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O Projeto

filosófico de
Descartes
René Descartes VIDA E OBRA – 1596-1650
Cronologia Geral
Descartes, a resposta racionalista Principais obras:
•Discurso do método (1637)

René Descartes •Meditações de Filosofia


(1596-1650) Primeira (1641)

•Princípios da Filosofia (1644)


Filósofo racionalista
•Paixões da Alma (1649)

A razão é a fonte principal de conhecimento:


há crenças que a razão, e apenas a razão, é capaz de justificar.

É na razão que se encontra o fundamento do conhecimento (e esse fundamento é


metafísico, os restantes conhecimentos serão deduzidos desse fundamento).

Descartes pretendeu mostrar que o conhecimento é possível e que, por conseguinte, os céticos radicais
não têm razão e os seus argumentos devem ser abandonados.

Admirador da clareza e do rigor matemático, vai aplicar o modelo matemático a outros domínios do saber
humano, tais como a física e a metafísica.
Sabedoria humana
Moral

Medicina
permanece una e idêntica, por muito diferentes
que sejam os objetos a que se aplique.
Mecânica

Física

A filosofia é comparada a uma árvore:


• raízes – metafísica;
• tronco – física;
• ramos – todas as outras ciências, sendo as três
principais a medicina, a mecânica e a moral.
Metafísica
É pela metafísica que se deve começar.
Descartes e o fundacionalismo
• Descartes, como fundacionalista, vê o conhecimento como um edifício que deve
ser sustentado por alicerces inabaláveis: crenças básicas (autoevidentes e
indubitáveis).

Que crenças podem aspirar a esse estatuto?

• A resposta a esta questão foi o grande projeto filosófico de Descartes – encontrar


pelo menos uma crença básica que pudesse servir de fundamento para o
conhecimento.
O que motivou este projeto?
• O clima de ceticismo generalizado, que se instalou no
tempo de Descartes, devido às grandes transformações
sociais, políticas e ideológicas, ocorridas.

• Descartes propõe-se combatê-lo, mostrando que é falso


que nada se pode saber.

• E como o vai fazer? Que estratégia vai seguir? Será que


vai ser bem-sucedido?

• Vai fazê-lo à boa maneira cética, duvidando de tudo!


A Dúvida
Metódica
• Descartes vai usar a dúvida dos céticos, para encontrar o fundamento inabalável do
conhecimento, desconfiando de todas as crenças assumidas até então como
verdadeiras.

“Para examinar a verdade é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em
dúvida, tanto quanto puder.”
Descartes (2005), Princípios da Filosofia

• Isto significa que Descartes é um cético?

Não!

• Descartes usa a dúvida para desmontar o próprio ceticismo.


O que é a dúvida?
•A dúvida é o instrumento que permitirá libertar a razão de falsos princípios, evitando que o edifício do
conhecimento se alicerce sobre princípios que não se apresentem ao espírito de forma clara, distinta, simples
e evidente.

Características da dúvida

Metódica e
Hiperbólica Universal e radical Voluntária
provisória

É um meio para Incide sobre todas


É uma dúvida
atingir, de modo as nossas crenças
exagerada ou levada
organizado, um (a priori e a
ao extremo. Não é uma dúvida
conhecimento posteriori) e põe em
Considera como sofrida em termos
seguro, a certeza e questão a
falso tudo aquilo que psicológicos, mas
a verdade, não possibilidade de
for meramente sim artificial e
constituindo um fim construir o
duvidoso ou em que estabelecida
em si mesma. conhecimento (as
se note a mínima livremente.
Mantém-se apenas faculdades do
suspeita de
até se descobrir algo conhecimento são
incerteza.
indubitável. postas em causa).
Aplicação da dúvida
Regras para orientação do espírito
• Descartes, filósofo metódico, estabelece um conjunto de regras para orientação do
espírito nas operações de intuição e dedução:
• Análise,
• Síntese,
• Enumeração/revisão
• Evidência.

