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HUMBERTO OLIVEIRA
(BORBA)
MARIA AUGUSTA
LUDOVINA VIEIRA
LUDOVINA TEOTÓNIO
ESTER CÉSAR
JOSÉ CARLOS
CAROLINA BORBA
4
SUMÁRIO
- INTRÓITO 3
- PREFÁCIO 6
I – INTRODUÇÃO 10
- BIBLIOGRAFIA. 441
6
PREFÁCIO
Fui, pela primeira vez, a Angra do Heroísmo em Março de 1981. Vi então, mas sobretudo senti,
uma cidade ferida, também nas emoções, por um sismo que sem clemência sacudiu
fortemente a Ilha Terceira, em particular Angra, no início do ano de 1980. Usei o termo “vi” e
não o termo “visitei”. Com efeito, as marcas deixadas pela catástrofe não se compaginavam
com o que se espera de um visitante que, despreocupadamente, pára aqui e ali para apreciar
os lugares e ir cruzando o que deles emana com o que o seu conhecimento neles projeta.
Dessa breve passagem por Angra, a minha memória reencaminha-me a sua tão açoriana
beleza natural associada a uma cidade assinalada pelo infortúnio.
Em suma: fui a Angra, estive em Angra, mas nunca poderei dizer que visitei Angra.
Dificilmente imaginaria que, 28anos depois, alguém me faria visitar Angra, em Janeiro de 2009,
sem ter sido preciso deslocar-me aos Açores. Visitei assim Angra, sem lá ter ido, sem lá ter
estado, sem a ter visto como aconteceu em 1981. E esta visita é tanto mais singular, quanto
visitei Angra através do que o Eng.º Humberto Oliveira, natural de Angra do Heroísmo, nos
propõe na sua “Interpretação da carta de Angra atribuída a Jan Huygen Van Linschoten de
1595 anexa ao «Itinerário, viagem ou navegação para as Índias orientais ou portuguesas»”.
Essa interpretação constitui o estudo/trabalho intitulado Angra na visão de Linschoten que,
nas palavras do Eng.º Humberto Oliveira se “insere (….) como corolário do curso criado pela
Universidade do Porto, com a designação de “PEUS – Programa de Estudos Universitários para
Seniores” (página 9 da Introdução). É bem certo que essa interpretação não é da autoria de
um qualquer natural de Angra. É antes da autoria de um natural de Angra que exprime assim a
sua ligação à cidade natal: “Sair de Angra foi fácil. Difícil é Angra sair de mim” (ver capa de
Angra na visão de Linschoten). Fica aqui também a prova/ evidência de que é possível “visitar”
os locais sem nos deslocarmos aos mesmos. Tal poderá, na verdade, acontecer quer quando
sobre eles fizermos uma pesquisa profunda, quer, como no caso vertente, quando temos a
sorte de ouvir relatos ou de ler escritos de naturais fortemente ligados às suas origens e que,
além disso, se encontram bem documentados. De resto porque já lhes consigo acompanhar o
pensamento, entendo hoje melhor do que quando era mais jovem o sentimento daqueles que
preferem não ir a certas paragens com receio de a sua visão do real defraudar o muito que
leram, estudaram e aprenderam a seu respeito, para além seguramente também do muito que
neles projetaram.
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Parte), dos “Cais, zonas acostáveis e estaleiros” (XVI Parte), das Embarcações existentes nas
baías do Fanal e de Angra” (XVII Parte) e, finalmente, dos “Autor ou Autores das cartas e
gravuras” (XVIII Parte), que serve também de conclusão. A última parte de Angra na visão de
Linschoten, que não deixa de corresponder ao balanço do tanto que a carta de Linschoten o
interpelou, contém a leitura que o Eng.º Humberto Oliveira nos oferece neste momento acerca
da autoria da carta “carta de Angra de Linschoten”. Escreve então o Eng.º Humberto Oliveira a
finalizar o seu trabalho (pág. 5 da XVIII Parte – Autor ou autores das cartas e gravuras”):
“13. Finalmente, após estes conhecimentos dos contatos que Linschoten teve nestas suas
andanças, gostaria de deixar um novo título para a carta de Angra:
Afigura-se-me que este modo de fechar o trabalho Angra na visão de Linschoten revela bem o
alcance do estudo empreendido pelo Eng.º Humberto Oliveira e reforça o seu estilo de olhar o
mundo e de estar na vida.
Interessa ainda mencionar que, em vários dos temas tratados, o Eng.ª Humberto Oliveira, para
lá de ter consultado toda a bibliografia que figura no seu trabalho, recorreu igualmente não só
aos seus conhecimentos enquanto natural de Angra, mas também a pesquisa que fez, para o
efeito, no terreno. Qualquer leitor deste trabalho vai ser naturalmente sensível à precisão que
o autor pretendeu incutir à sua interpretação da carta. No entanto, se for natural de Angra, vai
sentir com certeza um prazer acrescido ao percorrer a sua cidade na companhia de um
Engenheiro que usou a carta de Angra de Linschoten talvez também como pretexto para nos
dar conta do que sabe sobre a História de Angra do Heroísmo. Não admira, por isso, que já
tenha sido solicitado ao Eng.º Humberto Oliveira a apresentação da sua obra Angra na visão
de Linschoten em Angra do Heroísmo e em Lisboa, pouco tempo depois de a ter discutido
formalmente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto perante especialistas na
matéria.
A concluir, só posso dizer do prazer que tive em conhecer o Eng.º Humberto Oliveira e de
como lhe estou grata por me ter feito visitar Angra de uma maneira tão enriquecedora na sua
multidisciplinaridade.
Espero poder ter mais oportunidades – no Continente ou nos Açores – para continuar a
conversar com o Eng.º Humberto Oliveira a respeito de Angra do Heroísmo, porque estou em
crer que a pesquisa vai prosseguir e motivar novas leituras da carta de Angra de Linschoten.
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I – INTRODUÇÃO
Nascido e criado até aos dezoito anos na cidade de Angra do Heroísmo, sempre
me intrigou a carta de Angra de Linschoten, pois ela estava presente em muitas salas e
lugares públicos como decoração, pendurada nas paredes como se fosse um quadro
de um grande pintor.
Ao longo dos tempos fui “receitando” a amigos e não só, ligados ao curso de
história, a possibilidade de fazerem um trabalho sobre esta carta de Angra de
Linschoten.
Como nunca consegui passar esta mensagem, resolvi meter ombros a este
trabalho, que inicialmente seria “coisa breve”, mas que se está a transformar num dos
trabalhos de Hércules, pois continuo ativo profissionalmente e só nas horas vagas, é
que o executo, quando o deveria fazer durante vinte e quatro horas por dia.
11
As surpresas têm sido muitas. Nunca julguei ser possível encontrar, tanta
informação acerca de Angra, a arrogância, a soberba, a ganância e a estupidez dos
homens.
Aos meus colegas do curso que agora terminamos, queria deixar uma saudade
imensa, pois senti-me novamente uma criança da escola primeira, em que eles tiveram
uma cota parte muito importante.
Final de 1562, inicio de 1563, nasce JAN HUYGEN VAN LINSCHOTEN na cidade
de Harlemo, primeiro filho do casamento de Huig Joostenzoon, nascido na mesma
cidade em 1532 e de, Marijtgintin Henrixdochter, já viúva, com dois filhos gémeos,
oriunda de Schoonhoven situada entre Roterdão e Utreque.
- 1579, no dia 6 de Dezembro, Linschoten parte para Sevilha para se juntar aos
seus dois meios irmãos gémeos, que lá viviam, filhos de sua mãe e do seu primeiro
marido.
- 1583, por intercessão do seu outro irmão, que entretanto tinha chegado a
Lisboa vindo de Madrid, é aceite ao serviço do dominicano D. Vicente da Fonseca, que
é nomeado por Filipe II arcebispo de Goa.
Como, possivelmente, a sua posição em Goa não deveria ser muito confortável
devido às intrigas entre D. Vicente da Fonseca, seu amo, e o vice-Rei, resolve partir
para sua terra natal Enkhuizen por mar, embora inicialmente tivesse previsto fazer a
viagem de regresso por terra, por Itália, de acordo com uma carta que tinha enviado
de Goa a seu pai.
14
Aproveitando a partida da nau Santa Cruz para Lisboa, em que vai regressar um
seu amigo e compatriota Dirk Gerritsz Pomp, resolve acompanhá-lo, conseguindo
durante a viagem ser nomeado feitor da pimenta da casa comercial alemã Fugger e
Welser.
- 1589, após ter carregado pimenta em Cochim nos finais de 1588, a nau Santa
Cruz parte em Janeiro, para Portugal integrada na armada desse ano.
É esta estada forçada em Angra durante dois anos e alguns meses, que vai dar
origem, entre outras coisas, à carta de Angra de 1595.
- 1591, só em fins deste ano consegue embarcar para Lisboa onde chega a 2 de
Janeiro.
- 1592, fica em Lisboa a despachar os seus negócios até 17 de Julho, dia em que
parte para Setúbal para embarcar para a pátria.
Vai encontrar o seu amigo Dirk Gerritsz Pomp. Os dois vão travar amizade com
o ex-piloto Lucas Janszoom Waghenaer. A sua deslocação à Índia, mais os
conhecimentos que adquire com estes dois contatos, vão-lhe dar notoriedade e fama.
Todos estes novos contatos vão colaborar com “Van Linschoten”, nome que
passa a usar no seu livro o “Itinerário”, bem como noutros escritos e trabalhos.
- 1595, no dia 2 de abril, casa com Reinu Meinerts – Dochter Semeyns, viúva
com três filhos, filha de um conselheiro do príncipe Maurício e Presidente da Câmara
de Enkhuizen.
Em julho parte com uma armada de sete navios para efetuar o início do
comércio com a China e Japão pelo norte da Europa.
1601, publica os relatos dos seus diários das viagens de 1594 a 1597. Estes
relatos tiveram grande sucesso internacional, sendo traduzido em várias línguas.
Século XVII
Autor desconhecido
18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lisboa 1997.
1 – OBJETIVOS.
1-5 – A fauna e a flora orientais e não só, que eram de grande curiosidade para
o cidadão comum da Europa.
O seu livro é um relato daquilo que ele viu, daquilo que lhe contaram e do que
leu.
Não é preciso e conciso nas suas fontes, quer orais, quer escritas, o que
dificulta a interpretação do texto.
Portanto, só após a sua chegada à Holanda, terá constatado, por um lado, que a
sociedade onde se iria inserir e adaptar, estava ávida dos relatos das suas viagens. Por
outro lado, o comércio e a navegação precisavam dos seus conhecimentos preciosos,
para desenvolver o que os países do norte da Europa necessitavam urgentemente, que
era chegar à Índia, Malaca, China e Japão. Nesta fase da sua vida, aí sim, tomou
consciência que o espólio dos seus conhecimentos lhe poderia render proventos,
honrarias, títulos, etc. Como aliás aconteceu.
Agora do que não há dúvidas, é que deveria ser um homem, extremamente inteligente
e com grande sentido de aproveitamento das oportunidades, que se lhe iam
deparando ao longo dos tempos, no bom sentido do termo, sabendo tirar proveito
delas nos momentos próprios, o que é demais evidente neste seu “Itinerário”.
Pelo atrás descrito, julgo que ele não conseguiu, possivelmente, moldar o seu
destino; foi este que o moldou, sem no entanto deixar de ser ele a governá-lo.
