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Filosofia 2º Período

11ºAno

Professora: Lígia Cerqueira Ano Letivo: 2021-22

Resumo nº 2

DESCARTES - A Procura de Fundamentos – Filósofo Descartes


(francês que viveu entre os séculos XVI e XVII)

René Descartes nasceu em 31 de março de 1596 em Haia. Foi educado por jesuítas e quis viajar para
“ler no grande livro do mundo”. Participou como militar na Guerra dos Trinta anos, viajou pela Europa,
mas fixou-se na Holanda, durante muitos anos, onde compôs grande parte da sua obra filosófica.
Morreu na Suécia em 1650.

Penso, logo. Existo

De há muito tinha notado que, pelo que respeita à conduta, é necessário algumas vezes seguir como indubitáveis

opiniões que sabemos serem muito incertas, (...). Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da

verdade, pensei que era necessário proceder exatamente ao contrário, e rejeitar, como absolutamente falso, tudo

aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não ficaria qualquer coisa nas minhas

opiniões que fosse inteiramente indubitável.

Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o

fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e

neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as

razões de que até então me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos

quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro,

resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as

ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu,

que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão

firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a

podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.

René Descartes, in 'Discurso do Método'

As Regras do Método

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(...) em vez desse grande número de preceitos que constituem a lógica, julguei que me bastariam os quatro

seguintes, contanto que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma só vez de os observar.

O primeiro consistia em nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal;

isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; não incluir nos meus juízos nada que se não

apresentasse tão clara e tão distintamente ao meu espírito, que não tivesse nenhuma ocasião para o pôr em

dúvida.

O segundo, dividir cada uma das dificuldades que tivesse de abordar no maior número possível de parcelas que

fossem necessárias para melhor as resolver.

O terceiro, conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de

conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até ao conhecimento dos mais compostos; e admitindo mesmo

certa ordem entre aqueles que não se precedem naturalmente uns aos outros.

E o último, fazer sempre enumerações tão complexas e revisões tão gerais, que tivesse a certeza de nada omitir.

René Descartes, in 'Discurso do Método'

O Método é Necessário para a Procura da Verdade

Os mortais são dominados por uma curiosidade tão cega que, muitas vezes, envenenam o espírito por caminhos

desconhecidos, sem qualquer esperança razoável, mas unicamente para se arriscarem a encontrar o que procuram:

é como se alguém, incendiado pelo desejo tão estúpido de encontrar um tesouro, vagueasse sem cessar pelas

praças públicas para ver se, casualmente, encontrava algum perdido por um transeunte. (...) não nego que tenham

por vezes muita sorte nos seus caminhos errantes e encontrem alguma verdade; contudo, não estou de acordo que

sejam mais competentes, mas apenas mais afortunados. Ora, vale mais nunca pensar em procurar a verdade de

alguma coisa que fazê-lo sem método: é certíssimo, pois, que os estudos feitos desordenadamente e as meditações

confusas obscurecem a luz natural e cegam os espíritos. Quem se acostuma a andar assim nas trevas enfraquece de

tal modo a acuidade do olhar que, depois, não pode suportar a luz do pleno dia.

É a experiência que o diz: vemos muitíssimas vezes os que nunca se dedicaram às letras julgar o que se lhes depara

com muito maior solidez e clareza do que aqueles que sempre frequentaram as escolas. Entendo por método regras

certas e fáceis, que permitem a quem exatamente as observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso, e, sem

desperdiçar inutilmente nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o

conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de saber.

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René Descartes, in 'Regras para a Direção do Espírito'

A Força da Alma não Basta sem o Conhecimento da Verdade

É verdade que há pouquíssimos homens tão fracos e irresolutos que desejem apenas o que a sua paixão lhes dita. A

maioria tem determinados julgamentos, pelos quais pautam uma parte das suas ações. E embora frequentemente

esses julgamentos estejam errados, e mesmo se fundamentem em algumas paixões pelas quais a vontade

anteriormente se deixou vencer ou seduzir, entretanto, como ela continua a segui-los quando a paixão que os

causou está ausente, podemos considerá-los como suas próprias armas, e pensar que as almas são tanto mais

fracas ou mais fortes quanto menos ou mais conseguirem seguir esses julgamentos e resistir às paixões presentes

que lhes são contrárias.

Mas há, no entanto, grande diferença entre as resoluções que procedem de alguma opinião errada e as que se

baseiam apenas no conhecimento da verdade; tanto que, se seguirmos estas últimas, estamos seguros de nunca

sentirmos pesar nem arrependimento, ao passo que sempre os temos por haver seguido as primeiras, quando

descobrimos que estão erradas.

