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Origem do Conhecimento

Conhecer – Dominar as características de uma situação,


acreditando que é possível explicar uma realidade tal como ela é.
Durante toda a história da filosofia surgiram duas sobre a origem
do conhecimento: o racionalismo e empirismo.

O racionalismo defende que a fonte do conhecimento é a razão


porque só a razão apresenta conhecimentos claros e distintos, os
quais preenchem duas características. universalidade (pois são
iguais em qualquer situação) e necessidade (porque não podem ser
de outra maneira).
O racionalismo ao defender ideias inatas atribui-lhe dois
conceitos: clareza e distinção. Clareza porque a ideia se apresenta
ao espírito ou à razão sem qualquer dúvida. Distinção porque a
ideia se apresenta diferente de qualquer outra. Se a razão não
pensar a ideia com estas duas características não é inata.
O conhecimento resulta de um encadeamento de ideias em que
é sempre criada uma conclusão a partir de uma ideia original.
Exemplo: Se eu pensar muna ideia (Deus) penso ao mesmo tempo
características que lhe são inerentes, ou seja, deduzo da primeira
ideia outras ideias que estão de acordo com a primeira ideia.
A realidade é aquilo que eu penso que ela é e não aquilo que
ela é em si mesma. Logo, a realidade só existe se eu a pensar.

O empirismo defende que a fonte da razão é a experiência. Não


nega a existência de ideias inatas, acontece é que elas não têm
qualquer validade. Por isso, efetivamente não existem, para existir
uma ideia é necessário que exista uma impressão correspondente.
Qualquer ideia simples ou complexa (a rosa e o seu cheiro) resulta
sempre de uma impressão ou de experiência. A razão nasce como
uma folha em branco na qual a experiência vai marcando
caracteres.
Assim, o empirismo é limitado por duas características:
extensão porque se limita à experiência e certeza porque só
compreendemos os conhecimentos que podem ser experimentados.

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Racionalismo Empirismo

O racionalismo é
uma teoria filosófica
que se baseia na O empirismo é uma
afirmação de que a teoria filosófica baseada
razão é a fonte do na ideia de que a
conhecimento experiência é a fonte do
Definição humano. conhecimento.

Acreditam em
Intuição intuição. Não acreditam.

Indivíduos têm
conhecimentos Indivíduos não possuem
Ideias inatas inatos. conhecimentos inatos.

O conhecimento é O conhecimento é
De onde vem o baseado no uso da baseado na experiência
conhecimento razão e da lógica. e experimentação.

Dedução,
Princípios- conhecimento inato Indução e experiências
chave e razão. sensoriais.

Platão, Descartes,
Teóricos Leibniz e Noam
Chomsky. Locke, Berkeley e Hume.

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Possibilidade do conhecimento

Existem duas teorias acerca da possibilidade do conhecimento:


dogmatismo e ceticismo.

O dogmatismo defende que o sujeito conhece o objeto de um


modo absoluto não percebendo que o conhecimento é uma relação
limitada entre sujeito e objeto. Quando não percebe a limitação
desta relação acredita que os objetos são conhecidos na sua
totalidade. Este dogmatismo não deve existir na filosofia porque a
filosofia faz um exame crítico de qualquer conhecimento fornecido
pelos sentidos. O dogmatismo considera que é possível chegar à
certeza e à verdade não possuindo espírito crítico e a crítica prévia
deve por sempre em causa qualquer conhecimento principalmente
o conhecimento crítico.
O dogmatismo é a atitude filosófica que parte da aceitação da
existência de uma verdade, no sentido corrente, é uma atitude pela
qual nos ligamos a um dogma ponto de doutrina estabelecido por
autoridade) de maneira passiva. É uma atitude passiva, na medida
em que aceita o que vê tal como é e parte da aceitação das coisas
tal como nos são apresentadas, de forma acrítica.

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Em filosofia, dogmatismo é doutrina que defende que o homem
é capaz de alcançar verdades, certezas absolutas, não dando
importância aos factos ou argumentos que possam pôr em dúvida
este princípio.
O dogmatismo ingénuo é aquele que acredita que é possível
conhecer a realidade tal como ela é sem colocar o problema de que
o conhecimento é uma relação entre sujeito e objeto. É um
dogmatismo que não critica as informações dadas pelos sentidos.
Desde a Antiguidade existem filósofos dogmáticos,
como Parmênides, Platão e Aristóteles são filósofos dogmáticos.

O ceticismo nega qualquer tipo de conhecimento porque o


sujeito consegue conhecer de um modo rigoroso o objeto.
O ceticismo parte do pressuposto que não aceita a possibilidade
de o ser humano alcançar a verdade (certezas). Pode também ser
considerado, a doutrina, segundo qual pratica a dúvida e a
indagação. O termo ceticismo deriva do grego e significa “
investigação“, “reflecção” e “dúvida“. Ceticismo é portanto uma
atitude de dúvida e de desconfiança face às nossas possibilidades
de conhecer a verdade.
De acordo com os céticos não se pode conhecer o real em si
mesmo (a realidade é incognoscível), portanto é necessário
suspender os juízos sobre este e reduzi-lo ao plano
fenomenológico, apenas à descrição. O ceticismo é assim uma
oposição ao dogmatismo.

Existem dois tipos de ceticismo: absoluto ou radical e


mitigado ou moderado

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O ceticismo absoluto ou radical nega qualquer tipo de
conhecimento porque o sujeito nunca conhece o objeto. O fundador
desta corrente chama-se Pirro, daí muitas vezes usar-se o nome
ceticismo Pirrónico – significa que não há justificação suficiente
para as crenças. Assim sendo, como tudo conduz à dúvida, deve-se
suspender o juízo.
O ceticismo radical desconfia de tudo, e não confia em
nenhuma afirmação, tudo pode ser falso, e nada pode ser
verdadeiro. Assim, é preciso desenvolver um método investigativo
mais profundo, que deve ser testado não somente uma vez, como

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várias vezes. O ceticismo radical pode ser prejudicial, ao passo que
pode não chegar a uma conclusão.

