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Economia de Moçambique no período Colonial

Resumo Histórico

Durante a primeira fase do colonialismo em Moçambique, desde cerca de 1890 até 1930, as
relações económicas entre Portugal e Moçambique eram muito fracas. Neste período era o
capital internacional, representado pelas companhias e pelo capital mineiro sul africano
controlava quase totalmente a economia de Moçambique. Neste contexto, o período de 1930
a 1937 foi marcado pelo lançamento das bases do “Nacionalismo Económico” tendo por
finalidade alterar esta situação, colocando a economia moçambicana verdadeiramente ao
serviço de Portugal. (IEDA, 2006).

A configuração da estrutura agrária, assim como do conjunto da estrutura económica e social


existente no período da independência, resulta fundamentalmente da combinação de
elementos das sociedades locais e da colonização.

A colonização efectiva portuguesa em Moçambique começa principalmente a partir de fins


do século XIX, depois da Conferência de Berlim. Até então, Moçambique ocupava uma
posição subalterna na estratégia colonial portuguesa, desempenhando fundamentalmente um
papel de apoio à navegação das rotas do Oriente e de fornecedor de mão-de-obra escrava,
principalmente para o Brasil e Caribe, (Mosca, 1995). Até 1752 o território dependia da
administração portuguesa na India, funcionando como uma delegação de Gôa. Localmente, a
presença portuguesa limitava-se a alguns postos costeiros e a uns poucos
pontos no interior, principalmente ao longo do vale do rio Zambeze. O comércio do ouro
e do marfim constituía o principal objectivo económico entre os princípios do século XVI e
os finais do século XVIII. Nas expedições para o interior de Moçambique, os portugueses
encontraram a presença dos comerciantes árabes, começando desde logo a disputa pelo
comércio e pelas vias de comunicação, o que provocou algumas discordâncias entre as
nobrezas portuguesa e a “indiana” (Mosca, 1995).

As limitações económicas e humanas e a imperatividade da ocupação efectiva determinada


na Conferência de Berlim (1884/1885), obrigaram Portugal a diferentes estratégias (modelos)
decolonização como é o caso das “Companhias Majestáticas.” Cerca de 2/3 do território
moçambicano ficou sob administração de diferentes companhias, destacando-se as seguintes:
a Companhia de Moçambique no Centro do país (território que corresponde sensivelmente às
actuais províncias de Sofala, Manica e Tete); a Companhia da Zambézia no médio e baixo
Zambeze e em parte da actual província com o mesmo nome; e, a Companhia do Niassa no
Norte, correspondendo aos territórios das actuais províncias de Cabo Delgado, Nampula e
Niassa, o Sul de Moçambique ficou sob administração directa do governo português.
(Mosca, 1995).

Esta divisão territorial implicou formas diferentes de colonização conforme os objectivos


dos capitais constituintes das companhias que actuavam debaixo de uma importante
influência do colonialismo inglês na região. Contemporaneamente, o desenvolvimento da
Africa do Sul e das colónias inglesas do interior como Zimbabwe, a Zâmbia e o Malawi,
baseava-se na exploração mineira e na agricultura, cuja exportação exigia vias de
comunicação e portos na costa índica. Moçambique possuía a costa marítima mais próxima
de muitas das zonas mineiras. Neste sentido, a construção dos portos e dos caminhos de ferro
moçambicanos foi realizada com a participação financeira e executiva da África do Sul e das
administrações coloniais inglesas (para o caso da linha férrea do Limpopo, veja por exemplo,
Trigo de Morais, 1960).

De acordo com o Centro de Economia Agraria, como contrapartida, Portugal e a África do


Sul estabeleceram acordos de cooperação segundo os quais se garantia a possibilidade de
recrutamento de mão-de-obra moçambicana para o trabalho mineiro, sendo uma parte dos
salários paga ao governo português em ouro, a preços definidos. Deste modo o Sul de
Moçambique transformou-se numa reserva de mão-de-obra para as minas África do Sul, cuja
emigração representou cerca de 30% a 35% da população activa masculina do Sul da colónia.

Segundo (Mosca, 1995), O crescimento da população colona e o surgimento dos primeiros


centros urbanos aumentaram as necessidades de abastecimento alimentar com produtos não
tradicionalmente produzidos pelos camponeses moçambicanos. Começa a emergir, a partir de
meados do século, importantes núcleos de agricultores portugueses localizados
principalmente nos vales dos principais rios em redor dos maiores centros urbanos. Estes
pequenos e médios agricultores produziam fundamentalmente produtos para o consumo
citadino (arroz, horticolas, frutas e produtos pecuários).

De acordo com Mosca 1993, a partir dos fins da década dos 50, uma parte das terras dos
colonatos começou a ser ocupada também por agricultores moçambicanos. Estes agricultores
eram criteriosamente seleccionados entre as classes dominantes das sociedades locais e entre
os moçambicanos “assimilados”, isto é, os que sabiam falar português, que tinham algum
grau de escolarização os que, em resumo, tinham assumido alguns aspectos culturais do
colonizador.

