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Caprichoso Celebra Vida e Arte no Bumbódromo

Hoje, ao entrar na arena do Bumbódromo, ver as arquibancadas vazias e em silêncio,


certamente, não segurarei a emoção. Pude realizar o sonho de chegar à presidência
do meu boi, mas a pandemia, até o momento, não me permitiu sentir a alegria de
agradecer, da arena, nossa apaixonada nação. Mesmo sem o festival presencial
manteremos a grandiosidade do nosso espetáculo, com magníficas alegorias,
coreografias espetaculares, toadas emocionantes e figurinos impecáveis com a
assinatura do artista Caprichoso, que durante a pandemia sofreu, se reinventou e
nesta apresentação ameniza a saudade de ser feliz num curto, nostálgico, porém
incrível e agradecido momento.

Eu e Karu Carvalho temos como maior objetivo neste festival virtual, cuidar do nosso
trabalhador. Com o apoio do governador Wilson Lima iremos remunerar todos os
trabalhadores do projeto artístico e acredito muito que a vacinação vai continuar
avançado para que em breve, se Deus quiser, em 2022 a gente possa realizar o maior
festival de toda a história, numa celebração à vida, ao povo parintinense.

Durante a pandemia perdemos muitos amigos, torcedores e associados de nossa


agremiação. Nós não ficamos de braços cruzados e o boi Caprichoso também foi
campeão da solidariedade com a entrega de mais de 30 toneladas de alimentos para
os artistas e colaboradores. Fizemos a entrega às famílias indígenas do povo Sateré-
Mawé, entrega de cestas básicas, luvas e máscaras para o Hospital Padre Colombo.

Levamos o boi Caprichoso para as “Mães D'água”, campanha que teve o objetivo de
entregar mantimentos para as mulheres que moram nos bairros da Francesa,
Palmares e Santa Clara, reduto azul, que reúne o maior número de famílias atingidas
pela cheia dos rios. Num gesto lúdico e fraterno, o Boi Caprichoso ainda distribuiu
brinquedos para crianças da cidade e comunidades rurais.

Sem festival, nós nos focamos em cuidar dos patrimônios do Caprichoso e


conseguimos reduzir em quase R$ 2 milhões as dívidas do bumbá. Eu não tive a
oportunidade de ajudar a construir a história do boi, mas Deus me colocou aqui para
que eu pudesse reconstruir a história do Caprichoso e é exatamente isso que a gente
tem feito todos os dias.

Esse Festival é do povo! É da nossa gente! É do nosso artista! É a cultura que resiste!

Jender Lobato
Presidente da A.C.B.B.C
Caoprichoso: Cultura que Resiste!
Durante mais de cem anos, o Boi-Bumbá Caprichoso, como brincadeira de
comunidade, não se verga frente às investidas do tempo, da modernidade e da
pulsante evolução que constrói os tempos contemporâneos. Artesãos,
marujeiros e brincantes construíram esse brinquedo com suas próprias mãos,
gota a gota de suor, tecendo palhas e cipós, costurando tecidos e fibras, mas
também sustentando por mais de um século a coletiva fantasia, de uma festa
que se tornou a cara do Norte do Brasil. Aqui, na velha Tupinambarana,
enfrentamos crises, perdas, lutas e fraquezas que abalaram muitos dos antigos
festivais. Chuvas, acidentes e incidentes marcaram a história do boi de
Parintins; feridas ainda vivas, guardadas na memória do povo da ilha.

Após dois anos sem a realização do Festival de Parintins, os artistas


parintinenses vivenciam a maior crise da cultura do boi-bumbá nesta cidade.
Uma geração que constituiu sua vida como braços e ferramentas de um
brinquedo que se tornou, para além de um ser do folclore, a pujante força
motriz do povo de Parintins, envolvendo homens, mulheres, curumins e
cunhantães a se obstinarem e mergulharem como aquitantes da cultura
popular na Amazônia. São compositores, músicos, artistas visuais, artesãos
bailarinos e produtores que, nestes 726 dias, vergaram perante aos desafios de
fazer cultura em um país como o Brasil, mas que, em nenhum momento, se
entregaram frente a esta ventania passageira.

Vidas ceifadas, lutos e lutas. Entre orações, tristezas e devoções, a fé foi


alimento de resistência para que possamos olhar para a frente e enxergar
esperança para os novos tempos. Somos Caprichoso, das muitas mãos e dos
rios de gente que desaguam nas ruas da ilha; das crianças desenhando sonhos
em nossa amada escolinha; dos artistas que recriam a Amazônia nos ateliês do
Palmares; dos braços desfraldados para o ar que, em tempos de alegria, lotam
as arquibancadas azuis deste templo da cultura, dos amantes, dos brincantes e
dos sonhadores que se aglomeram num delírio coletivo de arte e paixão.
Somos brinquedo de pano e espuma, mas também somos a tradição popular
de amor, lutas e glórias que resiste nos braços do tempo para ecoar um brado
de resistência chamado Boi-Bumbá Caprichoso.

