O documento discute o princípio cartesiano do "cogito ergo sum" e se é obtido por intuição ou dedução. Apresenta argumentos de críticos de que é uma dedução com premissas implícitas. Também discute características essenciais do "cogito" e um argumento para refutá-lo, além de analisar a demonstração cartesiana da existência de Deus e a crítica de John Cottingham a esse respeito.
O documento discute o princípio cartesiano do "cogito ergo sum" e se é obtido por intuição ou dedução. Apresenta argumentos de críticos de que é uma dedução com premissas implícitas. Também discute características essenciais do "cogito" e um argumento para refutá-lo, além de analisar a demonstração cartesiana da existência de Deus e a crítica de John Cottingham a esse respeito.
O documento discute o princípio cartesiano do "cogito ergo sum" e se é obtido por intuição ou dedução. Apresenta argumentos de críticos de que é uma dedução com premissas implícitas. Também discute características essenciais do "cogito" e um argumento para refutá-lo, além de analisar a demonstração cartesiana da existência de Deus e a crítica de John Cottingham a esse respeito.
1- O primeiro princípio cartesiano da filosofia foi obtido por intuição ou por dedução?
Justifique a sua resposta.
Contra a opinião do próprio Descartes, alguns críticos afirmam que a evidência intuitiva do “cogito” cartesiano, expresso na proposição “penso, logo, existo”, é uma dedução, ou seja, um entimema, porque contém implicitamente a seguinte premissa: “tudo o que pensa existe necessariamente”, ou ainda: “toda a substância pensante («res cogitans») é uma realidade que existe necessariamente”. Dito de outro modo, a condição necessária para pensar é a existência. Se quisermos transformar este entimema numa forma lógica válida, como o “modus ponens”: “Se eu penso, então, existo. Ora, penso. Logo, existo.” Outra forma admissível seria a do “modus tollens”: “Se não existo, então, não é possível que eu pense. Mas, é possível que eu pense. Logo, existo.” A premissa suprimida em causa é esta: “é impossível pensar sem existir.” Outras variantes de premissas suprimidas: “Todos os seres pensantes são seres existentes” ou “Todas as coisas que pensam são coisas existentes”. Para Descartes, o ato de pensar é em si mesmo uma condição suficiente para assegurar a certeza da sua existência, pensar, por si só, é suficiente para afirmar a existência da «res cogitans». Seria incorreto afirmar o inverso: «existo, logo penso». Eu posso existir, como um autêntico “vegetal” (a babar- se...), mas não sei se penso sequer, limito-me a... vegetar. De modo mais sério: existir é uma condição necessária para pensar, mas não é suficiente. Refira-se, mais uma vez, que Descartes rejeita a ideia do ‘cogito’ ser uma verdade deduzida. Pelo contrário, é uma verdade intuída com clareza e distinção que expressa uma certeza imediata indubitável. O ‘cogito’ justifica-se em si e por si mesmo sem precisar de mais nenhum processo de natureza inferencial. Claro que a estratégia dos críticos de Descartes consiste em tentar mostrar que há uma cadeia de raciocínio para extrair a verdade do cogito. Se isso acontecesse, teria de existir uma proposição adicional que serviria de justificação para a crença do cogito, e esta seria derivada, seria uma crença secundária, sem valor fundacional, não seria então uma crença básica e os céticos voltariam a contestar a sua validade, procurando novas justificações para recuar até ao infinito. 2- Apresente três características essenciais do “cogito” cartesiano. Três características em relação ao “cogito” cartesiano são: é um princípio evidente e indubitável, uma certeza inabalável; serve de modelo do conhecimento: fornece o critério de verdade; e é uma crença fundacional relativamente a todo o sistema do saber. 3- Apresente um argumento com o objetivo de refutar a verdade indubitável do “cogito” cartesiano. Se o «cogito» é captado de modo intuitivo pela razão, se se trata de uma certeza clara e distinta, o que garante a Descartes a verdade desse critério? Acontece que o génio maligno pode ainda exercer a sua ação e levar Descartes a crer em verdades claras e distintas que não o são.
4- Analise o texto de Descartes e explique a origem do erro na perspetiva do filósofo.
Na perspetiva do filósofo, erramos quando se verifica uma precipitação da vontade - quando usamos mal a liberdade e damos o consentimento a juízos que não são evidentes, ou seja, erramos quando damos concordância ou assentimento, por um ato da nossa vontade, a juízos, ideias, ou sensações que são confusas e obscuras. Se os sentidos nos enganam é porque nos precipitamos a dar o nosso acordo a coisas que não concebemos de modo claro e distinto. (“... se a afirmo ou nego, então utilizo retamente o meu livre-arbítrio; e se me inclino para o lado falso, engano-me totalmente...”) 5- A crítica de John Cottingham acusa Descartes de ter cometido um erro na sua demonstração da existência de Deus. Esclareça em que consiste esse erro e avalie se o filósofo conseguiu responder satisfatoriamente a essa crítica. Descartes descobre a ideia inata de Deus na sua mente como uma realidade clara e distinta. Descartes é um ser humano, uma «coisa» (substância) que duvida, erra, é falível, enfim, um ser imperfeito. A ideia de Deus é concebida como uma realidade maximamente perfeita. A existência é uma perfeição. Logo, Deus existe como causa da Sua ideia na mente de Descartes, de forma a ser cognoscível. O ser imperfeito não pode gerar um ser perfeito. Tal como não se pode pensar um triângulo sem os três ângulos que o constituem na sua essência, do mesmo modo, a ideia de Deus contém em si a sua existência necessária (seria absurdo conceber um Ser maximamente perfeito que fosse inexistente). Por último, a existência de Deus apresenta- se de um modo claro e distinto à mente de Descartes, que se impõe como uma verdade necessária e indubitável. Uma ideia é clara e distinta quando se apresenta de um modo tão evidente à nossa mente que não é possível questionar ou duvidar da sua verdade. O que garante o critério da clareza e da distinção é Deus, fundamento de toda a verdade das ideias inatas no espírito humano. A crítica de John Cottingham acusa Descartes de ter cometido um erro na sua demonstração da existência de Deus. Este crítico afirma que, sem conhecimento prévio da existência de Deus não teremos, em princípio, razão alguma para confiarmos no intelecto. De um ser possível na mente, formalmente, não é logicamente aceitável derivar a sua existência na realidade empírica. Existir «in mens» não é equivalente a existir «in res». Aliás, a prova da existência de Deus como ser perfeito pode ter sido manipulada pelo célebre «génio maligno», que pode fazer crer à mente de Descartes que Deus é um ser perfeito. O nosso pensamento não é, digamos, «mágico», quer dizer, não por pensar que existem tais e tais entidades, seres ou objetos, na minha mente, que eles passam a existir realmente. Esta critica leva Descartes a uma posição solipsista provocada pelo argumento do gênio maligno. A ideia básica do solipsismo significa que Descartes só sabe que existe enquanto sujeito pensante e as ideias presentes no seu espírito (Inatas, factícias e Adventícias). Descartes não sabe se existe alguma coisa real fora da sua mente. Deste modo, Descartes não consegue responder satisfatoriamente a esta crítica