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HUMBERTO OLIVEIRA
(BORBA)

ANGRA NA VISÃO DE LINSCHOTEN


REVISTA E AUMENTADA PELO AUTOR

SAIR DE ANGRA FOI FÁCIL


DIFICIL É ANGRA SAIR DE MIM
3

EM MEMÓRIA DE SEIS GERAÇÕES COM QUEM VIVI:

MARIA AUGUSTA

LUDOVINA VIEIRA

LUDOVINA TEOTÓNIO

ESTER CÉSAR

JOSÉ CARLOS

CAROLINA BORBA
4

NA GALERIA DOS INESQUECÍVEIS COM OS MEUS AGRADECIMENTOS:

PROFESSOR DOUTOR JOÃO CARLOS GARCIA

PROFESSORA DOUTORA MARIA DA GRAÇA L. CASTRO PINTO

DRª MARIA DA GRAÇA VAZ CARDOSO

DR. MARCOLINO CANDEIAS COELHO LOPES

DR. JORGE AUGUSTO PAULUS BRUNO

DRª. MARIA DO PILAR FIGUEIREDO

PROFESSORA DOUTORA MARIA ISABEL DE OLIVEIRA VÁRZEA

ENGENHEIRA GISELA MARTA TEIXEIRA DE SOUSA OLIVEIRA

DR. JOSÉ MENDONÇA BRASIL E ÁVILA

FRANCISCO ERNESTO DE OLIVEIRA MARTINS

MIGUEL EURICO PEREIRA D’ ALMEIDA

RUI AUGUSTO MENDES NASCIMENTO

DR. VITOR BATISTA MEDEIROS BRASIL

DRª MARIA MARGARIDA LEITE SOARES


5

SUMÁRIO

- INTRÓITO 3

- PREFÁCIO 6

I – INTRODUÇÃO 10

II – QUEM É LINSCHOTEN AUTOR (?) DA CARTA DE ANGRA DE 1595? 12

III – COMO E PORQUÊ A CARTA DE ANGRA DE 1595? 19

IV – DO POVOAMENTO ATÉ À CARTA DE ANGRA 1595. 137

V – TÉCNICAS E ESCALAS UTILIZADAS NO DESENHO DA CARTA. 146

VI – TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS CARTELAS. 155

VII – RELEVO E COBERTURA VEGETAL. 174

VIII – A RIBEIRA E OS SEU MOINHOS. 180

IX – ÁREA CONSTRUÍDA; QUARTEIRÕES. 190

X – TOPONÍMIA; DESIGNAÇÃO DAS RUAS NA CARTA DE 1595. 211

XI – IGREJAS, CONVENTOS E ERMIDAS. 280

XII – CRUZEIROS E ALMINHAS. 322

XIII - EDIFICIOS E CONSTRUÇÕES IMPORTANTES. 339

XIV – ABASTECIMENTO PUBLICO DE ÁGUA; CHAFARIZES E BICAS. 368

XV – DEFESAS DA CIDADE. 381

XVI – CAIS, ZONAS ACOSTÁVEIS E ESTALEIROS 402


~
XVII – EMBARCAÇÕES EXISTENTES NAS BAÍAS DO FANAL E DE ANGRA. 413

XVIII – AUTOR OU AUTORES DA CARTA DE ANGRA DE 1595 -


CONCLUSÕES. 428

- BIBLIOGRAFIA. 441
6

PREFÁCIO

Fui, pela primeira vez, a Angra do Heroísmo em Março de 1981. Vi então, mas sobretudo senti,
uma cidade ferida, também nas emoções, por um sismo que sem clemência sacudiu
fortemente a Ilha Terceira, em particular Angra, no início do ano de 1980. Usei o termo “vi” e
não o termo “visitei”. Com efeito, as marcas deixadas pela catástrofe não se compaginavam
com o que se espera de um visitante que, despreocupadamente, pára aqui e ali para apreciar
os lugares e ir cruzando o que deles emana com o que o seu conhecimento neles projeta.

Dessa breve passagem por Angra, a minha memória reencaminha-me a sua tão açoriana
beleza natural associada a uma cidade assinalada pelo infortúnio.

Em suma: fui a Angra, estive em Angra, mas nunca poderei dizer que visitei Angra.

Dificilmente imaginaria que, 28anos depois, alguém me faria visitar Angra, em Janeiro de 2009,
sem ter sido preciso deslocar-me aos Açores. Visitei assim Angra, sem lá ter ido, sem lá ter
estado, sem a ter visto como aconteceu em 1981. E esta visita é tanto mais singular, quanto
visitei Angra através do que o Eng.º Humberto Oliveira, natural de Angra do Heroísmo, nos
propõe na sua “Interpretação da carta de Angra atribuída a Jan Huygen Van Linschoten de
1595 anexa ao «Itinerário, viagem ou navegação para as Índias orientais ou portuguesas»”.
Essa interpretação constitui o estudo/trabalho intitulado Angra na visão de Linschoten que,
nas palavras do Eng.º Humberto Oliveira se “insere (….) como corolário do curso criado pela
Universidade do Porto, com a designação de “PEUS – Programa de Estudos Universitários para
Seniores” (página 9 da Introdução). É bem certo que essa interpretação não é da autoria de
um qualquer natural de Angra. É antes da autoria de um natural de Angra que exprime assim a
sua ligação à cidade natal: “Sair de Angra foi fácil. Difícil é Angra sair de mim” (ver capa de
Angra na visão de Linschoten). Fica aqui também a prova/ evidência de que é possível “visitar”
os locais sem nos deslocarmos aos mesmos. Tal poderá, na verdade, acontecer quer quando
sobre eles fizermos uma pesquisa profunda, quer, como no caso vertente, quando temos a
sorte de ouvir relatos ou de ler escritos de naturais fortemente ligados às suas origens e que,
além disso, se encontram bem documentados. De resto porque já lhes consigo acompanhar o
pensamento, entendo hoje melhor do que quando era mais jovem o sentimento daqueles que
preferem não ir a certas paragens com receio de a sua visão do real defraudar o muito que
leram, estudaram e aprenderam a seu respeito, para além seguramente também do muito que
neles projetaram.
7

Se a carta de Angra atribuída a Linscohten na designação do Eng.º Humberto Oliveira, mas


vulgarmente conhecida só por “carta de Angra de Linschoten”, se presta à análise
pormenorizada que este trabalho nos oferece, não é menos verídico que essa análise vem
também ao encontro de algumas das caraterísticas que o seu autor nos tem vindo a revelarão
longo da sua participação no PEUS: capacidade de observação, curiosidade ilimitada,
permanente atitude de questionamento, inconformismo face ao objeto de saber,
maravilhamento perante as coisas, espírito empreendedor, busca da minúcia e grande
sensibilidade. Não é pois surpreendente que esta carta lhe tenha, desde sempre, despertado
grande interesse e feito sentir que ela merecia ser estudada com uma certa profundidade.
Como não tivesse surgido mais ninguém até ao momento para realizar essa tarefa de cunho
tão multidisciplinar, só posso regozijar-me, enquanto Presidente da Comissão Coordenadora
do Programa de Estudos Universitários para Seniores da Universidade do Porto, que um
natural de Angra se tenha inscrito em 2006 na 1ª edição deste Programa, tenha decidido
avançar para a escrita de uma monografia no 3.º ano do Programa e tenha escolhido como
objeto de estudo dessa monografia a carta de Angra de Linschoten. Provavelmente, também
Angra quis que a leitura/interpretação da sua carta de Linschoten não fosse feita por um
qualquer estudioso, mas sim por um natural de Angra por quem nutre uma particular simpatia,
tendo então sabido esperar com sageza que essa pessoa encontrasse a disponibilidade
necessária para o fazer. De fato, nunca se sabe até onde pode ir o animismo.

O trabalho Angra na Visão de Linschoten consta de 18 partes e começa pelo


“Intróito”: um espaço destinado pelo autor à dedicatória e aos agradecimentos. Na
“Introdução”, que constitui I Parte, o Eng.º Humberto Oliveira explica a razão da sua
escrita. As outras partes, abaixo enumeradas, são no geral acompanhadas por anexos:
cópias de cartas, de mapas, de gravuras e fotografias da coleção do autor. O
“Itinerário, viagem ou navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas” de Jan
Huygen Van Linschoten serve de fonte bibliográfica à II Parte – “Quem é Linschoten
autor (?) da carta de Angra de 1595?”2 e à III Parte – Como e porquê a carta a carta de
Angra de 1595?”. Esta última parte subdivide-se em três momentos, integrando o
terceiro uma breve referência aos 99 capítulos do “Itinerário”, Para os assuntos
abordados nas restantes partes deste trabalho, socorre-se o autor de uma bibliografia
Diversificada e adequada à interpretação que faz do “Povoamento até à carta de 1595” (IV
Parte), das “Técnicas e escalas utilizadas no desenho da carta” (V Parte), da “Tradução e
interpretação das cartelas” (VI Parte), do “Relevo e cobertura vegetal” (VII Parte), de “A ribeira
e os seus moinhos” (VIII Parte), da “Área construída: quarteirões” (IX Parte), da Toponímia –
designação das ruas na carta de 1595 (X Parte), das “Igrejas, conventos e ermidas” (XI Parte),
dos “Cruzeiros e Alminhas” (XII Parte), dos Edifícios e construções importantes” (XIII Parte),
dos “Abastecimento de água; chafarizes e bicas” (XIV Parte), das “Defesas da Cidade” (XV
8

Parte), dos “Cais, zonas acostáveis e estaleiros” (XVI Parte), das Embarcações existentes nas
baías do Fanal e de Angra” (XVII Parte) e, finalmente, dos “Autor ou Autores das cartas e
gravuras” (XVIII Parte), que serve também de conclusão. A última parte de Angra na visão de
Linschoten, que não deixa de corresponder ao balanço do tanto que a carta de Linschoten o
interpelou, contém a leitura que o Eng.º Humberto Oliveira nos oferece neste momento acerca
da autoria da carta “carta de Angra de Linschoten”. Escreve então o Eng.º Humberto Oliveira a
finalizar o seu trabalho (pág. 5 da XVIII Parte – Autor ou autores das cartas e gravuras”):

“13. Finalmente, após estes conhecimentos dos contatos que Linschoten teve nestas suas
andanças, gostaria de deixar um novo título para a carta de Angra:

Carta de Angra de 1595 em perspetiva axonométrica.

Anónimo – Fernão Vaz Dourado, Luís Teixeira, Bartolomeu Lasso.

Coordenada por Jan Huygen van Linschoten.”

Afigura-se-me que este modo de fechar o trabalho Angra na visão de Linschoten revela bem o
alcance do estudo empreendido pelo Eng.º Humberto Oliveira e reforça o seu estilo de olhar o
mundo e de estar na vida.

Interessa ainda mencionar que, em vários dos temas tratados, o Eng.ª Humberto Oliveira, para
lá de ter consultado toda a bibliografia que figura no seu trabalho, recorreu igualmente não só
aos seus conhecimentos enquanto natural de Angra, mas também a pesquisa que fez, para o
efeito, no terreno. Qualquer leitor deste trabalho vai ser naturalmente sensível à precisão que
o autor pretendeu incutir à sua interpretação da carta. No entanto, se for natural de Angra, vai
sentir com certeza um prazer acrescido ao percorrer a sua cidade na companhia de um
Engenheiro que usou a carta de Angra de Linschoten talvez também como pretexto para nos
dar conta do que sabe sobre a História de Angra do Heroísmo. Não admira, por isso, que já
tenha sido solicitado ao Eng.º Humberto Oliveira a apresentação da sua obra Angra na visão
de Linschoten em Angra do Heroísmo e em Lisboa, pouco tempo depois de a ter discutido
formalmente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto perante especialistas na
matéria.

A concluir, só posso dizer do prazer que tive em conhecer o Eng.º Humberto Oliveira e de
como lhe estou grata por me ter feito visitar Angra de uma maneira tão enriquecedora na sua
multidisciplinaridade.

Espero poder ter mais oportunidades – no Continente ou nos Açores – para continuar a
conversar com o Eng.º Humberto Oliveira a respeito de Angra do Heroísmo, porque estou em
crer que a pesquisa vai prosseguir e motivar novas leituras da carta de Angra de Linschoten.
9

Foz do Douro, 11 de Maio de 2009

Maria da Graça Lisboa Castro Pinto

Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Presidente da Comissão Coordenadora do

Programa de Estudos Universitários para Seniores da Universidade do Porto


10

INTERPRETAÇÃO DA CARTA DE ANGRA DE 1595 ATRIBUIDA A JAN HUYGEN VAN


LINSCHOTEN ANEXA AO “ITINERÁRIO, VIAGEM OU NAVEGAÇÃO PARA AS ÍNDIAS
ORIENTAIS OU PORTUGUESAS”

I – INTRODUÇÃO

O trabalho agora apresentado, insere-se como corolário do curso


multidisciplinar criado pela Universidade do Porto, com a designação de PEUS –
Programa de Estudos Universitários para Seniores – coordenado pela Professora
Doutora Maria da Graça L. Castro Pinto, com a duração de seis semestres e, sediado na
Faculdade de Letras.

Nascido e criado até aos dezoito anos na cidade de Angra do Heroísmo, sempre
me intrigou a carta de Angra de Linschoten, pois ela estava presente em muitas salas e
lugares públicos como decoração, pendurada nas paredes como se fosse um quadro
de um grande pintor.

A minha inclinação natural para cartas, mapas, viagens imaginárias, navegações


ao largo de todos os mares – qual capitão Morgan outros corsários e piratas – que
ajudou seguramente assim a desenvolver e alicerçar, ajudado pelo ambiente paternal,
o curso de Engenharia Civil que iria tirar, que aliás foi quase uma surpresa, pois
julgavam que escolheria Engenharia Naval, visto qualquer pedaço de madeira me
servir para transformar num barco, explica de um modo quase natural a escrita deste
trabalho.

Ao longo dos tempos fui “receitando” a amigos e não só, ligados ao curso de
história, a possibilidade de fazerem um trabalho sobre esta carta de Angra de
Linschoten.

Como nunca consegui passar esta mensagem, resolvi meter ombros a este
trabalho, que inicialmente seria “coisa breve”, mas que se está a transformar num dos
trabalhos de Hércules, pois continuo ativo profissionalmente e só nas horas vagas, é
que o executo, quando o deveria fazer durante vinte e quatro horas por dia.
11

As surpresas têm sido muitas. Nunca julguei ser possível encontrar, tanta
informação acerca de Angra, a arrogância, a soberba, a ganância e a estupidez dos
homens.

Peço a vossa benevolência, ao passarem os olhos por este modesto trabalho de


uma personagem das ciências e da engenharia que se atreve a escrevinhar qualquer
coisa na catedral das letras (leia-se FLUP), pois trata-se realmente de um atrevimento
o que estou a fazer aqui e agora.

Após seis semestres a passear nestes corredores e a sentar-me nestes bancos,


não poderia deixar de executar qualquer coisa que justificasse estas andanças.

Aos meus colegas do curso que agora terminamos, queria deixar uma saudade
imensa, pois senti-me novamente uma criança da escola primeira, em que eles tiveram
uma cota parte muito importante.

Bem hajam a todos, aos que começaram e aos que acabaram.


12

II – QUEM É “LINSCHOTEN” AUTOR (?) DA CARTA DE ANGRA DE 1595?

APONTAMENTOS SOBRE A BIOGRAFIA CRONOLÓGICA DE JAN HUYGEN VAN


LINSCHOTEN.

Final de 1562, inicio de 1563, nasce JAN HUYGEN VAN LINSCHOTEN na cidade
de Harlemo, primeiro filho do casamento de Huig Joostenzoon, nascido na mesma
cidade em 1532 e de, Marijtgintin Henrixdochter, já viúva, com dois filhos gémeos,
oriunda de Schoonhoven situada entre Roterdão e Utreque.

- 1572/1573, possivelmente, devido à perseguição aos católicos pelos


Calvinistas, a família com mais um filho e uma filha deste casamento, muda-se para a
cidade de Enkhuizen.

- 1578, data do documento que refere que Huig Joostenszoon, de quarenta e


seis anos de idade, é notário público em Enkhuizen.

- 1579, Huig joostenszoon é taberneiro do “Falcão Dourado”.

- 1581, Huig Joostenszoon é taberneiro do “Armas de Harlemo”.

- Nesta altura, a profissão de taberneiro é muito importante porque também


fazia de notário, banqueiro, etc.

Concluindo, o nosso Linschoten vivia numa família abastada e com posição


social.

A cidade de Enkhuizen fica situada na margem oeste do Zuiderzee com a


designação atual de Ysselmeer. Era uma cidade dotada de grande frota pesqueira que
também fazia transportes entre os Países Baixos e o resto da Europa. As suas
embarcações e respetivas tripulações tinham, em toda a Europa, fama de muito
hábeis.

Assim, Linschoten está familiarizado desde muito novo com embarcações,


portos e seus ambientes, viagens, narrativas de países longínquos e exóticos, que lhe
devem ter despertado a sua tendência natural para a aventura.
13

- 1579, no dia 6 de Dezembro, Linschoten parte para Sevilha para se juntar aos
seus dois meios irmãos gémeos, que lá viviam, filhos de sua mãe e do seu primeiro
marido.

- 1580, no dia 1 de Janeiro, encontra um dos seus irmãos em Sevilha , pois o


outro tinha partido para Madrid.

No mesmo ano, mas a 1 de Setembro parte de Sevilha para Portugal. O seu


irmão que estava em Madrid parte para Itália, mas na viagem em Salamanca morre de
doença súbita.

Durante a sua estada em Lisboa, trabalha para um comerciante holandês, a fim


de adquirir prática nos negócios.

- 1583, por intercessão do seu outro irmão, que entretanto tinha chegado a
Lisboa vindo de Madrid, é aceite ao serviço do dominicano D. Vicente da Fonseca, que
é nomeado por Filipe II arcebispo de Goa.

- 1583, no dia 8 de Abril, partem de Lisboa para a Índia, o Arcebispo, Linschoten


e o seu irmão que entretanto tinha sido nomeado escrivão da nau onde seguiam.

Chegam a Goa na Índia a 21 de Setembro. O seu irmão volta no ano seguinte


para Portugal na mesma armada, devido ao cargo que ocupava.

- 1583/1588, Linschoten permanece na Índia como guarda-livros do arcebispo,


que em 1586 volta a Portugal por desavenças com o Vice-Rei e outros governadores,
deixando Linschoten encarregado da sua casa e da cobrança das suas rendas.
Entretanto, na sua viagem para Lisboa, morre o arcebispo D. Vicente da Fonseca. Ao
receber esta noticia recebe também outras duas, a da morte do pai e a do seu irmão.

Como, possivelmente, a sua posição em Goa não deveria ser muito confortável
devido às intrigas entre D. Vicente da Fonseca, seu amo, e o vice-Rei, resolve partir
para sua terra natal Enkhuizen por mar, embora inicialmente tivesse previsto fazer a
viagem de regresso por terra, por Itália, de acordo com uma carta que tinha enviado
de Goa a seu pai.
14

Aproveitando a partida da nau Santa Cruz para Lisboa, em que vai regressar um
seu amigo e compatriota Dirk Gerritsz Pomp, resolve acompanhá-lo, conseguindo
durante a viagem ser nomeado feitor da pimenta da casa comercial alemã Fugger e
Welser.

- 1589, após ter carregado pimenta em Cochim nos finais de 1588, a nau Santa
Cruz parte em Janeiro, para Portugal integrada na armada desse ano.

A viagem é muito atribulada, com muito mau tempo e a 15 de maio chegam à


ilha de Santa Helena onde se juntam aos outros cinco navios da armada, entre os quais
o galeão da pimenta de Malaca, o São Giraldo, em que vinha como feitor um seu
amigo Gerrit Van Afhuysen.

A 21 de Maio partem de Santa Helena para os Açores, Ilha Terceira, Angra,


onde chega a 24 de Julho, lançando âncora na baía.

Na noite de 4 de Agosto, violenta tempestade encalha o galeão de Malaca,


ficando Linschoten retido em Angra, para ajudar o seu amigo a despachar a pimenta
que tinha sido retirada do galeão naufragado.

É esta estada forçada em Angra durante dois anos e alguns meses, que vai dar
origem, entre outras coisas, à carta de Angra de 1595.

- 1591, só em fins deste ano consegue embarcar para Lisboa onde chega a 2 de
Janeiro.

- 1592, fica em Lisboa a despachar os seus negócios até 17 de Julho, dia em que
parte para Setúbal para embarcar para a pátria.

Parte em 22 de Julho para Enkhuizen, onde chega a 3 de Setembro,


encontrando a mãe, o irmão e a irmã.

No seu regresso à Holanda, passados 13 anos de viagens, encontra um país


muito diferente, virado para as explorações marítimas e que tentava, como a
Inglaterra o estava a fazer, encontrar caminhos autónomos para as suas deslocações
comerciais, criando para o efeito novas companhias.
15

Vai encontrar o seu amigo Dirk Gerritsz Pomp. Os dois vão travar amizade com
o ex-piloto Lucas Janszoom Waghenaer. A sua deslocação à Índia, mais os
conhecimentos que adquire com estes dois contatos, vão-lhe dar notoriedade e fama.

Todos estes novos contatos vão colaborar com “Van Linschoten”, nome que
passa a usar no seu livro o “Itinerário”, bem como noutros escritos e trabalhos.

- 1594, em 5 de Junho, parte numa expedição com as funções de fiscal do navio


Mercúrio, que em conjunto com o navio Cisne, vai tentar reconhecer e desenhar um
possível caminho para chegar à Índia pelo norte da Europa.

Em 11 de Agosto parte de regresso à Holanda, onde chega a 16 de setembro,


sendo considerada um êxito enorme esta expedição, mas na realidade foi um fracasso,
tendo sido inteiramente mistificada. Ficou, a partir desta altura, conhecido como um
grande descobridor e perito em navegação no país, por esta descoberta de um
caminho alternativo para chegar à Índia.

- 1595, no dia 2 de abril, casa com Reinu Meinerts – Dochter Semeyns, viúva
com três filhos, filha de um conselheiro do príncipe Maurício e Presidente da Câmara
de Enkhuizen.

Em julho parte com uma armada de sete navios para efetuar o início do
comércio com a China e Japão pelo norte da Europa.

Esta viagem é um fracasso, corolário da anterior que tinha sido falseada.


Regressa em setembro, tendo chegado em outubro ao porto de Texel. À sua chegada
recebe a notícia que lhe tinha nascido uma filha em agosto com o nome de Marietje
Jansdochter Van Linschoten, de que não temos mais notícias, que, possivelmente
morre em criança.

Com esta desastrosa viagem, Linschoten perde prestígio e fica desacreditado


perante os seus pares, pela rota que ele imaginava ser possível chegar à Índia. Ainda
faz uma terceira tentativa (1595 – 1597) que se traduz em novo desastre, ficando
posta de parte esta rota marítima pelo norte da Europa.

Escreve o seu “Roteiro das Navegações dos Portugueses no Oriente”, tendo


este trabalho um impacto prático tremendo junto dos navegadores Holandeses, muito
superior ao do seu livro o “Itinerário”.
16

- 1596, possivelmente em finais do ano, publica o seu livro o “Itinerário”, não se


sabendo a data exata, onde vem incluída a carta de Angra.

- 1597, Linschoten é nomeado tesoureiro de Enkhuizen.

- 1598, foi publicado por tradução de Linschoten a obra “História Natural Y


Moral de las Índias”, livro espanhol de José da Acosta.

1601, publica os relatos dos seus diários das viagens de 1594 a 1597. Estes
relatos tiveram grande sucesso internacional, sendo traduzido em várias línguas.

- 1606, é nomeado provedor do hospital municipal de Enkhuizen. É feito


membro de uma comissão que tinha de verificar as possibilidades para fundação de
uma Companhia das Índias Ocidentais, tendo sido arquivado este plano por
inoportuno para a altura.

- 1609, publica a sua tradução do livro “Missiva ou Ordenação do Rei de


Espanha”, enviada ao Duque de Lerma, cujo tema é o desterro e expulsão dos
mouriscos (….).

- 1611, foi requisitado o seu parecer durante a preparação da expedição de Jan


Cornelisz May (1611 – 1612) ao Oceano Ártico e à América já não podendo aceitar o
convite, possivelmente por já estar muito doente.

Morre no dia 8 de fevereiro com 48 anos de idade em Enkhuizen.


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JAN HUYGEN VAN LINSCHOTEN

Retrato incluído na edição “Prínceps” do seu “Itinerário”

Origem – Kern, Prof. Dr. H. De Linschoten – Vereeniging II

Den Haag: Martinus Nijhoff

Século XVII

Autor desconhecido
18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

“Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen Van Linschoten para as Índias


Orientais ou Portuguesas”.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses

Lisboa 1997.

Edição preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro.


19

III – COMO E PORQUÊ A CARTA DE ANGRA DE 1595?

APONTAMENTOS SOBRE O LIVRO “ITINERÁRIO, VIAGEM OU NAVEGAÇÃO DE


JAN HUYGEN VAN LINSCHOTEN PARA AS ÍNDIAS ORIENTAIS OU
PORTUGUESAS”

O livro o “Itinerário” consta de 99 capítulos, divididos em oito partes temáticas


descritos na introdução à obra.

1 – OBJETIVOS.

Fundamentalmente os objetivos de Linschoten ao escrever esta obra, relato


circunstanciado desta sua viagem à Índia, foi dar a conhecer ao público em geral e da
Holanda em particular.

1-1 – As suas experiências, conhecimentos e informações acerca da Índia.

1-2 – As viagens e a navegação dos portugueses.

1-3 – As zonas comerciais e a sua localização, os mercados, os produtos, os


preços, as quantidades disponíveis.

1-4 – A geografia e etnografia sobre os países e povos por onde passou,


incluindo a sua localização com distâncias (longitudes?), e alturas (latitudes).

1-5 – A fauna e a flora orientais e não só, que eram de grande curiosidade para
o cidadão comum da Europa.

1-6 – As experiências e impressões das suas viagens, desde a saída até à


chegada à Holanda.
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Da leitura da obra, depreende-se que a maior parte das descrições são


informações obtidas de terceiros, pois Linschoten só conheceu Goa, de onde nunca
deve ter saído, os seus arredores e os diversos pontos de escala da sua viagem,
excetuando a sua estada forçada na Terceira, onde esteve mais tempo: dois anos e
quatro meses.

O seu livro é um relato daquilo que ele viu, daquilo que lhe contaram e do que
leu.

Não é preciso e conciso nas suas fontes, quer orais, quer escritas, o que
dificulta a interpretação do texto.

Mas do que não há dúvida é que dá preferência às suas fontes orais,


principalmente dos seus amigos e conhecidos.

Quanto à questão tão discutida de que Linschoten seria um espião ao serviço


da Holanda, de toda a leitura e bibliografia consultada, a minha opinião é a de que
tendo saído muito novo do seu país, com cerca de dezassete anos, não se terá
apercebido de como eram valiosas as informações que tinha obtido ao longo das suas
viagens, limitando-se a descrever e a relatar aquilo que viu e ouviu. Vamos dizer que
seria como um jornalista atual, enviado para cobrir um determinado acontecimento.
Como tinha uma enorme curiosidade e era aventureiro, foi anotando e guardando
todos estes elementos, e, só talvez mais tarde já na Holanda, se tenha apercebido do
que poderia fazer com eles.

Portanto, só após a sua chegada à Holanda, terá constatado, por um lado, que a
sociedade onde se iria inserir e adaptar, estava ávida dos relatos das suas viagens. Por
outro lado, o comércio e a navegação precisavam dos seus conhecimentos preciosos,
para desenvolver o que os países do norte da Europa necessitavam urgentemente, que
era chegar à Índia, Malaca, China e Japão. Nesta fase da sua vida, aí sim, tomou
consciência que o espólio dos seus conhecimentos lhe poderia render proventos,
honrarias, títulos, etc. Como aliás aconteceu.

Foi navegando ao longo do tempo, com grande sentido das oportunidades,


conforme os quadrantes de onde soprassem os ventos, tendo-os aproveitado da
melhor maneira que lhe foi possível. A roda da fortuna rodou sempre em seu favor.
21

Agora do que não há dúvidas, é que deveria ser um homem, extremamente inteligente
e com grande sentido de aproveitamento das oportunidades, que se lhe iam
deparando ao longo dos tempos, no bom sentido do termo, sabendo tirar proveito
delas nos momentos próprios, o que é demais evidente neste seu “Itinerário”.

Pelo atrás descrito, julgo que ele não conseguiu, possivelmente, moldar o seu
destino; foi este que o moldou, sem no entanto deixar de ser ele a governá-lo.

Segundo os editores da tradução portuguesa que estamos a utilizar, que é a


única existente até aos dias de hoje, baseia-se na segunda edição revista do Itinerário
(3 volumes, 1955 – 1957), publicada pela Linschoten-Vereeniging, que pretende ser
uma versão fiel e integral da primeira edição de 1596.

Para a tradução portuguesa, a edição moderna foi cotejada com a da primeira


edição (exemplar conservado na Biblioteca Real de Haia, nº 1.702 B 4).

Esta edição portuguesa segundo os autores, é integral, e, tanto quanto possível,


fiel ao original.
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2 – DIVISÃO TEMÁTICA

Estas são as oito partes temáticas em que se dividem os 99 capítulos do livro e


que o definem.

1 – Viagem de ida e navegação portuguesa para a Índia: 1-3.

2– Descrição da costa e das cidades e países do Oriente:

2 – 1 – Para além do cabo da Boa Esperança até Goa: 4-9.

2 – 2 – O litoral asiático, de Goa até Malaca: 10-18.

2 – 3 – A Insulíndia: 19-22.

2 – 4 – China:23-24.

2 – 5 – Macau: 25.

2 – 6 – Japão: 26.

3 – Goa e arredores.

3 – 1 – Geografia e história de Goa: 27-28.

3 – 2 – Etnografia de Goa: 29-33.

3 – 3 – Clima de Goa: 34.

3 – 4 – Moedas, pesos e medidas de Goa: 35.

3 – 5 – Etnografia da Índia: 36-43.

3 – 6 – Religiões da Índia: 44.

4 – Natureza da Índia.

4 – 1 – Gado, aves e outros animais da Índia: 45-47.

4 – 2 – Animais marinhos da Índia: 48.


23

4 – 3 – Frutos, árvores, plantas e ervas da Índia: 49-61.

4 – 4 – Especiarias e ervas medicinais da Índia: 62-83.

4 – 5 – Pedras preciosas da Índia: 84-91.

5 – Acontecimentos durante a estada na Índia: 92.

6 – Viagem de volta e navegação portuguesa para Portugal: 93.

7 – Descrição da Ilhas Atlânticas: 94-98.

8 – Acontecimentos durante a estada na Terceira e regresso à Holanda: 99.


24

3– EXPOSIÇÃO MUITO RESUMIDA DE TODOS OS CAPITULOS DO “ITINERÁRIO”

CAPITULO 1

Descreve as motivações que o levaram a sair do seu país e a sua viagem até
Lisboa, passando por Sevilha.

CAPITULO 2

Partida de Lisboa para a Índia no navio S. Salvador, na companhia do seu amo e


senhor D. Frei Vicente da Fonseca, recém-nomeado arcebispo de Goa e do seu meio -
irmão.

CAPITULO 3

Organização e distribuição das pessoas a bordo, distribuição das rações,


pagamentos, salários, etc.

Passagem pala Madeira e Porto Santo, onde a partir de aqui cada navio da frota
toma a sua rota de modo a chegar o mais rapidamente possível à Índia.

Descreve pormenorizadamente o desaparecimento da estrela do norte (polar)


e observa o aparecimento da estrela do sul, passando o sol a ser visto a norte.

Passagem pela Guiné, pelo Equador, pelos baixios do Brasil e Cabo da Boa
Esperança.

Entrada da barra da Ilha de Moçambique, onde carregaram mantimentos


frescos e água, encontrando-se novamente juntos todos os navios da frota que tinha
partido de Lisboa, exceto a nau capitania o S. Filipe, que por dificuldades de mau
tempo, rumou a Cochim diretamente.

CAPITULO 4

Estada na ilha de Moçambique e descrição dos seus habitantes, seus hábitos,


alimentação, vestuário, religião e habitações, etc.

Terras e reinos na zona de Moçambique até ao Mar Vermelho e Índia.


25

Partiram todos os navios juntos novamente para a Índia, separando-se por


altura da ilha de Comoro e D. João de Castro.

Passagem pela linha do equador, passando a avistar a estrela do norte.

Pormenorização de toda a zona por onde passavam, assim como a chegada a


Goa, após cinco meses e treze dias desde a partida de Lisboa. Foram recebidos com
grandes solenidades e festas, devidas ao novo arcebispo.

Dados estatísticos de quantas pessoas morreram, quantos estiveram doentes,


quais as doenças, tratamentos, etc.

Distribuição dos navios pelos diferentes portos, conforme a carga que vão
efetuar, se pimenta ou outras especiarias.

CAPITULO 5

Narração pormenorizada da costa desde a Arábia ou Mar Vermelho até Ormuz.


Menciona as distâncias entre as diversas localidades e a sua localização em graus de
altura (latitude), o que é sempre uma das suas grandes preocupações.

CAPITULO 6

Descrição da ilha de Ormuz e da sua importância no comércio, com o Extremo


Oriente a Turquia e a Europa, nomeadamente Veneza, Marselha e Londres.

CAPITULO 7

Descrição da costa desde a ilha de Ormuz até à cidade e fortaleza de Diu,


narrando pormenores das suas produções e do seu comércio.

CAPITULO 8

A descrição sempre pormenorizada desde Diu à terra de Cambaia, das


produções, dos habitantes, das trocas comerciais, etc.

CAPITULO 9
26

Continuando, da terra de Cambaia que no dizer de Linschoten a mais fértil de


toda a Índia e da sua importância até Damão, prosseguindo a narração como nos
capítulos precedentes.

CAPITULOS 10 e 11

A costa da Índia começa no golfe de Cambaia, estende-se até à costa do


Malabar terminado no Cabo de Camorim, continuando a descrição pormenorizada de
todas as cidades com as suas localizações.

CAPITULO 12

Descrição dos reis e das divisões da terra da costa do Malabar com as


respetivas origens, dizendo que é apenas nesta costa e à beira do mar que se encontra
a pimenta.

CAPITULO 13

Ilhas chamadas Maldivas.

Ficam situadas em frente ao cabo de Camorim, a cerca de 40 léguas da ilha de


Ceilão, onde está situada uma fortaleza portuguesa.

CAPITULO 14

Ilha de Ceilão, sua descrição, e onde se acreditava que era o Paraíso e onde
Adão tinha sido criado, sendo o principal entreposto de canela, a melhor e a mais fina
da região.

CAPITULO 15

Da costa de Coromandel e do reino de Narsinga ou Bisnagar, onde habitam


povos cristãos que se dizem descendentes do apóstolo S. Tomé. Narra a lenda de
como S. Tomé chegou a este local. Tráfego que os portugueses fazem nesta zona
principalmente de tecidos.

CAPITULO 16
27

Do reino de Bengala e do Rio Ganges, onde há portugueses a negociar com os


nativos, sem no entanto terem fixação permanente com praças-fortes. Menciona entre
os animais existentes, o rinoceronte e o seu aproveitamento contra o veneno, não
indicando todavia qual é.

CAPITULO 17

Descrição das terras a seguir ao reino de Bengala até ao reino do Sião.


Descrição dos usos e costumes da região. Salienta a importância do reino do Sião como
grande produtor de benjoim (bálsamo ou resina perfumada). Continuação até Malaca,
acabando no cabo de Singapura.

CAPITULO 18

Descrição da cidade de Malaca – salientando a sua importância para os


portugueses como o maior entreposto comercial entre a Índia e a China, Molucas, Java
e Samatra – que é pouco povoada pelos portugueses e pelos malaios (designação dos
habitantes de Malaca) devido ao seu clima extremamente insalubre e perigoso. No
dizer de Linschoten, quem permanece lá muito tempo só escapa com vida por milagre.
No galeão designado de Malaca que vem todos os anos aqui carregar, leva o dobro da
riqueza do que qualquer outro da carreira da Índia, fazendo a rota direta para
Portugal. Este galeão vai ter grande importância para este trabalho, porque é o seu
naufrágio na baía de Angra, que vai permitir a Linschoten a permanência nesta cidade
mais de dois anos.

CAPITULO 19

Em frente a Malaca fica a ilha de Samatra, que foi outrora designada por
Taprobana, sendo muito rica em minas de ouro, prata e cobre. Menciona a famosa
peça de artilharia de Malaca, que ficou na ilha Terceira no seu transporte para
Portugal, onde ainda se encontrava durante a sua estada em Angra.

Os portugueses fizeram várias tentativas para conquistarem a ilha de Samatra


sem o conseguirem, apesar da ordem de El-Rei, continuando, no entanto, a efetuar as
suas trocas comerciais na zona.
28

CAPITULO 20

Ilha de Java Maio, encontra-se em frente à ilha de Samatra, separada desta


pelo estreito de Sunda. Descrição da sua riqueza, principalmente o cravo-da-índia, noz-
moscada e a maça, bem como da boa qualidade da pimenta, que é melhor do que a da
Índia e do Malabar, além do incenso, benjoim, cânfora e diamantes. Neste capítulo,
Linschoten alerta os holandeses para a possibilidade de comercializar com os
habitantes locais sem ninguém os impedir, porque são os Javaneses que levam os seus
produtos ao mercado de Malaca, conselho que é mais tarde seguido por eles.

Descrição do comércio e como o devem fazer até Timor e suas ilhas, chegando
às Molucas e outras ilhas do cravo.

CAPITULO 21

Designação das ilhas Molucas e fortalezas portuguesas nesta zona.

Disputa entre portugueses e espanhóis pela sua posse; em nota de rodapé


explicam a confusão estabelecida neste capítulo por Linschoten, que refere o tratado
de Tordesilhas (1494), quando esta disputa foi resolvida pelo tratado de
Lérida/Saragoça (1529).

CAPITULO 22

Descrição das costas do Camboja e Cochinchina, ilhas do Bornéu e das Luções,


Manilas ou Filipinas.

Chegada da sua descrição a Macau e Cantão, onde os portugueses têm um


único porto de acesso ao comércio com a China.

CAPITULOS 23 e 24

Descrição do reino da China, suas riquezas, gentes, usos e costumes, línguas,


etc. E a sua famosa muralha. Descrição pormenorizada das costas, rios e comércio.
Fabrico e comercialização das porcelanas com a Índia, Portugal, Espanha e outros
destinos, ficando a mais fina e melhor qualidade, destinada às pessoas importantes do
país.

CAPITULO 25
29

Macau como entreposto de grande importância no comércio dos portugueses


com a China e Japão. Descrição das monções e do tempo necessário para navegar
nestas paragens. Descrição do comércio que aqui se pode efetuar, quais os produtos,
preços, pesos, medidas e moedas.

CAPITULO 26

Descrição das ilhas do Japão, sua extensão falta de conhecimento das suas
dimensões e número de ilhas. Usos e costumes, comportamentos, produtos e
comércio.

CAPITULOS 27,28,29, 30 e 31

Descrição pormenorizada de Goa e das terras em seu redor, origens, reinos,


etc. Goa cidade principal e cabeça da Índia e de todas as regiões até onde os
portugueses fazem comércio. Ali se situa o palácio do Vice-Rei de Portugal, localização
do Arcebispo e da chancelaria Régia. Indica a situação de Goa, orografia, etc. Costumes
de Goa e seus habitantes, narração pormenorizada do seu mercado diário.

Cortesias, casamentos, usos e costumes entre portugueses e mestiços da Índia.

De como os portugueses só tem lugares à beira-mar, cidades e fortalezas com


os seus portos, não se fixando no interior, a sua localização foi sempre junto à costa
como Linschoten descreve. Remete para as gravuras anexas ao “Itinerário” (ícones)
que ilustram estes capítulos.

CAPITULO 32

Vice-Reis da Índia, duração dos mandatos, jurisdição, poder, direitos,


apropriação de riquezas, etc.

Como os seus mandatos são por três anos, podendo ser renovados por El-Rei,
no primeiro ano estão ocupados a consertarem e a colocarem mobiliário no seu
palácio que foi esvaziado totalmente pelo seu antecessor e a conhecer o país. No
segundo ano, a juntar riquezas, porque foi a única razão da sua ida para a Índia. No
terceiro ano, a preparar o seu regresso de modo a poderem levar o máximo possível,
sem serem incomodados pelo próximo Vice-Rei.
30

Este modo de atuar é geral e igual com todos os outros capitães e oficiais em
serviço na Índia.

CAPITULO 33

Hábitos, usos e costumes dos habitantes de Goa. Distribuição dos vários ofícios
por locais e ruas.

CAPITULO 34

As duas estações do ano, suas mudanças, duração, etc. Doenças e males que
estas estações provocam, em toda a região da Índia, maneiras de as tratar, quem e
onde as tratam. Menciona como curiosidade que os dias são sensivelmente iguais às
noites, no verão e no inverno, só diferindo uma hora, pois o sol nasce às seis da
amanhã e o ocaso às seis da tarde. Em Goa vêem-se as duas estrelas: a do norte e a do
sul.

Capitulo 35

Moedas, pesos e medidas da Índia e de Goa, seus valores e câmbios.

CAPITULOS 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, e 43

A descrição dos habitantes da Índia é a seguinte:

Brâmanes são indianos e constituem a classe social mais elevada.

Guzerates e Baneanes são de Cambaia e dedicam-se ao comércio e ao tráfego


de todas as mercadorias.

Canarás e Decanins são da terra do Decão, tendo em Goa lojas de tecidos,


ourivesaria, caldeireiros, barbeiros, médicos, carpinteiros, etc.

