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Periodização da Economia de Moçambique.

Ernesto Samo (USTM:2008-2024)

UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE


LICENCIATURA EM ECONOMIA

1.A Economia e os Transportes.

Um olhar para a Periodização da


Economia de Moçambique (1498-2024)

Brochura actualizada aos 08 de Fevereiro de 2024

ECONOMIA E OS TRANSPORTES, 2024


PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

Na Economia Nacional, existem varias actividades de relevo tais como a Agricultura,


Industria, Transportes e Comunicações, etc, mas não será’ do geral que se vai retratar
porque a presente cadeira designada por Economia de Transportes tem o seu foco virado
para os Transportes e Comunicações assente nos seguintes resultados de aprendizagem:
 Reconhecer o papel do sector do transporte na economia nacional;
 Analisar a oferta e a procura de transporte;
 Analisar as infra-estruturas e as redes de transporte do ponto de vista económico;
 Abordar o problema da congestão no transporte rodoviário.
Para compreender os 4 aspectos mencionados acima, será’ necessário ter conhecimentos
como:
 Características da Procura dos Transportes;
 Características da oferta (custos);
 Custos Externos;
 Determinação de Preços dos Transportes;
 Métodos de Contenção dos Custos Externos;
 Transportes e Desenvolvimento;
 Previsão dos Transportes;
 Regulamentação ou politicas acerca dos transportes;
Portanto, para compreender o “presente”, relacionado com os aspectos acima
mencionados, somos remetidos ao passado pois, o conhecimento do passado ajuda nalgum
momento, a compreender o presente bem como a perspetivar o futuro.
A história dos Transportes e Comunicações em Moçambique, acompanhou o percurso da
historia económica de Moçambique. Para uma compreensão fácil trazemos aqui 2
abordagens nomeadamente, (i) a periodização da economia, concentrando-se em
aspectos gerais da economia, com enfoque nas ligações intersectoriais e (ii) os serviços:
portos, transportes e comunicações, no contexto da economia nacional e no contexto
da integração económica regional.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE


Os apontamentos acerca deste assunto, foram divididos em 2 partes com vista a clarificar
cada vez mais acerca de todos os aspectos mais relevantes que marcaram a economia
nacional ao longo do tempo.

PARTE 1

Situação Geográfica e Alguns Aspectos Relevantes


Moçambique situa-se na zona austral e na costa oriental de África. Com uma supefície de
799.380 quilómetros quadrados, faz fronteira a norte com a Tanzania, a ocidente com o
Malawi, Zambia, Zimbabwe e África do Sul, e a Sul com a Swazilandia e a África do Sul. A
sua faixa costeira, na zona este do território, é banhada pelo oceano Indico, numa
extensão de 2.515 quilómetros.

A economia moçambicana, basicamente agrícola (80%), assenta em grande medida na


produção familiar camponesa. A economia socialista havia orientado os investimentos nesta
área para as grandes machambas estatais (farms) e a produção e organização dos
camponeses em aldeias comunais. A liberalização da economia e o fim da guerra dos 16
anos, melhoraram a situação da produção alimentar mas, não resolveram os
constrangimentos que impedem o crescimento e expansão desta actividade, bem como do
comércio rural. A indústria manufactureira desenvolvida no país durante o sistema colonial
tinha uma base frágil. A política socialista tinha como objectivo fazer um investimento na
indústria pesada. Com a guerra e o processo de privatização, crescem as taxas de
desemprego na indústria manufactureira, em crise.

Moçambique tornou-se independente em 1975, depois de uma luta armada de libertação


nacional. A FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique, que havia conduzido a luta
durante 10 anos, formou o primeiro governo, com um programa de trabalho orientado
para a construção de uma sociedade socialista.
Em 1976 surgiram os primeiros indícios de desestabilização em Moçambique, cujo
desenvolvimento atinge a forma de uma guerra civil alargada a todo o país, sobretudo na
década de 80, opondo o governo e a RENAMO - Resistência Nacional de Moçambique. A

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desestabilização provocada por estes conflitos internos é agravada por agressões militares
que a Rodésia faz a Moçambique, mais tarde transferidas para o regime de apartheid da
África do Sul. Apenas em 1992, com a assinatura do ‘Acordo Geral de Paz’ entre a
FRELIMO e a RENAMO, cessam as hostilidades e inicia-se um processo de paz e
reconciliação.
A década de 80 marca a transição de uma economia centralmente planificada para uma
economia aberta, de mercado. Nos anos 90, concretiza-se a transição política
anteriormente iniciada, onde se destaca a introdução de uma constituição pluralista e a
emergência de um processo de descentralização política e administrativa.
Com estes aspectos considerados relevantes, pretende-se mostrar um resumo informativo
sobre a evolução dos acontecimentos políticos, económicos e sociais em Moçambique, no
período pós-independência dando mais enfoque às estratégias de desenvolvimento do
país no campo político e económico.

Periodização da Economia de Moçambique


Existe muita bibliografia tanto em português como em inglês sobre o presente assunto
utilizando periodizações semelhantes, ou mais ou menos diferenciadas, o que reflecte
também diferentes orientações e interpretações dos impactos dos diversos acontecimentos
internos ou externos, sobre o desenvolvimento do país. Muito embora o nosso enfoque se
concentre num passado mais recente, começaremos a nossa apresentação por introduzir o
período colonial, uma forma de introduzir os problemas de transição do
colonialismo para a independência e o período pos-independencia.

1. O Periodo Colonial vs Antes da Independência (1498-1974)


Entre a chegada do primeiro navegador português (Vasco da Gama) a Moçambique (1498)
e o controle efectivo do território e a instalação da administração colonial, decorreu um
processo difícil de dominação das diversas organizações políticas africanas que detinham o
poder no território. A ocupação efectiva ocorreu em finais do século passado, com a
dominação do Estado de Gaza no sul do país, embora apenas na década de 20, a
administração colonial tenha passado a assumir um real controle do território.
O desenvolvimento do colonialismo Português em Moçambique, pode ser grosseiramente
dividido em três períodos:

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i)1885-1926: com uma economia dominada por grandes plantações exploradas por
companhias majestásticas não portuguesas onde se praticava a monocultura de produtos
de exportação (sisal, açucar e copra), no centro e norte do país, com base em mão-de-
obra barata. As companhias, por sua vez, também controlavam o mercado da venda de
força de trabalho para países como a Rodésia, Malawi (Niassalândia), Tanganhica, Congo
Belga e em alguns casos a África do Sul (WUYTS, 1980:12-13). No sul, predominava a
exportação de mão-de-obra para alimentar o capital mineiro da África do Sul. Os acordos
assinados entre Portugal e a África do Sul para a exportação da mão-de-obra, traziam
rendimentos específicos ao Estado colonial, quer através de impostos, quer da utilização
dos caminhos-de-ferro que ligavam o porto de Lourenço Marques à África do Sul, quer
ainda através da utilização do próprio porto, para o trânsito de mercadorias;

ii)1926-1960: sob influência da construção do nacionalismo económico, este período é


marcado por uma intensificação do trabalho forçado e integração crescente da economia
de Moçambique numa economia regional dominada pela África do Sul. O princípio do
trabalho forçado e da introdução de culturas forçadas marcam este período, como uma
forma de proteger a burguesia portuguesa, incapaz de concorrer com o capital mineiro e
com as plantações, no acesso à mão de obra.

