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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema do Trabalho

A Economia Colonial em África

(um olhar da economia de Moçambique entre 1930-1945)

Méque Ruben Matate e 708184757

Curso: História
Disciplina: historia económica iii
Ano de Frequência: 3º

Beira, Maio, 2020


Índice

Introdução ............................................................................................................................................ 2

Discussão ............................................................................................................................................. 3

A Economia Colonial em África (um olhar da economia de Moçambique entre 1930-1945) ........ 3

A crise económica e a produção em Moçambique .......................................................................... 3

O reforço da dominação portuguesa ................................................................................................ 3

O proteccionismo e o novo regime político-administrativo............................................................. 3

Novas relações de dominação económica ........................................................................................ 4

Os conflitos sociais e a resistência anti-colonial, 1930-1937 .......................................................... 6

A Reestruturação da Sociedade Moçambicana, 1938-1944............................................................. 7

Conclusão ............................................................................................................................................. 9

Bibliografia ........................................................................................................................................ 10

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Introdução

O presente trabalho aborda acerca da economia colonial em Africa principal enfase para Moçambique
entre 1930-1945.
Ate cerca de 1930 as relações entre Portugal e moçambique eram reduzidas sendo os investimentos
portugueses pouco significativos. O período de 1930 a 1937 foi um período de transição, Que
apontava já para a implantação do nacionalismo económico português nos períodos seguintes em
Moçambique tendo esta política sido influenciada pela crise mundial. Assim chegou-se ao período de
1939-1945 onde Chega-se a 'Economia de guerra'.

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Discussão

A Economia Colonial em África (um olhar da economia de Moçambique entre 1930-1945)

A crise económica e a produção em Moçambique


Assim como o mundo moçambique foi afetado pela crise de 1929 a 1934, esta afetou a produção e a
política colonial do novo governo português. O sistema financeiro, virado até então para o incremento
da produção, começou a ressentir-se, reduzindo créditos, o que conduziu a uma reação em cadeia no
sistema económico. Fecharam-se fábricas e diminuiu a produção, o que originou o desemprego de
milhões de trabalhadores em todos os países industrializados. Os piores anos da crise foram 1932 e
1933.

O reforço da dominação portuguesa

A ascensão do regime Salazarista em Portugal O Estado Novo, saído do golpe de estado de Maio de
1926, em Portugal, ganhou vulto a partir de 1930 e solidificou-se a partir de 1932, com a chamada de
Salazar, Ministro das Finanças entre 1928 e 1932, para a Presidência do Conselho. O governo de
Salazar surgiu com uma componente agrária muito forte, tendo-se instalado como um governo de
compromisso e arbitragem, de aliança entre uma burguesia fraca, mas em ascensão, e os grandes
proprietários fundiários bem estabelecidos. Teve a função de criar condições para a consolidação da
burguesia portuguesa e acelerar a acumulação de capital, principalmente através da repressão dos
trabalhadores e da intensificação da exploração colonial.

O proteccionismo e o novo regime político-administrativo

A reacção inicial dos países industrializados à crise mundial e, em particular, ao desemprego


generalizado, foi aumentar o grau de protecção das suas indústrias contra a concorrência estrangeira,
proibindo importações de artigos manufacturados ou onerando-os com direitos alfandegários pesados
e favorecendo, cada vez mais, as importações de matérias-primas das suas próprias colónias. Em
Portugal, a crise mundial de 1929-1934 reforçou a estratégia, esboçada desde 1926, de valorização
dos recursos de Moçambique no interesse da burguesia portuguesa, através da exploração directa e
mais intensa da população moçambicana, reduzindo ao indispensável o uso de capitais nacionais e
estrangeiros. É importante realçar que a estratégia colonial do Estado Novo não foi adoptada,

