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“MAR PORTUGUÊS”

Beatriz Gomes

Português 12.º C

2022/2023

1
Índice

Introdução .................................................................................................................................. 3

Mar Português ........................................................................................................................... 4

Análise formal do poema ................................................................................................... 5

Análise ideológica e estilística do poema ..................................................................... 5

Intertextualidade ....................................................................................................................... 8

Conclusão ................................................................................................................................ 10

Bibliografia/ Web grafia ........................................................................................................ 11

2
Introdução

Este relatório destina-se a interpretar e desenvolver o poema “Mar


Português”, da obra “Mensagem”, de Fernando Pessoa.

"Mensagem" é a única obra escrita por Pessoa, publicada em 1934. Esta


obra desenvolveu-se pela influência de um concurso promovido pelo Estado
Novo1 que consistia em criar uma obra que enaltece Portugal.

“Mensagem” é formada por uma série de poemas que exploram a história,


a mitologia e a identidade nacional de Portugal. Por esse motivo é várias vezes
comparada a “Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões.

Essencialmente, “Mensagem” está dividida em três partes: "Brasão", "Mar


Português" e "O Encoberto".

Na primeira parte, "Brasão", Pessoa explora a história de Portugal desde


a época dos visigodos até a fundação do país, abordando figuras históricas como
Viriato, D. Afonso Henriques e D. Sebastião. Na segunda parte, "Mar Português",
onde o poema que se vai desenvolver neste trabalho se localiza, Pessoa celebra
a relação dos portugueses com o mar e a sua história marítima, fazendo
referência a Vasco da Gama, Bartolomeu Dias e outros navegadores famosos.

Por fim, na terceira parte, "O Encoberto", Pessoa aborda a figura do mito
do Quinto Império, que representa uma visão messiânica da história portuguesa
e do seu papel no mundo. O poema sugere que Portugal está destinado a liderar
o mundo e a trazer paz e justiça para a humanidade.

1
Regime ditatorial vigorado entre 1933 e 1974 em Portugal

3
Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador2
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

2
Cabo a sul da costa africana, onde muitas naus portuguesas naufragaram, e por isso, ficou conhecido
como Cabo das Tormentas

4
Análise formal do poema

Métrica

Alternadamente versos de decassílabos e octossílabos, exceto o segundo verso


de cada sextilha, que são heptassílabos.

Esquema rímico

Rima emparelhada, predominantemente masculina

Número de versos

12 versos

Estrofes

2 Sextilhas

Análise ideológica e estilística do poema

Primeiramente, através do título do poema, “Mar Português”, há a


destacar o adjetivo “português” que remete para a possessão, conquista e
domínio do mar pelos portugueses. No entanto, esta conquista marítima já não
se evidencia na época em que o poema foi escrito3, o que sugere, para o sujeito
poético, apesar de o mar já não pertencer aos portugueses, será para sempre
lusitano, uma vez terem sido os pioneiros no seu domínio.

Adicionalmente, o mar, é mencionado no singular, como um só,


contrariamente ao dia a dia, onde é tratado no plural, “mares”, isto significa que
os portugueses uniram todos os mares e por consequente, toda a terra numa só,
o que é evidentemente um feito magnifico.

Análise da primeira estrofe

Ó mar salgado, quanto do teu sal - Ó mar, quanto do sofrimento que tens
em ti

São lágrimas de Portugal! - Não é o sofrimento, a dor, de portugueses

3
Entre 1913 e 1934

5
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, - Por te terem cruzado, mães
sofreram a morte dos filhos

Quantos filhos em vão rezaram! - Filhos sofreram a morte dos pais

Quantas noivas ficaram por casar - Noivas sofreram a morte dos seus
prometidos

Para que fosses nosso, ó mar! - Todo este sofrimento para conquistar o
mar

É de destacar que o poema começa com uma apóstrofe, “Ó mar salgado”,


invocando o mar, que se personifica, ou seja, para Fernando Pessoa, o mar não
é retratado como bem físico, mas sim como uma personagem importante para
Portugal, tal como é “D. Dinis” ou “Fernão de Magalhães”.

Como tal, o mar falado neste poema é um mar cheio de algo invisível, mas
que se sente: o sofrimento das mães a chorar, dos filhos a rezar em vão e das
noivas “por casar”. Tudo pela conquista do mar. Pessoa utiliza o sal marítimo
como uma personificação do sofrimento, ou seja, da mesma forma que o sal é
constante na água do mar, também o sofrimento português estará para sempre
presente no mar. A tragédia marítima é uma tragédia humana, não é feita de
heróis, mas é feita daqueles que esperam e sofrem pela causa comum.

Análise da segunda estrofe

Valeu a pena? Tudo vale a pena - Valeu a pena tanto sofrimento, tanta
dor e sacrifício?

Se a alma não é pequena. - Para uma alma que ambiciona o tudo, nenhum
sofrimento é demasiado.

Quem quer passar além do Bojador - Quem desejou passar o Bojador,


dobrar cabos.

