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Índice
1. Introdução ................................................................................................................................ 3
1.1. Objectivos ............................................................................................................................ 3
2. As formações sociopolíticas e o caracter ou função da educação ........................................... 4
2.1. Historia e desenvolvimento da educação em Moçambique ................................................. 5
2.1.1. A educação antes da independência ................................................................................. 5
2.1.1.1. A Educação no período colonial (1845 – 1974) ........................................................... 5
2.1.1.2. A educação no Governo de Transição (1974-1975) ..................................................... 7
2.1.2. A educação pós-independência ........................................................................................ 8
2.1.2.1. Antes do Sistema Nacional de Educação (1975–1982) ................................................ 8
2.1.2.2. O surgimento da lei n° 4/83 (1983-1991) ..................................................................... 8
2.1.2.3. O surgimento da lei 6/92 (1992-2018) ......................................................................... 9
2.1.2.4. O surgimento da Lei nº 18/2018 ................................................................................... 9
2.2. A educação tradicional em Moçambique ............................................................................. 9
2.2.1. Objectivos da educação tradicional em Moçambique .................................................... 10
2.2.2. Princípios da educação tradicional em Moçambique ..................................................... 11
2.2.3. Valores da educação tradicional em Moçambique ......................................................... 11
2.2.4. Educadores na educação tradicional em Moçambique .................................................. 12
3. Finalidade e Objetivo da educação em Moçambique em diferentes momentos históricos ... 12
3.1. No período colonial: educar para civilizar o indígena ....................................................... 13
3.2. No período da independência: educar para emancipar ...................................................... 13
3.3. Após a independência ........................................................................................................ 14
3.4. O Sistema Nacional de Educação ...................................................................................... 14
4. Conclusão .............................................................................................................................. 16
5. Bibliografia ............................................................................................................................ 17
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1. Introdução
Moçambique tem uma história complexa de formação sociopolítica, marcada pela influência de
diferentes grupos étnicos e colonizadores, bem como pela luta pela independência e pela
construção de uma nação pós-colonial.

A educação é uma actividade proposital direcionada para atingir determinados objectivos, como
transmitir conhecimentos ou promover habilidades e traços de carácter. O processo de educação
tem em vista a preparação do homem para sua melhor inserção na sociedade.

A educação em Moçambique não teve sempre as mesmas características, pois desde os tempos
mais remotos ela vem sofrendo diversas alterações, e por isso a caracterização da educação em
Moçambique pode ser dividida em dois grandes períodos: o período antes da Independência e o
período pós-Independência.

1.1. Objectivos
Objectivos gerais

 Estudar as formações sociopolíticas e o carácter ou função da educação;


 Finalidades e objectivos da educação em Moçambique em diferentes momentos históricos.

Objectivos específicos

 A historia e desenvolvimento da educação em Moçambique;


 A educação tradicional em Moçambique: objectivos, princípios, valores e educadores;
 A educação no período colonial;
 A educação no período da independência;
 A educação pós-independência;
 O Sistema Nacional de Educação.
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2. As formações sociopolíticas e o caracter ou função da educação


Segundo DOMINGOS (2015, p.229), Moçambique tem uma história complexa de formação
sociopolítica, marcada pela influência de diferentes grupos étnicos e colonizadores, bem como
pela luta pela independência e pela construção de uma nação pós-colonial.

Antes da chegada dos colonizadores portugueses no século XV, a região que hoje é Moçambique
era habitada por vários grupos étnicos, como os Shona, os Tsonga, os Makua, os Yao, entre
outros. Essas comunidades possuíam formas próprias de organização social e política, baseadas
em lideranças locais e em práticas de solidariedade e cooperação. Com a chegada dos
portugueses e a colonização, a organização sociopolítica de Moçambique foi profundamente
alterada. O país tornou-se uma colônia portuguesa em 1505, e a autoridade colonial foi exercida
por meio de administrações centralizadas em cidades como Ilha de Moçambique e Lourenço
Marques (atual Maputo). Os portugueses estabeleceram um sistema de exploração econômica
baseado no trabalho forçado e na exportação de recursos naturais, como o ouro, o marfim e os
escravos.

