Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
filosófico de
Descartes
René Descartes VIDA E OBRA – 1596-1650
Cronologia Geral
Descartes, a resposta racionalista Principais obras:
•Discurso do método (1637)
Descartes pretendeu mostrar que o conhecimento é possível e que, por conseguinte, os céticos radicais
não têm razão e os seus argumentos devem ser abandonados.
Admirador da clareza e do rigor matemático, vai aplicar o modelo matemático a outros domínios do saber
humano, tais como a física e a metafísica.
Sabedoria humana
Moral
Medicina
permanece una e idêntica, por muito diferentes
que sejam os objetos a que se aplique.
Mecânica
Física
“Para examinar a verdade é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em
dúvida, tanto quanto puder.”
Descartes (2005), Princípios da Filosofia
Não!
Características da dúvida
Metódica e
Hiperbólica Universal e radical Voluntária
provisória
Isto é,
Não aceitar como verdadeiro o que não for absolutamente indubitável: é verdadeiro o que
resiste a toda e qualquer dúvida.
Descartes vai aplicar a dúvida às principais fontes das nossas crenças:
Aplicação da dúvida
À experiência À Razão
Hipótese
Falta de critério
Ilusões e enganos Enganos e da existência de um
para distinguir
dos sentidos erros de raciocínio deus enganador ou
o sonho da vigília
génio maligno
Podemos evitar
Pode existir um ser
Temos algum critério enganar-nos quando
Podemos confiar nos poderoso que faz com
seguro para distinguir o raciocinamos
sentidos? que estejamos sempre
sonho da vigília? matematicamente, por
enganados?
exemplo?
A ilusão dos sentidos
https://valeovil-
my.sharepoint.com/:p:/g/personal/madalenaneto_valeovil_onmicrosoft_com/EbBevx19bQ1Gr78q02prnGIB
wOesdzoNtI82GYtYTf87lw?e=NbWGwY
Primeiro nível
• Nesta aplicação, repara que não são poucas as vezes que os sentidos nos
enganam, levando-nos a confundir cores, formas, texturas (…).
Lucy estava a ter um terrível pesadelo. Ela estava a sonhar que monstros que se
assemelhavam a lobos irromperam através das janelas do seu quarto e começaram a
despedaçá-la. Ela lutava e gritava mas não conseguia deixar de sentir as suas presas e as
suas garras a rasgar a sua carne.
Foi nesse momento que acordou, inundada em suor e com uma respiração ofegante.
Olhou em redor do quarto, apenas para se certificar, e soltou um suspiro de alívio, pois afinal
tudo não tinha passado de um sonho.
Nesse instante, num estrondo capaz de provocar um ataque cardíaco, monstros irrompem das suas janelas e
começam a atacá-la, tal como no seu sonho. O terror foi ampliado pela memória do pesadelo por que tinha acabado de
passar. Os seus gritos misturavam-se com um soluçar à medida que se apercebia do quão desesperante era a situação.
E aí, acordou, a suar ainda mais e com a respiração ainda mais acelerada. Mas que absurdo! Ela tinha acabado
de sonhar dentro de um sonho e, por isso, da primeira vez que lhe pareceu acordar, na realidade, ainda estava dentro de
um sonho. Olhou mais uma vez à volta do quarto. A janela estava intacta, não havia monstros à vista. Mas como poderia
saber se desta vez tinha mesmo acordado? Esperou, aterrorizada, até que o tempo o dissesse.
Julian Baggini (2005), The Pig That Wants To Be Eaten And 99 Other Experiments.
“Com efeito, quantas vezes me acontece que, durante o repouso noturno,
me deixo persuadir de coisas tão habituais como que estou aqui, com o
roupão vestido, sentado à lareira, quando, todavia, estou estendido na
cama despido! Mas agora, observo este papel seguramente com olhos
abertos, esta cabeça que movo não está a dormir, voluntária e
conscientemente estendo esta mão e sinto-a: o que acontece quando se
dorme não parece tão distinto.
Por isso, se reflito mais atentamente, vejo com clareza que vigília e sono
nunca se podem distinguir por sinais seguros.”
René Descartes (1641), Meditações sobre a Filosofia Primeira
https://www.youtube.com/watch?v=TVoD9RfsQHg
• Descartes rejeita que a crença na existência da realidade corpórea possam ser o
fundamento seguro e indubitável do conhecimento, como mostra o argumento:
• No segundo nível de aplicação da dúvida, Descartes, contrariando a posição
realista, põe em dúvida a crença de que a realidade corpórea existe e pode ser
conhecida, através de um artifício de raciocínio - o argumento da indistinção vigília-
sono.
