Você está na página 1de 42

Problema do conhecimento

Formulação do problema

Qual a origem do nosso conhecimento?

• Perguntar pela origem do conhecimento é


perguntar sobre as fontes mais fiáveis para
estabelecer o conhecimento verdadeiro.
Qual a origem do nosso conhecimento?

• Quando pensamos na multiplicidade da juízos


que formulamos, podemos constatar que nem
todos têm a mesma origem.

• Exs: O todo é maior do que a parte.


2+2= 4
O Sol brilha porque o vemos a brilhar.
A música do Emanuel é “pimba”.
Qual a origem do nosso conhecimento?

• Nos primeiros casos a fonte do conhecimento é a razão


ou o pensamento

.
Racionalismo

• Nos segundos casos a fonte do conhecimento é o


sentido da visão, estamos perante a experiência

Empirismo
Racionalismo
• A razão é a fonte principal do conhecimento
verdadeiro.
• Só através da razão é que se pode encontrar um
conhecimento seguro, o qual é totalmente
independente da experiência sensível. É a priori.
• Desprezam o papel dos sentidos.
• O conhecimento só existe quando é logicamente
necessário e universalmente válido(critérios).
Racionalismo
• Ex: 3x3= 9

• Conhecimento logicamente necessário,


porque tem de ser assim, caso contrário
entraríamos em contradição e é
universalmente válido porque vale
sempre, em todo o lado e para todos os
seres humanos.
1-Racionalismo
René Descartes
Racionalismo-Descartes
• Descartes norteia a sua atividade intelectual pelo
objetivo da procura da verdade.

• Mas o que é a verdade?

• O filósofo é aquele que possui espírito aberto, que


está desperto perante a realidade, consciente e
lúcido, que não se deixa iludir pelas aparências
enganadoras nem se deixa embalar pela sonolência
das ideias feitas pelos outros.
Racionalismo-Descartes
• O filósofo é aquele que assume as suas próprias
posições, tomadas de forma consciente, descobertas
pela sua atitude de pesquisa verdadeiramente
empenhada.
• À Filosofia, como procura da verdade, interessa um
aperfeiçoamento interior do espírito do homem de
modo a ser capaz no plano teórico a discernir o
verdadeiro do falso e, no plano prático, deter uma
vontade forte que o torne coerente com as suas ideias
e o leve a conduzir-se de acordo com aquilo que
considera ser o bem.
Racionalismo-Descartes

1. Como procede o espírito para construir um


conhecimento verdadeiro?
2. Qual o critério que permite identificar um
conhecimento como verdadeiro?
3. Quem garante esse critério?
Racionalismo-Descartes
• Descartes procura desenvolver a sua própria razão,
fornecendo-lhe os meios com a ajuda dos quais ela
possa , por si só, atingir a verdade.

Necessidade de um método

• Capaz de desenvolver e orientar o pensamento e


facultar ao homem a possibilidade de chegar por
si só, ao verdadeiro saber.
A- Método cartesiano
• Método= é o caminho mais seguro para atingir
um determinado fim.

• Refere-se à ordem que a razão deve seguir de


modo a alcançar o autêntico conhecimento.
Identifica-se com o perfeito uso da razão, ou
seja com a aplicação correta das leis do
espírito.
(Descartes)
A- Método cartesiano
• O método cartesiano funda-se no rigor da
matemática. Os conhecimentos matemáticos
são os únicos que pela sua necessidade lógica
satisfazem plenamente o pensamento.

• O método cartesiano quer ser aplicado a


todos os domínios do conhecimento humano.
Regras do método
1. Evidência – só aceitar como verdade aquilo
que se apresenta ao espírito humano de forma
clara e distinta, ou seja, evidente.
• Dado que nem tudo pode ser resolvido pela
primeira regra, porque nem todos os
conhecimentos se apresentam de forma
evidente ( sem confusão com outras ideias), há
conhecimentos complexos, confusos e
obscuros, Descartes propões as outras 3 regras.
Regras do método
2. Análise – Há que decompor o complexo em
pequenas parcelas simples de forma a captar
o claro e o distinto.
• O complexo divide-se no simples tantas vezes
quantas as necessárias para que a dificuldade
fique resolvida.
Regras do método
3. Síntese – Uma vez na posse dos elementos
simples, deve fazer-se a reconstituição do
complexo, conduzindo os pensamentos por
ordem. Para tal tem de partir daquilo que é
mais elementar para, gradualmente, ir
atingindo a compreensão do que é mais
complicado.
Regras do método
4.Enumeração – É necessário entrar em linha de
conta com todos os dados do problema e
rever cuidadosamente e minuciosamente os
elementos implicados na sua solução, a fim de
se ter a certeza de nada ter sido esquecido.
Regras do método - conclusão
• Com estas quatro regras, Descartes considera
ser possível o alcance de conhecimentos
seguros, seja qual for o domínio do real a que
respeitem.
• O seu otimismo pressupõe uma fé inabalável
nas possibilidades da razão e na capacidade
desta atingir a verdade, desde que respeite
estas regras.
Esquema 1
• De todos os conhecimentos adquiridos
(estudos e viagens), quais os conhecimentos
que podem ser considerados verdadeiros e
quais os que são falsos? VERDADE