iii)1960-1973: As mudanças políticas mundiais e a crise do regime de Salazar durante


este período levaram a diversas reformas políticas e económicas, que conduziram, entre
outras medidas, à abolição do trabalho e das culturas forçadas e ao traçar de novas
estatégias de desenvolvimento para as colónias. Algumas das consequências das reformas
políticas levaram à modernização do capital, com a abertura da ecomonia ao investimento
estrangeiro. É neste período e neste contexto de modernização do capital que se fazem
investimentos na indústria manufactureira.
A economia colonial sobreviveu durante muitos anos na base de uma
dependência de dois sistemas, o trabalho migratório e o trabalho e agricultura
coercivos, mesmo depois da abolição formal das culturas e do trabalho forçado. O
colonialismo português introduziu mecanismos impeditivos do crescimento de uma
burguesia negra, agrícola ou comercial. Assim, embora houvesse uma diferenciação de

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classe e até mesmo alguns ‘koulaks’ e pequenos comerciantes, o sistema de produção


agrícola e industrial manteve-se nas mãos da burguesia portuguesa (FIRST, R.,
MANGHEZI, A., et al ,1983; CEA,1998; WUYTS, M. & O’LAUGHLIN, B.,1981).
Um olhar sobre a rede de estradas e caminhos-de-ferro de Moçambique, no
período colonial, facilmente nos ajudará a avaliar a orientação destes para uma
economia de serviços, que ligava os países do ‘hinterland’ ao exterior, através
dos portos moçambicanos. Cerca de metade das divisas de Moçambique eram geradas
pelos serviços de transportes e portos para os países vizinhos.
Nos anos 60, a FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique, fundada no exílio, inicia a
luta armada de libertação nacional (1964), que só veio a culminar 10 anos depois.
No processo de luta, a FRELIMO criou as ‘zonas libertadas’, áreas no interior do território
moçambicano fora do controle da administração portuguesa, funcionando como um ‘Estado
dentro de um Estado’, com um sistema próprio de administração, com formas colectivas de
produção e de comercialização e a implantação de bases democráticas (ADAM, 1997: 4).
Tal modelo acabou por ser mais uma utopia do que uma realidade, tendo porém, pelo
menos até certo ponto, servido de inspiração para traçar o modelo socialista de
desenvolvimento implantado em Moçambique depois da independência, onde se pretendia
negar quer os modelos de desenvolvimento coloniais, quer os neo-coloniais.

2. Consolidação da Independência Nacional e Transição (1974-1977)

Com o cessar-fogo e a assinatura dos ‘Acordos de Lusaka’ em Setembro de 1974, sucede-


se a criação de um governo de transição, composto por representantes da FRELIMO e do
governo português, cuja duração se estende até à independência nacional de Moçambique,
a 25 de Junho de 1975.
As mudanças operadas em Moçambique pelo sistema de administração portuguesa em
finais do período colonial, não foram suficientemente abrangentes de modo a criarem uma
elite negra educada. Na altura da independência, Moçambique tinha uma população com
um percentagem de 90% de analfabetos, um número reduzido de técnicos e pessoas com
formação superior. No geral, havia poucas pessoas preparadas para preencherem os
lugares abruptamente deixados pelos portugueses. É importante registar que o êxodo de
portugueses e de alguns indianos neste período entre a transição e o pós-independência,

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foi acompanhado por uma ‘sabotagem’ da economia de Moçambique, que pode ser
caracterizada pelo esvaziamento das contas bancárias, fraudes na importação de
mercadorias e exportações ilegais de bens (carros, tractores, maquinaria,etc). Na mesma
altura, empresas e bancos portugueses procederam ao repatriamento do activo e dos
saldos existentes, criando assim um rombo na economia de Moçambique.
Logo após os primeiros anos de independência, a África do Sul iniciou um processo de
repatriamento de trabalhadores moçambicanos com contratos nas minas, e o fluxo de
recrutamento de trabalhadores sofreu uma redução nos anos seguintes (de 120 000 para
40 000 num só ano) (HERMELE, 1998). Este processo foi acompanhado por um
redireccionamento da utilização dos serviços dos portos e caminhos de ferro de Lourenço
Marques, pela África do Sul (recorde-se que por altura da independência nacional, mais de
90% dos serviços prestados pelos portos e caminhos de ferro de Moçambique eram
direccionados para os países vizinhos). Em 1976,Moçambique adere às sanções das Nações
Unidas contra a Rodésia (Zimbabwe) e encerra as suas fronteiras com este país. Recorde-
se que a Rodésia era uma importante fonte de captação de divisas para Moçambique, não
só através da utilização do porto e dos caminhos de ferro da Beira, para o transporte de
mercadorias de trânsito, mas também através do consumo de derivados do petróleo
provenientes da refinaria em Maputo, para suprir os problemas de uma economia
embargada. O encerramento das fronteiras com a Rodésia, para além das consequências
económicas mencionadas, trouxe também um processo de desestabilização a Moçambique
(HANLON, 1997), como será referido mais à frente. Com uma economia largamente
dependente dos serviços prestados aos países vizinhos, e na sequência do novo tipo de
relações agora existentes com a Rodésia e a África do Sul, Moçambique viu assim
drasticamente diminuída a entrada de divisas para o país.

As calamidades naturais que afectaram o país entre 1977 e 1978, os efeitos da depressão
sobre a economia moçambicana, de base agrícola, agravados pelos aspectos acima
mencionados, levaram o país a um declínio económico em espiral .
O novo governo independente, deveria não só organizar o funcionamento da administração
mas também garantir a produção e os mecanismos necessários para manter uma economia
operacional. Utilizando a sua experiência das zonas libertadas e guiada por um programa
de transformação socialista, a FRELIMO traçou as suas estratégias para mudar a estrutura

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económica e social do país. As mudanças radicais preconizadas pelo novo governo


passavam necessariamente pelo exercício de um controle estatal nas zonas rurais e por
uma política de intervenção nos sectores económicos e sociais.
No seu processo de intervenção, com vista à massificação dos serviços sociais, o Estado
procede à nacionalização da saúde, da educação, da habitação e dos serviços de
advocacia privada (1975), e mais tarde a outras intervenções no campo
económico.
A estratégia económica preconizada pela FRELIMO assentava na transformação social
baseada na modernização do campo através da criação de aldeias comunais com
facilidade de acesso a infra-estruturas sociais como a saúde e educação, aumento da
produtividade através de um programa de introdução de uma agricultura mecanizada nas
machambas estatais, uma tentativa para inverter o processo de exploração colonial dos
camponeses, e onde o Estado passava a fazer a acumulação.

