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Universidade Mussa Bin Bique

Faculdade de gestão e contabilidade

Orlando

Trabalho de História das sociedades II

Características gerais de Moçambique no colonial: Economia, Política, Cultura

Nampula, Março de 2022

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Universidade Mussa Bin Bique
Faculdade de gestão e contabilidade

Orlando

Trabalho de História das sociedades II

Características gerais de Moçambique no colonial: Economia, Política, Cultura

Trabalho de carácter avaliativo no âmbito da


cadeira de História das sociedades II, 2º ano
de frequência, curso de Licenciatura em
ensino de História com habilitações em
ensino de Geografia, leccionada pela,

MA. Gilda Lumenta

Nampula, Março de 2022

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Índice

Considerações Iniciais......................................................................................................................3

1. Características gerais de Moçambique no tempo colonial...........................................................4

2. Economia Colonial em Moçambique...........................................................................................4

3. A cultura.......................................................................................................................................7

4. Politica colonial..........................................................................................................................10

5. A queda do estado novo em Moçambique.................................................................................14

Considerações Finais......................................................................................................................16

Bibliografia.....................................................................................................................................17

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Considerações Iniciais
Características gerais de Moçambique no colonial: Economia, Política, Cultura, constitui o tema
deste trabalho. Os portugueses chegaram a Moçambique em 1498 e voltaram novamente em 1505
para a sua fixação onde alterar a forma ou tradição do sistema de administração africano,
mantendo controlo efectivo da colónia social, política e económica, maximização do lucro
através da exploração colonial, criando um sistema de administração que favoreceu os
colonialistas. Nesta era, por exemplo a política económica colonial de Moçambique
desempenhou um papel importante na evolução da economia do país e, constituiu um importante
legado histórico do qual a sociedade moçambicana não se pode dissociar.

Obviamente, o trabalho possui dois tipos de objectivos: Geral e Específicos.

No que concerne ao objectivo geral, temos o seguinte:

 Falar das Características gerais de Moçambique no colonial: Economia, Política, Cultura,

E para que se garantisse o alcance deste objectivo foi necessário traçar-se alguns objectivos
específicos que se resumem nos seguintes:

 Debruçar-se sobre a economia colonial;


 Falar da cultura e política colonial;
 Falar da colonial da queda do estado novo.

Quanto a metodologia, recorreu-se a consulta bibliográfica numa abordagem qualitativa e, como


técnica, fez-se uma leitura exaustiva, análise facial das fontes usadas e os dados foram
sintetizados de forma descritiva.

O trabalho está estruturado da seguinte maneira: introdução, desenvolvimento e inclui uma


conclusão ao menos parcial, mediante a sua abordagem, inclui igualmente uma bibliografia final
da fontes usadas.

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1. Características gerais de Moçambique no tempo colonial
Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20
milhões de habitantes (2004). Foi uma colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de
Junho de 1975.

Os portugueses chegaram a Moçambique em 1498 e a administração colonial foi


instalada três anos mais tarde, ficando o território dependente do Estado da Índia
até 1752. Em 1569, Moçambique foi elevada à condição de capitania-geral,
englobando a região de Sofala e a do Monomutapa. A ocupação de Moçambique
se iniciou em 1507, contudo, segundo o historiador Luís Felipe de Alencastro, a
penetração portuguesa em Moçambique foi muito frágil, sobretudo se comparada à
conquista e à ocupação de Angola, na costa ocidental da África.

A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a


partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - se transformou
numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos
inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial.

2. Economia Colonial em Moçambique


No início do século XX, os portugueses mudaram a administração de grande parte de
Moçambique para grandes empresas privadas, como a Companhia de Moçambique, a Companhia
da Zambézia e a Companhia do Niassa, controladas e financiadas principalmente por britânicos,
que estabeleceram linhas ferroviárias para os países vizinhos. Embora a escravidão tenha sido
abolida legalmente em Moçambique, no final do século XIX as companhias promulgaram uma
política de trabalho barato — muitas vezes forçado — para africanos em minas e plantações em
colónias britânicas próximas e na África do Sul.