A luta pela independência de Moçambique teve início na década de 1960, liderada pelo
Movimento Nacional de Libertação de Moçambique (FRELIMO), um grupo guerrilheiro que
utilizou táticas de sabotagem e insurgência para enfrentar as forças coloniais portuguesas. Em
1975, depois de uma guerra prolongada, Moçambique finalmente conquistou a independência, e
a FRELIMO tornou-se o partido único que governou o país por mais de 20 anos.

Nos anos seguintes, o país passou por um processo de reconstrução e desenvolvimento, com a
nacionalização de recursos naturais e a implementação de políticas públicas voltadas à educação,
saúde e desenvolvimento rural. No entanto, a longa guerra civil que ocorreu entre 1977 e 1992,
entre o governo da FRELIMO e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), um grupo
armado apoiado pela África do Sul, causou graves danos à infraestrutura e à economia
moçambicana.

Desde o fim da guerra civil, Moçambique tem experimentado um crescimento econômico


significativo, impulsionado pela exploração de recursos naturais como o gás e o carvão. No
entanto, o país continua enfrentando desafios em termos de pobreza, desigualdade social,
corrupção e instabilidade política. Em 2019, o país passou por uma série de crises políticas e
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econômicas, incluindo a descoberta de fraudes em empréstimos contraídos pelo governo e


atrasos na realização das eleições gerais.

2.1. Historia e desenvolvimento da educação em Moçambique


Para Cuamba, et. al., (2019, p.32), o processo de educação tem em vista a preparação do homem
para sua melhor inserção na sociedade. Esta preparação é guiada no sentido de alcançar
determinados objetivos que variam com o tempo, de acordo com as exigências da sociedade,
tendo em conta que os objetivos da educação são dinâmicos.

A educação em Moçambique não teve sempre as mesmas características. Deste modo,


considerando a Independência Nacional (1975) como marco referencial, a caracterização da
educação em Moçambique pode ser dividida em dois grandes períodos: o período antes da
Independência e o período pós-Independência.

2.1.1. A educação antes da independência


A história da educação em Moçambique antes da Independência pode ser dividida em duas
etapas relevantes: a educação no período colonial e a educação no governo de transição.
(Cuamba, et. al., 2019, p.33).

2.1.1.1. A Educação no período colonial (1845 – 1974)


De acordo com Cuamba, et. al., (2019, p.33), a educação neste período foi caracterizada pela
dominação, alienação e cristianização. Foi o período em que surgiu a primeira regulamentação
do ensino nas colónias, período da Monarquia em Portugal, a 2 de Abril de 1845. A 14 de
Agosto do mesmo ano, foi estabelecido um decreto que diferenciava o ensino nas colónias e na
Metrópole e criava as escolas públicas nas colónias. Em 1846 foi publicada a primeira
providência legal para a organização da instrução primária no ultramar português, depois de
1854 foram criadas, por decreto, as primeiras escolas primárias na Ilha de Moçambique, no Ibo,
Quelimane, Sena, Tete, Inhambane e Lourenço Marques.

A 30 de Novembro de 1869, foi reformado o Ensino Ultramar, onde se decretava o ensino


primário obrigatório, dividido em dois graus, com duas classes cada, em que as escolas estavam
sob tutela das missões católicas. Em 1912 foi criada, em Lourenço Marques, a primeira escola
secundária em Moçambique.
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Dois subsistemas de ensino do sistema de educação colonial

Para Cuamba, et. al., (2019, p.34), um dos maiores marcos da educação colonial em
Moçambique é a vigência de dois subsistemas de ensino, nomeadamente:

 Ensino Oficial – para os filhos dos colonos ou assimilados;


 Ensino rudimentar – para os chamados “indígenas”, os nativos.

Neste sentido, o sistema de ensino em Moçambique era de dois tipos, correspondendo a duas
concepções de educação - para indígenas e educação da elite, para o colonizador e assimilado.