2 – DIVISÃO TEMÁTICA
2 – 3 – A Insulíndia: 19-22.
2 – 4 – China:23-24.
2 – 5 – Macau: 25.
2 – 6 – Japão: 26.
3 – Goa e arredores.
4 – Natureza da Índia.
CAPITULO 1
Descreve as motivações que o levaram a sair do seu país e a sua viagem até
Lisboa, passando por Sevilha.
CAPITULO 2
CAPITULO 3
Passagem pala Madeira e Porto Santo, onde a partir de aqui cada navio da frota
toma a sua rota de modo a chegar o mais rapidamente possível à Índia.
Passagem pela Guiné, pelo Equador, pelos baixios do Brasil e Cabo da Boa
Esperança.
CAPITULO 4
Distribuição dos navios pelos diferentes portos, conforme a carga que vão
efetuar, se pimenta ou outras especiarias.
CAPITULO 5
CAPITULO 6
CAPITULO 7
CAPITULO 8
CAPITULO 9
26
CAPITULOS 10 e 11
CAPITULO 12
CAPITULO 13
CAPITULO 14
Ilha de Ceilão, sua descrição, e onde se acreditava que era o Paraíso e onde
Adão tinha sido criado, sendo o principal entreposto de canela, a melhor e a mais fina
da região.
CAPITULO 15
CAPITULO 16
27
CAPITULO 17
CAPITULO 18
CAPITULO 19
Em frente a Malaca fica a ilha de Samatra, que foi outrora designada por
Taprobana, sendo muito rica em minas de ouro, prata e cobre. Menciona a famosa
peça de artilharia de Malaca, que ficou na ilha Terceira no seu transporte para
Portugal, onde ainda se encontrava durante a sua estada em Angra.
CAPITULO 20
Descrição do comércio e como o devem fazer até Timor e suas ilhas, chegando
às Molucas e outras ilhas do cravo.
CAPITULO 21
CAPITULO 22
CAPITULOS 23 e 24
CAPITULO 25
29
CAPITULO 26
Descrição das ilhas do Japão, sua extensão falta de conhecimento das suas
dimensões e número de ilhas. Usos e costumes, comportamentos, produtos e
comércio.
CAPITULOS 27,28,29, 30 e 31
CAPITULO 32
Como os seus mandatos são por três anos, podendo ser renovados por El-Rei,
no primeiro ano estão ocupados a consertarem e a colocarem mobiliário no seu
palácio que foi esvaziado totalmente pelo seu antecessor e a conhecer o país. No
segundo ano, a juntar riquezas, porque foi a única razão da sua ida para a Índia. No
terceiro ano, a preparar o seu regresso de modo a poderem levar o máximo possível,
sem serem incomodados pelo próximo Vice-Rei.
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Este modo de atuar é geral e igual com todos os outros capitães e oficiais em
serviço na Índia.
CAPITULO 33
Hábitos, usos e costumes dos habitantes de Goa. Distribuição dos vários ofícios
por locais e ruas.
CAPITULO 34
As duas estações do ano, suas mudanças, duração, etc. Doenças e males que
estas estações provocam, em toda a região da Índia, maneiras de as tratar, quem e
onde as tratam. Menciona como curiosidade que os dias são sensivelmente iguais às
noites, no verão e no inverno, só diferindo uma hora, pois o sol nasce às seis da
amanhã e o ocaso às seis da tarde. Em Goa vêem-se as duas estrelas: a do norte e a do
sul.
Capitulo 35
Árabes e Abexins são da terra do Prestes João, vai desde Moçambique, Etiópia,
Mar Vermelho e até ao rio Nilo no Egipto. Seguem a lei de Maomé.
31
Malabares e Naire vivem entre Goa e o cabo de Camorim ao sul de Goa, sendo
comerciantes e guerreiros são os maiores inimigos dos portugueses.
CAPITULO 44
CAPITULO 45
CAPITULOS 46, 47 e 48
CAPITULO 56
32
Capítulo onde descreve as palmeiras com o seu frutos o coco, por ser a árvore
mais vulgar ou uma das mais vulgares na Índia e a sua utilização desde o tronco, folhas,
frutos, etc.
CAPITULO 57
CAPITULO 58 e 59
Árvore de raízes, angelim (pela pesquisa efetuada, julgo que a madeira dava
para o fabrico de móveis), cana de açúcar, bambu, árvore triste (tema curiosidade de
só florir de noite, caindo as flores ao nascer do sol).
CAPITULOS 60 e 61
CAPITULOS 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72 e 73
CAPITULO 83
CAPITULO 92
Relato das chegadas e partidas das naus da Índia, lugares onde se dirigiam para
carregarem especiarias, condições para viajar, tripulação, etc. Venturas e desventuras
dos portugueses ao carregarem demasiado as naus, o que provocava na maioria dos
casos naufrágios e afundamentos.
Após esta morte Linschoten que não pensava voltar à Holanda, pois já estava
adaptado à Índia, resolve tratar do seu regresso.
CAPITULO 93
Em 1589, a nau onde vinha Linschoten, de nome Santa Cruz, foi a última, por
ser a de construção mais recente, tendo zarpado no dia 20 de Janeiro. Antes já tinha
partido a Santa Maria, Nossa Senhora da Conceição, S. Cristóvão, Santo António e S.
Tomé.
CAPITULO 94
CAPITULO 95
CAPITULO 96
Descrição das ilhas Canárias, continuando a viagem até à altura das ilhas dos
Açores, ilha do Corvo, Ilha Terceira e Lisboa.
Ataque dos piratas Ingleses, dispersando os navios, ficando cada um deles por
sua conta e risco, não se socorrendo uns aos outros, conseguindo todos escapar, não
sem alguma dificuldade.
A baía está protegida dos ventos dominantes que são do oeste. No entanto,
não tem proteção dos ventos sul e sudeste que surgem ocasionalmente em Agosto.
Perdeu-se quase toda a carga e mercadorias do galeão, que como já foi dito,
era o mais rico de todos da carreira da Índia, salvando-se algumas coisas que ficaram a
boiar e outras que com mergulhadores se conseguiu resgatar, como pimenta, cravo e
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Todos estes salvados foram confiscados pelos oficiais régios, sendo guardados
na alfândega de modo a pagarem os direitos aduaneiros.
Como a armada que devia escoltar até Lisboa, os navios da frota onde vinha
Linschoten, não estava presente em Angra e como, entretanto, tinha chegado um
galeão do Brasil bem armado com peças de artilharia, os capitães dos navios
resolveram acompanhar este galeão e fazer rumo a Lisboa. Esta decisão foi tomada
porque estavam receosos, que os Ingleses assaltassem a cidade de Angra, preferindo
correr o risco da viagem, fazendo vela no dia 8 de Agosto, após se terem abastecido de
víveres frescos e água.
No fim deste capítulo, descreve as andanças dos corsários Ingleses, como lorde
Cumberland e o capitão Drake, que percorriam estes mares à procura de navios para
os assaltar e pilhar as suas riquezas.
CAPITULO 97
A capital dos Açores é a ilha Terceira, cuja cidade principal é Angra com a sua
baía em forma de U, que está protegida pelos fortes de S. Sebastião e de Santo
António no Monte Brasil, não entrando ou saindo nenhum navio sem autorização
destas defesas.
Nos fachos situados num dos montes que constituem o Monte Brasil e
sobranceiro à baía, refere como funciona os avisos para a cidade relativamente aos
navios que se aproximam da costa, de onde vêm e o seu número. Isto é feito através
de um conjunto de sinalização de bandeiras estrategicamente colocadas em mastros
fixados em dois maciços de pedra.
Narra as duas viagens que fez por terra à volta da Ilha e como o conseguiu fazer
por estarem vedadas aos estrangeiros.
39
Diz textualmente que o Governador lhe pediu para desenhar a Ilha Terceira,
que recusou, mas que lhe fez um desenho de Angra, com o seu porto, fortalezas e
entradas, que foi enviado a El-Rei, tendo ficado com uma cópia fiel, que anexa ao livro.
Chama a atenção para as duas doenças principais das Ilhas, que são o “ar” e o
“sangue”, descrevendo-as e dizendo a que são devidas.
No fim do capítulo diz textualmente e por ter muito interesse para o trabalho
que estou a desenvolver passo a transcrever: “E porque a cidade de Angra, na Ilha
Terceira, é a capital e sede do governo de todas as Ilhas Flamengas, quis juntá-la aqui
retratada do natural, com todas as suas ruas e fortalezas e seu ancoradouro ou porto
aberto, com os montes chamados Brasil, onde se mantém vigia sobre os navios, tudo
desenhado como melhor pude, conforme a respetiva situação real”
CAPITULO 98
Diz mais, que quer dar a conhecer os Açores aos comerciantes da sua nação
que ainda os não conhecem, mas que são muito importantes nesta altura para o
comércio.
CAPITULO 99
40
Destes Ingleses que infestavam os mares dos Açores, salienta vários nomes
importantes, que comandavam armadas só destinadas a assaltarem navios carregados
de especiarias, ouro, pérolas e tesouros inimagináveis, como, Lorde Cumberland,
Capitão Martin Frobischer, Mestre John Hawkins, Capitão Drake. Almirante Thomas
Howard e o Vice-almirante Richard Grenville, como homens ferozes e sanguinários que
devastaram os Açores, pois exceto a Terceira, as outras Ilhas não tinham guarnições
para se oporem às suas investidas e saques e foram todas elas assaltadas mais do que
uma vez.
Para termos uma noção dessas riquezas passo a transcrever uma passagem
deste capítulo: “Aí foram descarregadas com toda a pressa e presteza, e verificou-se
que traziam mais de cinco milhões em prata, tudo em peças do tamanho de oito e
dez libras, pelo que todo o cais e a praia ficaram cobertas de placas de prata e de
caixotes cheias de reais-de- oito, coisa milagrosa de ver, cada milhão valendo dez mil
ducados, fora as pérolas, o ouro e outras pedras que não vêm registadas”.
Por razões logísticas, a descarga, guarda e posterior carga destes tesouros, diz
bem da quantidade das riquezas que passaram em Angra e a importância das pessoas
que lá estiveram hospedadas durante a reparação das naus e carregamento de víveres
para as viagens de regresso a Lisboa e Sevilha.
espanhola em Setembro de 1591 reuniu junto à Ilha do Corvo mais de 140 navios, o
que é impressionante.
ROTA EFETUADA PELAS FROTAS NAS SUAS IDAS E VINDAS PARA A ÍNDIA
OU
VALENTIM DA MORÁVIA
47
ILHA TERCEIRA
LEGENDA
Entre as ilhas dos açores esta é mais fértil, assim, mais forte, a que melhor se pode
defender. Em ela está a feitoria de El – Rei porque todas as Armadas que de todas as
partes vêm cumprindo a sua viagem, a ela vêm diferir onde se provêm de todo o
necessário de mantimentos e outras coisas, porque também o El – Rei o dá por bem e
ela melhor o pode fazer, tem muito pão, vinho, frutas, carnes, peixe e dá pastel com
que dão cor aos panos em Flandres, França e as mais partes do norte dela se provêm, a
razão também porque as armadas a ela vêm diferir, é porque tem o porto mais capaz
para poderem surgir por ter dois portos, um é o de Angra, junto à cidade, e outro do
Fanal que com duvidosos tempos podem estar em cada um, que são de uma parte e
outra do Brasil que é a ponta que mostra ser alta, também tem a praia bom
fundeadouro, chamada, Ilha do Bom Jesus e vulgarmente de Terceira porque vindo no
descobrimento delas ela foi a terceira, depois de acharem a de S. Miguel e de
Santa Maria
Feita por Luís Teixeira cosmógrafo de Sua majestade, em Lisboa ano do Senhor.
