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Despedidas de Belém (est 84-93)

Estrutura externa: Canto IV

Estrutura interna: Narração

Plano/s Narrativo/s: Início do plano da viagem e História de Portugal

Contextualização da obra:

Devido a acontecimentos nos reinados de D. João II relacionados com a expansão para África, surgem os
preparativos para a viagem á Índia, o que nos leva ás Despedidas de Belém.

Interpretação: (resumo)
Depois de relembrar a História de Portugal, Vasco da Gama narra ao rei de Melinde a partida da armada para a
viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia, em analepse. Começa por contar que os navegadores
foram renumerados por D. Manuel I e incentivados com palavras de ânimo. No porto de Lisboa, preparam-se as
naus para a viagem, encontrando-se os marinheiros e os soldados muito entusiasmados e sem medos. Depois
destes preparativos, aprontaram-se também espiritualmente, pedindo a Deus orientação e apoio para a viagem.
Vasco da Gama refere que quando recorda o momento da partida, cheio de dúvida e receio, tem dificuldade em
conter as lágrimas. Naquele dia, o povo da cidade de Lisboa aglomerou-se na praia de Belém para assistir á
partida das naus e para se despedir dos amigos e parentes que iriam embarcar. Acreditava-se que a viagem seria
longa e perigosa de forma que o povo considerava a possibilidade de os navegadores jamais voltarem. Os homens
não conseguiam esconder a emoção (“com suspiros”) e as mulheres choravam com desespero de não os voltar a
ver.

Divisão por partes: 3 partes-:

 Introdução est.83-86:
Feita a referência a D. Manuel I, que pagou aos marinheiros e encorajou-os com palavras de louvor, e
localizada a ação no espaço e no tempo, observamos o alvoroço geral dos últimos preparativos para o
embarque da “gente marítima e a de Marte” (marinheiros e soldados). Prontas as naus, os nautas
reúnem-se em oração na ermida da Nossa Senhora de Belém.
 Desenvolvimento est.87-92:
Descreve-se a “procissão solene” do Gama e seus companheiros desde o “santo tempo” (ermida) até aos
batéis, pelo meio da “gente da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com relevo especial para
as mães e esposas. Tanto os que partiam como os que ficavam entristeciam e a despedida assume grande
emotividade.
“Porque me deixas, misera e mesquinha?”
“Porque de mi te vas, ó filho caro”
 Conclusão est.93:
Refere-se ao embarque que, por vontade de Vasco da Gama, se fez sem as despedidas habituais para
diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam como dos que ficavam.
Recursos expressivos:

 Est.84- perífrase – “Porque a gente marítima e a de Marte”


 Est.86- perífrase – “Que sempre as nautas ante os olhos anda/ Pera o sumo Poder, que a etérea Corte”
 Est.87- anáfora – “Que nas praias do mar está assenta, /Que o nome tem da terra, pêra exemplo,”
 Est.87-apóstrofe – “Certifico-me, ó Rei, que, se contemplo
 Est.89- enumeração - “Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso”
 Est.90- apóstrofe – “Qual vai dizendo: - “ó Filho, a quem eu tinha”
 Est.90- dupla adjetivação- “Que em choro acabará, penoso e amaro”
 Est.90- anáfora – “Porque me deixas, mísera e mesquinha? / Porque de mim te vas, ó filho caro”
 Est.91- apóstrofe/ dupla adjetivação – “Qual em cabelo: “ó doce e amado esposo”
 Est.91- aliteração – “Quereis que com as velas leve o vento?
 Est.92- personificação – “A branca areia as lágrimas banhavam, /Que em multidão co elas se igualavam”

Importância / dimensão:

Este episódio é importante para “Os Lusíadas”, visto que demonstra a dor, sofrimento e coragem por parte dos
portugueses pelo facto de terem de deixar as suas famílias para enfrentar o desconhecido e se aventurarem nesta
viagem.

Intertextualidade:

Mar Português
 
Ó mar salgado, quanto de teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
 
Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, tal como Luís de Camões, revela a dor, o sofrimento e o sacrifício das pessoas. Mas, Camões
considera que estes sentimentos atingiram todas as pessoas de Portugal. Globalmente, este poema “Mar
Português” retrata a ânsia do desconhecido e a luta que os navegadores travaram com o mar. O autor realça,
também, a dor das mães, noivas e filhos que perderam a sua oportunidade de constituir uma família.

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