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UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE

LICENCIATURA EM ECONOMIA

A Agricultura em

Períodos: Colonial (1498-1974), Transição e


Pós- Independência (1974-2019)

Maputo, 15 de Fevereiro de 2019


Parte 1
1. O Periodo Colonial
A agricultura nesse periodo manteve-se subdesenvolvida pois a grande maioria
manteve-se no campo produzindo apenas com a enxada. No entanto o
desenvolvimento da agricultura foi planificado para servir os interesses da
acumulação primitiva do capital através da extracção do excedente económico do
camponês sob forma de força de trabalho para a produção ou sub forma de
produtos dos camponeses comprados à preços baixos.
Devido à escassez de capital Portugal teve que arrendar vastas
parcelas de Moçambique à estrangeiros (não portugueses) com vista a manter o
seu domínio sobre o país. Desta feita, o Norte e Centro foram arrendadas às
companhias estrangeiras com poderes e funções económicas e políticos e
administrativos. E transformou o Sul em reserva de mão-de-obra para as minas
da África do Sul.

Durante a colonização, houve a imigração de colonos portugueses para


Moçambique e que contribuíram para a formação de latifúndios na zona rural que
muito beneficiaram da política colonial de apropriação das terras férteis dos
camponeses e da instituição do trabalho forçado. A circular de 1/05/1947
obrigava os indígenas a trabalhar 6 meses por ano para o Governo, companhia
ou um particular.

2. Caracterização e Estrutura
Ocupando cerca de 75% da mão-de-obra activa a produtividade na
agricultura era baixíssima devido à utilização de tecnologias e técnicas
agrícolas rudimentares. A mecanização era quase inexistente e a utilização de
agro-químicos e de outros factores modernos muito reduzida.
Este sector caracterizava-se por um dualismo de estruturas:
a) um sector com 4700 propriedades agrícolas, sendo que nelas trabalhavam
para os colonos centenas de milhares de moçambicanos e produziam com
destino ao mercado (ex. Chá, açúcar, sisal, etc). A mão-de-obra era
assalariada e usava técnicas relativamente avançadas de cultivo;

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b) outro sector com 1 700 000 pequenas explorações do tipo familiar e de
subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se destinava em
cerca de 80% para o autoconsumo. Os excedentes de produção deste
sector eram adquiridos pelos colonos aos preços baixos e destinavam-se
ao mercado externo e à indústria nacional (ex. Algodão, cajú e sementes
oleaginosas). Esta era a mão de obra familiar usando técnicas de cultivo
atrasadas e produzindo para o autoconsumo.
Destas estruturas sociais de produção agrícola podem-se destinguir cinco
elementos:
1. As Plantações- grandes empresas de monocultura, concentradas no
vale do Zambeze, extraindo o seu trabalho do campesinato numa
base regular ou sazonal. Estas plantações eram controladas pelo
capital estrangeiro não português, e especializadas na produção de
culturas de rendimento para a exportação- açúcar, chá, copra, sisal,
entre outras;
2. Os Latifúndios- grandes propriedades de colonos normalmente com
ocupação de parte da sua terra pelos camponeses produzindo muitas
vezes em sistema de chibalo e sendo obrigados a entregar parte de
sua produção (sistema de extracção da renda em espécie) para os
colonos;
3. As Médias e Pequenas Machambas dos Colonos- machambas que
dependiam significativamente do trabalho familiar do colono assim
como do chibalo e trabalho assalariado do campesinato. Possuíam
sistemas de irrigação, mecanização etc. Exemplos: os Vales do
Limpopo, Incomati e Umbeluzi. A produção destinava-se a satisfazer
a comunidade de colonos nos centros urbanos;
4. A Burguesia e Pequena Burguesia Comercial no Campo- que
fornecia infra-estruturas necessárias como lojas, armazéns e
facilidades de transporte em termos de compra e venda de produtos
dos camponeses. As cantinas rurais constituíam juntamente com os
armazenistas a principal forma de controlo e apropriação do
excedente do campesinato;
5. O Campesinato- para além de produzir para as suas necessidades
de consumo, foi compulsivamente integrado na economia de

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mercado como fornecedor da força de trabalho para as plantações,
latifúndios e colonos e como pequenos produtores de mercadorias
para vender ao colono.
Para além de produzir para a sua subsistência, o campesinato
moçambicano contribuiu para a produção mercantil do país. Cerca de
1/3 da produção total mercantil tinha como origem os excedentes dos
camponeses nomeadamente os seguintes produtos: mandioca, milho,
algodão, cajú, amendoim e sorgo.
A produção dos camponeses teve um papel significativo na agricultura
moçambicana uma vez que era responsável por cerca de 70% da
produção total, sendo 55% para subsistência e 15% comercializados
como excedente. A sua produção contribuía em cerca de 44% nas
receitas de exportação do país.
Quanto às funções económicas do campesinato pode-se assinalar que
no país o sistema colonial actuou nas zonas rurais basicamente com
dois padrões: por um lado institucionalizou o sistema de trabalho
migratório interno (norte e centro de Moçambique) e externo (no sul),
por outro lado implantou um processo de campesinatização que exigiu a
transformação dos camponeses moçambicanos em produtores de
mercadorias. Deste modo, os camponeses moçambicanos muito
contribuíram para as seguintes funções económicas na economia
colonial:
 Produção de matérias-primas baratas;
 Produção de alimentos baratos para o abastecimento dos próprios
trabalhadores e dos colonos;
 Fornecimento da força de trabalho para as empresas capitalistas à
baixo custo para o capital. A rendibilidade de trabalho nas
plantações, nas médias e pequenas empresas agrárias, nas minas,
nos portos e caminhos-de-ferro, dependia muito do recrutamento
da força de trabalho sazonal pelas autoridades administrativas
coloniais.

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 Redução dos custos de produção da força de trabalho por intermédio
da produção familiar destinada ao autoconsumo e da produção de
alimentos baratos.

3. Padrões Regionais na Estrutura de Produção Agrícola


A debilidade política e financeira de Portugal ao lado de outras potências
internacionais levou à regionalização e especialização do país: Sul (reserva de
mão-de-obra para a indústria mineira sul-africana) e Centro e Norte
(economia de plantações e transformação do camponês em produtor de
mercadorias. Em consequência da especialização, a relação entre o produto
total agrícola e comercializado e entre as diferentes formas sociais de
produção variou de região para região.