Conselho de Arte do Boi Caprichoso


A fé é o sentimento que nos conduz nestes tempos tão difíceis, porto seguro que num
rio bravo tranquiliza as águas onde navegam os nossos sentimentos. No momento
em que vivenciamos a dor pela perda de tantas pessoas para a Covid-19, em que
heroicamente nosso Estado se recupera do surto que cravou um índice expressivo de
vidas perdidas e que, o cenário que se apresenta, ainda incerto, nos faz voltar o olhar
para o que nos move a acreditar em dias e futuro muito melhor, a nossa fé. Dessa
forma iniciamos nosso espetáculo “Caprichoso: cultura que resiste”, apresentamos
nossa expressão máxima de fé, a nossa cultura, que nesses dois últimos anos trouxe
o conforto e a esperança para a nação a azul e branca, de que ainda temos muito a
fazer, a contar e encantar. Nos unimos a fé dos nossos irmãos romeiros das águas, em
sua viagem de devoção, missionários que carregam em suas preces a esperança
nessa oração coletiva. Clamamos em uma única prece, dentro nosso ecumenismo
cultural a todos os santos, proteção e força para resistir por mais um ano.
A saudade flameja no lume da lamparina de Lioca, saudoso lamparineiro que
conduzia o cortejo do boi Caprichoso nos redutos azulados tradicionais. Junto a
Lioca está o tuxaua Zeca Xibelão, eternizado em sua indumentária branca e seu
capacete de plumas, bailava de forma cadenciada nas ruas e quadras nas quais o
Caprichoso hoje é patrono maior da nossa tradição e o nome do nosso curral,
reinaugurado neste ano de 2021. A estrela maior da festa, o boi Caprichoso, símbolo
da nossa paixão e resistência da cultura, resplandece em toda a sua magnitude,
luzeiro de esperança em um Brasil que desvaloriza e marginaliza suas expressões
culturais. Assim, celebramos essa cultura que resiste e há séculos brota deste chão
amazônico. É moldada pelo saber popular, no respeito a floresta, altar da vida que
surge livre no voo dos pássaros, na impetuosidade da correnteza dos seus rios,
guardada pelos mistérios dos seus entes encantados como o Curupira, espírito
guardião da floresta, o mesmo espírito que habita em todos nós e no nosso coração
de amazônida. Somos cultura que resiste ao tempo, as intempéries da natureza,
as violações e injustiças contra os movimentos artísticos. Somos arte e
revolucionaremos sempre para iluminar novos caminhos.
Nos tempos em que vivemos, em que ataques as reservas e florestas
importantíssimas para o bioma amazônico são cada dia mais comuns e presentes, e
os povos originários são atacados em violentos confrontos, os artistas do boi
Caprichoso conduzem na arena o ente defensor dos verdes territórios, o curupira, ser
das narrativas amazônicas, herança ancestral e legado de povos indígenas que aqui
habitam.
Os antigos habitantes da floresta, contam que cada elemento da natureza possui
uma “Cy” (Mãe), o rio, a castanheira, o açaí, o lago, o sol e a lua, Yamandacy a mãe da
mata é mãe e dona de toda a floresta, mãe das verdes mães, que guarda em seu
ventre o curupira, o Cauá do Cocama, Pocai dos macuxi e Iuorocô dos Pariquei do rio
Iatapú. Assim, o curumim montado no porco-queixada, com os pés envergados para
trás, habita o oco das frondosas sapopemas, amedrontando caçadores perdidos no
labirinto da morte.
Somos todos curupiras, e resistimos aos avanços do dito “progresso” sobre nossas
florestas, guardamos dentro de nós este espírito que se manifesta em nossa arte e
nas lutas deste povo bravio.
Herança do imaginário tupi, o Ipupiara ou caboclo d'água, nesta nossa narrativa
representa, junto a outras entidades que habitam o fundo do rio, a valentia de um
povo ribeirinho que não se dobra, enverga, mas não quebra diante das intempéries.
Assim é o povo caprichoso, o povo da Francesa, da Vila Submarino, redutos
tradicionais do boi Caprichoso, duramente castigados pela enchente histórica deste
ano. Nossos guerreiros azulados, dançarinos, marujeiros e artistas, olham através do
espelho das águas, e do alto de suas marombas não abrem mão dos seus sonhos,
com a segurança de quem aprendeu a lidar com a grandeza ou fúria da natureza. São
a própria resistência, recriando novas possibilidades de viver neste solo amazônico.
Mais do que vidas são as histórias de um povo de alma azulada que levanta o
estandarte da resistência pela vida e pela cultura popular.
Alguns povos ancestrais acreditam que as araras azuis são seres divinos, que
impressionam pela sua beleza, responsáveis por ensinar aos homens as artes da
música, da dança, da fala e demais saberes, estas histórias são transmitidas de
geração a geração nas conversas em volta das fogueiras. Imponentes em seu voo,
conferem um colorido encantador nos céus da nossa Amazônia. Inserida em nosso
espetáculo, o voo da arara azul traduz em arte a liberdade e o direito ao território,
terra livre de massacres e invasões. Esta peça conduz a Cunhã-Poranga, resultado
desta criação sublime, expressão de beleza e força da mulher amazônica.
No rito de transcendência Yanomami, os espíritos sagrados clamam a Omama pela
vida dos seus irmãos, vítimas da ganância dos não índios. Em transe, o pajé faz uma
revelação, que quando o último Yanomami morrer a luz do futuro se acabará.
Levanta o clamor por paz e deixa o seu perdão aos seus algozes, dança e canta para
aclamar os espíritos. Usamos desta licença poética para fazer nossa a luta dos povos
Yanomamis. Nos versos das nossas toadas clamamos pelo respeito as terras e vida
destes irmãos. Sim, somos irmãos nessa e em tantas outras lutas: pelo direito as
terras, a saúde, a vacina, somos irmãos no direito a resistir para existir, somos
paridos do mesmo ventre, somos a mesma nação.
Caprichoso Campeão da Solidariedade
As restrições sanitárias impostas pela pandemia do novo coronavírus resultou, por
duas temporadas consecutivas, no cancelamento do calendário turístico do
Amazonas, no qual está incluso o Festival Folclórico de Parintins. Milhares de artistas
envolvidos com a festa foram afetados de forma direta e perderam a sua única fonte
de sustento, a arte. A gestão do presidente Jender Lobato e do vice-presidente Karu
Karvalho, encarou este período com muita seriedade, com um olhar sensível às
famílias que compõe o quadro profissional do Boi Caprichoso. Desde março do ano
passado, mais de trinta toneladas de alimentos não perecíveis foram destinados a
este público, com entregas a todos os setores da associação cultural.