A regra da evidência recomenda:


“Nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal, isto
é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção (pré-conceito ou pré-juízo); não
incluir nos meus juízos nada que não se apresentasse tão clara e distintamente ao meu
espírito que não tivesse nenhuma ocasião para o pôr em dúvida.”
Discurso do Método

Isto é,
Não aceitar como verdadeiro o que não for absolutamente indubitável: é verdadeiro o que
resiste a toda e qualquer dúvida.
Descartes vai aplicar a dúvida às principais fontes das nossas crenças:

Aplicação da dúvida

À experiência À Razão

Fonte das crenças a posteriori,


formadas com Fonte das crenças a
base nas informações dos sentidos priori, formadas nos raciocínios mais
e dos conhecimentos acerca da elementares.
realidade corpórea.
#AgoraRevê!
https://forms.gle/KzSZirQwsEKb
M5Da6
Que razões existem para duvidar?

Hipótese
Falta de critério
Ilusões e enganos Enganos e da existência de um
para distinguir
dos sentidos erros de raciocínio deus enganador ou
o sonho da vigília
génio maligno

Podemos evitar
Pode existir um ser
Temos algum critério enganar-nos quando
Podemos confiar nos poderoso que faz com
seguro para distinguir o raciocinamos
sentidos? que estejamos sempre
sonho da vigília? matematicamente, por
enganados?
exemplo?
A ilusão dos sentidos

https://valeovil-
my.sharepoint.com/:p:/g/personal/madalenaneto_valeovil_onmicrosoft_com/EbBevx19bQ1Gr78q02prnGIB
wOesdzoNtI82GYtYTf87lw?e=NbWGwY
Primeiro nível

Aplicação da dúvida à informações do sentidos


“Sem dúvida, tudo aquilo que até ao presente admiti como
maximamente verdadeiro foi dos sentidos ou por meio dos sentido
que o recebi. Porém, descobri que eles por vezes nos enganam, e é
prudência nunca confiar totalmente naqueles que, mesmo uma só
vez, nos enganaram.”
René Descartes (1641), Meditações sobre a Filosofia Primeira
• Descartes rejeita que os sentidos forneçam o fundamento do
conhecimento verdadeiro (a experiência é fonte de erro), como mostra o
argumento:

1- Os nossos sentidos enganam-nos algumas vezes.


2- Se os nossos sentidos nos enganam, então não podemos saber se nos estão a
enganar neste momento ou não.
3- Se não podemos saber se os nossos sentidos nos estão a enganar, então não
podemos confiar nas informações adquiridas através deles.
4- Logo, não podemos confiar nas informações adquiridas através dos sentidos.
• Num primeiro nível, Descartes aplica a dúvida metódica às informações dos
sentidos, para verificar se as crenças formadas a partir deles são verdadeiras ou
falsas.

• Nesta aplicação, repara que não são poucas as vezes que os sentidos nos
enganam, levando-nos a confundir cores, formas, texturas (…).

• Ora, se os sentidos nos enganam às vezes, então, de acordo com o carácter


hiperbólico da dúvida, devemos considerá-los sempre enganadores (até prova em
contrário).

• Assim, Descartes rejeita que os sentidos forneçam o fundamento seguro do


conhecimento, porém a dúvida ainda não põe em causa a existência dos
objetos, a existência da realidade corpórea.
Segundo nível
Aplicação da dúvida à realidade
corpórea
Experiência de pensamento - Cenário de Pesadelo

Lucy estava a ter um terrível pesadelo. Ela estava a sonhar que monstros que se
assemelhavam a lobos irromperam através das janelas do seu quarto e começaram a
despedaçá-la. Ela lutava e gritava mas não conseguia deixar de sentir as suas presas e as
suas garras a rasgar a sua carne.
Foi nesse momento que acordou, inundada em suor e com uma respiração ofegante.
Olhou em redor do quarto, apenas para se certificar, e soltou um suspiro de alívio, pois afinal
tudo não tinha passado de um sonho.
Nesse instante, num estrondo capaz de provocar um ataque cardíaco, monstros irrompem das suas janelas e
começam a atacá-la, tal como no seu sonho. O terror foi ampliado pela memória do pesadelo por que tinha acabado de
passar. Os seus gritos misturavam-se com um soluçar à medida que se apercebia do quão desesperante era a situação.
E aí, acordou, a suar ainda mais e com a respiração ainda mais acelerada. Mas que absurdo! Ela tinha acabado
de sonhar dentro de um sonho e, por isso, da primeira vez que lhe pareceu acordar, na realidade, ainda estava dentro de
um sonho. Olhou mais uma vez à volta do quarto. A janela estava intacta, não havia monstros à vista. Mas como poderia
saber se desta vez tinha mesmo acordado? Esperou, aterrorizada, até que o tempo o dissesse.
Julian Baggini (2005), The Pig That Wants To Be Eaten And 99 Other Experiments.
“Com efeito, quantas vezes me acontece que, durante o repouso noturno,
me deixo persuadir de coisas tão habituais como que estou aqui, com o
roupão vestido, sentado à lareira, quando, todavia, estou estendido na
cama despido! Mas agora, observo este papel seguramente com olhos
abertos, esta cabeça que movo não está a dormir, voluntária e
conscientemente estendo esta mão e sinto-a: o que acontece quando se
dorme não parece tão distinto.
Por isso, se reflito mais atentamente, vejo com clareza que vigília e sono
nunca se podem distinguir por sinais seguros.”
René Descartes (1641), Meditações sobre a Filosofia Primeira

