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Material Teórico
Fundamentos Econômicos da Ocupação Territorial
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Fundamentos Econômicos
da Ocupação Territorial
• Introdução
• Da ocupação à empresa Agrícola
• Fatores do êxito da empresa agrícola
• Razões do Monopólio
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Unidade: Fundamentos Econômicos da Ocupação Territorial
Contextualização
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Introdução
Para que a ocupação do território brasileiro ocorresse com sucesso, Portugal precisou
superar vários desafios, ainda que possuísse uma posição geográfica muito favorável.
Alguns desses desafios foram superados mesmo antes do descobrimento oficial ocorrer,
pois em 1492 o navegador Cristóvão Colombo oficialmente descobriu a América, fato que
resultou na necessidade de dividir esse novo continente.
É justamente nesse contexto que se aplica o Tratado Bula Intercoetera, conforme apresentado
na Figura I. A divisão de terras não foi realizada de modo a contento de Portugal e essa
insatisfação desencadeou a ameaça de guerra entre Portugal e Espanha, fato que motivou a
elaboração de um novo acordo, conhecido como o Tratado de Tordesilhas.
Você já ouviu sobre o Tratado Bula Intercoetera? Quais foram os países envolvidos e o que
foi determinado nele? Em caso negativo, esse é um bom momento para você iniciar seu estudo
adicional com uma pesquisa sobre esse tema.
Fonte: historitura.wordpress.com
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Unidade: Fundamentos Econômicos da Ocupação Territorial
Tratado de Tordesilhas
delimitando os territórios de Portugal e da Espanha
Fonte: historiaonlineceem.blogspot.com.br
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“Sem embargo, os recursos de que dispunha Portugal para colocar
improdutivamente no Brasil eram limitados e dificilmente teriam
sidos suficientes para defender as novas terras por muito tempo”.
FURTADO (2008, p. 27).
Fonte: estudopratico.com.br
Por outro lado, a colonização espanhola foi facilitada, já que fora encontrado ouro com
enorme facilidade, pois os índios o usavam em ornamentos e em vários objetos e esculturas,
conforme apresentado na Figura IV. Isso dotou a Espanha de recursos para aprofundar a
colonização e intensificar a extração de metais preciosos em seus domínios.
“Os espanhóis serão os mais felizes: toparão desde logo nas áreas
que lhe couberam, com os metais preciosos, a prata e o ouro do
México e Peru”.
PRADO JÚNIOR (2000, p. 9).
Nesse momento, as atividades espanholas, fora das regiões ligadas à grande empresa militar
mineira espanhola (México-Peru), resumiam-se ao comércio de peles e madeiras com os índios
e, para tanto, não era necessário mais do que a manutenção de precárias feitorias.
Apesar das nações estarem vivenciando situações ligadas à colonização muito diferentes,
um dilema muito importante colocou tanto à Espanha quanto a Portugal: a possibilidade de
invasão de seus domínios. Por que isso ocorreu?
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Unidade: Fundamentos Econômicos da Ocupação Territorial
A invasão dos domínios portugueses e espanhóis era eminente por pelo menos dois motivos.
Um deles foi a disseminação na Europa de que fora encontrado ouro e outros metais preciosos
no novo continente, em seguida, cabe citar também o descontentamento de outras nações
europeias, como a Inglaterra e a França, com a resolução do Tratado de Tordesilhas.
Diante dessa situação, a Espanha resolveu reduzir seus domínios, visto que, mesmo com
toda a riqueza encontrada, não seria possível policiar uma extensão territorial tão vasta. Nas
terras que não cedeu, aprofundou a colonização, com o objetivo de abastecimento e defesa.
Mesmo com a redução de seus domínios e com a intensificação da defesa da área produtora
de metais, a Espanha não conseguiu evitar a invasão das Antilhas pelos franceses, que tinham
um aspecto estratégico, pois a localização geográfica dessas ilhas correspondia ao centro de
seus domínios.
Fonte: wibajucm.blogspot.com.br
Já Portugal teve que lidar, sobretudo, com a França, que organizou sua primeira expedição
para criar a primeira colônia de povoamento nas novas terras.