Dentre os profissionais atingidos estão artesãos, escultores, soldadores, artistas


plásticos, figurinistas, aderecistas, e todos aqueles que ajudam a construir o
espetáculo azul e branco. De acordo com dados do Conselho de Arte do Boi
Caprichoso, cinco mil artistas sobrevivem graças ao trabalho desempenhado nos
galpões de alegorias e fantasias durante as temporadas de festival. As remessas de
cestas básicas foram entregues graças ao apoio incondicional do torcedor azulado e
do auxílio de parceiros e incentivadores da arte parintinense.

Além do auxílio prestado aos artistas, o Caprichoso ajudou famílias da comunidade


indígena sateré-mawé, residentes na área urbana de Parintins. A iniciativa comprova
a luta do bumbá em favor dos povos tradicionais, na vanguarda do Festival Folclórico
de Parintins. Em 2021, no Dia das Mães, o boi negro de Parintins destinou cestas
básicas às matriarcas que moram nas áreas alagadiças do reduto azulado de
Parintins, nos bairros Francesa Palmares e Santa Clara. A ação ficou conhecida como
“Mães D’água”.

As ações sociais do Boi Caprichoso se expandiram e chegaram até aos hospitais da


cidade, Hospital Padre Colombo e Hospital Regional Jofre Cohen. Foram destinados
EPI’s (Equipamento de Proteção Individual) e cestas básicas que auxiliaram o
trabalho dos profissionais de saúde em atuam na linha de frente no combate à
pandemia.

Em um cenário desafiador para a classe artística, a gestão de Jender Lobato foi a


grande campeã na solidariedade durante duas temporadas atípicas da história do
Festival Folclórico de Parintins. “Ao compreender o momento difícil e tomar a
iniciativa de ajudar nossos irmãos, o Caprichoso mostra o seu rosto mais humano. O
sentimento é de muito orgulho por ter feito parte desta página épica de nossa
trajetória”, declara o presidente Jender Lobato.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL BOI-BUMBÁ CAPRICHOSO
WWW.BOICAPRICHOSO.COM

imprensa.boicaprichoso@gmail.com

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