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Papel de Deus na teoria cartesiana

• Deus garante o critério das ideias claras e distintas.


• Deus é o fundamento metafísico do conhecimento.
• Deus afasta o solipsismo cartesiano.
• Deus garante o conhecimento verdadeiro (tudo o que é verdadeiro).
• Deus garante a existência do mundo exterior.
• Deus garante que quando pensamos clara e distintamente estamos a pensar
corretamente.
• Deus afasta a hipótese do génio maligno, pois Deus existe e não é enganador.

Críticas a Descartes
• O racionalismo cartesiano é exclusivista pois a única fonte de conhecimento é a
priori.
Descartes afirma que uma mente vazia de conteúdos da experiência poderá ser o
ponto de partida para o conhecimento significativo.
No entanto, os céticos defendem que isso não é possível.

• O racionalismo cartesiano é dogmático.


Descartes pretende que, unicamente a partir do cógito, seja possível ao ser humano
construir (dedutivamente) conhecimento absolutamente seguro, isto é, encontrar
verdades universalmente válidas e logicamente necessárias.
As ideias claras e distintas dizem respeito ao mundo físico, mas também à
metafísica.
Esta confiança desmesurada no poder da razão condu-lo ao dogmatismo.

• O racionalismo de Descartes é circular.


Segundo os céticos, Descartes comete a chamada falácia da circularidade ou petição
de princípio por isso não é um bom argumento.
Não é um bom argumento porque, por um lado, Descartes partiu da admissão de
Deus como uma ideia clara e distinta, para dizer que Ele existe mesmo. Por outro lado,
diz que não poderíamos confiar nesta ideia se Deus não a garantisse.
Assim, Descartes acaba por não justificar quem lhe garante as ideias claras e
distintas.
DAVID HUME
Perceções: impressões e ideias
• Hume defende que na nossa mente só encontramos perceções e que há dois tipos
de perceções: as impressões e as ideias.
• As impressões são as nossas sensações (externas e internas).
• As sensações externas são fornecidas pelos sentidos (audição, visão, olfato, tato e
paladar).
• As sensações internas são emoções (medo) e desejos (fome).
• Quando vemos algo é como uma imagem se imprimisse na nossa mente –
impressões.
• As ideias são apenas cópias das impressões, pensa Hume.
• As ideias apenas são diferentes das impressões por serem cópias delas.
Por exemplo: A nossa ideia e cavalo é uma ideia bastante geral: tanto diz respeito a
cavalos magros como gordos, brancos ou pretos, saudáveis e velozes ou velhos e
lentos. Mas Hume pensa que a ideia de cavalo é apenas uma cópia de várias
impressões de cavalos particulares.
• Assim, Hume pensa que tudo começa pelos sentidos. As ideias são cópias das nossas
impressões. Não há ideias que não derivem das impressões dos sentidos.
• A diferença entre as impressões e as ideias reside apenas na sua intensidade,
nitidez e vivacidade: as impressões são mais intensas, nítidas e vívidas do que as
ideias.
• Hume pensa que a ideia de rosa tem uma origem empírica (tem origem na
experiência dos sentidos) porque a formamos a partir de várias impressões visuais,
olfativas e táteis. A ideia de rosa (diferente das impressões que lhe dão origem) é
uma ideia simples, retida pela nossa memória. Mas também há as ideias
complexas, que resultam da ação da imaginação sobre as ideias simples.
Por exemplo: nunca observamos qualquer cavalo alado, mas formamos essa ideia
complexa a partir das ideias simples de cavalo (que consiste na memória de ter visto
cavalos) e de coisa com asas (consiste na memória de ter visto coisas com asas).
• A memória ou ideia simples de cavalo é mais vívida do que a imaginação ou ideia
complexa de cavalo alado.
Fundacionalismo Empirista
A tese central de Hume fica clara: a haver um fundamento para o conhecimento este só
se pode encontrar nas nossas impressões, sendo os sentidos a fonte principal de
justificação das nossas crenças acerca do mundo.
Como Descartes, Hume procura um fundamento para o conhecimento. Mas,
contrariamente a Descartes, Hume considera que se este não for encontrado na
vivacidade dos sentidos, também não residirá no pensamento. Assim, Hume é
considerado um fundacionalista (busca fundamento para o conhecimento) empirista
(esse fundamento reside nos sentidos).

Questões de facto e relações de ideias


Hume defende que tudo o que podemos afirmar se refere a questões de facto ou
relações de ideias.

• A negação de uma afirmação sobre questões de facto não implica contradição


alguma.
• A negação de uma afirmação sobre relações de ideias implica uma contradição.
Por exemplo:
✓ Se alguém afirmar que Faro não fica no Algarve, estará a dizer uma falsidade. Mas
não estará a cair em contradição. Assim, a afirmação de que Faro fica no Algarve é
uma questão de facto.

✓ Mas pensemos agora na afirmação verdadeira de que nenhum quadrado é redondo.


Negar isso é dizer que há quadrados que são redondos, o que é contraditório, pois
é impossível haver quadrados redondos. Negar a afirmação de que nenhum
quadrado é redondo é violar as leis da lógica. Assim, a afirmação de que nenhum
quadrado é redondo é uma relação de ideias.

