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1. As ideias refletem a realidade como os sonhos o fazem de acordo com Descartes?

Como diferenciar
um sonho de um pensamento?

2. Alguém que distorce o que vê é um louco (como diz descartes) ou um negacionista?

3. Até que ponto se consegue aplicar o relativismo do pensamento no nosso cotidiano?

4. Como o indivíduo pode se isolar se ao mesmo tempo se prega que ele possa vir a chegar à mesma
conclusão dos outros?

5.

Indivíduo livre e autônomo em oposição às instituições. A crença no poder crítico da razão humana
individual, a metáfora da luz e da clareza que se opõem à escuridão... busca de progresso. Indivíduo
pensante “A necessidade de contextualização do pensamento, de situá-lo em relação à experiência de
vida do indivíduo pensante, é uma exigência do próprio Descartes.” pensamento dependendo de
experiência do indivíduo... como é que vai se chegar à mesma conclusão se as experiências são
diferentes?

Descartes racionalista

“Se, como diz Descartes no início do Discurso do método, o bom senso, i.e., a racionalidade, é natural ao
homem, sendo compartilhada por todos, o que explica a possiblidade e a ocorrência do erro, do engano,
da falsidade? O erro resulta na realidade de um mau uso da razão, de sua aplicação incorreta em nosso
conhecimento do mundo. A finalidade do método é precisamente pôr a razão no bom caminho,
evitando assim o erro. O método, portanto, é um caminho, um procedimento que visa garantir o
sucesso de uma tentativa de conhecimento, da elaboração de uma teoria científica... a primeira é a
regra da evidência: ‘jamais aceitar uma coisa como verdadeira que eu não soubesse ser evidentemente
como tal’; a segunda, a regra da análise: ‘dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas
partes quantas possíveis e quantas necessárias para melhor resolvê-las’; a regra terceira, a regra da
síntese: ‘conduzir por ordem meus pensamentos, a começar pelos objetos mais simples e mais fáceis de
serem conhecidos, para galgar, pouco a pouco, como que por graus, até o conhecimento dos mais
complexos’; e, finalmente, a quarta: ‘fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão
gerais que eu tivesse a certeza de nada ter omitido’”

“Descartes assume então a missão de fundamentar ou legitimar a ciência, demonstrando de forma


conclusiva que o homem pode conhecer o real de modo verdadeiro e definitivo.”

“Não se pode confiar na tradição” mas Descartes parte do pressuposto de uma tradição que é a
existência de um deus.

Como desvincular à busca da verdade, e portanto o fazer científico, da tradição quando seu ponto
arquimediano, seu alicerce é a existência de um Deus perfeito? Assim como pregavam os antigos.

Descartes: um pensador que considera a filosofia como uma expressão da experiência da vida do
homem, em uma manifestação típica do individualismo, que marca o pensamento moderno.

“A única alternativa possível parece ser a interioridade, a própria razão humana, a luz natural que o
homem possui em si mesmo, sua racionalidade... se pudermos recuperar essa luz natural, desfazendo-
nos do saber errôneo que recebemos, poderemos então encontrar o ponto de partida desejado. A
racionalidade pertence à natureza humana - e portanto o homem traz dentro de si a possibilidade do
conhecimento. Este conhecimento foi no entanto deturpado e contaminado pelos erros da tradição,
sendo necessário recuperá-los... estudar também a mim próprio... autoconhecimento, da reflexão sobre
o próprio sujeito do conhecimento”

“Esvaziar-nos de todos os nossos conhecimentos e crenças, já que dentre eles há alguns que não são
confiáveis; mas não sabemos quais até examiná-los a todos” através da dúvida. Porém é inviável, levaria
muito tempo.

