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Texto reflexivo

Tema: A dúvida metódica

Trabalho realizado por:


Karinne Santos, nº 11
Maria Mafalda Costa, nº 16
Turma: 11º F
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de filosofia, pela
professora Maria Fernanda Fernandes, realizado no ano letivo
2022/2023, dia 02 novembro.
Introdução

Este trabalho insere-se no âmbito da disciplina de Filosofia e tem como


objetivo aprofundar os temas relacionados à dúvida metódica. Na primeira
parte do desenvolvimento iremos explicar no que consiste a dúvida metódica,
fazendo a sua caracterização, mostrando onde e como é aplicada e as
conclusões que tirámos.
A metodologia deste trabalho teve como base a pesquisa pela internet e
por diferentes manuais de filosofia.
Por último, faremos a conclusão com uma breve apreciação do tema
apresentado.
Dúvida metódica

Para conseguirmos perceber o que é a dúvida metódica primeiro temos


de saber como tudo começou. René Descartes foi um filósofo francês e um
famoso racionalista que nasceu em 1596, durante a sua vida estudou no colégio
jesuíta de La Flèche e participou como militar na guerra dos 30 anos. À medida
que o tempo foi passando e a história foi deixado marcas profunda, como a
destruição do modelo geocêntrico, então Descartes concluiu que a sua época
(séc. XVI) era caracterizada pela incerteza e confusão, o que fazia com que a
dúvida se instalasse. Por esse motivo o filósofo põe em causa a ciência e a razão
humana, pois para ele esta teria de ser a capacidade de distinguirmos o
verdadeiro do falso e dessa maneira a ciência deveria conter somente
conhecimentos verdadeiros. Através desta conclusão Descartes criou o seu
grande objetivo – a reforma da ciência, para isso tinha de mostrar que os céticos
estavam enganados (estes tinham uma doutrina que negava a possibilidade de
alcançar a certeza em um dado domínio do conhecimento ou em relação à
verdade em geral). Para mostrar que estes estavam enganados Descartes
decide levar o ceticismo ao extremo seguindo o método que este nos propõe,
ou seja, decide recorrer ao próprio ceticismo para provar a impossibilidade do
mesmo. Para isso Descartes pensou que se duvidasse de tudo, talvez pudesse
encontrar algo de absolutamente indubitável, ou seja, uma crença básica que
fosse de tal modo autoevidente que nem a mais extrema das dúvidas a pusesse
em causa. Uma crença com estas características constituiria uma base sólida
sobre a qual poderia edificar com segurança o conhecimento. Por outras
palavras, temos de encontrar crenças ou convicções que não podem ser
colocadas em dúvida, a partir das quais seja possível justificar infalivelmente
outras crenças ou convicções. Como havemos de encontrar este fundamento
seguro? Recorrendo à dúvida metódica.

Descartes apresenta-nos o seu projeto nas linhas que se seguem:


«Notei, há alguns anos já, que, tendo recebido desde a mais tenra idade
tantas coisas falsas por verdadeiras, e sendo tão duvidoso tudo o que depois
sobre elas fundei, tinha de deitar abaixo tudo, inteiramente, por uma vez na
minha vida, e começar, de novo, desde os primeiros fundamentos, se quisesse
estabelecer algo de seguro e duradoiro nas ciências. [...] Então, [...] vou dedicar-
me [...] com seriedade e livremente, a destruir em geral as minhas opiniões.»
Rene Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira,
Trad. Gustavo de Fraga, Coimbra, Almedina (1992), pp. 105-106
Relativamente à dúvida metódica podemos afirmar que esta é cartesiana, pois
foi o método que Descartes arranjou para fomentar o seu conhecimento. A
dúvida metódica é o contrário da dúvida cética, pois esta última é permanente e
é a conclusão a que os céticos chegaram a partir da sua argumentação. Já a
dúvida cartesiana é provisória - pois subsistia apenas até que se encontrasse
algo absolutamente certo e indubitável, é metódica - pois é apenas um método
para encontrar um conhecimento seguro, certo e indubitável e muitos ainda
consideram a dúvida cartesiana, hiperbólica e radical – pois Descartes decide
rejeitar como falsas todas as proposições que não fossem absolutamente certas
e indubitáveis, enquanto os céticos sustentavam apenas que devemos
suspender o juízo em relação à verdade ou falsidade de toda e qualquer
proposição.
Para conseguirmos encontrar e aplicar este fundamento infalível temos de
começar a examinar as nossas crenças tentando determinar se podemos colocá-
las em dúvida e de seguida rejeitamos todas as crenças em que possamos
imaginar a menor dúvida (talvez algumas delas sejam verdadeiras, mas como
não resistem aos argumentos dos céticos não podem servir de fundamento para
o conhecimento, pelo que devemos tratá-las como se fossem falsas). Ou seja,
colocamos as nossas crenças em dúvida, rejeitamos todas as que não sejam
indubitáveis e se alguma resistir a todo e qualquer argumento cético podemos
considerá-las certas. O recurso à dúvida é assim um meio para chegar à certeza.
Para concretizar os seus propósitos, Descartes não precisou de examinar cada
crença isoladamente, pois esta tarefa seria interminável. A conclusão a que o
filósofo chegou foi a seguinte: Se decidirmos rejeitar todas as crenças
minimamente duvidosas, basta debruçarmo-nos sobre as principais raízes das
nossas crenças. Se detetarmos o menor grau de dúvida numa dessas raízes,
temos uma justificação para rejeitar todas as crenças que dela provenham.
Assim podemos dizer que vamos aplicar a dúvida apenas a três tipos de raízes,
também conhecidas como níveis da dúvida:
 Os sentidos enganam-nos;
 Vigília e sono não se podem distinguir;
 A possibilidade do génio maligno.

O primeiro nível da dúvida ou raiz que Descartes vai se debruçar vai ser à cerca
dos sentidos, isto é, o filósofo começa por notar que uma grande quantidade
das suas crenças provinha dos seus sentidos e por esse motivo decide averiguar
se estes são uma fonte fiável. O argumento “Erros comuns dos sentidos” leva-o
a concluir que não. De acordo com este argumento uma vez que os nossos
sentidos nos enganam algumas vezes, nunca podemos saber se nos estão a
enganar ou não, portanto, nunca devemos acreditar nas informações adquiridas
através deles. Por isso podemos afirmar que esta raiz não é uma verdade
fundamental, pois para Descartes uma crença só é certa e indubitável se resistir
num todo à dúvida, então a conclusão a que chegamos é que temos de rejeitar
o empirismo (conceitos que têm origem nos sentidos).
A segunda raiz ou segundo nível de dúvida que Descartes vai tratar é a crença
de que existe um mundo físico, uma vez que vivemos e temos experiências
reais, mas o argumento “A indiferenciação entre sono e vigília” faz com que o
filósofo duvide dessa mesma existência, pois uma vez que a vivacidade e a
intensidade de certos sonhos nos convencem muitas vezes de que estamos a ter
experiências reais, quando na realidade estamos apenas a sonhar. Dito isto
Descartes afirma que não temos forma de distinguir as nossas experiências de
vigília daquelas que temos quando sonhamos, consequentemente as crenças
que formamos a partir da experiência sensível podem ser falsas, logo não
podemos constituir que esta crença ou raiz nos determine uma verdade
indubitável e fundamental, pois não resiste à dúvida.
Depois de constatar que não podemos confiar nas informações obtidas
através dos sentidos ou da existência de algo ou alguém no mundo, Descartes
vira a sua atenção para as crenças obtidas através do raciocínio. Pois para ele as
verdades da lógica e da matemática não deixam de ser verdadeiras ainda que
estejamos a sonhar (quer estejamos a dormir, quer estejamos acordados
2+2=4). Contudo Descartes apercebe-se que mesmo estas crenças não são
absolutamente certas e indubitáveis, pois podemos cometer erros mesmo nos
raciocínios mais simples. E usando o seguinte argumento: “A nossa razão por
vezes engana-nos, mesmo nos raciocínios mais simples, como as operações de
matemática básica” podemos pôr em causa a terceira raiz, logo o terceiro nível
da dúvida relativamente ao poder da razão e do entendimento (logo às
verdades mais elementares da lógica e da matemática). Descartes concebe
então a hipótese do génio maligno. Ou seja, Descartes leva-nos a imaginar que
existe um génio ou um Deus que tanto pode ser um ser tão bom e poderoso
como um ser completamente perverso e maldoso e que se poderia divertir a
usar os seus poderes para nos induzir a erros relativamente a tudo e mais
alguma coisa. Logo a mera hipótese da existência de um génio maligno, faz com
que um raciocínio tão simples como “um quadrado é uma figura com 4 lados”
seja posta em causa, pois esta proposição pode ser uma proposta enganosa
deste génio maligno.
Assim sendo, para Descartes por enquanto não existe algo que seja tão
absolutamente certo que possa resistir ao empirismo, à existência do mundo e à
hipótese de um Deus enganador.
Porém depois de levar a dúvida ao extremo e perceber que nenhuma das
nossas crenças é indubitável, Descartes pensa que há algo que não podemos
duvidar de maneira nenhuma. Isto é, se estamos a colocar as nossas crenças em
dúvida, estamos a duvidar e duvidar é uma forma de pensar. Mesmo que
estejamos a ser enganados por um génio maligno, existe algo que não podemos
por em causa, pois com toda a certeza estamos a pensar (seja este pensamento
errado ou certo). Logo, todos podemos afirmar que: “Penso, logo existo”. Esta
afirmação é conhecida também por uma expressão latina – cogito. Descartes
expõe a evidência do cogito nas palavras que se seguem:
«Mas, logo a seguir, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era
falso, era de todo necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E
notando que esta verdade: penso, logo existo, era tão firme e tão certa que
todas as extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar,
julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia
que procurava.»
Rene Descartes, Discurso do Método, Trad. João Gama,
Lisboa, Edições 70 (2013), Pp. 50-51

