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GRUPO I

Leia com atenção o texto.

Ora nom moiro, nem vivo, nem sei


como me vai, nem rem1 de mi, se nom
atanto que2 ei3 no meu coraçom
coita d’amor qual vos ora direi:
5 tam grande que me faz perder o sém4,
e mia senhor sol nom sab’ende rem.5

Nom sei que faço, nem ei de fazer,


nem em que ando, nem sei rem de mi,
se nom atanto que sofr’e sofri
10 coita d’amor qual vos quero dizer:
tam grande que me faz perder o sém,
e mia senhor sol nom sab’ende rem.

Nom sei que é de mim, nem que sera,


meus amigos, nem sei de mi rem al
15 se nom atanto que eu sofr’atal
coita d’amor qual vos eu direi ja:
tam grande que me faz perder o sém,
e mia senhor sol nom sab’ende rem.

Bonifacio Calvo, A 266/B 450, in Elsa Gonçalves e Maria Ana Ramos,


A lírica galego-portuguesa, Lisboa, Editorial Comunicação, 1983, p. 232.

1 coisa, algo; 2 se nom / atanto que: a não ser que; 3 tenho; 4 juízo; 5 sol nom sab’ende rem: nem sequer sabe nada

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Identifique o tema desta composição lírica, justificando a sua resposta com expressões do texto.

2. O sujeito lírico desta cantiga sente-se “perdido de amores”.


Demonstre-o.

3. Indique a posição tomada pela “senhor” em relação aos sentimentos do sujeito poético, fundamentando
a sua resposta.
B

Leia com atenção a cantiga de amigo que se segue.

Dizia la fremosinha:
“ai, Deus, val!1
Com’estou d’amor ferida!
ai, Deus, val!”

5 Dizia la bem talhada2:


“ai, Deus, val!
Com’estou d’amor coitada!
ai, Deus, val!

Com’estou d’amor ferida!


10 ai, Deus, val!
Nom vem o que eu bem queria!
ai, Deus, val!

Com’estou d’amor coitada!


ai, Deus, val!
15 Nom vem o que eu muit’amava!
ai, Deus, val!”

Dom Afonso Sanches, B 784/V 368, in Elsa Gonçalves e Maria Ana Ramos,
A lírica galego-portuguesa, Lisboa, Editorial Comunicação, 1983, p. 318.

1 vale-me
2 bem talhada: elegante, de boas formas

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem.

4. Demonstre de que forma esta cantiga apresenta marcas características do texto narrativo.

5. Estabeleça uma comparação em termos temáticos entre esta cantiga e a presente no grupo A.

GRUPO II

Leia atentamente o texto.