Parte 2

1. O Periodo de Transição e o Período pós Independência

O Acordo de Lusaka entre as autoridades coloniais portuguesas e a FRELIMO no


dia 7 de Setembro de 1974 abriu caminho para o fim da colonização e
proclamação da independência de Moçambique. O periodo de transição para a
independência testemunhou uma desintegração rápida da burguesia e pequena
burguesia colonial através do abandono massivo dos portugueses (para Portugal
e África do Sul) combinado com a fuga de capitais, sabotagem, contrabando e
destruição do equipamento.

Nas zonas rurais o processo de desintegração da base económica da burguesia


foi caracterizado pelo abandono das propriedades pelos colonos, para além da

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destruição do equipamento e abate de gado ou seu contrabando através das
fronteiras com a África do Sul e Rodésia. A rede de comercialização não escapou
pois esta era quase que exclusivamente controlada pela burguesia e pequena
burguesia colonial. Como consequência, assistiu-se uma dramática baixa na
produção e colheita de produtos agro-pecuários, o que aliado com a baixa
produção dos camponeses provocou uma quebra acentuada da comercialização
de excedentes mercantis, afectando o mercado interno e as exportações.

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Estudiosos divergem na análise das causas da crise de 1974-1977 e dos
indicadores para uma política agrária no periodo pós independência.
Os dualistas argumentam que a crise de 1974/77 reflectiu o carácter dualista, ou
bimodal, da economia agrária de então, em Moçambique. Os colonos
abandonaram o país e houve desinvestimento nas plantações e como
consequência o sector capitalista desmoronou-se e isso afectou negativamente
o mercado interno e as exportações. Por outro lado, com a liberdade o
campesinato pôde retirar-se da produção agrícola comercializada e da venda da
sua força de trabalho. Por isso, a crise da produção agrícola comercializada
explica-se pelo facto de o campesinato ter regressado ao modo de produção pré
capitalista (a chamada economia natural ou tradicional), e o facto do sector
capitalista ter perdido investimento e força de trabalho.

Para os não dualistas, a crise de 1974/77 foi provocada pelo desmoronamento do


sistema e do Estado coloniais, facto que era inevitável. Por um lado o sector
empresarial entrou em crise parcialmente porque os colonos abandonaram o país
e porque houve desinvestimento nas plantações. A quebra da produção agrícola
do campesinato deveu-se sobretudo à ruptura dos circuitos de comercialização e
do abastecimento do campo com bens de consumo e factores de produção, ao
desincentivo do preço, à fraqueza do sistema de extensão rural e à deterioração
da base de acumulação do campesinato que se reflectiu num certo
desinvestimento na agricultura familiar.

Os não dualistas olham também para o efeito global da crise. Enquanto por um
lado ela pôs em causa a viabilidade do sector empresarial e de todo o sistema de
produção agrária colonial na medida em que este não conseguiu superar a sua
dependência em relação ao trabalho sazonal. Por outro lado a crise reflectiu-se
com particular severidade na deterioração acelerada da base produtiva do
campesinato. Este ficou sem acesso à um salário estável e privou-se das mais
importantes fontes de rendimento. (veja tabela 4, páginas 52-53, Castel-Branco,
1994)

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2. As Directivas do 3º congresso

A FRELIMO transformou-se num partido marxista-leninista, adoptou um sistema


económico de planificação centralizada no contexto da orientação político
ideológica socialista, no 3º congresso realizado em Maputo de 3 à 7 de
Fevereiro de 1977. Nesse congresso foi explicitada a estratégia de
desenvolvimento económico e social de Moçambique independente. Esta
estratégia foi mais tarde concretizada com a aprovação em 1979 do Plano
Prospectivo Indicativo (PPI) cujo objectivo era acabar com o
subdesenvolvimento em 10 anos (1980-1990).

No domínio da Agricultura, reafirmou a importância de estender as zonas rurais


à nível de todo o país a experiência das zonas libertadas. A Colectivização ou
Socialização do Campo constituía a espinha dorsal do desenvolvimento do país. A
estratégia de socialização do campo consolidava-se em aldeias comunais e, as
empresas estatais e cooperativas seriam as formas de organização da produção
agrícola sobre as quais assentariam as aldeias comunais.

A socialização do campo permitiria a criação de um forte sector estatal agrário e


a transformação da agricultura familiar através de um dinâmico movimento
cooperativo, com enquadramento de milhões de camponeses em cooperativas
agrícolas e a emergência de um operariado agrícola. Por outro lado, a
socialização do campo criaria condições para o aumento da produtividade no
campo.
Sendo o sector estatal o dominante, os objectivos do seu desenvolvimento e
fortalecimento era contribuir para o fortalecimento de metas dos planos anuais,
no âmbito da economia centralmente planificada, através da dinamização e

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desenvolvimento das forças produtivas no campo. Para a efectivação desse
objectivo foram criadas machambas estatais cuja área podia variar entre alguns
milhares de hectares e 4000 hectares. Em 1978, as empresas estatais agrárias
ocupavam 100 mil hectares de terra cultiváveis, tendo esta área expandido para
140 mil hectares em 1982.
Foram priorizados investimentos no sector estatal em detrimento das
cooperativas, sector familiar e agricultores privados. Até 1984, mais de 90% dos
investimentos e dos técnicos disponíveis foram afectos na agricultura e a
componente construção de infra-estruturas para apoiar a agricultura
nomeadamente as obras de irrigação. Entre 1977-81 foram importados mais de
3 mil hectares e cerca de meio milhar de autocombinadas entre outro
equipamento e maquinaria agrícola. Insumos agrícolas de melhor qualidade foram
importados e usados massivamente na agricultura, sendo exemplo os
fertilizantes e pesticidas.
Durante o período compreendido entre 1975-81 conseguiu-se deter da queda
dos níveis de produção que durante 1981 atingiu, para a maior parte dos bens de
consumo interno e de produtos para a exportação, os níveis mais altos após a
independência. As exportações aumentaram 83% entre 1977 e 1981 e
continuaram a ser de origem agrícola.
Quadro 1: Evolução das exportações de produtos agrícolas (mil contos)
Produtos 1975 1977 1979 1981 1982
Cajú 780 1468 1445 1890 1647
Açucar 575 260 952 888 331
Chá 177 409 680 502 970
Algodão 439 288 761 881 653
Madeiras 375 154 206 260 124
Camarão 276 366 753 1852 1454

Fonte: CNP: Informação Económica, 1982

O crescimento da produção bruta agrária de 1977 à 1981 foi de cerca de 9% no


periodo e a contribuição do sector agrário para o produto social global foi em
média de 40% ao ano no periodo em referência. O subsequente aumento da

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contribuição para a produção bruta agrária resultou principalmente do
crescimento da comercialização particularmente nos seguintes produtos:

Quadro 2: Produção Bruta Agrária Comercializada


Produtos Unidade de medida 1977 1981
Milho mil toneladas 34.0 78.3
Algodão caroço mil toneladas 52.0 73.6
Chá folha verde mil toneladas 79.0 99.2
Citrinos mil toneladas 25.0 36.7

Fonte: CNP: Informação Económica, 1984

O sector familiar contribuiu com cerca de 36% da produção agrária


comercializada, sendo a sua participação considerável em culturas como o
algodão, o cajú, oleaginosas, milho e outros cereais.

