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ARTIGO - As fases da expansão e respectiva construção de uma presença portuguesa no espaço extra-europeu

Pretende-se aqui evidenciar as fases da expansão marítima lusitana contextualizando-as na sua dimensão
espácio-temporal e, simultaneamente, elencar as incursões portuguesas no plano extra-europeu.

A exploração inicial dos oceanos, durante o século XV, em especial do oceano Atlântico, colocou Portugal
na vanguarda da Europa, especialmente pelo seu pioneirismo, pelo domínio dos aspectos técnicos e
científicos inerentes à arte de marear bem como pelo seu contributo para o alargamento do conhecimento
cartográfico e pela observação e descrição das diferentes paisagens (natureza), produtos (especiarias,
frutas, legumes... exóticos) e gentios (outros viveres e sentires).

As conquistas, descobertas, redescobertas e intercâmbios comerciais marítimos que discorreram durante


o reinado de D. João I e, principalmente, aquando do período henriquino, de 1415 e 1460, deveram-se à
tenacidade do Infante D. Henrique que assumiu a coordenação da Expansão portuguesa após o posterior
fiasco da conquista de Ceuta.

Assim, damos conta que as esperanças, anseios e decorrências dessas “conquistas” nem sempre foram
agraciadas com as retribuições desejadas. Inicia-se pelo caso de Ceuta, cidade localizada no Estreito de
Gibraltar, controlada pelos muçulmanos e que, após uma bem sucedida conquista e ocupação pelos
portugueses, em 1415, viu, posteriormente, as suas rotas caravaneiras (ricas em ouro, escravos e
especiarias) alteradas para outras regiões ainda controladas pelas forças muçulmanas.

O período henriquino da expansão contemplou, ainda, outros mandatos reais como o de D. Duarte (1433-
1438), a regência de D. Pedro (1438-1449) e durante parte da governação de D. Afonso V (desde 1449
até à data da morte do Infante D. Henrique, 1460), conseguindo explorar e colonizar, para além dos
arquipélagos atlânticos da Madeira (1419) e dos Açores (1427), uma extensa faixa da costa noroeste
africana entre o Cabo Bojador (1434) e Serra Leoa (1460). De notar que as ilhas dos Açores e da Madeira
foram administradas através do sistema de Capitanias (cujo cargo administrativo é o de Capitão
Donatário) e a costa africana foi colonizada e administrada através do estabelecimento de Feitorias e
Fortaleza das quais se releva, nesta fase, a feitoria de Arguim (primeira feitoria portuguesa da costa
africana, fundada em 1448) e que foi tomada pelos holandeses em 1638.

No restante período de governação do D. Afonso V (até 1481), devido aos seus interesses e objetivos
militares, este privilegiou uma política de conquistas no norte de África, assistindo-se a um abrandamento
das viagens exploratórias da costa africana, uma vez que, entre 1469 e 1474, D. Afonso V arrendou a
exclusividade comercial com a costa africana ao rico mercador Fernão Gomes com a contrapartida deste
pagar aos cofres régios duzentos mil reis por ano e a condição deste descobrir até cem léguas de costa por
ano.

Jorge da Carvalhinha 2023


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É no reinado de D. João II (1481-1495) que se dá o retorno à política expansionista da costa ocidental


africana até ao “Cabo das Tormentas” (1488) alterando-lhe o nome para Cabo da Boa Esperança. É
importante salientar que é este monarca quem manda edificar a feitoria de S. Jorge da Mina (1482), que
funcionou como importante interposto comercial. Sobressai como ponto alto da sua política a assinatura
do Tratado de Tordesilhas (1494). Ficando assim o Mundo (geográfico e económico) dividido em duas
partes (uma para Portugal e outra para Castela). Este tratado vem impor a doutrina do mare clausum que
retira o direito à navegação dos restantes países europeus. Doutrina essa que mais tarde vai concatenar
com a cobiça e usurpação por parte dos Franceses, Ingleses e Holandeses que se encontravam ansiosos
pela abertura dos Mares aos restantes povos europeus, mare liberum.

Porém, é no reinado de D. Manuel I (1495-1521) que se dá a conclusão do objetivo e sonho, atribuído a


D. João II, de alcançar a Índia por mar (1498), concretizado pela viagem de Vasco da Gama. Como política
de governação adotou-se neste território o sistema de Vice-Rei sendo nomeados para o respetivo cargo,
primeiramente, Tristão da Cunha (1504-1504), de seguida, D. Francisco de Almeida (1505-1509) e,
posteriormente, introduziu-se o cargo de governador, iniciado por Afonso de Albuquerque (1509-1515),
entre outros que lhe sucederam até 1961.