1587
49
ILHA TERCEIRA
ILHA TERCEIRA
ILHA TERCEIRA
ILHA TERCEIRA
ANÓNIMO
ILHA TERCEIRA
ILHA TERCEIRA
ILHA TERCEIRA
ILHA TERCEIRA
OU VALENTIM DA MORÁVIA
60
AÇORES INSULAE
EDIÇÃO DE ORTÉLIO
AÇORES INSULAE
EDITADA EM AMESTERDÃO
ILHAS DO SOL
(AÇORES)
DIMENSÕES – 405X509 mm
CARTA VENEZIANA
DIMENSÕES – 425X587 mm
DIMENSÕES – 379X488 mm
(AÇORES)
AMESTERDÃO
DIMENSÕES – 310X433 mm
GRUPO OCIDENTAL
CARTA FRANCESA
68
ILHAS FLAMENGAS
CARTA HOLANDESA
ESTÃO REPRESENTADAS:
TAMBÉM CHAMADAS
CARTA INGLESA
70
CARTA FRANCESA
ESTÁ REPRESENTADO:
CARTA INGLESA
72
CARTA ESPANHOLA
73
CARTA ESPANHOLA
74
CORVO E FLORES
CARTA ESPANHOLA
76
CARTA ESPANHOLA
77
CARTA ESPANHOLA
78
CARTA ESPANHOLA
79
CARTA FRANCESA
80
CARTA INGLESA
81
CARTA PORTUGUESA
82
CARTA INGLESA
83
SÉCULO XX
CARTA PORTUGUESA
84
DIMENSÕES - 850X2.045 mm
DIMENSÕES – 195X295 mm
MEDIDAS – 640X450 mm
DIMENSÕES – 275X310 mm
DIMENSÕES – 1.318X885 mm
DIMENSÕES – 1.350X2.150 mm
DIMENSÕES – 1.500X2.940mm
DIMENSÕES – 1.023X850 mm
DIMENSÕES 290X430 mm
DIMENSÕES – 1.145X2.180 mm
MAPA HOLANDÊS
113
DIMENSÕES – 744X990 mm
DIMENSÕES 370X545 mm
DIMENSÕES 850X710 mm
DIMENSÕES 681X958 mm
MAPA HOLANDÊS
122
DIMENSÕES 950X840 mm
DIMENSÕES 270X380 mm
DIMENSÕES 277X394 mm
125
DIMENSÕES 396X479 mm
DIMENSÕES 880X435 mm
MAPA HOLANDÊS
132
MAPA HOLANDÊS
133
RFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
Lisboa 1997
1290 – 1699
Donald Wigal
Donald S. Johnson
Juha Nurminen
Sete Mares
Gunter Schilder
1987
136
Exposição
Organização
Infante 94
O que interessa neste caso é como se desenvolveu Angra desde o início até à
carta de 1595 (Linschoten), isto é, durante cerca de cento e cinquenta anos, ou pelo
menos, o que será lógico em termos de urbanismo e planeamento, se o houve durante
este período.
O seu núcleo inicial terá sido semelhante ao da cultura das cidades medievais,
num alto, com água abundante e potável e com terrenos de cultivo muito perto. Esse
lugar seria as faldas de um outeiro que se chamaria “Lugar do Outeiro” e onde
construíram no início um castelo com certeza rudimentar, que mais tarde foi
remodelado e fortificado, para a sua defesa, e se chamou Castelo de S. Luís, local onde
hoje está implantado a Memória a D. Pedro IV.
A ligação deste povoado inicial com o cais era fácil, rápida e segura, através das
linhas de menor declive do terreno, como se faziam as estradas até há bem poucos
anos em Portugal, e seria pelas ruas de Santo Espírito, Garoupinha, Frei Diogo das
Chagas e Pisão desembocando no lugar do Outeiro, sendo este o primeiro eixo viário.
Como todos os povoados portugueses que, com o tempo, foram descendo para
as margens dos rios, aqui foi-se descendo para a beira-mar.
O centro da bacia hidrográfica que constitui Angra é a Praça, que deveria ser
um pântano segundo as testemunhas mais antigas e a tradição, face à quantidade de
água da chuva e da ribeira que lá se depositava e que depois iria correr naturalmente
139
para o mar, pântano esse que foi drenado convenientemente, possivelmente logo
após o início do povoamento.
Neste momento, estamos numa fixação por via popular já com centenas de
anos de experiência, a que se vai seguir o desenvolvimento da cidade por via erudita, a
das cidades medievais planeadas, mas sempre tendo em a atenção a topografia do
terreno.
Mas não há dúvida, de que a partir dos fins do século XV e princípios do XVI,
começam a aparecer tratados Italianos e não só sobre a matéria, como “De
Aedificatoria” de Alberti de 1450, “Tratado de Arquitetura Civil e Militar” de Giorgi
Martini de 1496, Tratado de Arquitetura” de Serlio de 1537, Tratado de Sagredo,
“Método das Fortificações” de Durer e talvez o mais importante, a descoberta, cerca
de 1412, dos dez livros de Arquitetura de Vitrúvio. Toda esta literatura vai ajudar na
renovação e conceção das cidades portuguesas, nomeadamente as que se vão
construir de raiz no ultramar (Madeira, Açores, Brasil, África etc.), estando Angra
incluída.
140
Angra vai sofrer ao longo dos anos, vários níveis de intervenção, desde o núcleo
inicial do Lugar do Outeiro e Castelo de S. Luís, até à urbanização ortogonal da zona
junto ao 2º eixo viário e a baía.
Assim esta particularidade topográfica vai dar uma ajuda ao traçado de Angra,
já que o seu terceiro eixo, agora um dos principais, vai-se prolongar naturalmente para
nascente até S. Bento e para poente até S. Pedro.
O início do povoamento de Angra que começou, como já foi referido, por via
popular, vai ter continuidade, por via erudita e cultural, de uma cidade do
Renascimento.
A própria “igreja” como entidade aglutinadora, deve ter dado o seu contributo,
com a implantação das igrejas paroquiais, ermidas, conventos e não só, que eram
centros dinamizadores de construção em seu redor, de que são exemplos os bairros de
S. Pedro, Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição e S. Bento.
reais do princípio do século XVI, projetava cidades de raiz, para as designadas Índias de
Castela a partir de determinada dimensão e importância, pois existe documentação e
desenhos que comprovam esses trabalhos de engenharia e arquitetura.
A partir do segundo e terceiro eixos viários, ruas, Direita, Praça e Sé, começou a
implantação da futura cidade, com cinco bairros que vão constituir os vértices de uma
estrela, com centro nestas duas ruas ortogonais, a saber, S. Pedro, Santa Luzia com
Outeiro incluído, S. Bento, Conceição com o Corpo Santo zona dos homens ligados ao
mar incluído, zona da Rocha incluindo os finais das ruas de Jesus, Canos Verdes,
Recreio dos Artistas, isto é, a zona de influência do primitivo Colégio dos Jesuítas.
Mas o fato mais importante é que Angra nos finais do século XVI, quando
Linschoten esteve durante cerca de dois anos e meio nesta cidade, vai manter-se
praticamente inalterável até aos nossos dias. Isto é, durante cerca de 470 anos vão
dar-se algumas correções, com mais algumas construções, com alguns desvios é certo,
mas porém, o seu urbanismo inicial e os seus eixos viários vão manter-se até o
terramoto de 1980.
143
ZONA OCIDENTAL
144
ZONA ORIENTAL
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O Urbanismo Português.
Livros Horizonte.
Angra do Heroísmo.
Inicialmente a planta das cidades, se assim lhes podemos designar, não eram
executadas por cartógrafos, mas sim por pintores, tendo passado a serem executadas
a partir do século quinze por mestres de cartografia.
As distâncias da estação aos pontos, e entre estes, eram efetuados com cadeia,
a designada “cadeia do agrimensor”, que era composta por um determinado número
de troços de arame de ferro ou elos de fio de aço, ligados entre si por argolas do
mesmo metal e terminando por dois punhos. As alturas eram, sempre que necessário,
também medidas com a cadeia.
Podemos dizer que era uma combinação de uma base métrica bidimensional, a
planta, com alçado construído em perspetiva.
Destas três a que foi utilizada para o desenho da carta foi a isométrica, por ser
a mais fácil e rápida, que não é mais do que representar num plano, as três dimensões
(comprimento, largura e altura), o que nos dará a imagem do que se passa no terreno.
A perspetiva tem sempre três direções e três medidas, as direções definidas são
as designadas direções axonométricas e as linhas que são paralelas são designadas por
linhas axonométricas.
Como já foi referido, a perspetiva com que foi desenhada a carta tem a
vantagem de qualquer observador perceber rapidamente as ruas, os edifícios, etc. Não
é necessário ser especialista ou ter formação específica para efetuar a sua leitura.
Por outro lado, tem o inconveniente, como no caso dos comprimentos. Ficam
deformados, podendo ser observado pelas dimensões dos telhados relativamente aos
alçados das casas, quando estas nos aparecem de perfil, isto é o alçado lateral virado
para o observador, sendo este pormenor facilmente comprovado por uma consulta
cuidadosa da carta.
148
No entanto, as larguras das ruas, na sua relação entre si, são as atuais, como
podemos constatar facilmente.
Efetuando a sua medida numa carta atual de Angra á escala 1:1.000, o que quer
dizer que são aproximadas e não rigorosas, teremos para a largura das mais
representativas:
Rua da Sé 11,00 m, Rua de Santo Espírito 5,5m, Rua Direita 12,0m, Rua de S.
João 11,0 m, Rua da Palha 7,0 m, Rua dos Salinas7,0m, Rua da Rosa 6,0 m.
Não há dúvida de que a precisão da perspetiva utilizada nos sugere que o autor
ou autores da carta, era um grande artista, conhecedor das técnicas do desenho à mão
livre e esboços panorâmicos.
A partir desta fase em que o desenho está completo, passa ao gravador que vai
passar o desenho gravando-a em chapa de cobre.
A fase final é com o editor, que vai imprimir em número limitado neste nosso
caso, a quantidade de cartas. Do exemplar a preto e branco de que temos cópia, foram
impressas trezentos e cinquenta e umas unidades.
150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2º Volume – 1965.
Tome I.
Universidade de Valencia.
Instruments of Science.
An Historical Encyclopedia.
Plantas em perspetiva: Lisboa 1593; Braga 1594; Coimbra ??; Goa 1595;
Restituição da Bahia 1631; Salvador 1671.
Volume IV
Gunter Scilder.
155
“Esta é Angra, rica em povo, refúgio dos agricultores que, com os bois, lavram
os férteis montes da Terceira.
PHoogerb (2)
As armas reais aqui consagradas na carta são do reinado de D. João III e foram
utilizadas de 1521 a 1578.
157
A encimar o escudo está colocada, por ordem de D. Manuel I, uma coroa real
aberta, que quer simbolizar a autoridade régia e a centralização do Estado que ele
tanto pugnou por levar a cabo.
