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O racionalismo de Descartes

O Racionalismo
O racionalismo

O que é o racionalismo?

Teoria que defende que o nosso conhecimento deriva da


razão e que a razão é capaz de conhecer verdadeiramente
as coisas
A razão é a faculdade de raciocinar, compreender, ponderar.
Considera que o único instrumento adequado ao
conhecimento verdadeiro é a razão: é ela que fornece as
ideias normativas (que seguem aquilo que é regra) e os
princípios por meio dos quais conhecemos.
O racionalismo
Defende a existência de ideias inatas.
É baseado nos princípios da busca da certeza e da
demonstração, sustentados por um conhecimento a priori,
ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são
elaborados somente pela razão.
As sensações não seriam nada mais do que “ideias
confusas”, sendo a razão a única fonte de conhecimento
(verdadeiro) humano. Para o racionalismo o (verdadeiro)
conhecimento é a priori .
Conduz ao dogmatismo.
O racionalismo: problemas
gnosiológicos

Pode o sujeito apreender o objeto?

Sim, de modo necessário e universal

O que possibilita ao sujeito apreender o objeto?

A razão - todo o conhecimento é a priori


O racionalismo cartesiano

«Cógito ergo sum»


Penso, logo existo
RENÉ DESCARTES
(1596-1650)

Filósofo racionalista

A razão a fonte principal do conhecimento:


fonte do conhecimento universal e necessário.

Procurou na razão os fundamentos do conhecimento.

Tentativa de superação dos argumentos dos céticos radicais.


Proposições da matemática

Têm origem exclusivamente racional e a priori.

Método inspirado na matemática.

REGRAS DO MÉTODO

Evidência Análise Síntese Enumeração /


revisão

Não aceitar nada Dividir cada uma Começar pelo Fazer


como verdadeiro das dificuldades mais simples e enumerações tão
se não se em partes, para fácil de completas e
apresentar à melhor as compreender e revisões tão
consciência como resolver. subir gerais, que
claro e distinto, gradualmente tivesse a certeza
sem qualquer para o mais de nada omitir.
margem para complexo.
dúvidas.
REGRAS DO MÉTODO

Permitem guiar a razão (o bom senso),


orientando duas operações fundamentais:

Intuição Dedução

Ato de apreensão direta Encadeamento de


e imediata de noções intuições, envolvendo
simples, evidentes e um movimento do
indubitáveis. pensamento, desde os
princípios evidentes até
às consequências
necessárias.
DÚVIDA
Se alguma crença
resistir à dúvida,
Recusar todas as crenças em que se note a então ela poderá ser
mínima suspeita de incerteza. a base ou o
fundamento para as
restantes.
É um instrumento da luz natural ou razão, posto
ao serviço da verdade.

RAZÕES QUE JUSTIFICAM A DÚVIDA

Por causa dos Porque os Porque não Porque alguns Porque pode
preconceitos e sentidos são dispomos de um seres humanos se existir um deus
dos juízos muitas vezes critério que nos enganaram nas enganador, ou
precipitados que enganadores: permita discernir demonstrações um génio
formulámos na convém fazer de o sonho da matemáticas. maligno, que
infância. conta que nos vigília. sempre nos
enganam sempre. engana.

Esta hipótese equivale a admitir que o entendimento humano é de tal natureza


que se engana sempre, mesmo quando pensa captar a verdade.
CARACTERÍSTICAS
DA DÚVIDA

Metódica e provisória Hiperbólica Universal e radical

É um meio para atingir Rejeita como se fosse Incide não só sobre o


a certeza e a verdade, falso tudo aquilo em conhecimento em
não constituindo um que se note a mínima geral, como também
fim em si mesma. suspeita de incerteza. sobre os seus
Nenhuma dúvida é fundamentos e as suas
suficientemente raízes.
disparatada – leva a
dúvida às últimas
consequências.
DÚVIDA

EXERCÍCIO VOLUNTÁRIO SUSPENSÃO DO JUÍZO

FUNÇÃO DA DÚVIDA

Tem uma função catártica, já que liberta o espírito dos erros que o
podem perturbar ao longo do processo de indagação da verdade.

Abre caminho à possibilidade de reconstruir, com fundamentos sólidos,


o edifício do saber.
Dúvida – ato
livre

Ser que «Penso, logo


Cogito –
pensa e existo.»
verdade
duvida («Cogito,
incontestável
ergo sum.»)

Afirmação da
minha
existência
O Cógito

Assim, a afirmação: ”penso, logo existo” significa:


eu duvido de tudo, mas não posso duvidar da
minha existência como sujeito que duvida de tudo.
“Duvido, logo existo”.
“Eu penso, logo, existo” será o critério ou modelo
de toda e qualquer verdade ou evidência posterior.

“Cogito ergo sum”


CARACTERÍSTICAS DO COGITO

É um princípio evidente e indubitável, uma certeza inabalável.

Obtém-se por intuição, de modo inteiramente racional e a priori.

Serve de modelo do conhecimento: fornece o critério de verdade.

Estas características servem de critério para todo o conhecimento racional.

Funda na razão a origem do conhecimento seguro.

Revela a natureza ou a essência do sujeito: o pensamento ou alma.

Permite ultrapassar o ceticismo e demonstrar que é possível conhecer.