Canarins e Curumbins são lavradores, pescadores, dedicam-se ao ofício e


negócio de lavar roupa.

Árabes e Abexins são da terra do Prestes João, vai desde Moçambique, Etiópia,
Mar Vermelho e até ao rio Nilo no Egipto. Seguem a lei de Maomé.
31

Cafres (negros de Moçambique) vêm de Moçambique, de toda a costa da


Etiópia até ao cabo da Boa Esperança, dedicam-se ao comércio de ouro e marfim.
Refere nas gravuras (ícones) que retratam os cafres.

Malabares e Naire vivem entre Goa e o cabo de Camorim ao sul de Goa, sendo
comerciantes e guerreiros são os maiores inimigos dos portugueses.

Mouros e judeus vêm de todos os lugares da Índia, exercem o negócio das


especiarias e do seu comércio. Linschoten dedica em anexo três gravuras a estas
personagens

CAPITULO 44

Lugares de culto, seus ídolos, romarias, cerimónias e superstições, desde o


norte de Goa passando por Ceilão. Relata algumas curiosidades.

CAPITULO 45

Descrição de alguma fauna da Índia.

CAPITULOS 46, 47 e 48

Descrição pormenorizada dos animais mais importantes da Índia.

CAPITULOS 49, 50, 51, 52, 53, 54 e 55

Descrição e relação das frutas e vegetais.

Ananás, jaca, manga, caju, jambo, jangomas (parecidas com ameixas),


carambola (octogonal de tamanho de uma maçã pequena), brindões, (fruta muito
ácida), jambolões (como azeitonas grandes), papaia, laranjas, limões, cidrões,
rosmaninho, gengibre, figos da Índia, pepinos, rabanetes, figos de horta e outras
variedades de figos, inhames, batata (pela descrição julgo ser batata doce).
Apresentando gravuras de jaca, ananás, manga, caju e jambo que considera os cinco
principais frutos da Índia.

CAPITULO 56
32

Capítulo onde descreve as palmeiras com o seu frutos o coco, por ser a árvore
mais vulgar ou uma das mais vulgares na Índia e a sua utilização desde o tronco, folhas,
frutos, etc.

CAPITULO 57

Durião de Malaca, fruta muito apreciada, do tamanho de um melão, sua


descrição e utilização.

CAPITULO 58 e 59

Descrição de várias árvores e sua utilização.

Árvore de raízes, angelim (pela pesquisa efetuada, julgo que a madeira dava
para o fabrico de móveis), cana de açúcar, bambu, árvore triste (tema curiosidade de
só florir de noite, caindo as flores ao nascer do sol).

CAPITULOS 60 e 61

Descrição de folhas que servem para a alimentação.

Bétele ou betre (folha muito apreciada e utilizada na Índia, julgo ser


afrodisíaca), datura, erva-sentida.

CAPITULOS 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72 e 73

Descrição das especiarias, drogas, plantas e materiais que dizem respeito à


medicina, farmácia e culinária, com os lugares onde se cultivam, se colhem e onde são
comercializados.

Pimenta com todas as suas variedades, preta, branca, longa e canarim.

Cravo, canela, noz-moscada, gengibre, maça (flores que revestem a noz


moscada, dá para fazer conservas), cardomono (usada na culinária e como
medicamento), laca (serve para revestir obra de marcenaria e embutidos para móveis),
anil ou índigo (serve no fabrico de tintas), âmbar, almíscar (aplicação em farmácia),a
algalia ou civeta (aplicação em farmácia),benjoim, incenso, mirra, maná e ruibarbo
(aplicações em medicina).

CAPITULOS 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81 e 82


33

Descrição de madeiras, raízes e drogas.

Sândalo com as suas variedades, branca, amarela e vermelha, com aplicações


em medicina, estatuária, para embutidos em móveis, marcenaria.

Calhamba ou pau-de-águila (madeira muito apreciada pelo cheiro que exala


depois de seca), com aplicações em medicina.

Raiz-da-china (medicina), anfião ou ópio (narcótico produzido pela dormideira,


que é uma variedade de papoila), bangue ou haxixe (narcótico), cânfora (medicina),
tamarindo (culinária, farmácia e medicina), mirabólanos (farmácia e medicina).

CAPITULO 83

Outras especiarias e ervas da Índia com aplicações em medicina e farmácia.

Espiquenardo, erva-babosa, fava-de-malaca, cálamo-aromático, costus,


cubebas, tamalapatra, galanga.

CAPITULOS 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90 e 91

Relato de todas as espécies de pérolas e aljôfar (pérolas pequenas). Descrição


de pedras preciosas e de outras variedades daquelas que são chamadas orientais, de
locais onde se extraem e das suas dimensões, pesos, preços correntes e
comercialização, tais como:

Diamantes, berilos, rubis, topázios, safiras, bezares ou pedra-bezar (que servem


para afastar a peçonha), espinelas, granadas, esmeraldas, turquesas, jaspe, crisólito,
ametista, pedra de sangue, pedra de leite, âmbar, ágata, pedra de cevar.

CAPITULO 92

Narrativas de várias histórias, passadas na Índia e noutros locais no tempo em


que Linschoten residiu em Goa.

Em janeiro de 1587 parte o arcebispo de Goa e amo de Linscohten para


Portugal na nau Nossa Senhora da Ascensão, devido a desavenças deste com o Vice-
Rei e seus conselheiros, ficando Linschoten a manter a casa e a receber rendas
34

Relato das chegadas e partidas das naus da Índia, lugares onde se dirigiam para
carregarem especiarias, condições para viajar, tripulação, etc. Venturas e desventuras
dos portugueses ao carregarem demasiado as naus, o que provocava na maioria dos
casos naufrágios e afundamentos.

Narra a história da célebre peça de artilharia de bronze de “Malaca”, que


durante muito tempo ficou na fortaleza de Angra como grande relíquia dos feitos na
Índia. Esta peça foi capturada pela armada de D. Paulo de Lima, que tinha ido levantar
o cerco a Malaca e desimpedir o acesso à China e ao Japão, a um dos navios do Rei de
Achem, inimigo dos portugueses. A peça foi transportada pelo galeão de Malaca que
naufragou na baía de Angra, tendo sido retirada do mar e transportada para a
fortaleza onde ficou depositada. Ainda hoje é conhecido o local onde esteve colocada
pelo nome de “Bateria de Malaca”.

Relata a morte do amo de Linschoten, o arcebispo D. Frei Vicente da Fonseca,


na viagem de regresso entre os Açores e Portugal.

Após esta morte Linschoten que não pensava voltar à Holanda, pois já estava
adaptado à Índia, resolve tratar do seu regresso.

Através de amigos, consegue ser nomeado feitor da pimenta no navio Santa


Cruz, tratando em seguida de toda a burocracia necessária para o seu regresso sempre
com a condição de que pretendia regressar à Índia por ser mais fácil a autorização de
saída.

Em Novembro de 1588 partiu o navio de Goa para a costa de Malabar e


Cochim, para carregarem pimenta.

Após a carga completa iniciaram os preparativos para o regresso.

CAPITULO 93

Relato, da partida do porto de Cochim e da viagem até à ilha de Santa Helena.

No início de todos os anos, partem as naus da carreira da Índia carregadas de


pimenta e de outros produtos para Portugal, não o fazendo em conjunto mas em dias
separados.
35

Em 1589, a nau onde vinha Linschoten, de nome Santa Cruz, foi a última, por
ser a de construção mais recente, tendo zarpado no dia 20 de Janeiro. Antes já tinha
partido a Santa Maria, Nossa Senhora da Conceição, S. Cristóvão, Santo António e S.
Tomé.

Início da viagem com a distribuição de lugares no navio, tarefas, trabalhos e a


quem compete executá-los.

Descrição, das razões porque naufragam os navios. Segundo o autor, a primeira


causa é a desorganização da carga e o excesso de carga do navio; a segunda é a
inexperiência da tripulação; a terceira a falta de fiscalização e a má vistoria dos navios
à partida, que consiste em verificar se estão em condições de fazer a viagem e se estão
providos de tudo o que é necessário. Rumos a seguir no regresso a Portugal, sendo que
cada navio navega por sua conta e risco, de modo a chegar o mais cedo possível ao
porto do destino.

Narração do desastre de uma das naus, a S. Tomé, no Cabo da Boa Esperança,


tendo morrido todas as pessoas que iam a bordo e tendo-se perdido toda a carga.

Continuação da viagem, com todas as peripécias que iam acontecendo, até à


ilha de Santa Helena, 1ª escala da viagem, que avistaram a 12 de Maio. Ao chegarem à
ilha, já lá estavam todos os navios que tinham partido da Índia com o galeão de
Malaca, que tinha partido deste porto.

No galeão de Malaca, Linschoten encontra um amigo que vinha como feitor da


pimenta, Gerrit van Afhuysen, que vai ter um papel importante na sua estada em
Angra, durante cerca de dois anos e quatro meses. Indicação das gravuras das ilhas de
Santa Helena e Ascensão, não mencionando o seu autor.

CAPITULO 94

Chegaram à ilha de Santa Helena no dia 12 de Maio, partindo no dia 21 do


mesmo mês. Descrição da ilha, relatando as razões por que os únicos habitantes são os
doentes que não podem seguir viagem, ficando a aguardar a passagem dos navios da
carreira da Índia, o que só iria acontecer no ano seguinte.

Abastecimento de água e víveres para continuar a viagem. Chagada à ilha de


Ascensão.
36

CAPITULO 95

Breve descrição da ilha e continuação da viagem para Portugal. Passagem pela


costa da Guiné e pela altura (latitude) das Ilhas de Cabo Verde e das Canárias. Relato
do mar do Sargaço.

CAPITULO 96

Descrição das ilhas Canárias, continuando a viagem até à altura das ilhas dos
Açores, ilha do Corvo, Ilha Terceira e Lisboa.

No dia 22 de Julho, avistaram as Ilhas do Corvo e Flores. Perseguição por três


navios piratas ingleses, havendo troca de tiros com a nau capitania.

Passando pelas ilhas do Faial e pelo canal de S. Jorge e Graciosa, continua a


perseguição dos navios Ingleses.

Ataque dos piratas Ingleses, dispersando os navios, ficando cada um deles por
sua conta e risco, não se socorrendo uns aos outros, conseguindo todos escapar, não
sem alguma dificuldade.

No dia 24 de Julho, lançavam âncora na baía de Angra, Ilha Terceira, Açores, a


frota de seis navios, a saber cinco da Índia e o galeão de Malaca, o que não era
habitual, pois devido às tempestades que poderiam surgir de sul/este, ancoravam fora
da baía em mar aberto. Mas, devido às notícias do desastre da Invencível Armada e ao
ataque e proximidades dos piratas Ingleses, foi dada ordem para ancorarem no interior
da baía, sob a proteção das fortalezas de defesa da cidade.

A baía está protegida dos ventos dominantes que são do oeste. No entanto,
não tem proteção dos ventos sul e sudeste que surgem ocasionalmente em Agosto.

Estava a frota no interior da baía, quando no dia cinco de Agosto se


desencadeou tremenda tempestade do sul, provocando o naufrágio do galeão de
Malaca que quebrou as amarras e fez perigar os outros navios, que, no entanto, se
salvaram.

Perdeu-se quase toda a carga e mercadorias do galeão, que como já foi dito,
era o mais rico de todos da carreira da Índia, salvando-se algumas coisas que ficaram a
boiar e outras que com mergulhadores se conseguiu resgatar, como pimenta, cravo e
37

noz-moscada. Normalmente vinham dentro de grandes potes de barro vidrado e


selados, de modo que não permitia a entrada da água.

Todos estes salvados foram confiscados pelos oficiais régios, sendo guardados
na alfândega de modo a pagarem os direitos aduaneiros.

Apesar de todas as diligências, pedidos, rogos, promessas, pagamentos de


fiança, etc, não foi possível libertar estas mercadorias senão ao fim de dois anos e
meio.

Neste capítulo Linschoten narra a corrupção dos oficiais régios e pessoal da


alfândega, nestas suas andanças para resgatar toda a mercadoria, o que, no mínimo, é
impressionante.

Como a armada que devia escoltar até Lisboa, os navios da frota onde vinha
Linschoten, não estava presente em Angra e como, entretanto, tinha chegado um
galeão do Brasil bem armado com peças de artilharia, os capitães dos navios
resolveram acompanhar este galeão e fazer rumo a Lisboa. Esta decisão foi tomada
porque estavam receosos, que os Ingleses assaltassem a cidade de Angra, preferindo
correr o risco da viagem, fazendo vela no dia 8 de Agosto, após se terem abastecido de
víveres frescos e água.

É este acontecimento, que vai originar a estada de Linschoten em Angra


durante cerca de dois anos e meio. Como era o feitor da pimenta da nau Santa Cruz e o
galeão de Malaca pertencia ao mesmo comerciante, após ter despachado os seus
negócios nos navios que iam partir, ficou a ajudar o seu amigo a retirar da alfândega os
salvados do galeão de Malaca.

No fim deste capítulo, descreve as andanças dos corsários Ingleses, como lorde
Cumberland e o capitão Drake, que percorriam estes mares à procura de navios para
os assaltar e pilhar as suas riquezas.

CAPITULO 97

Neste capítulo, Linschoten enumera as Ilhas dos Açores cuja designação,


segundo ele (possivelmente por ser a versão corrente nessa data), lhes advêm do fato
de que quando foram descobertas, se encontrarem muitos açores (na realidade seriam
milhafres ou águias de asa redonda, pois nunca terá havido açores). Descreve com
38

pormenor a Ilha Terceira e a sua capital Angra e sucintamente as Ilhas de S. Miguel,


Santa Maria, Graciosa, S. Jorge, Pico, Faial, referindo ainda que as Flores e Corvo não
estão incluídas neste nome dos Açores.

A capital dos Açores é a ilha Terceira, cuja cidade principal é Angra com a sua
baía em forma de U, que está protegida pelos fortes de S. Sebastião e de Santo
António no Monte Brasil, não entrando ou saindo nenhum navio sem autorização
destas defesas.

Nos fachos situados num dos montes que constituem o Monte Brasil e
sobranceiro à baía, refere como funciona os avisos para a cidade relativamente aos
navios que se aproximam da costa, de onde vêm e o seu número. Isto é feito através
de um conjunto de sinalização de bandeiras estrategicamente colocadas em mastros
fixados em dois maciços de pedra.

É na cidade de Angra que se encontram sediados, a Sé Episcopal, o Governo e o


Tribunal de todas as ilhas.

Indica a situação da então Vila da Praia, hoje cidade da Praia da Vitória.

Narra em pormenor as produções da ilha, frutas, vegetais, animais, salientando


o pastel (planta tintureira), usado na tinturaria, que é muito comercializado com os
Ingleses, Escoceses e Franceses, o trigo (descrevendo o seu acondicionamento em
covas) e o vinho, que diz não ser de boa qualidade por se estragar facilmente.

Salienta que os principais meses de Inverno são Janeiro, Fevereiro, Março e


Abril, dizendo ainda que o mês de Setembro é tempestuoso, devido aos ciclones.

Diz que as madeiras principais são o cedro, o sanguinho e a madeira branca,


que é designada por pau branco, chamando a atenção para o teixo que é importado da
Ilha do Pico, que é uma espécie protegida pela sua qualidade e as suas aplicações em
obras de carpintaria e marcenaria.

Narra as duas viagens que fez por terra à volta da Ilha e como o conseguiu fazer
por estarem vedadas aos estrangeiros.
39

Diz textualmente que o Governador lhe pediu para desenhar a Ilha Terceira,
que recusou, mas que lhe fez um desenho de Angra, com o seu porto, fortalezas e
entradas, que foi enviado a El-Rei, tendo ficado com uma cópia fiel, que anexa ao livro.

Chama a atenção para as duas doenças principais das Ilhas, que são o “ar” e o
“sangue”, descrevendo-as e dizendo a que são devidas.

Menciona algumas das freguesias já existentes na Ilha Terceira, possivelmente


as mais importantes, nomeadamente São Sebastião, Santa Bárbara, Altares, Agualva e
Vila Nova, com certeza por serem as mais acessíveis por caminhos, pois nesta data já
existiam duas estradas pelo interior da Ilha, como sabemos pelas cartas de Luís
Teixeira de 1582 e 1587, Angra / Praia e Angra / Altares.

Descreve as dimensões e as distâncias à Terceira, assim como a sua posição


geográfica em relação às restantes seis ilhas e também alguns pormenores com
interesse sobre elas. Da Ilha do Faial, diz que a maior parte dos habitantes é
descendente de neerlandeses, que foram os primeiros povoadores desta ilha falando
já todos a língua portuguesa e que existe também uma ribeira designada dos
flamengos. Daí a razão dos Açores se chamarem “Ilhas Flamengas”.

No fim do capítulo diz textualmente e por ter muito interesse para o trabalho
que estou a desenvolver passo a transcrever: “E porque a cidade de Angra, na Ilha
Terceira, é a capital e sede do governo de todas as Ilhas Flamengas, quis juntá-la aqui
retratada do natural, com todas as suas ruas e fortalezas e seu ancoradouro ou porto
aberto, com os montes chamados Brasil, onde se mantém vigia sobre os navios, tudo
desenhado como melhor pude, conforme a respetiva situação real”

CAPITULO 98

Descrição muito breve das Ilhas Flores e Corvo, distâncias e localização


geográfica.

Diz mais, que quer dar a conhecer os Açores aos comerciantes da sua nação
que ainda os não conhecem, mas que são muito importantes nesta altura para o
comércio.

CAPITULO 99
40

Considero este capítulo como o mais notável do ponto de vista da importância


da Ilha Terceira e nomeadamente de Angra, pois narra durante cerca de dois anos e
meio a entrada e saída dos navios que vinham da Índia, Brasil e Américas Espanholas,
suas cargas, as peripécias que sofreram, assim como os ataques dos Ingleses, que
andavam permanentemente a rondar os mares dos Açores e as costas de Portugal,
para os apressarem e despojarem dos seus carregamentos.

Neste capítulo, Linschoten faz a narração pormenorizada dos principais


acontecimentos e de curiosidades durante esta sua estada na Terceira.

Destes Ingleses que infestavam os mares dos Açores, salienta vários nomes
importantes, que comandavam armadas só destinadas a assaltarem navios carregados
de especiarias, ouro, pérolas e tesouros inimagináveis, como, Lorde Cumberland,
Capitão Martin Frobischer, Mestre John Hawkins, Capitão Drake. Almirante Thomas
Howard e o Vice-almirante Richard Grenville, como homens ferozes e sanguinários que
devastaram os Açores, pois exceto a Terceira, as outras Ilhas não tinham guarnições
para se oporem às suas investidas e saques e foram todas elas assaltadas mais do que
uma vez.

É impressionante a descrição dos tesouros que transportavam, os navios


espanhóis e portugueses e que, na maioria dos casos eram capturados pelos Ingleses,
muitas vezes à vista de terra e mesmo à entrada da baía de Angra.

Para termos uma noção dessas riquezas passo a transcrever uma passagem
deste capítulo: “Aí foram descarregadas com toda a pressa e presteza, e verificou-se
que traziam mais de cinco milhões em prata, tudo em peças do tamanho de oito e
dez libras, pelo que todo o cais e a praia ficaram cobertas de placas de prata e de
caixotes cheias de reais-de- oito, coisa milagrosa de ver, cada milhão valendo dez mil
ducados, fora as pérolas, o ouro e outras pedras que não vêm registadas”.

Por razões logísticas, a descarga, guarda e posterior carga destes tesouros, diz
bem da quantidade das riquezas que passaram em Angra e a importância das pessoas
que lá estiveram hospedadas durante a reparação das naus e carregamento de víveres
para as viagens de regresso a Lisboa e Sevilha.

Para termos a noção da quantidade de navios que, por esta altura,


demandavam o porto de Angra, Linschoten refere noutra passagem que a armada
41

espanhola em Setembro de 1591 reuniu junto à Ilha do Corvo mais de 140 navios, o
que é impressionante.

Na parte final deste capítulo narra como conseguiu finalmente resgatar as


mercadorias, exceto a pimenta, do galeão de Malaca que se tinha afundado, razão da
sua estada em Angra.

Partida para Lisboa no fim de Novembro de 1591. Chegada a Lisboa no dia 2 de


Janeiro de 1592. Partida para Setúbal em Julho. A 22 de Julho rumou à Holanda onde
chegou a 3 de Setembro a Enkhuizen. Na sua cidade encontrou a sua mãe, irmão e
irmã de boa saúde. Esta sua viagem demorou 12 anos e nove meses e meio, desde da
sua partida de Enkhuizen até à sua chegada à mesma cidade.
42

THEATRVM MVNDI – PORTUGALLAE MONUMENTA CARTOGRÁFICA

ROTA EFETUADA PELAS FROTAS NAS SUAS IDAS E VINDAS PARA A ÍNDIA

ANÓNIMO – JOÃO BAPTISTA LAVANHA E LUÍS TEIXEIRA 1597 / 1612


43

FRONTISPÍCIO DA EDIÇÃO PORTUGUESA DO “ITINERÁRIO”


44

FRONTISPÍCIO DA EDIÇÃO HOLANDESA DE 1596 DO “ITINERÁRIO”


45

MAPAS DA ILHA TERCEIRA


46

REPRESENTAÇÃO DA ILHA TERCEIRA DE 1507

MANUSCRITO VALENTIM FERNANDES (ALEMÃO)

OU

VALENTIM DA MORÁVIA
47

ILHA TERCEIRA

ANÓNIMO – LUÍS TEIXEIRA, 1582

GRAVURA EDITADA POR ORTÉLIO

PORTUGALAE MONUMENTA CARTOGRÁFICA

DR. ARMANDO CORTESÃO; CAP. TEN. AVELINO TEIXEIRA DA MOTA

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS

DIMENSÕES - 220 X 285 mm


48

ILHA TERCEIRA, 1587


PORTUGALAE MONUMENTA CARTOGRÁFICA
DR. ARMANDO CORTESÃO; CAP. TEN. AVELINO TEIXEIRA DA MOTA
BIBLIOTECA NACIONAL DE FLORENÇA

LEGENDA
Entre as ilhas dos açores esta é mais fértil, assim, mais forte, a que melhor se pode
defender. Em ela está a feitoria de El – Rei porque todas as Armadas que de todas as
partes vêm cumprindo a sua viagem, a ela vêm diferir onde se provêm de todo o
necessário de mantimentos e outras coisas, porque também o El – Rei o dá por bem e
ela melhor o pode fazer, tem muito pão, vinho, frutas, carnes, peixe e dá pastel com
que dão cor aos panos em Flandres, França e as mais partes do norte dela se provêm, a
razão também porque as armadas a ela vêm diferir, é porque tem o porto mais capaz
para poderem surgir por ter dois portos, um é o de Angra, junto à cidade, e outro do
Fanal que com duvidosos tempos podem estar em cada um, que são de uma parte e
outra do Brasil que é a ponta que mostra ser alta, também tem a praia bom
fundeadouro, chamada, Ilha do Bom Jesus e vulgarmente de Terceira porque vindo no
descobrimento delas ela foi a terceira, depois de acharem a de S. Miguel e de
Santa Maria

Feita por Luís Teixeira cosmógrafo de Sua majestade, em Lisboa ano do Senhor.
1587
49

PLANTA DA ILHA TERCEIRA NA CARTA “CASSITERIDES INSULAE VULGO ASORES”

PETRUS PLANCIUS 1592?

PORTUGALAE MONUMENTA CARTOGRÁFICA

DR. ARMANDO CORTESÃO; CAP. TEN. AVELINO TEIXEIRA DA MOTA


50

ILHA TERCEIRA

MAPA DE ORTÉLIO 1598


51

ILHA TERCEIRA

MAPA PETRUS BERTIUS 1618


52

ILHA TERCEIRA

MAPA PETRUS BERTIUS 1637


53

ILHA TERCEIRA

ANÓNIMO

SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVII (?)

BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

PORTUGALAE MONUMENTA CARTOGRÁFICA

DR. ARMANDO CORTESÃO CAP.TEN. AVELINO TEIXEIRA DA MOTA


54

ILHA TERCEIRA

INSERIDA NO MAPA DOS AÇORES NO CANTO SUPERIOR DIREITO

LES ISLES TERCERES

PIERRE DU’ VAL D’ ABBEVILLE GEOGRAFO DU ROI

BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DO PORTO


55

ILHA TERCEIRA

VISTA DO SUL EM FRENTE À CIDADE DE ANGRA

CARTA ESPANHOLA SÉCULO XVIII


56

ILHA TERCEIRA

CARTA NÃO IDENTIFICADA DE 1826


57

ILHA TERCEIRA

CARTA NÃO IDENTIFICADA SÉCULO XIX


58

MAPAS DOS AÇORES


59

REPRESENTAÇÃO DOS AÇORES DE 1507

MANUSCRITO VALENTIM FERNANDES (ALEMÃO)

OU VALENTIM DA MORÁVIA
60

AÇORES INSULAE

AUTOR LUÍS TEIXEIRA 1584

EDIÇÃO DE ORTÉLIO

PORTUGALAE MONUMENTA CARTOGRÁFICA

DR. ARMANDO CORTESÃO; CAP. TEN. AVELINO TEIXEIRA DA MOTA


61

AÇORES INSULAE

AUTOR LUÍS TEIXEIRA 1584

EDITADA EM AMESTERDÃO

DIMENSÕES 51,5 X 63,5 cm

MUSEU DE ANGRA DO HEROÍSMO


62

ILHAS DO SOL

(AÇORES)

ATLAS DE BATISTA AGNESE - SÉCULO XVI

BIBLIOTECA DO CONGRESSO DE WASHINGTON, DC, U.S.A.


63

ILHAS FLAMENGAS – AÇORES – DE JAN JANSSON – 1651

DIMENSÕES – 405X509 mm

BIBLIOTECA PUBLICA MUNICIPAL DO PORTO


64

ILHAS DOS AÇORES – OCIDENTAIS – TRCEIRAS - FLAMENGAS – SUPERIORES – 169-

VINCENZO MARIA CORONELLI

CARTA VENEZIANA

DIMENSÕES – 425X587 mm

BIBLIOTECA PUBLICA MUNICIPAL DO PORTO


65

ILHAS FLAMENGAS – DE ANTHONIE JACOBSZ – 1650 – 1662

DIMENSÕES – 379X488 mm

(AÇORES)

AMESTERDÃO

BIBLIOTECA MUNICIPAL DO PORTO


66

ILHAS TERCEIRA – AÇORES – FLAMENGAS – 1653 - 1657

PIERRE DU’ VAL D’ ABBEVILLE – PARIS

DIMENSÕES – 310X433 mm

BIBLIOTECA PUBLICA MUNICIPAL DO PORTO


67

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES OU TERCEIRAS

GRUPO OCIDENTAL

CARTA FRANCESA
68

ILHAS FLAMENGAS

CARTA HOLANDESA

ESTÃO REPRESENTADAS:

NO CANTO SUPERIOR ESQUERDO “CIDADE DA HORTA”

NO CANTO SUPERIOR DIREITO “CIDADE DE ANGRA”

NO CANTO INFERIOR DIREITO “CIDADE DE PONTA DELGADA”


69

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES

TAMBÉM CHAMADAS

FLAMENGAS OU ILHAS DO OESTE

CARTA INGLESA
70

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES

CARTA FRANCESA

ESTÁ REPRESENTADO:

NO CANTO SUPERIOR ESQUERDO O PORTO DE ANGRA

NO CANTO SUPERIOR DIREITO O PORTO DA HORTA


71

ILHAS DOS AÇORES

CARTA INGLESA
72

CARTA REDUZIDA DAS ILHAS TERCEIRAS 17..

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA ESPANHOLA
73

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES COM A COSTA DE PORTUGAL 1772

COM TRÊS PORMENORES DAS ILHAS

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA ESPANHOLA
74

CORVO E FLORES

FAIAL, PICO, SÃO JORGE, GRACIOSA E TERCEIRA


75

SÃO MIGUEL, SANTA MARIA E FORMIGAS

CARTA DAS ILHAS TERCEIRAS EM TRÊS CARTAS 1772

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA ESPANHOLA
76

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES 1788

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA ESPANHOLA
77

CARTA ESFÉRICA DAS ILHAS DOS AÇORES OU TERCEIRAS 1788

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA ESPANHOLA
78

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES OU TERCEIRAS 1788

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA ESPANHOLA
79

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES 1788

EXECUTADA POR M. BONNE ENGENHEIRO HIDROGRAFO DA MARINHA

CARTA FRANCESA
80

CARTA DOS AÇORES OU ILHAS DO OESTE 1790

VISTAS DO MAR DE ALGUMAS DAS ILHAS E PLANTAS DO PORTO DE ANGRA E FAIAL

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA INGLESA
81

CARTA ESFÉRICA DAS ILHAS DOS AÇORES 1826

CARTA PORTUGUESA
82

CARTA DAS ILHAS DOS AÇORES OU OESTE 1895

VISTAS DO MAR DE ALGUMAS DAS ILHAS E PORTOS DO FAIAL, ANGRA, PONTA


DELGADA E VILA FRANCA

MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA INGLESA
83

CARTA COROGRÁFICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS AÇORES E MADEIIRA

SÉCULO XX

BIBLIOTECA PUBLICA MUNICIPAL DO PORTO

CARTA PORTUGUESA
84

MAPAS COM OS AÇORES


85

MAPA COM OS AÇORES DE PEDRO REINEL – C. 1485


86

MAPA COM OS AÇORES DE JORGE AGUIAR DE 1492


87

MAPA DE CRISTÓVÃO COLOMBO C. 1492

DIMENSÕES - 700 X 1.100 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


88

MAPA MUNDO DE JUAN DE LA COSA, 1500

DIMENSÕES - 955 X 1.770 mm

MUSEU MARITIMO DE MADRID


89

PLANISFÉRIO DO CANTINO, 1502

DIMENSÕES – TRÊS FOLHAS COM 2.200 X 1.050 mm

BIBLIOTECA ESTENSE, MODENA, ITÁLIA


90

PORTOLANO DE DIJON, ANÓNIMO, C.1510

MÁXIMAS DIMENSÕES - 995 X 665 mm

BIBLIOTECA PÚBLICA DE DIJON, FRANÇA


91

OCEANO ATLÂNTICO DE PIRI RE’IS, 1513

DIMENSÕES - 900 X 650 mm – MUSEU TOPKAPI SARAYI ISTAMBUL


92

ATLAS MILLER – OCEANO ATLÂNTICO C. 1519

LOPO HOMEM E OUTROS

DIMENSÕES - 610X 1.180 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


93

MAPA-MUNDO – DE GIOVANNI VESPUCCI – 1526

SOCIEDADE HISPANICA DE NOVA IORQUE – U.S.A.


94

MAPA-MUNDO – DE DIOGO RIBEIRO – 1529

DIMENSÕES - 850X2.045 mm

BIBLIOTECA APOSTÓLICA – VATICANO - ROMA


95

MAPA-MUNDO – DE BATISTA AGNESE – 1534

DIMENSÕES – 195X295 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


96

MAPA-MUNDO – DE GUILLAUME BROUSCON – 1534

MEDIDAS – 640X450 mm

ARTE GALERIA – SAINT MARINE – CALIFORNIA – U.S.A.


97

MAPA-MUNDO – DE SEBASTIÃO CABOTO – 1544

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


98

MANUAL PARA PILOTOS – DE GUILLAUME BROUSCON – 1548

DIMENSÕES – 275X310 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


99

OCEANO ATLÂNTICO – DE DIEGO GUTIERREZ - 1550

DIMENSÕES – 1.318X885 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


100

MAPA-MUNDO – DE PERRE DESCELIERS – 1550

DIMENSÕES – 1.350X2.150 mm

MUSEU BRITÂNICO DE LONDRES


101

NOVO-MUNDO – DE NICOLAS DE NICOLAY – 1554

COLEÇÃO DE JUHA NURMINEN


102

UNIVERSA AC NAVIGABILIS TOTIUS TERRARUM ORBIS DESCRIPTIO

DE ETREAS HOMEM – 1559

DIMENSÕES – 1.500X2.940mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


103

OCEANO ATLÂNTICO E MAR MEDITERRÂNEO – DE GIACOMO DE MAGGIOLO – 1563

DIMENSÕES – 1.023X850 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


104

MAPA COM OS AÇORES COM A DESIGNAÇÃO DE “ILHAS TERCEIRAS” – C. 1563


105

MAR MEDITERRÂNEO – DE GIORGIO SIDERI – 1565

DIMENSÕES 290X430 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


106

MAPA COM OS AÇORES - 1565


107

MAPA-MUNDO – GERARD MERCATOR – 1569

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


108

MAPA-MUNDO PORTUGUÊS – DE ANÓNIMO – 1585

DIMENSÕES – 1.145X2.180 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


109

MAPA HOLANDÊS DE JOCODUS HINDIUS COM OS AÇORES - 1588


110

MAPA DO ATLÂNTICO – DE BARTOLOMEU LASSO – 1590

MUSEU MARITIMO DE AMESTERDÃO


111

MAPA DA PENÍNSULA IBÉRICA, AÇORES E CANÁRIAS

“CASSITERIDES INSULAE VULGO ASSORES” (PETRUS PLANCIUS, 1592?)

PUBLICADO POR CORNELIS CLAESZ – 1592 / 1594

NO CANTO INFERIOR ESQUERDO CARTA DA TERCEIRA ATRIBUIDA A LUIS TEIXEIRA


112

REGIÕES ÁRTICAS – DE GERARD E CORNELIS DE JODE – 1593

MAPA HOLANDÊS
113

PRIMEIRA VIAGEM HOLANDESA PARA AS ÍNDIAS ORIENTAIS

DE THEODORE DE BRY – 1599 / 1628

COLEÇÃO BERNARD J. SHAPERO - RARE BOOKS - LONDRES


114

MAPA DO OCEANO ATLÂNTICO – C. 1600


115

MAPA-MUNDO – DE EDWARD WRIGHT – 1600

BIBLIOTECA JONH CARTER BROWN – UNIVERSIDADE BROWN

RHODE ISLAND – U.S.A.


116

MAPA DO OCEANO ATLÂNTICO – DE GUILLAUME LEVASSEUR – 1601

DIMENSÕES – 744X990 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


117

OCEANO ATLÂNTICO, MAR MEDITERRÂNEO E MAR NEGRO

DE SAMUEL DE CHAMPLAIN - 1607

DIMENSÕES 370X545 mm

BIBLIOTECA DO CONGRESSO – WASHINGTON DC U.S.A.


118

OCEANO ATLÂNTICO, MAR MEDITERRÂNEO E MAR NEGRO

DE HARMEN E MARTEN JANSZ – C. 1610

DIMENSÕES 850X710 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


119

FRONTISPÍCIO DO LIVRO”CERTOS ERROS NA NAVEGAÇÃO” – DE EDWARD WRIGT 1610

BIBLIOTECA NACIONAL DA FINLÂNDIA - HELSÍNQUIA


120

OCEANO ATLÃNTICO – DE PIERRE VAULX – 1613

DIMENSÕES 681X958 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


121

MAPA DA AMÉRICA – DE WILLEM JANSZ – 1617

MAPA HOLANDÊS
122

OCEANO ATLÂNTICO – DE DOMINGOS SANCHEZ - 1618

DIMENSÕES 950X840 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


123

MAPA-MUNDO – ANÓNIMO – C. 1630

DIMENSÕES 270X380 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


124

ATLAS DO MEDITERRÂNEO – DE AUGUSTIN ROUSSIN - 1633

DIMENSÕES 277X394 mm
125

MAPA-MUNDO NÁUTICO – DE JEAN GUÉRARD – 1634

DIMENSÕES 396X479 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


126

MAPA COM OS AÇORES - 1638

BIBLIOTECA PUBLICA MUNICIPAL DO PORTO


127

MAPA PORTUGUÊS COM OS AÇORES - 1640


128

MAPA PORTUGUÊS COM OS AÇORES COM A DESIGNAÇÃO DE “ILHAS TERCEIRAS” 1643


129

MAPA PORTUGUÊS COM OS AÇORES - 1646


130

OCEANO ATLÂNTICO NORTE – DE DENIS DE ROTIS – 1674

DIMENSÕES 880X435 mm

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


131

MAPA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS – DE JACOBUS ROBIJN – C. 1674

CASA DOS MAPAS DE LONDRES

MAPA HOLANDÊS
132

MAPA DO MUNDO – DE GERARD VAN KEULEN – C. 1710 / 1720

COLEÇÃO DE JUHA NURMINEN

MAPA HOLANDÊS
133

MAPA MUNDO – DE EDMUND HALLEY – 1730

COLEÇÃO DE JUHA NURMINEN


134

MAPA DAS PRINCIPAIS EXPLORAÇÕES MARITIMAS COM OS AÇORES NO CENTRO


135

RFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

Itinerário, Viagem ou navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias


Orientais ou Portuguesas

Edição preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses

Lisboa 1997

Historic Maritime Maps

Used for historic exploration

1290 – 1699

Donald Wigal

História das Viagens Marítimas

A navegação pelos oceanos do Mundo

Donald S. Johnson

Juha Nurminen

Sete Mares

Monumenta Cartographica Neerlandica

Gunter Schilder

1987
136

Cartografia Impressa dos Séculos XVI e XVII

Imagens de Portugal e Ilhas Atlânticas

Comemorações do 6º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique

Exposição

Organização

Comissão Municipal Infante 94

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses

Julho / Setembro, 1994 Porto

Por mar e por terra tantas mil léguas

Infante 94

6º Centenário do nascimento do Infante D. Henrique

Biblioteca Pública Municipal do Porto

Seção de Cartografia do Museu Naval de Madrid


137

IV – DO POVOAMENTO ATÉ À CARTA DE ANGRA DE 1595.

O povoamento da Terceira e de Angra começou na década de quarenta


do século XV. Relativamente a esta data todos historiadores que se têm dedicado a
este assunto estão de acordo. Quanto ao mês, ao ano, por quem e como, temos a este
respeito muitas teorias, mas quase nenhuma documentação.

As circunstâncias que possibilitaram o povoamento dos Açores


continuam por clarificar. Alguns estudiosos, entre os quais eu me incluo, admitem que
as primeiras abordagens tenham sido feitas por marinheiros do Infante, que no seu
regresso da costa de África, quer antes ou depois da dobragem do Cabo Bojador,
devido aos ventos e correntes dominantes no Atlântico Norte tenham reencontrado as
ilhas Açorianas, isto no sentido oeste / este, isto é Corvo / Flores, Santa Maria. Devido
à circunstância de que Lisboa está situada no paralelo 39º, e a navegação no seu
regresso de África procurar chegar a esta altura (latitude), era inevitável o encontro
com o canal Corvo / Flores, logo de seguida S. Jorge / Graciosa e finalmente Angra na
Ilha Terceira, pois estavam todos na mesma latitude de Lisboa. Como confirmação do
que foi dito, os primeiros povoadores de Angra são os marinheiros do Infante que
fizeram tentativas ou que dobraram o Cabo Bojador. Não é em vão que o nome de
“Ilhas Terceiras” aparecem em inúmeras cartas até aos séculos XVII e XVIII, para
designar os Açores, devido ao fato de serem as terceiras ilhas para quem vem do sul,
Canárias, Madeira e os Açores.

O mais antigo documento régio que se conhece referente aos Açores é de 2 de


Julho de 1439, que permite o lançamento de gado em sete das nove ilhas açorianas.
Em seguida temos a carta régia de 5 de Outubro de 1443, que isenta os habitantes dos
Açores do pagamento de dízimo nas suas exportações e pouco mais temos além deles.
Estes quatro anos de diferença entre o primeiro e o segundo documento levam-me a
concluir, que o povoamento já estava em franco progresso para ser possível as
exportações, e o primeiro documento não foi mais do que a legalização de um fato já
consumado. A confirmar temos que Angra nos meados da segunda metade do século
XV, já é uma povoação com alguma dimensão para ser vila. Para isso já temos a
documentação necessária e suficiente.
138

O que interessa neste caso é como se desenvolveu Angra desde o início até à
carta de 1595 (Linschoten), isto é, durante cerca de cento e cinquenta anos, ou pelo
menos, o que será lógico em termos de urbanismo e planeamento, se o houve durante
este período.

A procura para um núcleo de povoamento, segundo as diretrizes da época, vai


recair sem dúvida em Angra, apesar de no início do da Terceira não ser este o local
preferido, mas rapidamente é escolhido este como sendo o lugar ideal, por ter uma
baía abrigada dos ventos dominantes, acesso fácil, defesa sem dificuldades, água
corrente abundante e potável durante todo o ano, como quase todas as cidades
metropolitanas que ficam situadas a norte dos rios, viradas a sul, boa salubridade e
protegidas do ocasional vento norte no inverno. Este lugar seria sem dúvida o eleito na
Terceira e o melhor dos Açores para as condições da época que estamos a descrever.

O seu núcleo inicial terá sido semelhante ao da cultura das cidades medievais,
num alto, com água abundante e potável e com terrenos de cultivo muito perto. Esse
lugar seria as faldas de um outeiro que se chamaria “Lugar do Outeiro” e onde
construíram no início um castelo com certeza rudimentar, que mais tarde foi
remodelado e fortificado, para a sua defesa, e se chamou Castelo de S. Luís, local onde
hoje está implantado a Memória a D. Pedro IV.

Este lugar dominava perfeitamente as baías de Angra e do Fanal e ao mesmo


tempo ficava dissimulado de quem passava ao largo, porque dificilmente se
distinguiria da vegetação circundante.

A ligação deste povoado inicial com o cais era fácil, rápida e segura, através das
linhas de menor declive do terreno, como se faziam as estradas até há bem poucos
anos em Portugal, e seria pelas ruas de Santo Espírito, Garoupinha, Frei Diogo das
Chagas e Pisão desembocando no lugar do Outeiro, sendo este o primeiro eixo viário.