Caberia também às machambas estatais o fornecimento de alimentos às zonas urbanas,


antes abastecidas pelos farmeiros portugueses. Esta estratégia foi aprovada pelo 3º
Congresso da FRELIMO, realizado em Maputo, em Fevereiro de 1977, e era conhecida
como a ‘estratégia de socialização do campo’. Neste Congresso, a FRELIMO também
declarou a sua passagem de Frente para um ‘Partido de Vanguarda Marxista-Leninista’,
com a missão de liderar, organizar, orientar e educar as massas, visando destruir as bases
do capitalismo e construir uma sociedade socialista.
As estratégias introduzidas pela FRELIMO depois da independência para manter a
produção e a economia em andamento, não conseguiram superar de imediato a crise
económica que afectava o país:
‘Entre 1974 e 1976, a produção de colheitas para exportação diminuíu em 40%,
o milho cultivado pelos camponeses em 20%, a mandioca em 61% e a produção
agrícola dos colonos (produtos hortícolas e alimentares para abastecimento das
cidades) em 50%. No mesmo período, a produção industrial baixou em 36%’
(NEWITT, 1997: 473; WUYTS, 1985: 186).
Os mesmos factores contribuíram ainda para a criação de dívidas de importação. Assim, os
trabalhadores desempregados do sector agrícola e das minas sul-africanas iniciaram um
processo de migração para as cidades. Numa tentativa de controle da crise, o governo

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criou a Comissão Nacional de Abastecimentos. Nesse processo, foi introduzido um sistema


de controle de preços e um cartão de racionamento, o ‘cartão de abastecimento’, por cada
agregado familiar.
‘A estratégia de desenvolvimento permitiu um total monopólio pelo poder do
estado, e a sua hegemonia sobre todas as forças económicas e políticas’ (ADAM,
1997: 5-6).

3. O Periodo Pós-Independência

3.1. A Construção do Socialismo (1977-1983/4)

Em Moçambique, o novo governo tentava introduzir uma política de desenvolvimento


socialista.
A reestruturação radical da economia, através do modelo de economia centralmente
planificada pelo Estado, estava longe de solucionar os problemas advenientes da tentativa
de suprir a crise económica resultante da destruição da economia colonial e mostrou ser a
menos adequada para a solução dos problemas económicos e sociais existentes no país.

As medidas económicas preconizadas pelo Estado, tinham marginalizado os camponeses


familiares a favor do desenvolvimento de uma agricultura mecanizada, destruindo assim o
sistema que havia garantido a maior parte da produção para consumo interno e uma parte
da produção para exportação deste país. Era pois necessário repensar a estratégia e avaliar
o papel a desempenhar pelo Estado na gestão da economia (ADAM, 1997: 6-7).

A guerra, a seca e as calamidades naturais alargaram o âmbito das pressões internas para
alteração das políticas da FRELIMO. A situação económica e social sofriam uma degradação
crescentes. Em algumas províncias era já visível o espectro da fome e era necessário
mobilizar recursos para o pagamento da dívida externa. As medidas de emergência para
tentar suster a economia não poderiam ser permanentes. Era difícil manter os níveis de
emprego na indústria com baixos níveis de rendimento ou subsidiar a improdutividade das
machambas estatais e manter também os subsídios para a alimentação das populações
urbanas ou para as áreas sociais como a saúde, a habitação e a educação, que acabaram

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por conduzir a uma deterioração destes serviços. Entrara-se já numa fase de ruptura do
mercado, com uma hegemonia do mercado negro e uma consequente baixa cambial.
Em contrapartida, as conversações para adesão ao Banco Mundial (BM) e ao Fundo
Monetário Internacional (FMI) avançavam progressivamente no cenário sócio-económico
local , o que veio a resultar no lançamento das reformas económicas. Em meados da
década de 80, são visíveis os esforços da FRELIMO no campo político e económico, para
alterar as consequências negativas resultantes da estratégia de desenvolvimento utilizada
anteriormente.

3.2. A Abertura da Economia para uma Transição Política (1984-1992)

As pressões políticas no campo interno e externo e a necessidade de receber ajuda


alimentar para superar a crise económica e as consequências da guerra e das calamidades
naturais levaram a FRELIMO a redifinir a sua política externa: i) em 1982 o governo
‘começou a cortejar os Estados Unidos e a fazer a sua "viragem para o Ocidente"
(HANLON, 1997: 15); ii) em 1984, assinou o ‘Acordo de Nkomati’ com a África do Sul, uma
tentativa de cortar os apoios da África do Sul à RENAMO. Com este acordo, criaram-se
também alguns espaços para negociações sobre a mão de obra moçambicana, e sobre o
fornecimento da energia eléctrica de Cabora-Bassa para a África do Sul.
Depois de uma fase de economia centralmente planificada, em 1985 dão-se os primeiros
passos para a sua liberalização, o que leva a uma transição. Visando reverter as tendências
negativas do crescimento económico através de um reajustamento estrutural, em 1987
é introduzido o Programa de Reabilitaçao Económica (PRE) e em 1990 o Programa de
Reabilitação Económica e Social (PRES). O programa de ajustamento estrutural, é um
pacote que envolve o livre comércio, a desregulamentação e a privatização. O
governo: liberalizou os preços, praticamente terminou a sua gestão do mercado, cortou o
seu orçamento nos sectores sociais, e introduziu mudanças nas políticas da saúde e da
educação, onde foi estabelecido um sistema que atribui acesso com base no rendimento.
As reformas económicas introduzidas em Moçambique, nas duas últimas décadas levaram a
uma revitalização da economia, o que não pode ser mecanicamente traduzido por uma
redução da pobreza. ‘A pobreza, entendida como ausência das condições para uma
vida longa, instrução e um padrão de vida aceitável, afecta a maioria

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esmagadora da população de Moçambique’ (PNUD, 1996: 81). Organizações como o


Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional classificaram este país na posição dos
mais pobres do mundo.

O processo de transição política já embrionário na década de 80, tem a sua concretização


nos anos 90. As crises económicas sucessivas e os processos de transição que marcaram
Moçambique entre 1974/75 e 1999 têm custos sociais, que se reflectem na qualidade de
vida das populações. A necessidade de contrair os níveis de consumo para os adaptar à
realidade económica do país e a incapacidade e impossibilidade do Estado para prover o
bem estar social impede que se crie um sistema para a minimização dos efeitos sociais
negativos das reformas económicas, elevando os níveis de pobreza e o crescimento da
exclusão, da reivindicação e da violência.
3.3. Reconstrução de uma Nova Sociedade (1992-1994)

Em 1990 a FRELIMO introduziu uma nova constituição que permitia eleições


multipartidárias, a liberdade de imprensa e o direito à greve. Desde 1987 que se faziam
esforços para estabelecer conversações entre a FRELIMO e a RENAMO. Em Julho de 1990
o governo e a RENAMO deram início às conversações em Roma e em Outubro de 1992,
também em Roma, Joaquim Chissano e Afonso Dlakama assinaram o Acordo de Paz. O
processo de cessar fogo, a desmobilização e o repatriamento decorreram sem incidentes
de maior, e em Outubro de 1994, realizavam-se as primeiras eleições gerais (presidenciais
e legislativas) e multipartidárias em Moçambique.