As inundações de 1977/78 em conjugação com as secas de 1981 à 1983,


devastaram enormes áreas na região sul onde se produzia cerca de 80% de arroz
e 20% de açúcar e onde se concentrava 70% dos efectivos bovinos do país.

Por isso, a produção do sector agrícola foi bastante condicionada pela enorme
flutuação dos preços dos produtos agrícolas no mercado internacional, para além
dos factores internos já referidos anteriormente, as inundações e secas, a
diminuição do aprovisionamento por importação e as acções de desestabilização.
O crescimento do valor das exportações até 1981 resultou da melhor
organização do processo de exportações e da retirada de Moçambique da zona
do escudo.

A modernização da agricultura

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A modernização da agricultura seria urgente para o desenvolvimento rápido da
produção, através da mecanização das empresas estatais já transformadas em
machambas estatais. A rápida mecanização era motivada pela vontade de
aumentar a produtividade e a necessidade de substituir o trabalho forçado
(chibalo) e trabalho manual duro por uma forma de agricultura mais moderna. A
mecanização rápida destinava-se a modernizar e aumentar a produção do sector
estatal. O tipo de mecanização introduzidos levantou problemas sérios tendo em
conta a estrutura económica existente:
a) reduziram as oportunidades de emprego dado o aumento da produtividade
do factor trabalho pela mecanização. Isto contribuiu para o aumento da
instabilidade no emprego;
b) aumentaram as necessidades pelo trabalho sazonal, especialmente nos
períodos de pico da colheita, pois a mecanização não contemplou todas as
fases do processo de produção (da lavoura à colheita);
c) o fluxo dos serviços que concorreria para optimizar o aproveitamento da
mecanização nem sempre estava disponível. São os casos de assistência
técnica, fornecimento de combustíveis e lubrificantes, peças
sobressalentes, manutenção corrente e pessoal técnico à altura;
d) faltaram com muita frequência os insumos que pudessem garantir a
estabilidade da produção em quantidade e qualidade, o que diminuiu a
rendibilidade e a qualidade das culturas, aumentou os custos unitários e
quase que eliminou a viabilidade económica do investimento realizado;
No entanto, a economia no seu global, estava longe de ser planificada dada as
dificuldades de se planificar a produção do sector familiar, as calamidades
naturais (cheias de 1977/78 e as secas de 1981-83), os choques externos do
mercado internacional (aumento do preço do petróleo e deterioração dos termos
de troca do comércio internacional), deslocamento das populações das zonas de
residência e de produção como consequência da sabotagem e insegurança
provocadas pelas acções armadas de desestabilização.

Apesar desta conjuntura nacional e internacional, a partir de 1977, os níveis


gerais da produção apresentaram tendências para aumentar mais, o ponto de
partida era contudo demasiado baixo, devido à enorme quebra havida nos dois
últimos anos do colonialismo.

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É digno mencionar que a estratégia de desenvolvimento agrário desenhada no 3º
congresso não foi integralmente implementada. No entanto, foram significativos
os resultados do desempenho do sector agrícola até 1983:

Quadro 3: Produção Agrícola de Principais Produtos


Produtos 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Milho 95.0 90 34 70 66 65 78.3 89.2 55.8
Arroz 94.0 75 60 44 56.3 43.6 28.9 41.5 17.3
Algodão 52.0 36.8 52 72.4 36.8 64.9 73.7 60.7 24.7
Feijão 14.8 14 14 10.1 13 9.6 14.9 6.9 4.7
Cast.de cajú 160.0 120 102 90 62.6 87.6 90.1 57 18.1
Copra 50.4 72 48 60 51 37.1 54.4 36.6 30.7

Fonte: elaborado a partir de informações estatísticas da CNP, DNE

Á excepção do arroz, todos os produtos apresentaram em 1981 os melhores


índices em termos de resultado, como consequência dos esforços dos
investimentos alocados prioritariamente no sector estatal agrícola. No entanto a
política para as zonas rurais tinha se baseado num número de pressupostos que
não estavam em concordância com as condições materiais do abastecimento de
bens alimentares na zona rural, nem com os padrões vigentes. O apoio ao sector
familiar foi negligenciado, o que contribui para a redução da produção nacional
agrícola comercializada.

A estratégia de modernização para o desenvolvimento rural que Moçambique


escolheu em 1977, não obteve resultados previstos devido aos seguintes
factores:

a) crise e queda do colonialismo, agravada pelo desenvolvimento de uma


profunda crise económica internacional ( a elevação da taxa de juro no
mercado internacional, a contracção geral na concessão de créditos novos
pelos bancos internacionais, a deterioração dos termos de troca no

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comércio internacional) e pela subida vertiginosa dos preços de petróleo a
partir de 1974;
b) as calamidades naturais, os actos de agressão e destruição e as acções
sistemáticas de desestabilização económica e social;
c) reduzido número de técnicos moçambicanos, erros e insuficiências
próprias de quadros que adquirem de direcção e gestão político económica
no próprio processo de transformação da vida económica e social;
d) a não confirmação de Moçambique como membro de pleno direito da
CAME (Conselho de Ajuda Mútua Económica);
e) a aplicação integral de sanções ao regime rebelde de Ian Smith em
cumprimento da resolução 253 (1968) aprovada em 29 de Maio pelo
conselho de segurança das nações unidas; agindo contra a independência
de Moçambique em reacção contra a aplicação de sanções à colónia
rebelde da Rodésia do sul o regime sul africano planeou e desencadeou
uma guerra não declarada contra Moçambique;
f) redução do recrutamento de mineiros moçambicanos e rescisão unilateral
por parte da África do Sul do acordo que tinha com Moçambique sobre o
pagamento do salário dos mineiros em ouro;
g) diminuição drástica da utilização dos caminhos de ferro e dos portos
moçambicanos pela África do Sul, o que a par com o encerramento de
fronteiras com a Rodésia do sul, reduziu para a metade o tráfego
rodoviário internacional através de Moçambique entre 1975-81;
h) destruição de 400 estabelecimentos comerciais nas zonas rurais em 1982
e de cerca de 500 outros em 1983 com efeitos multiplicadores negativos
para a economia camponesa.