Existem muitas teorias sobre a existência destes castelos, dado que o seu
número foi variável ao longo do tempo, tendo-se fixado em sete nesta altura, como já
foi referido. Tradicionalmente representam a vitória dos portugueses sobre os seus
inimigos. Também podem simbolizar a conquista do “Reino dos Algarves”, com os sete
castelos conquistados neste reino, não havendo contudo consenso por parte dos
historiadores relativamente à sua identificação.
Cabeça de anjo, que tem entre os lábios um fio que segura um escudo
retangular, com a parte inferior em meio círculo que termina ligeiramente em cunha, o
escudo português. O escudo tem o fundo vermelho com a palavra AÇOR, “ accipiter
gentilis” em cima à direita. A ave de rapina que está representada é, efetivamente um
açor, como mostram o desenho das penas e principalmente o feitio da cauda que é
reta. (5) Para confirmar que se trata de um açor que está representado na gravura, a
ave tem nas patas os “piós”, correias com cerca de 20 cm de comprimento, colocadas
em volta dos “sancos” para as sujeitar ao punho, ou, em ligação com o “tornel” e a
“avessada”, às “alcandoras” e a os “bancos”. Estas aves, quando em voo
completamente livre, levam os seus piós, flutuando no ar totalmente desembaraçados.
Por esta descrição chegámos sem dúvida à conclusão que a ave representada é de
Cetraria, que é a designação para um aforma de caça. (6)
Então como explicar este nome para designar o arquipélago, quando todos os
cronistas que escreveram sobre os Açores, começando com “A descrição das Ilhas
Atlânticas” de Valentim Fernandes, (Alemão) de 1507; “Itinerário” de Linschoten de
1595 disseram que as ilhas se encontravam despovoadas e cheia de açores pelo qual
ficou este nome. A primeira cartela da carta de Angra, diz que as ilhas se assemelham a
falcões, outra ave de rapina, que me leva a concluir que, devido à situação e perfil visto
do mar das ilhas, os marinheiros deram-lhe esta designação, e não às aves de rapina
existentes.
A sua importância é tal, que é um dos eleitos para estar presente na lenta e
prolongada agonia de Filipe II de Espanha, que aconteceu em 13 de Setembro de 1598.
Pode dizer-se que foi um dos privados deste Rei.(9)
Foi por três vezes Vice-Rei de Portugal tendo sido em 1598 distinguido por
Filipe III de Espanha com o título de 1º Marquês de Castelo Rodrigo. Após a
restauração da independência de Portugal, esta família fixou-se em Itália onde ainda
hoje existem descendentes, sendo o décimo sétimo Marquês de Castelo Rodrigo,
Carlos Ernesto Balbo Bertone conte di Sambuy, duque de Nochera.
A razão pela qual o seu Brasão de Armas aparece nesta carta de Linschoten,
reside no fato de D. Cristóvão de Moura e Távora ter casado com D.ª Margarida Corte
162
Real, herdeira da Capitania de Angra, na Ilha Terceira, dos Açores, por morte de seu pai
Vasco Annes Corte Real e de sua mãe filha do Capitão dos Ginetes da Ilha de S. Miguel.
Esta herança é-lhe devida, porque o seu irmão morreu na campanha de Alcácer Quibir,
não tendo deixado descendentes.
Um dos primeiros capitães donatário de Angra é João Vaz Corte Real que
desembarca em Angra em 1474, com sua mulher D.ª Maria Abarca fidalga de Ponte da
Barca, tendo esta capitania lhe sido concedida pela Infanta Dona Beatriz. Executou em
Angra obras muito importantes e tão rápidas, que seis anos depois é elevada a Vila isto
é em 1480 e em 22 de Agosto de 1534 ascende a cidade sendo a primeira dos Açores.
Todo este trabalho é devido ao seu esforço e também se lhe deve a fixação de muitos
nobres, que com os seus criados e suas famílias, provocaram um surto de construções.
Assim se instituíram as primeiras casas vinculadas dos Açores.
Este casal teve entre outros filhos, dois que se notabilizaram: Gaspar e Miguel
Corte Real, grandes navegadores nas rotas da América do Norte e Canadá, como hoje
está perfeitamente provado e documentado.
Por este casamento, D. Cristóvão de Moura e Távora vai tomar posse das
capitanias de Angra e S. Jorge e do solar do Capitão Donatário, que fica situado na rua
que ainda hoje é designada pela rua do Marquês em sua homenagem. Quando foi
nomeado pela primeira vez Vice-Rei de Portugal, o rei Filipe II de Espanha em 1581
doou-lhe a capitania da Praia, tendo na mesma altura confirmado as capitanias de
Angra e de S. Jorge, ficando assim as ilhas Terceira e S. Jorge com o mesmo Capitão
Donatário. Após 1641, temos noticias veiculadas pelo Padre António Cordeiro, que
várias casas de nobres partidários do Rei Filipe IV de Espanha foram saqueadas,
durante as tentativas para tomar o castelo de S. Filipe, não constando dessa relação a
casa do Marquês. Não sabemos até hoje o que sucedeu ao referido palácio, pois as
dimensões da casa que lá existe, não está de acordo com a gravura da carta.
Apesar de várias tentativas para obter mais informações sobre este gravador e
eventualmente a sua família, não foi possível, inclusivamente as datas de nascimento e
morte são várias as encontradas. No entanto deve ter nascido por volta de 1560 e
morrido por volta de 1630.
164
7 – Rosa-dos-ventos.
e a sua divisão até aos trinta e dois, como está a desenhada na carta de 1595. Os
quatro ventos inteiros passaram a designar-se norte, sul (meio-dia), este (manhã),
oeste (tarde), e os quatro meios-ventos composto com estes nomes. Na Idade Média
com a introdução da agulha magnética que passa a ser utilizada regularmente desde a
terceira cruzada, nos fins do século XII, que passamos a ter não a direção dos ventos
mas sim uma orientação por pontos cardeais. A rosa-dos-ventos surge nos fins do
século XIII nas cartas náuticas do Mediterrâneo, nas designadas cartas portulanos. Para
termos a divisão da rosa-dos-ventos em graus vamos ter de esperar até ao século XIX.
Os pontos cardeais são; norte (0 graus de azimute), Sul (180 graus), Este ou
Leste (90graus), Oeste (270 graus). Os pontos colaterais são; nordeste (45 graus),
sudeste (135 graus), sudoeste (225 graus), noroeste (315 graus). Os pontos
subcolaterais são; norte-nordeste (22,5 graus),este–nordeste (67,5 graus), este-
sudeste (112,5 graus), sul-sudeste (157,5 graus), sul-sudoeste (247,5 graus), oeste-
noroeste (292,5 graus),norte-noroeste (337,5 graus).
relacioná-las com algum cartógrafo da época. Como Bartolomeu Lasso, cujas cartas se
podem ver na introdução ao volume III da referida “Monumenta”, e que foram
largamente utilizadas por Plancius e Linschoten e pelos seus editores no Itinerário.
Uma das que encontrei com alguma semelhança, é a que está inserida no canto
superior direito do mapa da Ilha Terceira da carta “Cassiterides Insulae vulgo Asores”
(Petrus Plancius, 1592) atribuída a Anónimo – Luis Teixeira, carta gravada da Ilha
Terceira editada por Ortélio em 1582. Uma cópia desta carta da Ilha terceira, está
inserida no anexo dos “Apontamentos sobre o Itinerário, Viagem ou Navegação para
as Índias Orientais ou Portuguesas” da Monumenta Cartográfica, com as gravuras dos
Açores. Outra, esta agora ainda mais semelhante, foi a utilizada pela dupla Peter
Plancius e Nicolas Cornelis Claesz de 1594, nos seus trabalhos, cuja imagem se poderá
ver no fim deste capítulo. O editor do Itinerário foi Nicolas Cornelis Claesz.
PHoogerb (2)
NOTAS
de que nessa época, os perigos de viajar entre Lisboa e Angra eram enormes, como é
testemunho o “Itinerário”.
BILIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Gunter Schilder.
174
A flora das Ilhas dos Açores à data do povoamento, é semelhante à das Ilhas da
Madeira, Canárias, Cabo Verde e parte da costa ocidental de África, a este conjunto
convencionou-se designar por Macaronésia. Esta designação foi utilizada pela primeira
vez pelo botânico Inglês Philip Baker em 1860. (1)
Nas zonas de cota mais baixa, onde são possíveis culturas de vegetais, cereais e
árvores de fruto, etc. Os terrenos já foram limpos das pedras vulcânicas e foi efetuada
a sua arrumação em paredes, que também serviam para a divisão de propriedades.
A repetição de desenhos sugere ser um código das diversas culturas que seria
possível semear e plantar ao longo do ano, com algumas curiosidades como os
terrenos anexos ao Convento de Nossa Senhora da Esperança e a outros, em que
aparecem árvores desenhadas que parecem de fruto, melhor diria citrinos, laranjas,
limões, etc. Este citrinos teriam grande utilização no tratamento e prevenção de todas
as doenças, devidas ao grande espaço de tempo que as tripulações e viajantes
permaneciam no mar, e como exemplo podemos mencionar o escorbuto devido à falta
de mantimentos frescos.
Nas zonas periféricas à cidade representadas para cotas baixas, as culturas mais
utilizadas deveriam ser o trigo para consumo local e para abastecer as Praças do Norte
de África, o pastel e a urzela, que são plantas tintureiras de que se fazia grande
exportação para os países do norte da Europa. Um dos ciclos produtivos dos açores
são as plantas tintureiras, encontramos muitos relatos com descrições deste cultivo,
das suas exportações e dos barcos de várias nacionalidades, que iam de propósito
efetuar os seus carregamentos às diversas ilhas.
Nas zonas periféricas da carta, os cimos dos montes, estão sem vegetação
representada, o que indica que, a partir de determinada altitude, só mato rasteiro é
que conseguia sobreviver, devido ao rigor do clima, principalmente dos ventos do
oeste. Entre os montes e as serras, isto é nos vales e nos talvegues, tem desenhado
vegetação com três espécies de árvores. Além disso, aparecem representadas espécies
arbóreas com simetria, aparentemente já plantadas pelos povoadores, possivelmente
com variedades que seriam necessárias para a construção civil, construção e reparação
de embarcações nos estaleiros da baía de Angra. As zonas que aparecem na carta com
esta vegetação, são as da Terra Chã e Posto Santo, onde tradicionalmente existiam
lenhadores e serradores.
Toda esta vegetação arbórea está hoje praticamente extinta. Resta-nos alguns
poucos espaços no interior da ilha, a maior parte dos casos não protegidos, onde ainda
se podem ver algumas destas espécies. Em quase todas as ilhas dos Açores existem
jardins exóticos com árvores de todos os recantos do mundo, algumas delas espécies
raras que são orgulho das populações locais, no entanto as espécies autóctones
ninguém as conhece. Seria útil e conveniente, mostrar principalmente à juventude
como seriam as ilhas á data da chegada dos primeiros povoadores. De aqui deixo o
meu apelo às entidades responsáveis como já o fiz de outras formas.
NOTAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
azenhas, necessários à trituração dos cereais de que a ilha é fértil e que também
importa em grandes quantidades das outras ilhas. São estes cereais que vão ser
importantes para a manutenção das Praças do norte de África.
