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(Contextualização)
De acordo com Serra (2000). Em Portugal, as dificuldades económicas e a instabilidade política,
social e militar aberta após a implantação da República em 1910, criaram as condições que
levariam ao golpe de Estado do general Gomes da Costa em 28, de Maio de 1926 e à
implantação de um regime ditatorial em Portugal o Estado Novo edificado por Salazar, que foi
essencialmente um estado corporativista, conservador, colonialista e repressivo. Apenas a crise
colonial, colocada abertamente no início dos anos 70, geraria as bases para a transformação
democrática de Portugal.
O governo de Salazar surgiu com uma forte componente agrária, tendo-se instalado como um
governo de compromisso e arbitragem, promovendo alianças entre uma burguesia fraca mas em
ascensão e os grandes proprietários fundiários bem estabelecidos, criando condições para a
consolidação da burguesia portuguesa, acelerando a sua acumulação de capital à custa da
repressão dos trabalhadores e da intensificação da exploração colonial e colocando Moçambique
(e restantes colónias portuguesas) ao serviço dos interesses metropolitanos – É
Toda a política colonial do período do Estado Novo estava orientada para colocar ao serviço da
economia da metrópole a economizadas colónias. Moçambique era uma das mais ricas colónias
de Portugal e as suas matérias-primas e as suas gentes foram incorporadas no sistema
económico-financeiro português. Essa era a visão do nacionalismo económico de Salazar.
Ou sejas, esta nova política era baseada num forte proteccionismo económico e num
aproveitamento dos recursos das colónias. Salazar pôs fim às concessões das companhias,
legislou profundamente sobre comércio colonial, forçou o trabalho de determinadas culturas,
tudo sentido de proteger o império ultramarino.
Portanto, para acabar com o caos administrativo e o domínio do capital estrangeiro não
português, o Estado Novo adoptou uma política centralizada em torno do Ministério das
Colónias, interrompendo a política de autonomia que se vinha verificando desde 1914. Foi assim
que a Companhia do Niassa não viu renovada a sua carta concessionária em 1929. Em 1942 foi a
vez da Companhia de Moçambique.
O Acto Colonial de 1930, uma espécie de Constituição para os territórios ultramarinos, havia
definido a administração e a cobrança de imposto e mesmo a exploração dos portos como
competência exclusiva do Estado. Outro elemento importante foi a definição de um estatuto
especial dos indígenas — base para o recrutamento da força de trabalho para as empresas
capitalistas e colonos.
A política colonial deste novo período baseou-se no princípio de que as colónias deviam ser
fonte de matérias-primas para a metrópole e mercados das manufacturas portuguesas, bem como
recipientes dos desempregados portugueses. Desta forma, Moçambique torna-se um fornecedor
importante de algodão para a indústria portuguesa, consumidor do vinho e têxteis portugueses e
albergue de camponeses empobrecidos em Portugal, tanto em regime de colonatos como nas
cidades.
Outros diplomas igualmente importantes foram a Constituição Portuguesa de 1933 («a
organização económica dos territórios portugueses depende da organização económica habitual
da Nação Portuguesa, e ela deve por consequência ser integrada no conjunto da economia
mundial», especificando a relação entre a economia das colónias e Portugal), a Carta Orgânica,
publicada para cada colónia, e a Lei da Reforma Administrativa Ultramarina (1933).
Devido a esta Reforma, a administração local ficou sujeita ao mandato efectivo de Lisboa,
assegurando-se os interesses da burguesia portuguesa.
Alguns artigos relevantes do Acto Colonial de 1930.
Artigo
2.° É da essência orgânica da Nação Portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e
colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se
compreendam, exercendo também a influência moral que lhe é adstrita pelo Padroado do
Oriente.
Artigo 3° Os domínios ultramarinos de Portugal denominam-se colónias e constituem o Império
Colonial Português. O território do Império Colonial Português é o definido nos 2. ° 5. ° artigo 1.
° Constituição.
Artigo 8.° Nas colónias não pode ser adquirido por governo estrangeiro terreno ou edifício para
nele ser instalada representação consular senão depois de autorizado pela Assembleia Nacional e
em local cuja escolha seja aceite pelo Ministro das Colónias.
Artigo 22º Nas colónias atender-se-á ao estado de evolução dos povos nativos, havendo estatutos
especiais dos indígenas, que estabeleçam para estes, sob a influência do direito público e privado
português, regimes jurídicos de contemporização com os seus usos e costumes individuais,
domésticos e sociais, que não sejam incompatíveis com a moral e com os ditames de
humanidade.