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facilmente, de um dia para outro. Alguns elementos dessa estratégia, como por exemplo a produção
de algodão pelo campesinato moçambicano, resultaram da análise das experiências anteriores. A
década de 30 representou, um momento de transição, em que algumas das bases do 'nacionalismo
económico' português se estabeleceram seguramente em Moçambique. A expressão real do
'nacionalismo económico' português manifestou-se no Acto Colonial e na Carta Orgânica do Império
Colonial Português de 1930, que desenvolveram rigorosamente os princípios já delineados em 1926.
Essa legislação marcou o fim da autonomia formal da província de Moçambique, que passou a
designar-se 'colónia'. Concretamente, o nacionalismo económico' centralizou os poderes legislativos
e financeiros nas mãos do Ministro das Colónias, e visava colocar Portugal a par das restantes
potências colonizadoras, nomeadamente, em termos de capacidade de dominar a exploração dos
territórios ultramarinos. Pela Reforma Administrativa Ultramarina de 1933 a administração local
ficou sujeita ao mandato efectivo de Lisboa, assegurando-se assim os interesses da burguesia
portuguesa. As normas e práticas administrativas a adoptar estavam rigorosamente detalhadas no
regulamento.

Novas relações de dominação económica

Vimos que, ao contrário do que acontecia com as outras potências colonizadoras, as relações
económicas entre Portugal e suas colónias eram muito fracas. O proteccionismo e a mais rigorosa
exploração das colónias requeriam a modificação dessa situação emprol da economia metropolitana.
Nessa perspectiva, foram promulgadas medidas que tinham como objectivo estruturar o comércio
externo das colónias em benefício de Portugal, e que marcaram, assim, um passo importante para a
criação de uma 'zona do escudo'. Para esse efeito, uma lei de 1932 impôs:
- um sistema de licenças de importação e exportação em relação às trocas com outros países e as suas
colónias;
- a proibição do uso de moedas doutros países nas operações internas da colónia;

- a centralização de todas as divisas nos cofres do Estado.

Foi ainda estabelecido um Fundo Cambial, sob o controle do Governador-Geral, para a entrada e
distribuição de divisas segundo prioridades rigorosamente estabelecidas. Com efeito, a partir de 1932,
as companhias exportadoras de Moçambique ficaram autorizadas a reter apenas 20 por cento das
divisas provenientes das suas exportações. Os restantes 80 por cento entraram no Fundo Cambial que,

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compensando as companhias exportadoras em escudos da colónia, autorizou a utilização das divisas
no sentido de aumentar as importações oriundas da metrópole.
Paralelamente, o Estado português promoveu uma campanha de propaganda, o chamado movimento
'comprar português', cujo ponto mais alto em Moçambique foi a realização do Congresso Comercial
e de uma feira de mercadorias portuguesas em Lourenço Marques, em Agosto de 1932.
No mesmo ano, o Estado português começou a estimular, nas suas colónias, a produção de algodão,
a matéria-prima mais procurada pela indústria portuguesa. Passou a incentivar, financeiramente, as
concessionárias algodoeiras (que exportavam das colónias), contrabalançando a baixa no preço
mundial, que se verificou a partir de 1927, para que as companhias incrementassem a comercialização
do algodão produzido pelo campesinato.
Este conjunto de medidas teve efeitos imediatos. Portugal viria a ser, pela primeira vez, o principal
fornecedor de Moçambique, apos a Construção da ponte sobre o 'Zambeze, 1933-35. Com uma
extensão de 3,6 quilómetros, era uma das mais cumpridas no mundo. 25 por cento do total das
importações, em 1933, e cerca de 30 por cento em 1937. Em 1933, Portugal passa a fornecer quase
todas as enxadas e um terço dos tecidos, uma proporção que aumentou para 45 por cento em 1935.
No que diz respeito às exportações de Moçambique, entre 1932 e 1937, Portugal aumentou
consideravelmente as suas compras, tornando-se o principal comprador, com cerca de 31 por cento
do total.
De notar que estes aumentos indicam, apenas, o estabelecimento do controle efectivo do comércio de
Moçambique a partir de Lisboa, e que a origem ou destino duma parte considerável das mercadorias
eram ainda os países altamente industrializados. Para se aproveitar plenamente do novo sistema
comercial, a indústria portuguesa exigia a protecção activa. Note-se que as dificuldades na montagem
e desenvolvimento duma indústria têxtil em Moçambique datam de anos recuados, devido à oposição
sistemática- das associações das indústrias têxteis portuguesas. O mesmo viria a passar-se em relação
A ponte ao Zambeze, acabada, facilitou o desenvolvimento da linha férrea de Tete e, a partir de 1949,
a exploração das minas carboníferas de Moatize aos óleos vegetais. Já em 1933, protestava a
Associação das Indústrias Têxteis de Porto, manifestando o seu desagrado pela notícia da autorização
a diversas firmas para estabelecerem fábricas têxteis em Moçambique, medida que, segundo o
Lourenço Marques Guardian de 5 de Setembro de 1933, a ser adoptada "representaria a ruína da
indústria têxtil da metrópole". Uma lei de 1936 estabeleceu novas bases para o fomento da indústria
no império português. Com o objectivo de limitar a concorrência internacional e assegurar
fundamentalmente a industrialização de Portugal, estes regulamentos sujeitaram a abertura de novas
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indústrias, em Moçambique, à autorização do Ministro das Colónias, tendo sempre em vista os
interesses dos industriais portugueses. Desta forma, foi severamente limitado o desenvolvimento
duma indústria transformadora em Moçambique, mesmo de iniciativa de capital não-português. Foi a
isto que se chamou o 'condicionamento industrial Contudo, deve-se notar que O objectivo do Governo
colonial era criar um sistema capaz de habilitar o 'indígena' para o seu papel específico de trabalhador
barato na economia colonial moçambicana.

