negação não são nunca “e”
verdadeiras ao mesmo tempo. De uma proposi “O Brasil não gastou dinheiro na construção da
ção e de sua negação podemos dizer que uma Transamazônica”, por q. A sentença resultante: “O Brasil
delas pelo menos é verdadeira. construiu a Transamazônica e não gastou dinheiro” é
uma proposição composta. Quando é verdadeira e
quando é falsa? Façamos uma tabela e coloquemos de
um lado as quatro combinações dos valores F (falso), V
(verdadeiro) e no outro, apelando para o significado
Nosso objetivo, neste capítulo, é mostrar que a Lógica verda deiro ou falso da sentença composta, procuremos
formal moderna pode tratar a linguagem como objeto de o valor final da resultante:
cálculo. Vamos, contudo, apenas introduzir
Tabela I — Conjunção
nos neste assunto. Para um estudo conjunção das sentenças. i . j: “Pedro estuda Filosofia e joga
mais profundo, será necessário xadrez”.
procurar
q
p
textos de Lógica especializados. V
Vejamos um cálculo sentencial básico.
Antes V V
de mais nada, simbolizemos. Exemplo: Chamemos de i a proposição
simples:
F

V
Conectivos lógicos: F
p . qV
F
F F F
e (•); ou (v); se . . ., então (x); não (~). i: “Pedro estuda Filosofia”.
j: “Pedro joga xadrez”.
F
O conectivo e serve de elemento de

Para estabelecermos se uma proposição composta é quando as duas sen tenças elementares que a
verdadeira, devemos observar se as proposições simples compõem são ambas verdadeiras. As quatro combi
são ambas verdadeiras. Se por acaso uma delas for nações possíveis dão apenas uma única resultante
falsa, então a proposição composta será falsa. verdadeira.
Exemplo:
i: “O Brasil construiu a Transamazônica”. II — Alternação. Nesta operação, o conectivo lógico
j: “O Brasil não gastou dinheiro na construção que liga as sentenças é ou, tomado no sentido inclusivo,
da Transamazônica”. A proposição i é como na frase abaixo. Suponhamos que alguém tenha
verdadeira. A proposição j é falsa. dúvida de em que países do continente americano se
Na operação Conjunção, a resultante só é verdadeira fala francês
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e, ao sair da hesitação, diga: “Em duas regiões se fala por dois produtores de aço na América Latina, a resposta
francês: no Canadá ou no Haiti”. Se alguém perguntasse poderia ser: “Deve ser o Brasil ou o México”. Nestes
casos o ou aparece no seu sentido inclusivo, isto é, um primeira ser verdadeira (V) e a segunda ser falsa (F). Se
elemento não exclui o outro. Empre guemos, aqui, os digo: Se fulano resolver este problema, então engulo o
dois exemplos anteriores. Simbolizemos ou por v. guarda-chu va. Supondo F para as duas elementares,
Recorren do ao sentido intuitivo das duas sentenças, como será a resultante?
podemos construir a:
Tabela III — Implicação
Tabela II — Alternação Tenho as sentenças p e q associadas na condicional.
resolver o problema, eu engulo o guarda-chuva”, quando Se p, então q: Repre sentamos “se . . . , então” por ()
é que esta resultante é falsa? Examine o caso de a

