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REVISÃO PROVA II - FEB

Capítulos 20 a 32 - Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado


20. Gestação da Economia Cafeeira

● Os primeiros anos do século XIX foram marcados pela estagnação ou pela decadência.
As técnicas criadas pela Revolução Industrial não penetraram em grande escala o país
e as que conseguiram não promoveram uma mudança no sistema produtivo
● Havia um problema nacional básico: a expansão da força de trabalho, que estava
estancada na fonte escrava africana.
● Para superar essa etapa de estagnação o Brasil precisava se reintegrar no comércio
internacional, o que era difícil pois o país a economia estava em decadência e
existiam grandes obstáculos para arrecadação de impostos. Então, para contar com a
cooperação do capital estrangeiro a economia deveria se estabilizar através de seus
próprios meios.
○ Mercado do açúcar tornou-se cada vez menos promissor já que havia grandes
concorrentes no mercado mundial
○ O algodão conseguia ser pior que o açúcar, já que os preços foram reduzidos
drasticamente o que tornava a sua rentabilidade extremamente baixa no Brasil,
sendo somente um complemento da economia de subsistência.
○ Outros produtos como fumo, couro, arroz e cacau são pouco relevantes e não
tinham grandes possibilidades de expansão.
● Problemas brasileiro:
○ necessitava encontrar produtos para exportação que sua produção tivesse como
fator básico a terra que era abundante;
○ Capitais praticamente não existiam;
○ Mão-de-obra unicamente escrava que estava voltada para indústria açucareira
ou prestando serviços domésticos;
● Na metade do século XIX, o café já exercia predominância e suas características
correspondiam às condições necessárias do território brasileiro.
○ Sua produção se concentrou na região montanhosa próximo a capital do país
○ Nas proximidades dessa região havia abundância de mão de obra
○ A proximidade do porto permitia solucionar o problema do transporte através
do uso de mulas.
○ A primeira fase da expansão cafeeira se realiza com base num aproveitamento
de recursos preexistentes e subutilizados.
○ A empresa cafeeira permite o uso intenso da mão-de-obra escrava como a
açucareira mas apresenta um grau de capitalização muito mais baixo pois se
baseia no uso amplo da terra. As necessidades monetárias de reposição são
menores porque utilizam de equipamentos simples que geralmente são
produzidos localmente.
● A gestação da economia cafeeira é marcada pela formação de uma nova classe
empresária dirigente
○ Foi formada inicialmente por homens da região que tinham experiência com o
comércio de gêneros e de animais para transporte dos mesmos.

● Como a classe cafeeira se diferencia da classe açucareira?


○ Classe açucareira:
■ Atividades comerciais eram monopólio portugues ou holandes
■ As fases produtiva e comercial estavam rigorosamente isoladas,
carecendo os homens que dirigiam a produção de qualquer perspectiva
de conjunto da economia açucareira.
■ As decisões fundamentais eram todas tomadas partindo da fase
comercial.
■ A separação política de Portugal instaurou um vazio que foi preenchido
pelos ingleses.
○ Classe cafeeira:
■ Formada por empresários com experiência comercial
■ Em toda a etapa da gestação os interesses da produção e do comércio
estavam entrelaçados.
■ Formação baseada em: aquisição de terras, recrutamento de mão de
obra, organização e direção da produção, transporte interno,
comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política
financeira e econômica.
■ Desde cedo eles compreenderam a enorme importância que podia ter
o governo como instrumento de ação econômica.
■ É por essa consciência clara de seus próprios interesses que eles se
diferenciam de outros grupos dominantes anteriores ou
contemporâneos.

21. O Problema da Mão-de-obra ( I. Oferta interna potencial)

● Pela grande utilização de mão-de-obra escrava no Brasil, ao se fazer qualquer


empreendimento, teria de lidar com a inelasticidade da oferta de trabalho. *
● A população escrava brasileira tinha uma taxa de mortalidade superior à de natalidade
devido às condições precárias a que eram submetidos.
● “O regime alimentar da massa escrava ocupada nas plantações açucareiras era
particularmente deficiente. Ao crescer a procura de escravos no sul para as plantações
de café, intensifica-se o tráfico interno, em prejuízo das regiões que já estavam
operando com rentabilidade reduzida.”
● “Demais, é provável que a redução do abastecimento de africanos e a elevação do
preço destes hajam provocado uma intensificação na utilização da mão de obra e
portanto um desgaste ainda maior da população escrava.”
● A questão da mão de obra se agrava com a eliminação da única fonte de imigração
importante. Mas qual eram as características da economia brasileira na época que
contextualizava esse problema? Como ela se expandia?
○ O crescimento da economia brasileira consistia em ampliar a utilização do
fator disponível (a terra) mediante a incorporação de mais mão-de-obra.
○ O problema central: a mão-de-obra.
○ O setor de subsistência não constituía uma opção viável para resolver esse
problema. Isso porque o setor, que se estendia do norte ao extremo sul, estava
amplamente disperso, sua densidade econômica era mínima e sua propriedade
estava altamente concentrada. Mas a questão central se verificava no não
pagamento apropriado da renda da terra que era abundante.
○ O homem da economia de subsistência não vivia apenas da sua roça, mas
estava ligado a um grupo econômico maior.
○ “ [...] a economia de subsistência de maneira geral estava de tal forma
dispersa que o recrutamento de mão de obra dentro da mesma seria tarefa
bastante difícil e exigiria grande mobilização de recursos.”

● Mas não somente no sistema de subsistência existia mão de obra trabalhando com
baixíssima produtividade, e que podia ser considerada como reserva potencial de força
de trabalho. Também nas zonas urbanas se havia acumulado uma massa de população
que dificilmente encontrava ocupação permanente.