Com Álvaro Martins Homem, a ribeira vai ser desviada e canalizada. A partir do
Terreiro de S. João de Deus, é desviada para as ruas, S. João de Deus, Pisão, Frei Diogo
das Chagas, Ladeira de S. Francisco, lado nascente da Praça, seguindo a partir de aqui
pelo logradouro das ruas, Direita, Santo Espirito, Baixinha, indo desaguar junto ao caís
da cidade, onde hoje se situa aproximadamente a porta da entrada da moagem da
família Homem Simões, trajeto desenhado a azul-escuro na planta topográfica. A praça
é convenientemente drenada do manancial de água e lodo que aí se acumulava, sendo
canalizado para a ribeira, transformando o lugar numa Praça e centro principal da
futura cidade
NOTAS
PLANTA TOPOGRÁFICA
RIBEIRA NOS LOGRADOUROS DAS CASAS DAS RUAS DIREITA E SANTO ESPIRITO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
História Insulana.
Se a modelação para a largura dos lotes fosse 28 palmos, daria para 14,9 casas.
Comprimento, 43,5 m.
Comprimento, 63,0 m.
Comprimento, 43,5 m.
Comprimento, 56,5 m.
Comprimento, 45,5 m.
Comprimento,49,0 m.
Carta de 1595, 9 casas.
Planta atual, 5 casas.
Modelação 28 palmos, 8 casas.
Nesta fachada a diferença é devida a que dois lotes ainda estão por construir.
CONCLUSÕES
Nos casos em que as diferenças foram de três ou mais casas, indiquei quais as
razões, porque, em minha opinião, elas aconteceram, ficando expressas no estudo dos
quarteirões.
Sendo razoável a diferença até duas casas, isso representa uma percentagem
de 78,5 %, podendo afirmar que, efetivamente, existe uma concordância quase total
nos quarteirões estudados entre a carta de 1595 e a atualidade, isto é cerca dos anos
sessenta do século XX. Julgo que posso inferir estes resultados para toda a carta e
sendo assim, as casas desenhadas na carta de 1595 não são pura fantasia mas sim a
realidade de Angra no fim do século XVI.
Outra prova eventual, de que esta carta traduz realmente Angra em 1595, é a
que consta dos “Anais da Ilha Terceira”, volume I, a páginas 365 e seguintes. Em 1583,
após a conquista da Terceira pelas tropas Espanholas do Marquês de Santa Cruz isto é
D. Álvaro de Bassam, ficou como Governador o Mestre de Campo General João D’
Horbina. Um dos seus primeiros atos mais conhecidos, foi o de colocar, por provisão
de 14 de Setembro de 1583, um imposto de 200 cruzados aos moradores do concelho
para alojamento dos soldados da guarnição, que já não cabiam nas casas dos cidadãos.
Com certeza que o governador não ignorava as duas cartas da Ilha Terceira de
Luís Teixeira a de 1582 e a de 1587, pois esta última tinha sido executada já ele era
governador da Terceira e continha um pormenor muito importante: localizava a zona
de desembarque das tropas do Marquês de Santa Cruz onde ele também vinha
incorporado.
A conclusão a que chego é a de que o governador não lhe pediu para executar
uma carta da Terceira, mas sim de Angra, ou melhor, Linschoten deveria ter
conhecimento desta carta já executada por Luís Teixeira, na sua estada em Angra para
executar as diversas cartas das ilhas dos Açores. Assim satisfazia o desejo do
governador, que queria ter uma carta da cidade, para a ter devidamente controlada
para fins militares e fins fiscais e para saber quantos moradores tinha para arrecadar
os impostos.
Deste modo julgo ser mais uma prova de que a carta é fiel à realidade e,
efetivamente, retrata Angra como era na década de 80 de século XVI.
205
QUARTEIRÕES 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 8
QUARTEIRÕES 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 8
208
QUARTEIRÕES 4 e 9
QUARTEIRÕES 4 e 9
209
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Possivelmente uma das razões, de quase não existir nenhuma alteração deve-
se ao fato de a população se ter mantido estável ao longo destes quatro séculos e
meio. Não houve, por essa razão, necessidade de abrir novas ruas, pelo que as
construções que se foram fazendo se limitaram a ocupar os lotes não ocupados nas
ruas existentes.
No entanto, o núcleo central, que vai desde a Rua de Santo Espírito a nascente,
até ao Alto das Covas a poente, e da beira-mar a sul, até à Igreja do Colégio a norte,
não mostra, através da regularidade e perpendicularidade das suas ruas, nenhuma
alteração até os nossos dias, altura em que a urbanização do Largo do Colégio atual,
onde se situava o edifício dos estudos dos Jesuítas foi efetuada. Antes disso, a
adaptação das construções religiosas a outros fins, provocou algumas alterações, mas
não do ponto de vista urbanístico.
Os outros polos, como S. Pedro, Santa luzia, Conceição / Corpo Santo, S. Bento
sofrem algumas alterações, mas a matriz inicial mantém-se.
A designação das ruas é feita ao longo dos tempos pelas populações, pois só
estas são capazes de lhes dar nomes definitivos. Na verdade, quando as designações
são dadas por via oficial, rapidamente desaparecem. Muitas vezes, nem duram uma
geração, como temos muitos exemplos recentes. Como diria o poeta “mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades”.
Angra não escapa a esta regra, e se no que toca a alguns nomes, facilmente
sabemos a razão da sua escolha. Como exemplo, temos as ruas de Cima, do Meio, de
Baixo, Direita, S. João, Jesus, Marquês, etc. Quanto a outras, é mais difícil atualmente
descortinar a razão do seu nome. Como exemplos temos, Queimada, Galo, Salinas, etc.
Felizmente que a maior parte das Câmaras está a voltar a designar oficialmente as
ruas, pelos nomes por que são conhecidas, reconhecendo como efémeras estas
decisões. Em Angra, está-se voltando a dar nome às ruas como elas eram conhecidas
desde sempre. Espero que o façam na totalidade.
Será um bom exercício tentar encontrar a razão da origem dos nomes das ruas,
que a seguir vou enumerar e localizar na carta de Angra de 1595, apesar de vários
autores já terem feito essa tentativa sem a completarem.
As ruas da cidade: de acordo com Frei Diogo das Chagas, no seu livro “Espelho
Cristalino”, no capítulo X, diz que foram mandadas “lajear” ao longo das casas pelo
Corregedor Roque da Silveira. O Padre António Cordeiro, no seu livro “História das
Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental”, ao falar da Rua da Palha diz que era tão
“ladrilhada e direita como as suas paralelas, a do Espírito Santo, a Direita e a de S.
João”. Julgo que este “lajear” será o que ainda subsiste em meia dúzia de metros
quadrados no acesso ao Fanal, onde ainda há cerca de 50 anos toda esta rua desde o
214
Caminho Novo estava com este tipo de pavimentação. Penso que este vestígio é
importante, pois sendo assim, Angra seria uma cidade extremamente cómoda para a
época e os seus habitantes poderiam deslocar-se rapidamente dentro da cidade, a pé
ou em viatura de tração animal.
TOPONIMIA
1 – PRAÇA VELHA.
Também designada por, Santos Cosme e Damião, nome que ainda tinha entre
1586 e 1590; dos Cosme; da Restauração, porque em 1642 foi onde se deram vivas à
restauração na Ilha Terceira e onde também em 1828 à restauração do trono de Dª
Maria II e da carta constitucional; Antiga; dos Touros; Praça (simplesmente).
2 – RUA DA SÉ.
República
6 – RUA DIREITA.
7 – PÁTIO DA ALFÂNDEGA.
8– TRAVESSA DE S. JOÃO
9 - RUA DE S. JOÃO.
Deve o seu nome à ermida existente na esquina poente com a rua da Sé, dedicada
S. João Batista, referenciada na carta de Angra de 1595.
10 – RUA DA ROSA
Conselheiro Dr. Jacinto Cândido da Silva; Vanegas; no seu troço superior que vai da
rua Carreira dos Cavalos até ao convento de S. Gonçalo, João da Silva do Canto,
que vai para as Dadas.
Príncipe de Mónaco.
216
13 – RUA DA PALHA.
16 – RUA DO BARCELOS.
Serpa Pinto.
17 – RUA DE JESUS.
Colégio Velho; Casa e Capela de Nª Sª das Neves. Deve o seu nome, por nela ter
sido instalada pela 1ª vez a Companhia de Jesus (jesuítas), que chegaram a Angra para
fundar o “Colégio” em 31 de Maio de 1570. Vem referenciada na carta de Angra de
1595.
Afonso VI. Deve o seu nome, e tomamos por semelhança com uma rua que
existiu na cidade do Porto, que se chamava dos “Canos” (hoje rua das Flores), por nela
passarem os canos que abasteciam de água potável os conventos de S. Domingos e S.
Francisco. Neste nosso caso, os canos iam abastecer de água o convento dos Jesuítas e
o chafariz, que vem referenciado na carta ao fundo da mesma. O nome de “verdes”, é
devido à acumulação de musgos e fetos nas superfícies exteriores dos canos.
19 – RUA DA OLIVEIRA
Alfândega; Frigideiras.
20 – TRAVESSA DO MOREIRA.
217
Mota.
Estrada de S. Gonçalo.
Cais (simplesmente).
30 – RUA DE S. PEDRO.
31 – PORTÕES DE S. PEDRO.
35 – CANADA DE PENETRAÇÃO.
218
36 – CANADA DE PENETRAÇÃO.
38 – LARGO DO CHAFARIZ.
39 – CAMINHO NOVO.
42 – TRAVESSA DE S. PEDRO.
43 – TRAVESSA DO FANAL.
44 – LARGO DO IMPÉRIO.
45 – TRAVESSA DO COTOVELO.
46 – RUA DA CRUZ.
De Trás. Deve o seu nome ao cruzeiro existente neste local na carta de 1595.
Esta rua foi destruída recentemente. Ainda existem, porém, vestígios à chegada
ao Fanal. A pavimentação está efetuada com grandes calhaus rolados pelo mar. Julgo
que, inicialmente, seria o lajeado de Angra de que falei anteriormente.
50 – RUA DO MARQUÊS.
João Vaz Corte Real; Cortes Reais. Deve o seu nome ao Marquês de Castelo
Rodrigo, D. Cristóvão de Moura e Távora Corte Real, por nela estar situado o seu
palácio (casa do capitão donatário), onde, muito possivelmente, nunca residiu.
52 – RUA DO REGO.
Mouzinho de Albuquerque.
53 – LARGO DO COLÉGIO.
Prior do Crato. Este quarteirão foi demolido para dar lugar ao monumento ao
Prior do Crato. Antes da demolição, existia os “Estudos” do Colégio da Companhia de
Jesus, onde os Jesuítas davam aulas, a Rua dos Estudos e o Pátio dos Estudos.
54 – RUA DO PALÁCIO.
55 – RUA DA ESPERANÇA.
57 – RUA QUEIMADA.
59 – RUA DA BOAVISTA.
Visconde de Bruges.
António C. Castro.
Conde da Praia.
Dr. N. Sampaio. Esta rua dá acesso à Igreja de Santa Luzia e à casa que deu
origem ao palacete do 1º Conde da Praia da Victória, Teotónio de Ornelas Bruges.
67 – RUA DA MIRAGAIA.
68 – CANADA DE PENETRAÇÃO.
69 – BECO DA PEREIRA.
Saco.
70 – RUA DA PEREIRA.
Caminho Fundo.
72 – LARGO DA PEREIRA.
77 – RUA DO DESTERRO.
79 – RUA DO PISÃO.
81 – RUA DA MALAGUETA.
83 – RUA DO OUTEIRO.
Memória; Pisão.
