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Material Teórico
Economia Escravista de Agricultura Tropical
Revisão Textual:
Prof. Esp. Márcia Ota
Economia Escravista de Agricultura Tropical
• Introdução
• Capitalização e nível de renda na colônia açucareira
• Fluxo de renda e crescimento
• Projeção da economia açucareira
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Unidade: Economia Escravista de Agricultura Tropical
Contextualização
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Introdução
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Unidade: Economia Escravista de Agricultura Tropical
Um dos fatores que contribuiu para o êxito dessa indústria foi o privilégio dado ao
donatário de só ele fabricar moenda e engenho de água, além de favores especiais
que foram concedidos para aqueles que instalassem engenhos, tais como: a isenção de
tributos, garantia contra a penhora dos instrumentos de produção, honrarias, títulos e
assim sucessivamente.
A maior dificuldade na etapa inicial era a contratação de mão de obra, já que não houve
adaptação dos índios, para atender toda a escala dos engenhos de açúcar.
Para os colonos europeus, a escravidão era uma questão de sobrevivência, já que não
conseguiram se organizar em comunidades dedicadas a produzir para a subsistência, pois,
para isso, a imigração dessas pessoas deveria ter sido organizada em outras condições.
Os grupos de colonos, que devido à falta de capital ou da escolha da localização errada,
tiveram que se dedicar na captura dos índios. Assim, a primeira atividade econômica estável
dos colonos foi o comércio de índios, apresentado na Figura 1.
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Figura I: Escravidão indígena
A mão de obra indígena permitiu a subsistência dos colonos que estavam localizados em
regiões do país que não se transformaram em produtoras de açúcar, porém, abasteciam essas
regiões com mão de obra.
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Unidade: Economia Escravista de Agricultura Tropical
Todos esses números garantiriam em um período favorável, uma renda de cerca de 2,5
milhões de libras em valores brutos. Em termos líquidos, essa quantia era de 60% desse
montante, já que havia gastos com equipamento importado e reposição de escravos, que
tinham como vida útil, uma média de oito anos.
Levando-se em consideração que a população européia no Brasil não era superior a 30 mil
habitantes, a renda per capita estava muito acima do padrão europeu, que foi estimada em
US$ 350.
Uma renda per capita alta não implica necessariamente em distribuição de toda essa renda,
já que havia uma forte concentração nas mãos da classe de proprietários de engenho.
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Em relação ao gado, estima-se que o número total de bois utilizados nos engenhos era
praticamente o mesmo dos escravos e eles valiam aproximadamente a quinta parte de um
escravo e tinham uma vida média de três anos.
Ainda que os gastos com lenha fossem o mesmo alcançado com os bois (atividades acessórias),
no máximo chegava a 3% da renda gerada pelo setor. Tudo isso leva à conclusão de que pelo
menos 90% da renda gerada no país pela exploração do açúcar estava concentrada nas mãos
da classe dos donos de engenhos e de plantações da cana-de-açúcar.
O que era feito com toda essa riqueza acumulada? Grande parte foi destinada à,
principalmente, artigos de luxo. Como exemplo, a importação com bens de consumo. Dados
relativos à administração holandesa apontam que em 1639 foram arrecadadas cerca de 160
mil libras em impostos de importação, que correspondiam a uma taxa de 20% ad valorem de
um total de importação de 800 mil libras.
Deve-se também levar em consideração que nesse momento, havia uma quantidade grande
com gastos de consumo, devido à necessidade de se manter uma tropa numerosa na colônia.
Excluindo-se esse efeito, ainda sim, é possível afirmar que a indústria açucareira possuía
uma enorme margem para capitalização e que também era suficientemente rentável para
autofinanciar uma duplicação de sua capacidade de produção, a cada período de dois anos.
A despeito de toda essa capacidade de financiamento, a mesma (renda) não foi empregada
com essa finalidade, mas especula-se que ela foi distribuída aos comerciantes que permaneciam
fora da colônia e que foram os responsáveis pelo escoamento da produção.
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Qual era a possibilidade desse sistema econômico apresentar crescimento, bem como
evolução estrutural? Para isso, deve-se observar um pouco mais a fundo os processos não só
de formação de rendam, mas também de acumulação de capital.
O empresário do setor açucareiro operava em grande escala e, para tanto, os capitais
eram importados. Além disso, foram utilizados equipamentos importados e a mão de obra
europeia especializada.
Já que o trabalho indígena não alcançou os objetivos propostos, é bem provável que ele fora
utilizado para alimentar a nova comunidade e nas tarefas de mão de obra não especializada
na fase de instalação.
Uma vez substituída a mão de obra indígena pela africana, em um primeiro momento, não
houve grandes modificações.
Na etapa seguinte, durante o processo de expansão, houve redução da mão de obra
especializada europeia e substituída pela africana, para treinamento daqueles que demonstravam
maior aptidão para as tarefas manuais.
Entretanto, tal redução não foi constatada na mão de obra africana, já que havia necessidade
de reposição, devido ao pequeno tempo médio de expectativa de vida, que pode ser atribuído
aos maus tratos e o modo de vida a que eram submetidos.
Nos EUA, diferentemente do Brasil, essa prática de importação frequente de escravos foi
abolida, quando algumas regiões especializaram-se na criação de escravos. Os portugueses
em nenhum momento adotaram esse tipo de conduta, pois tinham uma visão de curto prazo
sobre essa questão.
Tendo em vista um sistema com esse funcionamento, a inversão de capital em uma economia
exportadora escravista era composta de:
b) a parte maior tem como origem a utilização da força de trabalho, que serviu também
para executar serviços pessoais;
Pode-se apresentar que o lucro do empresário representava a diferença entre o custo de
reposição e de manutenção dessa mão de obra e o valor do produto do trabalho.