23. O Problema da Mão-de-obra (Transumância amazônica)

● Grande movimento de população do Nordeste para a Amazônia no final do século


XIX e início do século XX.
● A economia amazônica se encontrava em letargia.
● As produções na região, do algodão ao cacau, enfrentavam o mesmo obstáculo: a
quase inexistência de população e a dificuldade de organizar a produção com
base no escasso elemento indígena local.
● A borracha estava destinada, nos fins do século XIX e começo do XX, a
transformar-se na matéria-prima de procura em mais rápida expansão no mercado
mundial.
● Sendo a borracha um produto “extrativo” e estando o estoque de árvores então
existente concentrado na bacia amazônica, o problema de como aumentar sua
produção para atender a uma procura mundial crescente se afigurava extremamente
difícil.
● Uma vez demonstrado que uma ou mais das plantas que produzem a matéria-prima da
borracha podiam adaptar-se a outras regiões de clima similar, a produção de
borracha teria de desenvolver-se de preferência ali onde existisse um adequado
suprimento de mão de obra e recursos para financiar o seu longo período de
gestação.Todavia, a rapidez com que crescia a procura de borracha nos países
industrializados, em fins do século XIX, exigia uma solução a curto prazo.
● A primeira fase da economia da borracha se desenvolve totalmente na região
amazônica e está marcada pelas grandes dificuldades que apresenta o meio.
● Ainda mais do que no caso do café, a expansão da produção de borracha na Amazônia
era uma questão de suprimento de mão de obra.
● Esse aumento da produção deveu-se exclusivamente ao influxo de mão de obra, pois
os métodos de produção em nada se modificaram.
● Essa enorme transumância indica claramente que em fins do século XIX já existia no
Brasil um reservatório substancial de mão de obra e leva a crer que, se não tivesse sido
possível solucionar o problema da lavoura cafeeira com imigrantes europeus, uma
solução alternativa teria surgido dentro do próprio país.
● A população do Nordeste, conforme já indicamos, estava ocupada, desde o primeiro
século da colonização, em dois sistemas econômicos: o açucareiro e o pecuário. A
decadência da economia açucareira, a partir da segunda metade do século XVII,
determinou a transformação progressiva do sistema pecuário em economia de
subsistência.
● Os governos dos estados amazônicos interessados organizaram serviços de
propaganda e concederam subsídios para gastos de transporte. Formou-se, assim, a
grande corrente migratória que fez possível a expansão da produção de borracha na
região amazônica, permitindo à economia mundial preparar-se para uma solução
definitiva do problema.
● O grande movimento de população nordestina para a Amazônia consistiu basicamente
em um enorme desgaste humano em uma etapa em que o problema fundamental da
economia brasileira era aumentar a oferta de mão de obra
● O imigrante europeu, exigente e ajudado por seu governo, chegava à plantação de café
com todos os gastos pagos, residência garantida, gastos de manutenção assegurados
até a colheita. Ao final do ano estava buscando outra fazenda em que lhe oferecessem
qualquer vantagem. Dispunha sempre de terra para plantar o essencial ao alimento de
sua família, o que o defendia contra a especulação dos comerciantes na parte mais
importante de seus gastos. A situação do nordestino na Amazônia era bem diversa:
começava sempre a trabalhar endividado, pois via de regra obrigavam-no a reembolsar
os gastos com a totalidade ou parte da viagem, com os instrumentos de trabalho e
outras despesas de instalação.

24. O Problema da Mão-de-obra (IV. Eliminação do trabalho escravo)

● Constituindo a escravidão no Brasil a base de um sistema de vida secularmente


estabelecido, e caracterizando-se o sistema econômico escravista por uma grande
estabilidade estrutural, explica-se facilmente que para o homem que integrava esse
sistema a abolição do trabalho servil assumisse as proporções de uma “hecatombe
social”.
● Prevalecia então a ideia de que um escravo era uma “riqueza” e que a abolição da
escravatura acarretaria o empobrecimento do setor da população que era responsável
pela criação de riqueza no país.
● A abolição da escravatura, à semelhança de uma “reforma agrária”, não constitui per
se nem destruição nem criação de riqueza. Constitui simplesmente uma
redistribuição da propriedade dentro de uma coletividade.
● A aparente complexidade desse problema deriva de que a propriedade da força de
trabalho, ao passar do senhor de escravos para o indivíduo, deixa de ser um ativo que
figura numa contabilidade para constituir-se em simples virtualidade.
● Do ponto de vista econômico, o aspecto fundamental desse problema radica no tipo de
repercussões que a redistribuição da propriedade terá na organização da produção, no
aproveitamento dos fatores disponíveis, na distribuição da renda e na utilização final
dessa renda.
● Dois casos possíveis:
○ Em algumas ilhas das Antilhas inglesas, em que as terras já haviam sido
totalmente ocupadas e os ex-escravos não dispunham de nenhuma
possibilidade de emigrar, a abolição da escravatura assumiu esse aspecto de
mudança formal, passando o escravo liberado a receber um salário monetário
que estava fixado pelo nível de subsistência prevalecente, o qual por sua vez
refletia as condições de vida dos antigos escravos.124 Nesse caso extremo, a
redistribuição da “riqueza” não teria sido acompanhada de quaisquer
modificações na organização da produção ou na distribuição da renda.
○ O caso extremo oposto seria aquele em que a oferta de terra fosse totalmente
elástica: os escravos, uma vez libertados, tenderiam, então, a abandonar as
antigas plantações e dedicar-se à agricultura de subsistência. Neste caso, as
modificações na organização da produção seriam enormes, baixando o grau de
utilização dos fatores e a rentabilidade do sistema. Esse caso extremo,
entretanto, não poderia concretizar-se, pois os empresários, vendo-se privados
da mão de obra, tenderiam a oferecer salários elevados, retendo dessa forma
parte dos ex-escravos. A consequência última seria, portanto, uma
redistribuição da renda em favor da mão de obra.
● A economia açucareira se aproximou mais da primeira e a cafeeira mais da segunda
○ Economia açucareira:
■ As terras de utilização agrícola mais fácil já estava ocupada em quase
totalidade
■ Dificuldade em viver após abandono dos engenhos
■ excedente de população nas regiões urbanas
■ no interior a economia de subsistência se expandia
■ Não foi difícil manter a força de trabalho escravo com salários
relativamente baixos
■ Destarte, a contração da oferta provocada pela abolição da escravatura
não chegou a ter consequências graves sobre a utilização dos recursos e
muito provavelmente não provocou qualquer modificação sensível na
distribuição da renda.
○ Economia cafeeira:
■ Todavia, se bem não tenha havido um forte incentivo para que os
antigos escravos se deslocassem em massa para o planalto paulista, a
situação dos mesmos na antiga região cafeeira passou a ser muito mais
favorável que a daqueles da região açucareira do Nordeste. A relativa
abundância de terras tornava possível ao antigo escravo refugiar-se na
economia de subsistência. A dispersão, entretanto, foi menor do que se
poderia esperar, talvez por motivos de caráter social, e não
especificamente econômicos.
■ A situação favorável, do ponto de vista das oportunidades de trabalho,
que existia na região cafeeira valeu aos antigos escravos liberados
salários relativamente elevados. Com efeito, tudo indica que na região
do café a abolição provocou efetivamente uma redistribuição da renda
em favor da mão de obra.
● Observada a abolição de uma perspectiva ampla, comprova-se que a mesma constitui
uma medida de caráter mais político que econômico. A escravidão tinha mais
importância como base de um sistema regional de poder que como forma de
organização da produção. Abolido o trabalho escravo, praticamente em nenhuma parte
houve modificações de real significação na forma de organização da produção e
mesmo na distribuição da renda