Esse movimento dos franceses desencadeou extrema preocupação pelos portugueses
que tentaram a qualquer custo (inclusive com a prática de suborno à corte francesa) evitar a
colonização de suas terras.
Para Portugal, o objetivo era encontrar uma forma de utilizar as terras que não fosse
simplesmente a extração de metais preciosos, pois, desse modo, seria mais fácil cobrir os
gastos de defesa dessas terras.
Foi justamente dessa motivação que teve o início da exploração agrícola das terras brasileiras,
pois deixou de ser meramente espoliativa e extrativa, (como foi na costa da África e nas Índias
Orientais), para se tornar parte da economia europeia, para criar de forma permanente um
fluxo de bens que abastecesse o mercado europeu.
Alguns aspectos dificultaram e muito a implantação desse tipo de exploração, como por
exemplo, os fretes, que eram muito caros devido à grande distância envolvida no transporte.
Além disso, não havia naquele momento uma demanda na Europa que justificasse tal
empreendimento.
Caso os esforços portugueses não tivessem resultados, dificilmente eles teriam se mantido
como uma grande potência na América.
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“Na América a situação se apresentava de forma inteiramente diversa: um
território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer
qualquer coisa de realmente aproveitável. Para os fins mercantis que se tinham
em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias, com um
reduzido pessoal incumbido apenas do negócio, sua administração e defesa
armada; era preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer
e manter as feitorias que se fundassem e organizar a produção dos gêneros que
interessassem ao seu comércio. A ideia de povoar surge daí, e só daí”.
PRADO JÚNIOR (2000, p. 12 e 13).
Alguns fatores contribuíram para o sucesso da produção de açúcar no Brasil. Um desses foi
que os portugueses possuíam colônias onde a produção de açúcar, oriundo da exploração de
cana-de-açúcar, já ocorrera há algumas décadas nas grandes ilhas do Atlântico.
O desenvolvimento desse tipo de empresa resultou no fomento, em Portugal, da indústria de
equipamentos para engenhos de açúcar. Isso forneceu a eles todo o know-how necessário para
viabilizar o mesmo tipo de empreendimento no processo de exploração agrícola no Brasil.
Em relação ao aspecto comercial, a produção de cana-de-açúcar, oriunda dessas ilhas,
era comercializada nas cidades italianas. Esse comércio foi muito importante para romper o
monopólio que os venezianos mantinham do acesso às fontes de produção.
No ano de 1496, ocorreu uma baixa de preço do açúcar e para minimizar o prejuízo, o
governo português decidiu restringir a produção e a distribuição. De acordo com FURTADO
(2007), a produção ocorria de acordo com a seguinte divisão:
“...produção máxima em 120 mil arrobas, sendo que parte da distribuição era:
40 mil para Flandres (norte da Bélgica), 16 mil para Veneza, 13 mil para Gênova,
15 mil para Quios (Ilha do Mar Egeu) e 7 mil para a Inglaterra”.
FURTADO (2007, p.33).
“O açúcar que havia caído em 1506 ao preço de 300 réis por arroba, pouco
mais de 2 gramas-ouro, foi de novo subindo até alcançar, em fins do século XVI,
preço em ouro 6 vezes maior; e 7 vezes mais, quando atingiu, na primeira metade
do século XVII, o período do seu apogeu. As ilhas portuguesas, que chegaram
a produzir mais de 500.000 arrobas e que tinham grande supremacia em
quantidade, preços e qualidades, perderam a favor do Brasil essa predominância
em fins do século XVI”.
SIMONSEN (1978, p. 112).
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Com isso, pode-se afirmar que os flamengos contribuíram para a grande expansão do
mercado de açúcar, na segunda metade do século XVI. Ademais, são considerados um fator
fundamental para o sucesso da colonização no Brasil.
Mas como isso era possível? Isso se deve ao fato de que os holandeses eram o único povo
que capacitado de organização comercial para criar um mercado de grandes proporções para
um produto novo, como foi o açúcar.
Com a expansão do mercado, houve espaço para a absorção da produção brasileira. Além
disso, grande parte do capital utilizado pela empresa açucareira teve origem nos Países Baixos.