https://www.youtube.com/watch?v=TVoD9RfsQHg
• Descartes rejeita que a crença na existência da realidade corpórea possam ser o
fundamento seguro e indubitável do conhecimento, como mostra o argumento:
• No segundo nível de aplicação da dúvida, Descartes, contrariando a posição
realista, põe em dúvida a crença de que a realidade corpórea existe e pode ser
conhecida, através de um artifício de raciocínio - o argumento da indistinção vigília-
sono.

• Na sua análise, conclui não existir um processo inequívoco, um critério


seguro para determinar se uma experiência sensível é verídica ou se não passa de
um sonho.

• Assim, de acordo com o caráter hiperbólico da dúvida, rejeita a crença na existência


da realidade corpórea e que as crenças formadas na experiência sensível possam
ser o fundamento seguro e indubitável do conhecimento.

Em resumo,
• Com os dois níveis de aplicação da dúvida, Descartes exclui a EXPERIÊNCIA como
sendo a fonte de crenças básicas, as crenças fundantes do conhecimento.
Ponto de situação

Resultado da aplicação da dúvida à Experiência

As informações dos sentidos A realidade corpórea

A crença na existência do mundo físico,


As crenças formadas sobre as
não oferece certeza, pois não há um
propriedades dos objetos não
critério seguro para distinguir o sonho da
merecem confiança.
realidade.

O fundamento do conhecimento não é empírico.


Será que podemos mesmo duvidar de
tudo?

Podemos duvidar das verdades da razão, como


as da matemática?
• Os argumentos das ilusões dos sentidos e do sonho não conseguem
lançar suspeitas sobre as verdades da matemática:

• 2+2=4 e um quadrado tem 4 lados, mantém-se inalterável esteja a sonhar ou acordado.

Porém,
• Apesar de a matemática ser um produto da atividade da razão e constituir os
objetos inteligíveis, "há homens que se enganam ao raciocinar, mesmo a
propósito dos mais simples temas da geometria (…).”, por isso, também essas
terão que passar no crivo da dúvida.
Terceiro nível

A hipótese do
Génio Maligno
“Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas um
certo génio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que pusesse
toda a sua indústria em me enganar. Vou acreditar que o céu, a terra, as cores, as
figuras, os sons, e todas as coisas exteriores não são mais que ilusões de sonhos com
que ele arma ciladas à minha credulidade. Vou considerar-me a mim próprio como não
tendo mãos, não tendo olhos, nem carne, nem sangue, nem sentidos, mas crendo
falsamente possuir tudo isto. (...)
Por conseguinte, suponho que é falso tudo o que vejo. Creio que nunca existiu nada
daquilo que a memória enganadora representa. Não tenho, absolutamente, sentidos; o
corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar são quimeras. Então, o que será
verdadeiro? Provavelmente uma só coisa: que nada é certo.”
René Descartes (1641), Meditações sobre a Filosofia Primeira
• Descartes, com a experiência mental do génio maligno, rejeita como verdadeiras crenças
racionais, como mostra o argumento:
• No terceiro nível de aplicação da dúvida, Descartes, radicaliza-a, e testa as crenças
racionais e outras que possuímos a priori, através da hipótese do génio maligno.

• Com este argumento, avança a possibilidade de um génio maligno (um ser todo
poderoso) o enganar ao pensar, levando-o a suspeitar da verdade
das crenças racionais. Se há suspeita, manda a prudência que sejam rejeitadas.