25. Nível de renda e ritmo de crescimento na segunda metade do século XIX

● Na segunda metade do século XIX o comércio exterior, o setor dinâmico do sistema,


é no seu comportamento que está a chave do processo de crescimento nessa etapa.
● Sendo o açúcar e o algodão os dois únicos artigos de significação na exportação
nordestina, depreende-se claramente que o desenvolvimento da segunda metade do
século XIX não se estendeu a todo o território do país.
● Para fins de análise do comportamento da renda real, no período que estamos
considerando, convém dividir a economia brasileira em três setores principais. O
primeiro, constituído pela economia do açúcar e do algodão e pela vasta zona de
economia de subsistência a ela ligada, se bem que por vínculos cada vez mais débeis.
O segundo, formado pela economia principalmente de subsistência do sul do país. O
terceiro, tendo como centro a economia cafeeira.
○ O primeiro desses sistemas está formado pela faixa que se estende desde o
Maranhão até Sergipe. A população dos oito estados da região referida,129
segundo o censo de 1872, ainda representava a terça parte da população do
país.
○ O segundo sistema estava formado pela economia principalmente de
subsistência, que se beneficiou indiretamente com a expansão das exportações.
Encontrando um mercado dentro do país capaz de absorver seus excedentes de
produção, alguns setores da economia de subsistência puderam expandir a
faixa monetária de suas atividades produtivas.
○ O terceiro sistema estava constituído pela região produtora de café. Essa região
compreendia então os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais
e São Paulo. Esses dados põem em evidência que o desenvolvimento da região
cafeeira se realizou, durante essa etapa, com transferência de mão de obra das
regiões de mais baixa produtividade — e certamente do setor de subsistência
dessa região — para outras de mais alta produtividade. Ou seja, um processo
inverso ao ocorrido no Nordeste durante a mesma época.
● Esse atraso tem sua causa não no ritmo de desenvolvimento dos últimos cem anos, o
qual parece ter sido razoavelmente intenso, mas no retrocesso ocorrido nos três
quartos de século anteriores. Não conseguindo o Brasil integrar-se nas correntes em
expansão do comércio mundial durante essa etapa de rápida transformação das
estruturas econômicas dos países mais avançados, criaram-se profundas
dessemelhanças entre seu sistema econômico e os daqueles países.

26. O fluxo de renda na economia de trabalho assalariado

● Importância relativa do setor assalariado.