O ceticismo mitigado ou moderado estabelece não a


impossibilidade do conhecimento mas a impossibilidade de um
conhecimento rigoroso. Não se pode afirmar que um juízo é ou não
verdadeiro mas que é apenas provável. O ceticismo tem em si uma
contradição: ao afirmar que não existe conhecimento está a
exprimir um conhecimento, isto é, significa que ao mesmo tempo
que nega a sua possibilidade está a afirmar um conhecimento. O
conhecimento mitigado defende a probabilidade e não a verdade do
conhecimento. No entanto conceito de probabilidade pressupõe o
de verdade porque o provável é aquilo que se aproxima do
verdadeiro. Se defende que não era verdade também não pode
haver probabilidade.
O ceticismo moderado tem como base algumas afirmações que
considera que podem ser verdadeiras. Mas também desenvolve um
método investigativo profundo. Contudo, consegue chegar a uma
conclusão sobre o objeto investigado com maior facilidade.

O ceticismo tem uma importância no desenvolvimento


intelectual porque ao adotar-se uma postura cética perante um
problema, procede-se de uma maneira mais cautelosa na
compreensão desse problema. Isto leva ao inconformismo que
procura sempre novas soluções. Cria também um espírito crítico e
autónomo de modo a purificar a verdade.

O Racionalismo de Descartes

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No século XVII surgiu na Europa a ideia de que os
conhecimentos obtidos durante a idade média eram falsos porque
nunca tinham sido submetidos a qualquer crítica racional. Eram
verdades aceites porque eram fundamentadas em duas
autoridades: Aristóteles e a Religião.
Neste sentido, Descartes pretende fundar uma nova filosofia
baseada na Razão e que garantisse conhecimentos que não
pudessem ser postos em causa.

A sua filosofia apresenta cinco pontos:


1 - Método
2 - Dúvida
3 - Cogito
4 - Existência de Deus
5 - Teoria do erro e as três substâncias

1- Em relação ao método segue-se a Teoria matemática


porque só aquilo que é matemático apresenta um carácter
evidente. O método segue quatro regras:
evidência - que consiste em nunca aceitar como verdadeira
uma coisa que a razão não entenda como evidente. Significa que
qualquer coisa que seja duvidosa deve ser rejeitada.
análise – que consiste em dividir cada conhecimento em
partes até ao máximo possível para melhor compreender. Só passa
de uma parte a outra quando a anterior for compreendida.
síntese – que consiste em conduzir por ordem o pensamento
dos objetos, começando pelos mais simples e mais fáceis de
conhecer para passar para os mais complexos, porque existe uma
ordem entre eles.
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enumeração ou revisão – que consiste em fazer revisões tão
completas que se tenha a certeza de nada esquecer.

Estas quatro regras levam a duas operações da razão: a


intuição e a dedução.
Pela intuição adquirem-se direta e imediatamente as noções
mais simples, evidentes e indubitáveis ( por exemplo: a noção de
quadrado).
A dedução resulta do encadeamento de intuições que ao
relacionar as intuições parte de princípios evidentes até às
consequências necessárias. Por exemplo ao intuir um quadrado
deduz-se que só pode ter quatro lados e quatro ângulos retos e que
não se pode confundir com qualquer outra figura geométrica.

2- A segunda característica do pensamento Cartesiano é a


dúvida. A dúvida tem como objetivo por em causa todas as
crenças que sejam minimamente incertas. Fica fora da dúvida a fé
e a revelação divina. A dúvida é posta ao serviço da verdade,
colocando tudo em causa para encontrar princípios fundamentais e
indubitáveis. A dúvida existe por cinco razões:
- primeiro por pôr em causa os preconceitos adquiridos sem
fundamento na infância
- segundo porque os sentidos enganam e não se pode confiar
naquilo que engana mesmo que seja uma só vez

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- terceiro porque não conseguimos distinguir o estar acordado
do estar a dormir e, por isso, a realidade pode ser uma ilusão
- quarto porque alguns seres humanos enganam-se nas
demonstrações matemáticas
- e por fim, porque pode existir um Deus enganador que nos
ilude a respeito da verdade fazendo com que estejamos sempre
enganados. Este Deus enganador só será destruído quando for
provada a existência de Deus.

A dúvida tem três características :


- metódica e provisória – é usada como método para chegar
à verdade e é abandonada quando esta é encontrada
- hiperbólica – rejeita como se fosse falsa qualquer
conhecimento duvidoso
- radical – põe em causa todo o conhecimento, indo até às
suas raízes

3- A terceira característica do pensamento Cartesiano é o


cogito.
Descartes ao ter consciência de que duvida também tem
consciência de que é alguma coisa que pensa, enquanto ser que
pensa e que duvida tem consciência da sua existência. Mesmo que
exista um ser maligno nunca o pode enganar, se ele pensar que é
uma que existe, por isso, o pensamento confirma a existência
(penso, logo existo).
É uma afirmação evidente e indubitável obtida por intuição, a
priori, e que servirá de base a todas as afirmações verdadeiras. O
cogito é, assim, o critério de verdade que consiste na sua clareza e
distinção. A clareza diz respeito à presença da ideia do espírito e a
distinção diz respeito à separação de uma ideia em relação às
outras. Portanto, há pelo menos uma certeza de que não posso
duvidar: a minha própria existência. Deste modo, a natureza do
sujeito consiste no pensamento.
O pensamento de Descartes surgiu da dúvida absoluta. O
filósofo francês queria chegar ao conhecimento absoluto e, para tal,
era preciso duvidar de tudo o que já estava posto.
A única coisa que ele não podia duvidar era da própria dúvida
e, consequentemente, do seu pensamento. Assim surgiu a máxima
do Penso, logo existo. Se eu duvido de tudo, o meu pensamento
existe e, se ele existe, eu também existo.
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Provas da existência de Deus