René Descartes, in 'As Paixões da Alma'

O problema posto por Descartes é sobre a capacidade humana de alcançar a verdade, não como
um atributo divino, distante do comum mortal, mas como uma característica de toda a humanidade.
Com esse objetivo, encontra uma forma metódica de aplicar a dúvida, que com base no processo
matemático, torna possível ao homem distinguir o falso do verdadeiro. Só assim é possível obter o
conhecimento de forma segura e fácil e chegar ao ponto mais alto a que se pode chegar: o domínio
sobre o mundo e a sabedoria da vida. O filósofo apresenta quatro regras fundamentais e inequívocas
para alcançar esse fim:

Regras do Método

 Evidência: jamais devemos aceitar uma verdade se não a reconhecermos evidentemente como
tal e se não tivermos qualquer possibilidade de a colocar em dúvida;
 Análise: dividir cada um dos problemas que analisamos em problemas mais simples, retirando as
partes supérfluas para melhor distinguir o que é falso e o que é verdade;
 Síntese: utilizando um ato fundamental do espírito humano, a dedução, esta regra recomenda
ordenar os pensamentos de forma a começar pelos mais simples e fáceis de conhecer, para
pouco a pouco os elevar até aos conhecimentos mais complexos;
 Enumeração: fazer enumerações e revisões tão gerais até que se tenha certeza de não omitir
nenhuma.

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Mas encontrar um método que seja um guia seguro da investigação de todas as ciências, para
Descartes, só é possível através de uma crítica radical de todo o saber. Duvidar de tudo e considerar
tudo provisoriamente falso até se chegar a um princípio sólido sobre o qual já não seja possível a dúvida
e que possa servir de fundamento a outros conhecimentos.

Então, eu que penso e que me posso enganar ou ser enganado ou mesmo duvidar da própria
realidade, devo necessariamente ser qualquer coisa e não nada. Por isso “cogito, ergo sum” (penso, logo
existo) é a única proposição absolutamente verdadeira porque a própria dúvida a confirma. Não posso
afirmar nada sobre, por exemplo, um corpo onde eu exista, apenas existo como uma coisa que duvida,
isto é: que pensa.

O “cogito” (penso) é uma relação do eu consigo mesmo, um princípio que tem como ponto de
partida problematizar qualquer outra realidade e que ao mesmo tempo permite justificá-la. É este o
princípio inabalável de Descartes, sobre o qual não se pode duvidar mais.

Descartes distingue três tipos de ideias:  


 
  - Inatas,

- Adventícias,

- Factícias
.     
                         
As ideias adventícias: são aquelas que nos chegam a partir dos sentidos.
As ideias factícias: são provenientes da nossa imaginação, uma combinação de imagens fornecidas
pelos sentidos e retidas na memória cuja combinação nos permite representar (imaginar) coisas que
nunca vimos. 
  A grande questão, porém, é a de saber se todas as nossas ideias se podem explicar destes dois
modos. Será o triângulo uma ideia adventícia? Como explicar então a sua perfeição? Será uma ideia
factícia? Como explicar nesse caso a sua universalidade? E a ideia de Deus?  Como explicar que seres
finitos e imperfeitos como os homens são, possam ter a ideia de um ser infinito e absolutamente
perfeito? 
 
 
A resposta de Descartes é a de que para além das ideias adventícias e factícias  os homens possuem
ideias inatas. As ideias Inatas = nascidas connosco, são como que a marca do criador no ser criado à sua
imagem e semelhança.

    Estas ideias inatas, claras e distintas, não são inventadas por nós, mas produzidas pelo entendimento
sem recurso à experiência. Elas subsistem no nosso ser, em algum lugar profundo da nossa mente, e
somos nós que temos liberdade de as pensar ou não. Representam as essências verdadeiras, imutáveis e
eternas, razão pela qual servem de fundamento a todo o saber científico.

Tipos de Ideias - Descartes - PENSAR É PRECISO (sapo.pt)

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-duvida-metodica-de-descartes-penso-logo-existo/

O Fundacionalismo Cartesiano

René Descartes é um dos mais famosos fundacionalistas de todos os tempos. O seu objetivo era estabelecer um
conhecimento seguro e indubitável. O seu método era a dúvida metódica, que consistia em duvidar de tudo o que
se possa imaginar e averiguar o que resiste a esse processo. Ao contrário da dúvida cética original, a dúvida

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cartesiana é: Metódica: é apenas um método para encontrar um conhecimento seguro; Provisória: subsiste apenas
até que se encontre algo absolutamente certo e indubitável; Universal: por princípio, pode aplicar-se a todas as
nossas crenças; e hiperbólica: não se limita a pôr tudo em dúvida, mas rejeita como falso o meramente duvidoso.
Descartes apresentou várias razões para duvidar: as ilusões dos sentidos, a indistinção vigília-sono, os erros de
raciocínio, a Hipótese do Deus Enganador e a Hipótese do Génio Maligno.

A dúvida Metódica de Descartes

Ilusões dos sentidos

O argumento das ilusões dos sentidos sustenta que, uma vez que os nossos sentidos nos enganam algumas vezes,
nunca podemos saber se nos estão a enganar ou não; portanto, nunca devemos confiar nas informações adquiridas
através deles.