“Nossos sentidos são sabidamente enganosos e facilmente podem nos equivocar em qualquer
experiência de percepção... é certo no entanto que nem sempre os sentidos nos enganam”

“É possível que se esteja sonhando... não dispomos, de fato, se um critério seguro para distinguir o
sonho da vigília. Entretanto o argumento do sonho ainda não é suficientemente forte, já que o que é
ilusório é o tipo de percepção que temos, e não propriamente aquilo que percebemos. Embora essa
percepção não corresponda à realidade, os objetos que percebemos com suas duas formas, cores etc.
São como objetos reais, como as representações imaginaras por um pintor que se baseia afinal na
própria realidade natural. Mesmo as imagens fantásticas que possamos formar em nossos sonhos têm
uma base no real, em certas características gerais, p.ex. cores e formas, extensão e figura, quantidade e
grandeza, a partir das quais são geradas. Essas características parecem comuns aos sonhos e à minha
percepção quando acordado; parecem portanto ‘existir objetivamente’, independentemente de eu estar
sonhando ou não... ciências mais abstratas como a aritmética e a geometria, que, por terem como base
conceitos mais abstratos, como extensão, quantidade etc., parecem ter um caráter mais rigoroso, não
estando sujeitas a nenhum dos dois tipos de argumento acima... quer eu durma e sonhe, quer eu esteja
acordado, 2+3= 5 e o quadrado tem 4 lados... terceiro argumento... Descartes parte da hipótese de um
Deus que ‘tudo pde que me criou tal como sou’. Ora, eu poderia, em princípio, ter sido criado de tal
forma que acreditasse no céu, na terra, em todas as coisas, sem que estas existissem. Poderia supor ter
sido criado por um gênio maligno que me enganasse sobre a existência de todas as coisas... contra isso
não haveria certeza que pudesse resistir. Por este motivo o filósofo deve suspender seu juízo sobre
todas as coisas, suspeitar de tudo, permanecer sempre na dúvida, preparar seu espírito contra as
artimanhas desse deus enganador... só devemos aceitar como verdadeiro algo que não esteja sujeito à
‘menor dúvida - sendo a tarefa do filósofo buscar a certeza. A dúvida visa portanto à certeza, sendo
precisamente um critério para se testar a validade da certeza’

“O pensamento é ele próprio imune à dúvida... Eu sou, eu existo... se até mesmo para duvidar é
necessário pensar, a existência do pensamento, do ser pensante, não está sujeita à dúvida: é mais
básica, mais originária do que esta, é um pressuposto dela” “um dos argumentos mais discutidos e
controversos... trata-se realmente, como pretendia Descartes, de um ponto de partida radical, de uma
certeza sem pressupostos? Mas é isso que Descartes pretendia? O argumento depende centralmente da
noção de pensamento... ou pode ser formulado a partir de outras noções como sentir e perceber?
Trata-se de uma inferência lógica, de uma verdade demonstrada, ou de uma intuição psicológica?... não
haveria nesse argumento uma circularidade? Se estabelecemos a certeza do eu porque o pensamento o
pressupõe, não estamos diante de um circulo vicioso... leibniz: dizer eu penso logo eu existo é circular, já
que não posso inferir a existência do ‘eu’ a partir do pensamento, porque o ‘eu’ já está suposto em ‘eu
penso’... de fato o sentido de eu está longe de ser evidente. Como diz nietzche há inúmeros problemas
não resolvidos nesse pressuposto. Supõe-se que sou eu que pensa, que deve haver alguém que pensa,
que o pensamento é algo realizado por um ser, que este ser e a causa desse pensamento, que há um eu
e que posso saber o que é... segundo Russell, o máximo que l argumento me permitiria inferir não que
eu penso, mas apenas que há pensamento” a crença na existência não implica a existência em si.
Quebra com a escolástica, a ciência não se baseia em crenças sem explicações. “Não há certeza antes
que eu saiba exatamente o que é o cogito que pensa... portanto não posso, a rigor, saber que existo, ter
conhecimento disso, já que o conhecimento supõe a possibilidade de justificar e explicar a minha
crença, o que não é possível simplesmente a partir do argumento do cogito. Do mesmo modo, quando,
no contexto da primeira meditação, penso 2+3= 5, estou certo porque isso é verdadeiro, porém não
posso saber disso, não tenho como justificar a verdade da minha crença” se não se explica a verdade,
ela se baseia em crença.