Em resumo,
• Com os dois níveis de aplicação da dúvida, Descartes exclui a EXPERIÊNCIA como
sendo a fonte de crenças básicas, as crenças fundantes do conhecimento.
Ponto de situação
Porém,
• Apesar de a matemática ser um produto da atividade da razão e constituir os
objetos inteligíveis, "há homens que se enganam ao raciocinar, mesmo a
propósito dos mais simples temas da geometria (…).”, por isso, também essas
terão que passar no crivo da dúvida.
Terceiro nível
A hipótese do
Génio Maligno
“Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas um
certo génio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que pusesse
toda a sua indústria em me enganar. Vou acreditar que o céu, a terra, as cores, as
figuras, os sons, e todas as coisas exteriores não são mais que ilusões de sonhos com
que ele arma ciladas à minha credulidade. Vou considerar-me a mim próprio como não
tendo mãos, não tendo olhos, nem carne, nem sangue, nem sentidos, mas crendo
falsamente possuir tudo isto. (...)
Por conseguinte, suponho que é falso tudo o que vejo. Creio que nunca existiu nada
daquilo que a memória enganadora representa. Não tenho, absolutamente, sentidos; o
corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar são quimeras. Então, o que será
verdadeiro? Provavelmente uma só coisa: que nada é certo.”
René Descartes (1641), Meditações sobre a Filosofia Primeira
• Descartes, com a experiência mental do génio maligno, rejeita como verdadeiras crenças
racionais, como mostra o argumento:
• No terceiro nível de aplicação da dúvida, Descartes, radicaliza-a, e testa as crenças
racionais e outras que possuímos a priori, através da hipótese do génio maligno.
• Com este argumento, avança a possibilidade de um génio maligno (um ser todo
poderoso) o enganar ao pensar, levando-o a suspeitar da verdade
das crenças racionais. Se há suspeita, manda a prudência que sejam rejeitadas.
Consequência:
• Se não for possível ultrapassar a hipótese do Génio Maligno, não será possível
certificar as verdades mais elementares da matemática, nem as que delas
derivam, ou outra da qual depende a minha existência e a do mundo. Logo, tudo é
incerto e o conhecimento não tem fundamento.
Resultado da
aplicação da dúvida
Resultado da aplicação da dúvida
A crença de que as
As crenças formadas
A crença na existência verdades
sobre as
do mundo físico, não racionais (matemática)
propriedades dos
oferece certeza, dado são indubitáveis, pode
objetos não merecem
não haver um critério ser falsa, devido
confiança, dado os
seguro para distinguir o à hipótese do génio
sentidos nos
sonho da realidade. maligno.
engarem.
https://quizizz.com/admin/quiz/618453b5a52
209001de2cf66/o-projeto-cartesiano-ponto-
de-situacao?searchLocale=
Após escrutínio da dúvida,
restará alguma crença?
- Encontrará Descartes o princípio indubitável que fundamente e
organize todo o conhecimento científico?
“Dei conta de que assim queria pensar que tudo era falso, era absolutamente
necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E observando que esta
verdade: Penso, logo existo era tão firme e segura que as mais extravagantes
suposições dos céticos não eram capazes de abalar, considerei poder recebê-la
sem escrúpulo para primeiro princípio da filosofia que buscava.”
René Descartes, Discurso do Método, 4ª parte
Da dúvida ao cogito
A dúvida é um ato do pensamento, e este pressupõe a existência de um sujeito pensante.
Ora, se para duvidar é preciso pensar e se para pensar é preciso existir, então enquanto
eu duvido, eu existo.
Não é nos sentidos, nem nas coisas materiais, nem nas verdades
matemáticas que se funda o conhecimento, mas num princípio
racional e metafísico, conhecido por intuição racional – o
cogito. Este é uma ideia modelo de todas as restantes, fornece o
critério de verdade.
• MAS...
Mas...
• deixará de existir se deixar de duvidar?
• o que pode garantir a sua existência continuada?
• existirá enquanto corpo, enquanto res extensa?
• aliás, não será melhor saber do que duvidar?
Atenção!
Ainda não afastámos a hipótese da existência do génio maligno !