Consequência:
• Se não for possível ultrapassar a hipótese do Génio Maligno, não será possível
certificar as verdades mais elementares da matemática, nem as que delas
derivam, ou outra da qual depende a minha existência e a do mundo. Logo, tudo é
incerto e o conhecimento não tem fundamento.
Resultado da
aplicação da dúvida
Resultado da aplicação da dúvida

As informações dos A realidade Verdades da


sentidos corpórea razão

A crença de que as
As crenças formadas
A crença na existência verdades
sobre as
do mundo físico, não racionais (matemática)
propriedades dos
oferece certeza, dado são indubitáveis, pode
objetos não merecem
não haver um critério ser falsa, devido
confiança, dado os
seguro para distinguir o à hipótese do génio
sentidos nos
sonho da realidade. maligno.
engarem.

Descartes caiu em absoluto ceticismo e solipsismo, pois nenhuma


crença resistiu à dúvida metódica e fica sem fundamento seguro.
#Consolida

https://quizizz.com/admin/quiz/618453b5a52
209001de2cf66/o-projeto-cartesiano-ponto-
de-situacao?searchLocale=
Após escrutínio da dúvida,
restará alguma crença?
- Encontrará Descartes o princípio indubitável que fundamente e
organize todo o conhecimento científico?

- O que é que pode resistir a uma dúvida tão radical?


Descartes debruça-se, então, sobre o próprio ato de duvidar e vai
concluir que:

“Dei conta de que assim queria pensar que tudo era falso, era absolutamente
necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E observando que esta
verdade: Penso, logo existo era tão firme e segura que as mais extravagantes
suposições dos céticos não eram capazes de abalar, considerei poder recebê-la
sem escrúpulo para primeiro princípio da filosofia que buscava.”
René Descartes, Discurso do Método, 4ª parte
Da dúvida ao cogito
A dúvida é um ato do pensamento, e este pressupõe a existência de um sujeito pensante.
Ora, se para duvidar é preciso pensar e se para pensar é preciso existir, então enquanto
eu duvido, eu existo.

Eu penso, logo existo – “cogito ergo sum”.

Primeira verdade indubitável

Afirmação de existência da substância pensante – res cogitans


#Relembra conceitos
https://learningapps.org/display?v=pvbw0165k22
Da dúvida ao cogito
A dúvida é um ato do pensamento, e este pressupõe a existência de um sujeito pensante.
Ora, se para duvidar é preciso pensar e se para pensar é preciso existir, então enquanto
eu duvido, eu existo.

Eu penso, logo existo – “cogito ergo sum”.

Primeira verdade indubitável

Afirmação de existência da substância pensante – res cogitans


CARACTERÍSTICAS DO COGITO

É um princípio evidente e É uma verdade da


É uma ideia clara e distinta
indubitável, uma certeza razão (a priori) -
– uma ideia evidente.
inabalável (resiste à dúvida). conhecida por intuição.

É uma ideia modelo. É a primeira verdade


Fornece o critério de Cogito ergo sum (é metafísica, puramente
verdade. racional).

É uma crença Revela a natureza ou a


É uma crença fundacional essência do sujeito:
autoevidente e
ou básica.
autojustificada o pensamento.

Atividade consciente; atributo essencial da alma


(substância pensante), a qual é distinta do corpo
(substância corpórea) e é conhecida antes dele e
de tudo o resto.
Portanto,

Não é nos sentidos, nem nas coisas materiais, nem nas verdades
matemáticas que se funda o conhecimento, mas num princípio
racional e metafísico, conhecido por intuição racional – o
cogito. Este é uma ideia modelo de todas as restantes, fornece o
critério de verdade.

• MAS...

Poderá o cogito fundamentar todo o conhecimento?


O que sabe Descartes?
Sabe que,
se duvidar existe! Existe enquanto ser pensante, enquanto res cogitans

Mas...
• deixará de existir se deixar de duvidar?
• o que pode garantir a sua existência continuada?
• existirá enquanto corpo, enquanto res extensa?
• aliás, não será melhor saber do que duvidar?

Como pode, Descartes, prosseguir na sua investigação?