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SÍNESE: o 3º congresso da FRELIMO adoptou oficialmente a estratégia de
colectivização do campo; tal estratégia assentava em dois eixos: o sector
empresarial estatal (como forma de produção dominante) e o sector cooperativo.
1. Sector estatal agrário
Com este sector pretendia-se satisfazer as metas do plano de volume
de produção e desenvolvimento das forças produtivas no campo. O
objectivo era atingir uma determinada meta de produção física, sendo
assim garantidos os balanços materiais para o cumprimento dos
objectivos centrais do sistema de planificação centralizada que
buscavam o equilibrio entre a oferta e procura de factores de produção
nos diferentes sectores da economia e entre consumo e investimento.
Enfim, a eficiência económica era medida pela quantidade produzida.
Em face da necessidade de aumentar o volume de produção, foram
expandidas áreas do sector estatal (implicando a expropriação de terra
com qualidade ao campesinato e às cooperativas) e consolidando o
regime de monoculturas.
A mecanização acelerada tinha em vista o desenvolvimento rápido da
produção do sector estatal, aumentando as áreas de cultivo, mas sem
com isto depender do recrutamento de força de trabalho sazonal. A
mecanização contribuiu para reduzir as oportunidades de emprego,
substituiu os trabalhadores, aumentou a instabilidade de emprego,
aumentou a necessidade de trabalho sazonal em períodos muito curtos.
Uma vez que a mecanização requer um fluxo de serviços para optimizar
o aproveitamento do equipamento, facto que na realidade não
acontecia, a mecanização levou ao recrutamento não planificado da
força de trabalho pois, era comum as máquinas pararem por falta de
combustível ou adequada manutenção e aliás, a mecanização fez com
que o sector estatal enfrentasse o problema da falta de insumos de
qualidade, o que diminuia a rentabilidade e a qualidade das culturas.
Esse facto acontece porque a mecanização em sí não aumenta a
rentabilidade das culturas, para aumentar é necessária a adopção de
tecnologias intensivas para a recuperação e melhoramento dos solos,
sementes melhoradas, etc. O Estado estava mais interessado na

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quantidade que era produzida do que na eficiência com que essa
produção era realizada.
2. sectores familiar, cooperativo e privado
Para esses sectores foram destinados pouco mais de 5% do
investimento e dos técnicos afectos à agricultura.
As cooperativas tinham em vista organizar o campesinato
colectivamente em forças de produção mais avançadas e a estratégia
para o seu desenvolvimento assentava em palavras de ordem como
“contar com as próprias forças”, o que reflectia a escassez de
recursos.
O campesinato moçambicano não tinha organização social e políticas,
nem experiência de organização e gestão, que pudessem constituir a
base para o movimento cooperativo.

Apesar de dirigida à transformação socialista do campo, a estratégia do


3º congresso não levantou nem enfrentou ou resolveu o problema de
transformação da estrutura das relações de produção e de troca no
campo. O 3º congresso apenas mudou o centro de acumulação do
sector capitalista colonial e multinacional para o sector estatal,
mantendo intactas as estruturas e as relações socias de produção
herdadas.

3. As Directivas do 4º Congresso

No tempo da realização deste congresso, a crise económica e as acções


demolidoras já eram uma realidade.
O desenvolvimento económico depois de 1981 demonstrava uma tendência
decrescente, mensurada através de diminuição de receitas da prestação de
serviços à África do Sul e do decréscimo das exportações.

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A falta de bens de consumo fez com que os camponeses diminuíssem a produção
agrária comercializada ou a canalizassem para o mercado paralelo, o que
originou grandes aumentos de preços no mercado nacional.
A reflexão sobre o estágio da estrutura e desenvolvimento da economia
moçambicana levou o 4º congresso da FRELIMO a formular directivas
económicas e sociais profundas que estabeleciam o quadro geral de
desenvolvimento para 5 anos. As directivas definiam uma metodologia de
utilização máxima e integral dos recursos disponíveis localmente e o aumento
das capacidades produtivas com vista a minimizar as importações e aumentar
progressivamente as exportações. Contrariamente às directivas do 3º congresso,
o 4º congresso recomendava uma forte combinação dos pequenos e grandes
projectos para o combate a fome e o aumento de receitas em divisas para o
país.. A estratégia assentava no apoio ao sector de produção familiar, em
especial a actividade agro-pecuária. O objectivo era aumentar a produtividade
do sector familiar e estimular a produção mercantil que garantisse excedentes
para o aprovisionamento interno e para o aumento das exportações. O esforço
principal seria da produção de cereais, plantação e repovoamento de cajueiros,
no incentivo à apanha da castanha de cajú, na produção de algodão, de mandioca,
de oleaginosas, de feijão, na pecuária e produção de carne e na pesca.

O 4º congresso aprovou o PAE (Programa de Acção Económica) e iniciou um


processo de liberalização de preços que introduziu a economia de mercado em
Moçambique.

Complementar: no 4º congresso foi posta em causa a estratégia de acumulação


centrada no sector estatal, a qual tinha negligenciado o sector familiar e privado
e deu primazia ao factor humano sobre a tecnologia, aos pequenos e grandes
projectos. Decidiu que as pequenas empresas agrárias deveriam ser
redimensionadas e organizadas para produzirem eficientemente e
operacionalizou-se os mecanismos económicos como os preços, controlo dos
custos, produção dos lucros.
Esta estratégia favorecia alguns ajustamentos importantes, especialmente no que
se refere à reorientação dos centros de acumulação, diminuindo a centralização

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resultante da estratégia anterior e ao papel dos estímulos económicos
diminuindo a omnipotência da planificação burocrática.
Contudo, a estratégia era vaga e indecisa em vários aspectos tais como a forma
de implementação das reformas, as relações entre diferentes sectores sociais, a
relação entre a planificação dos recursos e a operação dos mercados, etc.
Devido à esses factores acrescidos pela guerra civil, a estratégia do 4º
congresso nunca chegou a ser realmente posta em prática.