p F pvqV p F pqV
VVFF V VVFF F
V V
q V q V
V F V V
F F

A alternação ou tem dois sentidos: no sentido verdadeira (V) e a consequente ser falsa (F).
inclusivo o significado de ou é: ou p ou q ou ambos. Por estes exemplos vemos que a verdade de uma
Exemplo: “Ou João ou Pedro têm dinheiro”. Isto é, João sentença complexa (molecular ou resultante) é função da
pode ter dinheiro e Pedro não. Pedro pode ter dinheiro e verdade das sentenças elementares (atô micas) que a
João não ou ambos podem ter dinheiro. compõem.
No sentido exclusivo significa de duas uma: ou p ou q;
de outro modo: p ou q, nunca os dois. IV — A negação. A negação, evidentemente, tem
íntima relação com o valor lógico da sentença. Opera,
III — Implicação. Estudemos agora o que se entende contudo, com uma única sentença. Representemos a
por implicação, isto é, uma proposição composta cujo negação por um ~:
elemento de ligação é o condicional; “se p, então q”. A
indicação de uma implicação se faz da seguinte forma: Tabela IV
“p  q” — significando que uma decorre da outra.
p: “Paulo foi ao jogo”. ~p
A resultante só é falsa no caso de a antecedente ser
p
q: “Paulo foi ao Maracanã”.
V
F
p  q: Se “Paulo foi ao jogo” então “Paulo foi ao Maracanã”. Portanto:
Paulo foi ao jogo implica Paulo foi ao Maracanã.
V
V
Esta operação lógica se faz em função de: Se ..., então. Se associo: “Se ele
23 24
Se p é igual a “a terra é imóvel”, esta expressão ~ (a O princípio do terceiro excluído é uma sentença
terra é imóvel) pode ser lida como: é falso que “a terra é logicamente verdadeira, porque, quaisquer que sejam os
imóvel”, pode-se ler também à maneira tradici onal: “a valores dos seus componentes, a resultante é sempre
terra não é imóvel”. A expressão ~ p pode ser lida, pois, verdadeira.
como: a) é falso que p Equivalência, princípio de identidade. Chamamos de
b) não p equivalência a con dicional que se indica da seguinte
forma: i  j.
Princípios lógicos Pela representação de equivalência, constatamos
a) Principio de contradição. Comumente enuncia-se imediatamente a existên cia de uma dupla implicação. Se
este princípio da se guinte maneira: i indica j, então j indica i. Exemplo: “Se Pedro é o único
— Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo que tem duas canetas, o único que tem duas canetas é
tempo. Por exemplo: O objeto A não poderia ser ao Pedro”.
mesmo tempo B e não-B. Poderíamos expres sar as i: “Pedro tem duas canetas”.
duas sentenças simples do princípio como p e ~p. De j: “As duas canetas pertencem a Pedro”.
acordo com a i  j: “Pedro tem duas canetas” indica “As duas canetas
pertencem a Pedro”.
tabela anterior, seria: p F condicional se i, então j é
j  i: “As duas canetas verdadeiro e o condicional se
V V pertencem a Pedro” indica j, então i também é
“Pedro tem duas cane tas”. verdadeiro; caso contrário,
F .
p ~p F Como Pedro é o único que diremos que a equivalência é
~p tem duas canetas, então: i falsa.
j. Uma equivalência é A equivalência pode ser
F dita verdadeira quando o chamada de Princípio da
Identidade. Exprime a
Assim, teríamos: p • ~p = 0, lendo-se “p e não p igual falsa.
a nada”, isto é, uma coisa não pode ser e não ser ao b) Princípio do terceiro excluído. Este princípio quer
mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista, digamos, afirmar a impossibili dade de um meio-termo entre a
branca e preta. afirmação e a negação. “Qualquer coisa é ou não é.”
Como vemos, este princípio é uma sentença Seja a qualidade B e sua contraditória não-B. Uma coisa
logicamente falsa porque, quaisquer que sejam os qualquer A é necessariamente B ou não-B. Sua
valores dos seus componentes, a resultante é sempre simbolização seria de acordo com a tabela da
alternação: também, de leis gerais do pensamento. Em todos os
impossibilidade em que se acha o espírito humano de nossos juízos estamos sempre utilizando-os incons
pensar uma noção e seus caracteres íntimos ou cientemente. Quando afirmo: “Isto é um colégio”, estou
constitutivos como opostos e dessemelhantes. Uma empregando os três princípios:
coisa é o conjunto de seus caracteres. Uma coisa é ela 1) Afirmo a identidade do colégio com ele mesmo, ao
própria: “O que é, é”. Em notação, a  a, onde lemos a é fazer a assertiva. 2) Excluo a sua contraditória de que
equivalente a a. ele não seja colégio (princípio do tercei ro excluído).
Conclusão: Estes três princípios são chamados,

a não ser um colé gio, isto é,


p F p v ~p V
excluo a possibilidade de ele
VF V ser um colégio e uma boite
3) Excluo a possibilidade de ao mesmo tempo e sob o
~p ele ser qualquer outra coisa, mesmo ponto de vista.
V
25 26 Quantificadores