Como todos os povoados portugueses que, com o tempo, foram descendo para
as margens dos rios, aqui foi-se descendo para a beira-mar.

O centro da bacia hidrográfica que constitui Angra é a Praça, que deveria ser
um pântano segundo as testemunhas mais antigas e a tradição, face à quantidade de
água da chuva e da ribeira que lá se depositava e que depois iria correr naturalmente
139

para o mar, pântano esse que foi drenado convenientemente, possivelmente logo
após o início do povoamento.

Esta praça é efetivamente o lugar geométrico da futura cidade, em que o


segundo eixo viário deverá ser a Rua Direita, que seja a exemplo de outras cidades
portuguesas da metrópole, a rua direta do Cais à Praça até à Casa do Capitão
Donatário e é ao longo dela que se vão fixar os edifícios mais importantes: Alfândega,
Hospital, Igreja da Misericórdia, Paços do Senado da Câmara, Tribunal da Justiça,
Cadeia com as enxovias, Audiência Geral, açougue comum da cidade, Igreja dos Santos
Cosme e Damião, Pelourinho, fonte principal de abastecimento de água à cidade, Casa
do Governador, Casa do Capitão Donatário e mais tarde o Colégio dos Jesuítas por
demolição da Igreja dos Santos Cosme e Damião.

Neste momento, estamos numa fixação por via popular já com centenas de
anos de experiência, a que se vai seguir o desenvolvimento da cidade por via erudita, a
das cidades medievais planeadas, mas sempre tendo em a atenção a topografia do
terreno.

D. Manuel I começou a regulamentar a legislação existente sobre a


modernização das cidades e o seu ordenamento, rasgando praças de modo a dar
expressão urbanística aos diversos eixos viários.

A transmissão de conhecimentos nesta altura é feita como na Idade Média,


através da relação “Mestre / Aprendiz” e segundo trabalhos práticos, o legado do
saber era na maior parte das vezes feito de país para filhos.

Mas não há dúvida, de que a partir dos fins do século XV e princípios do XVI,
começam a aparecer tratados Italianos e não só sobre a matéria, como “De
Aedificatoria” de Alberti de 1450, “Tratado de Arquitetura Civil e Militar” de Giorgi
Martini de 1496, Tratado de Arquitetura” de Serlio de 1537, Tratado de Sagredo,
“Método das Fortificações” de Durer e talvez o mais importante, a descoberta, cerca
de 1412, dos dez livros de Arquitetura de Vitrúvio. Toda esta literatura vai ajudar na
renovação e conceção das cidades portuguesas, nomeadamente as que se vão
construir de raiz no ultramar (Madeira, Açores, Brasil, África etc.), estando Angra
incluída.
140

O que é certo, é que, a partir do século XV e princípios do século XVI, as cidades


portuguesas na rota dos descobrimentos começam a ser planeadas e implantadas,
como, por exemplo, no norte de África Mazagão, na Índia Diu, Cochim e Mengala, no
Brasil São Salvador da Baía e Rio de Janeiro.

A construção das cidades coloniais portuguesas vai-se desenvolver a partir do


núcleo inicial atrás descrito, mas já com traça e planeamento perpendicular, de que
Angra será um exemplo.

Angra vai sofrer ao longo dos anos, vários níveis de intervenção, desde o núcleo
inicial do Lugar do Outeiro e Castelo de S. Luís, até à urbanização ortogonal da zona
junto ao 2º eixo viário e a baía.

A rua da Sé vai começar na Praça, desenvolvendo-se na linha de menor declive


do terreno e paralela à baía, pois a norte e a sul desta rua as cotas são superiores ou
iguais a ela. A linha de menor declive do terreno a partir do porto, é a rua Direita até à
Praça e depois até ao Alto das Covas. E temos assim implantado o terceiro eixo viário,
que vai ser o mais importante comercialmente com a demolição da pequena igreja
existente, e a construção da imponente Igreja da Sé sede do novo Bispado criado, fator
importante e a prova do grande desenvolvimento da cidade, já nos inícios do século
XVI.

A formação do Monte Brasil é devida a um vulcão, que começou em pleno mar


perto da costa. Na sua fase final de expelir cinzas, que mais tarde deram origem aos
tufos vulcânicos, foram-se depositando devido aos ventos dominantes de oeste e sul
nesta zona, até efetuarem a ligação à ilha já existente. A rua da Sé é sensivelmente a
linha de ligação destas duas “ilhas”, (a existente e a que se formou) e é por essa linha
que vão correr as águas das chuvas até à Praça, construindo naturalmente esta rua.
Esta formação natural, aliada ao seu paralelismo à baía vai dar origem e ajuda ao
planeamento retangular de Angra, visto que a rua da Sé é sensivelmente ortogonal
com a rua Direita. Aqui está a razão de termos atrás falado na ligação, entre o
planeamento e a topografia do terreno. Não sabemos qual foi o mais importante, se o
planeamento, se a topografia do terreno. O que sabemos é que foi um casamento
perfeito esta união, pois o resultado foi Angra ser, quase de certeza, a primeira cidade
portuguesa com caraterísticas renascentistas.
141

Assim esta particularidade topográfica vai dar uma ajuda ao traçado de Angra,
já que o seu terceiro eixo, agora um dos principais, vai-se prolongar naturalmente para
nascente até S. Bento e para poente até S. Pedro.

O início do povoamento de Angra que começou, como já foi referido, por via
popular, vai ter continuidade, por via erudita e cultural, de uma cidade do
Renascimento.

E, como é uma cidade que se expande muito rapidamente, devido ao comércio


que lhe traz a expansão marítima, possivelmente e de acordo com as ordens reais,
teve um plano estratégico emanado teoricamente, mas que na prática com todas as
condições para ser implantado, devido à topografia e condições naturais do terreno.

Possivelmente os engenheiros militares portugueses que construíram os


castelos de S. Luís e de S. Sebastião devem ter dado uma grande ajuda no
planeamento da cidade. Talvez até tivessem projetado e implantado no terreno a
maior parte dos quarteirões, a partir dos três eixos viários iniciais e concebido o
esqueleto da futura cidade.

A própria “igreja” como entidade aglutinadora, deve ter dado o seu contributo,
com a implantação das igrejas paroquiais, ermidas, conventos e não só, que eram
centros dinamizadores de construção em seu redor, de que são exemplos os bairros de
S. Pedro, Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição e S. Bento.

Mais tarde, isto é, já em meados do século XVI, a fundação do Colégio dos


Jesuítas inicialmente na rua de Jesus e em seguida onde está atualmente no topo da
rua Direita, vai permitir o ensino das diversas disciplinas necessárias às profissões
ligadas à engenharia e à arquitetura, possibilitando assim a formação das pessoas
necessárias à construção dos quarteirões e das edificações.

Por altura da execução da carta de Angra (Linschoten), para a construção do


Castelo de S. Filipe mais tarde designado S. João Baptista, os engenheiros militares
espanhóis que, com certeza, vieram para a sua conceção e construção, face à
grandiosidade dos trabalhos a executar, devem ter dado, também, uma ajuda na
consolidação deste traçado ortogonal, apesar de nesta altura quase todas as vias
principais já estarem delineadas e projetadas. Como é sabido, a Espanha tinha um
gabinete de urbanismo e planeamento em Sevilha, que, de acordo com as ordenações
142

reais do princípio do século XVI, projetava cidades de raiz, para as designadas Índias de
Castela a partir de determinada dimensão e importância, pois existe documentação e
desenhos que comprovam esses trabalhos de engenharia e arquitetura.

A partir do segundo e terceiro eixos viários, ruas, Direita, Praça e Sé, começou a
implantação da futura cidade, com cinco bairros que vão constituir os vértices de uma
estrela, com centro nestas duas ruas ortogonais, a saber, S. Pedro, Santa Luzia com
Outeiro incluído, S. Bento, Conceição com o Corpo Santo zona dos homens ligados ao
mar incluído, zona da Rocha incluindo os finais das ruas de Jesus, Canos Verdes,
Recreio dos Artistas, isto é, a zona de influência do primitivo Colégio dos Jesuítas.

O núcleo central que corresponde à Sé fica reservado para os centros de


decisão do poder e aos nobres, embora tudo leva a crer que a sua localização é por via
popular, sendo a parte restante por via erudita adaptada ao terreno com
planeamento. Deste modo, Angra com o seu planeamento antecipa-se ao Bairro Alto
em Lisboa. No entanto seria necessário efetuar mais pesquisas sobre esta matéria. É
uma corrida contra o tempo para dar resposta rapidamente ao seu comércio
florescente, no qual se incluem os estaleiros de construção e reparação naval do
princípio do século XVI, que vão conduzir a este crescimento muito rápido da cidade.

Justapondo uma carta topográfica de meados do século XX com a carta de


Angra de 1595 (Linschoten), as semelhanças entre as duas são impressionantes. É o
que constitui uma das grandes preciosidades desta carta.

Mas o fato mais importante é que Angra nos finais do século XVI, quando
Linschoten esteve durante cerca de dois anos e meio nesta cidade, vai manter-se
praticamente inalterável até aos nossos dias. Isto é, durante cerca de 470 anos vão
dar-se algumas correções, com mais algumas construções, com alguns desvios é certo,
mas porém, o seu urbanismo inicial e os seus eixos viários vão manter-se até o
terramoto de 1980.
143

CARTA DE ANGRA DE 1595 (LINSCHOTEN)

ZONA OCIDENTAL
144

ZONA ORIENTAL
145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Terra e Fortuna: os primórdios da Humanização da Ilha Terceira (1450? – 1550).

Rute Dias Gregório.

Centro de História de Além Mar.

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

Universidade Nova de Lisboa.

O Urbanismo Português.

Séculos XIII – XVIII Portugal – Brasil.

Manuel C. Teixeira – Margarida Valla.

Livros Horizonte.

A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus.

Edição comemorativa dos 450 anos da Cidade de Angra.

Angra do Heroísmo 1985

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro Dias.

Angra do Heroísmo.

Janela do Atlântico entre a Europa e o Novo Mundo.

Francisco dos Reis Maduro Dias.

Região Autónoma dos Açores 1991.


146

V – TÉCNICAS E ESCALAS UTILIZADAS NO DESENHO DA CARTA

Inicialmente a planta das cidades, se assim lhes podemos designar, não eram
executadas por cartógrafos, mas sim por pintores, tendo passado a serem executadas
a partir do século quinze por mestres de cartografia.

O trabalho no terreno seria executado com uma bússola adaptada a um


goniómetro com alidade, inicialmente de pínulas mais tarde de luneta, determinando
assim os ângulos horizontais relativamente ao norte magnético, dos pontos principais
do terreno cuja localização queríamos determinar para figurar na carta. Mais tarde as
pínulas teriam a possibilidade de determinar os ângulos verticais e as distâncias.

Ao mudar de estação, focavam novamente um dos pontos já levantados


anteriormente, de modo a estabelecer a malha topográfica, continuando a determinar
os ângulos horizontais dos pontos relativamente ao norte magnético.

As distâncias da estação aos pontos, e entre estes, eram efetuados com cadeia,
a designada “cadeia do agrimensor”, que era composta por um determinado número
de troços de arame de ferro ou elos de fio de aço, ligados entre si por argolas do
mesmo metal e terminando por dois punhos. As alturas eram, sempre que necessário,
também medidas com a cadeia.

Podemos dizer que era uma combinação de uma base métrica bidimensional, a
planta, com alçado construído em perspetiva.

Após a colheita dos elementos necessários no terreno, isto é o designado


trabalho de campo, que não é mais do que o levantamento em planimetria e
altimetria, há que transpô-los para o desenho, trabalho que já pertence ao desenhador
e seus ajudantes.

A carta foi desenhada em projeção paralela ou cilíndrica, ortogonal, em


perspetiva axonométrica isométrica, ou como também se designa por cartografia
urbana. O que querem dizer estas palavras para percebermos que efetivamente a
carta tem muito de real e não é ficção, isto é, o desenho das ruas, das habitações, dos
edifícios importantes, etc, são efetivamente os existentes no terreno.
147

A projeção diz-se paralela, quando o centro das projeções se encontra no


infinito e os raios visuais são paralelos e é ortogonal porque as projetantes são
ortogonais (perpendiculares) ao plano aonde são projetadas.

Mas, como é difícil a um observador menos atento ou não conhecedor da


matéria, aperceber-se e perceber o desenho em projeção ortogonal, completa-se com
a perspetiva. Em construção civil, utiliza-se normalmente o desenho em projeções
ortogonais, com plantas, alçados e cortes.

Para facilitar a rapidez do desenho, as perspetivas correntemente utilizadas são


as designadas por “rápidas”, que podem dividir-se em trimétricas, dimétricas e
isométricas.

Destas três a que foi utilizada para o desenho da carta foi a isométrica, por ser
a mais fácil e rápida, que não é mais do que representar num plano, as três dimensões
(comprimento, largura e altura), o que nos dará a imagem do que se passa no terreno.

A perspetiva tem sempre três direções e três medidas, as direções definidas são
as designadas direções axonométricas e as linhas que são paralelas são designadas por
linhas axonométricas.

No caso de desenho da carta em perspetiva isométrica, uma das medidas é a


unidade e as outras duas são iguais. As direções, duas são iguais, e a terceira é
ortogonal, o quer dizer que o ângulo entre elas é de 90º.

Como já foi referido, a perspetiva com que foi desenhada a carta tem a
vantagem de qualquer observador perceber rapidamente as ruas, os edifícios, etc. Não
é necessário ser especialista ou ter formação específica para efetuar a sua leitura.

Por outro lado, tem o inconveniente, como no caso dos comprimentos. Ficam
deformados, podendo ser observado pelas dimensões dos telhados relativamente aos
alçados das casas, quando estas nos aparecem de perfil, isto é o alçado lateral virado
para o observador, sendo este pormenor facilmente comprovado por uma consulta
cuidadosa da carta.
148

Como não temos, infelizmente as medidas reais colhidas no terreno, ou um


original da carta que nunca foi encontrada, apesar de Linschoten dizer no “Itinerário”
que fez dois originais, um para si e outro que enviou ao Rei, neste caso, a Filipe II de
Espanha. Não podemos determinar qual a “razão” (escala), com que foi desenhada a
carta, de modo a ser possível confrontar as medidas efetuadas na carta com as
dimensões reais no terreno e assim teríamos a possibilidade de verificar se era
verdadeira em medidas.

Quando as ruas relativamente ao observador são inclinadas para a esquerda ou


direita ou em curva, as habitações são representadas com dois alçados e cobertura.
Como exemplo referiremos a igreja de Nossa Senhora da Conceição, em que são
representados dois alçados e a cobertura em perspetiva, em virtude de estar inclinada
relativamente às linhas ortogonais do desenho.

No entanto, as larguras das ruas, na sua relação entre si, são as atuais, como
podemos constatar facilmente.

Efetuando a sua medida numa carta atual de Angra á escala 1:1.000, o que quer
dizer que são aproximadas e não rigorosas, teremos para a largura das mais
representativas:

Rua da Sé 11,00 m, Rua de Santo Espírito 5,5m, Rua Direita 12,0m, Rua de S.
João 11,0 m, Rua da Palha 7,0 m, Rua dos Salinas7,0m, Rua da Rosa 6,0 m.

Ao olharmos para estas medidas e para a carta, verificamos facilmente que a


Rua Direita é sensivelmente mais larga do que a Ruas de S. João e da Sé, e muito mais
larga do que as Ruas da Palha e da Rosa e que a Rua de Santo Espírito é a mais estreita
de todas. Podemos estabelecer uma relação entre as larguras atuais e as da carta,
chegando facilmente à conclusão de que as da carta são sensivelmente iguais às atuais,
e que estão de acordo com a realidade, ou pelo menos dão-nos essa imagem.

A precisão dos detalhes é no mínimo impressionante, pois permite perceber e


reconhecer a maioria dos edifícios e ficar com uma boa ideia de como eram à data de
execução da carta, ter uma noção clara dos que já desapareceram ou que foram
alterados. Concretamente, a Igreja da Sé em construção deixa perceber perfeitamente
149

os seus detalhes construtivos, que estão de acordo com a atualidade. As alterações


urbanísticas sofridas ao longo dos tempos, são também facilmente observáveis na
carta, sabendo-se também quais foram essas transformações, citando como exemplos
o atual Largo Prior do Crato, Praça Velha, Convento de S. Gonçalo, Alto da Covas,
Convento da Esperança, zonas de S. Pedro, Fanal, S. Bento, etc. As igrejas, quase todas
elas, sofreram alterações, principalmente na sua orientação, que na carta estavam
viradas a nascente (Jerusalém) e hoje estão viradas a norte/sul. Como exceção temos a
igreja da Sé que já está na carta com a orientação norte/sul, No entanto, a primitiva
igreja que existia no local antes desta, tinha a orientação nascente/poente.

Temos também os sombreados no desenho que nos auxiliam na interpretação


do relevo e das alturas, de modo a dar profundidade à carta, o que se verifica
facilmente no topo da carta e na zona da baía e dão a noção das reentrâncias,
saliências e das alturas das rochas. Permitem-nos ainda concluir que nas zonas baixas
da baía, foram necessárias defesas em muralhas.

A luz aparece do lado esquerdo, como se o desenho tivesse sido executado à


tarde, quando o sol está do lado poente.

Não há dúvida de que a precisão da perspetiva utilizada nos sugere que o autor
ou autores da carta, era um grande artista, conhecedor das técnicas do desenho à mão
livre e esboços panorâmicos.

A partir desta fase em que o desenho está completo, passa ao gravador que vai
passar o desenho gravando-a em chapa de cobre.

A fase final é com o editor, que vai imprimir em número limitado neste nosso
caso, a quantidade de cartas. Do exemplar a preto e branco de que temos cópia, foram
impressas trezentos e cinquenta e umas unidades.
150

AGRIMENSOR HOLANDÊS INSERIDO NO BLAEU’S DE 1607, CARTA DE BEEMSTER

NA MÃO ESQUERDA GONIÓMETRO HOLANDÊS (DUTCH CIRCLE)

NA MÃO DIREITA A CADEIA DO AGRIMENSOR (MEASURING CHAIN)


151

GONIÓMETRO INGLÊS DE PÍNULAS (BÚSSOLA DE HARVEY W. HUNT)

IMAGEM EXTRAÍDA DO LIVRO

“INSTRUMENTS OF SCIENCE AN HISTORICAL ENCYCLOPEDIA”


152

DETERMINAÇÃO DE ÂNGULOS HORIZONTAIS ENTRE DOIS PONTOS PARA


DETERMINAÇÃO DE COMPRIMENTOS ENTRE DOIS PONTOS NÃO ACESSIVEIS

APARELHO UTILIZADO “BALESTILHA”

“LES PREMIÉRES OEUVRES DE JACQUES DE VAHAUX” - 1583

BIBLIOTECA NACIONAL DE PARIS


153

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Verbo enciclopédia Luso Brasileira de Cultura – Volumes 3,6,11,15 e 18.

Desenho técnico – Fundação Calouste Gulbenkian – Luis Veiga da Cunha.

Manual do Oficial Miliciano – Parte Geral.

Ministério do Exército – Estado-Maior do Exército – Rep. De Instrução.

2º Volume – 1965.

Tienpo y Espacio en el Arte.

Homenaje al Professor – Antonio Bonet Correia.

Tome I.

Um Plano Axonométrico de Valencia Diseñado por Manceli em 1608

Universidade de Valencia.

Instruments of Science.

An Historical Encyclopedia.

Editors – Robert Bud.

The Science Museum, London.

Nel Segno di Masaccio; L’ Invenzione della Prospettiva.


154

A cura di Filippo Camerota.

Planta em Perspectiva Alçada de Salamanca de 1858.

Plantas em perspetiva: Lisboa 1593; Braga 1594; Coimbra ??; Goa 1595;
Restituição da Bahia 1631; Salvador 1671.

Monumenta Cartographica Neerlandica.

Volume IV

Gunter Scilder.
155

VI – TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS CARTELAS.

As cartelas são superfícies em destaque na carta, destinadas a inscrições ou


desenhos a enaltecer mecenas ou pessoas importantes ligadas ao assunto a que a
carta se refere. No nosso, caso temos inscrições relativas à cidade, à Ilha Terceira e a
entidades como o capitão donatário, assim como gravuras a esclarecer a razão da
existência dos Açores. A sua decoração é ao gosto e usos na época, neste caso o século
XVI, pois todas as cartas desta altura têm a mesma decoração à volta das referidas
superfícies.

A – ZONA SUPERIOR (da esquerda para a direita).

1 – Primeira cartela com elogio a Angra.

Ipsa frequens populo agricollis…..


156

“Esta é Angra, rica em povo, refúgio dos agricultores que, com os bois, lavram
os férteis montes da Terceira.

Segura e engrandecida a cidadela por decisão do Concelho, o rei transferiu todo


o domínio do mar para aqui, onde a semelhança com os falcões fez destas ilhas os
Açores.

Um ignorante navegador Belga da Flandres escreveu isto” (1)

PHoogerb (2)

2 - Cartela com as armas Reais de Portugal com coroa aberta.

As armas reais aqui consagradas na carta são do reinado de D. João III e foram
utilizadas de 1521 a 1578.
157

A encimar o escudo está colocada, por ordem de D. Manuel I, uma coroa real
aberta, que quer simbolizar a autoridade régia e a centralização do Estado que ele
tanto pugnou por levar a cabo.

O escudo tem a forma inferior redonda, que se convencionou designar por


escudo português, é branco com uma bordadura em vermelho onde estão colocados
sete castelos. Foi no reinado de D. Manuel I que o número de castelos ficou
definitivamente consagrado.

Existem muitas teorias sobre a existência destes castelos, dado que o seu
número foi variável ao longo do tempo, tendo-se fixado em sete nesta altura, como já
foi referido. Tradicionalmente representam a vitória dos portugueses sobre os seus
inimigos. Também podem simbolizar a conquista do “Reino dos Algarves”, com os sete
castelos conquistados neste reino, não havendo contudo consenso por parte dos
historiadores relativamente à sua identificação.

As cinco quinas representam as cinco chagas de Cristo; o seu formato segue o


do escudo português; é circular na parte inferior. Os pontos brancos no seu interior
estão relacionados com a lenda do tempo de D. Afonso Henriques, segundo a qual este
rei na altura da batalha de Ourique, que foi travada em 26 de julho de 1139, estando a
rezar e a pedir a proteção divina, teve uma visão de Cristo pregado na Cruz. Após a
vitória nesta batalha, D. Afonso Henriques, em sinal de gratidão, incorporou os
estigmas de Cristo na bandeira de Portugal. (3)

3 – Cartela central em destaque.(4)

A CIDADE DE ANGRA NA ILHA DE JESUS CRISTO DA TERCEIRA QUE ESTÁ EM 39 GRAUS


158

É a esta coincidência do canal das Ilhas, Corvo/Flores, S. Jorge/Graciosa, a


cidade de Angra e a cidade de Lisboa estarem à altura de 39º (latitude), que se deve,
em minha opinião, o grande desenvolvimento de Angra, aliada, como é óbvio, a outras
circunstâncias.

Como já foi referido, durante as tentativas da dobragem do Cabo Bojador,


entre os anos 1422/1434, os portugueses chegaram à conclusão de que, devido aos
ventos e correntes dominantes nesta zona do Oceano Atlântico, o regresso a Lisboa só
seria possível pelo largo. Neste regresso, invariavelmente as naus iriam passar pelos
Açores nomeadamente por Angra, devido a esta estar à latitude de Lisboa. Daí a razão
de nesta cartela central da carta estar em destaque os 39 graus.(4)

4 – Gravura com uma ave de rapina.


159

Cabeça de anjo, que tem entre os lábios um fio que segura um escudo
retangular, com a parte inferior em meio círculo que termina ligeiramente em cunha, o
escudo português. O escudo tem o fundo vermelho com a palavra AÇOR, “ accipiter
gentilis” em cima à direita. A ave de rapina que está representada é, efetivamente um
açor, como mostram o desenho das penas e principalmente o feitio da cauda que é
reta. (5) Para confirmar que se trata de um açor que está representado na gravura, a
ave tem nas patas os “piós”, correias com cerca de 20 cm de comprimento, colocadas
em volta dos “sancos” para as sujeitar ao punho, ou, em ligação com o “tornel” e a
“avessada”, às “alcandoras” e a os “bancos”. Estas aves, quando em voo
completamente livre, levam os seus piós, flutuando no ar totalmente desembaraçados.
Por esta descrição chegámos sem dúvida à conclusão que a ave representada é de
Cetraria, que é a designação para um aforma de caça. (6)

Como é do conhecimento geral, as aves de rapina que os primeiros povoadores


encontraram e que, ainda hoje, existem em grande número em todas as ilhas, foram
os chamados “queimados”, “buteo buteo ssp. rothschild”, da família dos milhafres ou
águias-de–cauda-redonda, que se distinguem bem dos açores pela cor das penas, pelo
feitio da cauda, é em “V” invertido, distinguindo-se perfeitamente quando estão em
voo, (ver no fim deste capítulo imagens destas duas aves de rapina).

Então como explicar este nome para designar o arquipélago, quando todos os
cronistas que escreveram sobre os Açores, começando com “A descrição das Ilhas
Atlânticas” de Valentim Fernandes, (Alemão) de 1507; “Itinerário” de Linschoten de
1595 disseram que as ilhas se encontravam despovoadas e cheia de açores pelo qual
ficou este nome. A primeira cartela da carta de Angra, diz que as ilhas se assemelham a
falcões, outra ave de rapina, que me leva a concluir que, devido à situação e perfil visto
do mar das ilhas, os marinheiros deram-lhe esta designação, e não às aves de rapina
existentes.

Na cartografia dos séculos XIV aos princípios do XVIII, aparecem várias


designações para as ilhas: Cassitérides ou Ilhas do Estanho; Terceiras; Flamengas; Sol;
Oeste; Superiores ou Altas (Hautes) e finalmente Açores e foi este último nome que se
fixou até aos dias de hoje, possivelmente também por ser mais apelativo.
160

5 – Brasão de Armas de D. Cristóvão de Moura e Távora Corte Real.

“ILLVSTRI E GENEROSO DÑO CHRISTOPHORO A MOURA….

Dedicatória e elogio a D. Cristóvão de Moura.

Ao ilustre e magnânimo Dom Cristóvão de Moura, varão insigne entre os


grandes da corte régia, conselheiro do reino, administrador fidelíssimo dos negócios
de Portugal, comendador da ordem de Alcântara, governador e capitão donatário das
Ilhas Terceira e de S. Jorge, por muitos títulos digno de honra. João Hugo de Linschoten
oferece respeitosamente. (4)
161

Quem é este homem tão odiado e vilipendiado da História de Portugal? Trata-


se, afinal, de um homem que hoje muitas pessoas pretendem reabilitar porque
personifica a união Ibérica, união por que tanto pugnou. (7)

Nasceu em Lisboa em 1538 e morreu em Madrid em 1613. Era filho de D. Luís


de Moura, Alcaide-Mor de Castelo Rodrigo, que entronca segundo alguns
genealogistas, numa família de raízes toponímicas da Vila de Moura no Alentejo. As
suas armas são em fundo vermelho, com sete castelos de ouro, postos da seguinte
forma: um, dois, um, dois e um. A mãe era D.ª Brites de Távora, filha de Cristóvão de
Távora, 2º senhor do Morgado de Caparica e de sua esposa, D.ª Francisca de Sousa.
Esta família, cujo nome é sobejamente conhecido, é de remotíssimas e nobres origens,
muito anterior à fundação da nacionalidade. Teve esta família uma ascensão
nobiliárquica constante, com os seus representantes a ocupar cargos e funções das
mais altas de Portugal, até quase à sua completa extinção pelo Marquês de Pombal em
1759. As suas armas são de prata, com cinco faixas ondeadas de azul.(8)

D. Cristóvão de Moura e Távora fixou-se em Espanha em 1554, para onde foi


como pajem da Princesa D.ª Joana, mãe de El Rei D. Sebastião, tendo ascendido a
valido e secretário de Filipe II de Espanha. Como homem extremamente inteligente e
diplomata, foi escolhido para advogar junto da corte portuguesa a causa do Rei Filipe II
de Espanha. Fê-lo com grande sucesso, tendo conseguido a união das duas coroas.
Desempenhou após a união inúmeros cargos, sendo recompensado com o título de 1º
Conde de Castelo Rodrigo em 1594.

A sua importância é tal, que é um dos eleitos para estar presente na lenta e
prolongada agonia de Filipe II de Espanha, que aconteceu em 13 de Setembro de 1598.
Pode dizer-se que foi um dos privados deste Rei.(9)

Foi por três vezes Vice-Rei de Portugal tendo sido em 1598 distinguido por
Filipe III de Espanha com o título de 1º Marquês de Castelo Rodrigo. Após a
restauração da independência de Portugal, esta família fixou-se em Itália onde ainda
hoje existem descendentes, sendo o décimo sétimo Marquês de Castelo Rodrigo,
Carlos Ernesto Balbo Bertone conte di Sambuy, duque de Nochera.

A razão pela qual o seu Brasão de Armas aparece nesta carta de Linschoten,
reside no fato de D. Cristóvão de Moura e Távora ter casado com D.ª Margarida Corte
162

Real, herdeira da Capitania de Angra, na Ilha Terceira, dos Açores, por morte de seu pai
Vasco Annes Corte Real e de sua mãe filha do Capitão dos Ginetes da Ilha de S. Miguel.
Esta herança é-lhe devida, porque o seu irmão morreu na campanha de Alcácer Quibir,
não tendo deixado descendentes.

Um dos primeiros capitães donatário de Angra é João Vaz Corte Real que
desembarca em Angra em 1474, com sua mulher D.ª Maria Abarca fidalga de Ponte da
Barca, tendo esta capitania lhe sido concedida pela Infanta Dona Beatriz. Executou em
Angra obras muito importantes e tão rápidas, que seis anos depois é elevada a Vila isto
é em 1480 e em 22 de Agosto de 1534 ascende a cidade sendo a primeira dos Açores.
Todo este trabalho é devido ao seu esforço e também se lhe deve a fixação de muitos
nobres, que com os seus criados e suas famílias, provocaram um surto de construções.
Assim se instituíram as primeiras casas vinculadas dos Açores.

Este casal teve entre outros filhos, dois que se notabilizaram: Gaspar e Miguel
Corte Real, grandes navegadores nas rotas da América do Norte e Canadá, como hoje
está perfeitamente provado e documentado.

Por este casamento, D. Cristóvão de Moura e Távora vai tomar posse das
capitanias de Angra e S. Jorge e do solar do Capitão Donatário, que fica situado na rua
que ainda hoje é designada pela rua do Marquês em sua homenagem. Quando foi
nomeado pela primeira vez Vice-Rei de Portugal, o rei Filipe II de Espanha em 1581
doou-lhe a capitania da Praia, tendo na mesma altura confirmado as capitanias de
Angra e de S. Jorge, ficando assim as ilhas Terceira e S. Jorge com o mesmo Capitão
Donatário. Após 1641, temos noticias veiculadas pelo Padre António Cordeiro, que
várias casas de nobres partidários do Rei Filipe IV de Espanha foram saqueadas,
durante as tentativas para tomar o castelo de S. Filipe, não constando dessa relação a
casa do Marquês. Não sabemos até hoje o que sucedeu ao referido palácio, pois as
dimensões da casa que lá existe, não está de acordo com a gravura da carta.

São estas as razões porque o brasão de armas de D. Cristóvão de Moura e


Távora aparece em grande estilo e em lugar de honra na carta de 1595 e com um
grande elogio como se viu. (10)

Não sendo conhecedor de heráldica, vou-me atrever a descrever o seu brasão


de armas. (11)
163

Em timbre, tem a torre de menagem do castelo de Castelo Rodrigo. Por de


baixo, um elmo aberto. O escudo é o designado “Escudo Português”, que é
esquartelado. No escudo as posições 1 e 4 são as armas da família “Moura” por parte
do pai, as posições 2 e 3 são as armas da família “Távora” por parte da mãe. Os
paquifes são a vermelho e ouro.

6 – Dedicatória ao Gravador da carta de Angra de 1595.

BAPTISTA À DOETECHUM SCULP

Batista de Doetechum gravou.

Conhecido gravador holandês com oficina em Amesterdão que viveu nos


séculos XVI e XVII, de seu nome Ioannes Baptista Van Deoetechum “o jovem”. Gravou
todas as cartas e ícones, que vem anexo ao Itinerário, com exceção das cartas do
Índico.

Apesar de várias tentativas para obter mais informações sobre este gravador e
eventualmente a sua família, não foi possível, inclusivamente as datas de nascimento e
morte são várias as encontradas. No entanto deve ter nascido por volta de 1560 e
morrido por volta de 1630.
164

B – ZONA INFERIOR (da esquerda para a direita)

7 – Rosa-dos-ventos.

A rosa-dos-ventos dá-nos a orientação relativamente ao norte magnético.


Designa-se por “rosa” pela sua semelhança com esta flor, sendo as pétalas os diversos
pontos, cardeais, colaterais, subcolaterais e intercolaterais. Designa-se “ventos”
porque inicialmente com Aristótles estavam ligados à direção dos ventos dominantes,
e os seus nomes eram de origem mitológica, são utilizados 12 pontos de referência
como podemos verificar nos mapas da “Geografia” de Ptlolomeu. Como era difícil a
divisão dos doze pontos, com o romano Eratóstenes começou a utilizar-se oito pontos
165

e a sua divisão até aos trinta e dois, como está a desenhada na carta de 1595. Os
quatro ventos inteiros passaram a designar-se norte, sul (meio-dia), este (manhã),
oeste (tarde), e os quatro meios-ventos composto com estes nomes. Na Idade Média
com a introdução da agulha magnética que passa a ser utilizada regularmente desde a
terceira cruzada, nos fins do século XII, que passamos a ter não a direção dos ventos
mas sim uma orientação por pontos cardeais. A rosa-dos-ventos surge nos fins do
século XIII nas cartas náuticas do Mediterrâneo, nas designadas cartas portulanos. Para
termos a divisão da rosa-dos-ventos em graus vamos ter de esperar até ao século XIX.

A introdução desta figura na navegação em conjunto com a agulha magnética,


vai permitir que a navegação no Mediterrâneo fosse alterada substancialmente, pois
com as cartas portulano pode-se seguir uma rota, ou determiná-la antecipadamente.
Passando as deslocações no Mediterrâneo a fazer-se por “rumo” e “estima”.

A rosa-dos-ventos desenhada na carta de Angra 1595 está completa, na medida


em que tem os trinta e dois pontos utilizados. Além disso dá um realce especial ao
norte com uma flor de Liz e ao nascente com uma Cruz de Cristo a indicar Jerusalém,
usada pela navegação portuguesa como pavilhão nas embarcações, isto é a bandeira
da Ordem de Cristo que está ligada à expansão marítima.

Os pontos cardeais são; norte (0 graus de azimute), Sul (180 graus), Este ou
Leste (90graus), Oeste (270 graus). Os pontos colaterais são; nordeste (45 graus),
sudeste (135 graus), sudoeste (225 graus), noroeste (315 graus). Os pontos
subcolaterais são; norte-nordeste (22,5 graus),este–nordeste (67,5 graus), este-
sudeste (112,5 graus), sul-sudeste (157,5 graus), sul-sudoeste (247,5 graus), oeste-
noroeste (292,5 graus),norte-noroeste (337,5 graus).

A rosa-dos-ventos inserida na carta de angra de 1595, ainda apresenta entre os


pontos mencionados, mais dezasseis ficando assim completa com trinta e dois pontos.
(12)

Pela pesquisa que efetuei em cartas da época e anteriores, nomeadamente as


da estampa nº 613 da “Potugallae Monumenta Cartographica”, que contem várias
rosa-dos-ventos utilizadas pelos cartógrafos portugueses nos seus trabalhos, não
encontrei iguais às da carta de Angra e de Goa de 1595, que me pudessem levar a
166

relacioná-las com algum cartógrafo da época. Como Bartolomeu Lasso, cujas cartas se
podem ver na introdução ao volume III da referida “Monumenta”, e que foram
largamente utilizadas por Plancius e Linschoten e pelos seus editores no Itinerário.
Uma das que encontrei com alguma semelhança, é a que está inserida no canto
superior direito do mapa da Ilha Terceira da carta “Cassiterides Insulae vulgo Asores”
(Petrus Plancius, 1592) atribuída a Anónimo – Luis Teixeira, carta gravada da Ilha
Terceira editada por Ortélio em 1582. Uma cópia desta carta da Ilha terceira, está
inserida no anexo dos “Apontamentos sobre o Itinerário, Viagem ou Navegação para
as Índias Orientais ou Portuguesas” da Monumenta Cartográfica, com as gravuras dos
Açores. Outra, esta agora ainda mais semelhante, foi a utilizada pela dupla Peter
Plancius e Nicolas Cornelis Claesz de 1594, nos seus trabalhos, cuja imagem se poderá
ver no fim deste capítulo. O editor do Itinerário foi Nicolas Cornelis Claesz.

8 – Cartela com a parte superior em latim e a inferior em Holandês arcaico.

Angrae Urbis Tercetrae que infularum…..

Afbeeldinge vande Stat Angra, met het…..


167

“Traçado rigoroso da cidade de Angra, cabeça da Ilha Terceira e das Ilhas


chamadas dos Açores, riquíssima por causa da sua grande produção de trigo, com as
suas fortificações. Consideram-na principal por ser residência do Bispo, do governador,
do senado régio e de outras autoridades. Autor João Hugo de Linschoten, ano de
1995”.(4)

“Traçado da cidade de Angra com as suas fortificações na Ilha Terceira à qual


estão sujeitas todas as outras ilhas que se chamam dos Açores e também por vezes
Flamengas. Por ser ali a residência do Bispo, Governador e conselho do rei é a Terceira
a mais importante e (também) a mais rica de todas por causa das suas produções e do
comércio de pastel. Autor João Hugo de Linschoten, ano de 1595.” (4)

9 – Cartela em latim zona inferior ultima do lado direito.

Uda mari Saxo Stabilis ……..


168

“Constantemente banhada pelo mar, riquíssima em pedra âmbar, produtora de


bons cereais sem que o solo se negue a isso, a Terceira, a maior entre as ilhas vizinhas
do profundo mar, distingue-se pelo seu aspeto altaneiro, nos mares ocidentais.” (1)

PHoogerb (2)

Para finalizar este capítulo, a redação das cartelas, na minha opinião, é


semelhante à legenda existente na carta da Ilha Terceira de Luís Teixeira de 1587 da
Biblioteca Nacional de Florença. Esta data é ligeiramente antes da execução da carta,
esta circunstância e a semelhança da redação das cartelas, vão ser pontos importantes
para as conclusões do meu trabalho.
169

NOTAS

1 – Tradução da Professora Doutora Marta Isabel de Oliveira Várzeas, Faculdade de


letras da Universidade do Porto.

2 – Phoogerb; Petrus Hoogerbeets (1542-1599), médico doutorado em medicina pela


Universidade de Pádua, amigo de linschoten, escreveu várias legendas em latim para
as cartelas para os desenhos topográficos das cartas, incluindo a de Angra.

Informação contida no “Itinerário”.

3– Wikipedia a enciclopédia livre; bandeira de Portugal; portal do governo; evolução


da bandeira de Portugal.

4 – Tradução do Ten. Coronel José Agostinho, Boletim nº 1 do Instituto Histórico da


Ilha Terceira, 1943.

5 – Wikipedia a enciclopédia livre; milhafre, queimado e açor.

Enciclopédia Prática Ilustrada, Livraria Lello e irmão.

6 – Site www.falcoeiro.com; aves nobres de baixo voo, ou de punho (açores e gaviões).

7 – Joaquim Moniz de Sá Corte Real e amaral; Biografias e Outros Escritos, Câmara


Municipal de Angra do Heroísmo, 1989.

8 – Wikipedia a enciclopédia livre; D. Cristóvão de Moura e Távora.

“As origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas” – Sporpress.

9– Biografia de Filipe I (Portugal) de Fernando Bouza – Temas e Debates.

10 – Na bibliografia consultada, não encontro referências à estada de D. Cristóvão de


Moura em Angra, pelo que é minha opinião, nunca deve ter estado nesta Cidade. Por
sua ordem deve ter mandado ampliar o palácio do capitão Donatário pertença de sua
esposa D.ª Margarida Corte-Real. A rua onde está situado o palácio tomou o nome do
Marquês em sua honra, que ainda perdura, mas como era muito solicitado e andava
constantemente entre Madrid e Lisboa, nunca deve ter tido essa oportunidade. Além
170

de que nessa época, os perigos de viajar entre Lisboa e Angra eram enormes, como é
testemunho o “Itinerário”.

10– Wikipedia a enciclopédia livre; heráldica.

11 – Wikipedia a enciclopédia livre; rosa-dos-ventos.

ROSA-DOS-VENTOS (PETER PLANCIUS e NICOLAS CORNELIS CLAESZ, 1594)

Coleção de Juha Nurminen


171

AÇOR (Accipiter gentilis)

QUEIMADO (Buteo Buteo ssp.Rothschildi)


172

BILIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Padre António Cordeiro.

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria da Educação e Cultura 1981.

Espelho Cristalina em Jardins de Várias Flores.

Frei Diogo das Chagas.

Direção e Prefácio de Artur Teodoro de Matos.

Colaboração de Avelino de Freitas Menezes e Vitor Luís Gaspar Rodrigues – 1989.

A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus.

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro – Dias.

Edição Comemorativa dos 450 anos da Cidade de Angra.

Angra do Heroísmo 1989.

História das Viagens Marítimas – A Navegação pelos Oceanos do Mundo.

Donald S. Johnson e Juha Nurminen.

Edição – Sete Mares.

Princípia Editora Lda.