O ensino oficial destinava-se à transmissão de valores e padrões aristocráticos. O ensino para


indígenas era para o povo colonizado que praticamente estava reduzido apenas a aprender a ler,
escrever e a domesticação. O ensino estava estruturado basicamente para acomodar os interesses
do colono, preparar indivíduos para desempenhar funções sociais distintas na sociedade.

Características do ensino colonial em Moçambique

De acordo com Cuamba, et. al., (2019, p.32), as características do ensino colonial em
Moçambique são:

Caracter discriminatório: estabelecimento de dois tipos de educação, um destinado a


população negra e dirigido pelas missões, e outro reservado as crianças brancas e aos
assimilados, confiando ao estado e as instituições privadas;

Limitação de ingresso na escola primaria oficial e nos níveis superiores de escolarização.

Caracter urbano da rede escolar: as escolas oficiais localizavam-se nos centros urbanos e
eram melhor equipadas, enquanto que os postos escolares eram construídos em zonas rurais para
a maioria da população moçambicana;

As escolas indígenas eram mal equipadas.

Unidade entre a religião e o ensino: a organização, direção e controlo do ensino para indígenas
estavam confiadas aos missionários, o processo de assimilação e aculturação dos moçambicanos
era sobretudo feito através da educação moral cristã, católica.
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O ensino da religião e moral católicas eram obrigatórios em quase todas as escolas e níveis de
ensino, a religião católica era a religião oficial do estado.

Caracter fictício da escolarização obrigatória: a limitação dos ingressos na escola na base da


idade, a existência de uma rede escolar insuficiente e inadequada foram, entre outros, factores
inibidores para uma melhor oferta dos serviços educativos e maior acesso aos mesmos;

Outros factores inibidores foram: carências familiares e individuais de natureza económica,


elevadas taxas de escolarização, descriminação no recenseamento escolar, proibição de inscrição
e matricula nas escolas oficiais de crianças não recenseadas.

Caracter paternalista: complexo de superioridade do branco em relação ao negro era bem


patente em alguns livros de leitura em uso nas escolas primárias para indígenas;

A ideia subjacente consistia em fazer crer que os brancos fizeram enorme bem aos negros e que,
estes, por sua vez, eram ociosos, improdutivos, apesar de enormes recursos que a sua terra lhes
oferece.

Foi a partir de 1930, com a assinatura dos acordos missionários (A concordata em 1940 e o
Estatuto missionário em 1941) que o governo impôs uma política rigorosa de educação e
assimilação em Moçambique. Com a assinatura da Concordata e do Estatuto Missionário, o
estado transferiu para a igreja a sua responsabilidade sobre o ensino rudimentar,
comprometendo-se a dar um apoio financeiro às missões e às escolas católicas, enquanto nas
zonas rurais os moçambicanos dispunham de escolas das missões, os centros administrativos
dispunham de escolas oficiais e particulares para os brancos e assimilados. Era um ensino
relativamente evoluído em comparação com o ensino para indígenas.

2.1.1.2. A educação no Governo de Transição (1974-1975)


Cuamba, et. al., (2019, p.36), diz que este período é consequência dos acontecimentos destacados
nos anos anteriores. Por exemplo, a fundação da FRELIMO (Frente de Libertação de
Moçambique), em 1962, permitiu o desencadeamento da luta armada para a libertação nacional,
na sequência da qual, com os Acordos de Luzaka em 1974, condicionou o surgimento do
Governo de Transição. Assim, uma das razões que leva à consideração deste período prende-se
com o facto de que grande parte das transformações no campo educacional aplicadas a nível
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nacional teve como origem as experiências levadas a cabo pela FRELIMO e resultam da visão
deste movimento sobre o modelo de sociedade pretendido e os princípios defendidos durante a
Luta Armada.

A FRELIMO implementou um tipo de escola ligada ao povo, às suas causas e interesses. A


educação realizada nestas escolas era essencialmente política e ideológica, uma vez que estava
condicionada pelos factores que têm a ver com a natureza revolucionária da luta conduzida pela
FRELIMO.