As ideias podem ser de três tipos:


- adventícias, que têm origem na cultura, aquelas que nos
chegam a partir dos sentidos.
- factícias – que têm origem na imaginação, são provenientes
da nossa imaginação, uma combinação de imagens fornecidas pelos
sentidos e retidas na memória cuja combinação nos permite
representar (imaginar) coisas que nunca vimos. 
- inatas – são claras e distintas, entre as quais se encontra a
ideia de ser perfeito. A ideia de ser perfeito serve de ponto de
partida para as provas da existência de Deus.
Estas ideias nascidas connosco, são como que a marca do
criador no ser criado à sua imagem e semelhança.
    Estas ideias inatas, claras e distintas, não são inventadas por
nós mas produzidas pelo entendimento sem recurso à experiência.
Elas subsistem no nosso ser, em algum lugar profundo da nossa
mente, e somos nós que temos liberdade de as pensar ou não.
Representam as essências verdadeiras, imutáveis e eternas, razão
pela qual servem de fundamento a todo o saber científico.

1ª prova – na ideia de ser perfeito estão contidas todas as


perfeições. A existência é uma delas, ou seja, o facto de existir é
inerente à ideia de Deus, de tal modo que, se Deus é pensado
como perfeito, não pode ser pensado como não existente. Este
argumento chama-se ontológico.
2ª prova – parte da ideia de ser perfeito que está no espírito
humano e que não pode ser causada pelo sujeito pensante porque
este sendo finito não pode ser a causa do infinito. Se a ideia de ser
perfeito está no espírito humano é porque o ser que possui essa
ideia a colocou lá. Filosoficamente o menos não cria o mais. É o
próprio ser perfeito a causa originária da ideia de perfeição. A este
argumento chama-se marca impressa.
3º prova – baseia-se no princípio da causalidade: pergunta-se
qual é a causa da existência do homem. Essa causa não é o próprio
homem, porque se o fosse e podendo ter dado a si mesmo a
perfeição não faz sentido tê-la atribuído a outro ser. O sujeito
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pensante não se conserva a si mesmo, por isso, precisa de um ser
que o conserve e que seja princípio de toda a realidade.

A teoria do erro e das três substâncias

O erro só existe por causa de a vontade dar consentimento a


juízos que não são claros e evidentes usando mal a liberdade.
Portanto, quando não se compreende uma coisa não se deve
acertar a sua verdade.
Existem três tipos de substâncias que são claras e evidentes e
que podem ser pensadas:
- 1ª substância pensante – o atributo é o pensamento
- 2ª substância pensante – o atributo é a matéria/extensão
- 3ª substância pensante – o atributo é a perfeição
As principais ideias ideias verdadeiras das quais são deduzidas
as restantes são: pensamento, Deus e matéria.
O pensamento Cartesiano está sujeito a um círculo Cartesiano:
por um lado é o facto de ser clara e distinta a ideia que temos de
Deus que nos garante a verdade de que Deus existe; por outro lado
só Deus pode garantir a verdade e a objetividade das ideias claras
e distintas incluindo a ideia do próprio Deus.

O empirismo de David Hume


Elementos do Conhecimento

O conhecimento no empirismo resulta sempre da impressão, da


experiência. Nega a existência válida de ideias inatas. Os elementos
do conhecimento em Hume são as impressões e as ideias. As
impressões são o contacto experimental que o ser humano tem
com o mundo exterior. As ideias são representações das
impressões. As impressões são mais marcantes, mais vivas do que
os pensamentos, ideias. Por exemplo, uma impressão é uma dor de
dentes, uma ideia é a lembrança dessa dor. Portanto as ideias
derivam das impressões, não há ideias que não tenham tido uma
impressão prévia.
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Todo o conhecimento deriva da experiência. A mente é, á
partida, uma tábua rasa. Não existem ideias inatas.

As ideias podem ser simples ou complexas, as simples não


admitem qualquer divisão e as complexas podem ser dividas em
partes. O critério para distinguir uma ideia verdadeira de uma
ficção é a existência de uma impressão que lhe corresponda.

Tipos ou modos de conhecimento em Hume

Os tipos ou modos de conhecimento são:


- relações de ideias
- questões de facto
As relações de ideias têm um carácter evidente, são
proposições necessárias baseando-se no princípio da contradição
(nega-los implica entrar em contradição). São conhecimentos deste
tipo as proposições matemáticas e todos os conhecimentos dos
quais não pode haver qualquer oposição. Por exemplo: o todo é
maior do que cada uma das partes. As relações de ideias são
sempre verdadeiras e necessárias enquanto que as questões de
facto são contingentes porque podem ser verdadeiras ou falsas e
nega-las não implica contradição. Afirmar a existência de um facto
e afirmar o seu contraditório é equivalente. Por exemplo, dizer que
o sol não vai nascer amanhã, nada nos garante que isso seja
impossível, ou seja, não é contraditório pensar uma coisa e o seu
contrário. O mesmo não acontece com as equações matemáticas.
As relações de ideias são conhecimentos a priori (anteriores e
independentes da experiência) e puramente racionais; a sua
verdade é logicamente necessária (é assim e não pode ser de outro
modo, sob pena de autocontradição) e delas podemos ter a certeza
absoluta; baseiam-se no raciocínio dedutivo. As verdades da lógica,
da matemática e da geometria são relações de ideias. Apesar de
seguras, as relações de ideias não nos dão qualquer informação
sobre o que se passa no mundo.
As questões de facto são conhecimentos a posteriori
(adquiridos através da experiência); a sua verdade é logicamente
contingente (è assim, mas pode ser de um outro modo, sem risco
de contradição) e delas nunca podemos ter certeza absoluta;
baseiam-se no raciocínio indutivo. Os conhecimentos das ciências
naturais e das ciências humanas são questões de facto. Só as
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questões de facto nos dizem como são e como acontecem as coisas
no mundo.