É ainda durante a égide do rei D. Manuel que em 1500 se dá o “achamento” do Brasil, pelo Capitão-mor
da armada, Pedro Álvares Cabral. Neste território aplicou-se inicialmente, durante o reinado de D. João
III (1521-1557), uma forma de administração inspirada nas ilhas atlânticas, o sistema de capitanias
hereditárias, através da divisão do território em quinze extensas faixas horizontais (1534) e, em 1549 foi
criado o cargo de governador-geral sendo o seu primeiro representante Tomé de Sousa com sede-capital
em S. Salvador da Baía.

Aqui é também de especial destaque referir a noção de Descobrimentos Ibéricos na perspectiva de Galvão,
com foco especial no problema das Ilhas Molucas que é analisada no decurso do contexto histórico do
século XVI. Durante esse período, Portugal e Espanha estavam envolvidos em uma intensa competição
pela expansão marítima e pelo controle de rotas comerciais lucrativas.

No caso das Ilhas Molucas, a disputa entre Portugal e Espanha foi particularmente relevante. Em 1511, as
ilhas foram alcançadas por Afonso de Albuquerque, comandante das forças portuguesas, que estabeleceu
uma presença portuguesa nas ilhas. No entanto, a Espanha contestou a soberania portuguesa sobre as
Molucas com base no Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, que dividia o mundo entre os dois países.

Jorge da Carvalhinha 2023


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Ao longo do século XVI, Portugal e Espanha buscaram justificar suas reivindicações sobre as Ilhas
Molucas. Galvão, em seu tratado, descreveu e argumentou sobre essas disputas, explorando as motivações
e os interesses comerciais de ambos os países. A luta pelo monopólio das especiarias das Molucas era de
extrema importância, pois essas especiarias valiosas desempenhavam um papel crucial na economia
global da época. Importa, portanto, compreender a visão de Galvão sobre a disputa entre Portugal e
Espanha pelas Ilhas Molucas e, consequentemente, compreender melhor as motivações e os interesses
envolvidos naquela competição marítima e comercial entre as duas grandes potências ibéricas da época.

Assim, a expansão portuguesa denotou certas dificuldades não só pela vastidão do Império, ou pelos
habituais perigos marítimos da demorada rota do Cabo, como também a coexistência lusitana com os
povos das várias praças ultramarinas não foi senão repleta de constrangimentos. Elenco, por exemplo, a
falta de receptividade e até mesmo a hostilidade com que eram recebidos por alguns samorins (reis locais)
certamente devido às diferenças de várias ordens que existiam entre si, o desvio e reativação de
determinadas rotas comerciais (Ex.: a rota do Levante) no sentido de prejudicar o comércio português, a
pirataria..., entre outros fatores, vindo a colmatar, em 1570, com o fim do monopólio do comércio
português com o oriente.

Bibliografia

AVELAR, Ana Paula Ribeiro Ferreira Menino, “Representações de um “Novo Mundo” no Portugal de
Quinhentos – Cap. IV: A Natureza: percepção e descrição” (2011).

BARROS, João, “Décadas da Ásia” (1552).

BETHENCOURT, Francisco, CHADHURI, Kirti, (Direção), “História da Expansão Portuguesa, Volume I”


(1998).

BRUSCOLI, Francesco, Guidi, “Bartolomeo Marchionni: um mercador-banqueiro florentino em Lisboa


(séculos XV-XVI)” (2013).

COSTA, Leonor Freire, “Portugal e o Atlântico: o significado do império” (2006).

GODINHO, Vitorino Magalhães, “Mito e mercadoria, utopia e prática de navegar, séculos XIII e XVIII”
(1990).

TENGARRINHA, José, (Org.), “História de Portugal” (2000).

VELHO, Álvaro, “Roteiro da 1ª Viagem de Vasco da Gama” (1498).

Fontes da internet

GOMES, Plínio Freire, “Volta ao mundo por ouvir-dizer: Redes de informação e a cultura geográfica do
Renascimento” (2009).

Jorge da Carvalhinha 2023


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https://www.redalyc.org/pdf/273/27312362008.pdf [17 de abril de 2021]

Infopédia

https://www.infopedia.pt/$feitoria-de-arguim [18 de abril de 2021]

REINHARD, Wolfgang, “Die globale Expansion Europas 1415-2015“ (2017).

https://wug.akwien.at/WUG_Archiv/2017_43_1/2017_43_1_0158.pdf [18 de abril de 2021]

Jorge da Carvalhinha 2023

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