CRITÉRIO DE VERDADE

CLAREZA DISTINÇÃO

Separação de uma
ideia relativamente a
EVIDÊNCIA
Presença da ideia ao outras: não se mistura
espírito sobre a qual nem confunde..
não recai qualquer
dúvida.

Ainda não afastámos a hipótese do deus enganador. Necessitamos de demonstrar a


existência de um deus que não nos engane.
SER IMPERFEITO: possuir o saber é uma
SUJEITO PENSANTE
perfeição maior do que duvidar.

Dispõe de ideias Tipos de ideias

Adventícias Factícias Inatas

Têm origem na São fabricadas pela São ideias


experiência sensível. imaginação. constitutivas da
própria razão.

Exemplos: ideias de Exemplos: ideias de Exemplos: ideias de


árvore, cebola, sereia, unicórnio, pensamento,
relógio. dragão. existência, ser
perfeito; ideias
matemáticas.
A descoberta da existência de Deus
O filósofo irá prosseguir na busca de um conhecimento
indubitável, interrogando-se, então, se haveria algo
mais que também pudesse apreender com a mesma
evidência.
Descobre, assim, que também temos uma ideia muito
clara e muito nítida de um ser perfeito – Deus.
A ideia de Deus é uma ideia inata, a priori dado que
não pode ter vindo de nós mesmos, pois somos seres
imperfeitos. Ela é uma espécie de marca que o nosso
criador “imprimiu na sua obra”.
IDEIA DE SER PERFEITO : noção de um ser
omnisciente, omnipotente e sumamente bom.

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

1.ª prova 2.ª prova 3.ª prova

Argumento Argumento da marca O ser que pensa é


ontológico: na ideia de impressa: temos a imperfeito e finito,
ser perfeito estão ideia de um ser pelo que nunca
compreendidas todas perfeito. Um ser poderá ter sido criado
as perfeições; a imperfeito não pode por si próprio. O
existência é uma estar na origem da imperfeito torna
dessas perfeições; ideia de perfeição. necessária a existência
logo, Deus existe Apenas Deus, ser de um ser perfeito.
necessariamente. A perfeito, pode ser a Apenas Deus, ser
um ser perfeito não causa da ideia da perfeito, poderia ser o
pode faltar o atributo perfeição. criador.
da existência.
A existência de Deus – a segunda ideia clara e distinta

Se duvido sou imperfeito, logo não posso ser a causa da


ideia de perfeição.

Um ser imperfeito torna necessária a existência de um


ser perfeito.

A um ser perfeito não pode faltar o atributo da


existência.

LOGO, DEUS EXISTE.


É um ser perfeito e não é É infinito, a fonte do bem e
enganador. da verdade.

É a garantia da verdade É omnipotente, eterno e


objetiva das ideias claras e omnisciente.
distintas.
Embora criador do
É o criador das verdades DEUS Universo, não é autor do
eternas, a origem do ser e - a sua
mal nem responsável pelos
o fundamento da certeza. importância
no sistema
nossos erros.
cartesiano
Garante a adequação entre É o princípio do ser e do
o pensamento evidente e a conhecimento.
realidade.
Permite superar os
Legitima o valor da ciência argumentos dos céticos
e confere objetividade ao radicais e provar a
conhecimento. existência do mundo
exterior.
Consequências da existência de Deus no cartesianismo

• A existência de Deus permite ultrapassar a hipótese do


génio maligno, pois um ser perfeito não pode ser
enganador.

• Se Deus não engana, então o mundo físico existe.

• As provas da existência de Deus constituem-se como um


passo importante para a sustentação do conhecimento a
outras realidades.

• A existência de Deus permite a Descartes vencer


definitivamente o ceticismo inicial.

• Descartes ultrapassa o ceticismo provisório fixando-se no


dogmatismo metafísico.
Que realidades é possível conhecer pelo método?
SUBSTÂNCIA O conhecimento do sujeito enquanto ser que pensa
PENSANTE (cogito).
SUBSTÂNCIA
O conhecimento da existência de Deus.
DIVINA
O conhecimento da existência do mundo físico (nas
SUBSTÂNCIA
suas características objetivas – comprimento, largura
EXTENSA
e altura).

Conclusões:
Descartes destacou-se pelo rigor com que se propôs analisar
o conhecimento humano, salientando a importância do
método e alertando-nos para o risco das primeiras
impressões.
Críticas a Descartes
• Descartes é acusado de usar o critério da evidência
para provar a existência de Deus e, ao mesmo
tempo, usar Deus para fundamentar o critério da
evidência.
• Tal significa que, se prova a existência de Deus
partindo do princípio de que tudo o que é claro e
distinto é verdadeiro, mas tal critério apenas será
seguro se Deus existir.
• Portanto, Descartes é acusado de cometer a
chamada falácia do raciocínio circular uma espécie
da falácia da petição de princípio.
Críticas a Descartes
Vejamos:
Só devo aceitar como verdadeiras as ideias claras
e distintas.
Conheço clara e distintamente a ideia de
perfeição.
Não posso ser a origem da ideia de perfeição pois
sou imperfeito
Logo, tem de existir um ser perfeito que é a
origem dessa ideia: Deus
CÍRCULO CARTESIANO: o facto de a ideia que
temos de Deus ser clara e distinta garante-nos
que Deus existe; mas é Deus quem garante a
verdade e a objetividade das ideias claras e
distintas.

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