2.1.2. A educação pós-independência


Ao longo deste período, o sistema educativo sofreu várias reformas que tinham em vista adequar
a formação dos moçambicanos aos contextos sociopolíticos, económicos e culturais, marcado
pelo alcance da Independência, em 1975. Neste período, destacam-se como principais marcos: o
surgimento da lei 4/83; da lei 6/92; e da Lei 18/2028. (Cuamba, et. al., 2019, p.37).

2.1.2.1. Antes do Sistema Nacional de Educação (1975–1982)


Para Cuamba, et. al., (2019, p.37), neste período registaram-se os seguintes factos:

 A nacionalização da educação a 24 de julho de 1975, e a consequente suspensão de todas


as formas do sistema do ensino colonial português;
 A proclamação do direito à educação para todos os moçambicanos, pela Constituição da
República Popular de Moçambique (20 de Junho de 1975) e a consequente massificação
do acesso à educação em todos os níveis de ensino;
 A introdução de um currículo educacional transitório do sistema colonial português para
o nacional (1975);
 A criação dos centros de formação de professores primários e a consequente abolição das
instituições portuguesas vocacionadas à formação de professores (1975).

2.1.2.2. O surgimento da lei n° 4/83 (1983-1991)


Em 1983, procedeu-se a introdução do Sistema Nacional de Educação (SNE), através da lei n°
4/83. Em 1990, é introduzida a constituição da republica, que possibilita a reabertura do ensino
particular em 1991 e o reajustamento da lei do SNE. (Momade, 2022, p.255).
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2.1.2.3.O surgimento da lei 6/92 (1992-2018)


A lei n° 6/92 surgiu para reajustar a lei 4/83. Em 2004 é introduzido o plano curricular do ensino
básico, ora em vigor, em consequência da reforma do currículo escolar anterior. (Momade, 2022,
p,258).

2.1.2.4. O surgimento da Lei nº 18/2018


Segundo Momade, (2022, p,260), a lei 18/2018, de 28 de Dezembro do SNE, foi introduzida
recentemente e rege pelos princípios da educação, cultura, formação e desenvolvimento humano
equilibrado e inclusivo como sendo o direito de todos os moçambicanos. Nesta lei a educação
passou a ser duplamente direito e dever do estado.

Esta lei traz as seguintes alterações ao SNE:

 Introdução da educação pré-escolar;


 O ensino primário em seis classes;
 O ensino bilingue como modalidade do ensino primário;
 O ensino básico obrigatório gratuito de nove classes;
 O ensino secundário de seis classes;
 O ensino à distância como modalidade do ensino secundário e superior;
 O perfil de ingresso para formação de professores;
 A Educação Inclusiva em todos os níveis de ensino;
 A educação vocacional.

2.2. A educação tradicional em Moçambique


Segundo Cipire, (1996, p.53), Tradição é o conhecimento que provém da transmissão oral de
hábitos durante um longo espaço de tempo que passa de geração em geração.

A educação tradicional em Moçambique foi influenciada pela história e cultura do país. Durante
o período colonial, a educação era restrita para a elite, mas após a independência em 1975, o
governo moçambicano adotou políticas para democratizar o acesso a educação.

A educação tradicional na cultura moçambicana é baseada na transmissão oral da historia e nos


costumes, com a aprendizagem centrada na comunidade e na prática. As famílias são
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responsáveis por ensinar os seus filhos as habilidades necessárias para a vida, incluindo caça,
pesca, agricultura e artesanato.

Os ritos de iniciação são também um aspecto importante da educação tradicional em


Moçambique, onde os jovens são iniciados com diferentes técnicas de sobrevivência, habilidades
e comportamentos culturais, incluindo a circuncisão masculina e feminina. Apesar dessas
tradições, o sistema educacional formal em Moçambique tem se expandido nos últimos anos,
com programas de educação pré-escolar, ensino fundamental, médio e superior.