3.4. Economia no Multipartidarismo e mais abertura para o exterior (1995-


2018)

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Em 1998 realizaram-se as primeiras eleições para os órgãos locais ou seja, eleições


autárquicas, em 1999 as segundas eleições gerais, em 2003 as segundas eleições
autárquicas, em 2004 as terceiras eleições gerais, em 2008 as terceiras eleições
autárquicas, em 2009 as quartas eleições gerais, em 2013 as quartas eleições, em 2014
as quintas eleições gerais, em 2018 as quintas eleições autárquicas, em 2019 as sextas
eleições gerais, em 2023 as sextas eleições autárquicas e está previsto para Outubro de
2024 as sétimas eleições gerais. Por cada ano seguinte às eleições gerais, nasceram os
respectivos Planos Quinquenais do Governo (PQGs), com linhas gerais daquilo que o
Governo pretendia realizar em cada quinquénio de governação. O mesmo aconteceu nas
autarquias, com parte dos planos desenhados para o desenvolvimento local.

No intervalo 2013 à 2017, assiste-se uma circunstância em que o país está assolado por
duas crises, nomeadamente a Crise Política e a Crise Económica vs Financeira
Internacional.

A Crise Política, em algum momento criou obstáculos no contexto da produção, distribuição


e comercialização dos produtos em diferentes sectores de actividade. Com o alastramento
da tensão, houve dificuldades na circulação de pessoas e bens de e para as regiões centro
e norte do país, criando atraso na distribuição de mercadorias que antes levavam 1, 2 ou 3
dias para chegar ao destino e com a tensão este tempo dobrou e/ ou triplicou encarecendo
desta feita alguns bens e serviços, concorrendo assim, para o aumento da taxa de inflação.
Esta crise intimidou os agricultores que se viram obrigados a abandonar as suas
machambas.

Crise Económica: A Economia de Moçambique tem uma extensa base agrária. Nos finais de
2015, a estiagem que assolou o sul do país e houve abundância de chuvas no centro e
norte, que destruíram diversas culturas, criaram escassez de matéria-prima para a
indústria, concorrendo assim, para o aumento da taxa de inflação. Houve redução da força
de trabalho em algumas empresas industriais, concorrendo assim para o aumento da taxa
de desemprego no país.

O Governo, viu-se obrigado a criar medidas e elaborar planos de contingência para fazer
face às calamidades naturais. No início de 2016, com o despoletar do assunto relativo às

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dívidas ocultas, houve corte de financiamento ao orçamento do Estado por parte dos
parceiros de cooperação internacional, reduzindo desta feita, a capacidade do mesmo
(Governo) em algumas intervenções nos sectores de actividade como por exemplo, certos
subsídios. A crise da dívida externa, na qual o Governo viu-se desprovido de dinheiro para
pagar o serviço da dívida entre outros, vai agravando o estado de funcionamento dos
diferentes sectores de actividade. Com isso quero dizer que, perante o corte no orçamento,
sem nenhum financiamento, o pouco que o Estado adquire proveniente das receitas fiscais,
a maior percentagem poderá ir para o pagamento da dívida, em detrimento dos diferentes
sectores de actividade. A subida das taxas de câmbio em 2016, fizeram com que os bens e
serviços de consumo final, consumo intermédio entre outros importados ficassem cada vez
mais caros. A estabilidade cambial acabou aparecendo, graças à intervenção do Banco
Central (Banco de Moçambique), aquando da revisão dos instrumentos de política
monetária e consequentemente, estamos assistindo a redução de preços dos diferentes
produtos, o melhoramento do ambiente climático e o encorajamento da população para o
aumento da produção de alimentos.

Ainda no período 2014-2017, houve tréguas ditas pelo líder da RENAMO. Foi uma fase ou
período que também teve o seu impacto na economia. Através das tréguas, iniciou um
processo endógeno de reconciliação nacional que tende a culminar com fim dos constantes
conflitos entre o Governo e a Renamo. Repito, pôr fim aos conflitos e não a trégua que
parece uma recarga de telemóvel, que se renovava ou se recarregava de 2 em 2
meses.

No 1º trimestre de 2018, o Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi, depois das


negociações com o falecido Líder da RENAMO Afonso Macacho Marceta Dhlakama, falou
acerca do “Processo de Descentralização” e Remeteu o documento a respeito do assunto à
Assembleia da República para “apreciação e parecer”. Em Maio de 2018, o país foi
surpreendido com o desaparecimento físico de Afonso Dhlakama. Em Julho de 2018,
alguns pontos que constam no documento submetido a assembleia da república, foram
aprovados. Assim, iniciava um outro período que poderia ter o seu impacto directo ou
indirecto, negativo ou positivo sobre a Economia Moçambicana.

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Aos 11 de Julho de 2018 na Cidade da Beira, houve concessos alcançados entre o


Presidente da República Filipe Nyussi e o novo líder da Renamo (Issufo Momade), acerca
dos passos para a cessação das hostilidades.

De 25 de Julho a 03 de Agosto de 2018, uma equipa do corpo técnico do Fundo Monetário


Internacional (FMI), visitou Moçambique para avaliar os desenvolvimentos
macroeconómicos recentes, actualizar o quadro macroeconómico para 2018-2019 e
proporcionar contribuições para a elaboração do orçamento preliminar de 2019. Detalhes
sobre o assunto, podem ser lidos no documento em anexo, disponibilizado pelo docente.

Em Outubro de 2018, houve no país a realização das 5ª eleições autárquicas.

Aos 29 de Dezembro de 2018, com a detenção do antigo ministro das finanças, inicia uma
nova era de investigação sobre as dívidas ocultas, que provavelmente trará uma outra
imagem para a vida dos moçambicanos. Mais detalhes sobre as dívidas ocultas (vide outros
apontamentos que constam do lote de apontamentos fornecidos pelo docente).

No 1º semestre de 2019 a zona centro do país (Sofala, Zambézia e Manica) foi fustigada
pelo ciclone IDAI que criou danos de diferentes índoles, na vida social da população, nos
sectores de agricultura, industria, transportes e comunicações, etc, e a zona norte do país
(Cabo Delgado e Nampula) foi fustigada pelo ciclone Kenneth que também criou danos de
diferentes índoles na vida social da população, nos sectores de agricultura, industria,
transportes e comunicações, etc.

No geral, os impactos dos dois ciclones resumem-se no seguinte:

Na Vida Social:

Na saúde unidades hospitalares destruídas; doenças de origem hídrica como cólera e


outros devido a deficiência no saneamento do meio;

Na Educação destruição (parcial ou total) de escolas ou salas de aulas e outras infra-


estruturas do sector de educação e consequentemente destruição de registos como pautas
e outros, destruição de livros, etc. e paralisação de aulas

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Na Habitação desalojamento de famílias; destruição (parcial ou total) de habitações. Muita


gente ficou sem tecto.

Destruição de Igrejas, criando deficiência para a realização de cultos religiosos;

O apagão deixou a população sem acesso a informação quer via televisão, redes sociais,
telefonia, etc.