Uma função proposicional torna-se uma proposição quantificadores. Os quantificadores determinam valores em
quando substituímos sua variável por um elemento termos de universalidade ou em termos de existência.
determinado ou por um quantificador. Vejamos, quando Vejamos a função proposicional: “X estuda”. Torna-se uma
afirmo: “A liberdade é um dom precioso”, a palavra proposição quando afirmo:
liberdade tem tan tos significados, que significa “X é um 1. Pedro estuda.
dom precioso”. Esta é uma função proposicional ou uma 2. Para todo X, X estuda, ou para todo X, X significando
sentença aberta. Torna-se uma proposição quando X é uma pessoa (Pedro),
substituído por um elemento determinado. Outro exemplo,
a expressão X + 4 = 5 é uma função proposicional por Sistema dedutivo
causa de sua variável e, como vimos ante riormente, esta
expressão somente poderá ser definida como uma
proposição simples se definirmos um valor qualquer para Aristóteles apresenta seu silogismo em letras (stoiquéia) a
X. Há duas maneiras de se trans formar estas sentenças fim de mostrar que chegamos à con clusão não por força
abertas em proposições simples: da matéria das premissas e sim por consequência de sua
1. Atribuindo-se um valor à variável. forma e combina ção.
2. Fazendo-se uso de elementos chamados Alexandre (antigo lógico grego)
ADeduzir consiste em tirar uma consequência de antecedentes mediante re gras ou mediante a evidência. A primeira
estrutura dedutiva cabalmente estuda
X estuda. Este é o quantificador universal e é representado pelo símbolo V.
Portanto, a proposição acima será representada por X, X que consiste em inferir B de A e C. É um argumento
estuda. O segundo tipo de quantificador é o existencial, mínimo ou miniatura dedutiva. Aristóteles, o criador da
cujo símbolo é: E e significa existe. teoria silogística, dá o seguinte exemplo de silogismo:
Por exemplo: E X | X + 3 = 4, e lê-se: “existe um valor
de X, tal que X + 3 = 4”, ou então, “existe pelo menos um
valor de X, tal que X + 3 = 4”. Há ainda um quantificador
chamado quantificador existencial particular. É
representado pelo símbolo E | e significa “existe
unicamente”, “existe somente um”. CBA
Por exemplo: E | X | X + 3= 5, significando portanto: Se A é predicado de todo B
“existe um único valor de X, tal que X + 3 = 5”. e B é predicado de todo C
da foi o silogismo. O silogismo é um argumento dedutivo Logo: A é predicado de todo C
27 28
Isto pode ser simbolizado graficamente por três Como se vê, todo silogismo deve ter três termos: o
círculos inscritos de acordo com a inclusão de cada maior, o menor e o médio.
termo no seguinte. Qualquer silogismo, em essência, se a) Termo maior é aquele que na conclusão exerce
reduz a este esquema da figura anterior. unicamente as funções de predicado, tendo, por sua vez,
No silogismo, queremos saber qual a relação entre A maior extensão.
e C. Como caminho de solução, valemo-nos do termo b) Termo menor é o sujeito da conclusão e o que
intermediário B, no qual A e C estão, de certa maneira, tem menor extensão. c) Termo médio é o que
incluídos. nunca está na conclusão.

A Estes três termos se agrupam em três minam-se premissas e a terceira,


é proposições. As duas primeiras deno conclusão.
B
 Vejamos outro exemplo:

Fernanda é bisavó de Sônia,


Logo:
BA
é é
Flávio é irmão de Sônia,
Logo: Flávio é bisneto de
C C Fernanda.
B é o termo médio e a chave da questão. Pense um pouquinho e logo verá que, neste tipo de
Se A = a classe dos brasileiros; silogismo, existe o que podemos chamar de estrutura
B = a classe dos homens; interna. É por força dessa estrutura interna que se
C = a classe dos mortais, teríamos o seguinte silogismo: chega, de modo absolutamente certo, à conclusão. Esta
Todos os brasileiros são homens. se acha oculta nas premissas, mas quando vem à tona,
Todos os homens são mortais. surge como certeza absoluta, desde que as proposições,
Logo: Todos os brasileiros são mortais. de que se deriva, sejam perfeitamente certas.
Conforme podemos ver na figura acima, basta
simplificar o B em cima e embaixo, isto é, nas suas A forma ou estrutura silogística
premissas, para termos a conclusão correta. Isto se deve
ao fato de que A e C se identificam em B. Tudo se passa Se retirarmos de um silogismo as palavras que se
de acordo com a lei lógica de que duas quantidades referem a coisas ou fatos, isto é, sua matéria, ficamos
idênticas a uma terceira são idênticas entre si. É o termo apenas com a ossatura lógica (forma). Quais são os
médio que identifica os dois conceitos que se quer elementos desta forma? Vejamos:
confrontar. Partamos do seguinte silogismo:
Todos os homens são mortais. (1)
Mecânica do silogismo Sócrates é homem.
Logo: .................. é .....................
Suponhamos que se queira saber se o mercúrio Retirando os termos concretos, temos:
conduz eletricidade. Bas taria descobrir um termo que Todos ................. são ................
incluísse os outros dois. No caso, este só pode ser .............................. é ................... (2)
metal. Assim, teríamos: Logo: .................... é ...................
Todos os metais são bons condutores de eletricidade. Todo, logo são expressões auxiliares da forma.
O mercúrio é um metal. Fazem, de certa maneira, parte da mesma.
Logo: O mercúrio é bom condutor de eletricidade. O termo logicamente fundamental é o verbo predicativo é.
Pode ser substi-
29 30
tuído por “está incluído em”, “é predicado de”, “relaciona- Tempos depois de franqueada sua produção e liberada
se”. Podemos simbolizá-lo por R. Assim teríamos: ao comércio, um médico europeu lançou um brado de
alarma, uma vez que o índice de nascimentos
teratológicos estava subindo paralelamente ao do
consumo da talidomida, no mesmo grupo de idade. A
talidomida voltou ao crivo da pesquisa. O que se
passara? A talidomida, apesar de sua semelhança com
outros tranquilizantes de muitos bons resultados na
ou usando somente letras maiúsculas: prática clínica, veio a revelar o seu papel teratogênico só
gia. Por ser indução está sujeita a erros: A talidomida foi quando o uso mais largo permitiu maior soma de
liberada depois de exames analógicos desta natureza. informações.
Aliás, no exemplo acima trata-se de uma indução, apesar de aparecer em
ABA BCC (4) certeza da indução É, apenas, pro vável.
forma silogística. A nunca é total, absoluta.
RRR