Durante boa parte da colonização portuguesa, Moçambique desempenhou a função de entreposto


comercial e de ponto de apoio para os navios com destino ao Oriente. Com relação ao
desenvolvimento interno da colonização, os portugueses praticamente não interferiram no
processo produtivo da região, além de não conseguirem reorientar em benefício próprio os
circuitos de comércio local, o que corrobora a posição estratégica de Moçambique na carreira da
Índia. As trocas permaneceram voltadas para o Norte da África e para o Leste, em direcção ao
Golfo Pérsico, onde regiões como Omã adquiriam grande quantidade de escravos.
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A economia colonial em Moçambique encontrava-se numa situação deveras preocupante na
medida em que, as autoridades portuguesas não tinham capital para flexibilizar e viabilizar seus
projectos de “desenvolvimento da colónia”. Por isso, a ajuda americana integrada no âmbito do
Plano Marshall constituiu uma almofada para o Estado Novo.

A Companhia da Zambézia, a empresa mais rentável, assumiu uma série de participações em


prazeiros menores e estabeleceu postos militares para proteger as suas propriedades. As
companhias construíram estradas e portos para levar os seus produtos ao mercado, incluindo uma
ferrovia que liga até hoje o Zimbábue ao porto moçambicano de Beira.

De facto, foram contemplados dentro do processo da reabertura do investimento estrangeiro na


colónia os seguintes planos de Fomento: I Plano de Fomento (1953-1958), II Plano (1959-1964),
Plano Intercalar de Fomento (1965-1967), III Plano de Fomento (1968-1973) e o IV Plano de
Fomento (1973).

De acordo com Newitt (1997):

Em Moçambique, “o início da década de 50 foi marcado pelo desenvolvimento dos


colonatos”, motivada pela imigração da população branca vindo da metrópole. Trata-se de
famílias brancas oriundas da metrópole que tinham perdido suas terras em consequência
do advento da industrialização (p. 405).

Estas famílias receberam subsídios do governo colonial para iniciarem a nova vida em
Moçambique.

Mondlane (1995), afirma que:

no campo político-social afirma que, a integração dos assimilados negros na


administração constituiu uma mais-valia para os autóctones pois, pouco a pouco foram
conquistando o seu espaço. “Como corolário, surgiram os sindicatos, os nacionalistas,
bem como os intelectuais fundadores do Núcleo dos Estudantes Secundários de
Moçambique (NESAM)” (p. 98).

No cômputo geral, este foi o contexto interno que marcou a economia colonial em Moçambique
deste período.

A nova conjuntura política-económico iniciada com o advento do salazarismo a partir de 1930,


altura em que a economia de Moçambique começou a canalizar de forma directa e exclusiva as

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suas riquezas para a metrópole foi determinante na implementação e operacionalização dos
Planos de Fomento. A viragem da economia colonial em Moçambique reajustou a outrora
política económica baseada na concessão de parte das regiões Centro e Norte de Moçambique
para a actuação das companhias majestáticas e arrendatárias. A partir de 1930, Portugal assumiu-
se como uma potência, promulgando um conjunto de disposições e medidas proteccionistas a seu
favor, visando alterar o quadro negativo que pesava a sua economia.

Segundo Newitt (1997),

Além da expropriação de terras do campesinato, a política económica de Salazar pretendia


também fazer da colónia de Moçambique, um território de partilha entre os camponeses
africanos e os colonos. A ideia visava incorporar de forma progressiva os agricultores
africanos nos colonatos e, apoiando incondicionalmente ao estado colonial (p. 405).

Por outro lado, Hedges (1999) afirma que:

No período de 1953-1975 os camponeses começaram a travaram uma luta silenciosa com


as autoridades portuguesas. Este facto devia-se ao trabalho forçado e o chibalo que o
campesinato sofria. Os camponeses coziam as sementes de algodão antes de semear como
forma de contestar. Portanto, a política colonial portuguesa baseada na expropriação de
terras férteis dos camponeses trouxe imensas dificuldades ao campesinato rural na medida
em que, teve que abandonar as suas terras aráveis para permitir a fixação de colonos
portugueses oriundos da metrópole (p. 211).

Contudo, os camponeses resistiram contra a exploração e trabalho forçado.

De acordo com Newitt (1997):

O primeiro e segundo planos de fomento criaram condições para o surgimento de


indústrias locais, especialmente as zonas urbanas de Lourenço Marques e Beira. “São
indústrias de refinação de petróleo, química, cimento, panelas chapéus-de-chuva, tijolos
rádios, cabos eléctricos, colchões e bicicletas” (p. 406).