173

Itinerário, Viagem ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas.

Edição preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

Portugalia Monumenta Cartográfica.

Armando Cortesão e Avelino Teixeira da Mota.

Monumenta Cartográfica Neerlândica.

Gunter Schilder.
174

VII – RELEVO E COBERTURA VEGETAL

A flora das Ilhas dos Açores à data do povoamento, é semelhante à das Ilhas da
Madeira, Canárias, Cabo Verde e parte da costa ocidental de África, a este conjunto
convencionou-se designar por Macaronésia. Esta designação foi utilizada pela primeira
vez pelo botânico Inglês Philip Baker em 1860. (1)

A flora existente à data do povoamento corresponde aos restos da existente na


Europa na Era Terciária, que desapareceu quase completamente devido às glaciações
que ocorreram no fim do período terciário.

Toda a carta, incluindo as zonas de habitação, perímetro da cidade e arredores,


representa os terrenos e logradouros (quintais) com desenhos que se repetem até à
exaustão, - em meu entender julgo ser uma mistura de realidade e fantasia – mas que
representam efetivamente a paisagem humanizada da costa sul da ilha Terceira,
conforme se pode verificar nas fotos que vão no fim deste capítulo.

Nas zonas de cota mais baixa, onde são possíveis culturas de vegetais, cereais e
árvores de fruto, etc. Os terrenos já foram limpos das pedras vulcânicas e foi efetuada
a sua arrumação em paredes, que também serviam para a divisão de propriedades.

A repetição de desenhos sugere ser um código das diversas culturas que seria
possível semear e plantar ao longo do ano, com algumas curiosidades como os
terrenos anexos ao Convento de Nossa Senhora da Esperança e a outros, em que
aparecem árvores desenhadas que parecem de fruto, melhor diria citrinos, laranjas,
limões, etc. Este citrinos teriam grande utilização no tratamento e prevenção de todas
as doenças, devidas ao grande espaço de tempo que as tripulações e viajantes
permaneciam no mar, e como exemplo podemos mencionar o escorbuto devido à falta
de mantimentos frescos.

No centro da cidade, os diversos logradouros (quintais) estão cultivados e os


desenhos parecem querer indicar produtos hortícolas, principalmente na zona de S.
Pedro, onde se situavam até há poucos anos as designadas hortas de Angra, que
abasteciam o mercado publico diário.
175

A minha interpretação, como atrás referi, é de que estes desenhos são um


código da vegetação e culturas possíveis, das que já existiam antes do povoamento e
das que foram introduzidas depois, principalmente produtos hortícolas, batata, couve,
nabo, repolho, rabanete, cenoura, etc. Além destes são também referidos por
Linschoten no seu Itinerário, árvores frutíferas, como pêssegos e damascos de que
haveria grande abundância, maçãs, peras, ameixas, laranjas e limões, etc.

Nas zonas periféricas à cidade representadas para cotas baixas, as culturas mais
utilizadas deveriam ser o trigo para consumo local e para abastecer as Praças do Norte
de África, o pastel e a urzela, que são plantas tintureiras de que se fazia grande
exportação para os países do norte da Europa. Um dos ciclos produtivos dos açores
são as plantas tintureiras, encontramos muitos relatos com descrições deste cultivo,
das suas exportações e dos barcos de várias nacionalidades, que iam de propósito
efetuar os seus carregamentos às diversas ilhas.

Nas zonas periféricas da carta, os cimos dos montes, estão sem vegetação
representada, o que indica que, a partir de determinada altitude, só mato rasteiro é
que conseguia sobreviver, devido ao rigor do clima, principalmente dos ventos do
oeste. Entre os montes e as serras, isto é nos vales e nos talvegues, tem desenhado
vegetação com três espécies de árvores. Além disso, aparecem representadas espécies
arbóreas com simetria, aparentemente já plantadas pelos povoadores, possivelmente
com variedades que seriam necessárias para a construção civil, construção e reparação
de embarcações nos estaleiros da baía de Angra. As zonas que aparecem na carta com
esta vegetação, são as da Terra Chã e Posto Santo, onde tradicionalmente existiam
lenhadores e serradores.

No início do povoamento, segundo os relatos da época, a ilha encontrava-se


cerrada de mato bravo impenetrável, além de entrecortada por muitos vales, ribeiras e
biscoitos bravos (zonas vulcânicas recentes, com pequenas pedras semelhantes a
biscoitos comestíveis), onde mais tarde se iria plantar a vinha e denso arvoredo em
muitos casos espontâneo, para abastecer as habitações de combustível, para a
confeção das refeições, para cozer o pão, para o aquecimento de águas, etc. (2)
176

As três manchas de arvoredo indicadas na carta seriam logicamente as mais


numerosas à data do povoamento, que seriam o cedro do mato (juniperus brevifolia) o
mais comum, o pau branco (picconia excelsa) madeira sólida para todos os usos, que
normalmente era designada por “pau para toda a obra”, o louro ou loureiro (pérsea
azorica) madeira leve mas resistente. Embora estas fossem em maior quantidade,
outras haveria como o sanguinho, a urze, a faia das ilhas, que não devemos confundir
com a faia que mais tarde foi introduzida e que praticamente acabou por substituir a
autóctone, o azevinho, muito empregue em obras de marcenaria, o vinhático, madeira
mais nobre para móveis de qualidade, assim como o zimbro, etc.

Toda esta vegetação arbórea está hoje praticamente extinta. Resta-nos alguns
poucos espaços no interior da ilha, a maior parte dos casos não protegidos, onde ainda
se podem ver algumas destas espécies. Em quase todas as ilhas dos Açores existem
jardins exóticos com árvores de todos os recantos do mundo, algumas delas espécies
raras que são orgulho das populações locais, no entanto as espécies autóctones
ninguém as conhece. Seria útil e conveniente, mostrar principalmente à juventude
como seriam as ilhas á data da chegada dos primeiros povoadores. De aqui deixo o
meu apelo às entidades responsáveis como já o fiz de outras formas.

NOTAS

1 – Site WWW.horta.vac.pt; Flora dos Açores.

2 – Francisco Ferreira Drumond; Anais da Ilha Terceira, volume I.

Reimpressão fac-similada da edição de1850.

Governo Autónomo dos Açores Secretaria Regional da Educação e Cultura.


177

RELEVO E COBERTURA VEGETAL

ZONA OCIDENTAL DA CARTA DE ANGRA

ZONA ORIENTAL DA CARTA DE ANGRA


178

PAISAGEM HUMANIZADA DA ENCOSTA SUL DA ILHA TERCEIRA (ZONA OCIDENTAL)

PAISAGEM HUMANIZADA DA ENCOSTA SUL DA ILHA TERCEIRA (ZONA ORIENTAL)


179

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anais da Ilha Terceira (4 volumes).

Francisco Ferreira Drumond.

Reimpressão Fac-Similada da Edição de 1864.

Governo Autónomo dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura – 1981.

Terra e Fortuna – Os primórdios da humanização da Ilha Terceira (1450? –


1550).

Rute Dias Gregório.

Edição – Centro de História de Além – Mar – Faculdade de ciências Sociais e


Humanas

Universidade Nova de lisboa.


180

VIII – A RIBEIRA E OS SEUS MOINHOS

Um dos fatores importantes do povoamento de Angra foi sem dúvida a


“Ribeira”, com água permanente, abundante e potável. Sem ela, dificilmente Angra
teria existido ou pelo menos como a conheceu Linschoten.

A ribeira começa na encosta da Serra do Morião, devido á bacia hidrográfica da


caldeira Guilherme Moniz que lhe fica por detrás, que vai libertar a água da chuva nela
acumulada por infiltração nesta serra, passando do lado norte para o sul.

A cota média da caldeira Guilherme Moniz é cerca de 460,0 m e a água vai


aparecer na encosta sul da serra a uma cota ligeiramente mais baixa do que esta, cerca
de 450,0 m. São várias linhas de água, que correm nos talvegues desta serra, que se
vão reunindo ao longo do seu tronco principal, até perto onde hoje está localizada a
Ermida da Lapinha; a partir de aqui, transformam-se já em ribeira até ao topo norte do
bairro de S. João de Deus, mais concretamente no lugar designado por Terreiro de S.
João de Deus. Neste zona já corre um manancial de água principal, embora ainda com
alguns regatos secundários, mas é o mais caudaloso desses ribeiros, que vai abastecer
o local onde irá nascer o povoado, mais tarde vila e cidade.

Desde a serra do Morião ate ao Terreiro de S. João de Deus, o percurso da


ribeira é sempre o mesmo; a partir deste lugar é que tem dois trajetos, o azul-claro e o
azul-escuro, como se pode verificar na planta topográfica (1) no fim do capítulo, que é
antes e após a chegada de Álvaro Martins Homem a Angra.

Quando chegaram os primeiros povoadores a este local, o curso da ribeira, a


partir do Terreiro de S. João de Deus, seguia pelas ruas Frei Estácio (vulgarmente
conhecido por caminho fundo), Pereira, Miragaia, Marquês, Praça, onde formava um
lago ou paul, a partir de aqui, entre as ruas Direita e Santo Espírito, pelo logradouro
das habitações até ao mar. É o traçado inicialmente a azul-escuro, depois a azul-claro e
finalmente a azul-escuro na referida planta.

Com a chegada em 1460 do novo Capitão Donatário Álvaro Martins Homem,


este, nos trabalhos de lançamento da nova povoação, que brevemente será vila e
cidade a primeira que foi outorgada aos Açores, desvia a ribeira para efetuar o seu
aproveitamento, de modo a abastecer de água as populações, mover os moinhos e
181

azenhas, necessários à trituração dos cereais de que a ilha é fértil e que também
importa em grandes quantidades das outras ilhas. São estes cereais que vão ser
importantes para a manutenção das Praças do norte de África.

Com Álvaro Martins Homem, a ribeira vai ser desviada e canalizada. A partir do
Terreiro de S. João de Deus, é desviada para as ruas, S. João de Deus, Pisão, Frei Diogo
das Chagas, Ladeira de S. Francisco, lado nascente da Praça, seguindo a partir de aqui
pelo logradouro das ruas, Direita, Santo Espirito, Baixinha, indo desaguar junto ao caís
da cidade, onde hoje se situa aproximadamente a porta da entrada da moagem da
família Homem Simões, trajeto desenhado a azul-escuro na planta topográfica. A praça
é convenientemente drenada do manancial de água e lodo que aí se acumulava, sendo
canalizado para a ribeira, transformando o lugar numa Praça e centro principal da
futura cidade

Na carta de Angra de 1595, está perfeitamente assinalada e desenhada a


ribeira, lapisada a azul na carta que se anexa no fim do capítulo, com legenda ao longo
dela. Na carta de Angra de 1595 o trajeto que está desenhado, como é lógico é o já
descrito após Álvaro Martins Homem.

Desde o Terreiro de S. João de Deus até um pouco mais abaixo do Castelo de


Luís e antes do Convento de S. Francisco estão desenhados nove moinhos com a
mesma figura, lapisados a verde, isto é com telhados de duas águas, com duas
aberturas no alçado virado a sul, passando a ribeira no meio da construção, indicando
que eram moinhos de água corrente, sendo o nome correto “Moinhos”. Logo a seguir
a estes moinhos e ainda antes do Convento distinguem-se perfeitamente, seis
construções iguais, que estão lapisados a cor rosa (2), que pela sua localização,
também devem ser moinhos, mas mais pequenos e de menor importância, talvez
“Azenhas”, pela sua situação lateral relativamente à ribeira. Seriam de água canalizada
de roda vertical e engrenagem transmitindo a rotação ao veio ligado à mó. A partir de
aqui só existe mais uma construção ao longo da ribeira com um acerta importância,
que deverá ser o matadouro da cidade.

Nesta altura, na sua totalidade, haveria quinze moinhos no trajeto da ribeira, o


que está mais ou menos de acordo com o que diz o Padre António Cordeiro em 1717,
que refere, junto ao Castelo de S. Cristóvão (S. Luís), havia doze moinhos, por essa
razão, ele seria conhecido pelo Castelo dos Moinhos como ainda hoje perdura. (3)
182

Estes moinhos e outros ainda existiam quase todos na década de cinquenta do


século XX, altura em que se fez o aproveitamento hidráulico da ribeira, que foi agora
desviada novamente em tubagem de ferro, refazendo quase o trajeto inicial de antes
do povoamento, que foi desenhado na planta topográfica. Foram agora construídas
mini hídricas, ao longo do trajeto, desaparecendo completamente todos os moinhos
movidos pela corrente da ribeira.

NOTAS

1 – Instituto Geográfico do Exército – Carta Militar de Portugal.

Região autónoma dos Açores – série M 889 – Carta nº 24.

2 – Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Volume 13.

3 – História das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Padre António Cordeiro.


183

CARTA DE ANGRA DE 1595

A RIBEIRA E OS SEUS MOINHOS


184

PLANTA TOPOGRÁFICA

TRAJETO DA RIBEIRA ANTES E DEPOIS DE ÁLVARO MARTINS HOMEM


185

CALDEIRA GUILHERME MONIZ BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA

SERRA DO MORIÃO NASCENTE DOS RIACHOS VERTENTE SUL


186

SERRA DO MORIÃO NASCENTE DOS RIACHOS VERTENTE ESTE

REUNIÃO DOS RIACHOS ORIGINANDO A RIBEIRA


187

REUNIÃO DOS RIACHOS ORIGINANDO A RIBEIRA

RIBEIRA NA ZONA DO CONVENTO DE S. FRANCISCO


188

RIBEIRA NOS LOGRADOUROS DAS CASAS DAS RUAS DIREITA E SANTO ESPIRITO

RIBEIRA NO SEU TROÇO FINAL NA RUA BAIXINHA A CHEGAR À MOAGEM TERCEIRENSE


189

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

História Insulana.

Padre António Cordeiro da Companhia de Jesus.

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura – 1981.

Imprensa Nacional Casa da Moeda - Março de 1981.

Anais da Ilha Terceira (4 volumes).

Francisco Ferreira Drumond.

Reimpressão Fac-Similada da Edição de 1864.

Governo Autónomo dos Açores.

Secretaria da Educação e Cultura – 1981.


190

IX – ÁREA CONSTRUÍDA: QUARTEIRÕES

Efetuei o estudo de alguns quarteirões, aqueles que considerei mais


representativos e que possivelmente atravessaram os tempos sem grandes alterações.
Após uma amostragem, cheguei à conclusão de que seriam os do núcleo central da
cidade, isto é a nascente a Rua de Santo Espírito, a poente o Alto da Covas, a norte Rua
da Sé e a sul a Rua dos Minhas Terras. Deste núcleo ainda escolhi alguns, eliminando
outros, que objetivamente foram alterados ou pela construção recente de palacetes
residenciais (leia-se pós carta de 1595), ou por edifícios públicos. Além disso também
pesou na escolha a sua forma geométrica, mais ou menos bem definida, retangular ou
trapezoidal.

O estudo foi efetuado do seguinte modo:

1 – A cada fachada do quarteirão em estudo foi tirado o seu comprimento,


numa planta topográfica à escala 1:1.000, fornecida pela Câmara Municipal de Angra
do Heroísmo, podendo haver algumas ligeiras diferenças, devidas ao clima (humidade)
porque o original que me foi cedido, era em suporte plástico que eventualmente terá
alterado as suas dimensões. Além disso, a fotocópia que tirei do original poderá
também ter alterado a escala da planta. Contei o número de casas que existem
atualmente nesta planta, em cada fachada de cada quarteirão, tendo em consideração
que as casas de gaveto contavam como duas.

2 – Contei o número de casas que tem a fachada do quarteirão em estudo na


carta de 1595, relativamente às casas do gaveto, considerando que têm dois alçados
principais, contei como sendo duas casas, uma para cada uma das ruas.

3– Para tentar perceber se haveria alguma modelação pré-estabelecida na


divisão dos lotes dos quarteirões, como ainda subsiste em algumas cidades da
metrópole, nomeadamente na cidade do Porto, que é a que melhor conheço e que
tem uma modelação, tomei por base uma medida para a largura de cada lote, que
varia entre 26 palmos (5,72 m) e 30 palmos (6,60 m), sendo a média a mais corrente
isto é 28 palmos (6,16 m), que foi a utilizada por ser a mais lógica.

4 – Tendo chegado a algumas considerações interessantes, que serão fixadas


no fim deste estudo.
191

RESULTADO DO ESTUDO DOS QUARTEIRÕES.

1 – Quarteirão delimitado pela Praça Velha, Rua de Santo Espírito, Travessa de


Santo Espírito, e rua Direita.

*Fachada do quarteirão à Rua Direita (poente).

Comprimento da fachada cerca de 91,5 m.

Número de casas na carta de 1595, 10.

Número de casas na planta topográfica atual, 9.

Se a modelação para a largura dos lotes fosse 28 palmos, daria para 14,9 casas.

2 – Quarteirão, Travessa S. João, Ruas Direita, Minhas Terras e S. João.

*Fachada à Travessa S. João (norte).

Comprimento, 43,5 m.

Carta de 1595, 6 casas.

Planta atual, 4 casas.

Modelação 28 palmos, 7,1 casas.

*Fachada à Rua Direita (nascente).

Comprimento, 63,0 m.

Carta de 1595, 6 casas.

Planta atual, 4 casas.

Modelação 28 palmos, 10,2 casas.


192

*Fachada à Rua Minhas Terras (sul).

Comprimento, 43,5 m.

Carta de 1595, 6 casas.

Planta atual, 5 casas.

Modelação 28 palmos, 7 casas.

*Fachada à Rua de S. João (poente).

Comprimento, 56,5 m.

Carta de 1595, 6 casas.

Planta atual, 7 casas.

Modelação 28 palmos, 9,2 casas.

3 – Quarteirão, Ruas da Sé, Direita, S. João e Travessa de S. João.


*Fachada à Rua da Sé (norte).
Comprimento, 46,7 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 4 casas.
Modelação 28 palmos, 7,6 casas.

*Fachada à Rua Direita (nascente).


Comprimento, 114,0 m.
Carta de 1595, 12 casas.
Planta atual, 12 casas.
Modelação 28 palmos, 18,5 casas.

*Fachada à Travessa S. João (sul).


Comprimento, 43,0 m.
Carta de 1595, 4 casas.
193

Planta atual, 4 casas.


Modelação 28 palmos, 7 casas.

*Fachada à Rua S. João (poente).


Comprimento, 124,7 m.
Carta de 1595, 14 casas.
Planta atual, 14 casas.
Modelação 28 palmos, 20,2 casas.

4 – Quarteirão, Largo do Colégio, Ruas Direita, Sé Palácio


*Fachada à Rua da Sé (sul).
Comprimento, 93,5 m.
Carta de 1595, 12 casas.
Planta atual, 6 casas.
Modelação 28 palmos, 15,2 casas.
Esta fachada é um caso típico do que se disse no início. Foi alterada pela
construção do palacete do Dr. Jorge Forjaz, Bancos de Portugal e Micaelense.

5 – Quarteirão, Ruas da Rosa, S. João, Minhas Terras, Palha.


*Fachada à Rua da Rosa (norte).
Comprimento, 37,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 3 casas.
Modelação 28 palmos, 6 casas.

*Fachada à Rua de S. João (nascente).


Comprimento, 103,5 m.
Carta de 1595, 13 casas.
Planta atual, 13 casas.
Modelação 28 palmos, 16,8 casas.

*Fachada à Rua dos Minhas Terras (sul).


Comprimento, 52,0 m.
Carta de 1595, 6 casas.
Planta atual, 6 casas.
Modelação 28 palmos, 8,4 casas.
194

*Fachada à Rua da Palha (poente).


Comprimento, 73,5 m.
Carta de 1595, 13 casas.
Planta atual, 8 casas.
Modelação 28 palmos, 11,9 casas.
A grande diferença neste caso deve-se, à construção de edifícios destinados a
graneis para armazenagem de cerais.

6 – Quarteirão, Ruas da Sé, S. João, Rosa, Palha.


*Fachada à Rua da Sé (norte).
Comprimento, 33,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 3 casas.
Modelação 28 palmos, 5,4 casas.

*Fachada à Rua de S. João (nascente).


Comprimento, 84,5 m.
Carta de 1595, 8 casas.
Planta atual, 10 casas.
Modelação 28 palmos, 13,7 casas.

*Fachada à Rua da S. Rosa (sul).


Comprimento, 37,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 6,1 casas.

*Fachada à Rua da Palha (poente).


Comprimento, 89,5 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 10 casas.
Modelação 28 palmos, 14,5 casas.

7 – Quarteirão, Ruas da Rosa, Palha, Minhas Terras, Salinas.


*Fachada à Rua da Rosa (norte).
Comprimento, 44,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
195

Planta atual, 6 casas.


Modelação 28 palmos, 7,2 casas.

*Fachada à Rua da Palha (nascente).


Comprimento, 68,5 m.
Carta de 1595, 11 casas.
Planta atual, 9 casas.
Modelação 28 palmos, 11,1 casas.

*Fachada à Rua dos Minhas Terras (sul).


Comprimento, 46,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 7,5 casas.

*Fachada à Rua do Salinas (poente).


Comprimento, 71,0 m.
Carta de 1595, 12 casas.
Planta atual, 7 casas.
Modelação 28 palmos, 11,5 casas.
A diferença neste caso entre 1595 e atualmente, deve-se à construção de um
prédio de rendimento, que alterou esta fachada.

8 – Quarteirão, Ruas da Sé, Palha, Rosa, Salinas.


*Fachada à Rua da Sé (norte).
Comprimento, 41,0 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 3 casas.
Modelação 28 palmos, 6,7 casas.
A construção de vários palacetes nesta fachada, provocou a sua alteração.

*Fachada à Rua da Palha (nascente).


Comprimento, 91,5 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 11 casas.
Modelação 28 palmos, 14,9 casas.
196

*Fachada à Rua da Rosa (sul).

Comprimento, 45,5 m.

Carta de 1595, 5 casas.


Planta atual, 4 casas.
Modelação 28 palmos, 7,4 casas.

*Fachada à Rua do Salinas (poente).


Comprimento, 95,5 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 10 casas.
Modelação 28 palmos, 15,5 casas.

9 – Quarteirão, Ruas da Esperança, Palácio, Sé, Esperança.


*Fachada à Rua da Sé (sul).
Comprimento, 101,0 m.
Carta de 1595, 14 casas.
Planta atual, 12 casas.
Modelação 28 palmos, 16,4 casas.

10 – Quarteirão, Ruas do Barcelos, Carreira dos Cavalos, Rosa, Jesus.


*Fachada à Rua do Barcelos (norte).
Comprimento, 57,0 m.
Carta de 1595, 7 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 9,3 casas.

*Fachada à Rua do Carreira dos Cavalos (nascente).


Comprimento, 52,5 m.
Carta de 1595, 4 casas.
Planta atual, 6 casas.
Modelação 28 palmos, 8,5 casas.

*Fachada à Rua da Rosa (sul).


Comprimento, 51,5 m.
Carta de 1595, 6 casas.
Planta atual, 6 casas.
197

Modelação 28 palmos, 8,4 casas.


*Fachada à Rua de Jesus (poente).
Comprimento, 59,0 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 8 casas.
Modelação 28 palmos, 9,6 casas.

11 – Quarteirão, Ruas da Sé, Carreira dos Cavalos, Rosa, Jesus.


*Fachada à Rua da sé (norte).
Comprimento,63,5 m.
Carta de 1595, 8 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 10,3 casas.
A diferença neste caso deve-se à construção do palacete designado por “Casa
do Mourato.

*Fachada à Rua Carreira dos Cavalos (nascente).


Comprimento,47,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 4 casas.
Modelação 28 palmos, 7,7 casas.

*Fachada à Rua da Rosa (sul).


Comprimento, 58,0 m.
Carta de 1595, 6 casas.
Planta atual, 4 casas.
Modelação 28 palmos, 9,4 casas.
Diferença devido à construção do edifício onde estão instalados os Serviços
Municipalizados de Angra do Heroísmo, anteriormente o Tribunal Judicial.

*Fachada à Rua de Jesus (poente).


Comprimento, 51,5 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 8,4 casas.

12 – Quarteirão, Ruas do Barcelos, Jesus, Rosa, Canos verdes.


*Fachada à Rua do Barcelos (norte).
198

Comprimento,49,0 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 8 casas.
Nesta fachada a diferença é devida a que dois lotes ainda estão por construir.

*Fachada à Rua de Jesus (nascente).


Comprimento,61,0 m.
Carta de 1595, 4 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 9,9 casas.

*Fachada à Rua da Rosa (sul).


Comprimento,47,5 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 3 casas.
Modelação 28 palmos, 7,7 casas.
A construção do palacete existente nesta fachada provocou a sua alteração.

*Fachada à Rua dos Canos Verdes (poente).


Comprimento,69,0 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 8 casas.
Modelação 28 palmos, 11,2 casas.
Nesta fachada houve uma divisão de lotes, para qual não encontro explicação.

13 – Quarteirão, Ruas da Sé, Jesus, Barcelos, Canos verdes.


*Fachada à Rua da Sé (norte).
Comprimento,49,3 m.
Carta de 1595, 10 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 8 casas.
A construção recente de um prédio de rendimento no gaveto das ruas da Sé e
Canos Verdes provocou esta diferença.
199

*Fachada à Rua de Jesus (nascente).


Comprimento,51,0 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 4 casas.
Modelação 28 palmos, 8,3 casas.

*Fachada à Rua do Barcelos (sul).


Comprimento,48,5 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 6 casas.
Modelação 28 palmos, 7,9 casas.
A diferença, deve-se á falta de construção de dois lotes que estão
transformados em logradouros.

*Fachada à Rua dos Canos Verdes (poente).


Comprimento,52,0 m.
Carta de 1595, 5 casas.
Planta atual, 4 casas.
Modelação 28 palmos, 8,4 casas.

TABELA COM O RESULTADO DOS QUARTEIRÕES ESTUDADOS


200
201

CONCLUSÕES

Neste estudo dos quarteirões escolhidos no núcleo central da cidade, pelos


resultados obtidos, chego à conclusão que estes são, efetivamente os mais
representativos. Em meu entender, a escolha foi a mais correta. Foram assim
estudados dez quarteirões completos e três fachadas de outros três, perfazendo no
total quarenta e três fachadas.

As conclusões a que cheguei foram as seguintes:

Existe uma concordância total entre as casas existentes na carta de 1595 e as


que existem atualmente em oito fachadas, o que representa 18,6 % do total.

Com a diferença de uma casa em doze fachadas, 29,7 %.

Com a diferença de duas casas em treze fachadas, 30,2 %.

Com a diferença de três casas em quatro fachadas, 9,3 %.

Com a diferença de quatro casas numa fachada, 2,3 %.

Com a diferença de cinco casas em três fachadas, 7,0 %


202

Com a diferença de seis casas em duas fachadas, 4,7 %.

Nos casos em que as diferenças foram de três ou mais casas, indiquei quais as
razões, porque, em minha opinião, elas aconteceram, ficando expressas no estudo dos
quarteirões.

Sendo razoável a diferença até duas casas, isso representa uma percentagem
de 78,5 %, podendo afirmar que, efetivamente, existe uma concordância quase total
nos quarteirões estudados entre a carta de 1595 e a atualidade, isto é cerca dos anos
sessenta do século XX. Julgo que posso inferir estes resultados para toda a carta e
sendo assim, as casas desenhadas na carta de 1595 não são pura fantasia mas sim a
realidade de Angra no fim do século XVI.

Quanto à modulação de 28 palmos, que representa a média do intervalo 26/30


palmos, as diferenças são muito grandes exceto em seis casos, quer para a carta de
1595, quer para a atualidade, como se poderá verificar pelos resultados obtidos. Na
planta atual à escala 1:1.000, ainda efetuei várias amostragens, que considero
representativas, de modo a encontrar casas cuja fachada principal tivessem de
comprimento cerca de 6,16 m (28 palmos), só raramente as encontrei, podendo
afirmar que são meras coincidências. Concluo então que, em Angra, não houve
modulação ou loteamento de 26/30 palmos como noutras cidades da metrópole,
nomeadamente a cidade do Porto.

O gráfico de comparação de resultados evidencia, perfeitamente, o que atrás se


disse, pois a reta que representa a modulação dos lotes, poucos casos da carta de 1595
e da planta atual, tem na sua proximidade. Por sua vez, os pontos que representam as
casas da carta de 1595 e as atuais estão agrupadas na mesma área, sinal evidente de
que existe uma concordância entre Angra dos fins do século XVI, e meados do século
XX.

Quanto aos restantes quarteirões, agrupei-os por zonas, justificando as


alterações que provocaram o não ser possível encontrar concordância entre a carta de
1595 e a atualidade.

Zonas centrais: Convento da Esperança, alterada pela sua demolição; Largo


Prior do Crato, alterado pela demolição do quarteirão; Praça Velha, alterada pela
construção da nova Câmara Municipal; Alto das Covas, alterado pelos acessos ao
convento de S. Gonçalo e urbanização da zona circundante.
203

Zonas de S. Pedro: alterada por causa da urbanização do Alto das Covas, da


construção do Castelo de S. João Batista e suas consequências, da demolição dos,
portões de S. Pedro e urbanização da sua zona, da alteração do porto do fanal e,
demolição das suas muralhas.

Zonas de Santa Luzia: alterada pela urbanização junto à igreja paroquial; da


construção do Bairro de S. João de Deus; da demolição e transformação do castelo de
S. Luís ou dos Moinhos e zona do Pisão.

Zonas da Conceição e Corpo Santo: alterada pela construção do palácio do


Provedor das Armadas da família Canto e Castro da demolição do Convento e Igreja de
S. Sebastião e urbanização de toda a zona.

Zonas de S. Bento: alterada pela demolição das Igrejas e Conventos da Graça e


S. Lázaro, pela construção de dois cemitérios e seus acessos, pela construção do
Convento e Igreja do Livramento, pela construção do Hospital de Santo Espírito, pela
demolição dos portões de S. Bento e urbanização da zona.

O que não há dúvida é de que os quarteirões no centro da cidade e com figura


geométrica mais ou menos definida, foram os que menos sofreram alterações, como
julgo que consegui demonstrar e os que permaneceram mais estáveis ao longo dos
tempos. Todas as outras zonas à volta deste miolo, sofreram mais ou menos
alterações.

Outra prova eventual, de que esta carta traduz realmente Angra em 1595, é a
que consta dos “Anais da Ilha Terceira”, volume I, a páginas 365 e seguintes. Em 1583,
após a conquista da Terceira pelas tropas Espanholas do Marquês de Santa Cruz isto é
D. Álvaro de Bassam, ficou como Governador o Mestre de Campo General João D’
Horbina. Um dos seus primeiros atos mais conhecidos, foi o de colocar, por provisão
de 14 de Setembro de 1583, um imposto de 200 cruzados aos moradores do concelho
para alojamento dos soldados da guarnição, que já não cabiam nas casas dos cidadãos.

Novamente em 11 de Janeiro de 1584, temos notícias de segunda provisão a


anunciar o mesmo imposto sobre os moradores. Temos mais notícias, ao longo dos
anos seguintes, deste imposto, que só foi revogado, segundo parece, no ano de 1597,
isto é, durante 13 anos ele foi cobrado aos moradores de Angra. A partir desta data foi
determinada outra forma de sustentar a guarnição.
204

O governador João d’ Horbina, de triste memória para as gentes dos Açores e


em particular de Angra, manteve o seu posto até finais de 1591, pois em 3 de Janeiro
de 1592 já estava nessas funções o capitão do presídio Diogo Soares Salazar.

Como sabemos, Linschoten esteve na Ilha Terceira desde Julho de 1589 a


Dezembro de 1591 e, segundo as suas palavras, fez grande amizade com o governador.
Segundo a sua descrição no “Itinerário”, este pede-lhe que desenhe a Ilha Terceira, o
que ele recusou. Em alternativa, porém, executou uma carta em perspetiva
axonométrica de Angra, com todos os pormenores da cidade.

Com certeza que o governador não ignorava as duas cartas da Ilha Terceira de
Luís Teixeira a de 1582 e a de 1587, pois esta última tinha sido executada já ele era
governador da Terceira e continha um pormenor muito importante: localizava a zona
de desembarque das tropas do Marquês de Santa Cruz onde ele também vinha
incorporado.

A conclusão a que chego é a de que o governador não lhe pediu para executar
uma carta da Terceira, mas sim de Angra, ou melhor, Linschoten deveria ter
conhecimento desta carta já executada por Luís Teixeira, na sua estada em Angra para
executar as diversas cartas das ilhas dos Açores. Assim satisfazia o desejo do
governador, que queria ter uma carta da cidade, para a ter devidamente controlada
para fins militares e fins fiscais e para saber quantos moradores tinha para arrecadar
os impostos.

Deste modo julgo ser mais uma prova de que a carta é fiel à realidade e,
efetivamente, retrata Angra como era na década de 80 de século XVI.
205

CARTA DE ANGRA DE 1595 COM OS QUARTEIRÕES ESTUDADOS


206

PLANTA TOPOGRÁFIAC ATUAL DE ANGRA COM OS QUARTEIRÕES ESTUDADOS


207

QUARTEIRÕES 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 8

QUARTEIRÕES 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 8
208

QUARTEIRÕES 4 e 9

QUARTEIRÕES 4 e 9
209

QUARTEIRÕES 10, 11, 12 e 13

QUARTEIRÕES 10, 11, 12 e 13


210

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Carta de Angra de 1595 editada pelo I.H.I.T.

Planta Topográfica atual de Angra à escala 1:1.000 da Câmara Municipal de


Angra do Heroísmo.

Anais da Ilha Terceira – Volume I

Francisco Ferreira Drumond.

Reimpressão Fac-Similada da Edição de 1850.

Governo Autónomo dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura – 1981.

Itinerário, Viagem ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas.

Edição preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses


211

X – TOPONÍMIA – DESIGNAÇÃO DAS RUAS NA CARTA DE 1595

As ruas de Angra seguem perfeitamente uma hierarquia de importância, em


termos da sua largura e localização, e isso vê-se perfeitamente numa planta onde
essas larguras e localizações estão desenhadas à escala.

As ruas desenhadas na carta de 1595 vão ficar praticamente imutáveis durante


cerca de 450 anos. Algumas alterações só virão a verificar-se a partir das décadas de 50
e 60 do século XX.

É impressionante a semelhança da carta do ponto de vista urbanístico, com


Angra dos meados de século XX. Podemos dizer que as ruas representadas na carta
continuam quase todas na atualidade.

Possivelmente uma das razões, de quase não existir nenhuma alteração deve-
se ao fato de a população se ter mantido estável ao longo destes quatro séculos e
meio. Não houve, por essa razão, necessidade de abrir novas ruas, pelo que as
construções que se foram fazendo se limitaram a ocupar os lotes não ocupados nas
ruas existentes.

Seria importante efetuar um trabalho sobre a evolução da população de Angra


desde o povoamento até aos nossos dias, de modo a confirmarmos ou não esta
afirmação, pois essa evolução, tendo em conta a natalidade, a mortalidade, a
imigração e a emigração, talvez confirmasse que a população se manteve estável ao
longo destes séculos.

Outra razão seria a de que a urbanização da cidade entre o início do


povoamento e a execução da carta, cerca de 160 anos, foi tão bem pensada, projetada
e estatisticamente evoluída, que o seu futuro estaria assegurado em termos de
urbanismo.

A alteração do referido urbanismo, efetua-se com a necessidade de abertura de


novas vias devido ao trânsito rodoviário e também às condições atuais de conforto em
termos de áreas de habitação e não só.
212

No entanto, o núcleo central, que vai desde a Rua de Santo Espírito a nascente,
até ao Alto das Covas a poente, e da beira-mar a sul, até à Igreja do Colégio a norte,
não mostra, através da regularidade e perpendicularidade das suas ruas, nenhuma
alteração até os nossos dias, altura em que a urbanização do Largo do Colégio atual,
onde se situava o edifício dos estudos dos Jesuítas foi efetuada. Antes disso, a
adaptação das construções religiosas a outros fins, provocou algumas alterações, mas
não do ponto de vista urbanístico.

Os outros polos, como S. Pedro, Santa luzia, Conceição / Corpo Santo, S. Bento
sofrem algumas alterações, mas a matriz inicial mantém-se.

É nos quarteirões do núcleo central que fizemos incidir o nosso estudo no


capítulo anterior, ou seja, aqueles que se mantiveram mais estáveis ao longo dos
tempos e que poucas alterações sofreram.

É através deste traçado planeado e adaptado ao terreno que Angra se antecipa


neste âmbito no território português, a qualquer outra cidade, acompanhando deste
modo as cidades renascentistas da Europa e dando continuidade às cidades medievais
planeadas.

A esta preocupação de representar figuras geométricas quase perfeitas no


traçado das ruas, não devem ser alheios os engenheiros militares que possivelmente
vieram para Angra com o fim de projetar e implementar as diversas defesas da baía.
Apesar da pesquisa que fizemos em bibliografia da especialidade, não encontrámos
informação sobre a deslocação desses técnicos a Angra, para executarem trabalhos da
sua especialidade, pois só seria possível esta implantação com meios técnicos e
humanos com capacidade para a sua execução.

Podemos quase concluir que, comparando exaustivamente as ruas da carta de


1595, de que sabemos uma ou outra designação, com as da atualidade, ficamos a
conhecer perfeitamente a cidade de Angra nos fins do século XVI, quando foi
executado o seu levantamento e desenho, não quase de certeza por Linschoten, mas
por alguma equipa de cartógrafos a trabalhar na região nesta altura, como foi atrás
exposto. Sabendo da existência da carta ou de técnicos especializados com capacidade
para a executarem, e Linschoten sabendo que o Governador precisava dela, deve ter
servido de intermediário, o que não lhe retira nenhum mérito, só lhe confere mais
valor ao seu grande sentido de oportunidade.
213

Numa altura em que na Europa já tinha surgido esta técnica de desenho em


perspetiva, para representação das cidades há cerca de um século, que começa com a
representação das cidades de Florença e Veneza, é desenhada Angra quase ao mesmo
tempo que Lisboa (1593), Braga (1594), Goa (1595), Coimbra e logo mais tarde São
Salvador da Baía (1671) e outras.

A designação das ruas é feita ao longo dos tempos pelas populações, pois só
estas são capazes de lhes dar nomes definitivos. Na verdade, quando as designações
são dadas por via oficial, rapidamente desaparecem. Muitas vezes, nem duram uma
geração, como temos muitos exemplos recentes. Como diria o poeta “mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades”.

Angra não escapa a esta regra, e se no que toca a alguns nomes, facilmente
sabemos a razão da sua escolha. Como exemplo, temos as ruas de Cima, do Meio, de
Baixo, Direita, S. João, Jesus, Marquês, etc. Quanto a outras, é mais difícil atualmente
descortinar a razão do seu nome. Como exemplos temos, Queimada, Galo, Salinas, etc.
Felizmente que a maior parte das Câmaras está a voltar a designar oficialmente as
ruas, pelos nomes por que são conhecidas, reconhecendo como efémeras estas
decisões. Em Angra, está-se voltando a dar nome às ruas como elas eram conhecidas
desde sempre. Espero que o façam na totalidade.

Alguns destes nomes virão do tempo do povoamento, como a Rua Direita,


outros do tempo da carta de Angra de 1595, que veio mostrar algumas das razões
pelas quais são conhecidos os seus nomes, como por exemplo, da Cruz, de Jesus, do
Marquês, etc.

Será um bom exercício tentar encontrar a razão da origem dos nomes das ruas,
que a seguir vou enumerar e localizar na carta de Angra de 1595, apesar de vários
autores já terem feito essa tentativa sem a completarem.

As ruas da cidade: de acordo com Frei Diogo das Chagas, no seu livro “Espelho
Cristalino”, no capítulo X, diz que foram mandadas “lajear” ao longo das casas pelo
Corregedor Roque da Silveira. O Padre António Cordeiro, no seu livro “História das
Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental”, ao falar da Rua da Palha diz que era tão
“ladrilhada e direita como as suas paralelas, a do Espírito Santo, a Direita e a de S.
João”. Julgo que este “lajear” será o que ainda subsiste em meia dúzia de metros
quadrados no acesso ao Fanal, onde ainda há cerca de 50 anos toda esta rua desde o
214

Caminho Novo estava com este tipo de pavimentação. Penso que este vestígio é
importante, pois sendo assim, Angra seria uma cidade extremamente cómoda para a
época e os seus habitantes poderiam deslocar-se rapidamente dentro da cidade, a pé
ou em viatura de tração animal.

Vamos estudar exaustivamente a designação atual (nomes) das ruas de Angra e


os caminhos de penetração (canadas) que aparecem na carta de Angra de 1595, que,
mais tarde, evoluíram para ruas. Dentro do possível procurou-se investigar outros
nomes que as ruas tiveram ao longo dos tempos.

Na carta de Angra de 1595 e na planta toponímica atual que vão no fim do


capítulo, na primeira vão numeradas todas as ruas, na segunda os nomes das mesmas.
A sua correspondência faz-se em seguida com o nº da rua e o seu nome e a explicação
possível para cada uma delas.

TOPONIMIA

Numeração das ruas na carta de Angra de 1595; nome das ruas


correspondentes na planta toponímica atual.

1 – PRAÇA VELHA.

Também designada por, Santos Cosme e Damião, nome que ainda tinha entre
1586 e 1590; dos Cosme; da Restauração, porque em 1642 foi onde se deram vivas à
restauração na Ilha Terceira e onde também em 1828 à restauração do trono de Dª
Maria II e da carta constitucional; Antiga; dos Touros; Praça (simplesmente).

2 – RUA DA SÉ.

República

3– ALTO DAS COVAS.

Campo das Covas; Largo 11 de Agosto; Largo Dr Oliveira Salazar.

4 – RUA DE SANTO ESPÍRITO.