2.2.1. Objectivos da educação tradicional em Moçambique


A educação tradicional em Moçambique tem como objectivos principais transmitir
conhecimentos, valores e normas sociais, bem como preparar os indivíduos para o desempenho
de papéis específicos na sociedade. Alguns dos objectivos da educação tradicional em
Moçambique incluem:

 Preservação da cultura e tradições: a educação tradicional tem o objectivo de transmitir


aos jovens as tradições e valores culturais de suas comunidades. Isso inclui a transmissão
de costumes, mitos, lendas, músicas e danças que fazem parte da identidade cultural de
Moçambique.
 Desenvolvimento de habilidades praticas: a educação tradicional também tem como
objectivo desenvolver habilidades práticas que são necessárias para a sobrevivência e o
bem-estar da comunidade. Essas habilidades incluem a agricultura, a pesca, a caça, a
tecelagem e trabalhos manuais.
 Transmissão de valores morais e éticos: a educação tradicional tem um papel
importante na transmissão de valores morais éticos que são considerados importantes para
a vida em comunidade. Isso inclui a solidariedade, o respeito pelos mais velhos e pelas
autoridades, e a valorização do trabalho e da educação.
 Preparação para papéis específicos: a educação tradicional também tem o objectivo de
preparar os indivíduos para desempenhar papéis específicos na sociedade. Isso inclui a
preparação da mulher para o casamento e a maternidade, assim como a preparação dos
homens para a liderança e o trabalho duro.
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2.2.2. Princípios da educação tradicional em Moçambique


A educação tradicional em Moçambique tem como princípios fundamentais:

 A transmissão oral do conhecimento: as histórias e tradições são transmitidas oralmente


de geração em geração. O conhecimento é passado de forma prática e vivencial.
 A aprendizagem baseada na observação e imitação: no processo de aprendizagem as
crianças, observam e imitam os mais velhos, seus pais, avós ou outros membros da
comunidade.
 O respeito pelos mais velhos e pela tradição: a educação tradicional valoriza a
experiência e sabedoria dos mais velhos, bem como o conhecimento e tradições da
comunidade.
 A responsabilidade individual e colectiva: a educação tradicional enfatiza a
responsabilidade individual e coletiva na vida da comunidade, cada indivíduo é
responsável por seu comportamento e deve contribuir para o bem-estar da comunidade.
 O uso de rituais e cerimônias: a educação tradicional muitas vezes usa rituais e
cerimônias para marcar momentos importantes, como o início da adolescência ou o
casamento. Esses ritos têm significados culturais profundos e ensinam valores
importantes.
 O ensino da língua e cultura locais: a educação tradicional incentiva o ensino da língua e
cultura locais para garantir a preservação da identidade cultural da comunidade.
 A importância da vida em harmonia com a natureza: a educação tradicional em
Moçambique enfatiza a importância da vida em harmonia com a natureza. Os
ensinamentos incluem a importância de cuidar do meio ambiente e viver de forma
sustentável.

2.2.3. Valores da educação tradicional em Moçambique


A educação em Moçambique é baseada em valores como a valorização da tradição e da cultura,
o respeito pelos mais velhos e pelos líderes comunitários, a importância da oralidade e do
conhecimento transmitido de geração em geração, a valorização do trabalho e da cooperação e a
importância da religião e dos rituais para a harmonia da comunidade.

Além disso, a educação tradicional em Moçambique valoriza o papel da família na transmissão


dos valores e conhecimentos, a importância da participação das comunidades nas decisões
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educacionais e a necessidade de se adaptar a realidade local e as condições climáticas e


geográficas. No entanto é importante ressaltar que, a educação tradicional em Moçambique tem
seus desafios, como a falta de acesso a educação em algumas áreas rurais, a perpetuação de
práticas discriminatórias (como a preferência pelo ensino para os meninos em detrimento das
meninas) e a falta de diálogo entre a educação tradicional e a educação moderna.

2.2.4. Educadores na educação tradicional em Moçambique


Os educadores da educação tradicional em Moçambique são os líderes das comunidades rurais
que transmitem o conhecimento e os valores culturais através de tradições orais e práticas
culturais. Esses educadores são geralmente anciãos ou pessoas respeitadas nas suas
comunidades, que são consideradas portadoras do conhecimento e da sabedoria.