Cardoso (1991) considera que, “o sector industrial especialmente o de transformação, na década


60 e 70 conseguiu empregar 100 mil assalariados. Esta situação ficou a dever-se ao
desenvolvimento da indústria têxtil do vestuário, calçado, bem como dos ramos de alimentação e
bebidas” (p. 113).

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Os Planos de Fomentos foram uma resposta da economia do Estado Novo na relação com as
colónias que fortemente, privilegiou o sector agrário. Contudo, apesar deste facto, os outros
sectores tais como: a indústria, o turismo, transportes e comunicação também foram importantes
na economia colonial. Por exemplo, no sector de turismo as estatísticas de 1973 indicam que o
país acolheu cerca de 400 000 turistas vindos de diversos pontos do mundo, resultando uma
receita de 510.000 contos.

Os programas de desenvolvimento desempenharam um papel crucial na economia colonial pois,


as suas políticas influenciaram a dinâmica dos principais sectores da economia.

3. A cultura
Segundo Fanon, a ontologia negra na história da segregação foi sempre algo feito por outrem. O
negro não podia sê-lo senão em face do branco. Contudo, ele não tinha resistência ontológica aos
olhos do Branco.

Era ao mesmo tempo responsável pelo meu corpo, responsável pela minha raça, pelos
meus antepassados. Passei sobre mim um olhar objectivo, descobri a minha negridão, os
meus caracteres étnicos, e furaram-me os tímpanos a antropofagias, a debilidade mental, o
feiticismo, as taras raciais, os negreiros, e sobretudo, sobretudo… (Fanon, 1975, p. 124)

O aparecimento do colono significou morte da sociedade autóctone, letargia cultural, petrificação


dos indivíduos. No ambiente vivido entre o negro e branco, no qual um vê-se superior (branco), a
realidade do homem negro, sua cultura, os mitos, são minados, já que trata-se de uma opressão. O
preto escravizado por sua inferioridade, o branco escravizado por sua superioridade, ambos se
comportam de acordo com uma orientação neurótica.

De acordo com Hernandez (2005):

Em certo momento o preto era tomado como ‘canibal (selvagem), cruel, ou seja, indivíduo
bárbaro’. Em situações de sofrimento, hora de frio, o preto gemia de frio e os meninos
brancos julgavam que ele tivesse raiva de os comer. Esta experiência foi impar para o
negro (p. 64).

Na visão do autor, essa recusa e humilhação epidérmica racial, não podia ser superada partindo
dum complexo inato, mas afirmar-se como negro, já que os outros hesitam dar uma solução.
Então o que restava era fazer-se conhecer como homem, homem negro.

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O negro devia se retirar a culpa de escravo de ‘ideia’ que os outros tinham – e ainda têm – sobre
ele, mas afirmar-se. Portanto, já havia chegado a hora de demolir os preconceitos de afirmações
falsas a todo o custo.

Na revindicação ou reafirmação do preto, ele cria um racismo anti-racista. O anti-racismo,


pretendia abolir os privilégios étnicos, de onde quer que eles viessem; afirmar a solidariedade
com os oprimidos de qualquer cor. E como o preto foi tornado de brinquedo nas mãos do branco,
ele então, para romper o círculo infernal, explode. Para o colonizado, essa violência representa a
praxis absoluta. O colonizado, ao agir na realidade, transforma-a e transforma-se a si mesmo. A
violência aproximou os cenários dos filmes

No momento em que a violência tornou-se explícita na sociedade colonial, ela revelou ao


colonizado a verdadeira face do modus operandi colonialista e isto desalienou os indivíduos, ela
desmistificou as ilusões fundadas nas superstruturas colonialistas. Sob vários aspectos, a
violência é um evento heurístico de excepcional significação. Revela o visível e o invisível, o
objectivo e o subjectivo, no que se refere ao social, económico, político e cultural,
compreendendo o individual e o colectivo, a biografia e a história.

A alienação colonial inferioriza o colonizado/negro/árabe, obriga-o a vestir uma ‘máscara


branca’, causando nele transtornos psicológicos como o sentimento de inferioridade
perante o colonizador branco que, por sua vez, acaba surgindo a questão da perda de
identidade. Dado que o negro deixou-se dominar, o branco passou a considerá-lo como ser
não civilizado, sem cultura, nem o longo passado de história (Peter, 1999, p. 3).