Após ter conquistado milhares de espetadores em França, A Gaiola Dourada prepara-se agora para
ser um grande sucesso comercial em Portugal, onde já foi visto por mais de catorze mil espetadores
durante as suas primeiras vinte e quatro horas em cartaz. Esta imediata atração do público português
por esta obra luso-francesa compreende-se perfeitamente, não só por causa da impressionante onda
de publicidade positiva que o filme tem recebido por parte da imprensa, mas também por causa do
contagiante estilo corriqueiro desta agradável comédia familiar de Ruben Alves, onde somos apresentados
à simpática Família Ribeiro, que vive, há cerca de trinta anos, na portaria de um prédio de
luxo que está situado num dos principais bairros de classe média-alta da capital francesa. Os pilares
desta afável família são Maria e José Ribeiro (Rita Blanco e Joaquim de Almeida), um simpático casal
de emigrantes portugueses que se tornou, com o passar dos anos, numa parte indispensável do
quotidiano da pequena comunidade que os acolheu e que agora os poderá perder, já que Maria e José
poderão em breve concretizar o seu grande sonho de regressarem permanentemente a Portugal, onde
poderão levar uma vida mais simples, pacífica e próxima das suas tradições.
O problema é que nenhum dos seus amigos, vizinhos e patrões quer deixar partir esta simpática
família, que também está fortemente dividida, já que Maria e José parecem ser os únicos que estão
dispostos a regressar às suas origens e abandonar definitivamente a sua preciosa comunidade que,
durante três décadas, lhes deu tudo aquilo que eles precisavam para levar uma vida esforçada mas
feliz. Será que Maria e José estão mesmo dispostos a regressar ao nosso país e a virar para sempre
as costas à sua inestimável gaiola dourada?
20 Esta simples pergunta não tem de todo uma resposta óbvia, já que é a sua procura por parte dos
dois protagonistas que alimenta o caricato desenrolar do prático guião desta simples mas agradável
comédia luso-francesa, que denota todos os seus traços e influências francesas graças à forma requintada e
pragmática como os seus criadores construíram e decidiram contar esta simples história
familiar, cujo principal apelo humano deriva da contagiante áurea popular bem portuguesa que
25 marca presença um pouco por todo o filme, e que acaba por acrescentar um reconfortante e atrativo
elemento de tradição, descontração, diferenciação e diversão a esta honrosa comédia que, embora
não seja abismalmente criativa ou irreverente, aposta numa história com pés e cabeça que enfatiza
os dilemas e os dramas da comunidade emigrante nacional sem nunca esquecer os estereótipos
culturais portugueses, que foram aqui aproveitados da melhor maneira possível para desenvolver
30 um estupendo ambiente tradicional e familiar, que tanto promove a diversão como a emoção. Para
este atrativo resultado final muito contribuiu a capacidade criativa de Ruben Alves (Realizador/
Guionista), que soube aproveitar o melhor de dois mundos para criar e evidenciar esta ligeira mas
francamente apelativa comédia familiar, que beneficia ainda de uma ótima prestação do seu elenco
nacional e internacional.

http://www.portal-cinema.com/2013/08/critica-gaiola-dourada-2013.html (consultado em janeiro de 2015).

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., selecione a opção correta.

1.1. O filme A Gaiola Dourada retrata uma família portuguesa que

(A) não se adaptou à vida em França e que vê agora a possibilidade de regressar ao seu país de
origem.
(B) não equaciona a possibilidade de regressar a Portugal porque os seus empregos e as suas
raízes estão em França.
(C) hesita entre manter-se em França e regressar a Portugal.
(D) deseja regressar a Portugal por se sentir dispensável em França.

1.2. Segundo o autor do artigo, o filme A Gaiola Dourada é uma comédia

(A) extremamente irreverente, agradável e simples.


(B) simples, contagiante e pouco tradicional.
(C) divertida, emocionante e simples.
(D) simples, muito criativa e marcadamente portuguesa.

1.3. A forma verbal “ter conquistado” (l. 1) encontra-se no

(A) pretérito mais que perfeito composto do indicativo.


(B) pretérito mais que perfeito composto do conjuntivo.
(C) pretérito perfeito composto do conjuntivo.
(D) infinitivo composto.

1.4. Na frase “A Gaiola Dourada prepara-se agora para ser um grande sucesso comercial em Portugal,
onde já foi visto por mais de catorze mil espetadores durante as suas primeiras vinte e quatro horas
em cartaz” (ll. 1-3), a expressão sublinhada desempenha a função sintática de

(A) predicativo do complemento direto.


(B) predicativo do sujeito.
(C) complemento agente da passiva.
(D) complemento oblíquo.
1.5. O termo “corriqueiro” (l. 6) é antónimo de

(A) lento.
(B) invulgar.
(C) inquietante.
(D) subtil.

1.6. O processo fonológico ocorrido na passagem de STILU- para “estilo” (l. 6) é a

(A) prótese.
(B) epêntese.
(C) paragoge.
(D) síncope.

1.7. Na frase “Esta simples pergunta não tem de todo uma resposta óbvia, já que é a sua procura por
parte dos dois protagonistas que alimenta o caricato desenrolar do prático guião desta simples
mas agradável comédia luso-francesa” (ll. 20-22), o determinante possessivo “sua” refere-se a

(A) pergunta.
(B) resposta.
(C) caricato.
(D) comédia.