● Em um e outro casos o fluxo de renda, real ou virtual, circunscrevia-se a unidades
relativamente pequenas, cujos contatos externos assumiram caráter internacional no
primeiro caso e eram de limitadíssimo alcance no segundo. A nova expansão tem
lugar no setor que se baseia no trabalho assalariado.
● A economia de subsistência se mantém imutável mesmo nos períodos de decadência e
de crescimento (elevado grau de estabilidade).
● A FORMAÇÃO NO BRASIL DE UMA ECONOMIA DE MERCADO INTERNO
○ *Desde o início o furtado fala sobre isso, sobre como só seria possível se
ocorresse a transição do escravismo para o assalariamento.
● Observada em conjunto, a nova economia cafeeira baseada no trabalho assalariado
apresenta certas similaridades com a antiga economia escravista: está constituída por
uma multiplicidade de unidades produtoras que se ligam intimamente às correntes do
comércio exterior. Mas existem diferenças.
● Como se propaga o fluxo de renda criado pelas exportações? (y= c + i de keynes)
○ Os gastos de consumo vêm a constituir a renda dos pequenos produtores,
comerciantes, etc. Os produtores também transformam grande parte de sua
própria renda em gastos de consumo. A soma de todos esses gastos terá
necessariamente de exceder a renda monetária criada pela atividade
exportadora.
○ Desta forma o aumento do impulso externo — atuando sobre um setor da
economia organizado à base de trabalho assalariado — determina melhor
utilização de fatores já existentes no país. Demais, o aumento de produtividade
— efeito secundário do impulso externo — manifesta-se fora da unidade
produtora-exportadora. A massa de salários pagos no setor exportador vem a
ser, por conseguinte, o núcleo de uma economia de mercado interno.
○ O impulso externo de crescimento se apresenta inicialmente, via de regra, sob
a forma de elevação nos preços dos produtos exportados, a qual se transforma
em maiores lucros. Os empresários tratam, como é natural, de reinverter esses
lucros expandindo as plantações.
● IMPORTANTE!!!!! (COMO A MÃO DE OBRA DE SUBSISTÊNCIA IMPEDIU O
AUMENTO DOS PREÇOS DO SALÁRIO REAL)
○ O setor cafeeiro pôde, na verdade, manter seu salário real praticamente estável
durante a longa etapa de sua expansão. Bastou que esse salário fosse, em
termos absolutos, mais elevado que aqueles pagos nos demais setores da
economia, e que a produção se expandisse, para que a força de trabalho se
deslocasse. Portanto, teve importância fundamental, no desenvolvimento do
novo sistema econômico baseado no trabalho assalariado, a existência da
massa de mão de obra relativamente amorfa que se foram formando no país
nos séculos anteriores. Se a expansão da economia cafeeira houvesse
dependido exclusivamente da mão de obra européia imigrante, os salários
teriam se estabelecido em níveis mais altos, à semelhança do que ocorreu na
Austrália e mesmo na Argentina. A mão de obra de recrutamento interno —
utilizada principalmente nas obras de desflorestamento, construções e tarefas
auxiliares — exerceu uma pressão permanente sobre o nível médio dos
salários.
○ Com a absorção de mão de obra pelo setor exportador, a importância relativa
desse centro da economia ia crescendo. Ao serem absorvidos fatores do setor
de subsistência, eleva-se o salário real médio, e ainda mais o salário monetário
médio, pois nesse setor o fluxo monetário era relativamente muito menor.
Destarte, o fato de que o crescimento do setor exportador fosse extensivo não
impedia que o salário médio do conjunto da economia aumentasse. Em síntese,
como a população crescia muito mais intensamente no setor monetário que no
conjunto da economia, a massa de salários monetários — base do mercado
interno — aumentou mais rapidamente que o produto global. (FORMAÇÃO
DO MERCADO INTERNO)

27. A tendência ao desequilíbrio externo

● O funcionamento do novo sistema econômico, baseado no trabalho assalariado,


apresentava uma série de problemas que, na antiga economia exportadora escravista,
apenas se haviam esboçado. Um desses problemas — aliás comum a outras economias
de características similares — consistiria na impossibilidade de adaptar-se às regras do
padrão-ouro, base de toda a economia internacional no período que aqui nos ocupa.
● O princípio fundamental do sistema do padrão-ouro radicava em que cada país deveria
dispor de uma reserva metálica — ou de divisas conversíveis, na variante mais
corrente — suficientemente grande para cobrir os déficits ocasionais de sua balança de
pagamentos. É fácil compreender que uma reserva metálica — estivesse ela amoedada
ou não — constituía uma inversão improdutiva, que era na verdade a contribuição de
cada país para o financiamento a curto prazo das trocas internacionais. A dificuldade
estava em que cada país deveria contribuir para esse financiamento em função de sua
participação no comércio internacional e da amplitude das flutuações de sua balança
de pagamentos
● Estava implícito nessa teoria que, se um país importava mais do que exportava —
criando um desequilíbrio em sua balança de pagamentos —, esse país se veria
obrigado a exportar ouro, reduzindo-se consequentemente o seu meio circulante. Essa
redução, de acordo com a teoria quantitativa, deveria acarretar uma baixa de preços —
contrapartida da alta do preço do ouro —, criando-se automaticamente um estímulo às
exportações e um desestímulo às importações, o que traria consigo a correção do
desequilíbrio. (teoria monetária XIX)
● Numa economia do tipo da brasileira do século XIX, o coeficiente de importações era
particularmente elevado, se se tem em conta apenas o setor monetário, ao qual se
limitavam praticamente as transações externas. Por outro lado, os desequilíbrios na
balança de pagamentos eram relativamente muito mais amplos, pois refletiam as
bruscas quedas de preços das matérias-primas no mercado mundial. Por último,
caberia ter em conta as inter-relações entre o comércio exterior e as finanças públicas,
pois o imposto das importações era a principal fonte de renda do governo central.
● Ao crescer a renda criada pelas exportações, cresce a massa total de pagamentos a
fatores, realizados dentro da economia. Essa renda, conforme vimos, tende a
multiplicar-se, primeiramente em termos monetários e finalmente em termos reais,
dada a existência de fatores subocupados. O aumento da renda se realiza, portanto, em
duas etapas: em primeiro lugar graças ao crescimento das exportações, e em segundo
pelo efeito multiplicador interno. Parte desse aumento da renda terá de ser satisfeita
com importações, conforme uma relação relativamente estável que existe entre o
aumento da renda e o das importações.
● Existia portanto uma etapa intermédia em que a procura de importações continuava
crescendo, se bem que a oferta de divisas já se houvesse reduzido drasticamente.
Nessa etapa é que caberia mobilizar as reservas metálicas. Estas, entretanto, teriam de
ser de grandes proporções para que funcionasse o mecanismo do padrão ouro, não
somente porque a participação das importações no dispêndio total da coletividade era
muito elevada, e as flutuações da capacidade para importar, muito grandes, mas
também porque numa economia desse tipo a conta de capital da balança de
pagamentos se comporta adversamente nas etapas de depressão.