Ainda no mesmo banquete epistemológico, Fanon (1975) escreve:

Do negro nada outra coisa se espera senão exigir que seja preto e bom preto e, expressar-
se em língua do preto. Qualquer comportamento que saia dos estereótipos criados, logo
causa desconfiança no colonizador: [...] naturalmente, assim como um judeu que gasta
dinheiro sem pensar é suspeito, um homem preto que cita Montesquieu deve ser melhor
observado [...] Quando um negro fala de Marx, a primeira reacção é sempre a mesma:
‘Nós trouxemos você até o nosso nível e agora você voltou-se contra seus benfeitores.
Ingratos! Obviamente nada poder ser esperado de você (p. 35).

Eis que desta confusão de imagens que liga o negro ao mal, à fealdade e à preguiça, surge no
próprio negro a vontade de fugir da analogia imposta pelo eurocentrismo. O branco ao incitar ou

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impedir que o negro não fale a sua língua de preto, está a encerrar o negro e a perpetuar uma
situação conflitual em que o branco invade o negro de corpos estranhos extremamente tóxicos.

O preto era pejorativamente assumido como aquele que cheira, preguiçoso. Daí, merecia ser
detestado. E o branco era tomado como um deus misericordioso em relação ao preto, um rico, um
belo e inteligente. No entanto, ao negro lhe restava despir-se do seu ego para entrar no santuário
branco, isto é, rejeitar-se e deixar-se alienar (Cfr. Ibidem, p. 63).

Fanon (1975), refere que:

Em certos casos, o preto podia se casar com uma mulher branca ou ser oferecido, mas com
uma condição: ele deveria se resignar, negar-se, despir-se, isto é, rejeitar os da cor e se
considerar europeu. Ao vivenciar sua condição alienada, o colonizado busca fugir dos
estereótipos construídos na sociedade colonial. A primeira saída é a da assimilação, ou
seja, mudar de pele, tornar-se europeu; a segunda é a revolta aberta contra o colonizador,
revolta essa que pode transformar-se em revolução (p. 82-83).

Entre estes dois momentos, ocorre, como já afirmamos, a criação de uma contra-mitologia, um
‘racismo às avessas’ por parte do colonizado, que, apesar de ainda estar inserido dentro do
contexto colonial, apesar de ter um movimento de negação, torna-se dialecticamente afirmação da
identidade em construção.

Na sua tentativa de fugir do estereótipo colonizado, o negro encontra um modelo que lhe serve de
exemplo, um modelo tentador e muito próximo a ele, precisamente, o do colonizador. A primeira
ambição do colonizado será a de igualar-se a esse modelo prestigioso, de parecer-se com ele até
nele desaparecer.

A violência é intrínseca ao colonialismo, pois ele se baseia na expropriação da terra dos nativos,
na domesticação da força de trabalho, no canhão, na baioneta.

Os colonos sempre afirmaram que os nativos só entendem com chicotadas, só a força ensina-os.
O argumento escolhido pelo colonizado foi-lhe indicado pelo colono e, por uma irónica
reviravolta das coisas, o colonizado é quem agora afirma que o colonialista só entende à força. O
colonizado, desde pequeno, convivera com a violência, ele a conhecia. A situação colonial, por
sua fatalidade interior, convoca à revolta. Pois a condição colonial não pode ser suportada. Esta
violência começou a voltar-se contra o colonizador, ela tornou-se contra-violência, produziu a
recuperação da dignidade humana do colonizado.
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4. Politica colonial
De acordo com Pimenta (2005), refere que:

França e Portugal desenvolveram na África “soluções político-administrativas


altamente centralizadas, governando as suas colónias a partir de Paris ou de Lisboa
e concedendo à população colonial”, fossem membros das populações nativas
(alguns sobas tornaram-se funcionários da administração colonial), ou mesmo aos
colonos, “uma representação política nos órgãos de poder nacionais muito
limitada, em especial no caso português” (p. 63).

Apenas em Moçambique, no centro e no norte da colônia, é que Portugal cedeu seu domínio à
Companhia de Moçambique a partir de 1891, dado o fracasso das tentativas anteriores de
ocupação econômica dessas regiões.