Causalidade e conexão necessária

As nossas ideias baseiam-se em três princípios que permitem


associá-las:
- semelhança – as ideias remetem para outras ideias originais,
um rosto desenhado remete para o original;
- contiguidade no tempo e no espaço – as ideias estão sempre
relacionadas no tempo e no espaço em que uma lava a outra, por
exemplo, a sala de aula remete para alunos, cadeiras, professores;
- causalidade – as ideias relacionam-se com causa-efeito, por
exemplo, se puser uma panela ao lume com água espera-se que
ela ferve.
Na relação causa-efeito baseiam-se os nossos raciocínios
acerca dos factos porque é com base nas impressões causadas
pelos factos que conhecemos a relação causa-efeito. O que significa
que só temos conhecimentos relativos a impressões ou factos
passados. Não temos conhecimentos de factos futuros, porque no
futuro tudo é contingente, ou seja, esperamos que no futuro aquilo
que aconteceu no passado mas não é uma necessidade absoluta ou
uma conexão necessária. Quer dizer que se acredita que um efeito
resulta de uma causa mas a conexão necessária entre causa e
efeito, no futuro não é claramente percecionada. A única coisa que
percebemos é que entre dois fenómenos se verifica uma conjunção
constante (um deles ocorre sempre a seguir ao outro). Isto leva-
nos a pensar que há uma conexão necessária, o que é um erro para
Hume. Assim, o nosso conhecimento acerca dos factos futuros não
é rigoroso, trata-se apenas de uma probabilidade. Isto não significa
que no futuro o fogo não queimará, mas essa ideia baseia-se
apenas num fundamento psicológico que é o hábito ou o costume.
É o hábito pelo qual vemos um facto suceder ao outro, que nos leva
a supor que será sempre assim.

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O eu, o mundo e Deus

As três substâncias a que Descartes tinha chegado como


verdadeiras porque eram claras e evidentes, vão ser negadas por
Hume.
Em relação ao “Eu” que era para Descartes uma intuição
imediata e que permanecia imutável e indiferente das emoções e
dos actos psíquicos é negado por Hume porque só temos ideias das
impressões e entre elas verifica-se a mutabilidade. Portanto, não
faz sentido existir uma substância diferente das outras e
independente das impressões. Em relação ao “Mundo” as
impressões são a única realidade da qual temos uma certeza.
Portanto, o mundo, que cria as impressões, está interligado com
elas. Portanto, não há um mundo exterior independente das
impressões. Afirmar a existência de uma realidade que seja a causa
das nossas impressões e ao mesmo tempo distinto delas não faz
sentido pois não temos impressão de tal realidade. Em relação a
“Deus”: se podemos conceber uma realidade que existe e que não
existe não faz sentido porque ou é ou não é. Além disso, um ser
que à partida está provado sem qualquer recorrência às impressões
não tem sentido porque só temos impressões e conhecimentos à
posterior. Também as causas que provam em descartes a
experiência de Deus são criticadas por Hume uma vez que Deus
não é objeto de qualquer impressão. Portanto a ideia de Deus
resulta de uma construção mental em que se atribui a esse Deus as
qualidades de bondade, sabedoria omnipotência, etc.

Conclusão de Hume

A filosofia de Hume tem duas consequências: fenomenismo e


ceticismo.
No fenomenismo só conhecemos as perceções que se reduzem
aos fenómenos. Um fenómeno é aquilo que aparece ou que é
exterior (percebido pela razão).
O ceticismo, ou seja, a negação das realidades transcendentes
é um facto, porque elas necessitam de fundamentação. Como só se
encontra fundamento para os fenómenos (coisas empíricas) as
realidades metafísicas não têm fundamento. Portanto, o ceticismo é
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relativo às teorias metafísicas e é um ceticismo moderado porque
as nossas capacidades cognitivas são limitadas e temos queda para
o erro que significa que podemos estar a errar ao falar das
realidades metafísicas. Além disso, não podemos duvidar de tudo
porque seriamos céticos radicais e a vida era sem sentido.

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Comparação entre Descartes e Hume

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Na perpectiva metafísica:
Descartes – Deus é o fundamento do ser e do conhecimento
Hume – Não se pode afirmar a existência de qualquer fundamento
metafísico do conhecimento, logo não temos impressões de Deus

René Descartes David Hume


La Haye en Touraine Edimburgo
31 de março de 1596 7 de maio de 1711
11 de fevereiro de 1650 25 de agosto 1776
 

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Ciência e Construção

Uma das características da ciência é o seu caráter metodológico


que permite distinguir aquilo que é científico daquilo que não é. A
esta separação chama-se problema da demarcação. A demarcação
consegue-se através do método indutivista da ciência. O método
indutivista segue três operações:

1ª Observação dos fenómenos, que deve ser neutra e


imparcial. Tudo deve ser registado com rigor
2ª Experimentação ou descoberta da relação entre os
fenómenos, ou seja, procurar relações entre os fenómenos
nomeadamente a relação causa-efeito
3ª Generalização da relação ou lei, a hipótese, depois de
testada, se for confirmada, passa a lei científica. Na base deste
problema está a indução, da qual a científica, depois de verificar
uma relação de causa-efeito legitima essa relação tornando-a em
lei científica

O método indutivista segue o critério da verificabilidade, ou


seja, as hipóteses apresentadas devem ser verificadas para concluir
se são ou não científicas. Portanto, a verificação experimental é o
critério para distinguir o que é científico do que não é. O método
indutivista está reduzido apenas as questões que têm
materialidade. Para resolver o problema da verificação universal,
que é impossível, os cientistas indutivistas afirmam que basta
confirmar com alguma probabilidade a teoria.

