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Maria da Conceição Neto
| Universidade Agostinho Neto (Luanda)
1 Dois guias essenciais: Alexandre, Valentim, A Questão Colonial no Parlamento (1821-1910), Lisboa, Assembleia
da República/D. Quixote, 2008; e Proença, Maria Cândida, A questão colonial no Parlamento (1910-1926), Lisboa,
Assembleia da República/D. Quixote, 2008.
2 Publicado depois do golpe militar de 1926, o Estatuto foi obra do regime republicano que o Estado Novo aprimorou:
«Estatuto político, civil e criminal dos indígenas de Angola e Moçambique» (Decreto 12.533, 23-10-1926); incluindo
a Guiné em 1927 (Decreto 13.698, 30-11-1927); ligeiras modificações em 1929 (Decreto 16.473, 6-02-1929) e um
«Diploma Orgânico das Relações de Direito Privado entre Indígenas e não Indígenas» (Decreto16.474, 6-02-1929);
após 1930, regulamentações locais definiram melhor o «indígena»; finalmente, em 1954, «Estatuto dos Indígenas
Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique» (Decreto 39.666 20-05-1954).
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3 Clarence-Smith defendeu a tese do declínio baseando-se na situação financeira e no comércio com as colónias mas,
como Valentim Alexandre tem sublinhado, há outros elementos a ter em conta. Clarence-Smith, Gervase, The Third
Portuguese Empire, 1825-1975. A study in Economic Imperialism, Manchester, Manchester University Press 1985
[ed. em Português 1991] e, Alexandre, Valentim, «Situações Coloniais: II – O Ponto de Viragem: As Campanhas de
Ocupação (1890-1930)», História da Expansão Portuguesa., vol. 4, Lisboa, Círculo de Leitores, pp. 182-211. Uma
boa síntese da história de Angola neste período: Freudenthal, Aida, «Angola», O Império Africano 1890-1930, coord.
A. H. Oliveira Marques, Lisboa, Estampa, 2001, pp. 259-467.
4 Em 1911 (Decreto 27-05-1911) foram estabelecidas em Angola as circunscrições civis, com Regulamento por Portaria
Provincial (8-08-1911) e novo Regulamento em 1913 (P.P. 375, 17-04-1913) já com Norton de Matos. A espinhosa «questão
do Cuanhama», agravada pelo receio do avanço alemão, levou Portugal a uma mobilização extraordinária de recursos
para derrotar Mandume Ndemufayo. Para campanhas militares Pélissier, René, História das campanhas de Angola.
Resistências e revoltas 1845-1941, 2 vols., Lisboa, Estampa, 1986. Um testemunho pessoal: Keiling, Mons. Luiz Alfredo,
Quarenta anos de África, Fraião (Braga), Missões de Angola e Congo, 1934, pp. 154-74.
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5 De Norton de Matos, além das Memórias e trabalhos da minha vida (2.ª ed., 4 vols Lisboa, Editora Marítimo Colonial,
1944-45), ver A Província de Angola (Porto, Maranus, 1926).
Couceiro publicou em 1910 um relatório a que Norton não poupou elogios no preâmbulo à reedição póstuma (Couceiro,
Henrique de Paiva, Angola (Dois anos de Governo Junho 1907-Junho 1909). História e comentários, [1910], 2.ª ed.
Lisboa, Edições Gama, 1948). Sobre ambos existem vários ensaios biográficos em Portugal e, para Norton, também
Wheeler, Douglas, «José Norton de Matos (1867-1955)», in Gann e Duignan (eds), African Proconsuls. European
Governors in Africa, New York, 1978pp. 445-463. Sobre o «planalto colonizável», Neto, Maria da Conceição, «Grandes
projectos e tristes realidades. Aspectos da colonização do planalto central angolano (c.1900-c.1931)», in A África e a
Instalação do Sistema Colonial (c.1885-c.1930), Lisboa, IICT, 2000, pp. 513-525 e o relatório da Missão de Estudos
do tempo de Couceiro em Nascimento, J. Pereira do, Relatório da Missão de Estudos da Colonização do Planalto de
Benguella 1907-1909, Loanda, Imprensa Nacional, 1910.
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6 A Reforma. Orgão do Partido Reformista de Angola, n.º 4 (24-12-1910), p. 1. Ver também os n.º 3 (17-12-1910), p. 1 e
n.º 5 (31-12-1910), pp. 1 e 2. Sobre o PRA, Freudenthal, Aida, «Um Partido Colonial. O Partido Reformista de Angola.
1910-1912», Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 8-9, 1988, pp. 13-57.
