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Reflexão filosófica a partir do argumento ontológico de René Descartes

Descartes tenta provar a existência de Deus com base no seguinte argumento


ontológico: um Ser sumamente perfeito tem todas as perfeições; a existência é uma
perfeição; logo, um Ser sumamente perfeito existe.
Segundo ele, o argumento baseia-se na consideração de que a existência é uma
perfeição, e para isso, Descartes precisa de aceitar que a perfeição é uma propriedade,
tal como a sabedoria ou a força. Ao constatar, em primeiro lugar, que a ideia de um ser
perfeito compreende todas as perfeiçoes (sendo que a existência é uma dessas
perfeições), logo conclui que Deus existe. O argumento ontológico cartesiano é
desenvolvido a priori, sem recurso à causalidade ou à experiência.
Para este filósofo, a ideia de Deus é inata, porque não é uma ideia derivada do
pensamento, mas uma imagem de uma natureza verdadeira e imutável. Na sua
“Quinta Meditação”, Descartes procura descobrir qual a essência das coisas materiais
e, para isso, presta atenção às particularidades das coisas. Por exemplo, quando
imagina um triângulo, mesmo que essa figura não exista fora do seu pensamento, tem
na mesma uma natureza determinada ou essência, ou uma forma mutável ou eterna,
que Descartes não imaginou e não depende do seu espírito, podendo assim
demonstrar-se várias propriedades do triângulo. São propriedades claras e que não
foram inventadas, existem.
Assim, para Descartes, o conhecimento das coisas não vem dos sentidos e do exterior,
e conclui que tudo o que se conhece claramente, é verdadeiro.
Se eu posso conhecer a ideia de uma figura ou de um número, logo também posso
descobrir em mim uma ideia clara e distinta de Deus, pelo que a existência de Deus
tem o mesmo grau de certeza que as verdades da matemática.
Eu vou defender a tese de que a existência não é uma propriedade, e por este motivo,
acho que não é possível provar a existência de Deus com base no argumento de
Descartes.
Segundo este, “se pensamos logo existimos”, como se o pensamento fosse uma
condição essencial da existência e quando deixamos de duvidar e de pensar, deixamos
de existir. 
Não concordo com esta ideia, porque acho que o pensamento não é uma condição
essencial da existência, pois podem haver outras condições, qualidades ou
caraterísticas da existência.
Será possível admitir que “Se eu sou um excelente jogador de futebol eu existo”?
A meu ver, julgo que não e neste sentido concordo com a refutação que Kant fez ao
pensamento de Descartes “cogito ergo sum”.
Então e se eu for apenas um jogador de futebol médio?
Parece-me óbvio que posso não ser um excelente jogador de futebol, ou mesmo posso
não ter jeito nenhum para o desporto, e mesmo assim existir.
E o que dizer daquelas pessoas que são deficientes e que têm uma capacidade
cognitiva muito reduzida, ou seja, que praticamente por este motivo, não têm
capacidade para pensar? Será que por este facto elas deixam de existir? Naturalmente
que não.
No meu entendimento não podemos aceitar a tese de Descartes de que o pensamento
implica a existência, pois se compararmos com outras caraterísticas do ser humano
vemos que este argumento é falso e não tem sustentação sólida.
E o mesmo acontece quanto à argumentação de Descartes sobre a existência de Deus;
tal como referi antes, julgo que posso contestar a existência de Deus, ou de certas
características tradicionalmente atribuídas a Deus como a perfeição.
Se Deus existe, não pode ser de acordo com a argumentação desenvolvida por
Descartes, porque na verdade talvez possam existir outras propriedades que também
podem ser atribuídas a Deus.
Assim concordo com Kant, a existência não é uma propriedade que se aplica às coisas,
assim como a propriedade de determinada cor, pelo que concluo que a existência não
é uma perfeição.
Se eu aceitar o argumento ontológico, então poderei usa-lo para provar a existência de
um variado tipo de coisas que não estou disposto a aceitar, sendo que este tipo de
comparações envolve grandes diferenças.
É que eu acredito em Deus por uma questão de fé, e penso que tenho razões para
isso, mas na minha opinião não posso acreditar em Deus por saber que a existência é
uma perfeição.
Acho que a existência de Deus não se justifica por si mesma, pelo contrário, requer
explicações que não tenho, apenas uma crença religiosa.
Como conclusão, eu gostava de referir que a questão da existência de Deus resulta da
minha fé, da necessidade que eu tenho de encontrar uma explicação sobre a minha
vida além da morte e de procurar encontrar um sentido para a minha existência.
Por isso, eu tenho a convicção de que Deus existe, mas aceito que outras pessoas não
tenham a mesma fé, logo esta questão vai-se continuar a debater ao longo dos
tempos.

Fontes de consulta:

Bibliografia facultada pela Prof.

“Preparação para o exame final de Filosofia 11º ano”, Porto Editor

Manual de Filosofia 11º ano, Porto Editora


Trabalho realizado por: Manuel Raposo Sanches nº 13

11º 11 ESVF 14.12.2021

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