Os conflitos sociais e a resistência anti-colonial, 1930-1937

O Conflito sobre as terras no Mossuril - Nampula Enquanto os efeitos do colonialismo reforçado se


generalizavam nas zonas rurais, após a crise mundial, no litoral da província de Nampula, surgiram
sinais evidentes de conflito social que se tornou numa resistência contra a política algodoeira do
Estado colonial. No entanto, inicialmente, era reflexo não só da contradição entre a população rural e
o capital, mas, também, do conflito entre os próprios colonialistas sobre a maneira mais rentável de
exploração.' Emantigos locais de colonização mercantil portuguesa, especialmente no distrito de
Mossuril, as terras haviam sido, desde séculos, divididas entre colonos residentes e comerciantes da
Ilha de Moçambique. Durante o período de conquista, nos finais do século XIX e inícios do século
XX, as propriedades foram ocupando regiões vizinhas, desde a Lunga, a Matibane e Mogincual, em
benefício particular de oficiais participantes na ocupação militar, transformados em proprietários de
grandes lotes de terra.
O regime de trabalho instituído no século passado em tais propriedades era o muta-hanu, isto é, a
utilização de um tributo tradicional, pago aos senhores das terras. Alargado aos escravos libertos nas
'Terras da Coroa', consistia no pagamento, aos proprietários, de uma renda em trabalho não
remunerado nas plantações de coqueiros ou cajueiros. Com a proibição da destilação e fabrico de
bebidas alcoólicas na colónia em 1902, medida de protecção à exportação do vinho português, o cajú,
até então utilizado essencialmente para fabricação de bebidas, passou a ser desprezado e muitos
cajueiros foram substituídos por coqueiros, para a venda de copra.

A súbita valorização, em 1.000 por cento, do caju, no mercado internacional, em 1933, provocou uma
situação particular em todas as regiões produtoras. No Mossuril, as propriedades até então
praticamente abandonadas ganharam nova importância, enquanto que inúmeros residentes