Verdades necessárias e verdades contingentes

As afirmações verdadeiras sobre questões de facto poderiam ter sido falsas, ao passo
que as afirmações verdadeiras sobre relações de ideias não poderiam ter sido falsas.

• Ao que é verdadeiro, mas poderia ter sido falso damos o nome de verdade
contingente.
• Ao que é verdadeiro, mas não poderia ter sido falso damos o nome de verdade
necessária.
Por exemplo: é uma verdade contingente que um pedaço de metal dilatou ao ser
aquecido, pois poderia ter sido de outro modo se o mundo fosse diferente; mas é uma
verdade necessária que um triangulo tem três lados, seja como o mundo for, pois é
impossível que um triangulo tenha outro número de lados.

A priori e a posteriori

Mas será que podemos conhecer apenas pelo pensamento (a priori) verdades
contingentes? Se são contingentes, poderiam não ser verdades. As verdades
contingentes só podem ser conhecidas recorrendo à experiência (a posteriori).

As verdades necessárias não dependem de como é o mundo: mesmo que o mundo


fosse diferente em muitos aspetos, continuariam a ser verdades. Logo, não precisamos
de olhar para o mundo para as descobrirmos: são conhecidas a priori.

Hume dá o exemplo das verdades matemáticas. Estas são sobre relações de ideias
podendo ser demonstradas apenas pelo raciocínio dedutivo. Já o raciocínio usado nas
questões de facto é diferente, tratando-se do raciocínio indutivo: observamos pegadas
no chão e inferimos que passou por ali alguma pessoa.

O que quer Hume mostrar com tudo isto?

Hume quer mostrar que o conhecimento a priori, apesar de certo, não é acerca do
mundo. Hume reconhece que há conhecimento a priori, mas acrescenta que este
conhecimento não é substancial, ou seja, não nos diz nada sobre o que existe fora do
pensamento nem como são as coisas no mundo. Isso é algo que só podemos saber a
posteriori. Daí que todo o conhecimento substancial (acerca do mundo) encontre nos
sentidos a sua única fonte de justificação.

Causalidade

Se todo o conhecimento substancial é a posteriori, qualquer crença sobre o mundo tem


de ser justificada com base naquilo que observamos e sentimos. Contudo, as nossas
afirmações acerca do que existe no mundo parece dizer algo mais do que observamos
ou do que nos recordamos ter observado: muitas vezes fazemos afirmações sobre o
mundo que não conseguimos justificar com base apenas na experiência.

Por exemplo:

• O sol vai nascer amanhã. (previsão)


• Todos os peixes respiram por guelras. (generalização)
• Esta barra de metal dilatou por causa do calor. (explicação causal)
Todas estas afirmações referem questões de facto.
Causa e efeito
Pensemos apenas no último exemplo. O que acontece é que inferimos, a partir da
observação da barra dilatada e da sensação de calor que o calor é a causa da dilatação
da barra. Mas a relação entre uma coisa e outra nunca é observada.
Este tipo de inferência não é dedutiva nem demonstrativa. Trata-se de um raciocínio
indutivo, que Hume considera apoiar-se na relação de causalidade.

• Chama se relação de causalidade à relação de causa e efeito.


Hume defende que as causas e os efeitos não podem ser conhecidos pela razão. É a
experiência que nos diz que o metal dilatou e que está quente; mas a experiência não
nos diz que o calor causou a dilatação do metal.

Conjunção constante
Hume defende que quando observamos uma conjunção constante entre dois tipos de
acontecimentos temos tendência para concluir que há uma relação de causalidade entre
eles.
Mas o que nos garante que a conjunção constante observada no passado entre certos
acontecimentos ou objetos se venha a verificar também no futuro? O que garante que,
além de uma conjunção constante realmente observada por nós há uma causalidade
entre os acontecimentos, coisa que nunca observamos efetivamente?
A resposta tradicional (anterior a Hume) é a de que há uma conexão necessária entre
causa e efeito. Uma conexão necessária é algo mais do que uma conjunção constante.

• Há uma conexão necessária entre dois acontecimentos quando um não pode


ocorrer sem o outro.

Afirmar que há uma conexão necessária entre causa e efeito é supor que um
acontecimento produz outro; não é apenas uma questão de verificar que sempre que
ocorreu um, ocorreu também o outro.
Hume levanta, então, uma questão: como podemos saber que há uma conexão
necessária entre causa e efeito? Como vimos, Hume considera que os sentidos não
permitem ver nos objetos as causas que os produziram nem os efeitos que deles
resultam. E considera que, pela razão, também não podemos ter qualquer
conhecimento de causas e efeitos. Onde fomos, então, buscar essa ideia?
Hábito
A resposta que Hume encontra à sua própria pergunta é a seguinte: ao observarmos
repetidamente uma conjunção constante entre certos acontecimentos ou objetos,
gera-se em nós a expectativa de que o mesmo ocorra no futuro. Assim, a nossa crença
de que há uma conexão necessária entre acontecimentos decorre simplesmente do
hábito que é uma espécie de sentimento ou tendência psicológica. É o hábito que leva
a nossa mente a projetar no mundo a ideia de conexão necessária entre
acontecimentos. Esta conexão não existe na realidade, apenas existe na nossa mente.
Portanto, a causalidade não passa de algo que existe apenas na nossa mente e não
algo que possa ser observado no mundo.