Críticas ao indutivismo

1- A observação não pode ser o ponto de partida do método


científico porque nunca é feita de um modo neutro e, por isso, o
contexto em que é feita interfere no resultado da ciência. Significa
que o contexto, os valores do cientista, os objetivos da ciência, etc.
influenciam o resultado.
2- O raciocínio indutivo não atribui rigor lógico às teorias
científicas porque aquilo que é válido nas circunstâncias observadas
pode não ser válido em todas as circunstâncias. Como a indução
exige um salto das observações particulares para conclusões
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gerais, pode ou não ser válida porque a totalidade pode não ser
adequar.

Problema da indução

Hume fala do problema da indução defendendo que recorremos


à experiência porque há uma igualdade no modo como os
fenómenos ocorrem. Só que esta ocorrência por qualquer
necessidade lógica. A única ligação que nós temos entre os
fenómenos é apenas por hábito, uma vez que os vemos acontecer
uns a seguir aos outros. Neste sentido, a indução é apenas uma
crença na qual os factos se repetem da mesma maneira.
O problema da causalidade cruza-se, na proposta de Hume,
com um outro problema, o da indução. As inferências indutivas são
a base do nosso conhecimento sobre o mundo. Estarão elas
justificadas? Segundo Hume, não. Só poderíamos confiar na
indução se partíssemos do princípio de que a natureza é uniforme e
regular, sem lugar para imprevistos. Acontece que a nossa crença
na regularidade da natureza é ela própria fundada na indução.
Estamos, pois, encerrados numa petição de princípio, numa
justificação circular que nada justifica: todos os nossos argumentos
indutivos pressupõe a crença de que a natureza é regular, crença
esta que, por sua vez, foi construída com base em inferências
indutivas. A ideia de que a natureza é uniforme é uma verdade
contingente, pois é perfeitamente possível que a natureza não seja
uniforme e que o futuro não repita o passado. O exemplo do
ornitorrinco é revelador de que o número de observações que serve
de base a uma indução é logicamente independente da verdade da
conclusão.

Para resolver o problema da indutividade, Popper nega o


critério da verificabilidade criando o critério da falsificabilidade na
qual uma teoria científica deve ser falsificada para poder ser
científica.

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A conceção da ciência em Popper

Popper nega a conceção indutivista porque a ciência não pode


partir de observações para induzir conclusões porque a observação
pode estar condicionada pelos critérios do investigador. Por isso,
propõe o método conjectural (hipotético-dedutivo) ou seja, quanto
maior for a criatividade para formular teorias, mais cientifica pode
ser a conclusão. O critério da cientificidade é a sua falsificabilidade.
Portanto, a ciência em Popper segue 3 pontos:

1- Formulação da hipótese ou conjetura, que deve partir dum


problema
2- Dedução das consequências que é relacionar as hipóteses
para ver qual delas responde melhor ao problema
3- Experimentação que consiste em testar a hipótese e se o
resultado for válido chama-se teoria corroborada. Se a hipótese não
for valida chama-se teoria refutada.

Critério da falsificabilidade

Segundo o critério da verificabilidade, uma teoria é científica se


for possível verifica-la através da experiência. No entanto, uma vez
que os enunciados universais não são totalmente verificáveis, basta
que sejam confirmáveis a partir de alguns casos. Assim, por
exemplo, para que se possa considerar científica o enunciado
“todos os cisnes são brancos” bastaria encontrar alguns cisnes
brancos para o confirmar.
Segundo o critério da falsificabilidade um enunciado só é
científico se for falsificável. O teste experimental é usado para
encontrar experiências que neguem a hipótese. A hipótese é
validada se não forem encontrados factos que a neguem e será
mais forte quanto mais resistir à prova da falsificação. Quanto mais
uma teoria é falsificável, mais facilmente se descobre uma falha na
investigação. O que significa mais progresso científico.
O critério da falsificabilidade permite responder ao problema da
demonstração: as teorias científicas são o que são na medida em
que são falsificáveis, por exemplo, o enunciado “Deus existe” não
pode ser científico porque não pode ser falsificado.
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Críticas a Popper

1- O critério da falsificação não é o processo mais usado


entre os cientistas porque, geralmente, procuram aquilo que
confirma a sua teoria rejeitando aquilo que a nega. Portanto,
centram-se mais na confirmação da teoria do que na refutação.
 O processo de refutação ou falsificação não é o procedimento
mais comum entre os cientistas. Alguns autores defendem que a
atitude falsificacionista não corresponde exatamente àquela que os
cientistas demonstram na atividade científica.
2- A ciência não evolui mais por um processo de refutação.
As grandes teorias necessitam de ser confirmadas e não
abandonadas à primeira reputação encontrada, por exemplo, se
galileu tivesse desistido à primeira reputação não teria encontrado
o heliocentrismo.
Considerando a história da ciência, não parece que ela possa
evoluir por um processo assente nas refutações. Ao nível da
história da ciência encontramos episódios que parecem pôr em
causa a perspetiva falsificacionista e a ideia de que a ciência
progride por meio de conjeturas e refutações.