Indistinção vigília-sono

Segundo o argumento da indistinção vigília- -sono, uma vez que a vivacidade e a intensidade de certos sonhos nos
convencem muitas vezes de que estamos a ter experiências reais, quando na realidade estamos apenas a sonhar,
não temos forma de distinguir as nossas experiências de vigília daquelas que temos quando sonhamos;
consequentemente, as crenças que formamos a partir da experiência sensível ou são falsas (porque estamos apenas
a sonhar) ou, ainda que sejam verdadeiras, são-no apenas por acaso (porque não podemos saber se estamos
apenas a sonhar ou não) e, portanto, não podem constituir conhecimento.

Erros de raciocínio

O argumento dos erros de raciocínio baseia- -se na ideia de que, uma vez que todos podemos cometer erros nos
raciocínios mais simples, não podemos justificadamente acreditar em crenças que tenham origem no nosso
raciocínio.

Hipótese do Deus Enganador

Para poder pôr, realmente, em causa as verdades mais elementares da geometria e da aritmética, Descartes
desenvolveu a Hipótese do Deus Enganador: um ser superior, sumamente inteligente e de poderes ilimitados que
nos criou juntamente com tudo o que existe e que poderia sem qualquer dificuldade introduzir nas nossas mentes
as ideias que bem entendesse, fazendo-nos tomar por evidências as coisas mais absurdas. No entanto, Descartes
vê-se forçado a rejeitar a Hipótese do Deus Enganador, pois apercebe-se que a ideia de um Deus Enganador é uma
contradição nos termos. Um ser que é, por definição, perfeito não pode possuir qualquer espécie de defeito e,
como tal, não pode ser enganador.

Hipótese do Génio Maligno

Em alternativa à Hipótese do Deus Enganador, Descartes concebeu a Hipótese do Génio Maligno: um ser tão
poderoso quanto perverso, que se diverte a usar os seus poderes para nos induzir em erro relativamente a tudo e
mais alguma coisa. Uma vez que o Génio Maligno não é perfeito, não corremos o risco de cair em contradição. O
argumento do Génio Maligno diz-nos o seguinte: uma vez que não podemos saber se o Génio Maligno existe ou
não, a maioria das nossas crenças são falsas, ou, ainda que sejam verdadeiras, são-no apenas por acaso (pois não
temos nenhuma justificação para acreditar que não se trata de mais uma das suas maquinações). Logo, não temos
qualquer espécie de conhecimento (pois só temos conhecimento se tivermos crenças verdadeiras justificadas).
Enquanto a Hipótese do Génio Maligno não for afastada, não podemos, aparentemente, estar certos de nada.

Cogito

Descartes mostra que ainda que eu não possa saber se estou, ou não, a ser enganado por um Génio Maligno,
existe algo que posso saber com toda a certeza: Penso, logo, existo. Esta crença, conhecida por cogito, não pode
consistentemente ser posta em causa, pois para se poder duvidar do que quer que seja é preciso existir.

Assim, Descartes refuta o ceticismo por redução ao absurdo: se fosse verdade que nada se pode saber, então
nem sequer poderíamos saber se existimos, mas é impossível duvidar que existimos; logo, é falso que nada se pode
saber.

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Contudo, o cogito não é suficiente para assegurar Descartes de que tem um corpo, nem da veracidade das suas
experiências percetivas, porque, uma vez que pode imaginar que não tem um corpo sem que isso implique que não
existe, mas não pode duvidar que existe enquanto ser pensante, Descartes conclui que é essencialmente uma
substância pensante, isto é, uma mente ou alma imaterial, que existe independentemente do corpo e que é de
natureza inteiramente distinta do mesmo. Esta perspetiva ficou conhecida como “dualismo mente-corpo” (ou
“dualismo cartesiano”). Assim, enquanto não provarmos que o Génio Maligno não existe, a única coisa que
podemos saber é que existimos enquanto pensamento, ou res cogitans.

A importância do cogito no fundacionalismo cartesiano A importância do cogito no fundacionalismo cartesiano


é inquestionável, pois representa o triunfo sobre o ceticismo e constitui um modelo a seguir na busca de um
conhecimento seguro. Uma vez que o que torna o cogito uma crença tão evidente não é mais do que o seu elevado
grau de clareza e distinção, Descartes decide adotar estas características como Critério de Verdade. O argumento
subjacente a este critério de verdade é o seguinte: se não pudesse estar certo daquilo que concebo clara e
distintamente, então não poderia estar certo do cogito. Como o cogito é indubitável, posso estar certo daquilo que
concebo clara e distintamente.

Deus

Descartes apercebe-se de que tem na sua mente a ideia de Deus, ou Ser Perfeito e considera que provar que
Deus existe e não é enganador talvez seja a única forma de poder estar certo de muitas outras coisas para além da
sua existência enquanto pensamento, pois um criador supremo e sumamente bom não o teria criado de modo a
que nunca pudesse conhecer a verdade. Para provar que Deus existe, Descartes recorre, entre outros, ao
Argumento da Marca. Segundo este argumento, se o Ser Perfeito não existisse, eu não poderia ter a ideia de
perfeição, pois a causa dessa ideia tem de ser tão perfeita quanto ela e, visto que eu duvido e duvidar é menos
perfeito do que saber, eu não sou perfeito. Por conseguinte, para além de mim tem de existir um ser que é mais
perfeito do que eu e que é a verdadeira origem da minha ideia de perfeição.