215

5 – TRAVESSA DE SANTO ESPÍRITO.

6 – RUA DIREITA.

Inicialmente deveria ter-se chamado “direta”, como as existentes em várias


cidades do País, mais tarde direita que não tem nada a ver com uma reta, é sim, direta
de um lugar a outro, neste caso do cais à praça, lugar mais importante da cidade e casa
do capitão donatário.

Na carta é a rua mais larga que o é efetivamente na realidade, devido à sua


importância relativamente às outras. Deve ter esta designação desde o início do
povoamento.

7 – PÁTIO DA ALFÂNDEGA.

Largo 3 de Março, esta data refere-se ao 1º desembarque do Imperador D. Pedro


IV, em Angra

8– TRAVESSA DE S. JOÃO

9 - RUA DE S. JOÃO.

Deve o seu nome à ermida existente na esquina poente com a rua da Sé, dedicada
S. João Batista, referenciada na carta de Angra de 1595.

10 – RUA DA ROSA

Conselheiro Dr. Jacinto Cândido da Silva; Vanegas; no seu troço superior que vai da
rua Carreira dos Cavalos até ao convento de S. Gonçalo, João da Silva do Canto,
que vai para as Dadas.

11– RUA DOS MINHAS TERRAS.

Isabel Gonçalves; Maria Dutra; Tanoeiros; Frigideiras; Alfândega; Príncipe de


Mónaco. Deve o seu nome a terem residido nesta rua, os cinco irmãos conhecidos
como os minhas terras, de ofício tanoeiros, segundo Francisco Ferreira Drumond
nos Anais da Ilha Terceira, Volume II, página 17.

12– RUA DA ROCHA.

Príncipe de Mónaco.
216

13 – RUA DA PALHA.

Fernão Braz do Couto; Couto; As Cruzinhas; Infante D. Henrique; Padre António


Cordeiro. Deve o seu nome possivelmente pela armazenagem de palha que se fazia
nesta rua, destinada às cocheiras existentes.

14 – RUA DOS SALINAS.

15 – RUA CARREIRA DOS CAVALOS.

Dos Cavalos; Infante D. Luís; Rio de Janeiro.

16 – RUA DO BARCELOS.

Serpa Pinto.

17 – RUA DE JESUS.

Colégio Velho; Casa e Capela de Nª Sª das Neves. Deve o seu nome, por nela ter
sido instalada pela 1ª vez a Companhia de Jesus (jesuítas), que chegaram a Angra para
fundar o “Colégio” em 31 de Maio de 1570. Vem referenciada na carta de Angra de
1595.

18 – RUA DOS CANOS VERDES.

Afonso VI. Deve o seu nome, e tomamos por semelhança com uma rua que
existiu na cidade do Porto, que se chamava dos “Canos” (hoje rua das Flores), por nela
passarem os canos que abasteciam de água potável os conventos de S. Domingos e S.
Francisco. Neste nosso caso, os canos iam abastecer de água o convento dos Jesuítas e
o chafariz, que vem referenciado na carta ao fundo da mesma. O nome de “verdes”, é
devido à acumulação de musgos e fetos nas superfícies exteriores dos canos.

19 – RUA DA OLIVEIRA

Alfândega; Frigideiras.

20 – TRAVESSA DO MOREIRA.
217

21 – RUA RECREIO DOS ARTISTAS.

Quatro Cantos; Quartel; Conselheiro Nicolau Anastácio de Bettencourt; Pintor.


A zona compreendida entre as ruas de Jesus e da Boa Nova, era designada por quatro
Cantos, devido a morarem nesta área quatro famílias pertencentes aos “Cantos”.

22 – RUA DA BOA NOVA.

Mota.

23 – RUA DE GONÇALO VELHO.

Estrada de S. Gonçalo.

24 – TRAVESSA DOS CARVALHAIS.

25 – LARGO DA BOA NOVA.

26 – RUA CONSELHEIRO JOSÉ SILVESTRE RIBEIRO.

27 – ESTRADA GASPAR CORTE REAL.

28 – LARGO MIGUEL CORTE REAL.

29 – CAIS DA ALFÂNDEGA E PÁTIO DA ALFÂNDEGA.

Cais (simplesmente).

30 – RUA DE S. PEDRO.

Cima de S. Pedro; 25 de Abril.

31 – PORTÕES DE S. PEDRO.

Largo 4 de Março de 1642; Santa Catarina.

32 – RUA DE DIOGO TEIVE.

33 – RUA DO CAPITÃO JOÃO DE ÁVILA.

34 – ESCADARIA DE ACESSO À ERMIDA DE SANTA CATARINA.

35 – CANADA DE PENETRAÇÃO.
218

36 – CANADA DE PENETRAÇÃO.

37 – RUA DE BAIXO DE S. PEDRO.

Conde de Siuve de Menezes; Fanal; Alegria.

38 – LARGO DO CHAFARIZ.

39 – CAMINHO NOVO.

Tenente Ferreira Durão.

40 – RUA SEM DESIGNAÇÃO.

41 – RUA DO MEIO DE S. PEDRO.

Tenente Luis de Lacerda.

42 – TRAVESSA DE S. PEDRO.

43 – TRAVESSA DO FANAL.

44 – LARGO DO IMPÉRIO.

45 – TRAVESSA DO COTOVELO.

46 – RUA DA CRUZ.

De Trás. Deve o seu nome ao cruzeiro existente neste local na carta de 1595.

47 – RUA DE ACESSO AO FANAL PELOS PORTÕES DE S. PEDRO.

Na década de 50 do século XX já não existia.

48 – RUA DE ACESSO AO FANAL PELO LARGO DO IMPÉRIO.

Na década de 50 do século XX, existiam alguns vestígios da sua existência.

49 – RUA DE ACESSO AO FANAL PELO CAMINHO NOVO.


219

Esta rua foi destruída recentemente. Ainda existem, porém, vestígios à chegada
ao Fanal. A pavimentação está efetuada com grandes calhaus rolados pelo mar. Julgo
que, inicialmente, seria o lajeado de Angra de que falei anteriormente.

50 – RUA DO MARQUÊS.

João Vaz Corte Real; Cortes Reais. Deve o seu nome ao Marquês de Castelo
Rodrigo, D. Cristóvão de Moura e Távora Corte Real, por nela estar situado o seu
palácio (casa do capitão donatário), onde, muito possivelmente, nunca residiu.

51 – TRAVESSA DA SENHORA DA SAÚDE.

52 – RUA DO REGO.

Mouzinho de Albuquerque.

53 – LARGO DO COLÉGIO.

Prior do Crato. Este quarteirão foi demolido para dar lugar ao monumento ao
Prior do Crato. Antes da demolição, existia os “Estudos” do Colégio da Companhia de
Jesus, onde os Jesuítas davam aulas, a Rua dos Estudos e o Pátio dos Estudos.

54 – RUA DO PALÁCIO.

Távora; Duque de Palmela.

55 – RUA DA ESPERANÇA.

56 – RUA DUQUE DE BRAGANÇA.

Esta rua foi alterada com a demolição do Convento da Esperança referenciado


na Carta. No seu claustro, passou a efetuar-se o mercado da cidade, com a designação
de “Mercado Duque de Bragança”.

57 – RUA QUEIMADA.

58 – RUA DA MADRE DE DEUS.

59 – RUA DA BOAVISTA.

60 – RUA DO PAU SÃO.


220

Visconde de Bruges.

61 – RUA DE BAIXO DE SANTA LUZIA.

António C. Castro.

62 – RUA DE CIMA DE SANTA LUZIA.

Sebastião Correia de Lorvela.

63 – RUA DO CONDE DA PRAIA DA VICTÓRIA.

Conde da Praia.

64 – RUA DE SANTA LUZIA.

65 – RUA PADRE MANUEL MÁXIMO.

Dr. N. Sampaio. Esta rua dá acesso à Igreja de Santa Luzia e à casa que deu
origem ao palacete do 1º Conde da Praia da Victória, Teotónio de Ornelas Bruges.

66 – RUA DO CHAFARIZ VELHO.

67 – RUA DA MIRAGAIA.

68 – CANADA DE PENETRAÇÃO.

Ainda hoje existe, sendo uma rua particular.

69 – BECO DA PEREIRA.

Saco.

70 – RUA DA PEREIRA.

71 – RUA FREI JOÃO ESTÁCIO.

Caminho Fundo.

72 – LARGO DA PEREIRA.

73 – RUA SEM DESIGNAÇÃO.


221

Ligação entre o Largo da Pereira e a Rua de S. João de Deus.

74 – LARGO DO CASTELO DE S. LUÍS.

São Cristóvão; Dos Moinhos; D. Pedro V; Monumento; Memória; Pisão;


Desterro.

75 – RUA DE S.JOÃO DE DEUS.

76 – RUA BEATO JOÃO BATISTA MACHADO.

77 – RUA DO DESTERRO.

78 – RUA SEM DESIGNAÇÃO.

Rua nas traseiras do Museu R. de A. H. e de acesso ao jardim público.

79 – RUA DO PISÃO.

80 – RUA DAS MARAVILHAS.

81 – RUA DA MALAGUETA.

82 – TRAVESSA DOS PENEDOS.

83 – RUA DO OUTEIRO.

84 – RUA DOS PENEDOS.

85 – RUA FREI DIOGO DAS CHAGAS.

Memória; Pisão.

86 – RUA NOVA.

87 – RUA DR. ANIBAL BETTENCOURT.

88 – RUA PROFESSOR AUGUSTO MONJARDINO.

Canada do Barreiro.

89 – RUA FRANCISCO DO CANTO.


222

90 – CANADA DOS MELANCÓLICOS.

Canada António Siuve.

91 – CANADA DO BARREIRO.

Padre Jerónimo Emiliano de Andrade.

92 – LADEIRA DE S. FRANCISCO.

Nova; Frades; Carrasco; João de Deus. Rua que liga o Convento e Igreja de S.
Francisco à Praça Velha.

93 – RUA DA GAROUPINHA.

Olaria; Oleiros. Por ser uma rua ligada a olarias, isto é trabalho com barro.
Segundo algumas pessoas, o nome desta rua poderia derivar de habitar nela, alguma
mulher de virtude ou alguma prostituta muito conhecida na Cidade.

94 – RUA PARTICULAR.

Rua de acesso pelas traseiras, às casas das ruas do Galo, Garoupinha e Cruzeiro.

Segundo Pedro de Merelim esta rua foi vedada por deliberação Camarária de
18 de abril de 1849.

95 – LARGO DO SANTO CRISTO.

96 – RUA DO CRUZEIRO.

Almada.

97 – RUA DO GALO.

Rainha Dª Amélia; Liberdade. O troço superior de acesso à rua da Guarita, 5 de


Outubro.

97 A – RUA DO MONTURO.

Rua nas traseiras da Câmara atual, encontra-se vedada e dela existem apenas
alguns vestígios.
223

98 – RUA DA CONCEIÇÃO.

99 – LARGO DR. SOUSA JUNIOR.

100 – RUA DA GUARITA.

Cinco de Outubro; D. Carlos, S. Sebastião; Conceição das Freiras. O seu nome


deve-se possivelmente à existência de um destacamento militar aos Portões de S.
Bento.

101 – PRAÇA ALMEIDA GARRETT.

Trás das Hortas; Travessa das Hortas.

102 – RUA ALVARO MARTINS HOMEM.

103 – AVENIDA CONDE SIUVE DE MENEZES.

104 – AVENIDA SANTO ANTÓNIO DOS CAPUCHOS.

105 – LADEIRA DE S. BENTO.

S. Bento.

106 – LARGO DE S. LÁZARO.

107 – LARGO DE S. BENTO.

108 – CARREINHA.

Dr. Jerónimo da Silva.

109 – RUA CONSELHEIRO MONJARDINO.

109 A – RUA DO PADRE JOSÉ ROGÉRIO.

110 – LARGO DOS REMÉDIOS.

111 – RUA FRANCISCO ORNELAS.

112 – RUA DO MORRÃO OU MURRÃO.

João Coelho

113 – RUA DOS ITALIANOS.


224

Rocha Ferreira.

114 – RUA DO ARMADOR.

115 – RUA DO CARDOSO.

116 – RUA DE PERO ANES DO CANTO.

Barreiro.

117 – RUA DE FALEIRO.

O nome desta rua deriva de Fernão Faleiro, feitor do Marquês de Castelo


Rodrigo, D. Cristóvão de Moura e Távora. Fernão Faleiro explorou, em nome do
Marquês, as Donatarias da Terceira e S. Jorge.

118 – RUA BAIXINHA.

Corpo Santo; Alcaçarias.

119 – ESTRADA PERO DE BARCELOS.

Bernardino Machado.

120 – RUA DR. JACINTO CÂNDIDO.

121 – CANADA DE PENETRAÇÃO.

122 – RUA CAPITÃO MANUEL JAQUES.

123 – AVENIDA INFANTE D. HENRIQUE.

124 – RUA DE CANTAGALO.

Castelinho.

125 – PORTO DA PIPAS.


225

Como julgo que ficou demonstrado, todas as ruas existentes na carta de Angra
de 1595, são as mesmas até à década de cinquenta do século XX. Quer dizer que Angra
no século XVI já era uma grande cidade, e atrevo-me a dizer que seria talvez a segunda
do País, comparando-a com a cidade do Porto que é considerada como sendo a
segunda. Como alguém escreveu nessa época, “Angra era uma Lisboa pequena”.

A cidade de Angra entre os portões de S. Pedro e os de S. Bento, tem 2.000 m


de extensão, e entre a beira-mar e a Igreja de Santa Luzia cerca de 850 m. A cidade do
Porto no século XVI, entre as muralhas medievais, ditas “Fernandinas” ou “Afonsinas”,
tem da Praça da Batalha até à Porta do Olival cerca de 1.000 m, da Praça da Ribeira até
à Porta dos Carros cerca de 700 m. Quanto à população, por estudos efetuados, seriam
semelhantes. Por estes resultados podemos afirmar que poderiam perfeitamente
emparceirar.

Angra é Vila e Cidade com foral concedido em 21 de Agosto de 1534 por El-Rei
D. João III, devido ao seu grande desenvolvimento comercial e agropecuário como os
dizeres das cartelas da carta e, não só, o atestam. A grande maioria das cidades do
País, nesta altura, é-o pela sua antiguidade, não pelo desenvolvimento comercial e
agropecuário e não tem carta de foral.

Vou concluir, por este simples estudo comparativo, que Angra é no século XVI a
segunda cidade do País, ou pode facilmente emparceirar com a que é considerada
como a segunda.
226

CARTA DE ANGRA DE 1595 NUMERAÇÃO DE TODAS AS RUAS

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE


227

ZONA CENTRAL DA CIDADE


228

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


229

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


230

PLANTA TOPONÍMICA ATUAL DE ANGRA

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE

Esta planta vem inserida no livro.

Angra do Heroísmo

“Janela do Atlântico entre a Europa e o Novo Mundo”

Francisco dos Reis Maduro Dias

Região Autónoma dos Açores - 1981


231

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


232

PLANTA DA ILHA TERCEIRA DE 1582 – ANÓNIMO – LUÍS TEIXEIRA

AMPLIAÇÃO DA ZONA DE ANGRA

REPRESENTAÇÃO DA CIDADE DE ANGRA

COMO CURIOSIDADE NESTA DATA AINDA A ILHA TERCEIRA TINHA A


DESIGNAÇÃO DE “BRAZIL” COMO VINHA DESIGNADA EM MAPAS ANTES DO
POVOAMENTO
233

MAPA DA ILHA TERCEIRA DE LUÍS TEIXEIRA DE 1587

AMPLIAÇÃO DA ZONA DE ANGRA

REPRESENTAÇÃO DA CIDADE DE ANGRA


234

Representação da Cidade de Angra, com a sua fortaleza, na Ilha Terceira, a que são
sujeitas todas as outras Ilhas chamadas dos Açores ou Ilhas Flamengas, em virtude de
ali residirem o Bispo, o Governador Régio e o Conselho. Sendo a Ilha Terceira a maior e
a mais rica de todas devido à cultura e comercialização do pastel.

Por Jan Huygen Van Linschoten. Anno de 1595

Original conservado na Biblioteca Real de Haia


235

Itinerário, Viagem ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas

Jan Huygen Van Linschoten

Comemoração Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses

Gravura nº 36
236

CARTA DE ANGRA

Histoire de la navigation

Iean Hygves de Linschoten hollandois, aux Indes Orientales

Annotations de B. Palvdanvs

2 éme éd. Augmentée. – A Amsterdam: Chez Iean Evertsz Cloppenburch

1619

Esta gravura pretence ao espólio da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de A. H.


237

ANGRA QUINHENTISTA

Em gravura da Archontologia Cosmica

(Francoforte, 1649)

A partir da famosa planta perspetiva de Angra de fins do século XVI conhecida por
carta ou mapa de Linschoten (publicada na História da Navegação) foram saindo logo
no século XVII diversas cópias, uma das quais está inserta na ARCHONTOLOGIA
COSMICA, SIVE IMPERIORVM, REGNORVM, PRINCIPATVM, RERVMQVE PUBLICARVM
omnium per totum Terrarum Orbem (…) commentarii luculentissimi, quibus cum ipsae
regiones, earumque, primo opera E studio Jo Ludovici Gotofredi, Franfurti, sumptibus
Mathaei Meriani, anno MDCXLIX.

A presente reprodução é uma dessas cópias autênticas adquiridas em Berlim pela


Secretaria Regional dos Transportes e Turismo que, pela Direção Regional de Turismo
agora edita para divulgação e como homenagem a Angra do Heroísmo, “cidade
património mundial”, assim classificada pela UNESCO EM 1984. Segundo Luís Silveira –
Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar, v. 1, Lisboa, s.d. (1954),
p.16, esta perspetiva de Angra coloca-se entre as “Grandes Coleções de Gravuras que
representam as cidades importantes do mundo, incluindo algumas do ultramar
português”.

Foi copiada simplificadamente da matriz de Linschoten e apresenta Angra (cidade e


bispado desde 1534) como se o fôra já no mear do século XVII, a mesma de fins do
século anterior. A simplificação não diz apenas respeito às legendas originárias de
Linschoten que, nestoutra, são abreviadas por motivo de atualização histórica,
atualização que não cuidou de apor à cidade seus novos ornamentos edificados, v.g. o
castelo filipino do Monte Brasil. A substituição, p.e. das embarcações no porto por
barcos de menor tonelagem não passa de fantasia, quando na carta de Linschoten os
navios ancorados podem ser identificados (V. “OGaleão de Malaca”, de João Afonso, in
“Os Açores e o Atlântico “, I.H.I.T.).

Pela obra de Silveira o presente ícone no seu original tem as seguintes dimensões:
Dimensão da mancha: 325X211mm. Dimensão externa: 380X340mm.

A tradução da legenda deste mapa, conforme José Agostinho, “Boletim do Instituto


Histórico da Ilha Terceira”, v.1, angra do Heroísmo, 1943, p. 167 n. 2, é a seguinte:
“Traçado rigoroso da cidade de Angra, cabeça da Ilha Terceira e das ilhas chamadas
dos Açores riquíssima por causa da sua produção de trigo, com as suas fortificações”

O nº 2956 de “ Bibliotheca Açoriana” v. 1, de Ernesto do Canto, regista esta espécie


iconográfica.
238

GRAVURA A PRETO E BRANCO

NOTAS ESCLARECEDORAS

1 – João Afonso ao identificar o “Galeão de Malaca” na baía de Angra, possivelmente


não conhecia a gravura de Linschoten “A ilha de Santa Helena…., onde estão
representadas as 6 embarcações que vinham na frota da Índia, onde estava integrado
Linschoten. Nessa gravura está devidamente identificado com legenda o “Galeão de
Malaca”, nenhuma das embarcações que estão na baía de Angra na carta de 1595, se
identifica com a referida embarcação.

2 – Quanto á tradução das legendas da carta remeto o leitor para o capítulo “VI –
Tradução e interpretação das cartelas”, neste trabalho. Julgo ser esclarecedor, quanto
a “quem fez e o que fez”.
239

GRAVURA DE ANGRA COLORIDA

ARCHONLOGIE COSMICA

1649

(Museu de Angra Ho heroísmo, Inv. MAH 2006. 1139)


240

GRAVURA DE ANGRA

DE NIEUWE EN ONDEKEND WEIRELD

1671

(Museu de Angra do Heroísmo, Inv. MAH 1991.125)


241

AZOREN – ANGRA AUF TRCEIRA

“Angra”. Ansicht der insel mit Stad vom Meer aus, hubsche Schfftaffage im
Vordergrund. Kupfer aus Manesson-Mallet.1683. Dimen. 145X100 mm

H.Th. Wenner Antiquariat


242

GRAVURA DE ANGRA A PRETO E BRANCO

DESCRIPTON DE L’UNIVERS

1683
243

VISTA DE ANGRA

JAN BLOM

Óleo sobre tela

Escola Holandesa; século XVII

Dimensões 560X790 mm

Coleção Secretaria Regional da Saúde e Segurança Social

Museu de Angra do Heroísmo. Inv. MAHR. 1997. 148


244

GRAVURA DE ANGRA

Jacques Nicolas Belin, Neptune François - 1753


245

GRAVURA DE ANGRA

ATLAS MARITIMO DE ESPAÑA – 1789


246

CARTA DE ANGRA

JOSÉ RODRIGO DE ALMEIDA

1805
247

GRAVURA DE ANGRA

JOSÉ RODRIGO DE ALMEIDA

1805
248

GRAVURA DE ANGRA

JOSÉ RODRIGO DE ALMEIDA

1830
249

CASTELLO DE S. JOÃO BAPTISTA DA ILHA TERCEIRA

Tenente Coronel de Engenharia José Carlos de Figueiredo G.E.A.E.M.

“O URBANISMO PORTUGUÊS”

Manuel C. Teixeira e Margarida Valla

Livros Horizonte

Século XIX
250

PLANTA DA CIDADE DE ANGRA – ILHA TERCEIRA

João Baptista Amorim de Freitas, B.A.H.M.O.P. - 1870

“O URBANISMO PORTUGUÊS”

Manuel C. Teixeira e Margarida Valla

Livros Horizonte
251

PLANTA DE ANGRA

Século XIX
252

GRAVURA DE ANGRA - INSERIDA NA CARTA ILHAS DOS AÇORES

VINCENZO MARIA CORONELLI – B.P.M.P.

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NA CARTA “PORTOS DE PORTUGAL”


253

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NUMA CARTA DOS AÇORES – CARTA HOLANDESA

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NUMA CARTA HOLANDESA – B.P.M.P.


254

GRAVURA DE ANGRA VISTA DO ANCORADOURO – ALÇADO

GRAVURA DE ANGRA VISTA DO ANCORADOURO INSERIDA NUMA CARTA INGLESA


255

GRAVURA DE ANGRA VISTA DO ANCORADOURO – MUSEU NAVAL DE MADRID

CARTA INGLESA

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NUMA CARTA INGLESA – MUSEU NAVAL DE MADRID


256

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NUMA CARTA HOLANDESA

MUSEU NAVAL DE MADRID

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NUMA CARTA INGLESA-MUSEU NAVAL DE MADRID


257

GRAVURA DE ANGRA INSERIDA NUMA CARTA FRANCESA


258

CIDADE D’ ANGRA DO HEROÍSMO

ILHA TERCEIRA

M. COSTENLA – LISBOA

1805
259

CIDADE D’ANGRA DO HEROÍSMO NA ILHA TERCEIRA

A.L. Guimarães e Julietta Thompson, Lithographaram

Presidência do Governo dos Açores / Direção Regional da Cultura

Museu de Angra do Heroísmo, 2007

Litrografia pertencente ao espólio do Museu de Angra do Heroísmo


260
261

ANGRA VISTA DO SUL – PRICIPIOS DO SÉCULO XX


262
263

ANGRA VISTA DO NORTE – DÉCADA DE 40 DO SÉCULO XX


264
265

ANGRA - VISTA DO SUL/NASCENTE

ANGRA - VISTA DO SUL NASCENTE


266

ANGRA - VISTA DO SUL/NASCENTE

ANGRA – VISTA DO POENTE


267

ANGRA – VISTA DO NORTE

ANGRA – VISTA DO NORTE


268

ANGRA – VISTA DO NORTE

ANGRA – VISTA DO NASCENTE


269

ANGRA – VISTA DO SUL

ANGRA – VISTA DO SUL


270

ANGRA – VISTA DO SUL

ANGRA – VISTA DO SUL


271

ANGRA – VISTA DO SUL

ANGRA – VISTA DO SUL


272

ANGRA – VISTA DO SUL

ANGRA – VISTA DOS SUL


273

ANGRA VISTA DO POENTE/SUL

ANGRA – VISTA DO NORTE/NASCENTE


274

ANGRA – VISTA DO NORTE/NASCENTE

ANGRA – VISTA DO NORTE/POENTE


275

ANGRA – VISTA NORTE/POENTE

VESTIGIOS DO PRIMITIVO LAGEADO DE ANGRA AO TEMPO DA CARTA DE 1595?


276

VISTA AÉREA DA CIDADE DE ANGRA DO HEROÍSMO


277
278

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

História das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Padre António Cordeiro 1717.

Memórias sobre a Ilha Terceira.

Alfredo Sampaio 1904.

Memórias da Cidade e Outros Escritos.

(Notas para a Toponímia da Cidade de Angra, da Ilha Terceira.

Henrique Bráz – Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Da Praça às Covas. Memórias de uma Velha Rua.

Frederico Lopes. (João Ilhéu).

Angra do Heroísmo.

Janela do Atlântico entre a Europa e o Novo Mundo.

Francisco dos Reis Maduro Dias.

Região Autónoma dos Açores.

A CIDADE DE ANGRA NA ILHA DE IESV XPÕ DA TERCEIRA QUE ESTA EM 39


GRAOS.
279

Seleção Prefácio e Notas de Maduro Dias.

Edição Comemorativa dos 450 anos da Cidade de Angra.

Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores.

Frei Diogo das Chagas.

Direção e Prefácio de Artur Teodoro de Matos 1989.

Plantas Toponímicas de Angra.

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

Fotos do autor.

Memória Histórica da Edificação dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo.

Pedro de Merelim - 3ª Edição

Edição da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo – 1984.


280

XI – IGREJAS, CONVENTOS E ERMIDAS.

Das igrejas conventos e ermidas, incluindo as anexas aos conventos existentes


na carta de 1595, ainda persistem algumas. A grande maioria foi transformada. Outras
desapareceram. Desapareceram as ermidas dos conventos da Esperança, Nossa
Senhora das Neves, e da Graça e ainda as ermidas do Espírito Santo, de S. Sebastião,
do Castelo de S. Sebastião, São João e Corpo Santo

Mas as que ainda hoje existem foram alteradas, ampliadas, e remodeladas,


outras colocadas noutros locais. Já nos nossos dias foram deslocadas as igrejas de
Santa Luzia, dos Santos Cosme e Damião e da Natividade.

Estes templos tinham a orientação nascente/poente, como era uso na época. A


primitiva Igreja do Salvador tinha esta orientação. A atual Igreja da Sé, construída
neste mesmo local, foi a primeira em Angra a contrariar esta regra, ao colocar a
fachada principal virada para a rua, ficando com a orientação norte/sul.

São quase todas construções do século XVI, excetuando as primeiras a serem


construídas, logo a seguir ao início do povoamento. Tudo indica terem sido, a primitiva
onde hoje está ereta a Sé, São Francisco e Nossa Senhora da Conceição.

Vamos enumerá-las na carta de 1595 e efetuar uma breve descrição de cada


uma, de modo a situá-las na sua época, e referir como apareceram e a indicar as suas
transformações.

1 – CONVENTO E IGREJA DE S. GONÇALO.

Convento destinado a mulheres, situada no quarteirão das ruas, Recreio dos


Artistas, Rosa e Gonçalo Velho.
281

A fundação deste convento é concedida a Braz Pires do Canto pela Bula


Apostólica passada em Roma a 7 de outubro de 1541, destinando-se às suas duas
filhas monjas, com a invocação de Nossa Senhora da Esperança, da Ordem de S.
Francisco, isto é da Ordem de Santa Clara.

O convento de São Gonçalo ficava dependente da Mitra do Porto e daí talvez a


razão de ter como Santo Padroeiro, S. Gonçalo da cidade de Amarante, que pertence à
Diocese do Porto.

No entanto, a aprovação das eleições ficava dependente do Deão e do Chantre


do Bispo de Angra.

Face à grande dificuldade nas comunicações por estarem dependentes da Mitra


do Porto, as monjas solicitaram a Roma autorização para ficarem dependentes da
Diocese de Angra, o que lhes foi concedido pela Bula de 17 de Dezembro de 1580.

Segundo Pedro de Merelim, o muro da cerca do convento começou a ser


derrubado em fins de 1899 para alargar a rua, ficando esta em linha reta até ao Alto
das Covas. No entanto, na carta de Angra de 1595, na face nascente do convento e
adoçado a este havia casas, que, ao serem executados os trabalhos de alargamento da
rua, seriam demolidas e não a cerca. Aliás, atualmente o convento tem dois claustros e
na carta figura só um, assim como a igreja está na esquina sul/poente e atualmente
está na nascente/sul.

2 – COLÉGIO DA COMPANHIA DE JESUS E ERMIDA DE NOSSA SENHORA DAS


NEVES.

Convento destinado a homens que ficava situado na esquina das ruas da Rocha
e de Jesus e daí o nome da rua.
282

Segundo o Padre Alfredo Lucas, a ermida foi edificada cerca de 1570 por João
da Silva do Canto, antes da vinda dos Padres da Companhia de Jesus.

Os onze padres que constituíam a primeira comitiva, chegaram a Angra no dia


31 de Maio de 1570, tendo desembarcado com toda a pompa e circunstância no dia 1
de Junho.

Foi-lhes oferecido, para se fixarem em Angra, a ermida e as casas anexas.

A orientação da ermida era nascente/poente, segundo o desenho da carta.

Não se sabe a data da sua demolição, mas foi de certeza posterior a 1651, que
é a data da transferência da Companhia de Jesus para as suas instalações do novo
Colégio e Igreja anexa. Este novo Convento fica situado no topo norte da rua Direita e
onde se inicia a rua do Marquês, no enfiamento da entrada da baía.

3 – IGREJA DA SÉ.

A primitiva igreja localizava-se sensivelmente a meio da rua da Sé, rua que


considerei como sendo o terceiro eixo viário da futura cidade, no mesmo sítio onde se
encontra atualmente a Igreja da Sé, com a orientação nascente/poente. Possivelmente
esta igreja foi uma das primeiras a serem construídas em Angra, no início do
povoamento, no tempo do primeiro Capitão Donatário Jácome de Bruges cerca do ano
de 1450. No entanto, o Padre Manuel Luís Maldonado na sua “Fénix Angrense”, diz
que a sua construção se deve a Álvaro Martins Homem cerca de 1474. O orago seria
São Salvador, tendo ficado concluída em 1486, pois é neste ano, em 28 de Novembro,
que foi nomeado o seu primeiro vigário, o padre Luís Anes.
283

Após a criação do Bispado de Angra pela Bula do Papa Paulo III de 3 de


Novembro de 1534, por separação da diocese do Funchal, começou-se a pensar na
construção de uma igreja que estivesse de acordo com a categoria de um Bispo.
Consequentemente, em 10 de janeiro de 1568, o Cardeal Rei D. Henrique mandou
expedir o alvará para que se edificasse o novo templo, sendo autor do projeto o
arquiteto Luís Gonçalves.

A construção durou cerca de cento e trinta e dois anos, ficando concluídos os


primeiros trabalhos em 1618. Como não constasse em nenhum documento a data da
sua consagração como Catedral, nem tradicionalmente houvesse uma data
comemorativa deste evento, em 16 de Outubro de 1808, o Bispo D. José de Azevedo
resolveu efetuar esta cerimónia para que constasse para o futuro.

Como o novo templo seria logicamente maior do que o anterior, adquiriram


terrenos vizinhos, ocupando assim todo o quarteirão. O portal principal ficou virado a
norte, isto é à rua da Sé, o que alterou assim a orientação anterior, ficando agora
sul/norte. Possivelmente foi em Angra a primeira igreja com esta orientação.

À data da execução da carta, como se poderá ver na gravura atrás inserida, as


três naves já estavam em construção, as duas torres sineiras e a abóbada da abside,
tudo em pedra da região, estando no chão materiais já aparelhados para serem
aplicados.

Como curiosidade, o grande Padre António Vieira, no seu regresso do Brasil


(Maranhão), pregou na igreja da Sé o sermão do rosário em 1653 e, segundo rezam as
crónicas, pela primeira vez se encheu esta igreja.

4 – ERMIDA DE S. João.

Ficava situada no gaveto das ruas da Sé e de S. João, sendo a sua orientação


nascente/poente.
284

Ermida muito conhecida, de evocação de S. João Baptista, devido às festas que


se celebravam em sua honra, pois coincidem com o solstício do verão.

Estas festas ainda hoje se celebram, e no mesmo local construíram uma


alegoria à ermida que lá existiu.

Não encontrei referências às datas da sua construção e demolição. No entanto,


sabemos que a Igreja considerou-a profanada em maio de 1849.

5 – IGREJA DA MISERICÓRDIA.

Igreja situada entre as ruas Direita, de Santo Espírito e pátio da Alfândega, com
a orientação nascente/poente.
285

Era provida de três naves e três portais, sendo o alçado principal virado à rua
Direita, por onde se fazia o acesso à mesma. Estava ligada à Ermida de Santo Espírito
anexa ao hospital, por um balcão lateral com escada de acesso a uma passerelle que
passava por cima da rua com o mesmo nome.

Esta igreja estava ligada como o próprio nome indica, à Santa Casa da
Misericórdia, instituída em Angra por João Corte Real por compromisso de 15 de
Março de 1492, sob invocação do Santo Espírito.

A igreja foi aumentada e modificada, apresentando-se atualmente com a


orientação sul/norte. A fachada principal com o portal nobre encontra-se virada à baía
de Angra. No entanto, a entrada da igreja faz-se, normalmente pela porta lateral
virada à rua Direita.

6 – ERMIDA DO CORPO SANTO.

Esta ermida ficava situada no cimo da rocha de Cantagalo, na esquina das ruas
do Faleiro e Cardoso, sobranceira à baía de Angra na sua face nascente, com a
orientação nascente/poente.

Era conhecida, também, como ermida dos navegantes ou mareantes, isto é dos
homens ligados ao mar e pertencia à Confraria de S. Pedro Gonçalves.

Vem referenciada na carta de 1595 como o “Corpo Santo”, nome pela qual
sempre foi conhecida e que deu nome ao bairro a ela anexa.

Segundo Pedro de Merelim e o Padre Alfredo Lucas, esta ermida era dedicada à
Nossa Senhora da Boa Viagem, (atualmente existe uma relativamente perto na rua
286

Francisco Ornelas) sendo a sua construção da segunda metade do século XVI e a sua
demolição data de 1928.

Na fotografia que apresento de Angra dos inícios do século XX, ela ainda se
conservava ereta, sendo uma prova de que a sua demolição foi posterior a esta data.

7 – ERMIDA DE SANTA CATARINA.

Fica situada no topo poente da rua de S. Pedro (vulgo rua de Cima de S. Pedro),
no seu lado norte, onde se chega através de uma escadaria, com degraus em pedra de
cantaria e patamares em pedra arrumada.

A sua orientação na carta é a atual, isto é nascente/poente.

É uma ermida antiga, cuja construção deve ser posterior a 1500.

À data da carta de 1595, teria dois acessos, pela escadaria a sul e por uma rua a
poente/norte.

Como curiosidade, o seu adro serviu de cemitério à freguesia de S. Pedro, pois


encontram-se ossadas a pouca profundidade do terreno.

Nos óbitos de S. Pedro, encontra-se um enterramento com a data de 10 de


Novembro de 1648 e Maldonado na “Fénix Angrense”, diz que os autores da
construção da ermida deveriam ter sido Pedro Cota de Malha e Gonçalo Vaz de Sousa,
nascidos na Madeira em data anterior ao século XVI como é lógico.
287

Em virtude de ter sido construída num sítio alto a poente da cidade e


sobranceiro aos portões de S. Pedro, serviu para vigiar, pelo poente, a baía do Fanal e
os acessos à cidade.

8 – IGREJA DE S. PEDRO.

Igreja situada no topo poente da rua de S. Pedro, na sua face sul, sendo a sua
orientação na carta de 1595 nascente/poente. Esta construção deve ser anterior a
1575, data da sua elevação a freguesia.

Atualmente a sua orientação é norte/sul, ficando a fachada principal virada a


norte, isto é virada à rua. Tudo leva a crer que esta segunda construção é de 1663.

Tem como orago, S. Pedro Apóstolo, sendo sede de paróquia, cuja delimitação
é a mesma da freguesia.

Segundo Pedro de Merelim, que extraiu dados informativos do tombo da


freguesia, esta foi elevada a paróquia em 20 de maio de 1575. Segundo Alfredo da
Silva Sampaio e Ferreira Drumond, esta igreja foi edificada no mesmo ano em que foi
elevada a paróquia.

9 – CONVENTO E IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA.

Este convento, destinado a mulheres, ficava situado na esquina das ruas da Sé e


da Esperança, Daí o nome da rua.
288

A sua orientação era nascente/poente, sendo a entrada lateral pala rua da Sé. A
igreja ocupava a esquina das mencionadas ruas, ocupando a capela-mor o gaveto.

Recentemente, após restauro dos prédios que hoje ocupam a área deste
convento, encontram-se à vista o arco da entrada da capela-mor, as soleiras, as
ombreiras e as padieiras do locutório e das entradas para o coro baixo.

Os terrenos onde foi edificado o convento e a Igreja constituíam o lugar


ocupado pelas casas de Bárbara de Morais, mulher de Aleixo Gomes. De acordo com
Pedro de Merelim, este mosteiro começou a ser executado cerca do ano de 1550,
sendo que em 1561 ainda não estava concluído. Pela descrição, no entanto, de
Agostinho de Mont’ Alverne em 1571 já deveria deveria estar.

A imagem na carta mostra que ele tinha um só claustro. Possivelmente, deve


ter sido ampliado, ou construído segundo claustro de maiores dimensões porque,
onde está atualmente o mercado Duque de Bragança, a área ocupada é superior à que
a carta nos mostra.

Pela sua situação no centro da cidade, em frente à catedral, numa zona nobre
da cidade em termos de localização e acessos, não se sabe quem foi o seu fundador.
Admite-se que seriam as religiosas e os religiosos de S. Gonçalo e de S. Francisco, mas
de obediência seráfica (não só espiritual, mas também temporal).

No entanto, Alfredo da Silva Sampaio diz que este convento da ordem de Santa
Clara foi fundado por Isabel de Jesus, religiosa do mosteiro de S. João Baptista da Ilha
do Faial.

Não foram encontradas referências quanto à data da sua demolição.


289

10 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA NATIVIDADE.

Esta Ermida ficava situada no topo norte da rua do Palácio, na sua face
nascente, com a orientação nascente/poente.

Provavelmente, é uma das mais antigas de Angra. A sua construção deve estar
situada entre os anos 1530 e 1540, sendo o seu patrocinador Pedro Anes do Canto.

Era conhecida como a ermida dos “pretos”, como existem algumas no Brasil,
imediata a Roma por Bula Apostólica. Eram confrades desta ermida, todos os negros e
negras desta cidade, que efetuavam as suas festas no dia do Pentecostes em louvor do
Espírito Santo.

Foi demolida em data incerta, possivelmente no século XVII e transferida para o


outro lado da rua, para a face poente, onde se encontra atualmente anexa ao
Seminário Diocesano de Angra.

11 – IGREJA DE SANTA LUZIA.

Ficava situada na rua de Santa Luzia, junto à igreja paroquial atual a sul desta,
com a orientação nascente/poente, com a fachada principal virada à rua.
290

Como possivelmente aconteceu com outras igrejas paroquiais, foi no início uma
ermida construída por João Vaz Meyrelles e sua esposa Catarina Lourenço.

Santa Luzia foi elevada a paróquia em 23 de Maio de 1595, pelo Bispo D.


Manuel Gouveia. Os assentos de batismo mais antigos que se conhecem são de 1621.

Devido ao terramoto de 1980, ficou seriamente danificada, em ruínas.


Posteriormente optou-se pela sua demolição, como sendo a melhor solução. Julgo,
pela configuração e dimensões relativamente pequenas, que ainda seria a primitiva
igreja. Pela imagem que temos na carta e fotos antes da sua demolição, era quase
idêntica à que chegou aos nossos dias.

12 – CONVENTO E IGREJA DE S. FRANCISCO.

Convento destinado a homens seguindo a Ordem de S. Francisco. Situava-se ao


cimo da Ladeira de S. Francisco, junto ao largo do Cruzeiro. A orientação da igreja era
nascente/poente.

Os primeiros religiosos a entrar em Angra e talvez nos Açores, foram os


Franciscanos cerca de 1456, possivelmente na companhia de Jácome de Bruges.

A construção do convento deve ser da década de sessenta do século XV, depois


de Jácome de Bruges ter chegado à Terceira. Segundo rezam as crónicas, foi uma das
primeiras ermidas a serem construídas em Angra, sendo o seu autor Afonso Gonçalves
de Antona Baldaia “o velho de S. Francisco” como era conhecido, que a mandou erigir
junto à sua residência, doando-a posteriormente à Ordem de S. Francisco, para
naquele local ser construído um convento.
291

A ermida ficou sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, ainda hoje o mesmo
orago da igreja atual.

No entanto, parece que em 1480 já estava construída, ou seja no tempo do 1º


Capitão Donatário de Angra, João Vaz Corte Real. Ficou inicialmente, sob a alçada da
província de entre Douro e Minho, até que em 1570 foi dada à custódia do Porto.