7 Correia, Pe. Joaquim Alves, Civilizando Angola e Congo: os Missionários do Espírito Santo no padroado espiritual
português, Braga, 1922, pp. 73-76.
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8 A equipa da TPA, chefiada por Henrique Alves (Ritz), já falecido, tinha como operador de câmara Manuel Tomás
(Fininho), natural daquela zona. Dos programas e reportagens da época, feitos com equipamento semi-profissional e
guardados em condições precárias, poucos ou nenhuns existem.
9 O «resgate» tinha um efeito perverso, pois os missionários viam-se identificados como compradores de escravos
e acabavam por alimentar o tráfico que queriam suprimir. Martin, Phyllis M., Catholic Women of Congo-Brazzaville.
Mothers and Sisters in Troubled Times, Bloomington & Indianapolis, Indiana University Press, 2009, pp. 41-50, 67, 82.
Em 1897 na Missão da Huíla «O internato das meninas [era] … frequentado por 175 pequenas … Três quartas partes
delas foram resgatadas pela Missão a seus antigos donos». Brásio, P. António, A Missão e o Seminário da Huíla,
Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1940, p. 70.
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10 Segundo um bem informado residente, em 1908 havia na Catumbela duas «agências de emigração» para S. Tomé
(nesse ano, 907 serviçais) e «alguma emigração» para o litoral a sul de Benguela. A maior parte dos serviçais tinha
sido trazida por outros africanos desde as áreas da «Luva [Luba], Lunda e Ganguelas», sendo já muito menos os
do Bié, Bailundo e Huambo. Bastos, Augusto, Monographia de Catumbella, Lisboa, Sociedade de Geografia, 1912,
p. 69. Ver também Duffy, James, A question of Slavery, Oxford, Clarendon Press, 1967; Heywood, Linda M. (1988),
«Slavery and Forced Labor in the Changing Political Economy of Central Angola, 1850-1949», in Miers e Roberts
eds., The End of Slavery in Africa, Madison, Univ. of Wisconsin Press, 1988, pp. 415-436; e a colectânea do Centro
de Estudos Africanos da Universidade do Porto, Trabalho forçado africano. Experiências coloniais comparadas, Porto,
Campo das Letras, 2006, nomeadamente Jelmer Vos e Douglas Wheeler.
11 Aguiam, Balthasar d’ (org.), A revolta do Bailundo e os Conselhos de Guerra de Benguella, Lisboa, 1903, pp. 14, 15,
17 e 59-60.
12 Torres, Adelino, O império português entre o real e o imaginário, Lisboa, Escher, 1991, p. 202 e todo o capítulo.
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13 Ao Paiz. O povo de Loanda contra o renovamento dos contractos de serviçaes. Luanda, 1903. A autoria terá sido
do grupo apoiante de A Defeza de Angola, jornal José de Macedo (maçon, republicano, socialista e federalista) foi
dirigir a convite de Sebastião de Magalhães Lima e do Grémio Português de Luanda. Os fundos para oficinas de
composição e impressão do jornal vieram de políticos e comerciantes de Luanda. Lopo, Júlio de Castro, Jornalismo
de Angola. Subsídios para a sua História, Luanda, CITA, 1964, pp. 51-56; Macedo, José de, Autonomia de Angola,
[1910], 2.ª ed. Lisboa, CSE/IICT, 1988.
14 Os artigos de Henry Nevinson no Harper’s Magazine deram origem ao livro: Nevinson, A Modern Slavery, London,
Harpers, 1906. O relatório de Joseph Burtt («Report on the Conditions of Coloured Labour on the Cocoa Plantations
of S. Thomé and Principe, and the Methods of Procuring it in Angola»), apresentado ao governo português em 1907,
foi publicado em Cadbury, William A., Labour in Portuguese West Africa, Second Edition with an Added Chapter,
London, George Routledge & Sons, 1910, pp. 103-131. O livro de Charles Swan saiu em 1909 (Swan, Charles A.,
The Slavery of Today or the Present Position of the Open Sore of Africa, Glasgow, Pickering & Inglis, 1909). Para um
estudo recente, Jerónimo, Miguel Bandeira, Livros brancos, almas negras: A «missão civilizadora» do colonialismo
português c. 1870-1930, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2010, pp. 89-139.
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15 Diniz, José de Oliveira Ferreira, Negócios Indígenas. Relatório do ano de 1913, Luanda, Imprensa Nacional de Angola,
1914, pp. 53-55 e passim.