Conclusões céticas de Hume


• Em relação à causalidade.
• Em relação ao raciocínio indutivo.
• Em relação à nossa crença na existência do mundo exterior.

O ceticismo de Hume
A conclusão anterior parece uma cedência ao ceticismo. Hume admite que a noção de
causalidade é fundamental para o conhecimento dos fenómenos do mundo. As ciências
empíricas, como a física ou a biologia, dependem do raciocínio causal: inferimos causas
e prevemos efeitos.
Contudo, a causalidade não pode ser diretamente observada nem pode ser inferida com
base apenas na razão. Tudo o que podemos dizer é que temos uma predisposição para
projetar relações causais no mundo – mas não podemos realmente saber se tais
relações existem.
Logo, Hume pensa que o cético tem razão, pelo menos em parte: muito do que
pensamos saber é uma ilusão.

O problema da indução
Sempre que vemos nascer o Sol confirmamos a previsão de que o Sol vai nascer amanhã.
O tipo de raciocínio aqui usado é a indução. Baseamo-nos em muitas observações
anteriores para inferirmos que o mesmo que ocorreu no passado ocorrerá também no
futuro. Confiar na ideia de que o Sol vai nascer amanhã é confiar no raciocínio indutivo.

Mas como podemos estar seguros disso? Que razões temos para pensar que o futuro
será como o passado, como é exigido pela indução? Hume considera que só podemos
confiar na indução se partirmos do princípio de que a natureza é uniforme e regular,
funcionando sempre da mesma maneira, sem surpresas. Portanto, a indução só é fiável
porque partimos do princípio da uniformidade da natureza.
• O princípio da uniformidade da natureza é o pressuposto de que a natureza é
uniforme e regular, comportando-se sempre da mesma maneira.

Mas onde fomos nós buscar tal princípio? Que justificação temos para acreditarmos que
a natureza é uniforme e, portanto, que a indução é fiável?
Segundo Hume, a resposta só pode ser uma: justificamos a nossa crença de que a
natureza é uniforme com base no que temos observado até aqui. Vimos acontecer as
mesmas coisas repetidamente e concluímos que a natureza é sempre regular e
uniforme. Mas isto é mais uma vez raciocinar indutivamente. Estamos a justificar a nossa
confiança na indução com base num princípio estabelecido indutivamente. Ora,
justificar a nossa confiança num tipo de raciocínio com base num raciocínio do mesmo
tipo é andar aos círculos e deixar tudo como estava no início. Sendo circular, a
justificação nada justifica. Isto leva Hume a concluir que todas as afirmações baseadas
no raciocínio indutivo são injustificadas. Logo, quase toas as afirmações das ciências
empíricas são injustificadas.

O problema do mundo exterior


Hume vai ainda mais longe nas suas conclusões céticas, defendendo que a nossa crença
na realidade do mundo exterior é também injustificada.
• Chama-se mundo exterior a tudo o que não faz parte dos nossos conteúdos
mentais.
• Perguntar se o mundo exterior é real é perguntar se os objetos que
percecionamos têm uma existência independente da nossa perceção.

Como vimos, Hume defende que na nossa mente apenas temos perceções, sendo elas
a origem do nosso conhecimento do mundo. Porém, não podemos confundir a perceção
de um objeto com esse objeto. Por exemplo, as nossas perceções de uma árvore são
diferentes consoante nos aproximamos ou afastamos dela, mas não acreditamos que a
própria árvore mude de tamanho à medida que nos aproximamos ou afastamos dela.
Isto mostra que a perceção da árvore e a própria árvore não são a mesma coisa.

Ainda assim, acreditamos que as perceções representam os objetos exteriores no


sentido em que são causadas pelos próprios objetos exteriores. Mas como sabemos que
são causadas pelos objetos exteriores se nós não temos acesso senão às perceções que
se encontram na nossa mente?

Também aqui somos tentados a estabelecer uma relação de causalidade entre os


conteúdos da nossa mente e a existência de objetos exteriores. O problema, defende
Hume, é que não temos acesso algum a essas supostas causas, mas apenas aos
conteúdos da nossa mente. Logo, não sabemos realmente que o mundo exterior existe
– nem que não existe.
Ceticismo moderado
Hume não é um cético radical. Isto porque, ao contrário dos céticos radicais, defende
que não devemos abandonar as nossas crenças intuitivas na existência do mundo
exterior ou na existência de relações causais reais. Hume pensa que abandonar essas
crenças tornaria a nossa vida impossível.

Contudo, os argumentos céticos de Hume mostram que a nossa capacidade de


conhecimento tem limites, exigindo que sejamos moderados nas nossas opiniões.
Devemos estar sempre atentos para evitar o dogmatismo. Acima de tudo, devemos
seguir muito de perto o que nos diz a experiência.

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