Na educação tradicional, os educadores transmitem conhecimentos sobre a história, a cultura, a


religião, a medicina tradicional, a agricultura, a caça e a pesca, entre outros aspectos importantes
da vida em comunidade. Eles utilizam métodos de estudo como contar histórias, cantar, dançar e
rituais que propiciam o envolvimento dos membros da comunidade, principalmente das crianças
e jovens.

Os educadores da educação tradicional têm papel fundamental na preservação da cultura


moçambicana e a promoção da identidade cultural do país. No entanto, existem desafios para a
continuidade desse tipo de educação, como a falta de reconhecimento e valorização por parte do
sistema educacional formal e a crescente influencia dos meios de comunicação de massa e da
globalização sobre as tradições e hábitos locais.

3. Finalidade e Objetivo da educação em Moçambique em diferentes momentos históricos


Para clarificar as diferentes finalidades e objetivos da educação moçambicana, é necessário levar
em conta três momentos, a saber: momento da educação para a civilização (no período colonial),
momentos da educação para a emancipação (no período da independência), e momentos de
educação para o desenvolvimento das competências (após a independência), que correspondem
aos três grandes momentos que Moçambique passou.
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3.1. No período colonial: educar para civilizar o indígena


Neste contesto, a referida civilização deve ser vista em duas dimensões: dum lado, comportava a
desmoçambicanização das mentes indígenas e, doutro lado a integração dos moçambicanos na
cultura e civilização portuguesa.

Assim, duma e doutra maneira, a civilização tinha como intuito transformar os moçambicanos
em trabalhadores obedientes e conformados com a condição de colonizados. A educação no
período colonial tinha como objetivos económicos na medida em que ela pretendia produzir
mão-de-obra que correspondesse as necessidades da metrópole e ao mesmo tempo ter mercado
para os seus produtos.

3.2. No período da independência: educar para emancipar


Neste caso, o novo homem na visão da revolução da FRELIMO, seria o homem livre do
tribalismo, do individualismo, do obscurantismo, da ignorância enfim, livre de todos os vestígios
coloniais (o capitalismo).

Entretanto, o homem novo devia ser o conhecedor da ciência e da técnica, utilizaria estas duas
ferramentas (ciência e técnica) para colocar a natureza ao serviço do homem para transformar as
condições de vida de todo o povo. Para tal, a educação devia assentar-se em princípios
pedagógicos com a função essencial de educar o homem para servir a sociedade e contribuir para
o desenvolvimento de Moçambique. Por isso, a escola deveria ser um instrumento emancipador
de todo o povo. O poder conquistado pelo povo devia ser entendido em varias vertentes tais
como:

 Histórico e social: os moçambicanos deveriam ser donos da sua historia, actores


ou sujeitos do seu próprio desenvolvimento;
 Cultural: orgulhoso dos seus valores culturais, transmitidos de geração para
geração quer através dos ritos de iniciação, quer da criação artística, como: dança,
música, pintura, etc.;
 Económica: desenvolver relações de produção que beneficiassem a todo povo, e;
 Politica: os moçambicanos deveriam ser autónomos em decidir os destinos da
sua própria vida.
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Neste contesto, para emancipar os moçambicanos era imperioso para a FRELIMO criar um
sistema de ensino onde se formulasse uma nova mentalidade livre de todos os vestígios do
colonialismo. Isto é, a educação deveria estar assente em princípios pedagógicos com a função
essencial de educar o moçambicano para servir a sua sociedade e contribuir de forma criativa
para o desenvolvimento do país.

Portanto, foi nesta atmosfera, que foram reformulados os programas de geografia, de historia e
de língua portuguesa, mudando de textos de leitura que estavam imbuídos da ideologia colonial
para conteúdos com o cunho da cultura moçambicana.