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Esse sistema somente fazia crescer a renda do empresário, já que não havia pagamentos
aos funcionários, pois a mão de obra escrava era considerada como custo fixo e gastos de
manutenção.
Desse modo, como os fatores de produção pertenciam ao empresário e toda a renda
gerada pelo processo produtivo voltava para suas mãos e não havia distribuição de renda e
crescimento.
Por isso, enquanto o mercado externo absorvesse todo o açúcar produzido a um nível
adequado de preços, tal sistema apresentaria condições favoráveis para o crescimento, desde
que houvesse quantidades crescentes de escravos e de terras para a plantação e cultivo da cana-
de-açúcar. Deve-se ressaltar que o financiamento não era um problema, como apresentado
anteriormente, devido à alta lucratividade.
Com a abundância das terras, da mão de obra e possibilidade de financiamento mais que
suficiente, o principal fator que limitou o crescimento ainda maior dessa economia foi a
possibilidade de que a oferta superasse a demanda, fato que pressionaria os preços.
Esse crescimento fomentava a ocupação de novas terras onde se formava uma densa
população e o aumento da importação.
De todas as variáveis apresentadas, a mais importante, que desencadeava todo o processo,
era a procura externa. Nos momentos em que isso acontecia, ocorria um processo de
decadência, onde o empresário deveria se adaptar a uma redução da procura ou, ainda, uma
redução nos preços.
Apesar de períodos de decadência, a economia açucareira do Nordeste, resistiu mais de
três séculos a esses movimentos de ápice e queda, sem que houvesse quaisquer mudanças na
estrutura dessa economia.
Esse sistema (ilustrado pela Figura 2) sobreviveu, por exemplo, à concorrência antilhana no
século XVII e no século XIX, voltou a funcionar em plena atividade.
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Como limitações para as duas colônias, pode-se citar a abundância de terras para o cultivo
da cana (São Vicente) e a limitação das terras para a colônia da Nova Inglaterra.
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Com a expansão da economia açucareira, aumentou a necessidade de utilizar animais para
transportar a produção (ilustrado pela Figura 4), já que com a devastação da vegetação litorânea
(com o uso da madeira), se fazia necessário buscar lenha em distâncias cada vez maiores.
Fonte: mestresdahistoria.blogspot.com.br
Além disso, não havia condições de manter a criação de gado na faixa litorânea, isto
é, dentro dos engenhos, devido ao problema de invasão dos animais nas plantações. Foi
justamente dessa separação, ordenada pelo governo português para que a criação de gado não
ocorresse no litoral, surgiram duas atividades econômicas distintas: açucareira e a criatória.
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“No período em que nos fixamos, exercia a criação de gado, na economia social,
uma importância bem maior do que hoje. De fato, antes da era da máquina,
o gado bovino, cavalar e muar, além de produto básico de alimentação, servia
como agente motor e meio de transporte”.
SIMONSEN (1978, p. 149).
Inicialmente, essa atividade foi induzida pela economia açucareira e possuía uma rentabilidade
muito pequena. Como exemplo, pode-se citar que a renda total, gerada pela economia da
criação de gado no Nordeste, não ultrapassou 5% do valor da exportação do açúcar.
Outro ponto que deve ser considerado é que a população que se ocupava dessa atividade era
muito escassa, motivada, sobretudo, pelas condições da própria atividade e possíveis conflitos
com os indígenas, quando havia invasões territoriais.
Essa nova atividade econômica, dependia fundamentalmente da possibilidade de expansão
de suas terras. Não se pode esquecer que à medida em que as distâncias aumentavam, é claro
que o custo também, motivado pelo transporte do gado.
Para os colonos sem capital, essa atividade se mostrou muito atrativa, resultando em grande
mobilidade demográfica. Uma das razões foi a semelhança com o sistema de povoamento
adotados nas colônias inglesas e francesas. Nessas localidades, o homem, que trabalhava na
fazenda de criação de gado durante um tempo, adquiria direito a uma participação no rebanho
em formação, podendo, desse modo, iniciar a sua própria criação de gado.
Em relação à oferta, não existiam fatores que a limitassem. Porém, em relação à demanda,
eles existiam, pois dependiam da empresa açucareira.
Apesar disso, essa atividade devido à grande quantidade de pessoas envolvidas, fez pressão nos
salários e prejudicou, ainda mais, aqueles criadores que se encontravam a grandes distâncias do litoral.
Pode-se concluir que essa atividade foi, em grande medida, uma atividade ligada à subsistência.
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Material Complementar
Livros:
ALLENCASTRO, Luís Felipe de. Trato dos Viventes: A formação do Brasil no Atlântico
Sul. São Paulo: Cia das Letras. 2000.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense,
2000, p. 189-216.
SIMONSEN, R. C. História Econômica do Brasil: 1500/1820. São Paulo: Ed. Nacional,
1978, p. 125-202.
Leituras:
SILVA, M. C. da, BOAVENTURA, V. M. e FIORAVANTI, M. C. S. Dossiê Pecuária:
História do Povoamento Bovino no Brasil Central. Revista UFG, dezembro, 2012,
ano XIII, no. 13.
Disponível em: http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/dezembro2012/arquivos_pdf/05.pdf.
Acessado em 18/02/2015.
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Referências
FURTADO, CELSO. Formação Econômica do Brasil. 34 ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007. Páginas: 75 a 100.
PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Brasiliense, 1970,
p. 21, 22, 23, 24, 26, 28 e 29.
SIMONSEN, R. C. História Econômica do Brasil. 8 ed. São Paulo: Nacional, p. 95, 99,
108, 149 e 154.
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Anotações
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