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Epistemologia

➔ A epistemologia é a área da filosofia que se dedica ao estudo de problemas


fundamentais relacionados com a natureza do conhecimento.

Clarificação do problema
➔ Outro problema epistemológico importante é o problema da possibilidade do
conhecimento: “Será possível a existência de conhecimento?”.

➔ Ceticismo → perspetiva epistemológica que nega totalmente ou parcialmente a


possibilidade de existir conhecimento → estamos longe de atingir crenças
verdadeiras justificadas.

➔ Os defensores do ceticismo não põem em causa a necessidade das três condições


necessárias. Apenas, duvidam da possibilidade da justificação das nossas crenças
→ saber se uma certa crença é ou não conhecimento está fora das nossas
possibilidades.

➔ Ceticismo radical: não podemos saber o que quer que seja que tenha haver com o
mundo → nenhuma das nossas crenças está suficientemente justificada para serem
consideradas conhecimento → suspensão do juízo (não aceitar ou negar certa
proposição). Discordam que é possível a existência de conhecimento.

Principais argumentos céticos


➔ Argumento da regressão da justificação - argumento a favor do ceticismo radical

Todas as nossas crenças justificam-se com base noutras crenças:


➔ *Regressão do infinito - não encontrar fundamentos;
➔ *Parar arbitrariamente numa crença não justificada;
➔ *Raciocínio em círculo ( crença A – crença B – crença C – crença A)
* Trilema de Agripa

➔ Argumento da ilusão dos sentidos;


➔ Argumento do sonho;
➔ Argumento do cérebro numa cuba.
A teoria Racionalista
➔ Origem (Qual é a origem/fonte do conhecimento?):
– Racionalismo: Descartes
– Empirismo: David Hume

➔ Racionalismo: teorias epistemológicas que indicam como fonte do conhecimento o


pensamento ou a razão → o pensamento só por si e sem ajuda da experiência,
garante a aquisição e a justificação do conhecimento.

➔ O racionalismo defende que para haver conhecimento devemos satisfazer 2 critérios:


necessidade lógica e universalidade. Para isso, o ideal de conhecimento racionalista
presume a natureza dedutiva do saber a partir de crenças fundacionais ou primeira
verdade → crenças básicas que não são suportadas por quaisquer outras crenças e
que são infalíveis (não podem estar erradas) e indubitáveis (não podem ser postas
em dúvida).

➔ Fundacionalismo: Perspetiva epistemológica em que o conhecimento é um sistema


unificado de crenças cuja justificação tem por base crenças básicas ou fundacionais.
Resposta ao desafio levantado pelo ceticismo

➔ Infalibilismo: As crenças básicas suportam as demais crenças (crenças não básicas),


e por isso têm de ser irrefutáveis, absolutamente verdadeiras. Assim dizemos que o
racionalismo defende uma perspetiva infalibilista.

➔ Ao funcionalismo opõe-se o coerentismo, que rejeita a ideia de crença básica ou


fundacional. Para eles, a justificação de uma crença depende das relações de
suporte mútuo que uma certa crença estabelece com as restantes crenças de um
conjunto coerente de crenças.

➔ Empirismo: a principal fonte de onde adquirimos e justificamos o conhecimento é a


experiência.

➔ Tanto o racionalismo como o empirismo são teorias fundacionalistas. Para René


Descartes, racionalista e, por conseguinte, fundacionalista e infalibilista, a razão é a
única fonte que tem a capacidade de garantir conhecimento absolutamente seguro,
isto é, crenças verdadeiras justificadas capazes de resistir a qualquer dúvida.
Conhecimento a priori
➔ Racionalistas (Descartes, por exemplo)
➔ Priori: a justificação do conhecimento baseia-se exclusivamente no pensamento ou
razão → não precisamos de recorrer à experiência ou à observação para justificar.
O todo é maior do que a parte.
Se X é metade de Y, então Y é o dobro de X.
➔ Este conhecimento é, portanto, independente de experiências sensoriais ou da
observação e absolutamente certo (necessário).

Conhecimento a posteriori
➔ Empiristas (Hume por exemplo)
➔ Posteriori: coisas que só podemos saber através da experiência sensorial ou da
observação → fonte empírica.
A distância entre a Terra e a Lua é de 384 403 km.
A língua oficial do Brasil é o português.
Descartes é um filósofo racionalista.

➔ Nestes casos, precisamos recorrer à experiência e aos dados empíricos para justificar
as nossas crenças. O conhecimento a posteriori não é absolutamente certo (é
contingente).

Da dúvida ao cogito
➔ O objetivo de Descartes era estabelecer um conhecimento seguro e indubitável.
Para refutar o ceticismo e mostrar que o conhecimento está ao nosso alcance,
através da razão, Descartes pensa ter descoberto um método infalível, a dúvida.

