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Ora, o cogito não é suficiente para garantir que (É a partir das ideias inatas que se irá construir o
temos um corpo ou que existe um mundo exterior edifício do conhecimento)
independente do nosso pensamento.
Entre as ideias inatas que possuímos encontra-se a Resumindo: Deus é ou existe e imprimiu na mente do
ideia de ser perfeito (ou a ideia de perfeição) - um filósofo a ideia de perfeição como uma marca inata da
ser omnisciente, sumamente inteligente, infinito, ação do artista na sua obra.
eterno, independente, omnipotente, sumamente bom
e criador de toda a realidade.
Como podemos ver, no tocante à substância Deste modo, para Descartes, o fundamento do
corpórea ou matéria, é a extensão que conhecimento encontra-se no cogito, enquanto
constitui a sua natureza - a extensão em crença básica ou fundacional e primeira verdade, e
comprimento, largura e altura (ou noutras ideias claras e distintas da razão, obtidas de
profundidade). modo intuitivo. Trata-se de um fundacionalismo
As qualidades primárias (grandeza, duração, racionalista.
figura, quantidade, movimento, etc.), que são
objetivas, diferenciam-se das qualidades Apesar de, para Descartes, o fundamento do
secundárias (sabor, odor, cor, som,..), que são conhecimento se encontrar nas crenças básicas da
subjetivas e não estão presentes enquanto razão, só Deus é que permite construir o edifício do
tais nos corpos. conhecimento, visto que só ele, sendo o princípio de
toda a realidade e a origem da razão, pode ser
Em relação a Deus, todos os atributos - garantia de verdade, ao mesmo tempo que é o criador
omnipotência, omnisciência, bondade, etc. - das ideias inatas.
são atributos essenciais. Na sua simplicidade
e unidade, Deus possui os seus atributos - que
decorrem da sua perfeição infinita -
absolutamente conjugados.
Críticas “ ”
Outras objeções dizem respeito à ideia de ser perfeito
(a ideia de Deus). Alguns críticos, como Thomas
Hobbes, chegaram ao ponto de negar que tenhamos
Sugerem os críticos que Descartes apenas poderia ter
qualquer ideia que corresponda à natureza de Deus.
intuído a existência do pensamento e não a de um eu
Para alguns filósofos, na melhor das hipóteses, temos
pensante. Por exemplo, Georg Christoph Lichtenberg
uma conceção vaga e difusa do que possa ser um ser
(1742-1799) referiu que dizer "Penso." é afirmar
perfeito, mas dadas as nossas capacidades limitadas,
demasiado.
não somos capazes de abarcar através do nosso
Pelo menos no contexto da dúvida, Descartes não pensamento um conceito tão vasto e ilimitado quanto
tem o direito de nomear um "eu" que está a pensar. o conceito de Deus. Assim sendo, nem sequer
O que ele poderia adequadamente afirmar é que "há podemos dizer que temos propriamente a ideia de
um pensamento em curso". Deveríamos, pois, dizer “ser perfeito”
"há pensamento", sem afirmar a existência de um eu
pensante (tal como dizemos "troveja", sem afirmar a
existência de uma "coisa" que troveja.) Também poderá discutir-se se é necessário que a
ideia de ser perfeito tenha sido causada por um ser
perfeito. Afinal, podemos tê-la formado por oposição
à ideia de ser limitado, finito e imperfeito.