Esse capital participou do financiamento das instalações produtivas no Brasil e também da
importação de mão de obra escrava para trabalhar nos engenhos.
Provada a viabilidade da instalação, por meio de sua alta rentabilidade, poderosos grupos
holandeses, que estavam interessados no incremento das vendas do açúcar brasileiro,
financiaram também a expansão da capacidade produtiva.
Resolvida a questão da experiência técnica pelos conhecimentos dos portugueses, o poder
financeiro e a capacidade comercial dos holandeses para viabilizar o negócio, apresentou-se
um novo desafio, a questão da mão de obra.
Para atrair mão de obra suficiente da Europa, somado ao custo de transporte e as condições
de trabalho que eram oferecidas, representavam um custo muito alto.
Uma saída viável era o pagamento por meio de terras para o trabalho que o colono realizasse
durante um período. Essa abordagem não vingou, pois as terras não tinham valor econômico.
A solução encontrada para essa questão foi a utilização da mão de obra escrava, apresentada
na Figura V, já que Portugal também tinha todo o know-how e bastava somente a intensificação
do negócio e organizar a transferência da mesma para a nova colônia.
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à medida que os problemas foram aparecendo, no tempo ideal, as soluções apareceram, sem
que para isso, houvesse um planejamento.
Não se pode retirar uma parcela muito grande de sucesso da exploração agrícola do Brasil,
do governo português, que buscou a resolução das questões pendentes, para que no futuro,
tivesse um retorno apropriado. Em outras palavras, que pudesse colher ouro em grande escala.
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Essa inflação espalhou-se por toda a Europa e as transferências unilaterais que recebia da
colônia na América, provocavam um aumento no fluxo das importações, que se foi prejudicial
para a Espanha, por outro lado, ajudou e muito os demais países europeus.
Com a instalação de problemas econômicos na Espanha, suas posses no continente
americano foram muito prejudicadas. Com exceção à atividade de exploração mineira, nenhum
outro tipo de atividade econômica nas colônias alcançou alguma importância. Isso levando em
consideração três séculos de duração do grande império colonial.
Mesmo assim, existiram algumas atividades comerciais que, muito embora não tivessem
adquirido grande representatividade, foram praticadas nas colônias, como por exemplo, o
abastecimento de manufaturas das grandes massas de índios, que era fruto do trabalho local,
fato que retardou a transformação das economias de subsistência das regiões envolvidas.
Outro fator importante foi que não foi possível intensificar a produção de manufaturas na
Metrópole para abastecer as colônias devido à decadência da economia espanhola.
Se caso essa relação fosse intensificada, as economias locais (das colônias) possibilitariam
uma maior penetração de capitais e talvez uma situação muito menos favorável para
os portugueses.
Isso se deve ao fato de que os espanhóis contavam com a maior proximidade da Europa, terras
de melhor qualidade, um enorme poder financeiro e mão de obra indígena que era mais evoluída do
ponto de vista agrícola, apesar de não ter se adaptado ao trabalho nas plantações de cana-de-açúcar.
O grande fator inibidor para aproveitar todas as condições favoráveis foi a decadência
econômica da Espanha, causada pela descoberta precoce de metais preciosos, assim como
pela concentração de renda em poder do Estado.
Por outro lado, para os portugueses, esse mesmo fator foi um dos responsáveis pelo êxito
da empresa colonizadora portuguesa.
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Material Complementar
Livros:
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense,
2000, p. 1-156.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil Contemporâneo. São Paulo:
Brasiliense, 2006, p. 1-30.
SIMONSEN, Roberto Cochrane. História Econômica do Brasil: 1500/1820. São
Paulo: Ed. Nacional, 1978, p. 23-124.
Leituras:
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Formação Econômica do Brasil: uma obra prima
do estruturalismo cepalino. Revista de Economia Política, vol. 9, no. 4, outubro-
dezembro/1989.
Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/36-3.pdf
Acessado em 16/02/2015.
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Referências
FURTADO, CELSO. Formação Econômica do Brasil. 34 ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007, p. 25-51.
SIMONSEN, R. C. História Econômica do Brasil. 8 ed. São Paulo: Nacional, p. 107, 112
e 115.
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Anotações
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