A racionalidade científica e a questão da objetividade

O objetivo da ciência é encontrar modelos que sejam cada vez


mais aptos a explicar os fenómenos, permitindo o seu controlo. Se
este controlo existir, existe a previsibilidade. A ciência progride em
direção a um fim que é a explicação dos fenómenos que pode não
ser alcançado. Neste sentido nenhuma teoria mesmo corroborada é
definitivamente verdadeira. A verdade é que a ciência avança por
tentativas e erros: parte de problemas, propõe conjeturas, elimina
erros, descobre novos problemas. Há uma comparação entre a
evolução da ciência e a evolução das espécies: aquelas que melhor
resistem à adaptação são as melhores porque explicam os
fenómenos. As menos aptas desaparecem.
A crítica é o critério racional que Popper propõe para o
progresso científico e que permitirá eliminar erros e fazer avançar a
ciência em direção à verdade. Através da crítica o cientista vai à
procura do erro para o eliminar. Popper considera que não pode ser
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definido um critério de verdade (a ciência será apenas verosímil)
encarando o procedimento correto que nos leva à verdade: esse
procedimento é o da eliminação do erro. Eliminando os erros
impede-se que a ciência estagne. Já com uma atitude crítica será
possível a ciência avançar encontrando teorias cade vez melhores.
Para Popper a ciência resulta de uma hipótese que deve ser
posta à prova, procurando falsificá-la. Neste sentido, qualquer
hipótese, sendo falsificável, é sempre possível substituí-la por
outra. Portanto, Popper considera que uma melhor teoria significa
um passo em frente em direção à verdade. No entanto, isto não
significa que atingimos a verdade no sentido absoluto mas apenas
que conseguimos aproximar-nos dela. Daí a utilização da palavra
verossimilhança que no fundo representa o grau com que uma
teoria é capaz de dizer a verdade acerca de um fenómeno. As
teorias são mais ou menos verosímeis porque se aproximam mais
ou menos da verdade objetiva.

A conceção da ciência em Thomas Kuhn

Thomas Samuel Kuhn


Cincinnati, 18 de julho 1922 — Cambridge, 17 de junho 1996 

Para Kuhn a ciência desenvolve-se a partir de revoluções que


exigem um corte epistemológico. O importante em Kuhn é a defesa
da ideia de que o cientista não é um elemento neutro nem isolado,
mas, quando faz ciência, está sempre condicionado pelo contexto

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em que vive, pelos seus valores e, principalmente, pelo paradigma
científico em que se insere. Um paradigma é uma teoria explicativa
aceite pelos cientistas e que serve de explicação para uma
determinada teoria. Paradigma científico: o heliocentrismo * é uma
teoria que explica um fenómeno. Como é que ocorre a mudança de
um paradigma? Se existir uma anomalia que não consegue explicar
o fenómeno acontece uma crise dentro da ciência que exige uma
revolução científica e o aparecimento de um novo paradigma. As
anomalias são problemas aos quais o paradigma não consegue
responder. Ao contrário de Popper só avançam para um novo
paradigma quando, depois de testar o anterior, este não consegue
responder à nova necessidade.
Existe uma diferença entre Popper e Kuhn porque em Kuhn
não se procura a falsificação mas uma forma de resolver as
anomalias mantendo a teoria.

A ciência em Kuhn desenvolve-se por seis passos:

1-Ciência normal – que acontece quando os cientistas


acreditam no mesmo paradigma. É a ciência que a maioria
dos cientistas pratica no seu dia-a-dia. É a ciência em que o
paradigma é encarado como um dado adquirido, que não
deve ser desafiado. A ciência normal articula e desenvolve o
paradigma. Kuhn descreve a ciência normal como a atividade
de resolver enigmas, dirigida pelas regras do paradigma.
Durante a atividade científica procede a reajustamentos e ao
aumento da abrangência e precisão do paradigma. Trata-se,
por esta razão, de uma atividade essencialmente cumulativa,
conservadora e, por conseguinte, pouco dada à inovação.
2-Anomalias – que são problemas a que o paradigma não
consegue responder
3-Crise – tomada de consciência que o paradigma é
insuficiente para explicar as anomalias. As crises são uma
pré-condição necessária para a emergência de novas teorias
e paradigmas. Começam a formar-se quando se dá um
acumular de anomalias que, pela sua quantidade, e grau,
põem em causa os fundamentos do paradigma. As anomalias
levam a um esforço suplementar, por parte da comunidade
*
Heliocentrismo - é o nome do modelo estrutural cosmológico que coloca o Sol no centro do
universo, diz que a Terra gira ao redor do Sol com certa periodicidade e velocidade. Por conta
desse movimento, temos, por exemplo, as estações do ano e o dia e a noite.
23
científica, para tentar preservar a visão do mundo que o
paradigma lhes garante.
4-Ciência extraordinária – em que se debate o paradigma
vigente para mantê-lo ou trocá-lo. É a prática científica que
acontece à margem do paradigma dominante.
5-Revolução científica – mudança para um novo paradigma. A
revolução científica corresponde a uma mudança profunda
nas convicções e no trabalho dos cientistas. Trata-se de um
episódio não cumulativo, no qual a comunidade científica
abandona o caminho até então seguido a favor de outra
abordagem da sua disciplina, em geral incompatível com a
anterior, alterando-se a forma como olha para o mundo e
pratica ciência. As grandes mudanças no desenvolvimento
científico associadas a nomes como Copérnico, Newton,
Lavoisier ou Einstein são episódios que espelham revoluções
científicas. As alterações revolucionárias de uma dada
tradição científica são relativamente raras.
6-Novo paradigma – conjunto de regras ou leis científicas que
orienta a atividade

Existem dois momentos fundamentais da ciência em Kuhn:


- no período da ciência normal, no qual o cientista, sempre no
mesmo paradigma, faz um estudo aprofundado dos fenómenos;
- nas revoluções científicas aparecem novos paradigmas que
obrigam a revoluções no modo de entender a ciência porque o
paradigma anterior não consegue responder às questões.