A importância de Deus no fundacionalismo cartesiano Deus desempenha um papel fundamental no


fundacionalismo cartesiano, porque, uma vez que Deus existe e não é enganador, garante a verdade das nossas
ideias claras e distintas atuais e passadas.”.

O que resiste à dúvida? A existência do sujeito que duvida da realidade de todos os objetos. 1º princípio do
sistema do saber. Para haver conhecimento, este tem de ser construído a partir de verdades e não pode existir
nenhuma dúvida relativamente a este.

Verdades que se deduzem do 1º princípio:

A distinção alma-corpo:

O sujeito que de tudo duvida menos da sua existência, é uma substância pensante, puramente racional, que existe,
mesmo que a existência do seu corpo seja duvidosa.

A existência de Deus:

Um sujeito imperfeito que duvida e muitas coisas desconhece. Conclui que só um ser perfeito pode ser a origem da
ideia de perfeito. Deus existe necessariamente.

Descartes precisa de demonstrar a existência de um “Deus que não nos engana”, ou seja, de um Deus que traga
segurança e seja garantia das verdades, afastando qualquer ameaça de ceticismo.

“Dado que conheço perfeições que não possuo, tenho de aceitar a existência de um ser que seja a causa de mim e
da ideia que tenho Dele (Deus)”

Estabelecida a existência de Deus, a hipótese de um Deus enganador pode ser afastada.

1. Como Deus não é malévolo, seguramente não pretende enganar-nos.


2. Dado que as nossas ideias provêm de Deus, não podem deixar de ser verdadeiras na medida em que
foram claras e distintas.
3. A existência de Deus proporciona assim uma justificação para o critério das ideias claras e distintas,
Sabemos que aquilo que concebemos como claro e distinto é verdadeiro porque as nossas faculdades
foram criadas por Deus, que não é enganador.

Concluindo, admita a existência de Deus, Descartes aceita a existência do mundo material e a possibilidade de o
conhecer, desde que sejam acauteladas as seguintes condições:

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1. Partir de princípios existentes- ideias claras e distintas apreendidas por intuição.
2. Raciocinar dedutivamente

2º Aplica-se à crença na existência da realidade exterior

Descartes coloca outro fundamento do saber tradicional em causa, a convicção ou crença na existência da realidade
exterior (realidades físicas ou sensíveis).

Descartes inventa um argumento engenhoso que se baseia na impossibilidade de encontrar um critério


absolutamente confiante que nos permita distinguir o sonho da realidade: Há acontecimentos que vividos durante o
sonho, são vividos durante o sonho com tanta intensidade como quando estamos acordados. Como não há um
critério claro e distinto para distinguir o sonho da realidade, não podemos considerar a crença de que existem
realidades físicas verdadeira.

--Se assim é, não há maneira de distinguir o sonho da realidade, pode surgir a suspeita de que aquilo que é
considerado real não passa de um sonho.

3º Aplica-se ao conhecimento matemático

Coloca em causa aquilo que até então considerara o modelo do conhecimento verdadeiro. Para se poder duvidar
das proposições matemáticas há o argumento do Deus enganador.

Deus, que nos criou, criando ao mesmo tempo o nosso entendimento, sendo um ser omnipotente, pode fazer tudo,
até aquilo que nos parece incrível. Então, Deus ao criar entendimento, ao depositar nele as verdades matemáticas,
pode tê-lo criado ao avesso. Enquanto a hipótese do Deus enganador não for rejeitada não podemos ter a certeza
de que as mais elementares “verdades” matemáticas são realmente verdadeiras.

Como se justifica um juízo apodítico, como a matemática?

Raisons du coeur (Razões do coração) —É assim, porque sinto que é assim, eu vejo muito clara e distintamente.
Estes conhecimentos vêm de Deus.

· Primeiro princípio do sistema do saber (o que resiste à dúvida)

Para duvidarmos é necessário que exista um sujeito que duvide. A condição da possibilidade do ato de dúvida é a
existência do sujeito que pensa, logo a existência do sujeito que dúvida é uma verdade indubitável (não pode de
modo algum ser posta em causa).

“Penso, logo existo”, afirmação frequentemente sintetizada como “cogito” é uma afirmação evidente, ou seja, uma
afirmação clara e distinta obtida por intuição que vai funcionar como modelo de verdade.

Cogito ergo sum—Penso logo existo

Modalidades dos juízos:

Assertóricos- Fundamentados na ciência, de acordo com a experiência. Não é falso porque a experiência não o
contradiz (verdade, mas admite falsidade). Só é assertórico se o pudermos considerar como falso.

Apodíticos- É necessariamente verdadeira. Não é falso porque não pode ser falso (Se não o pudermos considerar
como falso, por exemplo 2+2=4 é impossível não ser verdade).