28. A defesa do nível de emprego e a concentração da renda

● A elevação do salário médio no país refletia o aumento de produtividade que se ia


alcançando através da simples transferência de mão de obra da economia estacionária
de subsistência para a economia exportadora. As melhoras de produtividade obtidas na
própria economia exportadora, essas o empresário podia retê-las, pois nenhuma
pressão se formava dentro do sistema que o obrigasse a transferi-las total ou
parcialmente para os assalariados.
● Não existindo nenhuma pressão da mão de obra no sentido da elevação dos salários,
ao empresário não interessava substituir essa mão de obra por capital, isto é, aumentar
a quantidade de capital por unidade de mão de obra. Como os frutos dos aumentos de
produtividade revertiam para o capital, quanto mais extensiva fosse a cultura, vale
dizer, quanto maior fosse a quantidade produzida por unidade de capital imobilizado,
mais vantajosa seria a situação do empresário. Transformando-se qualquer aumento de
produtividade em lucros, é evidente que seria sempre mais interessante produzir a
maior quantidade possível por unidade de capital, e não pagar o mínimo possível de
salários por unidade de produto. A consequência prática dessa situação era que o
empresário estava sempre interessado em aplicar seu capital novo na expansão das
plantações, não se formando nenhum incentivo à melhora dos métodos de cultivo.
● Observação idêntica se poderia fazer relativamente à terra. É evidente que se esta
fosse escassa, concluída sua ocupação os empresários seriam induzidos a melhorar os
métodos de cultivo e a intensificar a capitalização para aumentar os rendimentos.
● As condições econômicas em que se desenvolvia a cultura do café não criavam,
portanto, nenhum estímulo ao empresário para aumentar a produtividade física, seja da
terra, seja da mão de obra por ele utilizadas. Era essa, aliás, a forma racional de
crescimento de uma economia onde existiam terra e mão de obra desocupadas ou
subocupadas, e onde era escasso o capital.
● Se a economia operasse dentro das regras do padrão ouro, vale dizer, através da
liquidação de ativos externos e reservas metálicas, a correção do desequilíbrio adviria
como consequência da contração geral que se propagaria do setor exportador a todas
as atividades econômicas. Já observamos que a contração do setor exportador, pela
lógica do sistema, deveria traduzir-se principalmente em redução na margem dos
lucros. A contração da renda global resultante da crise se manifestaria, portanto,
basicamente, numa redução das remunerações das classes não assalariadas. Como nos
gastos de consumo dessas classes de altas rendas os produtos importados participavam
com elevada parcela, é evidente que uma brusca contração nos lucros do setor
exportador tenderia a reduzir a procura de bens importados.
● A correção do desequilíbrio através da taxa cambial era uma operação de natureza e
consequências inteiramente distintas. Ao reduzirem-se os preços dos produtos
exportados — no caso, o café — tendia a baixar bruscamente o poder aquisitivo
externo da moeda nacional.144 Essa baixa se processava mesmo antes que se
materializasse o desequilíbrio, pois a simples previsão de que viria tal desequilíbrio
era suficiente para que tivesse início uma corrida contra o valor externo da moeda.
● Explica-se, portanto, que a economia procurasse por todos os meios manter o seu nível
de emprego durante os períodos de depressão. Qualquer que fosse a redução no preço
internacional do café, sempre era vantajoso, do ponto de vista do conjunto da
coletividade, manter o nível das exportações. Defendia-se, assim, o nível de emprego
dentro do país e limitavam-se os efeitos secundários da crise. Sem embargo, para que
esse objetivo fosse alcançado era necessário que o impacto da crise não se
concentrasse nos lucros dos empresários, pois do contrário parte destes últimos seria
forçada a paralisar suas atividades por impossibilidade financeira de enfrentar maiores
reduções em suas receitas
● Conta em transações correntes
○ levando em consideração que a importação se mantenha constante a variação
da exportação (+, -) vai definir um déficit ou superávit, que em relação às (△)
reservas metálicas do país, vai constituir uma perda ou acúmulo de ouro. Era
do interesse da indústria cafeeira a depreciação artificial cambial, para
manutenção do preço do café no mercado internacional. Diante disso, a
indústria cafeeira consegue tornar seus interesses pessoais em interesses
internacionais (claro que nem todos os setores vão se agradar com essas
medidas).
○ Conta em transações de capital: Para manter o câmbio desvalorizado, o
governo brasileiro amplia seu endividamento externo. Isso significa um
aumento das despesas com os juros da dívida. Diante da impossibilidade de
aumentar as receitas, o governo brasileiro passa a emitir moeda. A
consequência da emissão de moeda é um processo inflacionário.

29. A descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão

● Por um lado, havia transferências entre o setor de subsistência e o exportador, em