Ainda na visão de Pimenta (2005):

A Inglaterra desenvolveu regimes coloniais mais descentralizados que procuraram


governar conjuntamente com os chefes tradicionais das populações nativas, além de
desenvolverem condições para a criação de quadros gestores locais para a administração,
o regime administrativo britânico pautava-se pela política do self-government (‘governo
próprio’), com ênfase à autonomia administrativa das companyrule (companhias
majestáticas). Nas colónias britânicas, ao contrário das colónias portuguesas, por exemplo,
não se reconhecia o direito à nacionalidade das populações colonizadas (p. 63).

Com a derrota militar dos chefes locais, o governo da Província pode finalmente organizar a
administração do território, com a instituição do Regulado. O governo recrutava membros da
aristocracia indígena como Régulos, encarregados da colecta do imposto-de-palhota, do
recrutamento de trabalhadores para a administração e da proibição da venda de quaisquer bebidas
alcoólicas que não fossem provenientes da Metrópole.

Para além disso e, na impossibilidade de impedir a migração de trabalhadores para as minas sul-
africanas, firmou um acordo, primeiro com a República Sul-Africana e, quando esta foi
submetida pelos britânicos, com a respectiva autoridade, regulamentando o trabalho migratório e
assegurando o tráfico através do porto de Lourenço Marques. No primeiro acordo, o governo da
Província recebia uma taxa por cada trabalhador recrutado; mais tarde, o acordo incluía a

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retenção de metade do salário dos mineiros, que era pago à colónia em ouro, sendo o montante
respectivo entregue aos mineiros no seu regresso, em moeda local.

Contudo, a historicidade do processo fez com que todos os modelos de gestão colonial sofressem
adequações ao que fora originalmente organizado, somente para efeitos de síntese é que sumario
aqui a descrição em tipos puros. Junto aos modelos de administração portuguesa e francesa
(direta) e ao britânico (indireta), o modelo no Congo foi misto, mas há aqui uma ressalva
importante a ser feita. O Congo no momento do colonialismo europeu não se originou como uma
colônia da Bélgica.

Desde a sua fundação, em 1885, era uma propriedade do rei Leopoldo II. Tornou-se uma
colónia da Bélgica apenas em 1909 por herança declarada pelo rei no seu testamento.
Obviamente que a estrutura colonial congolesa, de 1909 em diante, manteve o legado
institucional organizado anteriormente (que descreverei adiante em maior detalhe)
(Crowder, 2010, p. 89).

Tornou-se, então, uma colónia com práticas administrativas mistas (ora em intervenção directa e
extremamente violenta das práticas centralizadas das Companhias ou a acção do governo belga
em negociações directas com os chefes locais das populações nativas) momento em que todo o
continente passava por importantes transformações administrativas em geral, dados os limites de
expansão de muitas companhias majestáticas derivados em grande na incapacidade de enfrentar o
confronto insurrecional de inúmeros povos contra o processo de institucionalização das relações
capitalistas de produção.

A partir da década de 1910 com a aguda repressão militar do estado metropolitano é que
investimentos privados puderam se organizar em larga escala, quando a borracha deixou de ser
colectada aleatoriamente no interior das matas, para ser colectada em fazendas. E a partir da
década de 1920, o sistema geral das administrações coloniais passaria por adequações
determinadas em grande parte pelas conjunturas políticas e económicas da Europa no período do
entreguerras (1919-1939).

O sistema britânico de administração indirecta foi que passou por mais adequações institucionais.

Diferentemente da França que estabelecera um sistema administrativo quase integralmente


uniforme no conjunto das suas catorze colónias da África tropical, a Grã-Bretanha
implantou diversos sistemas com vistas a administrar as suas dependências africanas, de
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forma a tornar muito difícil conceber, no tangente a estes sistemas, qualquer
generalização. (Crowder, 2010, p. 89).

As colônias britânicas da África Ocidental (Nigéria, Costa do Ouro, Gâmbia e Serra Leoa), por
exemplo, desenvolveram formas administrativas indiretas com a incorporação dos chefes
tradicionais, percebidos pela metrópole como os “principais responsáveis pelos organismos
locais”, com quase as mesmas atribuições que um “conselho de condado na Grã-Bretanha, com a
pequena diferença de também se atribuir, a estes chefes, o encargo pessoal de promover a
justiça”.