Psicologia- deixou marcas psicológicas. Alteração de comportamento em certas pessoas e


depressões profundas devido a perda de bens materiais e ou perda de ente queridos que
pereceram devido a fúria do ciclone. Já imaginou alguém que tinha uma vida estável para
derrepente perder tudo? Fica a sensação de medo, trauma, insegurança e outras
alterações emocionais pois, devido as consequências do ciclone, as oportunidades
escasseiam, etc.

Na Vida Económica

Impacto directo no PIB devido a baixa de produção das empresas em diferentes sectores.

Deficiência nas vias de acesso- corte de ligações entre diferentes regiões em consequente
deficiência na circulação de pessoas e bens, encarecendo os preços de produtos devido a
deficiência no abastecimento.

Destruição na terminal de combustíveis na cidade da Beira, criando deficiência no


abastecimento de combustíveis, tendo impacto directo nos meios circulantes que
funcionam com o uso da gasolina e gasóleo;

Aeroporto Internacional da Beira – fechado temporariamente, criando adiamento dos


compromissos dos utentes (viajantes que usam avião);

Condicionamento dos bancos, afectando o sistema financeiro. Apagão nas caixas


automáticas, criando deficiência no acesso do dinheiro e outro tipo de transacções; criando
dificuldades no pagamento de despesas, afectando também o comércio, a hotelaria e o
turismo; O apagão pode ocorreu devido ao problema de abastecimento da corrente
eléctrica por parte da EDM, devido a queda de torres e postes de transporte da corrente; A

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

outra deficiência das caixas automáticas esteve relacionada com a deficiência no


funcionamento da internet.

Na agricultura muitos hectares de culturas agrícolas destruídas. Muita gente passou a


precisar de ajuda alimentar urgente, devido a escassez de alimentos.

E foram avançadas algumas soluções:

 Fortalecimento do sistema de aviso prévio;

 Fortalecimento da capacidade produtiva para lidar com as mudanças climáticas;

 Melhor gestão de recursos hídricos;

 Construção de barragens;

 Criar condições para deixar de depender da ajuda externa;

 Reassentamento da população desalojada.

Aos 06 de Agosto de 2019, um ano após o 1º encontro em Gorongosa, os consensos de 11


de Julho de 2018, culminaram com a assinatura de um memorando entre o Governo e a
RENAMO sobre os assuntos militares no que tange (i) ao desarmamento, (ii)
desmobilização e (iii) reintegração. O memorando visava definir o roteiro do que deve ser
feito ou seja, os passos subsequentes que dependiam do memorando assinado. Houve
assinatura do acrdo para a cessação definitiva das hostilidades.

Em Outubro de 2019, houve no país a realização das 6ª eleições multipartidárias. Com


estas eleições, nasceu mais um Plano Quinquenal do Governo (PQG) para ser
implementado no período 2020-2024.

Em Dezembro de 2019, a República Popular da China foi afectada pelo surto da epidemia
“Covid-19” mais conhecida por corona vírus.

Sendo que este país tem relações económicas de longa data com Moçambique, o
alastramento da epidemia (que ainda não cessou) e que já causou danos humanos naquele
país da Ásia e que já afectou a sua economia em termos negativos (pois a produção baixou

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

drasticamente), o que se previa aconteceu: Moçambique se ressentiu dos efeitos desta


epidemia, em termos comerciais. Houve vários outros efeitos esperados tais como a subida
de preços dos principais produtos importados daquele país pois, o volume de importações
baixou porque a produção na China baixou. Com o volume de importações em baixa, a
balança comercial foi afectada e consequentemente a balança de pagamentos e o PIB foi
afectado. A baixa importação sobretudo de produtos alimentares que tem muito peso no
consumo das famílias moçambicanas, ao exemplo do arroz e outros, teve efeitos no índice
de preços no consumidor e consequentemente na inflação. Notabilizou-se os efeitos serão
sobre a inflação prevista para 2020 e o PIB previsto para 2020. Em 2020, o PIB teve uma
taxa de crescimento negativa no 2º, 3º e 4º trimestres.

Devido a pandemia do COVID 19, com vista a reduzir a propagação e contaminação pela
doença, o Governo decretou de 23 de Março de 2020 à 05 de Abril de 2021, uma série de
medidas restritivas relacionados com o “Estado de Emergência”, que tiveram e estão tendo
impactos nos diversos sectores de actividade.

Em Janeiro de 2020, fruto do consenso entre o Governo e a RENAMO acerca da


“Governação Descentralizada”, depois das eleições multipartidárias de Outubro de 2019,
tomaram posse os “Secretários de Estado”, marcando também parte de mais uma etapa da
periodização da economia do país. Recorde-se que, com a revisão pontual da Constituição
da República em 2018, foi profundamente transformada a organização e funcionamento
dos órgãos locais do Estado, designadamente os Governos provinciais, passando de órgãos
centrais para integrar a nova lógica de descentralização administrativa.

Nos finais de Dezembro de 2020, as províncias de Inhambane, Manica e Zambézia foram


fustigadas pelo Ciclone Chalane, facto que impactou a vida social e económica dos
moçambicanos. Em Janeiro de 2021, parte das regiões Sul e Centro do País, foram
afectadas pelo Ciclone Guambe, tendo impactado mais uma vez a vida social e económica
dos moçambicanos.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

Quadro 1: Informações Complementares às anteriores

A ECONOMIA DE MOCAMBIQUE NO PERIODO POS INDEPENDENCIA (1975-1999)


1975- dia 25 de Junho, declaração da independência Nacional e transformação de Moçambique em republica
popular,
* Aprovação da primeira constituição da republica popular pelo comité central da Frelimo a 20 de Junho de 1975.
Em relação a orientação e estratégia de desenvolvimento de Moçambique, são de destacar os seguintes artigos:
Artigo 6- a Republica Popular de Moçambique, tomando a agricultura como base e a indústria como factor
dinamizador e decisivo dirige a política económica no sentido da liquidação do subdesenvolvimento e da criação de
condições para elevação do nível de vida do povo trabalhador. Na realização desse objectivo, o Estado baseia-se
principalmente na força criadora do povo e dos recursos económicos do pais concedendo um apoio total a produção
agrícola, promovendo um aproveitamento adequado das empresas de produção e procedendo a exploração dos
recursos naturais.
Artigo 8- a terra e os recursos naturais situados no solo e no subsolo nas áreas territoriais e na plataforma
continental de Moçambique, são propriedades do Estado.
Artigo 10- na Republica popular de Moçambique, o sector económico do Estado é o elemento dirigente e
impulsionador da economia nacional.
A propriedade do Estado recebe protecção especial sendo o seu subdesenvolvimento e expansão, responsabilidade
de todos os órgãos do Estado, organizações sociais e cidadãos.
Artigo 11- o Estado encoraja os camponeses e trabalhadores individuais a organizarem-se em formas colectivas de
produção, cujo desenvolvimento apoia e orienta.
Artigo 12- o Estado reconhece e garante a propriedade pessoal.
Artigo 13- à propriedade privada estão ligadas obrigações.
A propriedade privada não pode ser usada em detrimento dos interesses fixados na constituição.
O rendimento e a propriedade privada estão sujeitos à impostos progressivos, fixados Segundo critérios de justice
social.
Artigo 14- o capital estrangeiro poderá ser autorizado a operará no quadro da política económica do Estado.
 nomeação do primeiro governo da RPM, A 1 DE Julho de 1975, composto por 15 ministros e 3 vice
ministros. Destaque para a criação do ministério do desenvolvimento e planificação económica.
 Realização da primeira sessão do conselho de ministros (de 9 a 25 de Julho de 1975) onde foram definidas
as tarefas que, no âmbito da acção governamental competiam a cada ministério.
 Nacionalização da terra, estabelecimentos de ensino e clinicas privadas e prédios de rendimento.
Intervencionamento de empresas abandonadas total ou parcialmente.
1978- introdução do primeiro plano estatal central:

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

 Definição de metas de produção pela comissão nacional do plano;


 Alocação de recursos financeiros, humanos e materiais através do plano estatal central;
 Criação das unidades de direcção, para reforçar a direcção efectiva das empresas.
1979- aprovação do plano prospectivo indicativo (PPI), o plano de transformação socialista em Moçambique, o
plano da década da victória sobre o subdesenvolvimento. O PPI tinha como objectivos principais:
 Promover uma radical transformação da estrutura económica e social da economia moçambicana com a
criação de um sector socialista dominante;
 Promover o aumento do nível de vida de todo o povo moçambicano com vista a satisfação das suas
necessidades básicas;
 Consolidar o poder político fortalecendo a base social da revolução, com o crescimento de uma combativa
classe operaria e de um campesinato forte.

Filosofia central do PPI: OS GRANDES PROJECTOS E 3 EIXOS

A- socialização do campo
 Criação de um forte sector estatal agrário e transformação da agricultura familiar através de um dinâmico
movimento cooperativo, com o enquadramento de milhões de camponeses em cooperativas agrícolas;
 Criação de um operariado agrícola e de um campesinato cooperativista;
 Criação de condições para o aumento da produtividade no campo;
B- industrialização do país
 Criação de uma industria pesada e a incorporação de técnicas mais avançadas e mecanizadas, como suporte
indispensável para a socialização do campo;
 Criação de uma forte base operaria;
 Redução de assimetrias no desenvolvimento do pais;
C- Formação da força de trabalho
 Acção altamente planificada na formação;
 Conhecimento real da forca de trabalho existente como ponto de partida;
 Uniformização de critérios para a formação técnico /profissional;
 Redefinição dos métodos de alfabetização e educação de adultos;
 Definição de uma metodologia adequada para a formação de quadros para a socialização do campo;
 Existência de um organismo coordenador de todas as acções de formação no exterior.
OS GRANDES PROJECTOS DE DESENVOLVIMENTO
Com um sector estatal dominante completado pelas cooperativas, as aldeias comunais, as machambas estatais
e outras iniciativas individuais (incluindo o capital estrangeiro), estavam previstos os seguintes grandes

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

projectos
 Projectos no vale do Save, Lúrio, Lugenda, Limpopo, Incomati e Zambeze
 Cahora-Bassa e a electrificação do centro, norte e sul do pais;
 Construção de barragens para a irrigação e produção de energia;
 Electrificação dos principais eixos ferroviários e rodoviários ligando o norte ao sul do pais;
 Investimento de grande vulto na área industrial- ferro, aço, alumínio, químicos, engenharia e montagem de
veículos;
 Estudo aprofundado dos jazigos de carvão nas províncias de Tete e Niassa e dos depósitos dos
hidrocarbonetos já localizados;
 Inventariação de pedras raras, o conhecimento preciso da dimensão dos depósitos de estanho, zinco, cobre
e bauxite;
 A planificação de um grande impacto na alocação de recursos para a industria (recursos externos) e no
controle de salários e preços.

1980- ofensiva política e organizacional em todas as frentes. Foi uma ofensiva de longo alcance contra o
burocratismo, a corrupção, a ineficiência, a indisciplina, a negligência, o esbanjamento de recursos materiais e
financeiros, a apatia e a destruição de bens e equipamento.
1983- liberalização de preços de hortícolas, frutas e vegetais, em cumprimento do programa de acção
económica aprovado no quarto congresso da Frelimo, de 26 a 30 de Abril.
A reflexão sobre a estrutura económica e social de Moçambique, agravada por factores adversos que ocorreram
nos oito anos após a independência nacional, foram o ponto central das discussões e decisões do 4º congresso
do partido Frelimo, que marcaram o primeiro passo para a introdução da economia de Mercado em
Moçambique.
1994 (Dezembro)- início do funcionamento do primeiro parlamento moçambicano multipartidário. Aprovação do
programa do Governo 1995-1999. Inicio de um processo de transição para a estabilização social e política, após
um periodo longo em que a vida nacional se foi gerindo num quadro de emergência.
Programa quinquenal do Governo (1995-1999). Estabelecia como objectivos prioritários a realização de acções
que resultassem na garantia da paz, estabilidade e unidade nacional, o emprego e desenvolvimento rural, para
a redução dos níveis de pobreza absoluta e melhoria do nível de vida das populações. Estes objectivos estavam
inseridos em quarto áreas fundamentais:
1. Desenvolvimento social;
2. Desenvolvimento económico;
3. A organização do estado;
4. A política externa.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

PARTE 2

1. Conferência de Berlim (1884-1885)

Quando as colónias se tornaram uma componente fundamental da fase imperialista, na


segunda metade do século XIX, os principais financiadores e credores de Portugal
(Inglaterra, Alemanha e França) procuraram tirar o máximo partido da exploração das
colónias portuguesas. Foi neste contexto que entre conflitos, arbitragens e tratados, se
inseriu o traçado das actuais fronteiras de Moçambique.
De um modo geral, as fronteiras em muitos lugares de África foram definidas
obedecendo à vontade dos diplomatas intervenientes, sem um conhecimento real das
regiões em causa.

2. Os Tratados e as Fronteiras Moçambicanas


Em 1898, a Alemanha e Grã-Bretanha assinaram o Tratado de Westminster que
previa a distribuição de territórios (colónias) de Portugal caso este fosse obrigado a
ficar sem eles. Deste tratado, os britânicos ficariam com o Sul de Moçambique e o
Centro de Angola, enquanto aos alemães caberia o norte de Moçambique, o norte e
centro de Angola.
Este tratado serviu às grandes potências em termos de:
- actividades comercias;
- investimentos;
- actividades de missionários (serviu também para diminuir a tensão sobre os
portugueses em relação à perda das colónias.
Em consequência disso, as fronteiras moçambicanas foram mais tarde produto de
negociação entre a Grã-Bretanha e Portugal.
A ameaça do poder britânico no Transval levou a Grã-Bretanha um acordo secreto com
os portugueses- o Tratado de Windsor que garantia a Portugal a segurança de posse
de suas colónias.
Até 1890, o norte de Moçambique era desconhecido para os portugueses.
Por volta dos anos 1900, largas áreas de Moçambique eram controladas por
companhias estrangeiras.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

Por volta de 1913, a Grã-Bretanha renovou o tratado de Windsor pois, já alcançara uma
parte das suas pretensões.