Dualismo alma-corpo
Pensamento Extensão
Alma Corpo
• Reflete sobre o próprio eu pensante e…
“Em seguida, refletindo sobre o facto de duvidar, constatei, por conseguinte, que o meu ser
não era completamente perfeito, pois via claramente que saber era uma perfeição maior do
que duvidar; lembrei-me de procurar onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do
que eu era, e soube evidentemente que devia ser de uma qualquer natureza que fosse mais
perfeita. No que diz respeito aos pensamentos que tinha dalgumas outras coisas fora de
mim, tal como o céu, a terra, a luz, o calor e outras mil, não estava tão preocupado em
saber de onde vinham, porque, não vendo nelas nada que me parecesse torná-las superiores
a mim, podia acreditar que, se fossem verdadeiras, seriam dependentes da minha natureza,
na medida em que teria alguma perfeição; e se não fossem, vir-me-iam do nada, isto é,
estavam em mim pelo que eu possuía de falho. Contudo, o mesmo não podia acontecer com
a ideia de um ser mais perfeito que eu; porque, recebê-la do nada, era coisa
manifestamente impossível; e porque nada há de mais contrário que o mais perfeito ser
um resultado e uma dependência do menos perfeito, ou que do nada proceda algo,
também não podia tê-la recebido de mim mesmo. De forma que estava a ela ter sido
introduzida em mim por uma natureza que seria verdadeiramente mais perfeita do que eu
era, e que tivesse até dentro de si todas as perfeições de que eu podia ter uma ideia, isto é,
para me explicar melhor, que fosse Deus.”
Descartes, Discurso do Método, 4ª parte
Ao refletir sobre o próprio eu pensante (SER IMPERFEITO, pois possuir o saber é uma perfeição maior do que duvidar)
percebe que dispõe de diferentes tipos de ideias.
Tipos de ideias
Têm origem na
São ideias
experiência sensível,
São fabricadas pela constitutivas da
nas impressões que
imaginação, a partir própria razão e já as
os objetos físicos
de outras ideias. possuímos à
causam nos
nascença.
sentidos.
Exemplos:
Exemplos: Exemplos:
• ideias de triângulo
• ideias de cavalo e • ideias de centauro
e de ser perfeito -
de rio. e de sereia.
Deus.
O que conclui Descartes, ao refletir sobre o
próprio eu pensante?
• Descobre, entre as ideias nele existente, uma ideia clara e distinta, a ideia
de ser perfeito. Interroga-se acerca da origem dessa ideia e conclui...
• e o perfeito não pode ser apenas uma ideia, mas tem também de existir como
ser autónomo.
Após exame racional, Descartes descobre que possui no seu
pensamento a ideia de um ser perfeito e conclui que esta:
• não pode ter vindo dos sentidos, por não ser sensível, nem ter origem em nós próprios, por
sermos imperfeitos (o perfeito não pode vir do imperfeito);
• tem de ser uma ideia inata criada e posta no entendimento humano pelo próprio ser perfeito no
momento da sua criação.
• … a ideia de uma ser perfeito não pode ter sido criada por um ser imperfeito – argumento da
marca impressa.
• … a ideia de um ser com todas as perfeições não o seria se não existisse (compreende a
própria existência) - argumento ontológico.
Descartes prova a existência de Deus - Res divina - partindo da ideia de ser perfeito e conclui que Deus existe
como ser perfeito, causa sui e causa de tudo quanto existe e se sabe.
Consequências das provas da
existência de Deus
• Com as provas da existência de Deus (suma perfeição), Descartes:
• anula a hipótese da existência de um "génio maligno” (Deus não é enganador), de contrário, seria um sinal de
imperfeição e Deus é sumamente bom, omnipotente e omnisciente.
• descobre a verdadeira «raiz da árvore do saber», o fundamento Metafísico do conhecimento, pois garante:
• a verdade e validade de todas as ideias que estão no meu espírito como claras e distintas, nomeadamente as
verdades matemáticas.
• a validade das evidências a que dei assentimento no passado e faz com que permaneçam evidentes quando já não
penso nelas.
Conclui que o conhecimento é possível e desde que a razão seja bem orientada, pode conhecer sem limites.
Então por que é que erramos?
Três tipos de
substâncias e seus
atributos essenciais
Qualidades subjetivas
Ser humano:
(não estão presentes,
dualismo alma-corpo (dualismo cartesiano) enquanto tais, nos corpos)
• As crenças básicas são as Ideias inatas (Alma, Deus, Mundo) –
conhecimento claro e distinto:
• Principais verdades:
• a existência do pensamento (alma), traduzida no cogito;
Fundacionalismo • a existência de Deus, ser perfeito, com os atributos respetivos;
• a existência de corpos extensos em comprimento, largura e
racionalista de altura.