Nos princípios da década dos 60, um conjunto de factores coincidiram e obrigaram o


governo português a introduzir importantes reformas económicas, tanto em Portugal como
nas colónias. (Mosca, 1995)

Para o caso de Moçambique têm importância os aspectos seguintes:

 O inicio da guerra colonial e as respectivas repercursões na economia;


 Como consequência, realizaram-se um conjunto de reformas políticas, tendo
como alguns dos efeitos, o aumento da acessibilidade dos cidadãos
moçambicanos aos serviços públicos, às instituções e às oportunidades
económicas e a suavização dos mecanismos repressivos e descriminatórios do
regime colonial;
 A abertura económica e a procura de parceiros estrangeiros para a realização
de
investimentos estratégicos, sendo o caso de Cahora Bassa o exemplo mais
emblemático;
 O aumento rápido da população branca, não só devido à presença militar como
a uma intensificação das acções de colonização.

Estes aspectos, juntamente com a aplicação de uma política económica menos restritiva,
gerou um período de crescimento rápido da economia depois dos princípios da década dos
60. Os capitais não portugueses, principalmente o sul-africano, investiram no sector indústrial
e de serviços. A procura de bens de consumo aumentou com o incremento da população
colona permitindo o crescimento rápido das pequenas e médias explorações agrícolas.
(Mosca, 1995).

Estrutura económica de Moçambique no período colonial

Segundo (Chichava, 2011) á altura da independência nacional (1975), a estrutura económica


de Moçambique apresentava características gerais muito semelhantes com a de qualquer país
colonizado, nomeadamente:

1. Agricultura - fonte de rendimento para a maioria da população.

2. Indústria - pouco desenvolvida.


3. Comércio - mercado nacional limitado e subdesenvolvido; dependência do exterior:
importação de bens, equipamento e matérias-primas à indústria; exportação de produtos
agrícolas.

4. Transportes - sistema orientado para o mercado internacional.

5. Classe operária - pequena (incipiente) e desorganizada.

6. Produtividade - baixa e baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas.

Agricultura de Moçambique no período colonial

De acordo com (Chichava, 2011) a agricultura no período colonial manteve-se


subdesenvolvida pois, a grande maioria manteve-se no campo produzindo apenas com a
enxada. No entanto, o subdesenvolvimento da agricultura fora planificado para servir os
interesses da acumulação primitiva de capital através da extracção do excedente económico
do
camponês, sob forma de força de trabalho para a produção de mais-valia, ou sob a
forma de produtos dos camponeses comprados a preços baixos.

Ocupando cerca de 75% da mão-de-obra activa, a produtividade na agricultura era


baixíssima devido à utilização de tecnologias e técnicas agrícolas rudimentares. A
mecanização era quase inexistente e a utilização de agro-químicos e de outros
factores modernos muito reduzida.

O sector da agricultura caracterizava-se pela existência de um dualismo de


estruturas que compreendia:

 Um sector com 4700 propriedades agrícolas, nas quais centenas de milhares de


moçambicanos trabalhavam para os colonos, cuja produção se destinava ao
mercado (ex: açúcar, sisal e chá). Esta era a mão-de-obra assalariada usando
técnicas relativamente avançadas de cultivo e dedicando-se à produção mercantil.
 Um outro sector de economia com cerca de 1.700.000 pequenas explorações de
tipo familiar e de subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se
destinava em cerca de 80% para o auto-consumo. Os excedentes de produção deste
sector eram adquiridos pelos colonos à preços extremamente baixos e destinavamse
ao mercado externo e à indústria nacional (ex: algodão, cajú e sementes
oleaginosas). Esta era a mão-de-obra familiar usando técnicas de cultivo atrasadas e
produzindo para o auto-consumo.

Analisando a estrutura social da produção agrícola na colónia de Moçambique


podemos citar cinco elementos principais:

1. Grandes empresas de monocultura, concentradas no Vale do Zambeze, extraindo o seu


trabalho do campesinato, numa base regular ou sazonal. Estas plantações eram
controladas pelo capital estrangeiro (não português), e especializadas na produção de
culturas de rendimento para a exportação açúcar, chá, copra, sisal, entre outras;

2. Grandes propriedades de colonos normalmente com ocupação de parte da sua terra


pelos camponeses produzindo muitas vezes em sistema de ou sendo obrigados a entregar
parte de sua produção (sistema de extracção da renda em espécie) para os colonos;

3. Machambas de colonos dependendo de uma maneira significativa do trabalho familiar


do colono assim como do e trabalho assalariado do campesinato. Eram geralmente
unidades de produção mais eficientes caracterizadas por possuírem sistemas de irrigação,
mecanização, etc. São exemplos da localização destas unidades de produção: o Vale do
Limpopo, em Gaza; o Vale do Incomáti e Umbelúzi, em Maputo. Na sua maioria, a
produção deste grupo destinava-se a satisfazer a comunidade de colonos nos centros
urbanos.

4. Fornecia as infraestruturas necessárias em termos de lojas, armazéns e facilidades de


transportes em termos de compra e posterior venda dos produtos dos
camponeses. As cantinas rurais constituíram, juntamente com os armazenistas, a principal
forma de controlo e apropriação do excedente do campesinato.

5. Para além de produzir para as suas necessidades em alimentação, foi compulsivamente


integrado na economia de mercado como fornecedor da força de trabalho para as
plantações, latifúndios e colonos, e/ou como pequenos produtores de mercadorias para
vender ao colono. (Chichava, 2011).

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