16 Diniz, Negócios Indígens…, p. 77. Francisco Cipriano Pio, Jornal de Benguela, 19-03-1913, p. 1. Exemplo dos protes-
tos dos empresários de Moçâmedes: Viúva Bastos & Filhos, A derrocada! Carta aberta ao Sr. Ministro das Colónias,
Doutor Almeida Ribeiro, por Viúva Bastos & Filhos, agricultores e industriaes de Mossâmedes, Lisboa1913. Para um
enquadramento histórico: Clarence-Smith, Gervase, Slaves, peasants and capitalists in southern Angola 1840-1926,
Cambridge, Cambridge University Press, 1979.
17 O Código de Trabalho de 1911 foi substituído em 1914 (Decreto 951, 14-10-1914). Para uma análise coeva, Rego,
A. A. Fernandes, A mão d’obra nas Colonias Portuguezas d’Africa, Lisboa, 1911, pp. 73, 50-74. A violência do trabalho
nas estradas impressionou o sociólogo norte-americano Edward Ross, numa viagem a Angola em 1924 de que resultou
o relatório para a Comissão da Escravatura da Sociedade das Nações. Ross, Edward A., Report on employment of
Native Labour in Portuguese Africa, New York, 1925, pp. 6-61.
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18 «9.º Relatório confidencial para Sua Exa. o Ministro das Colónias, Lobito 23 de Fevereiro de 1915» (terminado a 6
de Março), publicado in Norton de Matos, Memórias…, vol. IV, pp. 237-97. Ver «Relatório sobre a situação política,
administrativa, económica e financeira», 10-02-1924, in Norton de Matos, A Província…, pp. 70-209.
19 Do Comandante Militar do Huambo, Cap. Joaquim Duarte Silva, ao Curador dos Serviçais em Benguela, 03-03-1911,
Arquivo Nacional de Angola, Códice 9512, fls. 146-7.
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20 Para Moçambique, Zamparoni, Valdemir, «Entre ‘Narros’ e ‘Mulungos’. Colonialismo e paisagem social em Lou-
renço Marques», Universidade de São Paulo, 1998.; Para colónias não portuguesas, Boelaert, E., «L’histoire de
l’immatriculation», AEquatoria, 14.e Année, 1951, n.º 1, pp. 6-12; Summers, Carol, From Civilization to Segregation.
Social Ideas and Social control in Southern Rhodesia, 1890-1934, Athens, Ohio University Press, 1994; Mamdani,
Mahmood, Citizen and Subject. Contemporary Africa in the Legacy of Late Colonialism. London, James Curry, 1996;
Saada, Emmanuelle, Les enfants de la colonie. Les métis de l’Empire français entre sujétion et citoyenneté, Paris, La
Découvert, 2007; Mann, Gregory, «What was the indigénat? The ‘Empire of Law’ in French West Africa», Journal of
African History, 50, 2009, pp. 331-353. Para o império português no século XIX, Silva, Cristina Nogueira da, Consti-
tucionalismo e Império: a cidadania no Ultramar português, Coimbra, 2009.
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21 Tal como no Acto Colonial de 1930 e na Constituição de 1933, os «indígenas» estão submetidos à protecção do Estado
português mas não fazem parte da Nação. No Estatuto de 1954, a ficção de uma nação «do Minho a Timor» levou à
caricata fórmula de «indígenas portugueses» distintos de «cidadãos portugueses». Para «indigenato» e «assimilação»
em Angola é fundamental Messiant, Christine, 1961. L’Angola colonial, histoire et société. Les prémisses du mouvement
nationaliste, Bâle (Suisse), P. Schlettwein Publishing,2006 (tese de 1983). Ver também Moutinho, Mário, O indígena
no pensamento colonial português 1895-1961, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, 2000; Cruz, Elizabeth Ceita
Vera, O Estatuto do Indigenato. Angola – a legalização da discriminação na colonização portuguesa, Lisboa, Novo
Imbondeiro, 2005; e Barbeitos, Arlindo, Angola/Portugal: des identités coloniales équivoques. Historicité des représen-
tations de soi et d’autrui, Paris, L’Harmattan, 2009. Ver Keese, Alexander, Living with Ambiguity. Integrating an African
Elite in French and Portuguese Africa, 1930-61, Stuttgart, Franz Steiner Verlag, 2007, para um estudo comparativo
França-Portugal.
22 Diniz, Negócios Indigenas…, pp. 27-30 e 107-118. Alinhado com as teorias da época, Diniz fez uma classificação
«étnica» dos povos de Angola com vista à pretendida (e nunca feita) codificação de «usos e costumes»; Diniz, Fer-
reira, Populações indígenas de Angola, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1918. Em 1923 apresentou um projecto
de Estatuto dos Indígenas que Norton transformou em proposta de decreto mas não avançou, provavelmente pela
exoneração do Alto-Comissário: Norton de Matos, A Província…, pp. 269-275.