86 – RUA NOVA.
Canada do Barreiro.
91 – CANADA DO BARREIRO.
92 – LADEIRA DE S. FRANCISCO.
Nova; Frades; Carrasco; João de Deus. Rua que liga o Convento e Igreja de S.
Francisco à Praça Velha.
93 – RUA DA GAROUPINHA.
Olaria; Oleiros. Por ser uma rua ligada a olarias, isto é trabalho com barro.
Segundo algumas pessoas, o nome desta rua poderia derivar de habitar nela, alguma
mulher de virtude ou alguma prostituta muito conhecida na Cidade.
94 – RUA PARTICULAR.
Rua de acesso pelas traseiras, às casas das ruas do Galo, Garoupinha e Cruzeiro.
Segundo Pedro de Merelim esta rua foi vedada por deliberação Camarária de
18 de abril de 1849.
96 – RUA DO CRUZEIRO.
Almada.
97 – RUA DO GALO.
97 A – RUA DO MONTURO.
Rua nas traseiras da Câmara atual, encontra-se vedada e dela existem apenas
alguns vestígios.
223
98 – RUA DA CONCEIÇÃO.
S. Bento.
108 – CARREINHA.
João Coelho
Rocha Ferreira.
Barreiro.
Bernardino Machado.
Castelinho.
Como julgo que ficou demonstrado, todas as ruas existentes na carta de Angra
de 1595, são as mesmas até à década de cinquenta do século XX. Quer dizer que Angra
no século XVI já era uma grande cidade, e atrevo-me a dizer que seria talvez a segunda
do País, comparando-a com a cidade do Porto que é considerada como sendo a
segunda. Como alguém escreveu nessa época, “Angra era uma Lisboa pequena”.
Angra é Vila e Cidade com foral concedido em 21 de Agosto de 1534 por El-Rei
D. João III, devido ao seu grande desenvolvimento comercial e agropecuário como os
dizeres das cartelas da carta e, não só, o atestam. A grande maioria das cidades do
País, nesta altura, é-o pela sua antiguidade, não pelo desenvolvimento comercial e
agropecuário e não tem carta de foral.
Vou concluir, por este simples estudo comparativo, que Angra é no século XVI a
segunda cidade do País, ou pode facilmente emparceirar com a que é considerada
como a segunda.
226
Angra do Heroísmo
Representação da Cidade de Angra, com a sua fortaleza, na Ilha Terceira, a que são
sujeitas todas as outras Ilhas chamadas dos Açores ou Ilhas Flamengas, em virtude de
ali residirem o Bispo, o Governador Régio e o Conselho. Sendo a Ilha Terceira a maior e
a mais rica de todas devido à cultura e comercialização do pastel.
Gravura nº 36
236
CARTA DE ANGRA
Histoire de la navigation
Annotations de B. Palvdanvs
1619
ANGRA QUINHENTISTA
(Francoforte, 1649)
A partir da famosa planta perspetiva de Angra de fins do século XVI conhecida por
carta ou mapa de Linschoten (publicada na História da Navegação) foram saindo logo
no século XVII diversas cópias, uma das quais está inserta na ARCHONTOLOGIA
COSMICA, SIVE IMPERIORVM, REGNORVM, PRINCIPATVM, RERVMQVE PUBLICARVM
omnium per totum Terrarum Orbem (…) commentarii luculentissimi, quibus cum ipsae
regiones, earumque, primo opera E studio Jo Ludovici Gotofredi, Franfurti, sumptibus
Mathaei Meriani, anno MDCXLIX.
Pela obra de Silveira o presente ícone no seu original tem as seguintes dimensões:
Dimensão da mancha: 325X211mm. Dimensão externa: 380X340mm.
NOTAS ESCLARECEDORAS
2 – Quanto á tradução das legendas da carta remeto o leitor para o capítulo “VI –
Tradução e interpretação das cartelas”, neste trabalho. Julgo ser esclarecedor, quanto
a “quem fez e o que fez”.
239
ARCHONLOGIE COSMICA
1649
GRAVURA DE ANGRA
1671
“Angra”. Ansicht der insel mit Stad vom Meer aus, hubsche Schfftaffage im
Vordergrund. Kupfer aus Manesson-Mallet.1683. Dimen. 145X100 mm
DESCRIPTON DE L’UNIVERS
1683
243
VISTA DE ANGRA
JAN BLOM
Dimensões 560X790 mm
GRAVURA DE ANGRA
GRAVURA DE ANGRA
CARTA DE ANGRA
1805
247
GRAVURA DE ANGRA
1805
248
GRAVURA DE ANGRA
1830
249
“O URBANISMO PORTUGUÊS”
Livros Horizonte
Século XIX
250
“O URBANISMO PORTUGUÊS”
Livros Horizonte
251
PLANTA DE ANGRA
Século XIX
252
CARTA INGLESA
ILHA TERCEIRA
M. COSTENLA – LISBOA
1805
259
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Angra do Heroísmo.
Fotos do autor.
Convento destinado a homens que ficava situado na esquina das ruas da Rocha
e de Jesus e daí o nome da rua.
282
Segundo o Padre Alfredo Lucas, a ermida foi edificada cerca de 1570 por João
da Silva do Canto, antes da vinda dos Padres da Companhia de Jesus.
Não se sabe a data da sua demolição, mas foi de certeza posterior a 1651, que
é a data da transferência da Companhia de Jesus para as suas instalações do novo
Colégio e Igreja anexa. Este novo Convento fica situado no topo norte da rua Direita e
onde se inicia a rua do Marquês, no enfiamento da entrada da baía.
3 – IGREJA DA SÉ.
4 – ERMIDA DE S. João.
5 – IGREJA DA MISERICÓRDIA.
Igreja situada entre as ruas Direita, de Santo Espírito e pátio da Alfândega, com
a orientação nascente/poente.
285
Era provida de três naves e três portais, sendo o alçado principal virado à rua
Direita, por onde se fazia o acesso à mesma. Estava ligada à Ermida de Santo Espírito
anexa ao hospital, por um balcão lateral com escada de acesso a uma passerelle que
passava por cima da rua com o mesmo nome.
Esta igreja estava ligada como o próprio nome indica, à Santa Casa da
Misericórdia, instituída em Angra por João Corte Real por compromisso de 15 de
Março de 1492, sob invocação do Santo Espírito.
Esta ermida ficava situada no cimo da rocha de Cantagalo, na esquina das ruas
do Faleiro e Cardoso, sobranceira à baía de Angra na sua face nascente, com a
orientação nascente/poente.
Era conhecida, também, como ermida dos navegantes ou mareantes, isto é dos
homens ligados ao mar e pertencia à Confraria de S. Pedro Gonçalves.
Vem referenciada na carta de 1595 como o “Corpo Santo”, nome pela qual
sempre foi conhecida e que deu nome ao bairro a ela anexa.
Segundo Pedro de Merelim e o Padre Alfredo Lucas, esta ermida era dedicada à
Nossa Senhora da Boa Viagem, (atualmente existe uma relativamente perto na rua
286
Francisco Ornelas) sendo a sua construção da segunda metade do século XVI e a sua
demolição data de 1928.
Na fotografia que apresento de Angra dos inícios do século XX, ela ainda se
conservava ereta, sendo uma prova de que a sua demolição foi posterior a esta data.
Fica situada no topo poente da rua de S. Pedro (vulgo rua de Cima de S. Pedro),
no seu lado norte, onde se chega através de uma escadaria, com degraus em pedra de
cantaria e patamares em pedra arrumada.
À data da carta de 1595, teria dois acessos, pela escadaria a sul e por uma rua a
poente/norte.
8 – IGREJA DE S. PEDRO.
Igreja situada no topo poente da rua de S. Pedro, na sua face sul, sendo a sua
orientação na carta de 1595 nascente/poente. Esta construção deve ser anterior a
1575, data da sua elevação a freguesia.
Tem como orago, S. Pedro Apóstolo, sendo sede de paróquia, cuja delimitação
é a mesma da freguesia.
A sua orientação era nascente/poente, sendo a entrada lateral pala rua da Sé. A
igreja ocupava a esquina das mencionadas ruas, ocupando a capela-mor o gaveto.
Recentemente, após restauro dos prédios que hoje ocupam a área deste
convento, encontram-se à vista o arco da entrada da capela-mor, as soleiras, as
ombreiras e as padieiras do locutório e das entradas para o coro baixo.
Pela sua situação no centro da cidade, em frente à catedral, numa zona nobre
da cidade em termos de localização e acessos, não se sabe quem foi o seu fundador.
Admite-se que seriam as religiosas e os religiosos de S. Gonçalo e de S. Francisco, mas
de obediência seráfica (não só espiritual, mas também temporal).
No entanto, Alfredo da Silva Sampaio diz que este convento da ordem de Santa
Clara foi fundado por Isabel de Jesus, religiosa do mosteiro de S. João Baptista da Ilha
do Faial.
Esta Ermida ficava situada no topo norte da rua do Palácio, na sua face
nascente, com a orientação nascente/poente.
Provavelmente, é uma das mais antigas de Angra. A sua construção deve estar
situada entre os anos 1530 e 1540, sendo o seu patrocinador Pedro Anes do Canto.
Era conhecida como a ermida dos “pretos”, como existem algumas no Brasil,
imediata a Roma por Bula Apostólica. Eram confrades desta ermida, todos os negros e
negras desta cidade, que efetuavam as suas festas no dia do Pentecostes em louvor do
Espírito Santo.
Ficava situada na rua de Santa Luzia, junto à igreja paroquial atual a sul desta,
com a orientação nascente/poente, com a fachada principal virada à rua.
290
Como possivelmente aconteceu com outras igrejas paroquiais, foi no início uma
ermida construída por João Vaz Meyrelles e sua esposa Catarina Lourenço.
A ermida ficou sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, ainda hoje o mesmo
orago da igreja atual.
13 – ERMIDA DE S. SEBASTIÃO.
Ermida que estava localizada no gaveto das ruas Cruzeiro e Guarita, onde hoje
se situa o largo Dr. Sousa Júnior. A sua orientação, segundo a imagem da carta, era
nascente/sul.
Quanto à data da sua edificação, o Padre Alfredo Lucas diz que deve ter sido à
volta de 1550, sem no entanto fundamentar esta data.
Ermida situada no gaveto das ruas Professor Augusto Monjardino e Dr. Aníbal
Bettencourt, sendo a sua orientação à data da carta nascente/poente. Atualmente é
norte/sul ficando a fachada principal virada à rua, isto é a sul.
A imagem que está na carta de 1595, não tem no cimo uma cruz a indicar que
se trata de uma ermida, mas, pela localização, sabemos que nesta altura existia no
local uma ermida. Segundo nos relata Francisco Ferreira Drumond, baseado no Padre
Luis Maldonado, ela foi reedificada em 1600, que prova a sua existência. Qual então a
data da sua construção? Possivelmente cerca de 1550, pois em 1564 ocorreram fatos
junto a esta ermida que novamente comprovam a sua existência.
Foi promovida a paróquia em 1553 por alvará régio de D. João III. Devido a
estas datas, somos levados a concluir ser esta uma das mais antigas igrejas de Angra.
Segundo o Dr. Jorge Pamplona Forjaz o ramo primogénito desta família, está
completamente extinto na Ilha Terceira. A construção da primitiva ermida em 1540
deve-se a António Pires do Canto, filho primogénito de Pedro Anes do Canto, que o
declara nas suas “Memórias”.
será a data indicada por António Pires do Canto, por ser fornecida por quem é, e por
situar-se na média das outras duas.