3. Companhias Majestáticas

As companhias majestáticas são as grandes companhias que recebiam permissão de sua


majestade ou seja, eram autorizadas directamente pelo rei de Portugal a explorar terras do
seu domínio e a conceder terras à terceiros (pequenas companhias arrendatárias). Nas
suas terras, tais companhias detinham um poder e uma autonomia absolutos, não se
fazendo por isso sentir a presença da burguesia portuguesa.

a) Companhia de Moçambique (1888/1891-1942), reestruturada em 1891 com


poderes de:
- fazer subconcessões;
- cobrar impostos;
- emitir selos;
- cunhar moeda
A companhia de Moçambique com uma concessão para 25 anos (extendida em 1897 e
prevista para terminar em 1942) foi dada pelo governo português uma missão de
pacificar o território sob seu controlo (do Rio Zambeze à Latitude 22º) à sul do Rio
Save.

b) Companhia do Niassa (1891) com poderes para:


- cobrar impostos aos camponeses;
- controlar o emprego;
- cobrar os direitos e emolumentos aduaneiros.
A Companhia do Niassa, cuja área de 100.000 Km quadrados se estendia ao norte do
Rio Lúrio e tinha sido dada uma concessão de 35 anos, contados apartir de 1894.

4. Companhias Concessionárias/ arrendatárias


Constituem um conjunto de empreendimentos económicos que arrendavam terras do
Estado colonial português ou companhias majestáticas. Ocupavam-se apenas da

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

exploração económica reconhecendo a soberania territorial de Portugal ou da


companhia. Daí que tais companhias não tinham os mesmos previlégios que as
companhias majestáticas. Desenvolveram os sistemas de plantações e por vezes
podiam ocupar-se também da exploração da mão-de-obra. Aqui, a burguesia
portuguesa apresentava-se como agentes da autoridade pois, tinham muito poder e
influência.
a) Companhia da Zambézia (1892), que resultou da fusão da Sociedade dos
Fundadores da Companhia Geral da Zambézia, criada em 1880 com Central
Africa Zoutpamberg Exploration Company;
b) Companhia do Borror (1898);
c) Companhia do Madal (1904);
d) Sociedade do Madal (1904);
e) Empresa Agrícola do Lugela (1906);
f) Sena Sugar Estates (1920);
g) Incomati Sugar Estates (1914)

5. Sul de Moçambique e o Trabalho Migratório

5.1. Causas
O trabalho migratório deveu-se em grande parte:
- ao avanço do desenvolvimento do capitalismo na África Austral, em especial na
colónia britânica do Natal, devido à:
1. introdução das plantações da cana sacarina no Natal em
1850;
2. abertura das minas de diamante em Kimberley em 1870;
3. exploração do ouro em Lydenburg- leste de Transval em
1874;
4. abertura de novas minas de ouro nas áreas central e sul
do transval (Witwatersrand);
5. construção das linhas férreas Lourenço Marques-
Transval para servir estes centros em 1892;

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

- à crise ecológica no começo dos anos 1860 (seca e fome) e com ela a procura de
sobrevivência;
- a proibição do uso da mão-de-obra nativa na África do Sul;
- às guerras de resistência dos estados africanos ao avanço do poder colonial que se
verificava em Gaza e Maputo entre 1894-1897;
- nível de salários baixos no sul de Moçambique e em consequência, existência de
medidas administrativas para regular e restringir a mobilidade da mão-de-obra
(introdução da Lei do passe em relação à emigração e à residência em Lourenço
Marques).

5.2. Consequências
- falta de mão-de-obra em algumas zonas do interior de Moçambique;
- o subdesenvolvimento económico de Moçambique;
- a criação de um ambiente favorável à colonização, pois havia fraca resistência;
- crescimento de empreendimentos comerciais em Lourenço Marques e Gaza;
- início frequente do trabalho migratório para as minas de ouro do Leste do Transval;
- expansão da rede comercial no interior, largamente controlada pelos asiáticos e que
absorvia os salários dos mineiros. Facto que leva à monetarização da economia que
com escassez do gado, substitui o dote para o pagamento nupcial (lobolo).
Anos depois, o sistema económico da RSA alterou e diminuiu a procura de mão de obra
nas fábricas o que diminuiu o número de moçambicanos naquele país. O decréscimo da
economia na RSA, Rodésias no Norte e Sul e Nyassalândia, reduziu o tráfico nos caminhos
de ferro e portos de Lourenço Marques e Beira, constituindo assim a quebra considerável
do rendimento do Estado, reduziu as receitas e divisas vindas do pagamento diferido e
impostos sobre os emigrantes. É desta forma que o governo em 1934 se vê obrigado a
renegociar a convenção de 1928 com a RSA para garantir emprego de um mínimo de 65
000 trabalhadores moçambicanos nas minas.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

6. Acto colonial e a carta orgânica do ultramar

6.1. Acto colonial e a República de Moçambique Sob o Domínio da Monarquia


e da República Portuguesa

A Monarquia Liberal do século XIX aspirava à uma administração centralizada para as


colónias.
No entanto, nos últimos anos da monarquia, as oportunidades de organização e
desenvolvimento político administrativo de Portugal nas suas colónias e particularmente em
Moçambique foram muito limitadas pelas concessões e pelos prazos. As concessões
originais dos prazos tinham sido por 15 anos mas muitas delas já haviam sido estendidas
para 25 anos.
Com a República, Portugal prometeu uma maior autonomia às colónias no âmbito de uma
administração mais centralizada.
Promulgação do estatuto dos indígenas e a respectiva Secretaria dos Negócios Indígenas
(1907).
Criação de hierarquias na Administração Civil: Divisão do país em Distritos e destes em
Circunscrições (Zonas Rurais) e Conselhos (Zonas Urbanas).

6.2. Carta Orgânica do Ultramar


Com Salazar há uma definição de novas relações económicas entre Portugal e seus
territórios ultramarinos. Segundo Salazar:
Os territórios ultramarinos eram uma “solução lógica para os problemas de
sobrepopulação de Portugal, para instalar cidadãos portugueses nas colónias e
para que as colónias produzam matérias-primas para vender à mãe pátria em
troca de produtos manufacturados”.
Em consequência desta política do chamado Estado Novo, e no caso concreto de
Moçambique, Portugal precisava de alterar à seu favor o domínio do capital estrangeiro e
precisava de desenvolver a sua indústria têxtil e para tal era preciso garantir um crescente
fornecimento de algodão barato a fim de se poder situar o país numa posição competitiva
no mercado mundial.
Para a concretização das suas pretensões, Portugal:

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

1. aboliu os poderes políticos administrativos que as companhias


majestáticas que operavam no norte e centro de Moçambique
detinham, fazendo com que estas passassem apenas a contar com a
sua base produtiva. Assim, houve modificações da estrutura de
Moçambique colonial, pois a actividade do capital estrangeiro ficou
restringida à economia de plantações;
2. assinou em 1928 uma nova convenção com a África do Sul que
prolongava a integração já estabelecida de Moçambique no
subsistema da África Austral através do elo trabalho
migratório- serviços de transportes. Esta convenção trazia
um novo elemento: a obrigatoriedade de pagamento do
diferido por parte da África do Sul e desta forma assegurar a
entrada em Moçambique de divisas estrangeiras de parte
significativa da conta salarial dos mineiros;
3. intensificou, alargou, institucionalizou a prática do trabalho forçado e
do cultivo forçado de culturas de rendimento.
Estas medidas eram parte de uma estratégia de desenvolvimento da burguesia portuguesa
que era subdesenvolvida. Assim, os interesses da burguesia dos colonos e pequena
burguesia local, tiveram de se subordinar às necessidades de acumulação da burguesia
portuguesa.
O aparelho repressivo do Estado tornou-se portanto um instrumento para instituir um
sistema de acumulação de capital assente na extracção da mais valia absoluta: quer
directamente, através da venda forçada da força de trabalho, quer indirectamente através
do cultivo forçado das culturas de rendimento.
Neste contexto, é de destacar a circular de 1 de Maio de 1947 que obrigava todos os
indígenas a trabalhar seis meses por ano para o Governo, para uma companhia ou para
um particular.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

7. Primeira Convenção de Trabalho: 1909 (1 de Abril)- entre os governos da


Província de Moçambique e do Transval
Nessa convenção:
- garantiu-se a passagem por Moçambique de 50% do tráfego ferro-portuário para
Witwatersrand;
- garantiu-se o monopólio do recrutamento à WENELA (Wittwatersrand Native Labour
Association) que podia actuar nas zonas moçambicanas sob o controlo
governamental, à excepção do território da Companhia de Moçambique;
- o governo português passaria a receber uma taxa (salário diferido) da WENELA por
cada trabalhador Moçambicano;
- estabeleceu-se que os produtos agrícolas e industriais originários de um ou outro
lado da fronteira poderiam circular para ambos os países sem taxas aduaneiras. Isso
favorecia os proprietários rurais sul-africanos e desfavorecia o capital agrícola
português em Moçambique pois Portugal não tinha capital para desenvolver o sul de
Moçambique.

8. Segunda Convenção de Trabalho: 1928


Esta convenção:
- confirmou que 50% à 55% do tráfego de Witwatersrand devia transitar por
Lourenço Marques;
- o número de moçambicanos nas minas deveria reduzir para 80 mil até 1933;
- diminuiu o periodo de contrato por um ano, renovável somente por seis meses;
- impôs o repatriamento compulsório depois destes anos com a proibição de novo
contrato durante os seis meses seguintes e estabeleceu formalmente o pagamento
diferido.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

9. Planos de Fomento em Moçambique e o Nacionalismo Económico de


Salazar

9.1. O Nacionalismo Económico de Salazar


A sobrepopulação em Portugal constituía uma questão séria para as autoridades
governamentais. Esta sobrepopulação resultava do facto do desenvolvimento da indústria
para as cidades que levou às altas taxas de emigração, condicionados pelas relações
sociais de produção prevalecentes em Portugal- domínio dos latifundiários.

Houve um empenho activo do regime para:


 evitar que o fluxo da emigração não fosse para as colónias,
isto com o propósito de manter os colonos dentro da
jurisdição de Portugal, contribuindo para o rendimento
nacional e disponíveis para o serviço militar;
 fortalecer a base de apoio do regime transformando a força
revolucionária em potência, campesinato proletarizado, numa
pequena burguesia colonial e ou aristocracia operária;
 adoptar uma política de incorporação das colónias como
províncias ultramarinas de Portugal, negando assim
formalmente a existência de uma questão colonial.

9.2. Objectivos Gerais dos Planos de Fomento

Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos da América adoptaram o “Plano


Marshall”, um plano de ajuda à reconstrução da Europa Capitalista.
Portugal tendo se beneficiado pouco dessa ajuda, optou por copiar o modelo de
reconstrução da Europa, em que o Estado concentrava os seus esforços no
desenvolvimento de infra-estruturas económicas, criando assim a base para a
industrialização capitalista do sector privado. É nesse contexto que a partir do início da
década 50, surgiram os planos de fomento em Portugal:
a) 1º plano: 1953-1958, concentrava-se na construção de infra-estruturas económicas
e promoção da imigração branca;

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

b) 2º plano: 1959-1964, dava ênfase à industrialização; (estudos científicos de


geologia, solos cartografia; investimento na agricultura de irrigação; investimento na
área dos transportes e investigações diversas)
c) plano de fomento intercalar (1965-1967), visava dar apoio especial ao sector de
exportação;
d) 3º plano: 1968-1973, focava a industrialização;
e) 4º plano: 1974-1979, contemplava o processo de industrialização.

Tudo isso para:


 elevar o nível de vida dos portugueses;
 assegurar aos portugueses novas e melhores oportunidades
de emprego;
 modernizar a técnica e o equipamento da agricultura e nas
indústrias daquele tempo com a absorção de braços em
condições suficientemente remuneradoras através da
remuneração interna, da colonização ultramarina e da
instalação de novas indústrias.
Os planos de fomento das colónias sempre foram concebidos dentro de uma
perspectiva de subordinar os interesses das colónias aos da metrópole. A colónia era vista
como fonte de acumulação para o processo de industrialização em Portugal, e no caso
concreto de Moçambique como colónia tinha de assumir o papel de:
 produzir matérias primas baratas para a indústria portuguesa
(algodão, açúcar, etc);
 ganhar divisas para a metrópole, através da exportação da
mão-de-obra, dos saldos dos serviços de transportes de
mercadorias em trânsito, da venda de matérias primas ao
mercado mundial- cajú, etc;
 fornecer um mercado seguro para os produtos industriais de
Portugal e permitir ao mesmo tempo a migração de
Portugueses para as colónias.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

Da Descrição feita anteriormente, é fácil compreender que uma grande parte dos planos de
fomento nas colónias visava criar infra-estruturas económicas para a exploração colonial,
em particular apoiando o desenvolvimento da economia capitalista dos colonatos.
Os planos de fomento eram também caracterizados por ser parciais e restritos aos grandes
investimentos a efectuar pelo Estado na agricultura, nas vias de comunicação e nos meios
de transportes, e aos investimentos a fazer pelos particulares com auxílio directo e
indirecto do Estado não só na agricultura e nos meios de transportes, como também na
instalação de novas indústrias e no desenvolvimento das existentes.
Os planos de fomento tinham um duplo carácter: imperativos, em relação aos
investimentos exclusivamente públicos, indicativos, no que respeita aos investimentos de
natureza privada.

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PERIODIZAÇÃO DA ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE. ERNESTO SAMO (USTM:2008-2024)

Referências Bibliográficas

 ABRAHAMSON,H.& NILSSON, A. (1995) Mozambique, the troubled transition. From


socialist construction to free market capitalism. London: Zed Books
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