“Os céticos não se consideraram convencidos pelo argumento de Descartes. A questão cética não dizia
respeito à certeza do cogito, isto é, à certeza sobre a existência do ser pensante – uma certeza subjetiva,
portanto – mas sim à possibilidade do conhecimento do real, ou seja, do mundo natural... Cogito pode
ser suficiente par combater a posição do cético que afirma não ser possível nenhuma certeza, mas por
outro lado, não chega a constituir um sistema de conhecimento sobre o real. A verdade a que podemos
chegar a partir do método da dúvida não pode ser ista assim como uma premissa a artir da qual todas as
outras verdades se seguem, mas apenas como base para um discurso racional, tornando possível
reconhecer outras verdades... o cogito portanto nos releva somente isto: a existência do pensamento
puro, o que é possível pela evidencia do próprio ato de pensar. No entanto, sempre que quisermos ir
além desse pensamento puro, desse pensamento que no máximo pode pensar a si mesmo,
reflexivamente, encontramos a dúvida. Qualquer que seja o conteúdo desse pensamento, este ainda
pode ser posto em dúvida... Eis o sentido do solipsismo cartesiano, o isolamento do eu em relação a
tudo mais: ao mundo exterior e ao próprio corpo, que também é um elemento externo. O solipsismo é
resultado da evidência do cogito, uma certeza tão forte que exige critérios tais que não são aplicáveis a
mais nada. ... o objetivo é fundamentar a possibiidade do conhecimento cientifico, construir bases
metodológicas para uma ciência mais solida, mais bem fundamentada que a tradicional’

“só poderá haver ciência quando o pensamento puder formular leis e princípios que expliquem como o
real funciona. A concepção cartesiana de ciência é ainda a clássica, derivada em grande parte de
Aristoteles... trata-se de um corpo de verdades teóricas, universais e necessárias, de certezas definitivas,
que não admitem erro, correção ou refutação. Esta concepção irá se alterar progressivamente ao longo
do pensamento moderno... levar à visão pluralista e construtivista que encontramos na ciência
contemporânea... Descartes empreende seu caminho rumo à garantia da possibilidade do
conhecimento. Sua estratégia é começar pela 1) instropecção, pelo exame da única realidade que lhe é
possível até então conhecer: o próprio pensamento. 2) Passa em seguida a examinar o que é essa
substancia pensante; como se constitui esse mundo interior... descobre então eu sua mente é composta
de ideias, que ter uma ideia é pensar sore algo, independemtente da verdade ou falsidade do
pensamento. Com efeito, é o juízo, como ensiva a doutrina tradicional, que é capaz de ser verdadeiro ou
falso... ele adota o critério da evidencia do cogito... uma ideia será válida ou adequada na medida em
que for evidente, isto é, clara e distinta. Porem, para que haja conhecimento é preciso algo mais, é
preciso que as ideias sejam representações, ou seja, correspondam a objetos dos quais são ideias: uma
ideia é sempre uma ideia de algo ‘As ideias são em mim como quadro ou imagens’” refletem a
realidade.

“Este termo ‘ideia’ tem um caráter equívoco, pois pode ser tomado materialmente como uma operação
de meu entendimento ... ou pode ser tomado objetivamente como aquilo que é representado por esta
operação... ou seja, a ideia pode ser tanto o próprio ato do pensamento como o conteúdo deste ato: a
representação”