Como distingui-los?

Método
Esquema1
Método

Regra da Evidência Só aceitar como verdade o que se


apresente ao espírito humano de forma clara e distinta,
ou seja, evidente.

Regra da análise
Regra da síntese Aplicam-se às ideias
confusas e obscuras
Regra da Enumeração
B-Da dúvida ao Cogito
• O filósofo empenha-se na busca da verdade, na
busca da verdadeira sabedoria, tarefa que só
pode ser conseguida se a razão pensar
corretamente.
• Pensar corretamente é pensar
matematicamente, de acordo com as regras
preconizadas no método.

Mas um problema se coloca


B-Da dúvida ao Cogito
• Muitas vezes ao pretendermos aplicar o
verdadeiro método em determinados
domínios esbarramos com o obstáculo de
ideias já constituídas e das quais temos que
nos desfazer, dado que não possuem garantias
de certeza.

Dúvida
Dúvida
• A dúvida é um esforço voluntário no sentido
de considerar provisoriamente falsas todas as
afirmações tidas como certas até esse
momento.

Porquê?
Dúvida
• Quem procura a verdade tem pelo menos uma vez
na vida de pôr todas as coisas em dúvida. Desta
forma se purifica a razão de todas as ideias feitas,
de todos os preconceitos, opiniões e pressão da
autoridade( igreja).
• A dúvida é “o ácido que dissolve os erros” levando a
razão a assumir-se como juiz de si própria. Pela
dúvida a razão fará a sua autocrítica, purificando-se
de todos os conhecimentos que não tenham a
marca racional.
Dúvida
• A dúvida cartesiana é metódica , isto é, é uma
estratégia inicial para pôr à prova a validade
de todo o conhecimento na tentativa de
encontrar uma certeza , uma verdade.

• A atitude dubitativa de Descartes não é


gratuita. Ele próprio preocupa-se em
fundamentar racionalmente a dúvida.
Percurso da dúvida
 Os sentidos por vezes são enganadores, ora se
nos enganam algumas vezes, podem enganar-
nos sempre;

 Não há um critério que me permita distinguir


os objetos reais daqueles que no sonho e nas
ilusões se nos apresentam com extraordinária
viveza;
Percurso da dúvida
 Há homens que se enganam a raciocinar, até
nos mais simples temas de geometria e neles
cometem erros;

 Duvida da natureza corporal em geral, da sua


extensão, figuras e grandeza;

 Duvida da sua própria existência;


Percurso da dúvida
• E porque duvidar é uma tarefa difícil,
Descartes imagina um ser omnipotente, que
se diverte a enganá-lo. Este ser é um génio
maligno, mau astuto, enganador. Assim, quer
o homem dependa de um ser que o domina
ou de um encadeamento cego, a sua
segurança está minada, mesmo no que diz
respeito à evidência das matemáticas.
Percurso da dúvida
 Tudo é falso - Dúvida hiperbólica

