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Fundacionalismo Cartesiano
Fundacionalismo Cartesiano
o Fundacionalismo – Teoria que defende a possibilidade de justificar as crenças não básicas,
inferenciais, através das crenças básicas, não inferenciais ou fundacionais, sustentando,
assim, a possibilidade de conhecer.
O Método
o Segundo Descartes a razão é a origem do conhecimento universal e necessário, pelo que
as proposições matemáticas assumem um carácter evidente. Com efeito, a sua origem é
exclusivamente racional e a priori.
à Por isso, talvez seja possível seguir um método inspirado na matemática para a conquista
da verdade.
A Dúvida
o A dúvida traduz um momento importante do método, pois é através dela que é possível
recusar as crenças em que é notada a mínima suspeita de incerteza.
à Por causa dos preconceitos e dos juízos precipitados que formulámos na infância;
à Porque os sentidos muitas vezes nos enganam e seria imprudente depositar uma
confiança excessiva naqueles que nos enganaram, mesmo que uma só vez;
à Porque não dispomos de um critério que nos permita discernir o sonho da vigília.
Podemos estar a sonhar e não o sabemos: não temos justificação para acreditar que
estamos despertos. Isso fará com os pensamentos sejam ilusórios;
à Porque alguns seres humanos se enganaram nas demonstrações matemáticas o que o
faz duvidar os raciocínios;
à Porque é possível que exista um deus enganador, ou um génio maligno, que nos ilude a
respeito da verdade, fazendo com que estejamos sempre enganados, seja no tocante às
verdades e às demonstrações das matemáticas, seja no que se refere à própria
existência das coisas.
o A hipótese de um deus enganador parece condenar-nos a uma situação sem saída, pois
equivale a admitir que o entendimento humano é de tal natureza que se engana sempre,
mesmo quando pensa captar a verdade.
à É também de salientar a desconfiança de Descartes em relação às informações obtidas
pelos sentidos, pois estes enganam-nos algumas vezes, pelo que convém assumir que
nos enganam sempre.
o A dúvida é um exercício voluntário e uma suspensão do juízo e tem uma função catártica
(liberta o espírito dos erros que o podem perturbar ao longo do processo para atingir a
verdade).
O Cogito
o Sendo um ato livre da vontade, a dúvida acabará por conduzir a uma verdade
incontestável: “Penso, logo existo” – Cogito, ergo sum.
à Trata-se de uma afirmação evidente e indubitável, de uma certeza inabalável, obtida por
intuição, de modo inteiramente racional e a priori, e que servirá de paradigma para as
várias afirmações verdadeiras.
à Descartes chega a este princípio, pois ao duvidar, compreende com clareza e distinção
que, estando a pensar, era certa a sua existência como substância pensante (res
cogitans). Deste modo, pode-se adotar como regra geral, a ideia de que é verdadeiro
tudo o que concebemos muito claramente e muito distintamente.
o O cogito surge-nos como crença fundacional ou básica, pois serve de alicerce a todo o
sistema do saber, sendo uma ideia inata.
à Além disso, ele apresenta a condição da dúvida hiperbólica, uma vez que existir é a
condição para se poder duvidar, e ao mesmo tempo, impõe uma exceção à
universalidade dessa dúvida, pois há pelo menos uma realidade da qual não é possível
duvidar, a própria existência.
A Existência de Deus
o É necessário averiguar o que se encontra na base do pensamento e na origem do ser
pensante, que se caracteriza por ser um ser imperfeito. Possuir o saber será uma perfeição
maior do que duvidar.
o Tipos de Ideias:
à Adventícias – Têm origem na experiência sensível (Ex: Ideias de barco, copo, cão);
à Factícias – São fabricadas pela imaginação (Ex: Ideias de centauro, dragão, sereia);
à Inatas – São ideias constitutivas da própria razão (Ex: Ideias de pensamento, existência.
Ideias matemáticas).
o As ideias inatas são claras e distintas, e podem ser caracterizadas como as “verdades
eternas”, “essências puramente inteligíveis e inteiramente independentes da contribuição
da perceção sensível”.
à Entre as ideias inatas que possuímos encontra-se a noção de um ser perfeito, um ser
omnisciente, omnipotente e sumamente bom. A ideia de ser perfeito servirá de ponto de
partida para a investigação relativa à existência do ser divino.
o O argumento da marca tem uma relação com o princípio da adequação causal que afirma
que as qualidades dos efeitos também têm de estar presentes nas suas causas.
à Neste sentido, a ideia de perfeição tem como causa o ser perfeito que é Deus e nunca
poderia ter sido causada pelo homem, visto que este é imperfeito.
o Sendo Deus um ser perfeito não é enganador (pelo que nos encontramos libertos da
dimensão hiperbólica e mais corrosiva da dúvida – Existência de um deus enganador) e
não nos iria criar de modo a que fossemos incapazes de conhecer seja o que for. Porque
estamos então sujeitos à dúvida e ao erro?
à Deus criou-nos livres porque é perfeito e dotou-nos da faculdade de conhecer , mas nós
utilizamos mal a liberdade que temos e fazemos más escolhas e, por isso, erramos;
à Estando sujeitos ao erro podemos evitá-lo se fizermos um uso correto das nossas
faculdades racionais;
à Deus dá-nos a faculdade conhecer e garante a verdade das nossas ideias.
As Três Substâncias
o No que se refere aos corpos, só o conceito de extensão (em comprimento, largura e altura)
nos fornece um conhecimento claro e distinto, pelo que só quando a matéria é concebida
nas suas três dimensões pode ser apreendida pela razão.
à As qualidades da matéria que são observadas sensorialmente estão sujeitas à mudança,
enquanto que as três dimensões são propriedades da matéria que estão marcadas pela
estabilidade.
o Descartes concebe que o Homem é composto por duas substâncias distintas (Dualismo
Cartesiano):
à Res Cogitans – Substância não extensa e pensante, espírito;
à Res Extensa – Substância extensa ou corpórea, ou corpo.
o A res cogitans é distinta da res extensa. Porém Descartes, concebe um ponto de interação
entre a mente e o corpo, a glândula pineal, localizada na parte mais interior do cérebro.
o Res divina (substância divina) – Vários atributos, todos eles numa perfeição infinita.
à Em virtude da simplicidade divina, todos os atributos de Deus, omnipotência,
omnisciência, etc., são atributos essenciais.
O Fundacionalismo Cartesiano
o Descarte usou um método que lhe permitiu fundamentar o conhecimento humano. As
ideias fundamentais são inatas, impondo-se à diversidade empírica.
à O sujeito impõe-se ao objeto através das noções que traz em si. A razão, desde que
devidamente orientada, é capaz de alcançar verdades universais, traduzidas no
conhecimento claro e distinto.
o O dualismo cartesiano é uma falácia (falácia do mascarado), pois não é pelo facto de não
se conseguir conhecer o corpo, por se ter dúvidas em relação ao mesmo, que se pode
conceber que este não está unido à mente.
o Círculo cartesiano: Descartes chega à ideia da existência de Deus, porque esta ideia é
clara e distinta, e depois conclui que as ideias claras e distintas são verdadeiras porque
Deus existe, caindo assim numa petição de princípio (processo que consiste em assumir
como verdadeiro aquilo que se pretende concluir).