2. Responda de forma correta aos itens apresentados.

2.1. Retire do primeiro parágrafo do texto três palavras que pertençam ao campo lexical de cinema.

2.2. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão sublinhada em “somos apresentados
à simpática Família Ribeiro, que vive, há cerca de trinta anos, na portaria de um prédio de
luxo” (ll. 6-8).

2.3. Explique o significado literal do vocábulo “capital” (l. 8), sabendo que a palavra latina capitia
significa ‘cabeça’.

GRUPO III

Escreva um texto expositivo, com um mínimo de 120 e um máximo de 150 palavras, no qual apresente
as principais diferenças entre as cantigas de amigo e as cantigas de amor.

O seu texto deve incluir uma parte introdutória, uma de desenvolvimento e uma conclusão e incluir os
aspetos abaixo apresentados.

• Origem.
• Objeto.
• Sujeito de enunciação.
• Características da figura feminina.
• Características da figura masculina.
• Ambiente.
TESTE DE AVALIAÇÃO N.O 1 (pp. 32-35)

1. Esta cantiga versa sobre o sofrimento amoroso – coita


de amor: “... ei no meu coraçom / coita d’amor...”
(vv. 3-4).

2.1. É evidente, ao longo de toda a cantiga, que o sujeito


lírico não tem noção do que se passa consigo nem
consegue descrevê-lo. Sente-se entre a vida e a morte
– “Ora nom moiro, nem vivo...” (v. 1) –, completamente
desconcertado – “… nem sei / como me vai, nem rem
de mi...” (vv. 1-2) –, sem saber o que fazer – “Nom sei
que faço, nem ei de fazer,” (v. 7) – não conseguindo
vislumbrar o que será o seu futuro – “Nom sei que é
de mim, nem que sera,” (v. 15). O único facto de que
ele tem a certeza é de estar a sofrer de tal forma por
amor que sente estar a enlouquecer – “se nom / atanto
que ei no meu coraçom / coita d’amor… / tam grande
que me faz perder o sém” (vv. 2-5).

3. Como se depreende do último verso do refrão, a “senhor” não tem conhecimento do estado de
sofrimento
em que o sujeito lírico se encontra, situação que parece
constituir-se como o ponto fulcral da sua coita
amorosa: estar apaixonado e o alvo do seu amor não
ter sequer consciência disso, pelo que, desta feita, não
poderá aspirar a uma correspondência amorosa.

4. É possível identificar, na cantiga, a voz de um narrador


– “Dizia la fremosinha” (v. 1) – bem como a personagem principal da ação que está ser narrada e
descrita e que mais não é do que o lamento de uma donzela apaixonada e que sofre devido à ausência
do amigo. Verifica-se, ainda, que o narrador coloca a personagem a falar na primeira pessoa através
do discurso direto – “ai, Deus, val! / Com’estou d’amor ferida!” (vv. 2-3).

5. Ambas as cantigas versam sobre o sofrimento causado


pelo amor. Na primeira, assistimos à confissão do
estado de insanidade e de angústia que o sujeito lírico
experimenta por estar apaixonado e a sua amada não
ter conhecimento disso; na segunda, a de amigo, somos
confrontados com a mágoa e o desespero de uma donzela apaixonada que lamenta a ausência do
amado.

GRUPO II

1.1. (C); 1.2. (C); 1.3. (D); 1.4. (C); 1.5. (B); 1.6. (A): 1.7. (B)

2.1. Espetadores, cartaz, público, filme, comédia.

2.2. Complemento oblíquo.


3. À letra, capital significa a cabeça (a parte principal)

de um país.

GRUPO III

A resposta do aluno deverá contemplar, entre outros, os


seguintes aspetos:

Cantigas de Cantigas de

amor amigo

Origem • provençal • autóctone

Sujeito de
• trovador • donzela
enunciação

• a dona(a
Objeto • o amigo
“senhor”)

Características • ser divinizado, • Ser terrestre, de


quase inatingível, Cariz essencialmente
da figura
da aristocracia popular
feminina

Características • vassalo • apaixonado

da figura • submisso • ausente

masculina • sofredor • mentiroso

• doméstico

• palaciano • familiar
Ambiente
• cortês • rural

• marítimo

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