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1. É possível conhecer?
Descartes, pretende provar a existência de Deus para nos mostrar que aquilo que
conhecemos com clareza e distinção é verdade, por outras palavras, comprovar que o conhecimento
é possível, refutando a ideia dos céticos que dizem que o conhecimento não é possível.
● Argumento ontológico
– O Argumento Ontológico defende que não podemos pensar na ideia de Deus sem supor
necessariamente que este existe, é como se a existência de Deus decorresse necessariamente da
análise da ideia de Deus, um ser “omnisciente, todo-poderoso e extremamente perfeito”. Em suma,
a propriedade de existir é algo que um ser perfeito não pode deixar de ter. Se não existisse, não era
perfeito e, por isso, descartes consegue provar a existência de Deus.
Eu penso em DEUS como ser perfeito, logo, ele existe, senão faltar-lhe-ia a perfeição de existir.
Eu tenho a ideia de perfeição que foi posta em mim por um ser superior e perfeito que é DEUS,
eu como ser imperfeito nunca poderia ser o autor dessa ideia.
– Podemos ter na nossa mente três tipos de ideias:
- Ideias inatas: nascem connosco e são claras e distintas;
- Ideias factícias: ideias fabricadas pela imaginação, ou seja, invenções da nossa mente;
- Ideias adventícias: adquirida pelos sentidos.
– A ideia de perfeição é uma ideia inata colocada na nossa mente por Deus, um ser perfeito. Com
isto, podemos concluir que a ideia de perfeição foi uma marca deixada por Deus, daí o nome deste
argumento.
–O argumento da marca impressa é a posteriori pois baseia-se no princípio da causalidade (a causa
deve ter pelo menos tanta realidade quanto os seus efeitos). Ou seja, a origem da ideia de perfeição
tem de ser tão ou mais perfeita do que a própria ideia de perfeição.
O ser pensante ou cogito (imperfeito, finito e contingente) existe e como não é perfeito não pode ser ele
a sua causa, logo o criador do ser imperfeito é Deus. Como Deus é perfeito não precisou de outro ser
para ser criado.
● Deus como o princípio fundante de toda a verdade e toda a realidade
– É certo que depois de provar a existência do cogito, Descartes ficou preso ao solipsismo
(isolamento) do cogito. O cogito só nos permite saber que EU, por exemplo, enquanto ser pensante,
existo e, por isso, Descartes não conseguia provar, por exemplo, que os outros existem e que existe
um mundo exterior. Ou seja, tudo o resto pode ser apenas projeção de minha mente e os meus
amigos, as guerras, os pássaros,... podem não ser nada para além de pensamentos na minha mente.
Tendo isto em conta, a única saída para o solipsismo vai ser afirmar a existência de Deus. Descartes
deixa de estar só e existe também o ser divino.
– Descartes afirma que Deus existe e é perfeito. Se é perfeito, não pode ser enganador visto que isso
é uma imperfeição. Dado isto, é possível afastar completamente a ideia de um Deus enganador
(génio maligno) e podemos ver Deus como a garantia da verdade de todas as ideias que adquirimos
clara e distintamente. Assim sendo, Descartes pode afirmar, por exemplo, que existem outras
pessoas, que tem um corpo e que existe um mundo à sua volta, visto que estas ideias são claras e
distintas. Com isto, concluímos que Deus é o princípio fundante da verdade objetiva e de toda a
realidade.
– Depois de tudo isto, podemos finalmente afirmar que o cogito e Deus são duas crenças
fundamentais para a reconstrução da ideia de um conhecimento certo, seguro e inabalável e que a
razão (pensamento) é a fonte principal para a descoberta de verdades objetivas.
● Críticas a Descartes
– A primeira crítica faz-se ao argumento do cogito que é acusado de não ser convincente. Descartes
é acusado de tirar demasiadas conclusões do cogito. Da expressão “Eu penso” apenas podemos
concluir que existem pensamentos, o que não implica a existência de um ser pensante. Assim sendo,
é duvidoso concluir “Eu penso, logo eu existo”.
–A existência de Deus é muito importante para a filosofia cartesiana pois é a garantia da verdade
de tudo o que concebemos clara e distintamente , sendo também o princípio fundante da realidade
e da verdade. Isto é Deus é perfeito, logo não pode ser enganador, pois se o fosse já não seria
perfeito, o que faz com que possamos confiar na razão (capacidade de raciocinar) para descobrir
verdades claras e distintas.