• Levada a este extremo de radicalidade, a dúvida


cartesiana parece desembocar no ceticismo.
Contudo tal não se verifica.
• A dúvida conduzida a este ponto absoluto( tudo é
falso) é apenas sinal de que qualquer conhecimento
que a ela resista, tem de possuir o caráter de
evidência também absoluto.
Percurso da dúvida
• O caráter universal da dúvida cartesiana
significa que uma afirmação que se atinja,
depois desta total desconfiança face à
totalidade das coisas, funcionará como
primeiro princípio, uma vez que não depende
de qualquer pressuposto anteriormente
admitido.
Percurso da dúvida
“ Pode ser que não exista nenhuma das coisas que
os meus sentidos me mostram, pode ser que o
meu corpo não exista, porém mesmo que toda a
minha experiência e conhecimento sejam
resultado de um génio maligno, o próprio facto
de estar a ser enganado demonstra que eu existo,
pois se não existisse não poderia ser enganado.
Se duvido, se sonho, se estou a ser enganado,
devo existir para poder duvidar, sonhar e ser
enganado. Logo, se penso, eu existo”
1ª Verdade Cogito
• Penso , logo existo
• É necessariamente verdadeiro;
• É uma verdade que resiste à dúvida mais
radical;
• É um princípio que se apresenta de forma clara
e distinta(evidente), de acordo com a 1ª regra
do método;
• Certeza que resiste a toda a dúvida e ao génio
mais maligno.
1ª Verdade Cogito
• Penso, logo existo ( Cogito, ergo sum)

• Eu sou, eu existo.
Por quanto tempo?

Enquanto penso. Porque


talvez pudesse acontecer se eu deixar de
pensar, deixe ao mesmo tempo de existir ou de
ser.
1ª Verdade Cogito
• Eu sou , assim, uma coisa que pensa, alma
pela qual sou o que sou inteiramente distinta
do corpo. Sou mente, razão, entendimento.

Res cogitans (coisa pensante)


• Da dúvida mais radical e absoluta( tudo é
falso) brotou a certeza da existência do
pensamento( 1ª Verdade)
Características da dúvida
1. Dúvida metódica – a dúvida surge como uma
necessidade de afastar as opiniões não fundamentadas.
- O conhecimento seguro que
Descartes quer adquirir mediante a aplicação das regras
do método, leva-o à necessidade de voluntariamente pôr
em causa todas as opiniões que até então acolhera sem
qualquer preocupação metódica. Deste modo a dúvida
será um caminho para que o primeiro ponto a encontrar
lhe surja como absolutamente indubitável (que não se
pode duvidar, incontestável, certo).
Características da dúvida
2. A dúvida é provisória – a permanência nela só se
verifica enquanto não encontrar verdades
consistentes.
- Parte da vontade do sujeito e é
ultrapassada com a descoberta do primeiro princípio.
3. A dúvida é universal – não se limita a duvidar dos
conhecimentos particulares sobre este ou aquele
assunto, ela ataca os fundamentos ou raízes de todos
os conhecimentos provenientes dos sentidos e da
razão.
Características da dúvida

4. A dúvida é absoluta , hiperbólica – a hipótese


do génio maligno torna a dúvida radical e
profunda, indo para além da própria
realidade percebida.
C- As Ideias
• Todo o conhecimento para ser considerado
verdadeiro deve ser claro e distinto, isto é
evidente.
• Encontrou a primeira verdade: Penso, logo
existo.
?
• Será que o conteúdo do pensamento é todo
ele evidente?
C- As Ideias
• Descartes admite três tipos de ideias.

1. Inatas – originárias da razão, fazem parte da


estrutura racional do Homem.
-ideias claras e distintas ou seja,
apresentam-se ao homem de tal forma que não
podemos duvidar da sua verdade nem confundi-
las com outras. São aprendidas intuitivamente e
têm a sua fonte exclusivamente na razão.
C- As Ideias
2.Ideias adventícias- provêm do exterior, dos
objetos captados pelos sentidos e pela
experiência.
Apresentam-se ao espírito de modo
obscuro e confuso, pelo que há que duvidar
delas, nada garantindo que correspondam às
coisas reais. Por esta razão o conhecimento
que se apoie nas ideias adventícias não
apresenta garantia de verdade.
C- As Ideias
3. Ideias Factícias – resultam da imaginação,
capacidade de inventar a partir das coisas
materiais, ideias que representam seres
quiméricos, puras ficções do espírito humano,
sendo por isso irreais.
Sendo inventadas pelo homem, as
ideias factícias, tal como as ideias adventícias são
confusas e obscuras pelo que também não
convêm para o conhecimento seguro da
realidade.
C- As Ideias
• As ideias inatas, adventícias e factícias enquanto
consideradas como atos mentais, não diferem entre si,
pois que todas existem na razão ou pensamento
enquanto ideias. Porém, quanto à sua existência
objetiva dos seres que elas representam, isto é, quanto
à garantia de verdade no conhecimento, só as ideias
inatas, enquanto ideias claras e distintas, correspondem
a algo verdadeiramente existente. Só as ideias inatas são
verdades, possibilitando um conhecimento logicamente
necessário e universalmente válido ( Descartes
racionalista inatista)

Você também pode gostar