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23 A Portaria Provincial 491 (10-05-1913) obrigava a passar «Certificados de trabalho» em todos os contratos sem a
intervenção da autoridade. Diniz, Negócios Indígenas…, pp. 184-185. Em 1921 e 1922, Circulares da Secretaria
de Colonização e Negócios Indígenas (29-12-1921 e 10-02-1922) definiam as condições de obrigatoriedade das
«Cadernetas de trabalho». A Portaria Provincial de 16-01-1925 estabelecia que na «Caderneta indígena» se registasse
o trabalho e o pagamento do imposto anual. Arquivo Histórico de Angola, Avulsos, Huambo, Caixa 466.
24 Preâmbulo à Portaria Provincial de 21-03-1919 in Diniz (1914), p. 154. O «Regulamento do recenseamento e co-
brança do imposto indígena» (14-02-1920) confirmava e aperfeiçoava a portaria anterior. Isenção dos catequistas:
Decreto 33.303, Boletim Oficial 1.ª série, n.º 1, 5-01-1944. Sobre o imposto, Diniz, José de Oliveira Ferreira, «Da
política indígena em Angola - os impostos indígenas», Boletim da Agência Geral das Colónias, Ano 5.º, 1929, n.º 47,
pp. 136-165.
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25 Lemos, Alberto de, «Introdução ao Primeiro Censo Geral da População de Angola», in, Censo Geral da População
de Angola 1940, Repartição Técnica de Estatística Geral/Imprensa Nacional, 1941,vol. I, p. 70. Segundo o Censo, a
população civilizada de Angola (total 91 611) incluía 44 083 brancos, 23 244 mestiços, 24 221 pretos e 63 outros. A
população não civilizada (total 3 646 399) incluía 3 641 608 pretos e 4791 mestiços.
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26 Major Hélio E. Felgas, «Sugestão particular e confidencial» sobre «A revisão da legislação sobre concessão da
cidadania aos indígenas do ultramar português (Guiné, Angola e Moçambique)» p. 5. AHU, Ministério do Ultramar,
GM/GNP/SR: 087, Pasta única.
27 Diniz, Negócios Indigenas…, p. 17. As exportações de Angola até c.1940, à excepção dos diamantes e das pescas,
dependiam essencialmente da produção dos camponeses (milho, algodão, oleaginosas etc.) e criadores de gado
«tradicionais» (couros).
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28 Ver: Samuels, Michael A., Education in Angola, 1878-1914. A History of Culture Transfer and Administration, New York,
Columbia University, 1970; Freudenthal, Aida, «A utopia angolense, 1880-1915», A África e a Instalação do Sistema
Colonial (c.1885-c.1930), Lisboa, IICT, 2000, pp. 561-572; Dias, Jill, «Uma questão de identidade. Respostas intelectuais
às transformações económicas no seio da elite crioula da Angola Portuguesa entre 1870 e 1930», Revista Internacional
de Estudos Africanos, 1, 1984, pp. 61-94; Ferreira, Eugénio Monteiro, As ideias de Kimamuenho (um intelectual rural
do período 1918-1922), Luanda, UEA, 1989; Rodrigues, Eugénia, A geração silenciada. A Liga Nacional Africana e a
representação do Branco em Angola na década de 30, Porto, Edições Afrontamento, 2003; Chilcote, Ronald H. (ed.),
Protest and Resistance in Angola and Brazil, California, University of California Press, 1972 (especialmente artigos de
Wheeler e Samuels); Oliveira, Mário António Fernandes de, Reler África. Coimbra, Universidade de Coimbra, 1990 e
A Formação da Literatura Angolana (1851-1950). Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1997; Andrade, Mário
Pinto de, Origens do Nacionalismo Africano. Continuidade e ruptura nos movimentos unitários emergentes da luta
contra a dominação colonial portuguesa, Lisboa, Dom Quixote, 1997; Bittencourt, Marcelo, Dos jornais às armas.
Trajectórias da contestação angolana, Lisboa, Veja, 1999; Barbeitos, Angola/Portugal…; Pimenta, Fernando Tavares,
Angola, os Brancos e a Independência, Porto, Afrontamento, 2008; Dáskalos, Maria Alexandre, A política de Norton
de Matos para Angola 1912-1915, Coimbra, Minerva, 2008.