benefício deste último, pois os preços que pagava o setor de subsistência pelo que
importava cresciam relativamente aos preços que pagava o setor exportador pelos
produtos de subsistência. Por outro, havia importantes transferências dentro do próprio
setor exportador, uma vez que os assalariados rurais empregados neste último, se bem
que produzissem boa parte de seus próprios alimentos, recebiam em moeda a principal
parte de seu salário e consumiam uma série de artigos de uso corrente que eram
importados ou semimanufaturados no país com matéria-prima importada. Os núcleos
mais prejudicados eram, entretanto, as populações urbanas
● Ao depreciar-se a moeda, reduzia-se a importância ad valorem do imposto,
acarretando dois efeitos de caráter regressivo. Por um lado, a redução real do gravame
era maior para os produtos que pagavam maior imposto, isto é, para os artigos cujo
consumo se limitava às classes de alta renda. Por outro, a redução relativa das receitas
públicas obrigava o governo a emitir para financiar o déficit, e as emissões operavam
como um imposto altamente regressivo, pois incidiam particularmente sobre as classes
assalariadas urbanas.
● A redução do valor em ouro da receita governamental era tanto mais grave porque o
governo tinha importantes compromissos a saldar em ouro. Ao depreciar-se o câmbio,
o governo era obrigado a dedicar uma parte muito maior de sua receita em moeda
nacional ao serviço da dívida externa. E, em consequência, para manter os serviços
públicos mais indispensáveis, via-se obrigado a emitir moeda-papel.
● O aumento da importância relativa do serviço da dívida na despesa pública tornou
mais e mais difícil ao governo financiar seus gastos com receitas correntes nas etapas
de depressão. Dessa forma, estabelecia-se uma íntima conexão entre os empréstimos
externos, os déficits orçamentários, as emissões de papel-moeda — em boa parte
efetuadas para financiar os déficits — e os desequilíbrios da conta corrente da balança
de pagamentos, através das flutuações da taxa de câmbio.
● A forma de operar do sistema fiscal merece particular atenção, pois, se por um lado
contribuía para reduzir o impacto das flutuações externas, por outro agravava o
processo de transferência regressiva da renda nas etapas de depressão. O fato de que se
reduzisse a carga fiscal ao depreciar-se a moeda — isto é, nas etapas em que os preços
dos produtos exportados baixavam no mercado internacional — operava
evidentemente como um fator compensatório da pressão deflacionária externa. Sem
embargo, a redução da carga fiscal se fazia principalmente em benefício dos grupos
sociais de rendas elevadas. Por outro lado, a cobertura dos déficits com emissões de
papel-moeda criava uma pressão inflacionária cujos efeitos imediatos se sentiam mais
fortemente nas zonas urbanas. Dessa forma, a depressão externa (redução dos preços
das exportações) transformava-se internamente em um processo inflacionário.
● A descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão foram
processos que ocorreram durante a transição para a República no Brasil. O governo
imperial, que tinha ligações com os interesses escravistas, não demonstrava
sensibilidade em relação aos problemas regionais do país . Com a proclamação da
República em 1889, houve um movimento de reivindicação da autonomia regional,
dando aos novos governos estaduais um papel fundamental na política
econômico-financeira nos primeiros decênios da vida republicana .Essa
descentralização reduziu o controle dos grupos agrícola-exportadores sobre o governo
central, resultando em tensões entre os níveis de governo estadual e federal . A
formação de novos grupos de pressão ocorreu como resultado dessas mudanças
políticas e econômicas, à medida que diferentes setores da sociedade buscavam
influenciar as decisões governamentais de acordo com seus interesses específicos.
● A descentralização republicana no Brasil teve várias consequências significativas.
Uma delas foi a transferência de poder e autonomia dos governos estaduais, que
passaram a desempenhar um papel fundamental na política econômico-financeira do
país . Isso resultou em uma maior participação e influência dos estados na tomada de
decisões, especialmente em questões relacionadas à economia. Além disso, a
descentralização republicana permitiu uma maior integração dos grupos que dirigiam a
economia cafeeira com a maquinaria político-administrativa . Os interesses locais
passaram a ter mais voz e representação, o que possibilitou uma resposta mais ágil e
eficiente às demandas regionais. No entanto, é importante ressaltar que a
descentralização também trouxe desafios e tensões entre os níveis de governo estadual
e federal. A distribuição de poder e recursos nem sempre foi equilibrada, o que gerou
conflitos políticos e disputas de interesses. Em resumo, as consequências da
descentralização republicana incluíram uma maior participação dos governos estaduais
na política econômico-financeira, uma integração mais completa dos grupos
econômicos com a esfera política e administrativa, bem como desafios e tensões entre
os diferentes níveis de governo.
● Com a descentralização republicana e a formação de novos grupos sociais, surgiram
diferentes grupos de pressão que buscavam influenciar as decisões governamentais de
acordo com seus interesses específicos . Alguns desses grupos incluíam:
○ 1. Classe média urbana: Composta por empregados do governo, civis e
militares, e do setor comercial, a classe média urbana se tornou um grupo de
pressão importante. Eles buscavam defender seus interesses e reivindicar
melhores condições de trabalho e benefícios sociais .
○ 2. Assalariados urbanos e rurais: Os trabalhadores assalariados, tanto nas áreas
urbanas quanto rurais, também se organizaram em grupos de pressão. Eles
lutavam por melhores salários, condições de trabalho e direitos trabalhistas .
○ 3. Produtores agrícolas ligados ao mercado interno: Os produtores agrícolas
que dependiam do mercado interno também se tornaram um grupo de pressão.
Eles buscavam proteção e apoio governamental para enfrentar a concorrência
externa e garantir melhores condições para a produção e comercialização de
seus produtos .
○ 4. Empresas estrangeiras que exploravam serviços públicos: Algumas
empresas estrangeiras que exploravam serviços públicos, como transporte e
energia, também se tornaram grupos de pressão. Eles buscavam garantias e
benefícios do governo para suas operações no país .
○ 5. Grupos industriais emergentes: Os grupos industriais que estavam em
ascensão também se tornaram um novo grupo de pressão. Eles estavam mais
interessados em aumentar a capacidade produtiva e enfrentavam desafios
relacionados aos preços dos equipamentos importados. Eles buscavam apoio
governamental para impulsionar o setor industrial .
○ Esses são alguns exemplos dos novos grupos de pressão que surgiram durante
a descentralização republicana no Brasil. Eles representavam diferentes setores
da sociedade e buscavam influenciar as políticas governamentais de acordo
com seus interesses específicos.