Entretanto, o seu fundador Afonso Baldaia passou para a capitania da Praia,


com os seus genros Álvaro Martins Homem e Gil Anes Curvo (Gil Borba).

Como fato assinalável, refira-se que se encontra sepultado na capela-mor desta


igreja Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama, que, na sua viagem de retorno da
Índia, aqui chegou enfermo, tendo falecido nesta cidade.

13 – ERMIDA DE S. SEBASTIÃO.

Ermida que estava localizada no gaveto das ruas Cruzeiro e Guarita, onde hoje
se situa o largo Dr. Sousa Júnior. A sua orientação, segundo a imagem da carta, era
nascente/sul.

Quanto à data da sua edificação, o Padre Alfredo Lucas diz que deve ter sido à
volta de 1550, sem no entanto fundamentar esta data.

Posteriormente à sua edificação, construiu-se o Convento das Capuchas, tendo


a sua demolição ocorrido nos anos de 1847. Num dos edifícios do convento, ficou
instalada durante alguns anos a prisão da cidade.
292

14 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO DESTERRO.

Ermida situada no gaveto das ruas Professor Augusto Monjardino e Dr. Aníbal
Bettencourt, sendo a sua orientação à data da carta nascente/poente. Atualmente é
norte/sul ficando a fachada principal virada à rua, isto é a sul.

A imagem que está na carta de 1595, não tem no cimo uma cruz a indicar que
se trata de uma ermida, mas, pela localização, sabemos que nesta altura existia no
local uma ermida. Segundo nos relata Francisco Ferreira Drumond, baseado no Padre
Luis Maldonado, ela foi reedificada em 1600, que prova a sua existência. Qual então a
data da sua construção? Possivelmente cerca de 1550, pois em 1564 ocorreram fatos
junto a esta ermida que novamente comprovam a sua existência.

15 – IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO.

Igreja que fica situada na confluência das ruas da Conceição, Cruzeiro e


Italianos, com a orientação nascente/poente, que ainda é a atual.
293

Trata-se a par da Sé e de S. Francisco, dos primeiros templos da cidade, sendo o


primeiro registo de batismo do ano de 1474. A sua construção deve-se a Álvaro
Martins Homem que chegou à Terceira cerca de 1460.

Foi promovida a paróquia em 1553 por alvará régio de D. João III. Devido a
estas datas, somos levados a concluir ser esta uma das mais antigas igrejas de Angra.

Pela sua imagem na carta, com a sua torre sineira e a configuração da


cobertura, chegamos à conclusão de que possivelmente é a atual, sendo também a sua
localização a mesma.

16 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS.

Ermida que ficava localizada no Largo dos Remédios. Encontra-se atualmente


no mesmo sítio, mas completamente alterada e anexa ao solar de Nossa Senhora dos
Remédios da família Canto e Castro.

Segundo o Dr. Jorge Pamplona Forjaz o ramo primogénito desta família, está
completamente extinto na Ilha Terceira. A construção da primitiva ermida em 1540
deve-se a António Pires do Canto, filho primogénito de Pedro Anes do Canto, que o
declara nas suas “Memórias”.

Segundo Pedro de Merelim, a sua construção data da década de 1530, mas já o


Padre Alfredo Lucas conjetura que deve ter sido pela década de 1560. O mais lógico
294

será a data indicada por António Pires do Canto, por ser fornecida por quem é, e por
situar-se na média das outras duas.

Mais tarde, foi reconstruída e ampliada, alterando-se a sua orientação para


sul/norte. A fachada principal ficou voltada para o Largo dos Remédios e a sua entrada
passou a ser pelo pátio do Solar. Com o sismo de 1980, ficou totalmente destruída,
estando atualmente reconstruída.

17 – ERMIDA DOS SANTOS COSME E DAMIÃO E NOSSA SENHORA DA SAÚDE

Ermida que ficava situada no fim da rua Direita, início da rua do Marquês, no
lado poente das mesmas, onde hoje está localizada a Igreja do Colégio, sendo a sua
orientação nascente/poente.

Foi mandada edificar por António Pires do Canto em 1560, sendo dedicada aos Santos
Cosme e Damião.

Foi demolida provavelmente cerca de 1592, tendo sido transferida para a Praça
Velha, porque o terreno onde estava implantada foi comprado pela Companhia de
Jesus para a construção do Colégio e Igreja.

A nova construção, segundo parece, deveu-se a Simão Gonçalves, tendo


mudado de orago para Nossa Senhora da Saúde. Encontra-se atualmente na Praça
Velha na sua face norte.

18 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA.


295

A sua localização era na rua da Guarita, onde hoje se situam as ruínas do


Hospital de Santo Espírito, com a orientação nascente/poente.

Esta Ermida poderá ter sido o início da construção de um convento destinado a


homens, fundado cerca de 1570 pelo reverendo Frei António Varejão da Ordem de
Santo Agostinho, também designados por Gracianos.

Mais tarde, o convento foi executado no Alto das Covas com a designação de
Convento de Nossa Senhora da Graça, que existiu quase até aos nossos dias, sendo
demolido já no século XX e em sua substituição construída um agrupamento de escolas
primárias.

Mais tarde, esta ermida passou a integrar o Mosteiro das Concepcionistas,


como ainda hoje se pode verificar. Após a extinção das ordens religiosas, foi ali
instalado o hospital de Angra com a denominação do Espírito Santo.

19 – ERMIDA DE SÃO LÁZARO.

Ficava situada onde hoje é o Largo de São lázaro. Pela imagem da carta teria a
orientação nascente/poente.
296

É sem dúvida, uma das primitivas ermidas de Angra. Teria em anexo um


hospital de leprosos.

Não se sabe a data da sua construção, mas terá sido cerca de 1500,
desconhecendo-se a data da sua demolição. No entanto, Ferreira Drumond diz que em
1809 ela já não existia. Mas Pedro de Merelim diz que a Câmara de Angra, ainda
pagava em 1817 parte das despesas com o hospital.

Atualmente existe uma ermida no mesmo local com a orientação sul/norte, isto
é, com a fachada principal virada ao Largo. O padroeiro é São Lázaro.

20 – IGREJA DE SÃO BENTO.

Fica situada no largo de S. Bento, já na subida da rampa com o mesmo nome,


com a orientação que tem atualmente, isto é nascente/norte; poente/sul.

Pela imagem da carta e pela sua orientação atual esta igreja não deve ter
sofrido grandes modificações ao longo dos tempos. De fato, mantêm-se as suas
caraterísticas, quer a nível das fachadas, quer da cobertura e torre sineira, não sendo
conhecida a data da sua construção.

Sabemos que foi elevada a freguesia autónoma em 1572.

21 – ERMIDA DE SANTO ESPÍRITO.


297

Estava situada no Largo onde se localiza a alfândega, na fachada nascente do


início da rua de Santo Espírito, possivelmente, onde está hoje o quartel da Guarda
Nacional Republicana, sendo a sua orientação nascente/poente.

Deve ser também das mais antigas de Angra, pois deve ser do tempo da
construção do hospital que lhe ficava anexo. Como sabemos, este hospital deve ter
sido construído logo no início do povoamento, com o fim de tratar as tripulações que
vinham doentes nas embarcações que demandavam o porto.

Pela imagem da carta estava também ligada à igreja da Misericórdia por uma
passerelle, possivelmente para levar a enterrar os defuntos do hospital. Nas obras de
reconstrução da igreja foram encontradas várias ossadas no seu pavimento.

22 – ERMIDA DO CASTELO DE S. SEBASTIÃO.

Estava localizada no interior da fortaleza de S. Sebastião, com a orientação


nascente /poente.
298

Temos alguma dificuldade em confirmar se a construção que dizemos ser uma


ermida, não está encimada por uma cruz, mas tudo indica pela tipologia da imagem da
carta, tratar-se de uma ermida, cuja existência seria de admitir para apoio religioso à
guarnição permanente do Forte.

A sua construção deve ser simultânea à com a construção da fortaleza, isto é,


entre os anos 1555 e 1557. Sabemos que em 1595 a sua construção já se encontrava
concluída, pelo menos como nos mostra a imagem da carta.

A cidade de Angra em 1595, como vimos, estava já com grande número de


igrejas, conventos e ermidas, que, de algum modo espelham a grandeza e
desenvolvimento desta cidade, pois, de certo modo o clero foi atraído pela divulgação
da sua dimensão.

Quase todas as congregações religiosas existentes nesta data, isto é cerca de


160 anos após o início do povoamento, já estavam representadas na cidade, algumas
delas com conventos de uma dimensão apreciável, como podemos ver pelas imagens
representadas na carta de 1595. Como já foi dito, a grande maioria destes edifícios
ainda hoje existe, e representa para o património nacional um marco histórico nesta
cidade.
299

LOCALIZAÇÃO NA CARTA DAS IGREJAS, CONVENTOS E ERMIDAS.

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE


300

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


301

1 – IGREJA E CONVENTO DE S. GONÇALO

1 – IGREJA E CONVENTO DE S. GONÇALO


302

2 – LOCALIZAÇÃO DO COLÉGIO DOS JESUÍTAS E ERMIDA DE Nª SENHORA DAS NEVES

2 – LOCALIZAÇÃO DO COLÉGIO DOS JESUITAS E ERMIDA DE Nª SENHORA DAS NEVES


303

3 – IGREJA DA SÉ

3 – IGREJA DA SÉ
304

4 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A ERMIDA DE S. JOÃO

5 – IGREJA DA MISERICÓRDIA
305

5 – IGREJA DA MISERICÓRDIA

6 – ERMIDA DO CORPO SANTO


306

6 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A ERMIDA DO CORPO SANTO

7 – ERMIDA DE SANTA CATARINA


307

7 – ERMIDA DE SANTA CATRINA

8 – IGREJA DE S. PEDRO
308

8 – IGREJA DE S. PEDRO

9 – VESTIGIOS DO CONVENTO E IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA

ARCO DA CAPELA-MOR
309

PARLAPATÓRIO E ENTRADA DO CORO BAIXO

9 – LOCALIZAÇÃO DO CONVENTO E IGREJA DE Nª SENHORA DA ESPERANÇA


310

10 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA NATIVIDADE

11 – IGREJA DE SANTA LUZIA


311

11 – IGREJA DE SANTA LUZIA

12 – CONVENTO E IGREJA DE S. FRANCISCO


312

12 – CONVENTO E IGREJA DE S. FRANCISCO

12 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A IGREJA DE S. SEBASTIÃO


313

13 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A ERMIDA DE S. SEBASTIÃO

14 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO DESTERRO


314

15 – IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

15 – IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


315

16 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS

16 – ERMIDA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS


316

17 – LOCAL ONDE ESTAVA SITUADA A ERMIDA DOS SANTOS COSME E DAMIÃO

18 – RUÍNAS DA ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA


317

18 – RUÍNAS DA ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA

19 – ERMIDA DE S. LÁZARO
318

20 – IGREJA DE S. BENTO

21 – LOCAL ONDE ESTAVA SITUADA A ERMIDA DO ESÍRITO SANTO


319

22 – LOCAL ONDE ESTAVA SITUADA A ERMIDA DO CASTELO DE S. SEBASTIÃO

22 – LOCAL ONDE ESTAVA SITUADA A ERMIDA DO CASTELO DE S. SEBASTIÃO


320

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus.

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro Dias.

Edição comemorativa dos 450 anos da Cidade de Angra.

Angra do Heroísmo – 1985.

Anais da Ilha Terceira (4 volumes).

Francisco Ferreira Drumond.

As 18 Paróquias de Angra – Sumário Histórico – 1976.

Pedro de Merelim.

Notas sobre os Conventos da Ilha Terceira – 1960 / 1962. (3 volumes)

Pedro de Merelim.

As Ermidas da Ilha Terceira – Angra do Heroísmo – 1976.

Padre Alfredo Lucas.

O Solar de Nossa Senhora dos Remédios (Canto e Castro).

Jorge Pamplona Forjaz.

I.H.I.T. – 1996.
321

História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Composta pelo Padre António Cordeiro da Companhia de Jesus.

Região Autónoma dos Açores

Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Fénix Angrense – (3 volumes).

Padre Manuel Luís Maldonado.

Instituto Histórico da Ilha Terceira

Angra do Heroísmo - 1990

Quatrocentos Anos de Santa Luzia de Angra.

Valdemar Mota

Boletim do I.H.I.T. – Volume LXIII – 2005


322

XII – CRUZEIROS E ALMINHAS

Anteriormente ao Cristianismo em Portugal, estes símbolos eram


representações votivas a deuses pagãos e não só, colocados normalmente em
cruzamentos de estradas, largos, e nas zonas importantes das aldeias e cidades. Mais
tarde com o advento do Cristianismo, este transformou-os em simples cruzes, cruzes
com Cristos esculpidos, painéis com pinturas votivas às almas do Purgatório, ou os dois
em conjunto, como é muito vulgar no Entre Douro e Minho e países da Europa central,
sul/este da Alemanha, Suíça, Áustria.

Construções semelhantes, mas com maior dimensão, existiam na Índia. Na


gravura nº 28 (ícones) anexa ao “Itinerário”, temos à esquerda um “pagode” esculpido
na rocha, com um ídolo de aspeto terrível em cima de um altar, com dois sacerdotes
ajoelhados designados por Brâmanes a oferecer dádivas, enquanto outro no adro do
templo está a queimar ofertas, tendo junto, um animal semelhante a um búfalo.

Estas construções apareciam com muita frequência no interior da Índia e na


Ilha de Ceilão, nos mesmos sítios onde se colocavam os nossos cruzeiros e alminhas.
Na interpretação destes pagodes por Boogaart é que seriam feitas oferendas e
sacrifícios aos ídolos nelas representadas e que eram muito adorados pelos povos das
regiões.

Segundo vários autores entre os quais Moisés Espírito Santo, estas construções
nestes lugares são comuns a todos os povos, representando uma proteção aos
povoados e cidades, encontrando-se estrategicamente localizados, isto é, eram zonas
em que era necessária uma proteção divina, independente da religião professada.

Os cruzeiros e alminhas aparecem em Angra, possivelmente no início do


povoamento, sendo independentes dos lugares de culto, igrejas e ermidas, apesar de
também existirem nos adros das mesmas. Mas, o que é um fato, na carta de 1595
estão estrategicamente colocados em toda a cidade, executando uma malha de
proteção que a envolve completamente. Com um simples exercício comprovamos
facilmente o que afirmo: basta ligar com uma reta todos os ponto onde estão os
cruzeiros, e o resultado é uma rede sobre toda a cidade.
323

Hoje, existe um único vestígio destes cruzeiros, localizado junto à cornija do


prédio do gaveto da rua e Largo do Cruzeiro. Persistindo, contudo na toponímia com
dois nomes indicadores, que são a rua da Cruz em S. Pedro e o Largo do Cruzeiro junto
ao Convento e Igreja de S. Francisco.

Vamos em seguida numerá-los e localizá-los na carta e descrever as zonas que


protegem na Cidade.

1 – LARGO DO FANAL.

Protegia toda a zona do Fanal que era muito importante do ponto de vista
militar, e a parte sul/poente do bairro de S. Pedro, que fica entre o Alto das Covas e os
portões de S. Pedro. Este cruzeiro deu o nome à rua que ficava junto a ele, que ainda
hoje perdura e se designa por “Rua da Cruz”.

2 – RUA DE S.PEDRO.

Estava situado na entrada da Ermida de Santa Catarina, na rua de Cima de S.


Pedro, efetuando a proteção à zona norte/poente do bairro com o mesmo nome.
Como estava junto aos portões de S. Pedro protegia a entrada da cidade.
324

3 – RUA DA ROCHA.

Estava colocado junto ao adro da ermida de Nossa Senhora das Neves do


Colégio dos Jesuítas, à beira da rocha alcantilada da baía. Fazia a proteção a toda a
zona sul da cidade desde S. Pedro até ao Corpo Santo.

4 – ALTO DAS COVAS.

Estava situado no Alto das Covas, numa espécie de adro ou pelo menos numa
zona elevada relativamente à rua. Protegia o centro da cidade, desde os bairros de S.
Pedro, Santa Luzia, até à rua de S. João.

5 – PRAÇA VELHA.

Ficava colocado no centro geográfico da cidade, na Praça. Pela imagem da


carta, deveria ser cruzeiro e pelourinho, pois trata-se do maior de toda a cidade,
devido também à decoração que ostenta. Efetuava a proteção desde Santa Luzia a
norte, desde a rua de S. João a poente, a baía a sul, e a rua do Galo a nascente. Como
deveria ser uma construção com uma certa dimensão, poderia haver vestígios da sua
325

demolição, em algum organismo público ou jardim de alguma residência privada.


Todas as buscas efetuadas não obtiveram resultados positivos.

6 – LARGO DO CRUZEIRO.

Estava colocado no largo do Cruzeiro, junto ao Convento e Igreja de S.


Francisco. Ainda hoje perdura a sua memória, como foi atrás descrito. Protegia a
nascente a rua da Guarita, a poente até à Praça, a norte até ao bairro do Outeiro e
Ermida do Desterro, a sul até à igreja da Nossa Senhora da Conceição.

7 – LARGO DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS.


326

Situava-se no adro da Ermida de Nossa Senhora dos Remédios, a sul da mesma,


e tinha uma orientação diferente da atual. Fazia a proteção à zona onde moravam os
homens, cujas várias atividades estavam ligadas ao mar.

8 – RUA DA GUARITA À ENTRADA DO ACESSO À ERMIDA DA SENHORA DA


GRAÇA.

Ficava situado do lado direito do caminho de acesso à Ermida de Nossa Senhora


da Graça. Efetuava a proteção da zona nascente da cidade, incluindo os acesso pelos
portões de S. Bento, confrontando a poente e a sul com os cruzeiros do Largo do
Cruzeiro e da ermida dos Remédios.

9 – CONVENTO DE S. GONÇALO.

Estava colocado no adro do Convento e Igreja de S. Gonçalo, à esquina das ruas


da Rosa e Gonçalo Velho. Protegia desde o bairro de S. Pedro a Poente, até ao Alto das
327

Covas a norte, e a rua da Rocha a sul. Há relativamente pouco tempo, efetuaram-se


obras neste local, mas não foram encontrados vestígios deste cruzeiro.

10 – IGREJA DE SANTA LUZIA.

Estava colocado na esquina nascente do encontro das ruas de Cima de Santa


Luzia e de Santa Luzia, na rampa de acesso onde estava situada a Igreja antes da sua
demolição. Possivelmente posterior à demolição deste cruzeiro, foram construídas
caixas (arquinhas) de distribuição de água potável nesta zona da cidade, de que ainda
existem vestígios.

Uma das interpretações possíveis destes cruzeiros é que poderiam representar


as Estações da Via Sacra, naquele tempo catorze e atualmente quinze, que serviriam
para as procissões da Quaresma. Mas a distância entre eles é de tal modo, que seria
difícil na prática os fiéis percorrerem estas distâncias. Para esse efeito
328

ainda nos faltam quatro estações, que, (ou não foram construídas que seria o mais
lógico), ou não estão representadas na carta. Mas é minha opinião de que seriam
cruzeiros de proteção à cidade e não estações da Via Sacra. Até porque o lógico seria,
que cada uma das quatro paróquias, na divisão religiosa que compunham a cidade,
fizessem as suas procissões na Quaresma, como ainda se faz atualmente.
329

LOCALIZAÇÃO DOS CRUZEIROS E ALMINHAS

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE


330

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


331

1 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NO LARGO DO FANAL

1 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NO LARGO DO FANAL


332

2 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NA RUA DE S. PEDRO

3 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NA RUA DA ROCHA


333

3 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NA RUA DA ROCHA

4 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NO ALTO DAS COVAS


334

5 – LOCAL ONDESE SITUAVA NA PRAÇA VELHA

6 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NO LARGO DO CRUZEIRO


335

6 – MEMÓRIA ONDE SE SITUAVA NO LARGO DO CRUZEIRO

7 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NO ADRO DA ERMIDA DE Nª SENHORA DOS REMÉDIO


336

8 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NA ERMIDA DE Nª SENHORA DA GRAÇA

9 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NO CONVENTO DE S. GONÇALO


337

10 – LOCAL ONDE SE SITUAVA NA IGREJA DE SANTA LUZIA


338

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

Civil and Corrupt Asia.

Image and Text in the “Itinerário” and the “Icones” of Jan Hyugen van
Linschoten”.

Ernst Van Den Boogaart.

The University of Chicago Press.

Chicago and London.

A Religião Popular Portuguesa.

Moisés Espírito Santo.

Prefácio de Emile Poulart.

Estudos 2 – A Regra do Jogo, Edições.

Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Hyugen Van Linshoten para as Índias


Orientais ou Portuguesas.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portuguesas.

Lisboa 2007.

Edição Preparada por Aries Pos e Rui Manuel Loureiro.

Verbo Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura.

Volumes nºs 1 e 6.
339

XIII – EDIFÍCIOS E CONSTRUÇÕES IMPORTANTES.

De acordo com o título, executei a numeração de todos os edifícios e


construções que se destacam na carta de 1595, de modo a serem referenciados.
Efetuei também o seu estudo de uma maneira breve e sucinta, mas de modo a que se
saiba qual era a sua função e o que eles representavam para Angra nos finais do século
XVI.

Alguns destes edifícios e construções tinham uma certa dimensão e


imponência, como, por exemplo, o Palácio do Capitão Donatário, a Alfândega, a
Câmara, etc. Eram já nesta altura do povoamento, marcos importantes na cidade que
merecem que me debruçe sobre eles, pois são partes importantes da carta.

1 – AS CRUZES.

Pela imagem da carta, eram três as Cruzes que constituíam o Calvário, situadas
no cimo de um dos quatro montes que constituem o Monte Brasil, no que fica mais a
norte, sobranceiro à cidade e que, por esse motivo, ainda se designa atualmente por
“Pico das Cruzinhas”, apesar de hoje estar no local implantado um monumento
comemorativo.

Possivelmente seria um projeto para a construção dos Passos da Via Sacra, tal
como existem noutras cidades, nomeadamente em Braga e Congonhas do Campo no
Brasil.
340

Com a união das duas coroas e com a construção do Castelo de São João
Baptista este projeto teria desaparecido.

A partir de 1932, as Cruzes foram demolidas, de modo a construir-se o padrão


comemorativo do povoamento Ilha Terceira, que ainda hoje perdura.

2 – OS FACHOS

Ficam situados no cimo de um dos montes do Monte Brasil, no que fica a


nascente, sobranceiro à baía de Angra, que se passou a designar por “Pico do Facho”.

Na carta está desenhada uma espécie de forte ou pequeno castelo, com duas
torres mais altas. No entanto, no Itinerário, Linschoten quando se refere aos fachos,
diz que são dois pequenos pilares de pedra com mastros de várias velas, com um
guarda de vigia permanente. Esse guarda, quando avistava algum navio do poente ou
do sul/nascente, que eram as zonas de onde normalmente vinham as embarcações,
içava uma vela no mastro que ficava do lado de onde vinha o barco. Se avistasse uma
frota com mais de cinco barcos, içava um grande estandarte. Assim com várias
combinações de velas e estandartes, avisava a cidade e as autoridades de quem se
aproximava, para tomarem as devidas precauções, se fosse caso disso.

Este sistema estava implantado em redor da ilha, de forma a ser


imediatamente detetada qualquer embarcação que se aproximasse e quais as suas
intenções.

Os fachos ainda funcionavam no Monte Brasil no início do século XX, porque


persiste na memória das gentes a sua utilização, e os seus vestígios ainda perduram.
Julgo que eram usados essencialmente para os barcos de cabotagem inter-ilhas.
341

3 – ALFÂNDEGA.

Ficava situada à entrada da cidade no local que se passou a designar por “Pátio
da Alfândega” junto ao cais. A sua construção era em pedra lavrada da região, que lhe
deveria conferir uma certa imponência.

Este edifício é possivelmente quase do início do povoamento e destinava-se a


controlar as pessoas e os direitos aduaneiros sobre as mercadorias, sistema que
vigorou até à década de sessenta do século XX, altura em que foi extinta. Linschoten
menciona a burocracia que existia no seu funcionamento, e descreve de um modo
exaustivo a corrupção dos seus funcionários.

O seu funcionamento trazia grandes rendimentos à coroa, em virtude do


elevado número de entradas e saídas de navios que se dedicavam ao comércio
nacional e estrangeiro. O largo que lhe ficava em frente era zona de passeio para os
comerciantes, homens de negócios, mestres, pilotos e embarcações, hábito que
perdurou até à década de sessenta do século XX. Segundo Alfredo da Silva Sampaio,
este Largo, designado por Pátio da Alfândega, foi mandado construir em 1566 pelo
Cardeal Rei D. Henrique.

A alfândega estava provida de Tribunais próprios para julgamento de casos do


seu foro, grandes zonas de armazéns para descarga e acondicionamento das
mercadorias dos navios das frotas e armadas que demandavam o porto de Angra.

Segundo o mesmo autor inicialmente seria a “Real Casaria da Alfândega”, onde


se encontravam também a “Feitoria e Almoxarifado Real”, e a antiga Provedoria ou
Tribunal da Fazenda. Tinha um Provedor residente que superintendia a fazenda real
não só para esta ilha, como para as restantes ilhas dos Açores.

4 – EDIFÍCIO QUE HOJE É DESIGNADO POR “MADRE DE DEUS”.


342

Construção onde atualmente está localizado o palacete que se designa por


“Madre de Deus” na rua do mesmo nome, junto ao Alto das Covas.

Segundo nos diz Drumond no seu volume II dos Anais da Ilha Terceira, em 1641
aquando das lutas para a conquista do castelo de S. João Baptista à guarnição
espanhola, que se encontrava lá entrincheirada, esta casa e quintas à volta pertenciam
ao capitão Vital de Bettencor, era irmão do Capitão-Mor de Angra.

Pelas dimensões deveria ser casa de Morgadio. Este capitão seria antepassado
da família Vital de Bettencourt e Vasconcelos, um dos últimos proprietários deste
prédio. Atualmente pertence ao Estado e lá está instalado o “Ministro da República”
para os Açores.

5 – CASA DE SANTA LUZIA.

Casa situada onde está instalado o posto de meteorologia, na rua Padre Manuel
Joaquim Máximo.

Esta casa deu origem ao palacete que pertenceu ao 1º Conde da Praia e 1º


Visconde de Bruges, Teotónio de Ornelas Paim da Câmara. Este palacete foi demolido
na década de trinta do século passado.
343

6 – CASA DO CAPITÃO DONATÁRIO.

Palácio situado na atual rua do Marquês, onde a rua inflete à esquerda para
quem sobe na sua face nascente.

Data do início do povoamento da Ilha Terceira e de Angra. A sua construção foi


iniciada pelo fidalgo e navegador Álvaro Martins Homem, considerado fundador de
Angra com Afonso Gonçalves Antona Baldaia. Em 1474 com a divisão da ilha em duas
capitanias, Álvaro Martins Homem fica com a da Praia e a de Angra fica para o fidalgo,
rico homem, e navegador João Vaz Corte Real que a adquire àquele. João Vaz Corte
Real vai instalar-se nestes paços, passando a designar-se pelo solar dos Cortes Reais.

Mais tarde a herdeira desta casa e da capitania de Angra Dª Margarida Corte-


Real, vai casar-se com D. Cristóvão de Moura e Távora Marquês de Castelo Rodrigo
ficando a pertencer a esta nova família.

Trata-se de uma das construções mais antigas de Angra. Pela imagem da carta
poderemos fazer uma ideia da sua dimensão e grandeza, estando na atualidade
totalmente transformada.

Este palácio deveria ser de grandes dimensões e, à época o maior da cidade. No


entanto, na atualidade, está reduzido a uma simples morada de reduzidas dimensões,
como podemos verificar pelas fotos em anexo. Durante algum tempo, levantou-se a
hipótese de ter acontecido a este palácio o que aconteceu a outros do Marquês, que,
após a Restauração de 1640, foram demolidos e salgados os terrenos onde estavam
implantados.
344

Nos Anais da Ilha Terceira de Ferreira Drumond, volume II, pode encontrar-se
informações sobre o destino dos rendimentos pertencentes a D. Cristóvão de Moura e
Távora, na Terceira, S. Jorge, Pico e Faial, concedidos ao Conde de Vimioso, D. Luís de
Portugal, por alvará de 8 de agosto de1651.

Além disso, foi concedido ao mesmo conde a jurisdição de nomear ouvidor nas
ilhas, como antes era privilégio do Marquês. Quem ficou a administrar na Terceira
estes bens foi Tomé Correia da Costa, Lugar-Tenente de Sua Majestade nestas ilhas,
mas como se encontrava ausente, ficou em seu lugar seu filho Tomé Correia de
Lorvela.

Quanto ao palácio do Capitão Donatário, também conhecido pelo palácio do


Marquês, segundo Pedro de Merelim no seu livro “Memória Histórica da Edificação
dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo” passou para Fazenda Pública, sendo,
depois mais tarde, arrematado possivelmente em hasta pública por um particular. A
partir de estar na posse da fazenda pública, deve ter começado a sua degradação,
como é usual nestes casos, e deve ter sido irreversível. Já no século XX, mais
concretamente em 1963, a Câmara de Angra manifestou intenção de o adquirir, mas
não passou disso.

7 – CASA DO GOVERNADOR.

Casa situada na rua do Marquês, junto ao jardim Público.

Pela imagem da carta, verificamos que eram um conjunto de quatro casas, que
foram alteradas ao longo dos tempos. Deviam começar junto ao jardim público de
Angra, e compreendiam os edifícios onde está a mini hídrica, e onde está o “Clube
Musical Angrense, encostando à casa que está em ruínas denominada dos
“Pamplonas”, porque esta foi construída no logradouro do palácio do Donatário, após
ter sido confiscado na década de quarenta do século XVII.
345

Eram a residência do Governador da Ilha Terceira.

Deveria ter sido construída nos inícios do povoamento, ao cimo da rua direita
em ligação com o cais.

8 – PAÇOS DO SENADO DA CÂMARA.

Os Paços do Senado da Câmara ficavam situados na Praça que era, por


excelência, o centro da cidade.

Como se pode ver pela imagem da carta, tratava-se de um edifício de grande


porte, com a entrada por escadaria a poente, adoçada ao edifício uma torre em
cantaria da região com relógio e sineira que regulava a vida da cidade. A coroar a torre
um catavento para embelezar e indicar a direção do vento.

Era a sede do governo político, onde se reuniam os nobres da cidade. No rés-


do-chão estavam instaladas a casa do carcereiro e o local onde estavam os presos de
menos culpa, assim como os nobres que cumpriam penas.

9 – TRIBUNAL DE JUSTIÇA E AUDIÊNCIA GERAL.

Edifício de médio porte, localizado na praça junto aos paços do senado,


denominado na carta como “A cadeia”.
346

Esta casa de rés-do-chão e andar com quintal, destinava-se a todos os serviços


ligados ao Tribunal de Justiça e Audiência Geral localizados no 1º andar. No rés-do-
chão, estavam a cadeia e as enxovias, fazendo-se a distinção entre as duas porque as
segundas seriam mais insalubres do que as primeiras.

10 – CASA SITUADA NA RUA DO PALÁCIO.

Casa situada na rua do Palácio, no sentido quem sobe à esquerda.

Esta casa será ou o palacete atual dos Baldaias, ou onde está instalado o
Seminário de Angra, que, anteriormente, era a casa pertencente ao Barão do Ramalho,
que foi demolida para dar lugar à nova construção. Deveria ser casa de Morgadio, pela
sua localização em frente à Ermida da Natividade. A minha opinião é que a segunda
hipótese é a mais lógica.
347

11 – CASA SITUADA NA RUA DA ESPERANÇA.

Casa da rua da Esperança, onde atualmente está situado o Teatro Angrense.

Pela imagem da carta, trata-se de uma casa de rés-do-chão e andar com boa
dimensão, pois distingue-se perfeitamente das que lhe estão junto, anexa ao mosteiro
da Esperança, mas individualizada deste.

Augusto Gomes e Pedro de Merelim, cada um no seu livro, escrevem uma


história ou tradição semelhante sobre esta casa, um acontecimento importante que
aqui se deu, só diferem nas datas. A minha opinião, é que a data indicada por Pedro de
Merelim 1599, é mais credível.

A casa que estamos a descrever, deveria pertencer a um rico comerciante, com


armazém no rés-do-chão destinado a mercadorias que transacionava com a Índia, e
residência no primeiro andar, como era usual nesta época. No ano de 1599, existia
uma quantidade de tecidos que tinham vindo, segundo parece, da Índia, que estavam
contaminados com a bactéria da peste (transmitida ao homem pela pulga através do
rato), que se espalhou pela ilha, provocando milhares de mortos. A solução adotada
para resolver o problema foi incendiar a casa, que ficou destruída. As suas ruínas,
segundo os relatos, ficaram cerca de duzentos e cinquenta anos, sem qualquer
tentativa de reconstrução, pois consideravam o local amaldiçoado. Até que em 1850 a
Câmara de Angra teve a iniciativa de construir um teatro na cidade. O terreno
disponível seria este local, onde havia uns barracos que pertenciam a António Tomé da
Fonseca.

Finalmente, juntaram-se alguns angrenses ilustres, que deram início à


construção do teatro em 1855, sendo inaugurado em 1860. É o edifício que existe
atualmente com algumas remodelações.
348

12 – CASA NA RUA DR. FRANCISCO JERÓNIMO SILVA (CARREIRINHA).

Casa localizada fora da cidade na rua que vulgarmente é conhecida por


Carreirinha.

Pala localização da casa, fora dos portões de S. Bento e inserida em férteis


terrenos agrícolas, deveria ser residência e casa de lavoura de Morgado. A única
referência que encontrei que poderá ajustar-se a esta construção, será a indicada pelo
Padre António Cordeiro na sua História Insulana que nos diz serem os Monizes.
Efetivamente trata-se de uma família importante, do tempo do povoamento, que
possuía vastos terrenos de lavoura. Poderá ser uma hipótese credível.

13 – HOSPITAL DA MISERICÓRDIA.

O edifício onde estava instalado este hospital, estava localizado no pátio da


Alfândega onde se inicia a rua de Santo Espírito.
349

Pela imagem da carta deveria tratar-se de algumas casas e não uma só, onde hoje está
instalada a Guarda Nacional Republicana. Sabemos a data da sua fundação (quinze
março de 1492) sob a evocação do Espírito Santo.

Anexo, às casas do hospital há uma ermida ligada à Igreja da Misericórdia. À


data da carta este hospital e capela já estavam ligados à Santa Casa da Misericórdia,
cuja fundação data de 12 de abril de 1556, de acordo com a documentação arquivada
nesta Instituição.

O hospital foi essencialmente criado para dar apoio às frotas e armadas das
descobertas, e da carreira das Índias, pois normalmente traziam tripulação e
passageiros atacados com várias doenças, devido aos longos meses de permanência no
mar. Entre as várias doenças destacamos o escorbuto, provocado pela falta de
comestíveis com vitamina “C”, como os vegetais frescos e citrinos. Além desta função,
o hospital dava acolhimento aos muitos doentes e pobres da ilha.

No seu Itinerário, Linschoten descreve, com algum pormenor, as doenças


contraídas nas viagens, o seu tratamento e os padecimentos que sofriam as pessoas
quando, por qualquer motivo, eram mais prolongadas.

Como o Dr. Álvaro Monjardino lhe chamou, com muita propriedade, seria o
“Hospital das Descobertas”

14 – FORCA DO MONTE BRASIL.

Ficava situada onde está hoje a Ermida de Santo António na encosta nascente
do Monte Brasil, sobranceira à baía de Angra.
350

(Com a imagem da carta e de acordo com o que diz Ferreira Drumond no seu
volume I dos Anais da Ilha Terceira). Após a saída do Marquês de Santa Cruz e já como
Governador em funções João d’ Horbina, foram sentenciados à morte por
enforcamento, vários cidadãos de Angra na “antiga forca do Monte Brasil”.

Este episódio passa-se cerca de 5 anos antes de Linschoten chegar à Terceira e


ainda estava na memória das gentes este ato sanguinário, que envolveu pessoas
importantes de Angra. Sendo assim, ele não poderia deixar de retratar na carta esta
imagem da forca.

Como era normal, os enforcamentos eram um ato público e, como tal, eram
assistidos pela população. A localização da forca neste sítio permitia aos habitantes da
cidade a sua visibilidade, como também para servir de exemplo aos habitantes da
mesma.

Trata-se de um recinto fechado, tendo no seu interior dois prumos e um


travessão, suspendiam os indivíduos que eram justiçados.

Posteriormente, este local foi em data que não consegui localizar, recuperado e
sagrado para o culto religioso como era norma de então, sendo construída uma ermida
de evocação de Santo António.

15 – MATADOURO DA CIDADE.

O matadouro da cidade estava situado na rua Baixinha, nas traseiras onde está
instalada a Guarda Nacional Republicana.
351

A imagem que vemos na carta corresponde à descrição que temos da


localização do matadouro, do Pedro de Merelim e do Padre António Cordeiro, feita,
respetivamente, nos seus livros “Memória Histórica da Edificação dos Paços do
Concelho de Angra do Heroísmo” e “História Insulana”.

Os acessos não estão bem explicitados, mas deveriam ser amplos para
passagem do gado que ia ser abatido. Julgo que deveriam ser pelas ruas Santo Espírito
e Faleiro, pela margem esquerda da ribeira, pois, nessa zona não existiam construções.

A construção do matadouro era sobre a ribeira, já que o seu caudal de água


levava o que não era possível aproveitar para o mar, deixando a zona sempre com
muita limpeza, como diz o Padre António Cordeiro.

A partir do matadouro eram abastecidos os açougues da cidade e, como estava


junto ao cais e porto das Pipas, deveria fornecer de carne diretamente às embarcações
que demandavam o porto.

Após este estudo das construções que se destacam na carta de Angra de 1595,
verificamos que algumas delas foram a base de futuros palacetes de dimensões
apreciáveis. Outras construções com relevância no século XVI, desapareceram ao
longo dos tempos. Mas a fisionomia da cidade mantem-se, o que é de realçar
considerando-se o grande atrativo que tem esta cidade
352

LOCALIZAÇÃO DOS EDIFICIOS E CONSTRUÇÕES IMPORTANTES

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE


353

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


354

1 – LOCAL ONDE FICAVAM SITUADAS AS CRUZES

1 – LOCAL ONDE FICAVAM SITUADAS AS CRUZES


355

2 - LOCAL ONDE FICAVAM SITUADOS OS FACHOS

2 – LOCAL ONDE FICAVAM SITUADOS OS FACHOS


356

3 – ALFÂNDEGA

3 - ALFÂNDEGA
357

4 – EDIFICIO DA MADRE DE DEUS

4 – EDIFICIO DA MADRE DE DEUS


358

5 – CASA DE SANTA LUZIA

5 – TERRENOS ONDE SE SITUAVAM A CASA DE SANTA LUZIA


359

6 – CASA DO CAPITÃO DONATÁRIO (TRAZEIRAS)

6 – CASA DO CAPITÃO DONATÁRIO (FRENTE)


360

7 – CASA DO GOVERNADOR (TRAZEIRAS)

7 – CASA DO GOVERNADOR (FRENTE)


361

8 – LOCAL ONDE FICAVAM SITUADOS OS PAÇOS DA CÂMARA

9 – LOCAL ONDE FICAVAM SITUADOS OTRIBUNAL DE JUSTIÇA E AUDIÊNCIA GERAL


362

10 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A CASA NA RUA DO PALÁCIO

11 – LOCAL ONDE FICAVA SITUADA A CASA DA RUA DA ESPERANÇA


363

12 – LOCAL ONDE SE SITUAVA A CASA DA CARREIRINHA

13 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O HOSPITAL DA MISERICÓRDIA


364

14 – LOCAL ONDE SE SITUAVA A FORCA DO MONTE BRASIL

14 - LOCAL ONDE SE SITUAVA A FORCA DO MONTE BRASIL


365

15 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O MATADOURO PUBLICO (POR CIMA DA RIBEIRA)

15 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O MATADOURO PUBLICO (POR CIMA DA RIBEIRA)


366

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

Itinerário Viagem ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas.

Edição Preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

O Hospital dos Descobrimentos.

www.cruzado.com.pt

Memória da Ilha Terceira

Alfredo da Silva Sampaio (1904)

O Teatro Angrense – Elementos para a sua história.

Augusto Gomes.

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. (1993)

Anais da Ilha Terceira – volumes I e II.

Francisco Ferreira Drumond.

Reimpressão Fac-Similada da edição de 1850.

Governo Regional dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura (1981).


367

Memória Histórica da Edificação dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo.

Pedro de Merelim

Edição da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (1984)

História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Padre António Cordeiro da Companhia de Jesus.

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura (1981)


368

XIV – ABASTECIMENTO PUBLICO DE ÁGUA; CHAFARIZES E BICAS.

Os chafarizes e as bicas estão perfeita e inequivocamente assinalados na carta


de Angra de 1595, e não tenho dúvidas, de que era efetivamente o abastecimento
público de água á cidade. Segundo relatos que nos chegaram, conventos, igrejas, casas
senhoriais e de morgados, também tinham abastecimento de água, mas com
abastecimento próprio de que eram os proprietários da tubagem e da água.

