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4.1-A dúvida põe em questão as crenças que têm por base seja os sentidos seja a razão.

Nem a
razão nem os sentidos, portanto, são capazes de fornecer verdades indubitáveis
O objetivo de Descartes é provar que existe conhecimento, isto é, crenças de cuja verdade
estamos completamente seguros. Descartes descreve a forma como chega à primeira verdade
deste tipo a partir do seguinte raciocínio: mesmo que tudo aquilo em que acreditamos seja
duvidoso ou falso, como a dúvida sugere, há pelo menos uma coisa que tem de ser verdadeira
para que possa duvidar, a saber, a sua própria existência e, portanto, a sua existência é uma
verdade indubitável. Isto é, Descartes está convencido de que o pensamento não pode existir
por si só, e como o pensamento existe — uma vez que a dúvida é uma forma de pensamento
—, tem de existir necessariamente uma entidade em que o pensamento ocorra. Essa entidade
é o «eu», cuja existência é, portanto, uma verdade indubitável.
É por isso que Descartes pode afirmar «Eu penso, logo, existo». Descartes não é, portanto, um
cético. Ao contrário dos céticos, que constroem argumentos com o objetivo de mostrar que
não é possível justificar racionalmente nenhuma das nossas crenças, Descartes usa a dúvida
com o objetivo contrário, isto é, como um meio para certeza.
Ao levar a dúvida ao extremo, tornando-a hiperbólica, a impossibilidade da dúvida torna-se
evidente, pois no próprio ato da dúvida descobrimos a verdade indubitável da nossa
existência. Esta descoberta vai ser usada por Descartes como o ponto de partida do seu
projeto filosófico-científico.

4.2 e 4.3- Descartes diz que o eu é pensamento e, para responder à pergunta “O que é o
pensamento?” usa a meditação.
O que sou eu? Um ser pensante.

O que é um ser pensante? É alguém que duvida, que compreende, que nega, que quer, que
não quer, que imagina e que sente.

Descartes atribui assim ao pensamento tudo aquilo que ocorre na nossa mente e que nós
associamos aos órgãos sensoriais e a objetos físicos.

4.4-Descartes pensa ainda que não é possível duvidar da nossa existência enquanto


pensamento embora seja possível duvidar da existência do nosso corpo. Daqui Descartes
tira duas conclusões importantes: 

∙ a alma e o corpo são substâncias completamente distintas 


∙ é mais fácil conhecer a alma do que o corpo

Apesar de diferentes, o pensamento e o corpo encontram-se juntos no ser humano. No


entanto, como são completamente incompatíveis (uma vez que um é puro pensamento e o
outro pura extensão), Descartes tem grandes dificuldades em explicar como se articulam.

4.5- O que faz do «Eu penso, logo existo» uma verdade indubitável, e, por isso, um
conhecimento, é a clareza e distinção com que é aprendido pela nossa mente. Isto fornece a
Descartes o critério para determinar quando uma qualquer proposição é uma verdade
indubitável: a clareza e distinção. Mas, em que condições é uma ideia clara e distinta? A
resposta de Descartes é a de que uma ideia é clara quando a razão, sem qualquer participação
dos sentidos, nos mostra que ela é verdadeira sem a mínima possibilidade de erro; e é distinta
quando não se confunde com nenhuma outra ideia.
A clareza e distinção fornecem a Descartes o critério para determinar quando uma ideia
constitui um conhecimento. Qualquer ideia que a mente perceba com clareza e distinção é
indubitável. O cogito pode a partir de agora — e isto é de imensa importância para todo o
projeto de Descartes — analisar os seus pensamentos e determinar aqueles que são claros e
distintos. São essas ideias claras e distintas que vão constituir os fundamentos — as crenças
fundacionais — a partir dos quais Descartes vai deduzir a sua nova ciência, que é assim
também indubitável e, portanto, inquestionavelmente conhecimento.

4.6- As ideias claras e distintas são conhecidas por intuição. Já o que pode ser corretamente
derivado daquilo que conhecemos por intuição é conhecido por dedução.
Assim, Descartes atribui duas funções cognitivas principais à mente, a intuição e a dedução, a
que correspondem o conhecimento intuitivo e o conhecimento dedutivo.
Temos um conhecimento por intuição quando a nossa razão percebe imediatamente, sem
qualquer raciocínio e sem qualquer dúvida que algo é verdade. Conhecemos por intuição
verdades autoevidentes, como, por exemplo, «Eu existo» ou «um triângulo tem apenas três
lados».
Conhecemos algo por dedução quando a partir de proposições que conhecemos por intuição
inferimos uma outra proposição que é também de certeza absoluta verdadeira.

4.7- O «Eu penso, logo existo» é, uma verdade a que chegamos pela razão e é essa razão, e
não os sentidos, que nos revelam a nossa própria existência como uma verdade indubitável.
Como o cogito é o modelo que permite reconhecer outras verdades indubitáveis, que são a
base a partir da qual o conhecimento se vai desenvolver, o conhecimento tem origem na razão
e não nos sentidos. Isto faz de Descartes um racionalista.

O que caracteriza o racionalismo de Descartes: -O conhecimento tem origem na razão e não


nos sentidos; - O verdadeiro conhecimento é racional e não empírico; -Somos capazes de
chegar, a partir dessas verdades, por dedução, a outras verdades que são igualmente
indubitáveis.

Características do cogito:
- É um princípio evidente e indubitável, uma certeza indubitável;
- Obtém-se por intuição, de modo inteiramente racional e a priori;
- Serve de modelo do conhecimento: fornece o critério de verdade;
- É uma crença fundacional relativamente a todo o sistema do saber;
- Apresenta a condição da dúvida e impõe uma exceção à sua universalidade;
- Revela a natureza ou a essência do sujeito: o pensamento ou alma (refere-se a toda a
atividade consciente, distinguindo-se do corpo. A alma é conhecida antes do corpo e de tudo o
resto, de uma forma bastante mais fácil)

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