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procuraram, muitas vezes por processos fraudulentos, obter direitos e concessões de terrenos para
aquisição rápida de lucros.
O antigo regime do 'muta-hanu' foi reaproveitado e intensificado, e as populações que viviam em
todos os terrenos de antigas propriedades ou recém-ocupados foram obrigadas à limpeza e apanha de
cajú, de modo gratuito, como forma de pagamento de renda aos proprietários das terras. As plantações
de cajú alargaram se, limitando-se ao mínimo os terrenos disponíveis para os camponeses fazerem as
suas machambas. Em 1936, já praticamente todos os terrenos da administração de Mossuril eram
propriedade, legal ou ilegal, de particulares, europeus, asiáticos e assimilados, que coagiam cerca de
15 mil residentes, através do arrolamento dos habitantes e do apoio de um grande número de
capatazes. Com estes meios, a população foi obrigada a dar dois dias de trabalho, por semana, para
além dos cinco dias na época da apanha. Esta exploração proporcionava, aos proprietários, um lucro
três vezes superior ao que o Estado colonial cobrava, anualmente, do imposto de palhota em toda a
região.
No entanto, o avanço da cultura de cajú começou a entrar em choque com as actuações e interesses
do próprio Estado colonial que, na década de 30, queria cobrar, com eficiência um imposto de palhota
elevado, pagável em dinheiro e que era, na prática, uma taxa sobre as vendas do cajú dos camponeses.
Estes estavam conscientes do alto grau de exploração a que eram sujeitos, com os dois impostos
coloniais, para além da diminuição dos terrenos familiares. Sabiam, também, que a força de que
dispunham os administradores locais era muito inferior ao policiamento dos capatazes dos
proprietários. Por estas razões, os camponeses resistiam cada vez mais ao pagamento do imposto de
palhota. A situação agudizou-se quando o administrador de Mossuril tentou obrigar ao trabalho
compulsivo os que não pagaram o imposto. A esta medida resistiu de imediato a população. Reagiram
ainda os proprietários, que não estavam interessados em ver a sua reserva de mão-de obra recrutada
para outros trabalhos.
Isto resultou em dificuldades para o administrador, que, sem a ajuda dos proprietários, não podia
impor o trabalho compulsivo. Esta situação viria a agravar-se em 1938 e 1939.

A Reestruturação da Sociedade Moçambicana, 1938-1944

Para além da crescente procura do algodão, a II Guerra Mundial, que durou de Setembro de 1939 até
Setembro de 1945, e que envolveu todos os países industrializados, provocou graves perturbações no

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comércio mundial de matérias primas, tendo naturalmente afectado a economia de Moçambique, país
fornecedor desses recursos. Desenvolveu-se uma guerra marítima de grande envergadura, em 1938

A deslocação do comércio marítimo e dos mercados mundiais reforçou a estratégia da burgúesia


portuguesa em se abastecer, na medida do possível, de matérias-primas das suas próprias colónias,
incluindo o algodão. Além disso,
Portugal, aproveitando a crescente procura internacional de matérias-primas, foi grande fornecedor
de produtos das suas colónias aos blocos beligerantes.
Portugal utilizou a sua neutralidade de modo bastante lucrativo e em benefício da sua própria
acumulação. Os dirigentes colonialistas portugueses apresentaram a guerra como um 'flagelo
necessário', a suportar por todas as partes da 'Nação'. Era a 'economia de guerra', de 1939 a 1945 em
que se desencadeou:
i) um processo de acumulação maciço de capital, centralizado, pelos mecanismos do estado
corporativo, na grande burguesia industrial e bancária portuguesa comas suas ramificações coloniais;
ii) um processo de acumulação assente na sobre exploração dos trabalhadores e no saque colonial. A
não participação na Guerra e a posição ambígua face aos blocos emconflito, irá permitir o reforço da
posição de Portugal a nível do comércio externo, com base no aproveitamento das matérias-primas
de Moçambique e das outras colónias.

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Conclusão

Por volta da década de 30 a vida económica e social nas zonas rurais de Moçambique, foi
profundamente atingida pela crise económica, e pelo reforço da administração portuguesa. Este
período analisado podemos concluir que a penetração administrativa na esfera de produção aumentou
consideravelmente, devido, especialmente, à maior agressividade na cobrança dos impostos e a
expansão da cultura de algodão. Desta maneira, incorporou-se cada vez mais a produção camponesa
na estrutura sócio-económica colonial. Tendo terminado o período de 1930-1945 com o
desencadeamento do processo de acumulação maciço de capital, centralizado e de acumulação assente
na sobre exploração dos trabalhadores e no saque colonial.

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Bibliografia
 História de Moçambique, Vol. 3, Moçambique no auge do colonialismo, 1930 – 1961.

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