➔ A dúvida metódica: Podemos afirmar que a dúvida cartesiana é: metódica


(instrumento metódico, que permite evitar o erro e prosseguir com segurança);
provisória (até atingir crenças básicas); universal (a priori / a posteriori), e
hiperbólica (exagerada).

Descartes apresentou várias razões para duvidar:


➔ 1º nível da dúvida - as ilusões dos sentidos: Se os nossos sentidos nos enganam,
ainda que apenas algumas vezes, então o melhor é nunca confiarmos neles.

➔ 2º nível da dúvida - a indistinção vigília-sono: não conseguimos distinguir se


estamos acordados ou a dormir.
➔ 3º nível da dúvida - a hipótese do Génio Maligno: como se de um deus mau
tratar-se, cujo único propósito é enganar-nos. Coloca em causa aquilo em que
acreditamos, ou seja, faz com que duvidemos das nossas próprias crenças.
1º e 2º nível da dúvida – Crença a posteriori
3º nível da dúvida – Crença a priori

A descoberta do cogito
➔ Depois de levar a dúvida ao seu extremo, Descartes faz surgir a 1ª certeza
invulnerável à dúvida: a existência do sujeito que duvida.

➔ Duvidar é pensar e para pensar é preciso existir. Pensar é, pois, condição suficiente
para existir: penso, logo existo (o cogito).

➔ A descoberta do cogito é uma importância inquestionável no racionalismo


cartesiano, pois representa o triunfo sobre o ceticismo [radical].

Dualismo Cartesiano
➔ Descartes conclui que é essencialmente uma substância pensante (ou res cogitans),
isto é, uma mente, ou alma imaterial, que existe independentemente do corpo.

➔ Denominou-se “dualismo mente-corpo” (ou dualismo cartesiano) à perspetiva de


que existem duas naturezas inteiramente distintas: a res cogitans (ou mundo
mental) e a res extensa (ou mundo material).

Clareza e distinção
➔ Inspirado no cogito, Descartes adota como critério de verdade a clareza e a
distinção (Evidência).

➔ Descartes encontra uma crença básica indubitável (o cogito) que nega o ceticismo
radical. O conhecimento é possível.

Três tipos de ideias


No interior da sua mente, Descartes encontra três tipos de ideias:
➔ As ideias inatas, que parecem ter nascido connosco, como as ideias de pensamento
ou de verdade;
➔ As ideias adventícias, adquiridas através dos sentidos, como as ideias de sol ou de
calor;
➔ As ideias factícias, que provêm da imaginação, como a ideia de sereia.
Provas da existência de Deus
➔ De entre as ideias inatas, Descartes destaca a ideia de Deus, ou ser perfeito. (Res
Divina) ser/coisa divina.
➔ Encontra, assim, a 2ª verdade.

➔ Para provar que Deus existe, Descartes recorre ao chamado “Argumento da Marca
Impressa”.
➔ O Argumento da Marca Impressa apoia-se na ideia de causalidade. Deus é uma
causa perfeita. Enquanto coisa pensante, Descartes sabe que duvida, e por isso não
é um ser perfeito. Aquele que duvida não conhece.
➔ Deus garante que podemos confiar nas nossas ideias claras e distintas atuais e
passadas, e nos nossos raciocínios apoiados em premissas com essas
características.

➔ Ao argumento da marca impressa junta-se o Argumento Ontológico.


➔ Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar. A existência é,
obrigatoriamente, um dos aspetos desta perfeição.
➔ Assim, se Deus é perfeito, Deus é ou existe.

Deus como garante epistemológico


➔ Deus é ou existe. Mas o que nos garante que este ser perfeito não é enganador?
➔ A bondade é uma perfeição e, por definição, uma característica incompatível com a
intenção maldosa de enganar. Assim, se Deus é perfeito, não pode querer enganar,
não pode ser um génio maligno.

➔ Descartes pode reconstruir com segurança o edifício do conhecimento, já que Deus


garante a possibilidade de conhecimento, através de verdades indubitáveis.
➔ Assim, o mundo físico (a matéria, a coisa extensa) existe. Res extensa, 3ª verdade.

Objeções ao Racionalismo Cartesiano


1. Para David Hume, a dúvida metódica de Descartes é impraticável (não podemos
simplesmente viver como se tudo fosse duvidoso) e incurável (se duvidarmos das
nossas próprias capacidades racionais, deixamos de poder recorrer a elas para
deduzir seja o que for a partir do cogito).
2. Descartes incorre numa petição de princípio – Esta objeção é conhecida como
Círculo cartesiano. Descartes estabelece que é absolutamente certo tudo o que
concebemos com clareza e distinção, pois Deus existe e não tem a intenção de nos
iludir, simultaneamente, afirma que Deus existe e não é enganador, já que
concebemos com toda a clareza e distinção a sua existência e bondade.

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