Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
conduzir ao ceticismo, lançando Descartes “num remoinho de águas profundas”, no fim permite descobrir
uma “base sólida” que o traz “até à superfície”.
ILUSÕES ÓTICAS
Os argumentos contra a experiência são vários e provam o caráter enganador das sensações.
Descartes dá o exemplo da vara e do sol. No caso da vara, acontece que quando esta é mergulhada na
água, ela parece partida, mas não está. O mesmo acontece no caso do sol, que nos é representado como
um corpo muito menor do que a Terra, quando na realidade é várias vezes maior do que a Terra. Estes
2
factos mostram bem como nem quando estamos acordados podemos confiar naquilo que vemos.
Efetivamente, e como hoje mostram os estudos na área da psicologia cognitiva e da neurociência, a
perceção sensorial não corresponde ao real, devendo ser encarada como uma construção subjetiva
condicionada pelo sistema fisiológico sensorial, pelas emoções, pelas espectativas de cada sujeito, pelos
valores e cultura, etc. É por esta razão que Descartes afirma que não devemos dar crédito ao instinto
natural que nos leva a acreditar nas sensações, e que só devíamos confiar na luz natural da razão (ver 3ª
Meditação)
SONHOS
Um outro argumento contra a fiabilidade das sensações é-nos apresentado recorrendo ao exemplo
dos sonhos, cujas sensações podem ser muito enganadoras. Ao invocar os sonhos, Descartes quer
argumentar que se as sensações dos sonhos não se distinguem das da vigília, não há razão para não
duvidar da veracidade do que vemos quando estamos acordados, chegando mesmo a afirmar a
possibilidade das nossas perceções serem todas um sonho
Contudo, ao comparar as sensações da vigília às sensações dos sonhos, Descartes não está a
querer dizer que as sensações não possuem qualquer grau de realidade, pois os sonhos são construções
que tem a realidade por base. É neste sentido que Descartes afirma que as sensações devem ser
consideradas quadros da realidade, comparando as sensações a quadros e a mente a um pintor.
3
Mas o racionalismo cartesiano é DOGMÁTICO, uma vez que defende que o conhecimento obtido
racionalmente é necessariamente verdadeiro. Assim, a ciência cartesiana deve ser vista como uma
árvore: nas raízes temos os princípios, fornecidos pela metafísica, no tronco a física, deduzida dos
princípios, e nos ramos a medicina, a mecânica e a moral, deduzidas da física.
4
DEUS: A certeza da existência de Deus é o segundo princípio do sistema cartesiano e é deduzida a
partir de várias premissas considerados indubitáveis. Este princípio afirma a existência de Deus, substância
infinita (res divina), entendida como substância sumamente inteligente e boa, pela qual tudo foi criado. Na
medida em que o princípio é deduzido, a sua verdade é demonstrada.
Para demonstrar a existência de Deus, Descartes começa pela constatação que o cogito, enquanto
substância que duvida e quer conhecer, só pode ser finito e imperfeito, uma vez que se fosse maximamente
perfeito ter-se-ia criado a si mesmo com todas as perfeições possíveis. Da finitude do cogito conclui-se que
se nos vemos finitos/imperfeitos é porque temos em nós a ideia de infinito/perfeito. Como tudo o que existe
tem que ter uma causa e esta tem que ser igual ou superior ao efeito, conclui-se forçosamente que a ideia
inata de infinito teve uma causa e que essa causa não pode ser o homem* – ser finito -, mas o próprio ser
infinito, isto é, Deus.
*NOTA: Descartes não nega a possibilidade do homem poder conceber pela imaginação a noção de infinito, mas
defende que neste caso a ideia já não é simples, mas complexa, ou seja, a partir de finito a imaginação pode conceber,
por negação, a ideia de NÃO-FINITO, mas nunca a ideia simples de “infinito”. Assim, Descartes admite que existem 2
ideias de Deus: uma produzida pela imaginação (factícia) e complexa, derivada da ideia de finito, que
corresponde à noção de “não-finito, e outra colocada por Deus, simples e inata, anterior à ideia de finito e
que corresponde à noção matemática de “infinito”.
5
Deus existe e é sumamente bom, as ideias simples e gerais que foram colocadas por ele para que delas
pudéssemos deduzir o conhecimento, têm que ser necessariamente verdadeiras. Isto significa que Deus é o
garante da sabedoria humana.
NOTAS SOLTAS
O CRITÉRIO CARTESIANO DE VERDADE: clareza e distinção
O critério cartesiano de verdade é um critério racionalista para distinguir o verdadeiro do falso.
Segundo este critério, é verdadeiro aquilo que parece CLARO E DISTINTO à razão, isto é, o que é
logicamente necessário. Por logicamente necessário entende-se toda a proposição cuja negação é uma
contradição.
Assim, por exemplo, a ideia de “cogito” é verdadeira, porque é claro e distinto que para duvidar é
preciso existir; do mesmo modo que é claro e distinto que H2=h2+h2 ou ainda que 3+2=7-2. A clareza e
distinção das ideias pode ser imediata, como acontece no caso da ideia do cogito, que é intuída, ou mediata
e deduzida, como acontece no caso do teorema de Pitágoras ou na identidade de 3+2 e 7-2.