O que se concebe clara e distintamente é verdadeiro.

Estes conhecimentos vêm de Deus.

Resumos Net

Descartes, continuação

Duas Teorias Explicativas do conhecimento

Vimos que para conhecermos algo necessitamos da justificação. Portanto, crenças insuficientemente justificadas
não são conhecimento. Por isso, alguns filósofos defendem que não chegamos a conhecer o que quer que seja.
Chama-se Céticos a estes filósofos e Ceticismo a esta posição que defendem.

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Mas, muitos filósofos procuram mostrar, em oposição ao Ceticismo, como se estrutura a justificação das nossas
crenças.
Estas respostas são de dois tipos, que originam as duas grandes terias acerca da justificação: o Fundacionismo (ou
Fundacionalismo) .

O modo mais comum de justificar as nossas crenças consiste em apelar a outras crenças, por exemplo, “posso
morrer se der um mergulho após o almoço”. Tenho a crença de A e perguntam-me como sei que A. O mais provável
é apelar para uma outra crença, como B. Portanto, a grande parte da justificação de crenças consiste em inferir
umas crenças das outras.
Contudo, os céticos afirmam que este processo não funciona devido à sua regressão de causas ao infinito, vejamos
o exemplo:
Tenho a seguinte Crença: “Estou em França”. Mas, como poderei justificar de que estou em França? Com outra
crença. 2- “Estou em Paris”. Mas, os céticos dizem que temos também que justificar a crença 2. E, a justificação para
a crença 2 é: “Estou a ver a Torre Eiffel”. Mas, a crença 1 não está justificada enquanto eu não justificar também a
crença 3 (Estou a ver a Torre Eiffel).
O problema para os céticos seria um processo sem fim de justificações. Como os céticos diriam: estamos perante
uma regressão infinita da justificação.

Através da lógica formal, recorrendo ao Modus Tollens (argumento válido), ficaria o seguinte:
Se há conhecimento, as nossas crenças estão justificadas. (premissa 1)
Mas as nossas crenças não estão justificadas. (premissa 2)
Logo, não há conhecimento (conclusão)

Explicação deste argumento: Trata-se de um modus Tollens, portanto o argumento é válido. Só poderíamos
rejeitar a conclusão caso alguma das premissas fosse falsa. A primeira premissa é verdadeira. Mas a premissa 2,
precisa de defesa. Assim sendo, o argumento da regressão infinita usado pelos céticos serve para mostrar que a
premissa 2 é verdadeira.

Exemplo do Argumento da regressão ao infinito (válido)

1- Toda a justificação se infere de outras crenças.


2- Se toda a justificação se infere de outras crenças, então dá-se uma regressão infinita.
3 – Se há uma regressão infinita, as nossas crenças não estão justificadas.
Logo, as nossas crenças não estão justificadas.

A resposta Fundacionista

Os fundacionistas consideram que o argumento da regressão infinita da justificação (defendida pelos céticos)
tem, de facto, uma premissa falsa (premissa – toda a justificação se infere de outras crenças). Por isso, a conclusão
cética é obtida à custa de uma premissa falsa.

Para o Fundacionismo, há dois tipos de crenças: as básicas e as não básicas.

- Uma crença é básica se não é justificada por outras crenças. Estas crenças são evidentes e, por isso, não
necessitam de outras crenças para se justificarem (justificam-se a si mesmas). Sendo assim, são estas crenças que
constituem os fundamentos do conhecimento. Para os fundacionistas, o ceticismo é refutado através destas
crenças, o que já implica a tal regressão ao infinito para encontrarmos os fundamentos do conhecimento. O lema
do Fundacionismo é o seguinte: “Nem todas as crenças são suportadas por outras crenças. Há crenças básicas que
não precisam de quaisquer outras crenças que as suportem. Estas crenças são o suporte ou fundamento de todas as
outras crenças. Portanto, resta-nos saber quais são as crenças básicas. Por exemplo, os racionalistas como
Descartes, defendem que as crenças básicas são fornecidas pela razão (porque Descartes é racionalista). Ao
contrário destes, os empiristas defendem que as nossas crenças básicas são fornecidas pela experiência. É o caso
de David Hume.

- Uma crença é não básica se é justificada por outras crenças. Estas crenças são o resultado de inferências.

Apesar de existirem dois tipos de Fundacionismo, o Clássico (defende que as crenças básicas são fornecidas pela
experiência, defendido por David Hume (1711-1776) e Locke (1632- 1704) e o Fundaccionismo cartesiano ou do
filósofo Descartes que defende que as crenças básicas são fornecidas pela razão, vamos ficar por este último caso,
pois vamos estudar o filósofo Descartes (1596-1650).

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Quanto à origem do conhecimento existe o racionalismo e o empirismo. Descartes é racionalista pois defende
que todo o conhecimento verdadeiro tem origem apenas na razão.
O objetivo de Descartes é encontrar os fundamentos de todo o conhecimento, ou seja, as crenças básicas em
que se apoia o conhecimento. Descartes pretende mostrar que os céticos estão enganados, e que é possível
encontrar os fundamentos do conhecimento.