4. Programa de Reabiltação Económica (PRE): 1987


A visita de Samora Machel aos EUA em 1983, a assinatura do acordo de
Inkomati entre Moçambique e África do Sul em 1984, e a aceitação de
Moçambique como membro do FMI e do Banco Mundial (BM), permitiu que o país
passasse a receber uma significativa assistência bilateral das instituições
internacionais de ajuda ao desenvolvimento.
A adesão ao FMI e BM fez com que o país se beneficiasse de um programa de
recuperação e transformação económica, daí que em Janeiro de 1987 inicia a
implementação do PRE (Programa de Reabilitação Económica) que já em 1989
integra a componente social passando a se designar de PRES.

Os objectivos do PRE estavam condicionados pelas políticas do BM e FMI.


Assim, o PRE visava:
 reverter a queda da produção nacional;
 assegurar à população das zonas rurais receitas mínimas e em um nível de
consumo mínimo;

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 reinstalar o balanço macro-económico através da diminuição do déficit
orçamental, reforçar a balança de transações correntes e a pagamentos.
O PRE tinha também como objectivo liberalizar a economia e deixá-la
orientar-se para o mercado. Para tal, seria necessário que se tomasse
medidas políticas a nível financeiro, monetário e comercial. As empresas
estatais deviam ser reestruturadas e tanto quanto possível privatizadas.
Devia-se liberalizar o comércio e abolir o sistema de fixação de preços.
Após o início da implementação do PRE, havia poucos agricultores ou
empresas privadas para correr o risco comercial que os investimentos no
campo representam e no caso presente, esta situação era prejudicada também
pelo ambiente da guerra.
Devido à seca que se fazia sentir em 1992, houve um decréscimo da
produção. De facto, a seca, insegurança e às políticas de ajuda internacional
de muitos doadores pioraram a situação da população rural e como
consequência a possibilidade de se implementar a estratégia de “tomar a
agricultura como base económica de desenvolvimento” diminuíram
radicalmente.

4.1. Os Pressupostos do PRE


Para atingir tais objectivos, o PRE pressupunha que: a comunidade
internacional garantiria os fundos em moeda externa para a importação de
peças e sobressalentes, equipamentos e assistência técnica, bem como
para matérias primas, materiais auxiliares e combustíveis; a guerra
terminaria e economia rural começaria a recuperar rapidamente e a
produção industrial encontraria um mercado disponível para todo o seu
produto.

5. Programa dos distritos prioritários

Nos esforços para a estabilização da produção no campo, foram seleccionados


em 1989, 40 distritos onde a guerra não se fazia sentir muito e onde

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simultaneamente existiam potencialidades para se fazer um aumento da produção
de bens alimentares.
O ponto de partida do PDP (Programa dos Distritos Prioritários) foi a situação de
emergência que se vivia no campo e a consciência de que só a produção de
alimentos podia fazer Moçambique atingir a segurança alimentar.
Os 40 distritos prioritários representavam 50% da população rural de
Moçambique e 60% da produção agrícola comercializada. As áreas desses
distritos deviam ter 3 características essenciais: infra-estruturas mínimas e
condições climatéricas adequadas; ser fisicamente acessíveis em termos de
meios e vias de comunicação; e ter segurança e estabilidade.
Em termos de identificação de acções houve 2 princípios:
a) financiar as acções à longo prazo com recursos locais. Aqui, estava
implicita a descentralização;
b) o maior recurso de cada distrito devia ser um grande excedente da força
de trabalho.

Para a agricultura, priorizou-se a actividade de extensão rural através da qual


deviam ser fornecidas sementes e melhores condições de armazenagem e
desenvolvidas outras acções de apoio complementares. O objectivo do PDP era
voltar rapidamente aos níveis de produção de bens alimentares e de actividades
de extensão rural que se haviam verificado em 1981. O PDP estaria sob
coordenação do Ministério da Agricultura.

6. Programa de Reconstrução Nacional (PRN)

Na busca de uma alternativa ao PRE considerado limitado na sua concepção e


conteúdo, foi desenhado e apresentado aos doadores em 1991 o PRN, concebido
como alargamento do PDP que concentrava suas acções no Desenvolvimento
Rural em 3 aspectos:
a) criar a segurança nacional através do restabelecimento da lei e ordem,
reforço da capacidade das forças da defesa e segurança e a reabilitação
de todos os sistemas de comunicação do país;
b) aumentar a produção nacional através do aumento da produção nas zonas
rurais tendo como base o PDP;

19
c) reintegrar os deslocados e soldados desmobilizados.
Este programa tinha como previsão de conclusão em 1993 e precisava de ajuda
internacional para a sua implementação.
7. O Acordo Geral de Paz, a Reconciliação e a Reconstrução do País

Em 1990 entra em vigor a nova constituição onde o sistema político


multipartidário e a economia de mercado eram a nota dominante.

Em 4 de Outubro de 1992 foi assinado o Acordo Geral de Paz em Roma entre o


Governo e a Renamo, pondo o fim a cerca de 16 anos de guerra civil em
Moçambique e abrindo uma nova página para o povo Moçambicano. Em
consequência do acordo e do pluralismo político, foram realizadas as primeiras
eleições Gerais multipartidárias em Moçambique em Outubro de 1994, as
eleições dos órgãos locais (autárquicas) em 1998, 2003 e 2009 respectivamente,
as segundas eleições gerais em 1999, as terceiras eleições gerais em 2004.

Deste processo até então, o país já adoptou diferentes medidas de política na


agricultura advindas dos 3 planos quinquenais nomeadamente: (1995-1999) onde
nasce o PROAGRI e outros; (2000-2004); (2005-2009).

8. O Programa Quinquenal do Governo (1995-1999)

O Governo da FELIMO formado depois da victória nas primeiras eleições


multipartidárias definiu como desafios na agricultura durante o quinquénio 1995-
1999 os seguintes:
 tomar a agricultura como base de desenvolvimento económico e social do
país;
 desenvolver medidas de política visando aumentar a produção agrícola em
particular dos cereais para auto-suficiência alimentar;
 empenhar-se na melhoria da produção, comercialização e distribuição de
sementes melhoradas, no repovoamento das principais espécies pecuárias
e combate das pragas e doenças, na utilização de novas tecnologias e na
melhoria de técnicas agrícolas.

20
9. PROAGRI
Durante muitos anos, o desenvolvimento do sector agrícola em Moçambique
foi baseado em projectos, quase que exclusivamente dependente da ajuda
externa.