Nessas colônias, o poder tradicional local ligava-se quase que diretamente ao poder
central da colônia, ao poder do governador-geral, sempre um britânico. Contudo, o real
poder estava com os funcionários da administração [os pequenos gestores-burocratas],
“mesmo que fossem teoricamente apenas conselheiros junto às ‘autoridades indígenas’”,
se definiam na prática como responsáveis pela “supervisão directa de numerosos aspectos
da administração dos negócios” (Pimenta, 2005, p. 69).

Note-se um aspecto importante nesse modelo britânico de administração indirecta: os chefes


ocupantes de tais “posições no quadro deste sistema administrativo sobreviveriam ao advento da
independência”, o que não aconteceu com as administrações portuguesas e francesas; nestas os
“agentes do regime administrativo directo” desapareceriam, em sua maioria, enquanto classe
(gestores-burocratas evadidos para a metrópole quando declaradas as independências, o caso das
administrações coloniais em Angola é exemplar).

O principal é que Grã-Bretanha deixou a sua marca colonialista muito menos


intensamente na vida quotidiana dos africanos em territórios administrados
indirectamente, por razões quase óbvias, os funcionários de origem europeia eram
assessores e se limitavam a actuar como agentes de consulta e de logística, sendo os
chefes tribais incorporados a efectiva expressão pública do poder (Crowder, 2010, p. 96-
97).

Com as independências, tais chefes administrativos tenderam a permanecer nos quadros da


tecnoburocracia dos novos regimes políticos nacionalizados. É claro que isso tinha limites.
Quando investimentos de grande porte eram aplicados nas colónias, esses chefes locais eram
sumariamente ignorados. Com investimentos globais para a colónia, o sentido do poder local dos
sobas limitava qualquer perspectiva de consulta de natureza mais ampla.
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Quando se tratava de implementar medidas aplicadas ao conjunto da colónia, o chefe
recebia as suas instruções e raramente era consultado quanto à sabedoria ou aos
fundamentos das medidas, como a construção de estradas e de vias férreas territoriais ou,
por exemplo, as modalidades de combate às epidemias (Crowder, 2010, p. 97).

Apesar das distinções nas práticas administrativas das metrópoles sobre as colónias, um aspecto
estrutural define o processo na sua totalidade: em todas as experiências colonialistas a soberania
de grandes Companhias Majestáticas se fazia presente, algo como estados privados coordenados
pela lógica de investidores (acionistas) de um mercado financeiro já internacionalizado. Para
além das diferenças administrativas coloniais, se directas ou indirectas, o fato importante a
considerar é a soberania política e económica das Companhias Majestáticas por toda a África,
não importando se a experiência colonialista fosse de bandeira portuguesa, britânica, francesa ou
belga.

De acordo com Bernardo (2004), refere que:

As empresas concessionárias de capital privado instituíram o capitalismo no continente


africano. Após a década de 1880, quando a industrialização tomava dimensões
oligopolistas, a expansão capitalista europeia deixava gradativamente de perceber o
continente africano apenas como um espaço colonial de saques e trocas mercantis. As
colónias no avanço do capitalismo monopolista tornavam-se áreas de receptação de capital
e exportação de matérias-primas (p. 42).

Isso significava que a extracção de minérios ou a produção de borracha deveria estar organizada
sob os fundamentos capitalistas de exploração da força de trabalho.

O grande papel histórico das Companhias Majestáticas foi o de organizar as condições gerais de
produção capitalista, mais especificamente as condições da proletarização do trabalhador
africano. Um dos exemplos de maior êxito nesse propósito deu-se com a experiência
administrativa da Companhia de Moçambique.

Se no período de 1840-1870, momento inicial da ocupação colonialista no século XIX, as


relações comerciais se faziam sob a lógica do trabalho forçado promovido pela escravização de
tribos nativas para a recolha de marfim, por exemplo, a partir da década de 1880, com a
ampliação dos mercados monopolistas, a extracção de matérias-primas teria que se organizar em
escala industrial, o que implicava na proletarização da força de trabalho africana. As populações

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africanas resistiram de modo implacável a essas novas condições de trabalho. Todas as
companhias estabelecidas em África viram-se diante de lutas devastadoras contra o seu
património e investimentos.