30. A crise da economia cafeeira

● No caso do Brasil, o produto que apresentava maior vantagem relativa era o café.
Enquanto o preço deste artigo não baixasse a ponto de que aquela vantagem
desaparecesse, os capitais formados no país continuariam acorrendo para a cultura do
mesmo. Portanto, era inevitável que a oferta de café tendesse a crescer, não em função
do crescimento da procura, mas sim da disponibilidade de mão de obra e terras
subocupadas, e da vantagem relativa que apresentasse esse artigo de exportação.
● A ideia de retirar do mercado parte desses estoques amadurece cedo no espírito dos
dirigentes dos estados cafeeiros, cujo poder político e financeiro fora amplamente
acrescido pela descentralização republicana. No convênio celebrado em Taubaté em
fevereiro de 1906, definem-se as bases do que se chamaria política de “valorização”
do produto. Em essência, essa política consistia no seguinte: a) com o fim de
restabelecer o equilíbrio entre oferta e procura de café, o governo interviria no
mercado para comprar os excedentes; b) o financiamento dessas compras se faria com
empréstimos estrangeiros; c) o serviço desses empréstimos seria coberto com um novo
imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada; d) a fim de solucionar o
problema mais a longo prazo, os governos dos estados produtores deveriam
desencorajar a expansão das plantações.
● A crise da economia cafeeira no Brasil ocorreu no final do século XIX e início do
século XX, e foi causada por uma série de fatores econômicos e políticos . A produção
de café era a principal atividade econômica do país na época, e a crise teve um
impacto significativo na economia brasileira como um todo. Uma das principais
causas da crise foi a superprodução de café, que levou a uma queda nos preços
internacionais do produto. Isso ocorreu porque outros países, como a Colômbia e a
Costa Rica, também começaram a produzir café em grande quantidade, aumentando a
oferta global e reduzindo os preços . Além disso, a crise foi agravada pela falta de
investimentos na manutenção e reposição dos cafezais. Os produtores de café estavam
mais preocupados em maximizar seus lucros a curto prazo, em vez de investir em
melhorias a longo prazo. Isso levou a uma redução na capacidade produtiva dos
cafezais, que foi reduzida em cerca de metade nos quinze anos que se seguiram à crise.
Outro fator que contribuiu para a crise foi a falta de diversificação da economia
brasileira. O país dependia muito da exportação de café, o que tornou a economia
vulnerável a flutuações nos preços internacionais do produto. Além disso, a economia
brasileira era altamente dependente da importação de bens de capital e tecnologia, o
que tornava o país vulnerável a mudanças nas condições de comércio internacional.A
crise da economia cafeeira teve um impacto significativo na economia brasileira.
Muitos produtores de café foram à falência, e a economia do país entrou em recessão.
No entanto, a crise também levou a mudanças significativas na economia brasileira,
incluindo a diversificação da produção agrícola e a expansão do setor industrial .

31. Os mecanismos de defesa e a crise de 1929

● A crise de 1929, também conhecida como a Grande Depressão, teve um impacto


significativo na economia cafeeira do Brasil . Antes da crise, a produção de café no
país estava em alta, impulsionada por estímulos artificiais e um crescimento de quase
cem por cento entre 1925 e 1929 . No entanto, quando a crise atingiu o Brasil, a
economia cafeeira estava em uma situação extremamente vulnerável. A crise de 1929
resultou em uma queda drástica na demanda internacional por café, o que levou a uma
queda acentuada nos preços do produto . Isso teve um impacto devastador na
economia cafeeira brasileira, uma vez que o país dependia fortemente das exportações
de café para sustentar sua economia. Para lidar com a crise, foram adotados
mecanismos de defesa pela economia cafeeira. Um desses mecanismos foi a redução
da produção de café por meio de políticas de arranquio, ou seja, a destruição de pés de
café para diminuir a oferta e, assim, tentar estabilizar os preços . Essa medida visava
equilibrar a oferta e a demanda, evitando uma queda ainda maior nos preços. Além
disso, o governo brasileiro implementou políticas de intervenção no mercado, como a
compra e estocagem de café para regular a oferta e tentar manter os preços em níveis
mais estáveis . Essas ações foram realizadas pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC),
criado em 1933, que tinha como objetivo controlar a produção e a comercialização do
café. No entanto, apesar desses mecanismos de defesa, a economia cafeeira brasileira
sofreu um impacto significativo e levou a uma crise profunda. A dependência
excessiva do café como principal produto de exportação e a falta de diversificação da
economia tornaram o país vulnerável a choques externos, como a crise de 1929.

32. Deslocamento do centro dinâmico

● O deslocamento do centro dinâmico no Brasil ocorreu como resultado das políticas de


defesa do setor cafeeiro e das transformações econômicas e sociais que o país passou
durante o século XX . Inicialmente, o centro dinâmico da economia brasileira estava
concentrado na região cafeeira, principalmente em São Paulo. A produção e
exportação de café eram as principais atividades econômicas do país, e a região de São
Paulo se tornou o principal polo produtor e comercial do produto. No entanto, com o
passar do tempo, as políticas de defesa do setor cafeeiro, como o financiamento dos
estoques de café com recursos externos, começaram a exercer pressão sobre a
estrutura do sistema econômico . Essas políticas evitavam o desequilíbrio na balança
de pagamentos, mas também criavam uma dependência excessiva do café como
principal produto de exportação. Essa dependência do café como motor da economia
brasileira levou a um deslocamento do centro dinâmico para outras regiões e setores
da economia. Com o tempo, outros setores, como a indústria, começaram a ganhar
importância e se tornaram novos centros dinâmicos da economia brasileira. O
processo de deslocamento do centro dinâmico foi impulsionado por fatores como a
diversificação da economia, a industrialização e a urbanização do país . O
desenvolvimento de setores como a indústria automobilística, a siderurgia, a
petroquímica e a construção civil contribuíram para o crescimento de outras regiões,
como o Sudeste, o Sul e o Nordeste. Esse deslocamento do centro dinâmico resultou
em uma maior distribuição de atividades econômicas pelo país, reduzindo a
dependência excessiva do café e promovendo o desenvolvimento de outras regiões e
setores . No entanto, é importante ressaltar que o café ainda desempenha um papel
importante na economia brasileira, mas seu peso relativo diminuiu ao longo do tempo.