Tem que passar além da dor. - Aceita que tem de passar além da dor, que
tem de aceitar o sacrifício, pela recompensa.

6
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, - Deus fez o mar perigoso e como
um abismo.

Mas nele é que espelhou o céu. - Mas também espelhou no mar o céu.

O poeta tendo descrito o sofrimento na estrofe anterior, recorre à retórica


para perguntar aos leitores se valeu a pena tanto sofrimento. Pessoa responde
à pergunta “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena”, ou seja, qualquer
sacrifício e dificuldade vale a pena se desejarmos algo grande para nós mesmos.
Nos versos a seguir Pessoa utiliza o Cabo Bojador como metáfora dos objetivos
a alcançar e simboliza o ultrapassar do medo e do desconhecido, o primeiro
passo para o conhecimento. É necessário superar os limites da frágil condição
humana.

Nos últimos versos estão existe uma antítese entre o negativo “pena”,
“dor”, “perigo”, “abismo” e o positivo “céu”. Quer isto dizer que a dor é sempre o
preço da glória.

Um outro aspeto importante a denotar neste poema é os jogos entre os


tempos verbais utilizados na primeira e a segunda estrofe. Fernando Pessoa na
primeira estrofe utiliza o pretérito perfeito do indicativo para falar no sofrimento,
ou seja, o sofrimento pertence ao passado, mas também o infinitivo pessoal
“cruzarmos” (v. 3), exprimindo a determinação continuada e a persistência. Na
segunda estrofe o tempo verbal predominante é o presente do indicativo, para
falar sobre os esforços necessários para conseguir concretizar os sonhos e nos
dois últimos versos encontra-se o pretérito perfeito do indicativo, para recuperar
a ideia de ultrapassagem das adversidades como forma de alcançar a
imortalidade.

7
Intertextualidade

"Lusíadas" de Luís Vaz de Camões e “Mensagem" de Fernando Pessoa


são das obras da literatura portuguesa mais celebradas mundialmente e ambas
enaltecem o passado marítimo e exploratório de Portugal e expressam um
profundo sentimento de orgulho nacional.

"Lusíadas" é uma obra épica que conta a história das explorações e


conquistas marítimas de Portugal, particularmente a descoberta de uma rota
marítima para a Índia. A obra é uma celebração da identidade nacional
portuguesa e Camões retrata as conquistas de Portugal como resultado da
bravura, inteligência e tenacidade do seu povo.

"Mar Português", por outro lado, é um poema que também celebra a


história marítima de Portugal, mas de uma forma mais pessoal e reflexiva.
Pessoa fala da sua própria ligação ao mar e como esta representa a alma e a
essência de Portugal. Ele vê o mar como um símbolo da grandeza de Portugal
e da sua identidade única, e sente-se orgulhoso por fazer parte desta cultura.

“Mar Português” compara-se com o episódio “Despedidas em Belém”,


canto IV, estrofes 84 a 96. Neste episódio, Luís de Camões enaltece os
Descobrimentos e a dor, o sofrimento e o sacrifício das pessoas envolvidas
direta4 ou indiretamente5 que foram essenciais para alcançar tal grandiosidade.
É feita uma descrição, por Vasco de Gama6, da partida das naus de Belém rumo
à Índia. Sobressai-se o sofrimento daqueles que nas naus partiram e dos que
ficavam, “mães, esposas, irmãs” 7 e “velhos e os meninos” 8 cujas lágrimas serão
o sal do poema “Mar Português” em Mensagem.

Assim, nestas estâncias d’ Os Lusíadas, há um ambiente de dor e de


pessimismo provocado pela antecipação dos perigos que aqueles que partem
vão enfrentar. No poema “Mar Português”, esta consciência do perigo, que

4
Marinheiros e navegadores
5
Familiares e amigos
6
Neste episódio, Vasco da Gama assume a narração d’Os Lusíadas onde descreve ao rei de Melinde a
partida da armada para a viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia, em analepse.
7
Transcrição d’Os Lusíadas, canto IV, estrofe 89, verso 5
8
Transcrição d’Os Lusíadas, canto IV, estrofe 92, verso 3

8
também provoca dor e sofrimento, é eivada9 de otimismo, porque a dor é
encarada como um meio necessário para alcançar o sonho. Ambas as obras
procuram falar sobre o sofrimento trazido pelos Descobrimentos.

9
Contaminada

9
Conclusão

“Mar Português" é uma expressão da identidade nacional portuguesa.

O poema apresenta o mar como uma metáfora para a alma e o espírito


de Portugal, um elemento que define a identidade do país e dos seus habitantes.
O poema sugere que a grandeza de Portugal está ligada à sua história marítima
e à sua capacidade de explorar e conquistar novos mundos.

Por estes motivos, a menção do mar na Mensagem, como sendo parte de


Portugal é inquestionável.

10
Bibliografia/ Web grafia

https://portuguesnalinha.blogs.sapo.pt/os-lusiadas-analise-do-episodio-13453

https://oslusiadas.org/iv/92.html#_

https://bibliotecadigital.ebsqf.pt/

www.esqm.pt

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