É de ressaltar que o cogito apenas nos segura de que existe um ser


pensante (res cogitans), isto é, existe uma mente ou uma alma pensante, o que
faz com que não tenha de existir necessariamente um corpo. Esta perspetiva
ficou conhecida como dualismo cartesiano. Assim enquanto não provarmos que
o génio maligno não existe, a única certeza que temos é que existimos como
pensamento. Deste modo, Descartes acaba de descobrir a 1º verdade infalível e
indubitável.
Conclusão

Após a elaboração deste trabalho podemos concluir que, na nossa visão a


dúvida metódica foi um bom método na procura das crenças fundamentais e
concordamos com a sua utilização, porém achamos este método hiperbólico ou
exagerado, pois Descartes rejeita como falso toda e qualquer proposição que
não fosse totalmente indubitável, sendo que talvez algumas delas sejam
verdadeiras, mas como não resistem aos argumentos dos céticos não podem
servir de fundamento para o conhecimento.
Podemos ainda acrescentar que após termos feito este trabalho sobre a
dúvida, conseguimos adotar uma nova maneira de pensar. Pois, Descartes pôs
tudo em causa, até mesmo aquelas coisas que tinha quase a certeza (como as
certezas que vinham a partir dos sentidos, por exemplo) e isso fez-nos aprender
que devemos sempre duvidar até mesmo daquelas coisas que temos por
garantido.
Referências bibliográficas e web gráficas:

 GALVÃO / CORREIA LOPES, Pedro / António, preparação para o exame final


nacional filosofia 11º ano, porto editora;

 FARIA / VERÍSSIMO, Domingo / Luís, exame filosofia 11, 1ª edição, LeYa, 2020;

 AMORIM / PIRES, Carlos / Catarina, filosofia 11º ano – clube das ideias,1ª
edição, areal editores, 2018;

 PIRES, Catarina, ponto de fuga 11º ano filosofia, 1ª edição, areal editores, 2022

 RTP Ensina. Disponível em: https://ensina.rtp.pt/artigo/a-duvida-metodica-de-


descartespensologoexisto/#:~:text=A%20d%C3%BAvida%20met%C3%B3dica
%20de%20Descartes%3A%20penso%20logo%20existo,deix%C3%A1mos%2C
%20ou%20n%C3%A3o%2C%20a%20luz%20da%20casa%20ligada , última
consulta a 16 de novembro de 2022.

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