Este documento compara os três heterónimos de Fernando Pessoa - Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Caeiro e Reis aproximam-se na visão de viver serenamente em comunhão com a natureza, mas diferem na intelectualização das emoções e concepção de Deus. Caeiro e Campos compartilham a objetividade poética e sensações visuais, mas diferem nos temas e atitudes perante a vida. Reis e Campos angustiam-se com a mortalidade, mas por motivos diferentes.
Este documento compara os três heterónimos de Fernando Pessoa - Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Caeiro e Reis aproximam-se na visão de viver serenamente em comunhão com a natureza, mas diferem na intelectualização das emoções e concepção de Deus. Caeiro e Campos compartilham a objetividade poética e sensações visuais, mas diferem nos temas e atitudes perante a vida. Reis e Campos angustiam-se com a mortalidade, mas por motivos diferentes.
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Este documento compara os três heterónimos de Fernando Pessoa - Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Caeiro e Reis aproximam-se na visão de viver serenamente em comunhão com a natureza, mas diferem na intelectualização das emoções e concepção de Deus. Caeiro e Campos compartilham a objetividade poética e sensações visuais, mas diferem nos temas e atitudes perante a vida. Reis e Campos angustiam-se com a mortalidade, mas por motivos diferentes.
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Comparao entre Alberto Caeiro e Ricardo Reis: A nvel de contedo estes dois heternimos aproximam-se principalmente pelo modo como tentam encarar a vida: tanto Caeiro como Reis, alm de considerarem que a felicidade s se alcana atravs de uma vida serena e em comunho com a natureza, defendem a vivncia plena do presente, sem preocupao nem com o passado nem com o futuro (carpe diem, desfrutar de cada momento). No entanto, pode verificar-se que so grandes as diferenas entre eles. Enquanto que Ricardo Reis caracterizado pela intelectualizao das emoes e pelo medo perante a morte, Alberto Caeiro exactamente o poeta das sensaes, considerando o pensamento como um entrave observao da natureza, e o poeta que no se preocupa com a passagem do tempo. Outra grande diferena que Alberto Caeiro acredita (num s) Deus enquanto elemento da natureza (tudo divino), ao passo que Ricardo Reis cr em vrios deuses pois identifica-se com a civilizao grega. A nvel formal estes dois heternimos so o oposto: de um lado temos Caeiro com a sua lingua- gem simples e familiar, a sua despreocupao a nvel fnico, a sua irregularidade estrfica, mtri- ca e rtmica e as suas frases essencialmente coordenadas; e, de outro, temos Ricardo Reis com toda a sua complexidade estrofes e mtrica regulares, predomnio da subordinao e linguagem erudita, cheia de simbolismos clssicos.
Comparao entre Alberto Caeiro e lvaro de Campos: No de estranhar que estes dois poetas no tenham muito em comum, uma vez que um o poeta natural e pacfico, e o outro o poeta da modernidade, da tcnica e caracterizado por um certa violncia e agressividade. No entanto, apesar destes contrastes, tm alguns factores em comum, considerando a 2fase de lvaro de Campos: ambos so poetas solitrios, rejeitam a subjectividade da lrica tradicional, tentando ser objectivos na observao do real, e neles predominam as sensaes visuais. As maiores divergncias, a nvel temtico, verificam-se na concepo do tempo (para Caeiro s existe o presente, para Campos o presente a concentrao de todos os tempos), no objecto da sua poesia (Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2fase, exulta as da civilizao moderna), e na atitude perante a vida (enquanto que Caeiro feliz, Campos na 3fase um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida nunca lhe trouxe nada de bom). A nvel formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrfica, mtrica e rtmica, verifica-se que, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos artifcios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande nmero de figuras de estilo (que tornam a com- preenso da mensagem mais difcil) e, por isso mesmo, por uma exuberncia que choca eviden- temente com a simplicidade e serenidade dos versos do mestre Caeiro.
Comparao entre lvaro de Campos e Ricardo Reis: lvaro de Campos foi um poeta que, pelo seu estilo eufrico e, mais tarde, disfrico, se afastou dos outros heternimos, j que estes procuravam a serenidade, que Campos tambm procurava, de uma forma mais tranquila. Assim, so poucas as semelhanas entre Ricardo Reis e Campos: tanto Campos (na 3fase) como Reis se angustiam perante a efemeridade da vida, consideram a infncia como momento de maior felicidade e aceitam o seu destino (conformismo). No entanto, neste ltimo ponto, os motivos para essa aceitao so diferentes: enquanto que Reis o aceita pois considera que essa a melhor forma de ser feliz, Campos f-lo numa atitude de resignao perante a vida, no deixando de se sentir infeliz por aquilo que ela lhe reservou. Aquilo que mais os distancia a sua relao com a realidade Campos vive em eterno conflito com a humanidade e Reis d-lhe conselhos (atravs da 1pessoa do plural no imperativo) e a solido que caracteriza Campos na 3fase. A nvel formal tanto um como outro apresentam versos brancos, embora Reis seja regular a nvel estrfico e mtrico. Pode verificar-se que lvaro de Campos, na 2fase, utiliza a ode como forma de expresso, tal como Ricardo Reis. Nestes dos heternimos pode encontrar-se grande riqueza a nvel estilstico, nomeadamente no que respeita `assonncia e aliterao, e uma utilizao fre- quente do modo imperativo. No entanto, enquanto que Ricardo Reis submete a expresso ao con- tedo, Campos valoriza mais a expressividade dos seus poemas, sendo que esta acaba por se sobrepor ao seu contedo ou acabar por resumir o ltimo.
Caractersticas comuns aos trs: encontram-se, nos heternimos, dois factores comuns a todos eles. Primeiro, a descoberta de um equilbrio entre o sentir e o pensar: Caeiro encontra-se atravs da natureza; Reis encontra-se atravs do equilbrio entre a dor e o prazer; e Campos no se encontra. Em segundo lugar, verifica-se que todos associam infncia o momento em que foram verdadeiramente felizes porque ingnuos e inocentes. No entanto, enquanto que Reis e Caeiro acreditam poder voltar a ser felizes como foram em criana, Campos considera essa felicidade perdida, pois s feliz se for inconsciente, o que s aconteceu na sua infncia, na pr - conscincia.