Ermida que ficava situada no fim da rua Direita, início da rua do Marquês, no
lado poente das mesmas, onde hoje está localizada a Igreja do Colégio, sendo a sua
orientação nascente/poente.
Foi mandada edificar por António Pires do Canto em 1560, sendo dedicada aos Santos
Cosme e Damião.
Foi demolida provavelmente cerca de 1592, tendo sido transferida para a Praça
Velha, porque o terreno onde estava implantada foi comprado pela Companhia de
Jesus para a construção do Colégio e Igreja.
Mais tarde, o convento foi executado no Alto das Covas com a designação de
Convento de Nossa Senhora da Graça, que existiu quase até aos nossos dias, sendo
demolido já no século XX e em sua substituição construída um agrupamento de escolas
primárias.
Ficava situada onde hoje é o Largo de São lázaro. Pela imagem da carta teria a
orientação nascente/poente.
296
Não se sabe a data da sua construção, mas terá sido cerca de 1500,
desconhecendo-se a data da sua demolição. No entanto, Ferreira Drumond diz que em
1809 ela já não existia. Mas Pedro de Merelim diz que a Câmara de Angra, ainda
pagava em 1817 parte das despesas com o hospital.
Atualmente existe uma ermida no mesmo local com a orientação sul/norte, isto
é, com a fachada principal virada ao Largo. O padroeiro é São Lázaro.
Pela imagem da carta e pela sua orientação atual esta igreja não deve ter
sofrido grandes modificações ao longo dos tempos. De fato, mantêm-se as suas
caraterísticas, quer a nível das fachadas, quer da cobertura e torre sineira, não sendo
conhecida a data da sua construção.
Deve ser também das mais antigas de Angra, pois deve ser do tempo da
construção do hospital que lhe ficava anexo. Como sabemos, este hospital deve ter
sido construído logo no início do povoamento, com o fim de tratar as tripulações que
vinham doentes nas embarcações que demandavam o porto.
Pela imagem da carta estava também ligada à igreja da Misericórdia por uma
passerelle, possivelmente para levar a enterrar os defuntos do hospital. Nas obras de
reconstrução da igreja foram encontradas várias ossadas no seu pavimento.
3 – IGREJA DA SÉ
3 – IGREJA DA SÉ
304
5 – IGREJA DA MISERICÓRDIA
305
5 – IGREJA DA MISERICÓRDIA
8 – IGREJA DE S. PEDRO
308
8 – IGREJA DE S. PEDRO
ARCO DA CAPELA-MOR
309
19 – ERMIDA DE S. LÁZARO
318
20 – IGREJA DE S. BENTO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Pedro de Merelim.
Pedro de Merelim.
I.H.I.T. – 1996.
321
Valdemar Mota
Segundo vários autores entre os quais Moisés Espírito Santo, estas construções
nestes lugares são comuns a todos os povos, representando uma proteção aos
povoados e cidades, encontrando-se estrategicamente localizados, isto é, eram zonas
em que era necessária uma proteção divina, independente da religião professada.
1 – LARGO DO FANAL.
Protegia toda a zona do Fanal que era muito importante do ponto de vista
militar, e a parte sul/poente do bairro de S. Pedro, que fica entre o Alto das Covas e os
portões de S. Pedro. Este cruzeiro deu o nome à rua que ficava junto a ele, que ainda
hoje perdura e se designa por “Rua da Cruz”.
2 – RUA DE S.PEDRO.
3 – RUA DA ROCHA.
Estava situado no Alto das Covas, numa espécie de adro ou pelo menos numa
zona elevada relativamente à rua. Protegia o centro da cidade, desde os bairros de S.
Pedro, Santa Luzia, até à rua de S. João.
5 – PRAÇA VELHA.
6 – LARGO DO CRUZEIRO.
9 – CONVENTO DE S. GONÇALO.
ainda nos faltam quatro estações, que, (ou não foram construídas que seria o mais
lógico), ou não estão representadas na carta. Mas é minha opinião de que seriam
cruzeiros de proteção à cidade e não estações da Via Sacra. Até porque o lógico seria,
que cada uma das quatro paróquias, na divisão religiosa que compunham a cidade,
fizessem as suas procissões na Quaresma, como ainda se faz atualmente.
329
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Image and Text in the “Itinerário” and the “Icones” of Jan Hyugen van
Linschoten”.
Lisboa 2007.
Volumes nºs 1 e 6.
339
1 – AS CRUZES.
Pela imagem da carta, eram três as Cruzes que constituíam o Calvário, situadas
no cimo de um dos quatro montes que constituem o Monte Brasil, no que fica mais a
norte, sobranceiro à cidade e que, por esse motivo, ainda se designa atualmente por
“Pico das Cruzinhas”, apesar de hoje estar no local implantado um monumento
comemorativo.
Possivelmente seria um projeto para a construção dos Passos da Via Sacra, tal
como existem noutras cidades, nomeadamente em Braga e Congonhas do Campo no
Brasil.
340
Com a união das duas coroas e com a construção do Castelo de São João
Baptista este projeto teria desaparecido.
2 – OS FACHOS
Na carta está desenhada uma espécie de forte ou pequeno castelo, com duas
torres mais altas. No entanto, no Itinerário, Linschoten quando se refere aos fachos,
diz que são dois pequenos pilares de pedra com mastros de várias velas, com um
guarda de vigia permanente. Esse guarda, quando avistava algum navio do poente ou
do sul/nascente, que eram as zonas de onde normalmente vinham as embarcações,
içava uma vela no mastro que ficava do lado de onde vinha o barco. Se avistasse uma
frota com mais de cinco barcos, içava um grande estandarte. Assim com várias
combinações de velas e estandartes, avisava a cidade e as autoridades de quem se
aproximava, para tomarem as devidas precauções, se fosse caso disso.
3 – ALFÂNDEGA.
Ficava situada à entrada da cidade no local que se passou a designar por “Pátio
da Alfândega” junto ao cais. A sua construção era em pedra lavrada da região, que lhe
deveria conferir uma certa imponência.
Segundo nos diz Drumond no seu volume II dos Anais da Ilha Terceira, em 1641
aquando das lutas para a conquista do castelo de S. João Baptista à guarnição
espanhola, que se encontrava lá entrincheirada, esta casa e quintas à volta pertenciam
ao capitão Vital de Bettencor, era irmão do Capitão-Mor de Angra.
Pelas dimensões deveria ser casa de Morgadio. Este capitão seria antepassado
da família Vital de Bettencourt e Vasconcelos, um dos últimos proprietários deste
prédio. Atualmente pertence ao Estado e lá está instalado o “Ministro da República”
para os Açores.
Casa situada onde está instalado o posto de meteorologia, na rua Padre Manuel
Joaquim Máximo.
Palácio situado na atual rua do Marquês, onde a rua inflete à esquerda para
quem sobe na sua face nascente.
Trata-se de uma das construções mais antigas de Angra. Pela imagem da carta
poderemos fazer uma ideia da sua dimensão e grandeza, estando na atualidade
totalmente transformada.
Nos Anais da Ilha Terceira de Ferreira Drumond, volume II, pode encontrar-se
informações sobre o destino dos rendimentos pertencentes a D. Cristóvão de Moura e
Távora, na Terceira, S. Jorge, Pico e Faial, concedidos ao Conde de Vimioso, D. Luís de
Portugal, por alvará de 8 de agosto de1651.
Além disso, foi concedido ao mesmo conde a jurisdição de nomear ouvidor nas
ilhas, como antes era privilégio do Marquês. Quem ficou a administrar na Terceira
estes bens foi Tomé Correia da Costa, Lugar-Tenente de Sua Majestade nestas ilhas,
mas como se encontrava ausente, ficou em seu lugar seu filho Tomé Correia de
Lorvela.
7 – CASA DO GOVERNADOR.
Pela imagem da carta, verificamos que eram um conjunto de quatro casas, que
foram alteradas ao longo dos tempos. Deviam começar junto ao jardim público de
Angra, e compreendiam os edifícios onde está a mini hídrica, e onde está o “Clube
Musical Angrense, encostando à casa que está em ruínas denominada dos
“Pamplonas”, porque esta foi construída no logradouro do palácio do Donatário, após
ter sido confiscado na década de quarenta do século XVII.
345
Deveria ter sido construída nos inícios do povoamento, ao cimo da rua direita
em ligação com o cais.
Esta casa será ou o palacete atual dos Baldaias, ou onde está instalado o
Seminário de Angra, que, anteriormente, era a casa pertencente ao Barão do Ramalho,
que foi demolida para dar lugar à nova construção. Deveria ser casa de Morgadio, pela
sua localização em frente à Ermida da Natividade. A minha opinião é que a segunda
hipótese é a mais lógica.
347
Pela imagem da carta, trata-se de uma casa de rés-do-chão e andar com boa
dimensão, pois distingue-se perfeitamente das que lhe estão junto, anexa ao mosteiro
da Esperança, mas individualizada deste.
13 – HOSPITAL DA MISERICÓRDIA.
Pela imagem da carta deveria tratar-se de algumas casas e não uma só, onde hoje está
instalada a Guarda Nacional Republicana. Sabemos a data da sua fundação (quinze
março de 1492) sob a evocação do Espírito Santo.
O hospital foi essencialmente criado para dar apoio às frotas e armadas das
descobertas, e da carreira das Índias, pois normalmente traziam tripulação e
passageiros atacados com várias doenças, devido aos longos meses de permanência no
mar. Entre as várias doenças destacamos o escorbuto, provocado pela falta de
comestíveis com vitamina “C”, como os vegetais frescos e citrinos. Além desta função,
o hospital dava acolhimento aos muitos doentes e pobres da ilha.
Como o Dr. Álvaro Monjardino lhe chamou, com muita propriedade, seria o
“Hospital das Descobertas”
Ficava situada onde está hoje a Ermida de Santo António na encosta nascente
do Monte Brasil, sobranceira à baía de Angra.
350
(Com a imagem da carta e de acordo com o que diz Ferreira Drumond no seu
volume I dos Anais da Ilha Terceira). Após a saída do Marquês de Santa Cruz e já como
Governador em funções João d’ Horbina, foram sentenciados à morte por
enforcamento, vários cidadãos de Angra na “antiga forca do Monte Brasil”.
Como era normal, os enforcamentos eram um ato público e, como tal, eram
assistidos pela população. A localização da forca neste sítio permitia aos habitantes da
cidade a sua visibilidade, como também para servir de exemplo aos habitantes da
mesma.
Posteriormente, este local foi em data que não consegui localizar, recuperado e
sagrado para o culto religioso como era norma de então, sendo construída uma ermida
de evocação de Santo António.
15 – MATADOURO DA CIDADE.
O matadouro da cidade estava situado na rua Baixinha, nas traseiras onde está
instalada a Guarda Nacional Republicana.
351
Os acessos não estão bem explicitados, mas deveriam ser amplos para
passagem do gado que ia ser abatido. Julgo que deveriam ser pelas ruas Santo Espírito
e Faleiro, pela margem esquerda da ribeira, pois, nessa zona não existiam construções.
Após este estudo das construções que se destacam na carta de Angra de 1595,
verificamos que algumas delas foram a base de futuros palacetes de dimensões
apreciáveis. Outras construções com relevância no século XVI, desapareceram ao
longo dos tempos. Mas a fisionomia da cidade mantem-se, o que é de realçar
considerando-se o grande atrativo que tem esta cidade
352
3 – ALFÂNDEGA
3 - ALFÂNDEGA
357
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
www.cruzado.com.pt
Augusto Gomes.