Descartes, para encontrar o fundamento do conhecimento, e para isso, propõe um método: a Dúvida Metódica,
que consiste em considerar como falsas todas as nossas crenças acerca das quais se possa levantar a mais pequena
dúvida. Portanto, este método tem como finalidade encontrar uma ou mais crenças indubitáveis (destas crenças
não se pode duvidar).

Se o método de Descartes funcionar, permitirá distinguir crenças tão sólidas que nem o mais radical dos céticos
poderá recusar.
Segundo Descartes estas crenças são as crenças básicas de que precisamos para justificar todo o conhecimento
(verdadeiro, claro).

Através da Dúvida metódica, Descartes procura as crenças fundacionais. No entanto há a salientar o seguinte: as
crenças fundacionais não podem levantar dúvidas, isto é, devem ser indubitáveis, mas não é necessário provar que
as crenças duvidosas sejam falsas (devem é ser afastadas). Também existe o problema de termos muitas crenças,
por isso, Descartes decide escolher, analisando apenas os princípios fundamentais de cada um dos domínios do
conhecimento (por exemplo, o conhecimento dos sentidos, o conhecimento do senso comum, etc.). No caso de
esses princípios mais centrais se revelarem falsos, então todas as crenças neles baseados terão de ser abandonadas.
Como veremos, as crenças a posteriori (baseadas na experiência) vão ser as primeiras a submeter-se ao Teste da
Dúvida metódica.

Descartes – A hipótese de génio Maligno

As crenças a posterior são as que justificamos através da experiência sensível, usando os nossos 5 sentidos. Por
exemplo, acreditamos que o céu é azul porque vemos o céu azul. Ora, os nossos olhos e outros sentidos enganam-
nos muitas vezes, como é o caso de ilusões óticas pois já nos fizeram tomar por verdadeiro aquilo que é falso. Por
isso, não podemos saber quando os sentidos nos enganam.

(A Dúvida metódica é provisória e não cética ou definitiva porque constitui uma estratégia para se chegar a um
primeiro princípio ou fundamento, a primeira verdade fundacional. Motivos para duvidar: 1- os sentidos. A
constatação dos enganos originados nos sentidos dá-nos o direito de pensarmos na possibilidade de muitos outros;
2- A indistinção entre vigília e sono. A mesma crença na realidade das nossas perceções encontra-se também
presente quando sonhamos e, no entanto, os sonhos não são reais; 3- O conhecimento vulgar ou do senso comum.
As opiniões alheias pela sua diversidade e contradição deixam-nos incertos; 4- O conhecimento exato da
matemática. A matemática não deixa de justificar a dúvida porque por vezes o matemático errou nas suas
demonstrações; 5- A existência de um génio maligno. Pode existir um qualquer ser, como um génio maligno
(malvado, mau) que nos fizesse acreditar na ilusão das verdades aparentemente simples da matemática, bem como
acerca de toda a realidade física.)

Se podemos duvidar das crenças a posteriori, é porque elas não podem servir de base para o conhecimento.
De seguida, Descartes submete ao teste da dúvida metódica às crenças a priori (as crenças que apenas podem ser
justificadas pelo pensamento ou razão). Vejamos: acredito que 3 X 2= 6 é uma crença a priori porque não necessito
da experiência, basta recorrer ao pensamento. Será que é possível estarmos enganados, neste caso?
É que quando se trata de possibilidades, a imaginação não deve ser esquecida. Assim Descartes imagina um génio
maligno, que nos engana sistematicamente. A hipótese do génio maligno é uma experiência mental através da qual
somos convidados a imaginar uma espécie de deus enganador que, sem o sabermos, manipula os nossos
pensamentos. Trata-se de um génio porque o seu poder é idêntico ao de um deus, mas não é um Deus porque
revela maldade ao enganar-nos.
Esse génio teria o poder de nos enganar, provocando em nós estados mentais e crenças que lhe apetecesse. O
génio maligno conseguiria fazer-nos pensar que são verdadeiras proposições que são falsas. Assim uma crença do
tipo 3 X 2= 6, que pensamos ser obviamente verdadeira, poderá afinal, ser falsa em resultado do poder desse génio
maligno.

Penso, logo existo

Descartes chama cogito à crença “Penso, logo existo”.


De forma semelhante,
“Duvido, logo existo” (disse Santo Agostinho).