29 Com a ressalva dos contornos instáveis de qualquer designação identitária, «filho do país», «angolense» e «nativo»
significam basicamente o mesmo no período analisado: negros e mestiços naturais de Angola, com influência suficiente
de educação europeia para se considerarem (e serem considerados) distintos da massa da população menos tocada por
essa influência. O indigenato irá transformar muitos «angolenses» em «indígenas», ficando outros como «assimilados»
ou «civilizados».
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não só daria maior autonomia política a Angola como libertaria das peias
dos interesses metropolitanos o potencial económico do território e, não
menos importante, para todos irradiaria a «luz» essencial ao progresso da
220 humanidade: a instrução30. Essa esperança de mudança radical estava, natu-
ralmente, eivada de insolúveis contradições mas não vem ao caso discuti-las
agora. A notícia da proclamação da República deu lugar a manifestações
entusiásticas, embora a transferência de poder tenha levado semanas. O
relato é de um dos representantes da elite intelectual angolense da época,
Francisco das Necessidades Ribeiro Castelbranco, funcionário da Alfândega
de Luanda, publicista, director de jornal e líder associativo31:
30 Além das lojas, triângulos e associações, a Maçonaria tinha influência nos jornais, com relevo para o bi-semanário A
Defeza de Angola (1903-1907). O semanário A Reforma (1910-1912) era o órgão do Partido Reformista de Angola.
Freudenthal, «Um Partido Colonial….», e «A utopia angolense…», pp. 407-408. Macedo, Autonomia de Angola….
Quanto à instrução, ver Samuels, Michael A., Education in Angola, 1878-1914. A History of Culture Transfer and
Administration, New York, Teachers College – Columbia University, 1970; e Freudenthal, «Angola»…, pp. 414-432.
31 Castelbranco, Francisco, História de Angola desde o descobrimento até a Implantação da República (1482-1910),
Luanda, 1932, pp. 296-99.
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32 Angolana de Pungo Andongo, filha de pai português, professora primária, republicana e maçon. Agradeço a Eugénio
Monteiro Ferreira estas informações.
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33 Citado por Freudenthal, «A utopia angolense…», p. 567 que, na senda de outros autores, assinala a ambiguidade
e a ambivalência dos Angolenses. Citações do documento também em Cruz, O Estatuto do Indigenato…, p. 71,
n.º 157 e, Dáskalos, A política de Norton de Matos…, p. 141.
34 Estatutos da Liga Angolana in Boletim Oficial, n.º 10, 08-03-1913, e do Grémio Africano in Boletim Oficial n.º 13,
29-03-1913. Ferreira, As ideias de Kimamuenho…, p. 49, n. 32, Rodrigues, A geração silenciada…, p. 28. Almeida,
Luísa d’, «Nativo versus gentio? – o que nos dizem algumas fontes africanas nos anos 1914-1922», A África e a
Instalação do Sistema Colonial (c.1885-c.1930), Lisboa, IICT, 2000, pp. 645-654; e Bittencourt, Dos jornais às armas...,
utilizaram as Actas da Liga e outra documentação do Arquivo Histórico de Angola.
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35 O eco d’Africa, n.º 10, Fevereiro 1915, p. 2, in Rodrigues, A geração silenciada…, p. 32. Ver também Freudenthal,
«A utopia angolense…», pp. 569-570 e Dáskalos, A política de Norton de Matos…, pp. 139-155. Assis Júnior, António
de, Relato dos Acontecimentos de Dala Tando e Lucala (1917), 2.ª ed. Luanda, UEA, 1985, para um testemunho
directo.
36 Os desterrados foram amnistiados em Outubro de 1925 pelo Alto-Comissário Rego Chaves. A história da Liga Ango-
lana, contada pelos actuais descendentes dos fundadores, quase sempre omite o apadrinhamento inicial por Norton
de Matos, mas refere as humilhações, prisões e desterros, como pessoalmente observei. Para Custódio Bento de
Azevedo (Kimamuenho) ver Ferreira, As ideias de Kimamuenho….
37 Província de Angola. Actas do Conselho Legislativo. Sessão de encerramento em 14 de Setembro de 1923,
pp. 3-4.
38 Matos, A Província de Angola…, p. 233.
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39 Entendida como «uma totalidade», condicionando toda a vida social, inseparável das relações de poder ancoradas
no específico processo histórico que as gerou e, portanto, bem diferente de um estimulante «contacto de culturas». O
texto de Georges Balandier de 1951 «La situation coloniale» é a referência óbvia, mas para uma discussão actual mais
ampla ver Cooper, Frederick, Colonialism in Question. Theory, Knowledge, History, Berkeley, University of California
Press, 2005.
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