Atenção!
Ainda não afastámos a hipótese da existência do génio maligno !
Dualismo alma-corpo

Substância pensante Substância extensa


(res cogitans) (res extensa)

Pensamento Extensão

Alma Corpo
• Reflete sobre o próprio eu pensante e…
“Em seguida, refletindo sobre o facto de duvidar, constatei, por conseguinte, que o meu ser
não era completamente perfeito, pois via claramente que saber era uma perfeição maior do
que duvidar; lembrei-me de procurar onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do
que eu era, e soube evidentemente que devia ser de uma qualquer natureza que fosse mais
perfeita. No que diz respeito aos pensamentos que tinha dalgumas outras coisas fora de
mim, tal como o céu, a terra, a luz, o calor e outras mil, não estava tão preocupado em
saber de onde vinham, porque, não vendo nelas nada que me parecesse torná-las superiores
a mim, podia acreditar que, se fossem verdadeiras, seriam dependentes da minha natureza,
na medida em que teria alguma perfeição; e se não fossem, vir-me-iam do nada, isto é,
estavam em mim pelo que eu possuía de falho. Contudo, o mesmo não podia acontecer com
a ideia de um ser mais perfeito que eu; porque, recebê-la do nada, era coisa
manifestamente impossível; e porque nada há de mais contrário que o mais perfeito ser
um resultado e uma dependência do menos perfeito, ou que do nada proceda algo,
também não podia tê-la recebido de mim mesmo. De forma que estava a ela ter sido
introduzida em mim por uma natureza que seria verdadeiramente mais perfeita do que eu
era, e que tivesse até dentro de si todas as perfeições de que eu podia ter uma ideia, isto é,
para me explicar melhor, que fosse Deus.”
Descartes, Discurso do Método, 4ª parte
Ao refletir sobre o próprio eu pensante (SER IMPERFEITO, pois possuir o saber é uma perfeição maior do que duvidar)
percebe que dispõe de diferentes tipos de ideias.
Tipos de ideias

Adventícias Factícias Inatas

Têm origem na
São ideias
experiência sensível,
São fabricadas pela constitutivas da
nas impressões que
imaginação, a partir própria razão e já as
os objetos físicos
de outras ideias. possuímos à
causam nos
nascença.
sentidos.

Exemplos:
Exemplos: Exemplos:
• ideias de triângulo
• ideias de cavalo e • ideias de centauro
e de ser perfeito -
de rio. e de sereia.
Deus.
O que conclui Descartes, ao refletir sobre o
próprio eu pensante?

• Descobre, entre as ideias nele existente, uma ideia clara e distinta, a ideia
de ser perfeito. Interroga-se acerca da origem dessa ideia e conclui...

• tal ideia não pode provir do imperfeito, mas tão só do perfeito;

• e o perfeito não pode ser apenas uma ideia, mas tem também de existir como
ser autónomo.
Após exame racional, Descartes descobre que possui no seu
pensamento a ideia de um ser perfeito e conclui que esta:
• não pode ter vindo dos sentidos, por não ser sensível, nem ter origem em nós próprios, por
sermos imperfeitos (o perfeito não pode vir do imperfeito);

• tem de ser uma ideia inata criada e posta no entendimento humano pelo próprio ser perfeito no
momento da sua criação.

• Assim, o ser perfeito - Deus - existe porque…

• … a ideia de uma ser perfeito não pode ter sido criada por um ser imperfeito – argumento da
marca impressa.

• … a ideia de um ser com todas as perfeições não o seria se não existisse (compreende a
própria existência) - argumento ontológico.

• … é a causa da existência do ser pensante – argumento da causa.


IDEIA DE SER PERFEITO : noção de um ser omnisciente, omnipotente e sumamente bom.

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

1.ª prova 2.ª prova 3.ª prova

Argumento da marca Argumento ontológico: Argumento da causa:


impressa: Na ideia de ser perfeito estão A causa da existência e
A causa da ideia de ser compreendidas todas as conservação do
perfeito, que se encontre perfeições, inclusive a de sujeito pensante e imperfeito
em nós, é o próprio Deus, existência. Deus é um ser não é ele próprio, muito
que possui todas as perfeito. Logo, Deus existe menos o nada. Deus, é o seu
perfeições representadas necessariamente. criador e conservador e é
nessa ideia. A existência é inerente à essência também causa de si mesmo
de Deus. (causa sui).