1- Sendo assim, a mudança de paradigma não faz da


ciência um processo cumulativo porque é uma maneira
totalmente diferente de ver a realidade e porque faz um
corte epistemológico. Um exemplo é a psicologia de
Gestalt.
2- A verdade das teorias depende do paradigma. Aquilo
que é verdadeiro num paradigma pode ser falso noutro.
3- Os paradigmas são incomensuráveis, ou seja, não são
medíveis e por isso não os podemos comparar porque
são maneiras diferentes de ver os fenómenos. Assim,
não podemos dizer que um paradigma é melhor do que
o anterior, é apenas uma maneira diferente de ver uma
realidade, por isso a ciência não progride de forma
cumulativa e contínua. Portanto, as mudanças de
24
paradigma não são uma aproximação da verdade porque
a verdade depende do paradigma em que é válida.
4- A escolha de paradigma é marcada por fatores
históricos, sociológicos e psicológicos. Quando um
paradigma é escolhido deve basear-se na argumentação
que é feita segundo critérios objetivos e subjetivos. Os
objetivos são aceites por toda a comunidade científica a
partir de regras e valores aceites por todos. Os critérios
objetivos são exatidão, consistência, alcance,
simplicidade e fecundidade. Os critérios subjetivos são
relativos àquilo que cada cientista pensa de acordo com
a sua história de vida e personalidade.

Críticas à conceção Kuhniana da ciência

A incomensurabilidade dos paradigmas implica a


impossibilidade de os avaliar com objetividade. Como cada
paradigma responde a uma maneira própria, a cada problema, são
modos distintos de entender esse problema. Não há comparação ou
diálogo entre os paradigmas. Por isso, uma das acusações a Kuhn é
a de ser relativista. Khun rejeitou a crítica, considerando-a injusta e
redutora. Todavia, não há dúvida de que algumas das suas
afirmações a propósito do progresso científico parecem aproximar
Kuhn da tentação relativista. Se os paradigmas são
incomensuráveis, se não podemos comparar paradigmas nem
concluir que um é superior ao outro, se não podemos estar certos
de que nos aproximamos da verdade, o que nos resta? Para alguns,
apenas o relativismo.
A segunda crítica assenta no critério de adesão a um novo
paradigma que é comparada a uma conversão religiosa, porque é
uma questão quase de fé, crença, por isso, muitos consideram esta
teoria irracional.

Fatores que interferem na atividade científica


25
Todas as pessoas aceitam que a ciência é uma sucessão de
conhecimentos que progridem em direção à verdade ou
objetividade. Os instrumentos de conhecimento menos rigorosos
são substituídos por outros que permitem o avanço da ciência.
Neste contexto, existe sempre o problema da objetividade que
pode ser condicionada por três fatores: nas sociedades atuais a
investigação depende de instituições políticas e económicas. As
instituições políticas controlam a ciência conforme os valores que
defendem e as instituições económicas controlam conforme aquilo
que dá dinheiro. Assim existem três fatores que influenciam o
cientista:
Ideológicos – ideologia política, religiosa ou ética define aquilo
que o cientista vai investigar.
Económicos – a investigação depende de financiamento. Se
uma investigação interessa, porque vai dar lucro é financiada. Se
não interessa não o é.
estéticos – investiga-se aquilo que está de acordo com a
cultura do País.

Admitir que estes fatores influenciam a atividade científica é o


mesmo que admitir que ela só existe dentro de um contexto
histórico e cultural, e, portanto, é sempre uma atividade de grande
interesse.

Objetividade científica

Objetividade científica representa a cautela dos cientistas para


que não haja erros de modo a que a ciência quando atinja o seu
objetivo sirva para todas e não se prenda a peculiaridades
pessoais.
A objetividade científica:
- é um valor que todos os cientistas perseguem
- possibilidade de escrever os fenómenos factualmente
- é uma atividade isenta

26
As respostas de Popper e Kuhn ao problema da
objetividade

Em Popper, o cientista é um sujeito ativo, criativo e crítico


dependendo dos seus ideais, valores e princípios. Apesar disto, as
teorias quando são corroboradas são uma leitura objetiva da
realidade. Quando uma teoria é objetiva quer dizer que ela explica
os fenómenos com mais qualidade. O conhecimento científico é
uma leitura objetiva dos fenómenos e é sempre a melhor possível.
Em Kuhn, o conhecimento científico é dependente de quem o
produz e do contexto em que é produzido. Além disso, está sempre
dependente do paradigma que orienta a ciência. Os fatores
históricos, sociológicos e psicológicos interferem no paradigma, que
é escolhido por processos objetivos e subjetivos.
A teoria de Popper e Kuhn põem causa a objetividade científica.
O facto de a ciência ser uma atividade puramente racional e
imparcial criou o mito cientismo, ou seja, a ciência consegue
responder a todos os problemas e dúvidas humanas.
Com a evolução da ciência moderna que se baseia na
relatividade de Einstein e no princípio da incerteza de Heinsenberg,
a ideia da ciência como conhecimento objetivo é posta em causa.
Assim, a ciência passa a de objetiva a subjetiva (depende da
aceitação por parte da comunidade científica); a ciência passa a
não ser neutra porque é condicionada às circunstâncias históricas,
económicas, etc.; não existe uma ciência verdadeira e universal,
existem apenas verdades dependentes dos paradigmas e a verdade
torna-se mais ou menos plausível. O conhecimento científico passa
a ser apenas um dos modos de interpretar a realidade.