Se representarmos em (4) as duas


premissas por p, o ato dedutivo pelo símbolo
, que se lê: “Se . . . , então”, a conclusão
por q, teremos:

S  P se p, então q (5)
Há uma forma silogística da indução que
presta muitos e bons serviços à Ciência,
como a Medicina, a Sociologia, a Economia.
Vejamos este exemplo: Premissa maior: “As
substâncias A, B e C possuem uma
propriedade idên tica (por exemplo, matam
micróbios)”.
Premissa menor: “Uma substância X,
desconhecida, verifica-se ser seme lhante a
A, B e C, por exemplo, na cor, ou pelo fato
de ser produzida por certo cogumelo”.
Conclusão: “X tem a propriedade de A, B e C”.
Este segundo tipo de dedução aplica-se
frequentemente na pes-quisa farmacológica,
química, e em outros campos. Com esta
indução chega-se a uma conclusão nova,
não implícita na premissa maior, por meio de
uma analo
31 32
formas lógicas. Eis o esquema das estruturas ou formas lógicas dos dois primei
ros exemplos:

Estruturas lógicas 2. Pedro é maior do que João.


1. ------------------ é ------------------
2. ------------------ > ------------------

“É pelo fato de a Lógica se interessar apenas Os lugares vazios podem ser preenchidos por
pela forma, que a denominamos formal.” qualquer matéria. Em 1., tenho uma estrutura ou forma
lógica predicativa, onde afirmo uma qualidade de um
sujeito. Em 2., tenho uma estrutura de relação, onde
ponho os dois termos João e Pedro numa relação de
grandeza (maior do que).
Em 3., se retirarmos a matéria (palavras que
A interpretação do mundo cria determinadas designam objetos ou fatos do mundo exterior) do
estruturas mentais: estruturas de relação entre as coisas, silogismo, teremos:
de propriedades: de pertence a; relação de
quantificação: todos, alguns, nenhum; relação de
igualdade: maior, menor.
Assim, uma parte do mundo é composta de coisas
(objetiva), outra de rela ções entre as coisas (subjetiva).
Que é, pois, estrutura ou formal Quer nas nossas Nem todos os silogismos se apresentam de acordo
sentenças, quer nos nossos raciocínios, podemos com a forma regular que conhecemos — três
sempre distinguir a forma do conteúdo objetivo. Vejamos proposições bem definidas: duas premissas e uma
um exemplo. Qual seria a forma lógica de: conclu são.
1. Pedro é estudioso. Os tipos que vamos estudar, se bem que diversos,
guardam certa analogia com o silogismo regular.