Logo, Deus existe. Pag. 48, manual

Descartes prova a existência de Deus - Res divina - partindo da ideia de ser perfeito e conclui que Deus existe
como ser perfeito, causa sui e causa de tudo quanto existe e se sabe.
Consequências das provas da
existência de Deus
• Com as provas da existência de Deus (suma perfeição), Descartes:

• anula a hipótese da existência de um "génio maligno” (Deus não é enganador), de contrário, seria um sinal de
imperfeição e Deus é sumamente bom, omnipotente e omnisciente.

• descobre a verdadeira «raiz da árvore do saber», o fundamento Metafísico do conhecimento, pois garante:
• a verdade e validade de todas as ideias que estão no meu espírito como claras e distintas, nomeadamente as
verdades matemáticas.

• a validade das evidências a que dei assentimento no passado e faz com que permaneçam evidentes quando já não
penso nelas.

• a existência continuada da substância pensante (res-cogitans) e da existência da substância corpórea (res-extensa).

Conclui que o conhecimento é possível e desde que a razão seja bem orientada, pode conhecer sem limites.
Então por que é que erramos?

• Erramos quando se verifica uma precipitação da vontade – quando


usamos mal a liberdade e damos o assentimento a juízos que não
são evidentes.
As três substância e o dualismo
Alma-Corpo

René Magritte, La Décalcomanie


A teoria cartesiana apresenta:

Três tipos de
substâncias e seus
atributos essenciais

Substância pensante Substância extensa Substância divina


(res cogitans) (res extensa) (res divina)

Pensamento Extensão Vários atributos, todos


eles numa perfeição
infinita.

Alma Corpo Qualidades objetivas

Qualidades subjetivas
Ser humano:
(não estão presentes,
dualismo alma-corpo (dualismo cartesiano) enquanto tais, nos corpos)
• As crenças básicas são as Ideias inatas (Alma, Deus, Mundo) –
conhecimento claro e distinto:

• Principais verdades:
• a existência do pensamento (alma), traduzida no cogito;
Fundacionalismo • a existência de Deus, ser perfeito, com os atributos respetivos;
• a existência de corpos extensos em comprimento, largura e
racionalista de altura.

Descartes em • O fundamento do conhecimento encontra-se no Cogito,


enquanto crença básica ou fundacional e primeira verdade, e
resumo: noutras ideias claras e distintas da razão, obtidas de modo
intuitivo.

• Todavia, este fundamento do conhecimento


depende daquele que é o princípio de toda a
realidade: Deus.
Objeções ao fundacionalismo
cartesiano

Terá Descartes superado a mais


radical das dúvidas?
Críticas a Descartes
Objeção ao cogito: Descartes
apenas poderia ter intuído a
existência do pensamento e não a
de um eu pensante.

Objeções em torno da ideia de ser


Objeção do círculo cartesiano:
perfeito: esta pode não ter sido
Descartes terá incorrido num Críticas a
causada por um ser perfeito;
argumento circular ou petição de Descartes Descartes pode estar a ser
princípio.
enganado pelo génio maligno.

Objeção ao dualismo cartesiano:


dificuldade em explicar a interação
da alma com o corpo.
CRÍTICAS A DESCARTES

O problema do Cogito O círculo cartesiano O dualismo cartesiano


(dualismo alma-corpo)
Eu penso, ou há pensamento
Descartes terá incorrido num Sendo a alma uma
em curso?
argumento circular ou petição substância distinta da
Segundo alguns autores, de princípio. É do facto de substância corpórea, é difícil
Descartes apenas poderia raciocinarmos a partir da ideia explicar como se dá a
ter intuído a existência do clara e distinta que temos de interação dessas
pensamento e não de um eu Deus que nos garante que substâncias.
pensante. Deus existe. Porém, é Deus
que garante a verdade e a Segundo Descartes é na
objetividade das ideias claras e glândula pineal que ocorre
Mais correto seria dizer, por
essa interação, através dos
exemplo: “Há um distintas (incluindo a ideia de
«espíritos animais». Mas
pensamento que está a ter Deus como ser perfeito). estes são de carácter
lugar” ou “Existe
material, pelo que o
pensamento”.
Descartes usa o critério da evidência para problema da interação das
provar a existência de Deus e, substâncias permanece.
simultaneamente usa Deus para
fundamentar o critério da evidência.
#AgoraRevê!
https://forms.gle/CfPCwzD44dt
adkxc9

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