O plano de investimento público consistia numa mera agregação de projectos


sem nenhuma coordenação entre sí.
A fase de projectização trouxe muitos problemas:
a) sobreposições entre projectos;
b) diferenças de abordagem e métodos;
c) duplicação de esforços;
d) dificuldades na coordenação e gestão;
e) actividades insustentáveis, entre outros constrangimentos.
I. Do Pré-programa
Objectivos: desenhar um programa nacional integrado de desenvolvimento
agrícola de cinco anos (PROAGRI) e simultaneamente criar uma capacidade
institucional dentro do Ministério da Agricultura, com apoio do PNUD, da FAO
e de outros doadores.
Em 1990/90, foram levadas à cabo as primeiras actividades concebidas para
resolver os problemas da projectização, com discussões internas sobre as
mudanças internas sobre as mudanças necessárias impostas pelo contexto
político emergente. A profunda mudança ocorreu com o fim do conflito
armado, em outubro de 1992 com a normalização da frequência da queda das
chuvas em 1993/94. Estes dois factores criaram condições para o regresso às
zonas de origem de milhares de moçambicanos deslocados interna e
externamente.
II. Formulação do PROAGRI
A formulação do PROAGRI foi iniciada em 1994, com a formação de grupos de
trabalho para preparar diagnósticos e propor estratégias e programas de
investimento à nível sectorial.

21
No âmbito deste programa quinquenal aprovou-se a política nacional de
desenvolvimento agrário e desenvolveram-se as estratégias sub sectoriais
correspondentes.
Apartir de 1996, a formulação do PROAGRI passou a contar com o apoio do
Banco Mundial e da DANIDA, para além do PNUD e da FAO.
Os objectivos do processo de formulação do PROAGRI foram definidos como
sendo:
a) criar um programa compreensivo e integrado para o desenvolvimento
harmonioso da agricultura;
b) estabelecer consensos e mecanismos de coordenação entre vários
doadores interessados pelo financiamento do desenvolvimento no sector
da agricultura;
c) estabelecer regras e mecanismos de gestão de programas e projectos que
induzam a transparência na utilização de recursos financeiros, humanos e
materiais.
III. Componentes sub sectoriais do PROAGRI
1. Componentes principais: componentes que pela sua natureza
alcançam a maioria dos objectivos de um sector particular (Pecuária,
Florestas e Fauna Bravia);
2. Componentes auxiliares: componentes cujas actividades apoiam os
vários sectores (Extensão, Investigação, Terras, Irrigação e
desenvolvimento institucional);
3. Componentes suplementares: componentes que apoiam a
implementação efectiva das componentes principais e auxiliares
(Finanças, Pós-colheita e Consolidação de Orçamento).

IV. Análise do Processo


a) profundo sentido de titularidade do PROAGRI pelo MADER
(Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural);
b) processo participativo;
c) partilha de pontos de vista sobre as funções do MADER;
d) consenso de que o melhor funcionamento do MADER é de forma
desconcentrada ou descentralizada, com o aumento do processo
decisório para os níveis provincial e distrital.

V. Problemas
1. falta de clareza conceptual e mudanças conceptuais frequentes
durante o processo;
2. insuficiente comunicação sobre o PROAGRI à todos os
Stakeholders;
3. falta coordenação e harmonização do processo.

22
PROAGRI tem um importante contributo no PARPA- Plano de Acção para a
Redução da Pobreza Absoluta)

10. O Programa Quinquenal do Governo (2000-2004)

Após as segundas eleições multipartidárias, o Governo apostou no âmbito do


sector agrário, na continuação de esforços com vista a alcançar um
desenvolvimento agrário sustentável, que ocorresse para atingir os seguintes
objectivos:
- alívio à pobreza;
- auto-suficiência e segurança alimentar em produtos básicos;
- fornecimento de matéria prima à indústria nacional;
- desenvolvimento do sector familiar, cooperativo e privado e
criação do emprego;
- melhoria da balança de pagamentos.
Para garantir os objectivos acima definidos, o governo propunha-se
desenvolver estratégias multisectoriais, nomeadamente:
- a promoção de um ambiente favorável para o
desenvolvimento agrário baseado nas regras de mercado,
providenciando incentivos para o investimento e
crescimento produtivo;
- melhoria da rede de estradas, infra-estruturas e
comunicações, desenvolvimento dos mercados e
comercialização;
- a melhoria do desempenho dos serviços públicos de suporte
ao sector familiar, principalmente na investigação, extensão,
apoio à produção agrícola, pecuária e informação sobre os
mercados;
- a garantia do uso sustentável dos recursos naturais, através
do envolvimento das comunidades na gestão e utilização da
terra, recursos hídricos, florestas e fauna bravia, em seu
próprio benefício.

23
Para a modernização do sector agrícola e pecuário, o governo propunha realizar
acções:
 na área da reforma e desenvolvimento institucional;
 na área dos serviços de apoio à produção agrícola;
 na área do reforço dos serviços públicos agrários e de pecuária;
 na área do uso sustentável dos recursos naturais.
No âmbito do desenvolvimento rural, o governo propunha-se a desenvolver
acções aos níveis micro e macro que permitissem aumentar o rítmo de
crescimento económico nas zonas rurais, com impacto na melhoria da qualidade
de vida da população rural.

11. O Programa Quinquenal do Governo (2005-2009)

O Governo definiu a agricultura como base de desenvolvimento económico e


social do país. Por outro lado, o Governo prosseguirá com os esforços em curso
visando o desenvolvimento sustentável das actividades de pesca, valorização da
pequena produção pesqueira e desenvolvimento da aquacultura.
Assim, o Governo define os seguintes objectivos:
 contribuir para a auto suficiência e segurança alimentar em produtos
básicos;
 aumentar a produtividade agrária;
 melhorar a competitividade e sustentabilidade económica da actividade
agrária;
 promover a exploração sustentável dos recursos naturais;
 assegurar o fornecimento de matérias-primas à indústria nacional;

24
 promover o desenvolvimento do sector familiar, cooperativo e privado e
criação do emprego;
 aumentar a disponibilidade de serviços e melhorar as condições dos
criadores, em toda a cadeia de produção e processamento e
comercialização como forma de fomentar o desenvolvimento pecuário;
 promover o investimento privado no sector agrário, encorajando
parcerias;
 promover o acesso à mercados regionais e internacionais para produtos
agrários e agro-industriais;
 garantir a segurança e posse de terra, em particular ao nível do produtor
familiar e promover sua gestão melhorada;
 melhorar o abastecimento interno de pescado através do aumento do
volume de pescado desembarcado e da redução das perdas pós- captura;
 crescimento de exportações pelo aumento do volume de produção da
aquacultura e pela valorização da produção artesanal;
 melhoria das condições de vida das comunidades pesqueiras através de
acções integradas de desenvolvimento social;
 exploração sustentável de recursos pesqueiros;
 contribuir para a melhoria da balança de pagamentos.