Teorias da arte

Tudo aquilo que o ser humano faz pode ser considerado arte
desde que tenha apreciadores que lhe atribuam significado. O
significado pode ser explícito ou implícito. Implícito é quando o
autor pretende mostrar uma ideia ou emoção que pode não ser
percecionada pelos apreciadores. O explícito é aquele no qual as
pessoas reconhecem a mesma qualidade ou característica que o
autor na obra de arte.

27
Há dois tipos de teorias da arte:
- teorias essencialistas – que defendem propriedades
intrínsecas em todas as obras de arte
- teorias não essencialistas – que defendem a inexistência da
definição de arte, porque não têm características que possam ser
definidas.
Nas teorias essencialistas temos a arte como imitação,
representação, expressão da forma. Nas não essencialistas temos a
teoria institucional e histórica.
O problema da arte é a possibilidade da sua definição, por isso
tenta-se encontrar critérios para distinguir aquilo que é arte daquilo
que não é. Esses critérios são definidos nas diversas teorias. De
qualquer modo, existe sempre uma dificuldade em encontrar uma
definição universal. Em alguns casos, pode pôr-se em causa o seu
valor estético.

Para tentar definir arte temos várias correntes:

1ª – Arte como imitação – que se reporta a uma criação de


imagens que são aparências da realidade. Imitar significa
transportar para a arte a realidade tal como ela é. O propósito da
arte é imitar e reproduzir os objetos com exatidão. Aquilo que se
pergunta é se isto é a finalidade da arte?
1ª crítica: Se esta teoria for verdadeira a arte é
reduzida a uma caricatura que serve para mostrar a habilidade do
artista e não para mostrar a sua criatividade.
2ª crítica: Muitos objetos não se reduzem a meras
imitações, por isso, ou são excluídos da arte ou devemos recusar a
teoria da arte como imitação. A verdadeira arte é sempre uma
transfiguração da realidade criando novas formas de interpretar
essa realidade.
Dentro da arte como imitação temos a arte como
representação – para ultrapassar o problema da imitação, alguns
filósofos defendem que a arte devia ser representação, ou seja, não
é uma imitação factual da realidade mas uma imagem que está
ausente (exemplo: uma fotografia nunca é a realidade em si
mesma, mas uma imagem da ausência dessa realidade.
1ª crítica: Nem todas as obras de arte são
representações, mas têm como objetivo provocar uma fruição
estética.

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2ª- Arte como expressão - a arte está sempre relacionada
com uma emoção estética porque está sempre ligada à expressão
de emoções. Por um lado, traduz um sentimento do artista, por
outro, provoca emoções no expectador. O objetivo da arte como
expressão é provocar emoção ou prazer contemplativo. Esta
emoção pode ser comum ao artista e ao expectador embora as
emoções possam ser distintas. Portanto a arte é uma forma de
exprimir emoções. Segundo Tolstoy, a arte era um meio de
relacionamento e comunicação entre as pessoas. É um meio de
transmitir emoções o que pressupõe que o artista tenha alguma
emoção a transmitir. Para isso acontecer é necessário que a
emoção do artista seja clara. Ao transmitir emoções pretende-se
que haja uma relação próxima entre quem a expressa e quem a
vive, ou seja, a emoção deve ser a mesma.
Segundo esta teoria, a arte é expressão de emoções.
1ª crítica: Primeiro ao estabelecer como critério para
criar arte esquece outros fatores que possam estar na sua origem.
2ª crítica: Mesmo que a emoção esteja na base da
criação, o momento da criação pode não coincidir com o estado
emocional que a originou.
3ª crítica: Há obras de arte que provocam uma maior
emoção, o que significa que seriam melhores obras.
4ª crítica: A mesma obra de arte pode provocar
diversos tipos de emoção, como a raiva, o desprezo, ou só provoca
um tipo.
Não é capaz de distinguir uma obra de arte de qualquer
coisa que transmita um sentimento. Exemplos: uma notícia de um
jornal sobre uma guerra pode ter profundo efeito emocional, mas
isso não a torna uma obra de arte; se uma pessoa se está a afogar
e grita por socorro, ela expressa um sentimento de desespero pela
asfixia, enquanto a pessoa que a ouve entende muito bem o que
ela está a sentir. Mas isso não faz com que os seus gritos sejam
obras de arte.

Teoria formalista da arte – A emoção decorre de


uma característica da obra de arte: a forma significante, ou seja, a
relação existente entre as partes da obra forma um todo dando
harmonia, combinação de cores, sequência de cores. Deve
procurar-se a característica que provoque a emoção estética. Nesta
perspetiva há uma qualidade comum às obras de arte (exemplo:
essa característica pode ser a harmonia). A harmonia será assim a
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forma significante que permite apreciar a obra. No entanto, a obra
de arte é indefinível porque algumas pessoas podem não
reconhecer a forma significante na mesma obra de arte. Esta teoria
tem duas objeções.
Segundo as teorias formalistas, o que caracteriza a
obra de arte é a sua forma e não o seu caráter representativo. Dá-
se preponderância às qualidades puramente formais ou abstratas
da obra; ou seja, por exemplo, aqueles elementos visuais que lhe
dão figura: a forma, a composição, as cores ou a estrutura.
1ª crítica: Apoia-se no argumento circular, uma
vez que defende que a emoção resulta da forma significante que
vai desencadear a emoção estética. Ou seja, a emoção sentida pelo
expectador, é a própria explicação estética da forma significante.
2ª crítica: Se um expectador não sentir a mesma
emoção, os defensores da teoria dirão que a pessoa está enganada.
Isto equivale a pressupor que a emoção que está dentro de uma
obra deve ser igual para todos os apreciadores. Se uma obra de
arte não despertar emoção é porque ela não é uma obra de arte.

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