Apesar de evidente, a certeza “Penso, logo existo” é uma certeza subjetiva. Assim sendo, torna-se necessário averiguar o que se encontra na base do pensamento e na origem da existência do sujeito pensante. Este descobre-se como um ser imperfeito. Possuir o saber será uma perfeição maior do que duvidar. Mas partamos das ideias que estão presentes no sujeito. Elas possuem um conteúdo que representa alguma coisa: TIPOS DE IDEIAS EXEMPLOS
Adventícias – têm origem Barco, copo, etc.
na experiência sensível Factícias – fabricadas pela Centauro, sereia, dragão, imaginação etc. Inatas – constitutivas da Pensamento, existência, própria razão ideias matemáticas. As ideias inatas são claras e distintas, essências puramente inteligíveis, independentes da contribuição da perceção sensível, ideias que se revelam na nossa alma. Entre as ideias inatas que possuímos, encontra-se a noção de um ser perfeito, um ser omnisciente, omnipotente e sumamente bom. A ideia de ser perfeito servirá de ponto de partida para a investigação relativa à existência do ser divino. Descartes demonstra a existência de Deus mediante três provas: Argumento Ontológico Parte da constatação de que na ideia de ser perfeito estão compreendidas todas as perfeições. A existência é uma dessas perfeições. Por consequência, Deus existe. O facto de existir é inerente à essência de Deus, de tal modo que este não pode ser pensado como não existente. Esta prova é designada por Argumento Ontológico. Argumento da Marca Impressa A causa que faz com que a ideia de ser perfeito se encontre em nós não pode ser o sujeito pensante. De facto, essa ideia representa uma susbstância infinita. Neste sentido, o sujeito pensante, sendo finito, não é a causa da realidade objetiva de tal ideia. A causa da ideia de Deus não é outro ser senão Deus. Ele é o próprio ser perfeito e a causa originária de perfeição. Esta prova é designada por Argumento da Marca Impressa. Argumento da Primeira Causa Baseia-se igualmente no princípio da causalidade. Procura-se agora saber qual a causa da existência do ser pensante, que é um ser finito, contingente e imperfeito. Essa causa não é o sujeito que pensa. Se o fosse com certeza que ele daria a si próprio as perfeições das quais possui uma ideia. Ora, isso não se verifica. Por outro lado, e partindo do princípio de que a criação é ação contínua – já que a natureza do tempo é descontínua, e nada garante ao sujeito pensante que existirá no momento a seguir -, o sujeito finito apercebe- se de que não possui o poder de se conservar no seu próprio ser. Tal só aconteceria se ele fosse a causa de si mesmo. Por isso, o criador (e conservador) do ser imperfeito e finito, assim de como toda a realidade é Deus. Por sua vez, sendo perfeito, Deus não necessita de ser criado por outro ser: ele é causa sui (causa de si mesmo)- Argumento da Primeira Causa A fundamentação metafísica do saber: Deus não engana e por isso é garantia da objetividade das verdades racionais Sendo perfeito, Deus não é um ser enganador, pelo que nos encontramos libertos da dimensão hiperbólica e mais corrosiva da dúvida. Deus é a garantia da verdade objetiva das ideias claras e distintas, pois ele constitui, afinal, a garantia de que não nos enganamos.
Sendo criador das verdades eternas, a origem do ser e o fundamento da
certeza, Deus garante a adequação entre o pensamento evidente e a realidade, legitimando o valor da ciência e conferindo objetividade ao conhecimento. Deus é o princípio do ser e do conhecimento. Além disso, Deus é também infinito, a fonte do bem e da verdade; é omnipotente, eterno, omnisciente e, embora sendo o criador do Universo, não é autor do mal, nem é responsável pelos nossos erros.
Uma vez provada a existência de Deus, Descartes irá provar
também a existência do corpo e das coisas exteriores em geral, apoiado na certeza de que Deus não o engana. Poderá assim superar todos os argumentos céticos radicais. Bibliografia:
Adaptado de:
Borges, J.F., Paiva, M. e Tavares, O. (2014). Novos Contextos. Filosofia