3 tipos de ideia: as inatas, que não são derivadas da experiência mas se encontram no individuo desde
seu nascimento, dentre as quais se incluem as ideias de infinito e de perfeição; as ideias adventícias (ou
empíricas), que formamos a partir de nossa experiência e que depende da nossa percepção sensível,
estando portanto sujeitas à dúvida; e as ideias da imaginação, que formamos em nossa mente a partir
dos elementos de nossa experiência, como p.ex. a ideia de unicórnios, que resulta da junção da ideia de
chifre à ideia de cavalo.
“É a estrutra interna da própria ideia que garante sua verdade.... ‘as coisas que concebemos de maneira
muito clara e distinta são todas elas verdadeiras’ a ideia é verdadeira em razão de sua adequação, e sua
adequação é caracterizada por propriedades intrínsecas à própria ideia, isto é, às ideias como modos da
substância pensante. Contudo, para explicar a possibilidade de conhecimento do real, é necessário,
como dissemos, que as ideias tenham um conteúdo representacional, que possam ser ‘como imagens
das coisas’, e que a cada conteúdo representacional corresponda a um objeto. Para isso é necessária
uma análise das condições que tornam correta a representação, sendo a falsidade material das ideias
explicada pelo fato de que, neste caso, representam o que nada é como se fosse alguma coisa. É preciso
então introduzir o princípio clássico da correspondência para garantir a correlação entre a ideia na
mente e a coisa a ser conhecida no mundo externo. Só assim o saber poderá vir a ser a representação
correta do real como mundo empírico ou como mundo possível.”
“Podemos identificar, portanto, no desenvolvimento da analise cartesiana da representação, uma
tensão entre a noção subjetiva de certeza e a concepção de verdade como correspondência com o real.
Só a prova da existência de Deus, que funciona como garantia do conhecimento do mundo, permitirá
superar essa tensão: O argumento cartesiano parte do reconhecimento da ideia de deus como um ser
perfeito em minha mente, mostrando que esta ideia só pode ter como causa o Ser Perfeito, já que eu,
não sendo perfeito, seria incapaz de chegar por mim mesmo à ideia de perfeição. Trata-se portanto de
uma ideia inata, colocada em mim por Deus... argumento cosmológico, por recorrer à noção de causa,
de Deus como causa de minha ideia de perfeição, o que levará finalmente à argumentação de que Deus
é o criador do mundo externo, tendo o poder causal de conservar a substância existente... argumento
ontológico pois parte da ideia de deus para afirmar a sua existência.... parte da essência de deus de sua
definição como ser perfeito, para provar que, se deus é entendido como ser perfeito, devemos então
reconhecer sua existência... é a necessidade da afirmação dessa existência que caracteriza, o argumento
como ontológico. Se Deus não existisse, não poderia ser definido como perfeito, porque lhe faltaria uma
qualidade, a existência... como a ideia de Deus é uma ideia inata, possuindo clareza e distinção...
Descartes pode chegar a ela a partir do próprio cogito, sem nada supor de externo... a existência de algo
além do cogito... a possibilidade de afirmar que Deus é o criador do mundo externo, servindo portanto
de garantia à existência do mundo e à possibilidade de o homem conhecer o mundo... descartes
afirmava a necessidade de se encontrar um ponto arquimediano, uma certeza tão forte que servisse de
base para a construção de todo o sistema do saber. Vemos agora, entretando, como decorrência da
prova da existência de Deus, que o verdadeiro ponto arquimediano não é o cogito, como pretendia
Descartes... mas Deus, o único verdadeiramente capaz de garantir o conhecimento sobre o mundo.”

“ Se afinal se trata de um critério meramente subjetivo e psicológico, então pode ser questionado e não
serve para fundamentar nenhuma verdade ou certeza. Sempre que Descartes recorrer ao principio da
clareza e distinção para justificar a validade de uma ideia, podemos nos perguntar se esta ideia é
realmente clara e distinta, ou se apenas parece sê-lo para Descartes. Não há ideias que são obviamente
falsas, aceitar por outros indivíduos que as consideram entretanto claras e distinta, como o próprio
descartes mostra em uma discussão da tradição? Por que as ideias de descartes estariam livres dessa
objeção? O critério de clareza e distinção parece assim insuficiente.”

“... nem sequer a existência de deus pode nos livrar desse impasse... ciruculares... na medida em que
descartes afirma a validade das ideias claras e distintas a partir de deus, que, por ser perfeito, n~~ao é
enganador e garante nosso conhecimento. Por outro lado, sabemos que Deus é o ser perfeito a partir de
nossa ideia clara e distinta de Deus... seria insuficiente para garantir qualquer conhecimento
absolutamente certo além do cogito (independemte da existência de deus, e que n nos permite obter o
conhecimento do real)... a existência de deus poderia no máximo garantir um conhecimento absoluto
do ponto de vist ade deus que é o ser absoluto, mas jamais do ponto de vista humano, sempre limitado”
“...Descartes admite que nossas ‘verdades’ não são verdadeiras ou falsas ‘em um sentido absoluto’ mas
apenas que ‘temos toda a certeza de que podemos razoavelmente desejar’. Porém, de acordo com a
primeira regra do método, devemos rejeitar qualquer proposição em relação à qual haja a menor
possibilidade de dúvida. Do ponto de vista absoluto, isto é, do ponto de vista de Deus, verdades que nos
parecem certas podem não sê-lo... nunca certezas absolutas... cai por terra, portanto, a definição
clássica do conhecimento cientifico como c erteza absoluta

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