3.3. Após a independência


Nesta fase na área da educação, o país se deparava com a insuficiência de instituições escolares e
com a falta de professores e técnicos para atuarem nesta referida área. Assim, durante muitos
anos, vários moçambicanos não frequentaram a escola por razoes decorrentes do sistema
colonial, baseado na descriminação, por esse motivo, depois da independência, houve a expansão
das escolas que se deu através das iniciativas das populações e através das campanhas de
alfabetização feitas no país.

3.4. O Sistema Nacional de Educação


De acordo com Momade, (2022, p,261), após a independência em junho de 1975, na área da
educação, o padrão que a FRELIMO adoptou se baseava no padrão utilizado nas zonas libertadas
na época da guerra de libertação. O referido padrão de ensino se coloca nos seguintes
parâmetros:

 O ensino tem que funcionar com os seus próprios recursos;


 Todas as pessoas devem aprender e ensinar;
 Fazer uma conexão entre a teoria e a prática;
 Lutar contra o tribalismo, o racismo e o nepotismo;
 Fazer uma ligação entre educação, produção e comunidade;
 Tornar a escola um meio democrático.

Desde o primeiro momento da independência, o governo de Moçambique escolheu a área da


educação como um meio possível para o desenvolvimento do país e a concretização da
democracia popular. O aparelho judicial do novo estado de Moçambique, a chamada
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Constituição da Republica de 1975, considerou o acesso a educação um dever e direito de toda a


população, na qual o estado assumiu o papel de promover as condições necessárias para que
todos moçambicanos pudessem ter esse direito.

O subsistema de educação geral foi estruturado em Ensino Primário (EP) que tem duração de 7
classes, ou com a duração mínima de 7 anos, 5 anos para 1º grau (EP1) e 2 anos para 2º grau
(EP2), e Ensino Secundário Geral (ESG) com a duração de 5 anos e com subdivisão de dois
períodos que vai da 8ª a 10ª classe (ESG1), o segundo período que vai da 11ª a 12ª classe
(ESG2).

Muitas normas administrativas e regulamentares foram adoptadas com o estabelecimento do


Sistema Nacional de Educação, no qual a escola passou a ser obrigatória até a 7ª classe.
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4. Conclusão
Com o desenvolvimento do trabalho chegamos a conclusão de que, as formações sociopolíticas
em Moçambique foram marcadas pela influência de diferentes grupos étnicos e colonizadores,
bem como pela luta pela independência e pela construção de uma nação pós-colonial. Devido a
esses factores a educação em Moçambique vem sofrendo mudanças desde os tempos mais
antigos até a atualidade.

A historia da educação em Moçambique divide-se em dois períodos: o período antes da


independência e o período pós-independência. Foi no período antes da independência que
surgiram as primeiras escolas primarias e a primeira escola secundaria em Moçambique, período
em que o ensino se dividia ensino Oficial (para os filhos dos colonos ou assimilados), e ensino
rudimentar (para os “indígenas”, os nativos) e a educação tinha como objectivo ensinar para
civilizar o indígena.

Já no período da independência e/ou pós-independência, o sistema educativo sofreu várias


reformas que tinham em vista adequar a formação dos moçambicanos aos contextos
sociopolíticos, económicos e culturais do país, foi nessa época que surgiram as leis nº 4/83, nº
6/92 e 18/2018 com elas vem a reestruturação do SNE.

A educação tradicional em Moçambique, é baseada em práticas culturais de ensino que são


transmitidas de geração em geração e têm como objectivos principais transmitir conhecimentos,
valores e normas sociais, bem como preparar os indivíduos para o desempenho de papéis
específicos na sociedade.
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5. Bibliografia
Cipire, F., (1996). A educação tradicional em Moçambique, (2ª ed.). Maputo: EMEDIL.

Cuamba, H., Chirindza, D. & Martins, V., (2019). Manual de psicopedagogia. Maputo:
MINEDH.

Domingos, A. B., (2015). A educação e as organizações democráticas em Moçambique:


experiencias da revolução popular. Maputo.

Momade, S. I., (2022). Traços de inovação do sistema nacional de educação em Moçambique.


Gaya.

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