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Descartes defende que o cogito é uma certeza que não se descobre por meio do raciocínio nem se infere de
coisa alguma. Trata-se de uma intuição; uma evidência que se impõe ao pensamento como absolutamente clara e
distinta.
É importante reafirmar o facto de Descartes falar na primeira pessoa. De facto, Descartes quer dizer “eu penso,
logo existo” e não “Descartes pensa, logo existe”. Só a primeira proposição passa o teste da dúvida. Cada um de nós
sabe sem dúvida possível que pensa, logo, existe, mas daí não se segue que possa saber o mesmo acerca de
qualquer outra coisa exista além de si. A crença “penso, logo existo” é uma certeza que nenhuma dúvida pode
abalar. É uma crença fundacional. Descartes afirma que essa crença é fundacional porque o cogito é uma ideia clara
e distinta. E uma ideia clara e distinta é uma ideia que se apresenta com tal evidência ao nosso espírito que não
podemos duvidar da sua verdade. Mas, a clareza e a distinção não é um critério baseado na experiência, isto é a
posteriori, por isso Descartes utiliza o termo conceber e não sentir ou ver que remeteria para a sensibilidade. De
seguida, irá procurar outras ideias que consiga conceber clara e distintamente. Há a dizer que as crenças
fundacionais segundo Descartes são sempre na primeira pessoa. Vejamos um exemplo: “está uma folha à minha
frente” não é uma crença fundacional porque posso estar alucinado ou a sonhar. Mas, “Parece-me que está uma
folha à minha frente” já é uma ideia clara e distinta porque é verdade que me parece que está uma folha à minha
frente, ainda que esteja alucinado e não haja nenhuma folha à minha frente. Esta última é uma crença fundacional
porque é na primeira pessoa, é acerca de mim, parece-me que ….”

Quais as consequências do “Penso, logo existo”?

Descartes refuta o ceticismo porque com esta crença fundacionista, com este primeiro princípio, com esta
primeira verdade, com esta primeira certeza, que é o modelo de todas as verdades e certezas inicia o que pretende,
mas já seguro. Assim, todo o pensamento que se apresente claro e distinto à razão deverá ser considerado
verdadeiro. Como matemático, além de filósofo, Descartes deduz de crenças fundacionistas outras crenças que
terão a marca da verdade, sendo também indubitáveis tal como a primeira da qual parte. Vejamos: se um
matemático partir de premissas corretas como teoremas, desse mesmo teorema deduz igualmente outras verdades
matemáticas. Certo? Também na lógica, se as nossas premissas forem verdadeiras e respeitarmos as regras logicas,
estamos necessariamente certos de que a conclusão é verdadeira.
Vamos analisar um pouco melhor a crença fundacionista: “Penso, logo existo”. Neste caso não se trata de uma
dedução ou raciocínio como seria: Todo o que pensa, existe. Eu penso. Logo, existo. Acontece que se trata antes de
um conhecimento imediato a que se chama intuição, e neste caso, trata-se de uma intuição racional ou intelectual
porque o que a fundamenta é a razão e não a experiência ou os sentidos. De facto, Descartes tanto duvida que
concluiu: se duvido, então existo. A existência do sujeito é condição necessária da dúvida porque apenas duvida
quem existe. Mas, trata-se da existência do “Eu” concreto de Descartes e não da de um “Eu abstrato”. Há, portanto,
uma existência acerca da qual não há dúvidas, a de Descartes. A apreensão da própria existência é uma intuição
com evidência imediata. É como se disséssemos que existimos enquanto pensamos e na medida em que pensamos.
A evidência aqui “provada” é a existência do pensamento porque o pensar é a atributo fundamental da alma (para
Descartes o Homem é composto por duas substâncias, alma (res cogitans ou coisa pensante) e matéria ou corpo
(res extensa ou coisa extensa). A alma tem como qualidade essencial o pensamento. Por isso, segundo ele, existem
várias faculdades no Homem (Entendimento que dá o conhecimento verdadeiro; Imaginação que origina ideias
factícias como seres fantásticos e não reais; sentidos que originam pensamentos confusos, não originando, por isso,
conhecimento verdadeiro, mas apenas prático (ideias adventícias)

Descartes era mecanicista porque para ele o corpo era uma espécie de máquina. Desse modo, Descartes
considerava que o corpo não poderia ser descrito biologicamente nem sentir o que quer que fosse. Por exemplo,
ele considerava que os movimentos dos músculos dependem dos nervos (que contém espíritos animais) que
partem do cérebro e que contém espíritos animais e a ação dos nervos e dos tais espíritos animais depende do calor
do coração, sendo que são esses espíritos animais os possibilitadores do movimento, pois circulam pelo corpo.
Como o corpo não pode sentir, as sensações são definidas como modos confusos de pensar. Então, para Descartes
como são possíveis as sensações? No caso, por exemplo, da sensação de dor. Esta sensação é possibilitada pelos
nervos que vão até ao cérebro e que quando “puxados”, provocam um certo movimento e é deste modo que a
alma é afetada pela dor, isto é, é a alma que sente as dores, daí, as sensações serem pensamentos confusos, nunca
verdadeiros. Assim, Descartes defendia que a alma não é afetada imediatamente pelo corpo, mas pelo cérebro,
através da glândula pineal (que atualmente se sabe que é a hipófise, que se encontra no centro do cérebro e atua
com outras estruturas cerebrais como o tálamo, etc.). Portanto, corpo (matéria divisível) apenas se relaciona com a
alma (indivisível e incorpórea) através da tal glândula Pineal (a hipófise). Mas, nunca Descartes nos esclareceu de
que modo algo imaterial como a alma se pode relacionar com o corpo material. Aliás, vocês já devem ter
compreendido, as enormes confusões que Descartes fez em temos científicos.