Fluxo de renda e redistribuição de renda pela economia cafeeira

A economia cafeeira é capaz de gerar um fluxo de renda que provoca a formação de um


mercado interno por vários motivos:

Primeiramente, o cultivo do café era uma atividade altamente lucrativa para os produtores,
que passaram a investir cada vez mais na produção e na expansão da lavoura. Com isso,
houve um aumento significativo na produção, o que gerou um excedente de produtos que
precisava ser vendido. Além disso, a produção de café demandava uma grande quantidade de
mão de obra, o que gerava empregos diretos e indiretos em toda a cadeia produtiva, desde a
colheita até o transporte e a industrialização. Esses trabalhadores recebiam salários e,
consequentemente, passavam a ter poder de compra para adquirir bens e serviços. Com a
expansão da produção e a disponibilidade de recursos financeiros, os produtores investiram
também em infraestrutura, como estradas, ferrovias, portos e armazéns, o que facilitou o
escoamento da produção e a integração de diferentes regiões do país. Todo esse processo
contribuiu para o surgimento de um mercado interno cada vez mais forte e diversificado, que
abrangia desde a compra de bens de consumo básicos até a aquisição de produtos de luxo,
passando por serviços como transportes, comunicações, saúde e educação. Assim, a economia
cafeeira estimulou o desenvolvimento de um mercado interno capaz de absorver parte do
excedente de produção e de gerar novas oportunidades de negócios, o que contribuiu para a
diversificação da economia brasileira e para a consolidação de um mercado interno dinâmico
e integrado

Tendência ao desequilíbrio externo

Celso Furtado, em seu livro Formação Econômica do Brasil, cita a tendência ao desequilíbrio
externo como uma característica do processo de desenvolvimento econômico brasileiro. Essa
tendência consiste na dependência em relação aos fluxos de comércio internacional, que
tendem a gerar desequilíbrios na balança comercial do país. Segundo Furtado, a economia
brasileira era, desde o período colonial, baseada na exportação de matérias-primas e produtos
agrícolas, como o açúcar, o ouro, o café e outros produtos agrícolas. Essa especialização na
produção e na exportação desses bens gerou um desequilíbrio estrutural na balança comercial
do país, uma vez que as importações eram essenciais para a manutenção da economia e para o
desenvolvimento de outras atividades produtivas. Essa dependência em relação às
importações gerava uma pressão constante sobre a balança comercial, uma vez que o país
precisava exportar cada vez mais para poder financiar as importações necessárias. Isso gerava
um desequilíbrio, pois o valor das exportações era insuficiente para financiar o volume
crescente de importações. Além disso, a dependência do comércio internacional também
gerava vulnerabilidades em relação às flutuações econômicas mundiais, como as variações
nos preços das commodities produzidas, as flutuações cambiais e as mudanças nas políticas
comerciais dos países compradores. Essa tendência ao desequilíbrio externo contribuiu para
que a economia brasileira fosse constantemente marcada por ciclos de crescimento e recessão,
gerando instabilidade e insegurança para os agentes econômicos. Furtado defendia que a
superação dessa dependência exigia políticas econômicas que favorecessem a diversificação
da economia e a criação de capacidades locais de produção, reduzindo a vulnerabilidade do
país em relação ao comércio internacional.

Depreciação cambial

A depreciação cambial é um processo no qual a moeda nacional perde valor em relação a


outras moedas estrangeiras. Celso Furtado, em seu livro Formação Econômica do Brasil, cita
que esse processo ocorreu diversas vezes na história econômica do Brasil e teve impactos
significativos na balança comercial do país. O processo de depreciação cambial começa
quando a demanda por moeda estrangeira aumenta, o que pode ocorrer por diversos motivos,
como o aumento das importações ou a queda nas exportações. Quando a oferta de moeda
estrangeira é limitada, ocorre uma pressão sobre o câmbio, o que pode depreciar o valor da
moeda nacional em relação aos outros países. A depreciação cambial tem impactos sobre a
economia do país. Por um lado, ela pode estimular as exportações, tornando os produtos
brasileiros mais competitivos em relação aos produtos estrangeiros. Isso ocorre porque, com o
câmbio desvalorizado, os produtos brasileiros ficam mais baratos em moeda estrangeira, o
que aumenta a demanda por eles. Ao mesmo tempo, a depreciação cambial pode elevar o
preço dos produtos importados, o que acaba por reduzir a demanda por eles, favorecendo a
indústria nacional. Por outro lado, a depreciação cambial também pode gerar inflação, uma
vez que o aumento no preço dos produtos importados pode ser repassado para os preços dos
produtos vendidos no mercado interno. Além disso, se o país for dependente de importações
para o seu consumo interno, uma depreciação cambial pode gerar um aumento no custo de
vida para a população. Furtado cita que a depreciação cambial foi um recurso frequentemente
utilizado pelo governo brasileiro para equilibrar a balança comercial, especialmente durante o
período de industrialização por substituição de importações. No entanto, esse processo não foi
suficiente para resolver completamente os desequilíbrios estruturais da economia brasileira,
que ainda sofria com a dependência em relação aos fluxos de comércio internacional.

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