Esta água vinha essencialmente da ribeira do lugar da nasce água, que tinha
sido encanada por Álvaro Martins Homem, que fez a sua distribuição pública e privada.
A posse desta água era feita por escritura pública notarial. Estava em “arca” fechada
na nascente e era conduzida por canos de barro de fabrico local até á cidade, onde
depois era distribuída através de pequenas arcas denominadas “arquinhas” para cada
um dos proprietários. Estes canos eram de fabrico artesanal, feitos de um barro muito
poroso, com ligações entre eles muito imperfeitas, que deixavam entrar e sair a água e
outros materiais, ainda podemos ver destes canos no aqueduto na zona de Santa Luzia
perto do terreiro de S. João de Deus. Não tenho fontes bibliográficas onde me apoiar,
mas pela observação no terreno e com plantas topográficas, chego á conclusão de que
também viria água do manancial da “fonte da telha”, que abasteceria as zonas norte e
poente da cidade, possivelmente os chafarizes do alto das covas e rua dos canos
verdes na rocha, pois só assim seria possível do ponto de vista de engenharia
hidráulica. Como é fácil de compreender, havia uma perda de água muito grande no
seu transporte através destes canos.

O manancial de água da fonte da telha, à semelhança do que se passa com o da


ribeira, é abastecido também pela bacia hidrográfica da Caldeira Guilherme Moniz,
ficando as duas nascentes sensivelmente à mesma cota da Serra do Morião. A primeira
na encosta poente, a segunda na encosta sul da serra.

Estes pontos de abastecimento de água (chafarizes), foram estrategicamente


escolhidos, pois permitem que as populações não tenham que deslocar-se mais de
500,0 metros para efetuar a sua recolha. O caso mais distante seria a população da
zona de S. bento, que teria de vir junto à ermida de S. Sebastião.

Gaspar Frutuoso, fala no “Livro Sexto das Saudades da Terra” noutra ribeira, a
do “Telhal”, que nas suas palavras, corre na parte nascente da cidade perto da
freguesia da Conceição. Poderá ser o troço da ribeira já encanada, ou a zona atual da
369

canada do Barreiro. Na minha opinião deve ter havido confusão da sua parte. Há uma
ribeira que passa nos portões de S. Bento, mas não é de água permanente. Diz ainda o
mesmo autor, que a “ribeira” abastece todos os mosteiros e as casas principais da
cidade, totalizando doze chafarizes, não dizendo se são públicos ou privados. Pela
descrição devem ser dos dois tipos, porque este autor é contemporâneo à data da
carta, mas segundo julgo, este nunca esteve na Ilha Terceira.

Na minha opinião faltam três pontos que deveriam ter chafarizes, ou ainda não
tinham sido criados na data de execução da carta mas logo em seguida foram
efetuados, ou houve falta em coloca-los na carta, que são nos portões de S. Pedro e de
S. Bento e no lugar do Chafariz Velho na freguesia de Santa Luzia.

Vou em seguida numerar os chafarizes e bicas, efetuar uma descrição de cada


um e localizá-los na carta de Angra de 1595.

1 – AS BICAS DO CAÍS DA ALFÂNDEGA.

Localizadas junto ao caís principal da cidade, onde se efetuavam as cargas e


descargas de mercadorias, passageiros e tripulações.

Destinava-se ao fornecimento de água aos barcos que demandavam o porto,


sendo o local público mais próximo para esse efeito.

Segundo o Dr. Álvaro Monjardino, a água das bicas como é designada na carta,
provinha de uma fonte própria e não da ribeira, apesar de esta passar muito próxima.
370

Durante as obras que foram executadas no pátio da Alfândega no último quartel do


século XX, apareceu novamente este manancial de água. Nessa altura optou-se por
tamponar esta fonte, tendo a água procurado outros caminhos para escoar.

Ao longo de toda a costa da Ilha, temos estas fontes de água potável junto ao
mar, em que a maior parte das vezes só aparecem na baixa-mar. Em épocas de seca
eram utilizadas pelas populações para a lavagem de roupa.

2 – CHAFARIZ DA RUA DOS CANOS VERDES.

Localizado no largo onde se reúnem as ruas dos Canos Verdes, Rocha e


Conselheiro José Silvestre Ribeiro.

É o único chafariz que existe atualmente dos primitivos á data da carta. Na


minha modesta opinião, deveria no mínimo, ser preservado e considerado imóvel de
interesse municipal e até regional.

Era conhecido como o chafariz da Companhia de Jesus, pela sua proximidade


com o primitivo Colégio dos Jesuítas.

Fornecia água à população da zona centro/sul da cidade.

3 – CHAFARIZ DO ALTO DAS COVAS.

Localizado no Alto das Covas.


371

Fornecia a água à população das zonas centro/norte e poente da cidade. Era


pela sua dimensão e importância muito conhecido na cidade, que perdurou até aos
dias de hoje.

Já nos nossos dias foi deslocado para perto do local de onde estava, à entrada
da rua de S. Pedro, à esquerda no sentido nascente/poente. Ainda continua a
funcionar mas com um caudal muito reduzido relativamente ao que tinha antes, e com
água não potável.

4 – CHAFARIZ DAS RUAS DIREITA E MARQUÊS.

Este chafariz ficava localizado, onde hoje é a entrada do Jardim Público de


Angra.

Pela sua situação, deveria ser muito importante, pois abastecia o centro da
cidade. Era o único que não ficava adoçado a nenhum imóvel. Pela imagem da carta
deveria ser circular, com pelo menos quatro bicas a correrem de uma taça superior
para um tanque inferior, tendo a encimá-lo uma alegoria, talvez uma ave.
372

5 – CHAFARIZ JUNTO À IGREJA DE S. SEBASTIÃO.

Ficava localizado onde hoje é o largo Dr. Sousa Júnior na esquina das ruas do
Cruzeiro e Guarita.

Abastecia a zona nascente/sul da cidade até aos portões de S. Bento. Até há


bem pouco tempo existia neste local, ou seja nas traseiras do edifício onde estava
instalada a cadeia pública, um manancial de água muito importante e com grande
caudal.

Temos referências, que à data da execução da carta, estavam a iniciar-se as


obras para abastecer de água, a zona onde se iria começar os trabalhos de construção
do Castelo de S. João Batista e que mais tarde serviu para utilização da soldadesca
aquartelada no forte.

Seria construído um chafariz e um grande tanque anexo, que foi designado por
“Chafariz de El-Rei”, que neste caso seria Filipe II de Espanha, na zona poente/sul do
largo da Boa Nova, no início da subida para a porta dos carros do Castelo.

Este tanque anexo ao chafariz, tem a particularidade de na tradição local, ser


designado por “tanque do azeite”. Segundo se conta servia para armazenar o óleo
extraído de vários cetáceos e peixes, como a baleia, o cachalote, golfinho e o albafar.
Este óleo misturado com areia (cinzas vulcânicas) e cal, servia de argamassa para unir
os blocos de tufo vulcânico, que constituem as muralhas do castelo.
373

Como nota final não quero de deixar de referir a belíssima obra de engenharia
hidráulica, que foi o abastecimento de água á cidade. Com os materiais que dispunham
na época, conseguiram rapidamente instalar um sistema de canais e canos em que a
água corria por gravidade, chegando a todos os pontos que eram necessários. De
certeza para a sua execução foram necessários, engenheiros e mestres especializados
nesta área de engenharia.
374

LOCALIZAÇÃO DOS CHAFARIZES E BICAS

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE


375

ZONA CENTRAL DA CIDADE


376

1 – LOCAL ONDE SE SITUAVAM AS BICAS DO CAÍS DA ALFÂNDEGA.

2 – CHAFARIZ DA RUA DOS CANOS VERDES


377

3 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O CHAFARIZ DO ALTO DAS COVAS

4 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O CHAFARIZ DAS RUAS DIREITA E MARQUÊS


378

5 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O CHAFARIZ JUNTO À IGREJA DE S. SEBASTIÃO.

ARQUINHAS PARA A DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL À CIDADE


379

CHAFARIZ VULGARMENTE CONHECIDO COMO DO TANQUE DO AZEITE

TANQUE VULGARMENTE CONHECIDO COMO DO AZEITE


380

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus.

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro-Dias.

Edição Comemorativa dos 450 anos da Cidade de Angra.

Angra do Heroísmo – 1985.

Livro Sexto das Saudades da Terra.

Doutor Gaspar Frutuoso.

Segunda edição da iniciativa do Instituto Cultural de Ponta Delgada.

Ponta Delgada 1978.


381

XV – DEFESAS DA CIDADE

Pelo desenho da carta, verifica-se que houve a preocupação de evidenciar as


defesas da cidade, quer no que respeita à baía do Fanal, quer à baía de Angra.

Estas defesas eram muitíssimo importantes, pois os Açores eram


permanentemente assediados por piratas e corsários, inicialmente por argelinos e
outros povos do norte de África, posteriormente, isto é, nos séculos XVI e XVII, por
ingleses, franceses e holandeses. Não era só a cidade que tinha de ser protegida, mas
também toda a ilha, fato que foi evidenciado por Linschoten no seu Itinerário, quando
refere que era vedado aos estrangeiros saírem da cidade, para não tomarem
conhecimento dos seus fortes de defesa. Os seus bons conhecimentos com o
Governador, permitiram a Linschoten dar duas voltas ao redor da ilha durante a sua
estada na Ilha Terceira. Este fato é importante para as minhas conclusões.

Todas as ilhas dos Açores foram saqueadas, com episódios muitas vezes
lamentáveis, exceto a ilha Terceira, devido às suas defesas. Se assim não fosse, o
Duque de Alba, D. Fernando Alvarez de Toledo, com a armada espanhola teria, à
primeira tentativa tomado de assalto a ilha. A sua derrota deve-se a essas defesas, à
sua guarnição permanente e à sua população, que pagou bem cara esta sua ousadia.

Particularmente Angra estava extraordinariamente bem protegida, como


iremos em seguida verificar com a localização e descrição das suas defesas,
perfeitamente desenhadas na carta.

1 – FORTE DO FANAL.

Localizado na costa na reentrância da baía do Fanal que o mar e os agentes


atmosféricos criaram, devido à sua predominância do oeste.
382

A sua função era defender qualquer desembarque na sua praia, e indicar à


navegação a posição da cidade de Angra. Neste local existia um farol permanente, de
modo a indicar a sua situação às embarcações que vinham do oeste, razão pela qual
esta baía se chamou Fanal.

Segundo Gaspar Frutuoso, estas defesas eram com muro e porta, estando
guarnecida de artilharia. Ainda se podem verificar vestígios do acesso à praia.

2 – FORTE DE SANTO ANTÓNIO.

A sua situação é no extremo sul do Monte Brasil, virado à baía, isto é, a


nascente.

Ficava frontal à fortaleza de S. Sebastião e, em conjunto com esta, barrava


completamente a entrada da baía a qualquer embarcação.

Pelas suas dimensões, tinha guarnição permanente. Guarnecida com peças de


artilharia de bronze de modo a terem maior alcance. Tinha também uma pequena
fonte de água potável que vinha da montanha.

Nas alturas de estacionamento de barcos no interior da baía, ou no


fundeadouro logo à saída da mesma, a sua guarnição estava em alerta permanente.

3 – FORTE OS TRÊS PAUS.

Está situado na encosta poente do Monte Brasil abaixo da ermida de Santo


António, a meia distância entre o Forte de Santo António e o Forte do Porto Novo,
junto ao mar, como é óbvio.
383

Não encontrei nenhumas referências a este Forte. No entanto ele está


desenhado na carta com o seu nome e ainda existe hoje no mesmo local. Este Forte
tem uma certa dimensão e está saliente da costa.

Deveria ser um Forte de segunda linha, se falhasse o de Santo António a


guarnição passaria para este e continuaria a defesa da baía.

4 – FORTE DO PORTO NOVO.

Ficava situado na reentrância esquerda relativamente para quem estava na


baía.

Estava sobranceiro a uma pequena praia com possibilidades de desembarque,


localizado no término da cidade a sul/poente da mesma, por debaixo da rua dos Canos
Verdes. O seu nome vem referenciado em bibliografia, nomeadamente no Livro Sexto
das Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso. Bloqueava uma fenda na rocha de tufo
vulcânico, possivelmente criada pela passagem das águas pluviais.
384

Pela imagem da carta, tinha uma porta que lha dava acesso pelo lado do mar e
várias frestas para efetuar a vigia da baía. Ao lado tinha uma construção,
possivelmente para abrigo da guarnição.

5 – MURALHAS DE DEFESA; DESDE A RUA,DE S. JOÃO, PASSANDO PELA


ALFÂNDEGA, FORTE DE S. CRISTÓVÃO (ZONA DAS BICAS) E TERMINANDO NA FOZ DA
RIBEIRA.

Estas muralhas ficavam localizadas entre o início da rua de S. João junto ao mar
e a foz da ribeira, sobranceiras ao cais da cidade.

Esta é a zona mais reentrante da baía de Angra, onde o acesso é mais fácil,
porque, antes e depois destas defesas, a rocha é em arriba muito alta. Tem dois
acessos: o primeiro a nascente pelo Cais, o segundo a poente pela Prainha.

A zona da Alfândega estava defendida com muralha, podendo levar artilharia,


se necessário. Segundo Alfredo da Silva Sampaio, estas muralhas foram construídas em
1566 por ordem do Cardeal Rei D. Henrique, sendo da mesma altura a execução do
pátio do denominado pátio da Alfândega. Segundo Pedro de Merelim, antes da
construção destas defesas, terá existido um pequeno Forte abaixo do matadouro da
cidade, com a designação de S. Cristóvão, que fazia a defesa do cais. Na zona indicada
na carta não sobressai qualquer construção que nos leve a concluir que existiu este
Forte.
385

6 – FORTE DO PORTO DAS PIPAS.

Ficava localizado junto ao varadouro do Porto das Pipas.

No sopé do Forte de S. Sebastião (castelinho) e em conjunto com este, foi


construída uma cortina defensiva, constituída por muralhas e casa da guarda que
protegem o acesso ao Porto das Pipas. Na base da muralha tem uma porta de acesso
para peões.

7 – CASTELO DE SÃO SEBASTIÃO (CASTELINHO).

Fica situado no extremo nascente da baía de Angra, sobranceiro ao Porto das


Pipas.
386

Foi construído numa pequena península a nascente da cidade, a uma cota


pouco acima do nível do mar este castelo, com os seus baluartes e cubelos. Após a
construção do castelo de S. João Batista, o povo começou a designá-lo por castelinho,
por oposição àquele devido à sua dimensão.

Em conjunto com os Fortes de Santo António e Três Paus, efetuava a defesa da


baia e da cidade de Angra. O fogo cruzado entre os três Fortes não permitia a entrada
a qualquer embarcação.

A sua construção iniciou-se em 1555, no reinado de D. Sebastião. Daí o seu


nome, tendo sido reparado por ordem de D. Pedro II.

À data da carta de 1595, já está completa a sua construção com o aspeto


exterior, mais ou menos o que tem atualmente. Sofreu algumas alterações nas
construções do seu interior, que estavam destinadas ao alojamento da guarnição lá
aquartelada. Estas alterações foram devidas aos sucessivos usos que teve este castelo
ao longo dos tempos. Nas traseiras deste castelo a imagem da carta mostra umas
construções ou movimentos de terras circulares que denotam que haveria fossos ou
primeiras defesas no terreno.

Segundo o Padre António Cordeiro, foi construído num outeiro sobranceiro a


uma baía designada por “águas”. Era uma fortaleza cercada de muralhas com casas
para o capitão, artilheiros e soldadesca. Possuía armazéns de munições de guerra e
uma cisterna que levava 500 pipas de água, tendo porta de entrada virada à cidade.

8 – CASTELO DE SÃO LUÍS, OU DOS MOÍNHOS.

Estava localizado no largo do castelo de S. Luís, na confluência das ruas, Pereira,


S. João de Deus e Beato João Batista Machado.
387

Foi construído a norte da cidade, num local elevado designado por “Outeiro”,
junto ao primeiro povoado que vai dar origem à futura urbe. Trata-se de uma fortaleza
inicialmente rudimentar, que, com o tempo, se vai transformar em castelo. Segundo
alguns historiadores, o fim da sua construção é de 1495 por Pedro Anes Rebelo
provedor das fortificações. Muito mais tarde, por não ter utilização, foi demolida para
dar origem ao monumento a D. Pedro IV, com a designação de “Memória”. O Padre
António Cordeiro diz que em meados do século XIX, já só havia as ruínas deste castelo.
Pedro de Merelim refere que a Rainha Dª Maria II, em 28 de Setembro de 1839, faz a
sua doação à Câmara de Angra para a construção de um passeio público, sendo
demolido, então, o que restava das muralhas.

Segundo o padre António Cordeiro, esta fortaleza inicialmente teria a


designação de São Cristóvão. Mas Pedro de Merelim, contrapõe, dizendo que a
fortaleza de São Cristóvão seria junto ao matadouro para defesa do cais e que este
castelo teria o nome de São Luís, em homenagem ao Rei dos Franceses. O capitão
Donatário Manuel Corte Real habitou nas instalações do castelo, tendo
posteriormente passado a residir na da rua do Marquês, porque herdou esta casa de
sua irmã Dª Iria, mulher de Pedro Góis, nobre fidalgo.

A designação de castelo dos Moinhos, deriva do fato de junto a ele se terem


construído vários moinhos, ou moendas após o encanamento da ribeira por Álvaro
Martins Homem. Estes moinhos perduraram até à década de 50 do século XX, altura
em que foram extintos aquando a inauguração das mini hídricas.

Pela imagem da carta, verificamos que efetivamente tinha no seu interior


construções apalaçadas. As muralhas tinham a forma trapezoidal e que um dos
vértices estava virado a sul, isto é à cidade.

9 – FORTE DOS PORTÕES DE S.PEDRO.

Estavam localizados no extremo poente da rua de S. Pedro.


388

Também designados por portões de Santa Catarina, pois ficavam junto da


ermida com o mesmo nome.

Pela imagem da carta de 1595, verifica-se que havia uma pequena muralha ou
Forte com um portão que protegia a entrada na cidade. Julgo que a sua principal
função seria cobrar as portagens, para os lavradores que vinham vender os seus
produtos agrícolas, a exemplo das outras cidades portuguesas. Além da muralha com o
portão, temos também uma construção, com certeza, destinada aos funcionários que
estavam de serviço.

10 – FORTE DOS PORTÕES DE SÃO BENTO.

Ficavam localizados no extremo nascente da rua da Guarita.

A designação é devida a ficar perto da Igreja de S. Bento.

Pela imagem da carta de 1595, verifica-se ser semelhante aos de S. Pedro,


assim como as suas funções.
389

Como acabámos de ver, a cidade de Angra desde o início do povoamento, os


seus Donatários e Governadores tiveram sempre uma grande preocupação com a sua
defesa, prova inequívoca de que sabiam a importância que este local iria ter no apoio
às descobertas e expansão ultramarina.

Era uma cidade praticamente inexpugnável. Por essa razão nunca foi assaltada,
nem relatos de tentativas encontramos, apesar de os corsários e piratas de todas as
nacionalidades pairarem ao largo, porque tinham prévio conhecimento de que isso era
impossível.

Temos vários relatos e descrições de ataques de piratas às frotas que vinham


de todas as partes do globo, que por aqui passaram carregadas de tesouros
inimagináveis. A frota que vinha da Índia onde estava Linschoten, e que este descreve
no seu Itinerário fora atacada ao largo das ilhas Flores e Corvo por corsários, ao longo
do seu trajeto até Angra sofreu várias escaramuças, conseguindo entrar na baía de
Angra a salvo, mas com grandes estragos nas embarcações.

Saturnino Monteiro e outros, descrevem, com pormenor, a expedição


organizada pelo Conde de Cumberland aos Açores de Junho a Novembro de 1589,
onde conseguem capturar várias embarcações, francesas, da liga hansa, portuguesas e
espanholas, assaltando várias povoações costeiras e a 10 de Setembro tomaram a
cidade da Horta, onde se conservaram durante dois dias. Esta expedição rendeu ao
Conde uma imensa fortuna, como é de calcular.
390

LOCALIZAÇÃO DAS DEFESAS DA CIDADE

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE


391

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


392

1 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DO FANAL

1 – VESTIGIOS DAS MURALHAS DO FORTE DO FANAL


393

1 – VESTIGIOS DAS MURALHAS DO FORTE DO FANAL

2 – FORTE DE SANTO ANTÓNIO


394

3 – FORTE OS TRÊS PAUS

4 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DO PORTO NOVO


395

4 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DO PORTO NOVO

5 – MURALHAS DE DEFESA; DESDE A RUA DE S.JOÃO, PASSANDO PELA ALFÂNDEGA,

FORTE DE S. CRISTÓVÃO (ZONA DAS BICAS), TERMINANDO NA FOZ DA RIBEIRA.


396

6 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DO PORTO DAS PIPAS

7 – CASTELO DE S. SEBASTIÃO (VISTA NASCENTE)


397

7 – CASTELO DE S. SEBASTIÃO (VISTA POENTE)

8 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O CASTELO DE SÃO LUÍS OU DOS MOÍNHOS


398

8 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O CASTELO DE S. LUÍS OU DOS MOÍNHOS

9 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DOS PORTÕES DE S. PEDRO


399

10 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DOS PORTÕES DE S. BENTO

10 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O FORTE DOS PORTÕES DE S. BENTO


400

REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS.

A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus.

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro – Dias.

Edição Comemorativa dos 450 anos da Cidade de angra.

Angra do Heroísmo – 1985.

1555 – A fortaleza de São Sebastião.

Álvaro Monjardino.

www.cruzado.com.pt.

Memória Histórica da Edificação dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo.

Pedro de Merelim.

Edição da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo – 1984.

Historia Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Padre António Cordeiro da Companhia de jesus.

Região Autónoma dos Açores

Secretaria Regional da Educação e Cultura – 1981.

Livro Sexto das Saudades da Terra.

Doutor Gaspar Frutuoso.

Instituto Cultural de Ponta Delgada.


401

Ponta Delgada – 1978.

Itinerário Viagem ou Navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

Lisboa 1997.

Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa.

Armando da Silva Saturnino Monteiro.

Livraria Sá da Costa Editora.


402

XVI – CAIS, ZONAS ACOSTÁVEIS E ESTALEIROS

Eram fundamentais para a cidade, estas zonas de embarque e desembarque de


passageiros e tripulações, assim como de mercadorias, pois sem elas a cidade não
poderia efetuar o seu comércio em franca expansão.

Houve realmente muito cuidado, desde o início, em construir estes cais e zonas
acostáveis, como nos dizem os relatos da época e nos indicam as imagens da carta de
1595.

Quanto aos estaleiros, a sua importância era, sem dúvida, essencial, porque se
tornava necessária, a reparação das embarcações que, após as longas travessias e
meses de mar, chegavam muito maltratadas e quase desmanteladas, devido às
tempestades e aos ataques dos piratas e corsários. Além disso, era necessário
construir novas embarcações, quer para o serviço entre ilhas, quer mesmo para
médias travessias, porque possivelmente não teriam capacidade, nem local adequado
para executarem embarcações de grande calado.

Estas reparações eram efetuadas, regra geral, na primavera e verão, altura da


passagem das frotas e das armadas, pois, no inverno eram difíceis de efetuar face ao
estado do mar dentro da baía, até porque, no inverno, o porto das Pipas, servia de
abrigo para o estacionamento de todas estas embarcações, visto ser o único lugar
defendido das intempéries.

1 – PORTO DO FANAL.

Localizado a oeste da cidade, na baía do Fanal.


403

Nos séculos XVI e seguintes, o porto e a praia do Fanal tinham uma certa
importância, porque quando o vento e o mar estavam do sul ou sudeste, constituíam a
zona abrigada da cidade, o que permitia às embarcações efetuarem os seus trabalhos.
Mais tarde, já quase nos nossos dias, isto é, finais do século dezanove, princípio do
vinte, perdeu essa importância, devido à construção do cais da Silveira, situado a
seguir aos portões de S. Pedro, e os portos de Ponta Delgada e Horta.

Julgo que esta zona não deveria dispor de um porto no verdadeiro sentido da
palavra, mas sim de um varadouro e de uma praia que permitissem o movimento dos
barcos e o seu trabalho de cargas e descargas.

2 – PORTO NOVO.

Situado na zona oeste da baía de Angra.

Pela imagem da carta de 1595, trata-se de um pequeno areal que tem a


designação de Porto Novo, mas que, na realidade não é um porto com zona de
acostagem. Trata-se de um pequeno areal, que permitia o embarque e desembarque
de pessoas e bens que se dirigiam ao novo castelo que se iria construir, pois ficava-lhe
muito perto, permitindo com mais segurança a guarda de mercadorias, durante o
estacionamento de embarcações na baía.

O seu acesso seria através de uma estreita passagem na rocha de tufo, que
deveria ter sido alargada para o seu atravessamento ser mais fácil.

Ainda hoje existe esta pequena praia, que nos nossos dias serviu de zona
balnear.
404

3 – PRAINHA E ESTALEIROS

Ficava localizada na zona sul das ruas de S. João e Palha.

Pelos relatos que nos chegaram, deveria ser um estaleiro de construção e


reparação naval com uma certa importância para a época. Segundo vários cronistas, e
de acordo com a imagem da carta, seria uma zona com algum movimento de
embarcações, estando em seco um barco de três mastros e outro de quatro com
castelo de popa, em reparação. Varados na praia, uma embarcação com um mastro e
outro com alguma dimensão com quatro mastros. Espalhados no areal vários materiais
destinados a reparações, uma âncora e um aparelho para içar madeiramento. Julgo
que com estas imagens, o autor quis-nos transmitir a importância deste estaleiro.

Segundo o Padre António Cordeiro, trata-se de um areal que tem porta grande
para a cidade chamado “Portão da Prainha”, que fica em frente à rua de S. João, onde
se faziam muitos navios e galés que defendiam as ilhas dos piratas. Quando havia mau
tempo do sul e sudeste, em alguns casos, rebentavam as amarras dos navios que
estavam estacionados na baía, vindo a desfazer-se neste local. Mas no século XVIII já
tinha desaparecido este estaleiro de construção, já só servindo para desmantelar os
restos dos barcos que naufragavam na baía.

4 – CAÍS E PRAIA DA ALFÂNDEGA

Situado junto ao pátio da Alfândega, na zona sul da rua Direita.


405

Zona principal da cidade em termos de movimento das pessoas, era conhecido


também pelo cais da cidade. Cais de movimento de passageiros e tripulações, cargas e
descargas de mercadorias que iam e vinham da Alfândega. Segundo o Padre António
Cordeiro, um largo e alto caís de cantaria entra pelo mar dentro, com escadas para o
mar e ferros para prender as caravelas que fazem a cabotagem entre ilhas, assim como
os barcos de pesca e os de carga e descarga dos navios. Como se pode verificar pela
imagem da carta, haveria uma praia entre o cais e a muralha que permitia aos barcos
vararem. No cais veem-se umas pedras que serviam para amarrar as embarcações. O
cais inicialmente, era possível serem uns leixões que foram cobertos com pedras e
cascalho dando origem a uma zona de apoio às embarcações.

Foi nesta zona que tudo deve ter começado, para dar início à cidade. A rua que
lhe dá acesso é a mais larga e importante e vai direta à praça principal, à casa do
Donatário e do Governador.

5 – PORTO DAS PIPAS E VARADOURO.

Localizado na zona nascente da baía.


406

Local numa reentrância da rocha com penedos e uma calheta, abrigado dos
temporais do sul e sudeste que assolavam a baía, onde foram construir um varadouro
e um cais, para os barcos estacionarem durante o inverno. Teria também um estaleiro
de construção e reparação naval, para apoio aos trabalhos necessários a efetuar
enquanto os barcos estavam em seco. O seu varadouro era suficientemente amplo,
permitindo que barcos de uma certa dimensão pudessem entrar.

Neste porto, podiam encostar os caravelões e barcos de duas e três velas que,
normalmente traziam e levavam pipas para as embarcações e as outras ilhas. Como
havia um grande movimento de pipas, passou-se a chamar Porto das Pipas.

No fim dos séculos XV, XVI e XVII, ponto alto das descobertas e expansão
marítima portuguesa, estas zonas de Angra que acabámos de descrever, seriam o lugar
nevrálgico da cidade, onde se deviam cruzar todas as raças, profissões e credos.
Deveria ser um movimento muito intenso durante o dia e noite, com a marinhagem e
passageiros em trânsito por alguns dias, a disputar as casas de pasto, lugares para
comer, beber, e dormir. Os prostíbulos deveriam estar cheios de gente de má
reputação, a gastar dinheiro fácil. Os lugares de culto com pessoas que querem
agradecer a Deus terem escapado a tanta tormenta e vicissitudes, pagarem as
promessas que prometeram em tempos de extrema angústia.

Esta seria a Angra no auge da sua grandeza e prosperidade.


407

LOCALIZAÇÃO DO CAÍS, ZONAS ACOSTÁVEIS E ESTALEIROS

ZONA OCIDENTAL DA CIDADE

ZONA ORIENTAL DA CIDADE


408

1 – LOCAL ONDE SE SITUAVA O PORTO E PRAIA DO FANAL

1 – VESTIGIOS DO VARADOURO E PORTO DO FANAL


409

2 – PRAIA E PORTO NOVO

3 – PRAINHA E ESTALEIRO
410

4 – CAÍS E PRAIA DA ALFÂNDEGA

4 – CAIS E PRAIA DA ALFÂNDEGA


411

5 – PORTO DAS PIPAS E VARADOURO

5 – PORTO DAS PIPAS E VARADOURO


412

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 graus.

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro-Dias.

Edição comemorativa dos 450 anos da Cidade de Angra.

Angra do Heroísmo – 1985.

História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas.

Padre António Cordeiro da Companhia de Jesus.

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura – 1981.


413

XVII – EMBARCAÇÕES EXISTENTES NAS BAÍAS DO FANAL E DE ANGRA.

As embarcações que estão desenhadas na carta, nas baías do Fanal e de Angra,


são de três nacionalidades, pelos pavilhões que ostentam, ou presumindo pela sua
localização. Sendo, Portugueses ou devido à união das duas coroas,
Portugueses/Espanhóis, Ingleses e Holandeses. (1)

Pela pesquisa efetuada em bibliografia da especialidade, sobre o tipo e


designação destes navios e barcos, existe uma certa imprecisão relativamente aos
nomes a atribuir aos mesmos, porque em documentação aparece o mesmo navio com
a designação de nau e galeão. Apesar de estar convencido de que é difícil dar
designações a embarcações dos séculos XV e seguintes, em virtude de podermos cair
em erros graves, vou correr esse risco. Além desta pesquisa, comparei o perfil de
diversas embarcações desta época, com nomes definidos, que estão expressos por
Saturnino Monteiro no volume I do seu livro “Batalhas e Combates da Marinha
Portuguesa.

Não estão representados nas baías, as embarcações da frota da Índia onde


viajou Linschoten, e por consequência o galeão de Malaca não pode estar também. De
fato, na gravura que vem no Itinerário da Ilha de Santa Helena, que anexo, e onde está
fundeada esta frota, exceto o navio S. Tomé que naufragou no cabo da Boa Esperança,
estão indicados o nome de todas as embarcações, sabendo assim a sua configuração e
de que navio se trata.

1 – QUATRO NAVIOS DE GUERRA, MARCADOS A TIJOLO.(2)

Estes quatro navios, um está na baía do Fanal, os outros três na baía de Angra.
São todos semelhantes, isto é dois castelos na proa, três castelos na popa, três
mastros.
414

Pelas suas caraterísticas poderiam ser designados, se fossem portugueses por


caravelas redondas, caravelas de armada, ou caravelas latinas de três mastros, tendo
mais um na proa, mas pelo pavilhão que arvoram, três ingleses e um holandês, vou
designá-los por “galeões”, sendo a designação holandesa para estes barcos de “fluyt”.
A designação de galeão é atribuída a uma nau com menor dimensão mas mais
artilhada, que é o nosso caso. Já Saturnino Monteiro pelo perfil da embarcação indica
como sendo uma nau pequena. Há quem considere que o galeão é um misto de nau e
caravela redonda. Foi buscar o pano redondo que aumentou à nau, e o pano latino á
caravela redonda.(3)

A designação de galeão é atribuída a navios vocacionados para a guerra, ou seja


vasos de guerra, e daí aparecerem com uma série de canhões ao longo da sua coberta
e dos castelos. Normalmente levavam quarenta canhões sendo metade de médio e
grosso calibre e a outra metade de pequeno calibre.

O primeiro destes galeões, situado na baía do Fanal, está disparando


eventualmente para o forte do Zimbreiro ou de S. Diogo, cuja designação não vem
indicado na carta, mas pela sua posição dentro da baía tudo indica que será contra ele
e não contra as fortificações do Fanal. Está navegando com todo o pano desfraldado.

O segundo está entre os fortes de Santo António e dos Três Paus, disparando
contra eles pela proa e pela popa para o forte de S. Sebastião. Estranhamente, no
entanto, não está com o velame içado e está ancorado.

O terceiro está entre o forte dos Três Paus e o Porto Novo, está fundeado pelas
amarras que se vêm, está com o velame em repouso e não está disparando.

Todos estes dois navios pelo pavilhão são ingleses. Se são navios ingleses, não
compreendo a sua localização dentro da baía, porque são navios inimigos nunca
poderiam ter lá entrado. Na verdade pela descrição de Linschoten, só poderiam entrar
com autorização dos fortes de S. Sebastião e de Santo António. Sem ela seriam
afundados imediatamente, para além disso um deles está a disparar dois dos seus
canhões.

Quanto ao quarto galeão, está saindo da baía de Angra a todo o pano, quase ao
largo, já depois dos ilhéus. Pela sua bandeira é holandês.
415

2 – TRÊS NAVIOS MERCANTIS, MARCADOS A CINZENTO. (2)

Estão os três fundeados na baía de Angra.

Estes navios pelas suas caraterísticas, quatro mastros, com mais um na proa,
poderão ser designados por caravelas, mas julgo que mais propriamente por “naus”.
No entanto segundo uma gravura existente no “Theatrum Urbion” de J. Braunio
(século XVI) com caravelas no Tejo, elas são designadas por “caravelas redondas” Já
para Saturnino Monteiro pelo seu perfil seria designada por galeão. (4)

As naus começam a aparecer depois da primeira viagem à Índia, fins dos


séculos XV. São navios mercantis e de transporte de carga. No entanto poderiam levar
até vinte canhões, para sua defesa.

Estes navios nesta data são portugueses/espanhóis, porque um deles ostenta o


pavilhão com a Cruz de Cristo. Deviam fazer parte das “naus da Índia”, designação que
se davam à frota que fazia a viagem à Índia, porque tudo indica estarem à espera com
outros barcos, da “armada das Ilhas”.

A “armada das Ilhas” era constituída por navios de guerra, que todos os anos a
coroa Portuguesa enviava pela primavera, até Angra, onde aguardavam encontro no
atlântico por alturas das ilhas Corvo e Flores, pelos barcos mercantis que vinham da
Índia e agora também das Américas Espanholas, para os protegerem do ataque dos
piratas e corsários. Após reparações abastecimento dos barcos, e descanso das
tripulações, seguiam em comboio para Lisboa e Cádiz.

Os dois primeiros estão ancorados junto á encosta do Monte Brasil. O terceiro


está ancorado no meio da baía, ostenta a bandeira da Cruz de Cristo. É durante o
416

reinado de D. Manuel I que, devido à intensa atividade marítima, é utilizado


frequentemente o pavilhão da Cruz de Cristo, uma vez que as descobertas estão
ligadas a esta Ordem.

3 – SEIS NAVIOS DE CARGA, OU MISTOS CARGA E PASSAGEIROS, MARCADOS A


AMARELO. (2)

Estão localizados em vários sítios da baía.

São navios de dois e três mastros, mais um à proa, não tem castelos nem na
proa nem na popa, nem cobertas, sendo o leme exterior ao barco. Estas embarcações
são todas semelhantes, só diferindo no número de mastros.

Não consegui encontrar designação específica para este tipo de navio na


literatura consultada, porque tem alto bordo sugerindo que pode efetuar viagens de
médio curso, mas não tem cobertas nem à popa nem à proa, que é uma desvantagem
para as travessias de alto mar.

Eventualmente poderão ser “barcas”, “patachos”, ou até “caravelões”, mas não


têm as suas caraterísticas específicas, dado que estas últimas seriam caravelas mais
pequenas, servindo para o transporte de água, transporte de mantimentos, ou para
explorações do litoral, no entanto, são embarcações baseadas na caravela do século
XV mas mais rudimentares. Os caravelões podiam transportar toda a espécie de
mercadorias, até cavalos, como os quatro que foram utilizados na conquista da Ilha
Terceira em 1583. Eventualmente, em caso de necessidade, podiam ser artilhados,
levando três canhões. Os patachos eram navios de dois e três mastros, aparelhados
com velas redondas e velas latinas no da ré. As barcas teriam função idêntica aos
417

caravelões. Não tem tipologia própria, foi com elas que se iniciaram as viagens de
exploração reconhecimento.

Quanto á sua localização na baía, a primeira está ancorada junto aos estaleiros
da Prainha. A segunda está quase varada no caís da cidade. Três estão varadas no
ancoradouro do porto das pipas.

A última está com todo o velame içado no meio da baía. Pela direção que toma
está saindo da mesma. Pelo pavilhão que ostenta indica que se trata de uma
embarcação holandesa. Leva a bordo cinco tripulantes e o timoneiro, sugerindo que
vai fazer uma viagem de médio curso, possivelmente até Lisboa e de aqui até à
Holanda.

4 – OITO BARCOS DE NAVEGAÇÃO COSTEIRA, MARCADOS A AZUL. (2)

Estão localizados nas duas baías do Fanal e de Angra.

A característica comum a todos eles é possuírem um só mastro e dimensões


mais pequenas relativamente aos anteriores.

Pelas suas dimensões e por ter um só mastro com uma vela redonda, vou
designá-los por “barcas” ou “galeotas”.

Além do já referido sobre barcas, teremos a acrescentar que é a designação


genérica para embarcações relativamente pequenas, isto é com poucos tonéis e
destinavam-se à pesca, navegação a pequenas distâncias e para cabotagem, talvez
mesmo entre ilhas. As suas dimensões eram muito variáveis, poderiam ter coberta à
418

proa e á popa ou só num dos sítios e nestes casos tomava a designação “tilhas”. A
designação para estas barcas dependia também da sua funcionalidade, pois poderia
ser de pesca, de carga, de passageiros ou de cabotagem, como já foi referido. Galeotas
seriam embarcações pequenas a remos, menores do que as galés.

A primeira está a navegar com a vela içada junto ao porto do Fanal. A segunda
sem tripulantes está ancorada no porto Novo. A terceira está varada no estaleiro da
Prainha. As quatro seguintes estão varadas na praia do porto da cidade. A oitava e
última, esta navegando a todo o pano com um tripulante junto aos ilhéus.

5 – CATORZE PEQUENOS BARCOS, MARCADOS A VERDE. (2)

Estão disseminados pelas baías do Fanal e de Angra.

Restam estes barcos impulsionados a remos, que vou designar por “batéis” ou
“lanchas”.

Batéis seriam pequenas embarcações de serviço aos navios. Lanchas seria o


termo genérico para embarcações de todo o género de serviços.

São os mais numerosos na carta. Estão em quase todos os pontos, querendo


indicar que se destinavam a numerosas atividades. Vinham acondicionados nos navios
para qualquer eventualidade, ou como salva vidas para o caso de naufrágio, ou para
deslocações a terra para executar qualquer tarefa, como poderemos observar na
gravura de Santa Helena.

Fazendo a sua localização na carta, dois estão chegando às fortificações do


Fanal. Dois, cada um com três tripulantes, estão ao largo do Forte de S. Sebastião.
Sugerem que estão regressando da pesca ou de outro local da ilha. Quatro estão
419

amarrados aos navios de grande porte, devendo ser privativos destes para trazer e
levar tripulantes e víveres. Dois estão em reparação no estaleiro da Prainha. Dois estão
no porto da cidade. Outro está eventualmente pescando no porto Novo. O último, que
é o maior, está quase fora da baía, e tem como tripulação, uma espécie de
comandante, quatro remadores e um timoneiro e está a afastar-se do galeão inglês.

As embarcações que estão nas duas baías do Fanal e de Angra, na minha


opinião, representam todos os tipos que existiam na época, e estão de acordo com a
cartografia holandesa do século XVI. São todas semelhantes às cartas executadas pelo
gravador desta carta Baptista à Doetchum.

Os gravadores já tinham estas embarcações pré-gravadas em cobre e depois


era só coloca-las nos diversos sítios da carta, fazendo parte da sua decoração. Do
mesmo modo que as rosas do vento, o enquadramento das cartelas, o desenho das
ondas no caso caso sugerindo que os ventos dominantes são do oeste, fica a baía de
Angra perfeitamente abrigada. No entanto se mudarem de rumo para sul ou sudeste, a
baía do Fanal servirá de abrigo à navegação.

Agora as razões da mistura de navios de várias nacionalidades, dentro das duas


baías, só se compreendem por ignorância do gravador, porque o próprio Linschoten no
seu Itinerário, descreve o ataque de corsários destes países aos navios Portugueses e
Espanhóis.

Estamos em 1495, a Espanha em guerra com a Inglaterra e com a Holanda e


Portugal também, como é lógico. Sete anos antes tinha-se dado o desastre da
“Invencível Armada”, em que Espanha e Portugal tinham sido derrotados pelas
condições atmosféricas e pela Inglaterra. Logo, não era possível a estes barcos estarem
dentro da baía de Angra.

Fica amplamente demonstrado, na minha opinião, pela descrição atrás referida,


que Angra seria uma cidade com um porto de grande escala, pela quantidade,
variedade e qualidade das embarcações que estão representadas no seu porto.
420

NOTAS

1 – Tenente Coronel José agostinho; Boletim nº1 do I. H. I. T 1943.

2 – Associação de Cruzeiros, Batalhas e Combates da marinha Portuguesa.

Wikipédia a enciclopédia livre – Caravelão, Barcas (náuticas), Nau, Galeão,


Lancha Poveira, Caravela e A Armada das Ilhas.

História da Expansão Portuguesa. Volume nº 1.