Adaptações de Desidério Murcho

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É de não esquecermos que é Deus, o fundamento último de todo o sistema filosófico de Descartes, apesar do 1º
princípio de que parte ser o “Cogito”. Assim sendo, a objetividade das ideias humanas (estas não serem ilusões) é
garantida pela existência de Deus. Descartes, precisa por isso de provar a existência de Deus através da razão,
elaborando alguns argumentos, que são falaciosos ou criticáveis.

Prova da Existência de Deus

    Vimos já como Descartes, pela aplicação da dúvida metódica, assumiu a existência do cogito, isto é, da
sua existência como ser pensante. Contudo, levantava-se a questão de existência do mundo que o
rodeava. A negação do valor dos sentidos como meio de acesso ao conhecimento verdadeiro colocava-
o, de facto, perante a situação de ter que duvidar da existência da árvore que estava naquele momento
a ver.

    Descartes aceitava que o mundo tivesse sido criado por Deus, aceitava que, se Deus existisse, ele seria
garantia e suporte de todas as outras verdades. Mas, como saber se Deus existe ou não? Como provar a
sua existência se apenas podia ter a certeza da existência do cogito?

     Nas suas obras, Descartes apresentou três provas da existência de Deus.

1ª Prova a priori pela simples consideração da ideia de ser perfeito

    “Dado que, no nosso conceito de Deus, está contida a existência, é corretamente que se conclui que
Deus existe.
    Considerando, portanto, entre as diversas ideias que uma é a do ente sumamente inteligente,
sumamente potente e sumamente perfeito, a qual é, de longe, a principal de todas, reconhecemos nela
a existência, não apenas como possível e contingente, como acontece nas ideias de todas as outras
coisas que percecionamos distintamente, mas como totalmente necessária e eterna. E, da mesma forma
que, por exemplo, percebemos que na ideia de triângulo está necessariamente contido que os seus três
ângulos iguais são iguais a dois ângulos retos, assim, pela simples perceção de que a existência
necessária e eterna está contida na ideia do ser sumamente perfeito, devemos concluir sem
ambiguidade que o ente sumamente perfeito existe.”

Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 61-62.

    A prova é magistralmente simples. Ela consiste em mostrar que, porque existe em nós a simples ideia
de um ser perfeito e infinito, daí resulta que esse ser necessariamente tem que existir.

2ª Prova a posteriori pela causalidade das ideias

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    Descartes conclui que Deus existe pelo facto de a sua ideia existir em nós. Uma das passagens onde
ele exprime melhor esta ideia é:

    “Assim, dado que temos em nós a ideia de Deus ou do ser supremo, com razão podemos examinar a
causa por que a temos; e encontraremos nela tanta imensidade que por isso nos certificamos
absolutamente de que ela só pode ter sido posta em nós por um ser em que exista efetivamente a
plenitude de todas as perfeições, ou seja, por um Deus realmente existente. Com efeito, pela luz natural
é evidente não só que do nada, nada se faz, mas também que não se produz o que é mais perfeito pelo
que é menos perfeito, como causa eficiente e total; e, ainda, que não pode haver em nós a ideia ou
imagem de alguma coisa da qual não exista algures, seja em nós, seja fora de nós, algum arquétipo que
contenha a coisa e todas as suas perfeições. E porque de modo nenhum encontramos em nós aquelas
supremas perfeições cuja ideia possuímos, disso concluímos corretamente que elas existem, ou
certamente existiram alguma vez, em algum ser diferente de nós, a saber, em Deus; do que se segue

Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 64

    A prova consiste agora em mostrar que, porque possuímos a ideia de Deus como ser perfeitíssimo,
somos levados a concluir que esse ser efetivamente existe como causa da nossa ideia da sua perfeição.
De facto, como poderíamos nós ter a ideia de perfeição, se somos seres imperfeitos? Como poderia o
menos perfeito ser causa do mais perfeito?

    Deste modo, conclui, já que nenhum homem possui tais perfeições, deve existir algum ser perfeito
que é a causa dessa nossa ideia de perfeição. Esse ser é Deus.

 ttps://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/seminario/descartes/existenciadedeus.htm

Críticas:
Argumento circular
Como sabes que Deus existe?
Sei que Deus existe porque percebo clara e distintamente que um ser sumamente perfeito tem de
existir.
Mas como sabes que tudo aquilo que percebes clara e distintamente é verdade?
Como Deus não é enganador as minhas perceções claras e distintas não podem ser falsas.
Pois… mas então tenho de te perguntar outra vez: como sabes que Deus existe?
Justifica a proposição de que Deus existe a partir do seu critério de verdade
E
Justifica o seu critério de verdade a partir da proposição de que Deus existe.

J. Caterus Teológo
Afirma que Descartes parte da definição do conceito de perfeição para a sua existência. Dizer que
sumamente perfeito significa entre outras coisas que existe não se está a falar da existência real, mas
apenas do significado do termo.

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