{
Todos os homens são mortais. Também conhecido pelo nome de
Sócrates é homem. modus ponens. É constituído de duas
3. Logo: Sócrates é mortal. premissas ligadas entre si pelas
constantes se . . ., então . . . Este
Silogismo hipotético silogismo vale
Nenhuma palavra que denote coisa ou fato da da Lógi ca.
experiência faz parte da estru tura lógica. Que resta, então, das sentenças dadas? Restam apenas
Não lhe pertence também o significado semântico das suas estruturas ou
palavras. Nos dois primeiros exemplos, as palavras por uma regra dedutiva.
Pedro, estudioso, João, como denotam coi sas, pessoas, Se p, então q.
propriedades do mundo exterior, não fazem parte, pois, Dá-se p.
Logo q. Se Pitágoras inventou o teorema que tem o seu nome,
Exemplificando: então foi um bom matemático.
33 34
É certo que ele inventou. Logo: Foi um bom matemático. espécie humana não poderia sobreviver. Ora, eu quero
O modus ponens é um silogismo hipotético positivo que todos vivam e sobrevivam em paz; logo, não devo
ou condicional. Quan do aparece em forma negativa fazer isto”.
chama-se modus tollens. Há outros imperativos chamados por ele de
Se p, então q. heterônomos: “Se fizer isto, papai briga ou irei para o
Não se dá p. inferno” etc. A força de decisão lógico-moral está fora da
Logo: Não se dá q. pessoa. Os outros imperativos baseados em princípios
Ex.: pessoais individuais chamam-se autônomos. Por
Se a riqueza fosse uma condição para a felicidade, exemplo: “Se todos fizessem como eu quero fazer
então os homens viveriam tanto mais felizes quanto mais agora, a sociedade não poderia subsistir, não devo fazer
ricos fossem. aos outros o que não quero que façam a mim”.
É falso que os homens sejam tanto mais felizes
quanto mais ricos. Logo: É falso que a riqueza seja a Dilema
condição essencial à felicidade. O modus ponens se
constitui numa regra geral de demonstração matemáti Neste silogismo, enuncia-se uma alternativa e mostra-
ca. se depois que, quais quer que sejam os termos de uma
ou de outra das alternativas, a conclusão será sempre a
Entimema mesma, como no exemplo citado de Protá-goras e seu
discípulo. O dilema é um argumento válido e tem esta
(Deriva-se do grego: en timo ménei, “fica na alma”.) forma ou estrutura:
Neste silogismo falta uma premissa ou até mesmo as
duas. Ou p ou q.
Ex.: “Penso, logo existo”. Se p, então r.
(Falta: Todo o que pensa existe.) Se q, então s.
Logo: ou r ou s.
Podemos reduzir nossas conclusões morais a
entimemas. Quando algum de nós chega à conclusão: O dilema é um tipo de argumento muito eficaz porque
“Não devo fazer isto”; “Tenho que fazer aquilo” etc, esta fornece duas saídas ao problema e, em ambas, o efeito
decisão moral é apenas uma conclusão silogística cujas da ação é o mesmo. Assim, r ou s se equivalem. Analise
premissas ficam ocultas. As premissas poderiam ser: “Se este dilema clássico, cuja estrutura seria a seguinte:
fizer isto ficarei mal visto; ora, não quero ser mal visto;
logo, não devo fazer isto”. Kant chamava as premissas Ou p ou não p.
morais de imperativos categóricos, podendo pertencer a Se p, então r.
várias categorias morais. Os mais válidos seriam os mais Se não-p, então r.
universais. Por exemplo: “Se todos praticassem isto, a
Logo r? o. O jovem defendeu-se com este argumento:

Um velho professor de argumentação realiza um Ou ganho a causa, ou perco.


acordo com um de seus alunos. O aluno estaria Se ganhar, não precisarei pagar as lições (porque o
desobrigado de pagar as lições no caso de perder a sua professor terá perdido a ação de cobrança).
primeira causa. Findo o curso, o estudante não aceitou Se perder, também não precisarei pagar as lições (em
nenhuma causa. A fim de cobrá-lo, o mestre processou- vista do acordo feito com o professor).
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Não precisarei pagar as lições.
O professor, no entanto, redarguiu deste modo:
Ou ganho a causa, ou perco.
Se ganhar, o aluno precisará pagar-me
(porque terei ganho a ação de co brança).
Se perder, o aluno também precisará
pagar-me (porque terá vencido a pri meira
causa).
 O aluno deverá pagar-me.
Não se conta de que maneira terminou o
processo. O dilema duplo, no entanto, revela
que o contrato original entre o aluno e o
mestre envolvia uma contradição.

TELES, Antônio Xavier. Introdução ao


estudo de filosofia. 25 ed.. São Pau lo: Ática,
1988, p. 153-186.

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