Milhões de africanos morreram em combates contra a forçosa proletarização a que se viam


subjugados. Mesmo com poderes administrativos de Estado, a grande maioria dessas companhias
não resistiu sozinha às lutas de resistência dos africanos e, na década de 1910, os Estados
nacionais metropolitanos assumiram a defesa militar e a garantia da expansão da proletarização
africana e a consumação das condições gerais de produção capitalista.

A Companhia de Moçambique foi a única que se manteve desde a sua fundação com autonomia
em todo o processo de colonização portuguesa. Manteve-se assim porque fora, desde sempre,
uma companhia controlada por capitais e investimentos britânicos. Portugal era apenas um
detalhe simbólico na formalidade administrativa.

5. A queda do estado novo em Moçambique


Com a "eleição" de Óscar Carmona, em 1928, que chamou Salazar para seu ministro das
finanças, a administração das colónias como fonte de matérias-primas para a indústria da
"metrópole" tornou-se mais eficiente. Em 1930 foi publicado o Acto Colonial, legislação que
organizava o papel do Estado nas colónias portuguesas:

a nomeação de administradores para as circunscrições "indígenas", que passaram a organizar os


seus pequenos exércitos de sipaios;

 os recenseamentos que determinavam a cobrança de impostos e a "venda" de mão-de-obra


para as minas sul-africanas;
 a criação de "Tribunais Privativos dos Indígenas";
 a definição da Igreja Católica como principal força "civilizadora" dos indígenas, passando
a ser a principal forma de educação.

O Estado Novo, após 41 anos de vida, é derrubado no dia 25 de Abril de 1974. O golpe que
acabou com o regime foi efectuado pelos militares do Movimento das Forças Armadas - MFA. O
golpe militar contou com a presença da população, cansada da repressão, da censura, da guerra
colonial e do abrandamento económico motivado pelo choque petrolífero de 1973. Ficou
conhecida por Revolução de 25 de Abril. Neste dia, diversas unidades militares comandadas por
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oficiais do MFA marcharam sobre Lisboa, ocupando uma série de pontos estratégicos. As
guarnições militares que supostamente eram apoiantes do regime renderam-se e juntaram-se aos
militares do MFA.

O regime caiu sem ter quase quem o defendesse. Os acontecimentos deste dia culminaram com a
rendição de Marcello Caetano, sitiado pelo capitão Salgueiro Maia, no Quartel do Carmo.

Foi uma revolução considerada "não-sangrenta" e "pacífica", sendo que no dia 25 de Abril
propriamente dito houve apenas quatro mortos, vítimas de disparos da polícia política, junto à sua
sede.

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Considerações Finais
Este trabalho incidiu sobre “Características gerais de Moçambique na era colonial: Economia,
Política, Cultura”. Em Moçambique, “o início da década de 50 foi marcado pelo desenvolvimento
dos colonatos”, motivada pela imigração da população branca vindo da metrópole. Trata-se de
famílias brancas oriundas da metrópole que tinham perdido suas terras em consequência do
advento da industrialização

No campo político-social afirma, a integração dos assimilados negros na administração constituiu


uma mais-valia para os autóctones pois, pouco a pouco foram conquistando o seu espaço. “Como
corolário, surgiram os sindicatos, os nacionalistas, bem como os intelectuais fundadores do
Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique

A viragem da economia colonial em Moçambique reajustou a outrora política económica baseada


na concessão de parte das regiões Centro e Norte de Moçambique para a actuação das
companhias majestáticas e arrendatárias.

O golpe que acabou com o regime foi efetuado pelos militares do Movimento das Forças
Armadas - MFA. O golpe militar contou com a presença da população, cansada da repressão, da
censura, da guerra colonial e do abrandamento económico motivado pelo choque petrolífero de
1973. Ficou conhecida por Revolução de 25 de Abril. Neste dia, diversas unidades militares
comandadas por oficiais do MFA marcharam sobre Lisboa, ocupando uma série de pontos
estratégicos.

O regime caiu sem ter quase quem o defendesse. Os acontecimentos deste dia culminaram com a
rendição de Marcello Caetano, sitiado pelo capitão Salgueiro Maia, no Quartel do Carmo.

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Bibliografia
Bernardo, J. (2004). Democracia totalitária. Teoria e prática da empresa soberana. São Paulo:
Cortez Editora.
Boahen, A. A. (1991). A África sob dominação colonial 1880-1935. História geral da África. São
Paulo: Ática, 7 v.
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