Direção de Francisco Bettencourt e de Kirti Chaudhuri – Temas e Debates.

Capítulos – O Alargamento do Horizonte de Experiências; A Prática de Navegar.

3 – A Caravela Portuguesa.

Quirino da Fonseca.

Imprensa da Universidade de Coimbra – 1934.

Página 409.

4 – A Caravela Portuguesa.

Quirino da Fonseca.

Imprensa da Universidade de Coimbra – 1934.

Pagina 95.
421

LOCALIZAÇÃO DAS EMBARCAÇÕES

ZONA CENTRAL DA CARTA

ZONA ORIENTAL DA CARTA


422

NACIONALIDADE DAS EMBARCAÇÕES

ZONA CENTRAL DA CARTA

ZONA ORIENTAL DA CARTA


423

FROTA ONDE VEIO INTEGRADO LINCHOTEN DA ÍNDIA

FUNDEADA NA BAÍA DA ILHA DE SANTA HELENA

(Para comparar com os navios fundeados na baía de Angra)


424

BAÍAS

ANGRA

FANAL
425

ANGRA

FANAL
426

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa

Armando da Silva Saturnino Monteiro

Volume I – 1139-1521

Livraria Sá da Costa Editora

Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen Van Linschoten para as Índias


Orientais ou Portuguesas.

Edição Preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portuguesas.

Lisboa 1997.

Historia Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas.

Padre António Cordeiro da Companhia de Jesus

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura – 1981

Oceanos.

Navios e Navegações – Portugal e o Mar.

Nº 38 – Abril / Junho 1999.

Das Barcas aos Galeões.

Raúl Sousa Machado.


427

Livro das Traças de Carpintaria.

Manuel Fernandes .

1616.
428

XVIII – AUTOR OU AUTORES DA CARTA DE ANGRA DE 1595 – CONCLUSÕES.

Este trabalho tinha fundamentalmente duas finalidades: estudar a carta em


todos os seus aspetos, para chegarmos a conclusões sobre a correspondência entre a
carta e a cidade de Angra, atualmente, e saber quem seria o autor ou autores desta
carta.

Após termos demonstrado, ou julgamos nós tê-lo feito, que a carta de Angra de
1595 é real, e representa um levantamento cuidadoso desta cidade em perspetiva
axonométrica. Não um “bird’s-eye map”, como alguns pretendem que seja,
devidamente pormenorizada em todos os seus aspetos.

Para efetuar esta demonstração, passámos pelas razões da sua execução, as


técnicas e instrumentos utilizadas no seu levantamento e desenho; tradução e
interpretação das cartelas que fazem parte da decoração da carta; no relevo e
cobertura vegetal nos fins do século XVI; a ribeira e os seus moinhos fundamentais na
existência da cidade; área construída e os quarteirões escolhidos que foram estudados
pormenorizadamente na carta e atualmente, como uma das provas mais importantes,
para que a carta represente Angra no século XVI; na designação das ruas de hoje na
cidade, e a sua correspondência na carta de 1595; nas igrejas, conventos e ermidas;
nos cruzeiros e alminhas; nos edifícios e construções importantes que se destacam na
carta; no abastecimento público de água à cidade, através de chafarizes e bicas; nas
defesas da cidade e a sua importância para a mesma; nos cais, zonas acostáveis e
estaleiros; na interpretação das diversas embarcações desenhadas nas duas baías do
Fanal e de Angra.

Em vários locais Linschoten afirma ser ele “o autor da carta”, mas perguntamos
nós o que é que ele quer dizer com esta afirmação, quando ao longo do nosso
trabalho, encontrámos vários intervenientes na execução da mesma.

Se não tivéssemos conhecimento de elementos que nos permitissem afirmar


quem seria o autor da carta, então seria de considerar um dos intervenientes, o
cartógrafo/tipógrafo, o desenhador, o gravador o impressor ou mesmo o editor, mas
não é o nosso caso, porque temos conhecimento de todos. Só falta identificar
devidamente o cartógrafo ou melhor quem fez o levantamento no terreno.
429

Vamos agora procurar demonstrar, quem foram os intervenientes na execução


da carta de Angra de 1595 em perspetiva axonométrica e não, como diz várias vezes
Linschoten, que ele foi o autor da mesma.

1 - Linschoten no “Proémio ou prefácio para o leitor” do Itinerário, duvida dos


seus dotes artísticos, afirmando…não queira procurar grande arte ou extraordinária
beleza nas figuras, mas apenas uma representação natural e fiel, nem esperar
qualquer eloquência no meu sumário relato, porque não fui educado e tive ainda
menos exercício nisso na minha juventude, mas apenas a pura da verdade, que usei
nisso sem rodeios… Ernst Van Den Boogart, no seu estudo sobre o texto, imagens e
ícones do Itinerário em várias passagens do seu livro, coloca em causa e procura
demonstrar que os desenhos dos trinta ícones não são da autoria de Linschoten,
afirmando que ele executou os esboços e outro artista é que fez os desenhos. Pelas
mesmas razões, afirmamos que poderia ter intervenção no desenho da carta, mas não
ser o seu autor.

Para executar o levantamento no terreno e o desenho da carta, seriam


necessários sólidos conhecimentos de cosmografia, geografia, e matemática que se
obtinham em estudos universitários e experiência prática neste género de trabalhos.
Além de que no século XVI, vigorava o ensino mestre/aluno. Era uma transmissão de
experiências e de conhecimentos muitas vezes pessoais, e para obter o diploma para
poder fazer este tipo de trabalhos era necessário fazer um exame e sabemos que um
dos mestres nesta altura que presidia a ele, era o nosso grande matemático Pedro
Nunes.

Linschoten sai da Holanda com dezasseis anos. Até essa idade não poderia ter
obtido esses conhecimentos, nem posteriormente. Nos relatos das suas viagens não
fala que teve contatos ou adquiriu estudos nestas matérias, nem que teve experiência
de navegação, que era também um dos requisitos necessários. Mais confessa no
proémio que não foi educado nem teve exercício nestes assuntos.
430

2 – Outra afirmação de Linschoten de que foi ele que executou a carta, está
expressa na cartela da carta de 1595 na zona inferior à direita onde diz “Autor João
Hugo de Linschoten, ano de 1595”. Se não tivéssemos feito o estudo pormenorizado e
cuidadoso da carta continuava-se a afirmar e a intitular “carta de Angra de
Linschoten”, ou simplesmente “carta de Linschoten”, que já sabíamos a que se
estavam a referir. Foi esta afirmação que coloquei em dúvida ao iniciar o meu
trabalho, porque era o que sempre tinha ouvido dizer aos historiadores e
conhecedores da matéria. E foi esta afirmação de Linschoten na carta, que todos
aceitaram sem questionar. Foi um dogma para os entendidos nestes assuntos,
incluindo os Holandeses. Julgo que a partir do meu trabalho cada vez mais se vai
colocar em dúvida esta autoria.

3 – Nesta única edição em português do Itinerário, preparada por Arie Pos e Rui
Manuel Loureiro, estes afirmam na Introdução, nº 15 – Linschoten, espião dos
holandeses? Que os grandes planos topográficos de Angra e Goa são de Linschoten,
mas os argumentos apresentados são muito frágeis, que ele “tinha um certo jeito para
o desenho” e que “os desenhos tinham sido pedidos pelos portugueses ou a eles
dedicados”. Não tenho dúvidas que isto é verdadeiro. Mas para servir de argumentos
para lhe atribuir a autoria das cartas, na minha modesta opinião, não serve. Na
verdade, esta carta de Angra de 1595, não é um simples desenho é muito mais do que
isso. É uma carta em perspetiva axonométrica com várias fases para a sua execução,
que temos de ter em consideração.

Quais são essas fases? Levantamento topográfico se assim lhe poderemos


chamar do e no terreno, em que intervém uma equipa, constituída pelo menos por um
topógrafo/cartógrafo e vários ajudantes (porta mira, carregador dos aparelhos e da
prancheta, medidor com a cadeia, etc.). Para executar esta primeira fase do trabalho, o
tempo da estada de Linschoten na Terceira não foi suficiente, porque a inconstância
do clima nos Açores, aliada à pouca ou nenhuma experiência deste, neste género de
levantamentos, requer muito tempo para a sua execução, pois trata-se de um trabalho
minucioso e que exige muito tempo e conhecimentos. No gabinete, transposição dos
elementos colhidos no exterior, para execução do desenho em papel ou outro suporte,
com o cartógrafo/topógrafo e vários desenhadores que poderão ao executar este
trabalho, imprimir algum cunho pessoal ao desenho, como decoração. Redação e
execução das cartelas em que duas delas estão assinadas pelo próprio Linschoten e
431

outras duas por P Hoogerb. Gravação do desenho, em que, como já atrás referimos,
este com desenhos pré-gravados como, por exemplo, barcos, rosa-dos-ventos, poderá
inserir na gravação. Finalmente, o editor que com a sua experiência, também poderá
ter aconselhado ou exigido alguma alteração no desenho, de modo a que este fique
mais atrativo ao grande público.

4 – Outro autor de reputação mundial em cartografia o Professor Gunther


Schilder afirma na sua “Monumenta Cartográfica Neerlândia” no volume VII, página
198, gravura nº 104, referindo-se à carta de Angra de 1595. The original drawing was
done, by Jan Huygen van Linschoten during this stay on this island. Este professor, de
nacionalidade holandesa, também não justifica esta afirmação. Possivelmente baseia-
se na afirmação de Linschoten existente na cartela da carta, o que, continuamos a
dizer, é muito pouco.

5 – Linschoten no Itinerário no capítulo 97, descrição das ilhas dos Açores ou


flamengas diz; O governador teria muito gosto em que eu desenhasse toda a ilha,
para mandar o desenho a Sua Majestade, do que me escusei. Mas fiz-lhe um
desenho da cidade de Angra, com o seu porto, fortalezas e entrada, o qual foi
enviado a el-rei, tendo eu conservado uma cópia fiel, que aqui se pode ver a seguir.
Por isso o governador ficou-me muito afeiçoado, dando-me muitas mostras de
amizade. O governador nesta data era o espanhol João d’Horbina. Na minha opinião
esta é a maior contradição de Linschoten sobre o autor da carta, como vamos ver a
seguir.

Dos cosmógrafos do século XVI que executam cartas de marear, astrolábios e


agulhas (bússolas), destacam-se, sem dúvida três nomes; Fernão Vaz Dourado,
Bartolomeu Lasso e Luís Teixeira. Qualquer deles por si só, ou os três em conjunto,
poderiam ter executado as gravuras que acompanham o Itinerário, que são cinco
planos; Ilha e fortaleza de Moçambique, Goa, duas vistas da ilha de Santa Helena, vista
da ilha de Ascensão e Angra. Falta-nos referir as cartas das zonas de, Moçambique,
Índia e China, cuja autoria ainda está em discussão. O que nos interessa
verdadeiramente é o plano de Angra e neste momento quem fez o seu levantamento.
432

Fernão Vaz Dourado foi considerado o mais célebre e notável cartógrafo do seu
tempo, excelente desenhador e elevado gosto artístico para iluminuras. Sabemos que
esteve na Índia, onde viveu um pouco antes de Linschoten, à volta de 1580, ao tempo
do Vice-Rei D. Luís de Ataíde. Executou várias cartas de Goa, Índia, Ceilão, Japão, etc.
Com certeza que Linschoten contatou com a sua obra durante a sua estada na Índia,
em virtude da sua curiosidade natural e do seu interesse pela cartografia. Tem toda a
lógica ter sido ele o autor do levantamento da carta de Goa e que Linschoten a tivesse
adquirido.

Bartolomeu Lasso, cartógrafo do fim do século XVI, contemporâneo de Luís


Teixeira, não chegando a ter a categoria deste, apesar de ter um certo merecimento.
As suas cartas foram utilizadas pelos Holandeses e através destes por outros países.
Vendeu cartas e teve contatos com Plancius, cartas estas que foram reproduzidas por
Linschoten. Sabemos também que Bartolomeu Lasso foi examinado por Pedro Nunes
para obter a licença para exercer a profissão de cartógrafo. Sem dúvida, neste caso
também Linschoten teve conhecimento e contatos com este cartógrafo.

Falta-nos Luís Teixeira que é uma das maiores figuras, de uma grande família de
cartógrafos que exerceram esta profissão durante cerca de cinco ou seis gerações. Fez
vários levantamentos originais nos Açores, Brasil e talvez noutras regiões. Sabemos
que teve contatos com os Países Baixos, através da gravura de quatro cartas que lhe
são atribuídas e teve grande influência na cartografia holandesa. Tinha grande
inclinação para as matemáticas, tendo sido examinado para exercer a profissão de
cartógrafo pelo grande matemático Pedro Nunes. Com certeza, por esta sua inclinação,
teve contatos com os novos métodos de cartografia urbana e com as mais recentes
metodologias, ligadas ao levantamento de cidades.

Como prova destes seus conhecimentos, os seus dois filhos João e Pedro,
também cartógrafos receberam os seus ensinamentos, e o que mais se distinguiu,
Pedro Teixeira Albernaz, fez uma belíssima carta de Madrid, datada de 1656 (é a
primeira carta desta cidade) em perspetiva axonométrica do género da de Angra. É a
prova principal por que Luís Teixeira dominava completamente estas recentes
tecnologias, para poder legar aos filhos. São vinte folhas em que a parte desenhada
mede 1780X2680 mm. Cópia desta carta está na Biblioteca Nacional de Paris. Tem uma
433

dedicatória a Filipe IV de Espanha, e o seu título é “Topographia de la Villa de Madrid


por Don Pedro Teixeira ano de 1656”. Trabalhou praticamente só em Espanha desde
1622 a 1662, ano da sua morte, onde realizou vários trabalhos. Dedicou-se ao
levantamento topográfico, talvez por influência de João Batista Lavanha. Lavanha é
contemporâneo de Luís Teixeira com quem trabalhou na execução de algumas cartas,
tendo também várias relações com os holandeses.

O cartógrafo Luís Teixeira foi praticamente contemporâneo de Linschoten em


Angra. Tem uma carta da Terceira datada de 1582 que lhe está atribuída por Armando
Cortesão e que também não tenho dúvidas de que é dele. A carta dos Açores, assinada
e datada de 1584, editada pelo holandês Ortélio, numa das cartelas Luís Teixeira diz
que percorreu os Açores para executar estes trabalhos, prova evidente que ele estava
no local. Cartas de cada ilha dos Açores exceto de S. Miguel assinadas e datadas de
1587. Isto é, entre 1582 e 1587 ou até depois Luís Teixeira estava nos Açores
nomeadamente na Terceira. Estava no tempo em que os Espanhóis entraram na Ilha
Terceira após a primeira tentativa falhada da Baía da Salga, (o Marquês de Santa Cruz
entra na terceira em 1583). Outra prova de que Luís Teixeira estava nos Açores, é que,
na carta de 1582 não há indicações na zona da baía das Mós, na carta de 1587 diz que
nesse local foi onde desembarcou com as suas tropas o Marquês de Santa Cruz. É
muito possível que tivesse sido o Marquês de Santa Cruz a dar ordens ao Luís Teixeira
para executar esta carta dos Açores e a de cada ilha e também a de Angra, o que teria
muita lógica do ponto de vista militar e fiscal, por causa dos impostos a exigir à
população como tributo de guerra. Um fator importante a considerar é que em cada
carta de cada ilha, a vermelho, traz a sua população o, que quer dizer que houve um
recenseamento para esse efeito.

Colocamos agora a seguinte interrogação: terá Luís Teixeira executado o


levantamento de Angra e alguém ter ficado com ele e o vendesse a Linschoten, ou este
o terá comprado diretamente ao Luís Teixeira? O que não há dúvida é que o
governador da Terceira João d’Horbina, não poderia ignorar, de maneira nenhuma, a
existência destes trabalhos de cartografia de Luís Teixeira porque eles terão sido
executados preferencialmente para fins militares. Uma das provas de que houve uma
grande amizade entre o governador e Linschoten, é que, aquele deu-lhe autorização
para dar duas voltas à Terceira, o que estava expressamente vedado aos estrangeiros,
por causa dos segredos militares das defesas da ilha.
434

Outro fator importante a ter em consideração é que, o Marquês de Santa Cruz


conquista a Terceira e regressa a Espanha, ficando a sucedê-lo o governador João d’
Horbina de triste memória para os habitantes da ilha Terceira. Governa de 1583 até
finais de 1597, datas entre as quais Luís Teixeira está nos Açores. Um dos primeiros
atos conhecidos de João d’ Horbina é a colocação de um imposto sobre os moradores
do concelho, por provisão de 14 de Outubro de 1583, de 200 cruzados para o
alojamento dos soldados da guarnição militar que já não cabiam na casa dos cidadãos.
Novamente, em 19 de Janeiro de 1584, temos notícias da 2ª provisão a anunciar o
mesmo imposto sobre os moradores. Temos mais notícias ao longo dos vários anos
sobre este imposto, que segundo parece, só foi revogado em 1597, determinando-se
outras formas de sustentar a guarnição. Com certeza, que o governador precisava de
saber quantos moradores tinha a cidade, e a sua localização, para as duas finalidades
de alojar a guarnição e para fins fiscais do imposto. Poderá ser mais uma achega para a
execução da carta de Angra e o seu autor, pois prova que a carta é verdadeira e que
traduz a cidade de Angra nessas datas e que o único cartógrafo que estava nos Açores
e que dominava a cartografia urbana era Luís Teixeira. Linschoten só chega a Angra em
1589 e todo este trabalho de Luís Teixeira já estava concluído ou em vias de conclusão.

6 – Uma das hipóteses que coloquei desde o início do meu trabalho para a
autoria da carta, seria que a sua execução poderia ter sido de um engenheiro militar
que estivesse em serviço em Angra.

Como sabemos, o planeamento das cidades ultramarinas Portuguesas era


executado por engenheiros militares, com sólida formação teórica e prática em
topografia.

Angra poderia ter tido um plano para o traçado da urbanização da cidade, após
a sua fase inicial por via vernácula e popular. Porque era uma cidade desde o seu início
demasiado importante para não a ter, talvez fosse a primeira ou das primeiras
experiências fora da Metrópole. Todos os indicadores nos dizem, que nós teríamos
pessoas capazes para executar esses planos de urbanização.

Sendo assim Linschoten, poderia, por compra ou por empréstimo ter um desses
planos, ter completado e mandado redesenhar esse projeto de urbanização.
435

Por pesquisa nos três volumes do “Dicionário Histórico e Documental dos


Arquitetos, Engenheiros e Construtores Portugueses”, desde meados do século XV até
início do século XVII, estiveram nos Açores os seguintes profissionais na matéria:

Manuel Machado – Fortaleza de S. Braz de Ponta Delgada. Mestre das obras


das capelas das ilhas dos Açores desde 1551 até 1567.

Tomás Benedito de Pesaro – Fortaleza de S. Braz de Ponta Delgada. Engenheiro


entre 1555 e 1567.

Pero de Maeda – Fortaleza de S. Braz de Ponta Delgada. Mestre das


fortificações da ilha desde 1567 a 1577.

Luís Gonçalves Cotta – Sé de Angra; fortaleza de S. Braz de Ponta Delgada.


Mestre das obras de pedreiro e alvenaria da Sé de Angra e das demais da ilha Terceira
desde 1578 a 1609.

Não encontrei referências nestes três volumes, a que algum engenheiro tivesse
estado na construção de fortificações da Ilha Terceira, até porque o castelo de S.
Sebastião é de 1550. São muito estranhas, todas estas referências à construção do
Forte de S. Braz em Ponta Delgada, que é relativamente pequeno, situado numa
cidade que, no século XVI, tinha pouca importância, por comparação com Angra e com
as suas fortificações.

Não conseguimos, apesar dos nossos esforços, encontrar elementos que nos
permitam confirmar a tese por mim lançada, sobre a hipótese de engenheiros militares
terem estado na génese do levantamento da carta de Angra.

7 – Segundo Gunter Scilder na sua Monumenta Cartographica Neerlandica no


volume VII, página nº 325 o editor do Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen
van Linschoten para as Índias Orientais ou Portuguesas foi Cornelis Claesz (1551 –
1609).
436

CONCLUSÕES

Uma das primeiras conclusões a que chego, é que ao estudar os cartógrafos


portugueses desta altura, falta ainda efetuar muito trabalho de pesquisa sobre a
cartografia portuguesa, essencialmente dos séculos, XV, XVI e XVII, e onde estão
localizados os seus trabalhos, (se ainda existem) pois muitos podem ter desaparecido
na voragem dos tempos. O que não tenho dúvidas é que efetivamente os Portugueses
deram um grande contributo e dominaram a cartografia mundial nestes três séculos.

A segunda conclusão é sobre a figura central de todo este trabalho, que ainda
tem muito para dar. A minha opinião é de que Linschoten era um indivíduo
extremamente inteligente, muito hábil, dirigia com destreza as pessoas no sentido de
as levar a fazerem aquilo que ele queria, sendo toda a sua vida um bom exemplo desta
minha afirmação, que transparece em toda a sua obra. Não tenho dúvidas, que
enriqueceu com esta sua viagem à Índia de bens materiais, e intelectuais, e já mesmo
depois de estar na Holanda, é que verdadeiramente se apercebeu dos verdeiros
conhecimentos que tinha adquirido.

Linschoten corresponderia ao que hoje chamaríamos um homem que se fez por


si próprio, um homem de markting e publicidade que dominava as modernas
tecnologias, sem saber que as utilizava. Mas tenho a certeza, de que se não fosse este
homem, hoje não teríamos esta belíssima e fidedigna carta de Angra do século XVI,
que emparceira com as de outras cidades portuguesas, talvez bem maiores em
importância, que não em dimensão, como Lisboa, Coimbra, Braga e Goa. Linschoten
deu um grande contributo à grandeza e importância que Angra teve na história dos
descobrimentos portugueses, e que, infelizmente, a grande maioria dos seus naturais,
ainda não se apercebeu deste verdadeiro tesouro que é esta carta.

Quero dedicar também este trabalho à cidade onde nasci e vivi os meus
primeiros anos, e que vão expressos na capa do trabalho “sair de Angra foi fácil, difícil
é Angra sair de mim”.

Como estou convencido de ter demonstrado, não há dúvida que a carta de


Angra de 1595 teve vários autores, uns implícitos outros explícitos de que vamos dar à
estampa como fecho final deste trabalho.
437

CARTA DE ANGRA DE 1595 EM PERSPETIVA AXONOMÉTRICA.

AUTORES (EQUIPA) NA EXECUÇÃO DA CARTA.

Coordenador – Jan Huygen van Linschoten.

Cartógrafo/Topógrafo – Anónimo; Luís Teixeira.

Desenhador – Anónimo; Luís Teixeira; Jan Huygen van Linschoten.

Redação das cartelas – Jan Huygen van Linschoten; P Hoogerb.

Gravador – Baptista à Doetchum.

Editor – Cornelis Claesz.


438

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias


Orientais ou Portuguesas.

Edição preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

Lisboa 1997.

Monumenta Cartographica Neerlandica.

Gunther Schilder.

The Netherland Nautical Cartography.

Gunther Schilder.

Instituto de Investigação Científica Tropical.

Lisboa 1984.

Dicionário Histórica e Documental dos Arquitetos, Engenheiros e Construtores


Portugueses.

Francisco Marques de Sousa Viterbo.

Volume I.

Lisboa - 1899.

Mapping the City.

The Language and Culture of Cartography in the Renaissance.


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Naomi Miller

Continuum – London – New York.

El Atlas de el Escorial.

Universidad de Valladolid – Departamento de Geografía.

Tesis Doctoral Presentada por – Antonio Crespo Sanz.

Dirigida por – Basilio Calderón Calderón y Mª Isabel Vicente Maroto

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The University of Chicago Press.

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Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos XV e XVI.

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http://.pt/369/1ficha-obra-vazdourado.html

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BIBLIOGRAFIA

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Edição preparada por Arie Pos e Rui Manuel Loureiro.

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*Portugaliae Monumenta Cartographica.

Imprensa Nacional Casa da Moeda – 1983.

Reprodução Fac-Similada da Edição de 1960.

Direção do Dr. Armando Cortesão com a cooperação do Capitão Tenente


Avelino Teixeira da Mota.

*Monumenta Cartographica Neerlandica.

Gunter Schilder

1987.

*El Atlas de el Escorial.

Universidad de Valladolid – Departamento de Geografía.

Tesis Doctoral Presentada por: Antonio Crespo Sanz.

Dirigida por: Basilio Calderón y Mª Isabel Vicente Maroto.

Valladolid 2008.
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*Mapping the City.

The Language and Culture of Cartography in the Renaissance.

Naomi Miller.

Continuum – London – New York.

*As 18 paróquias de Angra.

Sumário histórico.

Pedro de Merelim.

1974.

*Memória Histórica dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo.

Pedro de Merelim.

Edição da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

1984.

*As Ermidas da Ilha Terceira.

Padre Alfredo Lucas.

Angra do Heroísmo.

1976
443

*Notas sobre os Conventos da Ilha Terceira.

Três volumes.

Pedro de Merelim

Angra do Heroísmo – 1964.

*Freguesias da Praia.

Dois volumes.

Pedro de Merelim (Joaquim Gomes da Silva)

Edição da Direção Regional de Orientação Pedagógica da Secretaria de


Educação e Cultura.

Angra do Heroísmo – 1983.

*A Sé de Angra (Santa Sé do Salvador).

Frederico Lopes (João Ilhéu).

Edições do I.H.I.T.

Angra do Heroísmo – 1970.

*Da Praça às Covas – Memórias de uma Velha Rua.

Frederico Lopes (João Ilhéu).

Edição do I.H.I.T. – Edição geminada (de conta do Autor).

Angra do Heroísmo – 1971.


444

*Biografias e outros escritos.

Joaquim Moniz de Sá Corte-Real e Amaral

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo – 1989.

*Os Açores nos Séculos XV e XVI.

Dois volumes.

João Marinho dos Santos.

Fontes para a história dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura Direção Regional dos Assuntos


Culturais.

Universidade dos Açores / Centro de Estudos Gaspar Frutuoso.

*Anais da Ilha Terceira.

Quatro volumes.

Francisco Ferreira Drummond.

Reimpressão Fac-Similada da Edição de 1864.

Governo Autónomo dos Açores.

Secretaria Regional de Educação e Cultura – 1981.

*O Solar de Nossa Senhora dos Remédios (Canto e Castro).

Jorge Pamplona Forjaz.

(2ª edição revista e aumentada)


445

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Angra do Heroísmo – 1996.

*Boletins do Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Volumes nºs I, LV, XLVIII; XLV; XLII.

Angra do Heroísmo.

*Atlântida – Instituto Açoriano de Cultura.

Revista de Cultura.

Volumes nºs XLIV, XLVI, XLVII, LI, LII.

Angra do Heroísmo.

*História Expansão Portuguesa.

Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri.

Temas e Debates.

*Archivo General de Simancas.

Instituto Açoriano de Cultura.

*Urbanismo Português – Séculos XIII – XVIII – Portugal Brasil.

Manuel C. Teixeira – Margarida Valla.

Livros Horizonte – 1999.


446

*Engenharia Militar.

www.exercito.pt.

*A Caravela Portuguesa.

Quirino da Fonseca.

Imprensa da Universidade.

Coimbra 1934.

*Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do ultramar.

Luís Silveira.

Volume I.

*Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos XV e XVI.

Armando Cortesão

Dois Volumes.

Edição Seara Nova.

Lisboa 1935

*História de Portugal em Datas.

Coordenador: António Simões Rodrigues.

Círculo de Leitores.
447

*Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento.

1 – Cumpriu-se o Mar.

As Navegações Portuguesas e as suas Consequências no Renascimento.

2 – Cumpriu-se o Mar.

A arte na Rota do Oriente.

3 – O Homem e a Hora São Um Só.

A Dinastia de Avis.

4 – A Voz da Terra Ansiando pelo Mar.

Antecedentes dos Descobrimentos.

5 – Abre-se a Terra em Sons e Cores.

As descobertas e o Renascimento, Formas de Coincidência e de Cultura.

Conselho da Europa.

XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura.

Presidência do Concelho de Ministros.

Lisboa, 1983.

*Livro Sexto das Saudades da Terra.

Doutor Gaspar Frutuoso.

Segunda Edição da Iniciativa do instituto Cultural de Ponta Delgada.

Ponta Delgada – 1978.


448

*As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas.

Manuel de Sousa.

Sporpress – Sociedade Editorial e Distribuidora, Lda.

Novembro de 2001.

*Etnologia dos Açores.

Francisco Carreiro da Costa.

Dois Volumes.

Organização, Prefácio e Notas de Rui de Sousa Martins.

Lagoa

*História dos Açores – Do Descobrimento até ao Século XX.

Direção Cientifica.

Artur Teodoro de Matos; Avelino de Freitas de Menezes; José Guilherme Reis


Leite.

Dois Volumes.

Instituto Açoriano de Cultura.

Angra do Heroísmo – 2008.

*Esboço Histórico dos Açores.

Francisco Carreiro da Costa.

Instituto Universitário dos Açores.


449

Ponta Delgada.

*Ilha Terceira – Estudo de Linguagem e Etnografia.

Maria Alice Borba Lopes Dias.

Secretaria Regional de Educação e Cultura.

Direção Regional dos Assuntos Culturais.

1982.

*Desenho Técnico.

Fundação Calouste Gulbenkian.

Luís Veiga Cunha.

*Folhetos Informativos.

Edição – amigos da Ilha Lilás

AMCIL – 1988.

*Angra no Ultimo Quartel do Século XVI.

Emanuel Félix.

Edições Gávia / Glacial

Angra do Heroísmo – 1970.


450

*Memórias das Ilhas Desafortunadas.

Manuel Barbosa.

Edição do Autor.

Coimbra – 1981.

*Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores.

Frei Diogo da Chagas.

Direção e Prefácio de Artur Teodoro de Matos 1989.

Colaboração De

Avelino de Freitas de Menezes; Vítor Luís Gaspar Rodrigues.

Edição da Secretaria Regional de Educação e Cultura.

Direção Regional dos Assuntos Culturais e Universidade dos Açores.

Centro de Estudos Doutor Gaspar Frutuoso.

*Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura.

Editorial Verbo.

Lisboa.

*Terra e Fortuna: os primórdios da humanização da ilha Terceira (1450?-1550).

Rute Dias Gregório.

Teses.

Centro de História de Além-mar.


451

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

Universidade Nova de Lisboa.

*Os Vianenses na Construção do Novo Mundo (século XVI – XVII).

Manuel António Fernandes Moreira.

Viana do Castelo – Câmara Municipal – 2008.

*O Teatro Angrense – Elementos para a sua história.

Augusto Gomes.

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

1993.

*A viagem que mudou o Mundo.

Vasco da Gama 500 anos depois.

Diário de Noticias.

Fundação Oriente.

Marinha Portuguesa.

*Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa.

Armando da Silva Saturnino Monteiro.

Livraria Sá da Costa Editora.


452

*Civil and Corrupt Asia.

Image and Text in the Itinerario and the Ícones of Jan Huygen van Linschoten.

Ernst van Den Boogaart.

The Univerity of Chicago Press

Chicago and London.

*Historic Maritime Maps – Used For Historic Exploration – 1290 – 1699.

Donald Wigal.

Parkstone Press, New York. USA. 2000.

*História das Viagens Marítimas – A Navegação pelos Oceanos do Mundo.

Donald S. Johnson – Juha Nurminen.

Sete Mares.

*Portugal e o Mundo – Nos séculos XVI e XVII.

Encompassing the Globe.

Ministério da Cultura.

Instituto dos Museus e da Conservação.

Museu Nacional de Arte Antiga.

*Nobiliário da Ilha Terceira.

Eduardo de Campos de Castro de Azevedo Soares. (Carcavelos)


453

Três volumes.

Editores – Fernando Machado & C.ª, L. dª

Rua das Carmelitas, 15 – Porto.

*Do Mar e da Terra… Uma História no Atlântico.

Museu de Angra do Heroísmo – 2011.

*Por Mar e por Terra Tantas Mil Léguas..

Infante 94 – 6º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique.

Biblioteca Pública Municipal do Porto.

*Oceanos – Navios e Navegações Portugal e o Mar.

Número 38 – Abril / Junho 1999.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

*Arquitetura Popular dos Açores.

Ordem dos Arquitetos.

*História Ilustrada da Arquitetura dos Açores.

José Manuel Fernandes.

Instituto Açoriano de Cultura.

Angra do Heroísmo – 2008.


454

Arquitetura nos Açores – Subsídios para o seu Estudo.

Francisco Ernesto de Oliveira Martins.

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria Regional dos Transportes e Turismo.

Direção Regional do Turismo.

Horta – 1983.

*Angra – Seus Espaços e Memórias.

Francisco Ernesto de Oliveira Martins.

Edição – Santa Casa da Misericórdia de angra do Heroísmo.

*Retratos da Terceira – A Ilha de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Francisco Ernesto de Oliveira Martins.

450.º Aniversário – Da Diocese dos Açores e da Cidade de Angra do Heroísmo.

Delegação do Turismo da Terceira – Imprensa Nacional Casa da Moeda – 1984.

*Angra, a Terceira e os Açores – Nas Rotas da Índia e das Américas.

Francisco Ernesto de Oliveira Martins.

*Ruas da Cidade e Outros Escritos.

(Notas para a Toponímia da Cidade de Angra, da Ilha Terceira).

Henrique Braz – (1884-1984).


455

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Angra do Heroísmo – 1985.

*Angra do Heroísmo – Janela do Atlântico entre a Europa e o Novo Mundo.

Francisco dos Reis Maduro-Dias.

Região Autónoma dos Açores.

Portugal – 1991.

*História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental.

Composta pelo Padre António Cordeiro da Companhia de Jesus.

Região Autónoma dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura.

1981.

*A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira que está em 39 Graus.

Seleção, Prefácio e Notas de Maduro – Dias.

Edição Comemorativa dos 450 Anos da Cidade de Angra.

Angra do Heroísmo – 1985

*Colóquio Internacional.

Universo Urbanístico Português – 1415 – 1822.

Atas.
456

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

*Fénix Angrense.

Padre Manuel Luís Maldonado.

Três Volumes.

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

*Angra do Heroísmo – Arquitetura do Século XX e Memória Coletiva.

Paulo Duarte de Melo Gouveia.

Instituto Açoriano de Cultura.

Angra do Heroísmo – 2009.

*História e Técnica da Gravura Artística.

(Bibliografia Analítica)

Jorge Pamplona Forjaz.

Lisboa 1973 1974.

*Ciência e Mito nos Descobrimentos.

(Ensaio iconológico sobre cosmografia e cartografia).

Armando da Câmara Pereira.

Prémio “Luís Ribeiro”

Concurso Literário Açores / 90 promovido pela:


457

Secretaria Regional da Educação e Cultura

*Os Açores nas Coleções Documentais.

João Silva de Sousa.

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Angra do Heroísmo – 1985.

*A Salga

Em Frei Pedro de Frias e uma Mulher Chamada Brianda.

Valdemar Mota.

Edição da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

Comemorativa do 4º Centenário da Batalha da Salga (1581 – 1981).

1981.

*O Hospital Militar da Boa-Nova.

(Notas Históricas)

Manuel Menezes – Capitão – Médico.

1932

Livraria Editora Andrade

Angra do Heroísmo.

*Obras
458

Luís da Silva Ribeiro.

Cinco Volumes.

Centenário Ribeiriano.

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Angra do Heroísmo – 1982.

*Os Descobrimentos e a Arte.

Museu da Horta – 1995.

Governo Regional dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Direção Regional dos Assuntos Culturais.

Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

*Os Descobrimentos e a Arte.

Museu de Angra do Heroísmo – 1995.

Governo Regional dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Direção Regional dos Assuntos Culturais.

Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

*Os Descobrimentos e a Arte.


459

Museu Carlos Machado – 1996.

Governo Regional dos Açores.

Secretaria Regional da Educação e Cultura.

Direção Regional dos Assuntos Culturais.

+Cartografia Impressa dos Séculos XVI e XVII.

Imagens de Portugal e Ilhas Atlânticas.

Comemorações do 6º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique.

Comissão Municipal Infante 94.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

Porto – Julho / Setembro, 1994.

*Urbanismo Angrense.

Da Fundação Quatrocentista à Cidade do Renascimento.

Tereza Bettencourt da Câmara.

Revista do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa nº 13.

Dezembro de 1989.

*Instruments of Science.

An Historical Encyclopedia.

Editors – Robert Bud.

The Science Museum – London.


460

*História Trágico – Marítima.

Narrativas de Naufrágios da Época das Conquistas.

Adaptação de António Sérgio.

Coleção Clássicos da Humanidade.

Sá da Costa Editora.

*Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses.

Luís de Albuquerque.

Coleção Documenta Histórica.

*Longitude.

Dava Sobel.

Temas e Debates – Atividades Editoriais, L.dª.

*Instrumentos de Navegação.

Luís Albuquerque.

Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

Lisboa – 1988.

*Geometria da Insolação de Edifícios.

Armando Cavaleiro e Silva – João José Malato.

Informação Técnica – Laboratório Nacional de Engenharia Civil.


461

*Pequeno Dicionário da Expansão Atlântica Portuguesa.

João Veloso.

Descobrimentos.

Lagos Outubro de 2005.

*Os Senhores da Navegação.

O Domínio Português dos Mares da Ásia por Meados do Século XVI.

José Alberto Leitão Barata.

Prémio do Mar Rei D. Carlos 2001.

Cascais – Câmara Municipal – 2003

*A Religião Popular Portuguesa.

Moisés Espírito Santo.

Prefácio de Emile Poulat.

Estudos 2 – A Regra do Jogo, Edições.

*Coleção de Documentos Relativos ao Descobrimento e Povoamento dos


Açores.

Precedida de um Ensaio Critico por Manuel Monteiro Velho Arruda.

Terceira Edição da Iniciativa do Instituto Cultural de Ponta Delgada.

Ponta Delgada – 1989.


462

*Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Eclesiásticos para a História das


nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira.

Francisco Ferreira Drumond.

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Angra do Heroísmo – 1990.

*Cartografia Militar Portuguesa – dos séculos XVIII – XIX.

Cartas Plantas Esboços e Projetos.

Exposição – Forte de S. Brás, Ponta Delgada.

Museu de Angra do Heroísmo, Angra do Heroísmo – 2005 – 2006.

*Angra – Um Porto no Percurso da Cidade Portuguesa.

Antonieta Reis Leite.

Instituto Açoriano de Cultura – 2002.

*Ilhas: Cidades, Arquiteturas e Patrimónios.

(coletânea de 12 textos sobre as ilhas Açores/Madeira/Canárias – 1998-2004).

José Manuel Fernandes.

Instituto Açoriano de Cultura – 2005.

*À Descoberta dos Açores.

Secretaria Regional de Educação e Cultura.


463

Direção Regional dos Assuntos Culturais.

Seleções do Reader’s Digest.

*Património Fortificado da Ilha Terceira: O Passado e o Presente.

José Manuel Salgado Martins.

Instituto Açoriano de Cultura.

Angra do Heroísmo – 2007.

*Cartas de Brasão D’Armas de Naturais e/ou Relacionados com os Açores

Sérgio Avelar Duarte.

Instituto Açoriano de Cultura.

Angra do Heroísmo – 2008.

*Ilha Terceira – Notas Etnográficas.

Frederico Lopes – (João Ilhéu)

Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Angra do Heroísmo – 1980.

*Dicionário Histórico e Documental dos Arquitetos, Engenheiros e Construtores


Portugueses.

Francisco Marques de Sousa Viterbo.

Três Volumes.
464

Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Edição / Reimpressão 1988.

*As Caraterísticas Morfológicas dos Traçados Urbanos Portugueses.

A Síntese de Salvador da Bahia (século XVI).

Centro de Investigação de Estudos de Sociologia.

http://urban.iscte.pt/investigacao/estudos/artigos

*História da Cartografia Ibérica.

Velhas Cartas, Novos Caminhos.

Workshop Internacional.

Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia

Biblioteca Nacional de Portugal.

Lisboa – Março – 2012.

*Terrae Incognita.

Van Duzer, Chet.

Volume 40; Numero 1, Junho 2008

Editor: Maney Publishing.

*Jan Huygen Van Linschoten.

C. Koeman.
465

Centro de Estudos de História e de Cartografia Antiga.

Instituto de Investigação Científica Tropical.

Lisboa – 1985.

*The Netherland Nautical cartography From 1550 to 1650.

Gunther Schilder.

Centro de Estudos de História e de Cartografia Antiga.

Instituto de Investigação Cientifica tropical

Lisboa – 1985.

*Os Açores nas Rotas das Américas e da Prata.

Francisco Ernesto de Oliveira Martins.

Apresentação pelo Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão.

Secretaria Regional da educação e Cultura.

Direção Regional dos Assuntos Culturais.

Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

Delegação do Turismo da Ilha Terceira.

1990.

As caraterísticas Morfológicas dos Traçados Urbanos Portugueses.

A Síntese de Salvador da Bahia (séc. XVI).

http://urban.iscte.pt/investigacao/estudos/artigos/As%20caracter%
466

*Atlas Universal Atribuído a Fernão Vaz Dourado, de c. 1576.

http://purl.pt/369/1/ficha-obra-vazdourado.html

*Família Teixeira.

http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/b15.html

*História Breve da Cartografia.

http://pt.wikipedia.org/wiki/cartografia

*Bartolomeu Lasso.

http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/b08.html

*O Hospital dos Descobrimentos.

http://www.cruzado.com.pt/index.php?op=6&idpagina=50

*A Fortaleza de São Sebastião.

http://www.cruzado.com.pt/index.php?op=6&idpagina=54

*O Castelo de São João Batista.

http://www.cruzado.com.pt/index.php?op=6&idpagina=53

PORTO AGOSTO DE 2012.

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