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Diogo Cão (séc. XV), no Congo (1486?) E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10.ª ed., 1972).
(1) Padrão: marco de pedra com emblemas simbólicos, que assinalava a posse de Portugal sobre
as terras descobertas. Era erguido pelos navegadores portugueses nas terras que iam descobrindo,
tendo como emblemas a cruz e as quinas.
QUESTIONÁRIO:
1. Várias são as funções atribuídas, neste poema, ao "padrão". Como marco sinalizador
que é, ele surge com a função de assinalar a passagem de Diogo Cão ( "Eu, Diogo Cão,
navegador..." - v. 2) pelo "areal moreno" ("... deixei // Este padrão ao pé do areal moreno" -
vv. 2-3), dando, assim, conhecimento de que a parte da "obra ousada" que competia ao
navegador cumprir foi feita. Na verdade, em duas viagens, Diogo Cão percorreu a costa
ocidental de África, entre 1482 e 1486, do Cabo de Santa Catarina até à Serra Parda,
tendo levantado padrões de pedra (em vez de cruzes em madeira) nos vários locais onde
aportava. Por isso, outra função do padrão era testemunhar, pelas "Quinas" gravadas no
monumento, o domínio português das terras que iam sendo descobertas. Finalmente,
podemos descortinar uma terceira função do padrão: manifestar, através da "Cruz" que
encima o próprio "padrão", a transcendência do objetivo último da navegação do "eu",
mais concretamente, a demanda de Deus. Difundir a fé cristã pelos vários cantos do
mundo era anunciado, com efeito, como a finalidade principal dos Descobrimentos. É claro
que, no fundo, isso não passava de mera propaganda, dado que a primazia estaria mais
voltada para os interesses económicos, mas numa sociedade tão profundamente religiosa
como era a da altura, convinha, naturalmente, acenar com a bandeira da difusão do
cristianismo!...
2. Nota-se um paralelismo de construção dos versos 1 e 5, pois ambos seguem idêntico
esquema lexical e sintático: determinante (artigo) — nome — verbo copulativo (no
presente do indicativo, para dar mais autenticidade e atualidade às afirmações) — adjetivo
qualificativo — conjunção copulativa — determinante (artigo) — nome — verbo copulativo
— adjetivo qualificativo. Essa estrutura frásica é formada por máximas ou frases
aforísticas, assentes em antíteses, gerando relações de sentido entre os seus elementos
que evidenciam, por um lado, a pequenez do "homem" e, consequentemente, a
imperfeição da sua obra e, por outro lado, a grandiosidade da missão "divina" que lhe foi
atribuída e que ele teria de tentar executar ("O esforço é grande e o homem é pequeno" -
v. 1; " A alma é divina e a obra é imperfeita." - v. 5). Perante estas contradições, terá de
ser feito um exercício enorme de autossuperação das limitações do "homem", tendo como
fim último a procura da perfeição "divina" e o cumprimento da missão atribuída por Deus
a Diogo Cão, em particular (herói individual), e ao povo português, em geral (herói
coletivo).
O INFANTE
- Detentor – Deus; a vontade de Deus é determinante mas sem o sonho humano, nada seria
possível.
· Deus quis que o mar fosse o caminho que unisse os diferentes continentes
(vv. 2-3);
· Deus sagrou / escolheu o infante D. Henrique, o infante de Sagres para iniciar essa tarefa (v. 4),
levando-o a “sonhar” com isso («o homem sonha»);-
· «a obra nasce»: a pouco e pouco as caravelas ligaram ilhas e continentes, foram «até ao fim do
mundo», percorreram «a terra inteira» (segunda estrofe).
- «Quem te sagrou (relação com Sagres, Algarve) criou-te português»: os portugueses foram
escolhidos por Deus para levar a cabo esta empresa; logo, este é um povo eleito, designado por Deus,
o único capaz de realizar este empreendimento e que será o intermediário entre Deus e a obra.
· «Cumpriu-se o Mar», ou seja, realizou-se o sonho do mar ser um caminho para unir os diferentes
continentes;
Senhor,