Bibliografia
GoM- Governo de Moçambique (2005) Constituição da República de
Moçambique, Maputo.
GoM- Governo de Moçambique (1995, 2000 e 2005) Programas quinquenais

12. A Nova Política de Terra e o Desenvolvimento

“Salvaguardar os direitos dos moçambicanos sobre a terra e outros recursos


naturais, enquanto promovendo o investimento e o uso sustentável e
equilibrado dos recursos”.
As prioridades da política nacional de terra são:
 aumentar a produção de comida;

25
 criar condições para o desenvolvimento e crescimento da agricultura
familiar;
 promover um desenvolvimento privado sustentável;
 conservar as áreas de interesse ecológico;
 introduzir um sistema de taxas baseado na ocupação e o uso do solo
(Conselho de Ministros, Setembro de 1995)

Os princípios fundamentais da nova lei de terra são:


 manter a terra propriedade do Estado;
 garantir que tanto a população assim como os investidores tenham
acesso à terra;
 garantir que a mulher tem acesso à terra;
 promover o investimento nacional e estrangeiro sem prejudicar a
população residente;
 participação activa dos nacionais como parceiros em empresas
privadas de capital estrangeiro e/ou misto;
 definir os princípios básicos para a transferência dos direitos de uso
e aproveitamento da terra;
 usar os recursos naturais de uma maneira sustentável de modo a
garantir uma qualidade de vida das populações.

13. A Nova Política de Terra e o seu Regulamento

A nova lei de terras, Lei nº19/97, de 1 de Outubro reitera o princípio


geral consagrado na Constituição da República de que “ a terra é
propriedade do Estado e não pode ser vendida ou por qualquer outra
forma, alienada, hipotecada ou penhorada” (artigo 3).
Esta lei cria o Fundo Estatal de Terras e considera as Zonas de
Protecção Total e Parcial como do domínio público. Define-se um
prazo máximo de 50 anos, renovável por igual periodo, ao direito de
uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas. No
entanto, não está sujeito à nenhum prazo o direito de uso e
aproveitamento da terra:

26
 adquirido por ocupação pelas comunidades;
 destinado à habitação própria;
 destinado à exploração familiar exercida por pessoas singulares
nacionais.

O regulamento da nova lei de terras foi aprovado através do decreto nº


66/98, de 8 de Dezembro, do Conselho de Ministros.
O artigo 13 do regulamento define os direitos dos titulares do direito de uso e
aproveitamento da terra, seja adquirido por ocupação, seja por autorização de
um pedido nomeadamente:
 defender-se contra qualquer intrusão de uma segunda parte nos termos da
lei;
 ter acesso à sua parcela e recursos hídricos de uso público através das
parcelas vizinhas, constituindo para o efeito, as necessárias servidões.

14. A Política Agrária

“Desenvolver a actividade com vista a alcançar a segurança alimentar através da


produção diversificada de produtos para o consumo, fornecendo à indústria
nacional e para a exportação, tendo como base a utilização sustentável de
recursos naturais e a garantia de equidade social”.

A segurança alimentar pressupõe:


 disponibilidade (oferta) de produtos;
 o acesso (procura) dos produtos;
 a estabilidade permanente da população;
 alimentos em qualidade e quantidade;
 saúde e robustez física.

Os objectivos de desenvolvimento económico do país dão ênfase à nesessidade


da segurança alimentar que conduz à:
 desenvolvimento económico sustentável;
 redução de taxas de desemprego;

27
 redução dos níveis de pobreza absoluta.

15. Importância do Sector Agrário

 a agricultura é tomada como base de desenvolvimento


nacional (artigo 39 da Constituição da República);
 80% da população moçambicana tem ocupação nas zonas
rurais;
 40% do PIB provém da agricultura;
 60% das receitas de exportação são geradas pelo sector
agrário;
 sector complementado pelas florestas e fauna bravia,
pecuária, pesca e outras riquezas minerais.

16. Características Específicas da Agricultura

Moçambique tem aproximadamente uma área de 80 milhões de hectares dos


quais:
a) 36 milhões de terra arável sendo:
 20 milhões de hectares agricultáveis e apenas 5 milhões cultivados;
 3 milhões de hectares irrigáveis dos quais 125 000 hectares
infraestruturados e 50 000 actualmente irrigados
b) 44 milhões de hectares de formações florestais com mais de 22
milhões de metros cúbicos de madeira.
O país tem mais de 3 milhões de explorações agrícolas
correspondentes à 3.866.806 hectares cultivados, ou seja 6.923.646
parcelas.

A agricultura no país tem as seguintes características específicas:


1. factores biológicos;
2. factores climáticos que às vezes podem ser adversos;

28
3. condições fisiográficas (topografia e solos);
4. terras e outros recursos naturais (solo e subsolo);
5. dispersão;
6. subsistência Vs integração na economia monetária;
7. aspectos sócio-económicos (tamanho e composição das famílias,
valores culturais, atitudes, crenças, tradições, género, etc.);
8. actividade de risco.
A análise destas características podem ajudar a compreender acerca
dos pontos positivos e fracassos de outras políticas adoptadas pelo
Governo de Moçambique no âmbito da agricultura nomeadamente as
ligadas à NEPAD, Integração Regional e à Revolução verde.

OS PRINCIPAIS CONSTRANGIMENTOS NA COMERCIALIZACAO TEM ORIGEM:

 No procurement e fornecimento de insumos:

- Uso de sementes recicladas, perdendo qualidades genéticas

- Baixos rendimentos, custos altos em relação ao poder de compra

- Disponibilidade fraca de insumos no Mercado nacional

- Desconhecimento técnico de aplicação de insumos

 Na Produção:

- Fraco controlo da qualidade de sementes, gerando altas perdas da produção devido a

pragas e doenças

- Falta de semente melhorada

- Baixos rendimentos agrícolas e fraca qualidade

- Praticas agrícolas deficientes (preparação do solo, controle de pragas, colheita e

armazenagem)

- Ausência de utilização de fertilizantes

 Acesso ao Mercado

29
 Geral- mau estado das vias de acesso aos centros produtores

 Comercialização a retalho:

- Cobertura da rede comercial deficiente

- Dificuldades de acesso a recursos financeiros

- Elevados custos de transporte

- Quantidades disponíveis reduzidos o que reduz a competitividade

- Ausência de um sistema de armazenamento

- Ausência de canais de mercados estabelecidos

- Dependência em relação aos mercados regionais

- Baixa qualidade do produto

 Tecnologia de Processamento

-fraca industrialização

Inexistência de sistemas seguros de processamento caseiro

 Transporte

- Mau estado das infraestruturas e de transporte nos distritos

- Fraca cobertura e baixa produtividade das infraestruturas ferro-portuárias

- Dificuldades de alargamento e reposição da frota de transportes

17. A Revolução Verde

Uma Visão Histórica


Revolução verde refere-se à invenção e disseminação de novas sementes e
práticas agrícolas que permitiram um vasto aumento na produção agrícola em
países menos desenvolvidos durante as décadas de 60 e 70. O modelo se baseia na
intensiva utilização de sementes melhoradas (particularmente sementes híbridas),
insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), maecanização e diminuição do

30
custo de manejo. Também são creditados à revolução verde o uso extensivo de
tecnologia no plantio, na irrigação e na colheita, assim como na gerenciamento da
produção. Esse ciclo de inovações se iniciou com os avanços tecnológicos do pós-
guerra, embora o termo revolução verde só tenha surgido na década de 70. Desde
essa época, pesquisadores de países industrializados prometiam, através de um
conjunto de técnicas, aumentar estrondosamente as produtividades agrícolas e
resolver o problema da fome nos países em desenvolvimento. A introdução destas
técnicas em países menos desenvolvidos provocou um aumento brutal na produção
agrícola de países não-industrializados. Países como o Brasil e a Índia foram
alguns dos principais beneficiados. No Brasil , passaram a desenvolver tecnologia
própria, tanto em instituições privadas quanto em agências governamentais (como
a Embrapa) e universidades. A partir da década de 1990, a disseminação destas
tecnologias em todo o território nacional permitiu que o Brasil vivesse um surto de
desenvolvimento agrícola, com a aumento da fronteira agrícola, a disseminação de
culturas em que o país é recordista de produtividade (como a soja, o milho e o
algodão, entre outros), atingindo recordes de exportação. Há quem chame esse
período da história brasileira de Era do Agronegócio (ou Era do Agrobusiness),
embora esse último termo soe provocativo em alguns círculos nacionalistas).

Vale salientarmos que, em contrapartida ao aumento na produtividade gerados pela


Revolução Verde, observou-se nos países subdesenvolvidos o aumento da
estrutura latifundiária, uma vez que os pequenos agricultores não conseguiram
financiar os gastos necessários para acompanhar a Revolução. Também criou-se
uma dependência tecnológica dos países subdesenvolvidos para com os
desenvolvidos, além de muita poluição sobretudo causada pelo pesticida DDT, mas
também na indústria de fertilizantes.

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Revolução Verde
Uma Visão do Caso Moçambicano
Expectativas de Moçambique:
 Trata-se de uma iniciativa que vai impulsionar, de certa forma, a produção
agrícola, devendo incidir não só nos grandes produtores comerciais, mas,
sobretudo, do sector familiar, com o objectivo de aliviar a fome e a
pobreza;
 Prevê-se o envio de 100 cientistas chineses para o local e a transferência
de tecnologias indispensáveis à investigação agrária;
 No distrito da Moamba, província de Maputo, seriam erguidas as
instalações do Parque de Ciência e Tecnologia, compreendendo uma área
de 365 hectares e avaliado em 70 milhões de dólares americanos;
Condições de que Moçambique Dispunha

 A China esteve envolvida, desde Dezembro de 2007, na construção de um


centro de investigação agrária na província de Maputo, que se esperava
que fosse concluído até Outubro de 2008;
 O projecto, que ocupa uma área de 50 hectares, estava a ser
implementado no distrito de Boane, província de Maputo. As equipas
chinesa e moçambicana trabalhavam, desde Dezembro último, no estudo
do terreno para o posterior arranque das obras de construção do centro;

 O centro de investigação agrária seria apetrechado por equipamento e


reforçado em cerca de 100 cientistas chineses ligados ao ramo, bem como
a transferência de sementes melhoradas da China para galvanizar a
produção agrária no país;

Necessidades de Moçambique
NB:. A ser investigado pelo estudante

O que confiava para a implementação do programa?

32
 As áreas de produção de sementes melhoradas, fertilizantes e a
comercialização agrícola passariam a ter maior apoio da Aliança para a
Revolução Verde em África (AGRA), que já estava a conceder ajuda
técnica para a investigação no país;
 A AGRA encorajava o seu apoio desde a formação técnica à própria
produção e comercialização;
 Segundo o MADER envolver-se-ia cerca de 100 a 200 técnicos na área de
pesquisa e privilegia-se a formação de técnicos nacionais na investigação
de sementes melhoradas e fertilizantes. Eles fariam um trabalho
acelerado, mas mais tarde deveriam continuar normalmente. O MADER
estava a financiar a formação de quatro técnicos moçambicanos no nível
de PhD e outros quatro em Mestrado em Investigação. Moçambique devia
investir na pesquisa prática junto dos camponeses para melhorar as
sementes utilizadas e voltar a vender para os mesmos camponeses a
preços acessíveis;
 O MADER considerava a população-alvo os agricultores familiares. O
exemplo prático noutros países já se tinha verificado, tendo alcançado
sucesso na implementação das iniciativas da Revolução Verde no Quénia,
Uganda e agora na Tanzânia e Malawi, devendo continuar em todas estas
frentes até que, de facto, se conseguisse aumentar a produção de
alimentos para o consumo e comercialização;

Prioridades desenhadas para o país


 Identificar as áreas que deverão ser alvo de actuação neste momento,
tendo apontado que constitui também prioridade a questão do agro-
processamento, para dar um valor acrescentado à produção agrícola, bem
como o apoio a pequenas instituições que possam proporcionar linhas de
microcrédito para o sector agro-pecuário;
 Seriam apoiadas as iniciativas colectivas e individuais de
empreendedorismo, e até 2009 alguns projectos estavam a ser apoiados e
estão a produzir já sementes melhoradas que irão contribuir para aumentar
a produção e qualidade acrescentada;

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Problemas
* a questão da água para irrigação continuava a ser uma preocupação, embora
não tenha sido colocada como prioritária nesta fase;

NB:. Sobre a NEPAD E INTEGRAÇÃO REGIONAL NO ÂMBITO DA


AGRICULTURA, os apontamentos estão disponíveis na pasta de arquivo nº 07 do
lote de apontamentos disponibilizados pelo docente.

NB: Havendo actualização dos apontamentos, os estudantes receberão tais


novidades oportunamente. Fevereiro de 2019.

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