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Racionalismo cartesiano
Projeto Cartesiano
Descartes viveu numa época marcada por grandes transformações sociais, políticas e
ideológicas. Instalou assim, um clima de ceticismo generalizado, capaz de alcançar
qualquer conhecimento solido e duradouro.
Descartes decide escapar à conclusão aparentemente inevitável de que nada se pode
saber, logo leva o ceticismo ao extremo, recorrendo à própria duvida como método para
provar a impossibilidade do ceticismo.
Para edificar a segurança do conhecimento, descartes tinha que achar uma crença
básica, autoevidente com base solida.
Objetivo > conhecimento seguro
Método > duvida metódica
Duvida metódica
Duvida cartesiana ponto de partida, um meio para alcançar a verdade.
Duvida cética original ponto de chegada, um desfecho inevitável de um rigoroso
processo de reflexão.
Não se trata, então, de uma suspensão permanente do juízo, mas sim de uma decisão de
considerar provisoriamente falso tudo aquilo que seja meramente duvidoso.
A dúvida cartesiana não conhece limites e não há nada que não seja legitimo duvidar.
Universal Hiperbólica
A indistinção vigília-sono
Uma vez que a vivacidade e a intensidade de certos sonhos nos convencem muitas vezes
que estamos a ter experiências reais, quando na realidade estamos apenas a sonhar. Não
temos forma de distinguir as nossas experiências vigília, daquelas que temos quando
sonhamos.
As crenças que formamos a partir de experiências sensíveis podem ser falsas (porque
estamos a sonhar) ou verdadeiras (porque não sabemos se estamos efetivamente a
sonhar ou não).
1. Não podemos distinguir por nenhum sinal seguro as experiências que temos
durante os sonhos, daquelas que temos durante o estado vigília.
2. Então as crenças que formamos a partir da experiência sensível não estão
devidamente justificadas, logo não podem construir conhecimento.
Erros de raciocínio
Quer estejamos a dormir ou acordados, descartes apercebe-se que estas crenças
“2+2=4” ou “se Smith ou Jones assaltaram o banco e não foi Smith, logo foi Jones.”
Não são absolutamente certas e indubitáveis, pois podemos cometer erros mesmo nos
raciocínios mais elementares.
Princípio:
Baseia-se na ideia de que todos podemos cometer erros nos raciocínios mais simples e,
por isso, não podemos justificadamente acreditar em crenças que tenham origem no
nosso raciocínio.
O cogito (a priori)
Descartes apercebe-se que existe algo que pode saber-se com toda a certeza: “penso,
logo existo”.
Esta asserção não pode ser posta em causa, pois para duvidar do quer que seja, é preciso
existir.
1. Se fosse verdade que nada se pode saber, então nem sequer poderíamos saber
que existimos.
2. Mas sabemos que existimos (essa ideia não pode ser seriamente posta em causa).
3. Logo, é falso que nada se pode saber.
Mas com a hipótese do génio maligno, descartes constata que não é suficiente para nos
assegurarmos que temos corpo, nem verdade das nossas experiências.
Com isso, conclui que pelo menos é uma substância pensante, isto é, uma mente ou
alma imaterial que subsiste independentemente do corpo, e que é da natureza
inteiramente distinta do mesmo.
Dualismo cartesiano (mente-corpo)
A clareza e a distinção das ideias como critério de verdade
O cogito representa o triunfo sobre o ceticismo.
A priori- basta pensar para saber que esta proposição é verdadeira e fornece-nos
informação acerca do mundo, a saber.
Existe um ser pensante
Critério da verdade: Só devemos aceitar como verdadeiras as ideias que, á semelhança
do cogito, somos capazes de conceber de forma absolutamente clara e distinta.
Tipos de ideias
A ideia de Deus
Entre as várias ideias que Descartes encontra na sua mente, existe uma que se distingue
de todas as outras: a ideia de Deus, ou ser perfeito.
Esta ideia é especial porque provar que Deus existe e não é enganador talvez seja a
única forma de podermos estar certos de muitas outras coisas para além da nossa
existência enquanto pensamento, pois um criador supremo e sumamente bom não nos
teria criado de forma que estivéssemos permanentemente a ser enganados e nunca
pudéssemos conhecer a verdade.
Para provar que Deus existe, Descartes recorre, entre outros, ao chamado “argumento da
marca”.
Argumento da marca
Descartes afirma:
“Depois disto, tendo refletido que duvidava e que, por consequência, o meu ser não era
inteiramente perfeito, pois via claramente que conhecer é uma maior perfeição do que
duvidar, lembrei-me de procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa
mais perfeita do que eu; e conheci, com evidência, que se devia a alguma natureza que
fosse, efetivamente, mais perfeita. […] De maneira que restava apenas que ela tivesse
sido posta em mim por uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que
eu, e que até tivesse em si todas as perfeições de que eu podia ter alguma ideia, isto é,
para me explicar com uma só palavra, que fosse Deus.”
1. Tenho a ideia de “ser perfeito”.
2. Se eu tenho a ideia de “ser perfeito”, é porque existe um ser perfeito que é a
origem desta ideia.
3. Ou eu mesmo sou o ser perfeito ou há outra coisa (além de mim) que é o ser
perfeito e que deu origem à minha ideia de perfeição.
4. Eu não sou perfeito.
5. Logo, existe outra coisa (além de mim) que é o ser perfeito e que deu origem à
minha ideia de perfeição.
Objeção ao cogito:
Alguns autores consideram que o cogito não é algo absolutamente certo e indubitável.
Em vez de o entenderem como uma proposição simples, que se limita a afirmar: “Há
pensamento”, veem nessa afirmação uma conjunção de várias ideias: “Há pensamento e
há um e apenas um ser pensante a quem esse pensamento pertence e esse ser pensante
sou Eu”. Ora, Descartes não se encontrava em condições de afirmar que sabia tudo isso.