Pedro de Merelim
Esta água vinha essencialmente da ribeira do lugar da nasce água, que tinha
sido encanada por Álvaro Martins Homem, que fez a sua distribuição pública e privada.
A posse desta água era feita por escritura pública notarial. Estava em “arca” fechada
na nascente e era conduzida por canos de barro de fabrico local até á cidade, onde
depois era distribuída através de pequenas arcas denominadas “arquinhas” para cada
um dos proprietários. Estes canos eram de fabrico artesanal, feitos de um barro muito
poroso, com ligações entre eles muito imperfeitas, que deixavam entrar e sair a água e
outros materiais, ainda podemos ver destes canos no aqueduto na zona de Santa Luzia
perto do terreiro de S. João de Deus. Não tenho fontes bibliográficas onde me apoiar,
mas pela observação no terreno e com plantas topográficas, chego á conclusão de que
também viria água do manancial da “fonte da telha”, que abasteceria as zonas norte e
poente da cidade, possivelmente os chafarizes do alto das covas e rua dos canos
verdes na rocha, pois só assim seria possível do ponto de vista de engenharia
hidráulica. Como é fácil de compreender, havia uma perda de água muito grande no
seu transporte através destes canos.
Gaspar Frutuoso, fala no “Livro Sexto das Saudades da Terra” noutra ribeira, a
do “Telhal”, que nas suas palavras, corre na parte nascente da cidade perto da
freguesia da Conceição. Poderá ser o troço da ribeira já encanada, ou a zona atual da
369
canada do Barreiro. Na minha opinião deve ter havido confusão da sua parte. Há uma
ribeira que passa nos portões de S. Bento, mas não é de água permanente. Diz ainda o
mesmo autor, que a “ribeira” abastece todos os mosteiros e as casas principais da
cidade, totalizando doze chafarizes, não dizendo se são públicos ou privados. Pela
descrição devem ser dos dois tipos, porque este autor é contemporâneo à data da
carta, mas segundo julgo, este nunca esteve na Ilha Terceira.
Na minha opinião faltam três pontos que deveriam ter chafarizes, ou ainda não
tinham sido criados na data de execução da carta mas logo em seguida foram
efetuados, ou houve falta em coloca-los na carta, que são nos portões de S. Pedro e de
S. Bento e no lugar do Chafariz Velho na freguesia de Santa Luzia.
Segundo o Dr. Álvaro Monjardino, a água das bicas como é designada na carta,
provinha de uma fonte própria e não da ribeira, apesar de esta passar muito próxima.
370
Ao longo de toda a costa da Ilha, temos estas fontes de água potável junto ao
mar, em que a maior parte das vezes só aparecem na baixa-mar. Em épocas de seca
eram utilizadas pelas populações para a lavagem de roupa.
Já nos nossos dias foi deslocado para perto do local de onde estava, à entrada
da rua de S. Pedro, à esquerda no sentido nascente/poente. Ainda continua a
funcionar mas com um caudal muito reduzido relativamente ao que tinha antes, e com
água não potável.
Pela sua situação, deveria ser muito importante, pois abastecia o centro da
cidade. Era o único que não ficava adoçado a nenhum imóvel. Pela imagem da carta
deveria ser circular, com pelo menos quatro bicas a correrem de uma taça superior
para um tanque inferior, tendo a encimá-lo uma alegoria, talvez uma ave.
372
Ficava localizado onde hoje é o largo Dr. Sousa Júnior na esquina das ruas do
Cruzeiro e Guarita.
Seria construído um chafariz e um grande tanque anexo, que foi designado por
“Chafariz de El-Rei”, que neste caso seria Filipe II de Espanha, na zona poente/sul do
largo da Boa Nova, no início da subida para a porta dos carros do Castelo.
Como nota final não quero de deixar de referir a belíssima obra de engenharia
hidráulica, que foi o abastecimento de água á cidade. Com os materiais que dispunham
na época, conseguiram rapidamente instalar um sistema de canais e canos em que a
água corria por gravidade, chegando a todos os pontos que eram necessários. De
certeza para a sua execução foram necessários, engenheiros e mestres especializados
nesta área de engenharia.
374
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
XV – DEFESAS DA CIDADE
Todas as ilhas dos Açores foram saqueadas, com episódios muitas vezes
lamentáveis, exceto a ilha Terceira, devido às suas defesas. Se assim não fosse, o
Duque de Alba, D. Fernando Alvarez de Toledo, com a armada espanhola teria, à
primeira tentativa tomado de assalto a ilha. A sua derrota deve-se a essas defesas, à
sua guarnição permanente e à sua população, que pagou bem cara esta sua ousadia.
1 – FORTE DO FANAL.
Segundo Gaspar Frutuoso, estas defesas eram com muro e porta, estando
guarnecida de artilharia. Ainda se podem verificar vestígios do acesso à praia.
Pela imagem da carta, tinha uma porta que lha dava acesso pelo lado do mar e
várias frestas para efetuar a vigia da baía. Ao lado tinha uma construção,
possivelmente para abrigo da guarnição.
Estas muralhas ficavam localizadas entre o início da rua de S. João junto ao mar
e a foz da ribeira, sobranceiras ao cais da cidade.
Esta é a zona mais reentrante da baía de Angra, onde o acesso é mais fácil,
porque, antes e depois destas defesas, a rocha é em arriba muito alta. Tem dois
acessos: o primeiro a nascente pelo Cais, o segundo a poente pela Prainha.
Foi construído a norte da cidade, num local elevado designado por “Outeiro”,
junto ao primeiro povoado que vai dar origem à futura urbe. Trata-se de uma fortaleza
inicialmente rudimentar, que, com o tempo, se vai transformar em castelo. Segundo
alguns historiadores, o fim da sua construção é de 1495 por Pedro Anes Rebelo
provedor das fortificações. Muito mais tarde, por não ter utilização, foi demolida para
dar origem ao monumento a D. Pedro IV, com a designação de “Memória”. O Padre
António Cordeiro diz que em meados do século XIX, já só havia as ruínas deste castelo.
Pedro de Merelim refere que a Rainha Dª Maria II, em 28 de Setembro de 1839, faz a
sua doação à Câmara de Angra para a construção de um passeio público, sendo
demolido, então, o que restava das muralhas.
Pela imagem da carta de 1595, verifica-se que havia uma pequena muralha ou
Forte com um portão que protegia a entrada na cidade. Julgo que a sua principal
função seria cobrar as portagens, para os lavradores que vinham vender os seus
produtos agrícolas, a exemplo das outras cidades portuguesas. Além da muralha com o
portão, temos também uma construção, com certeza, destinada aos funcionários que
estavam de serviço.
Era uma cidade praticamente inexpugnável. Por essa razão nunca foi assaltada,
nem relatos de tentativas encontramos, apesar de os corsários e piratas de todas as
nacionalidades pairarem ao largo, porque tinham prévio conhecimento de que isso era
impossível.
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS.
Álvaro Monjardino.
www.cruzado.com.pt.
Pedro de Merelim.
Lisboa 1997.
Houve realmente muito cuidado, desde o início, em construir estes cais e zonas
acostáveis, como nos dizem os relatos da época e nos indicam as imagens da carta de
1595.
Quanto aos estaleiros, a sua importância era, sem dúvida, essencial, porque se
tornava necessária, a reparação das embarcações que, após as longas travessias e
meses de mar, chegavam muito maltratadas e quase desmanteladas, devido às
tempestades e aos ataques dos piratas e corsários. Além disso, era necessário
construir novas embarcações, quer para o serviço entre ilhas, quer mesmo para
médias travessias, porque possivelmente não teriam capacidade, nem local adequado
para executarem embarcações de grande calado.
1 – PORTO DO FANAL.
Nos séculos XVI e seguintes, o porto e a praia do Fanal tinham uma certa
importância, porque quando o vento e o mar estavam do sul ou sudeste, constituíam a
zona abrigada da cidade, o que permitia às embarcações efetuarem os seus trabalhos.
Mais tarde, já quase nos nossos dias, isto é, finais do século dezanove, princípio do
vinte, perdeu essa importância, devido à construção do cais da Silveira, situado a
seguir aos portões de S. Pedro, e os portos de Ponta Delgada e Horta.
Julgo que esta zona não deveria dispor de um porto no verdadeiro sentido da
palavra, mas sim de um varadouro e de uma praia que permitissem o movimento dos
barcos e o seu trabalho de cargas e descargas.
2 – PORTO NOVO.
O seu acesso seria através de uma estreita passagem na rocha de tufo, que
deveria ter sido alargada para o seu atravessamento ser mais fácil.
Ainda hoje existe esta pequena praia, que nos nossos dias serviu de zona
balnear.
404
3 – PRAINHA E ESTALEIROS
Segundo o Padre António Cordeiro, trata-se de um areal que tem porta grande
para a cidade chamado “Portão da Prainha”, que fica em frente à rua de S. João, onde
se faziam muitos navios e galés que defendiam as ilhas dos piratas. Quando havia mau
tempo do sul e sudeste, em alguns casos, rebentavam as amarras dos navios que
estavam estacionados na baía, vindo a desfazer-se neste local. Mas no século XVIII já
tinha desaparecido este estaleiro de construção, já só servindo para desmantelar os
restos dos barcos que naufragavam na baía.
Foi nesta zona que tudo deve ter começado, para dar início à cidade. A rua que
lhe dá acesso é a mais larga e importante e vai direta à praça principal, à casa do
Donatário e do Governador.
Local numa reentrância da rocha com penedos e uma calheta, abrigado dos
temporais do sul e sudeste que assolavam a baía, onde foram construir um varadouro
e um cais, para os barcos estacionarem durante o inverno. Teria também um estaleiro
de construção e reparação naval, para apoio aos trabalhos necessários a efetuar
enquanto os barcos estavam em seco. O seu varadouro era suficientemente amplo,
permitindo que barcos de uma certa dimensão pudessem entrar.
Neste porto, podiam encostar os caravelões e barcos de duas e três velas que,
normalmente traziam e levavam pipas para as embarcações e as outras ilhas. Como
havia um grande movimento de pipas, passou-se a chamar Porto das Pipas.
No fim dos séculos XV, XVI e XVII, ponto alto das descobertas e expansão
marítima portuguesa, estas zonas de Angra que acabámos de descrever, seriam o lugar
nevrálgico da cidade, onde se deviam cruzar todas as raças, profissões e credos.
Deveria ser um movimento muito intenso durante o dia e noite, com a marinhagem e
passageiros em trânsito por alguns dias, a disputar as casas de pasto, lugares para
comer, beber, e dormir. Os prostíbulos deveriam estar cheios de gente de má
reputação, a gastar dinheiro fácil. Os lugares de culto com pessoas que querem
agradecer a Deus terem escapado a tanta tormenta e vicissitudes, pagarem as
promessas que prometeram em tempos de extrema angústia.
3 – PRAINHA E ESTALEIRO
410
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Estes quatro navios, um está na baía do Fanal, os outros três na baía de Angra.
São todos semelhantes, isto é dois castelos na proa, três castelos na popa, três
mastros.
414
O segundo está entre os fortes de Santo António e dos Três Paus, disparando
contra eles pela proa e pela popa para o forte de S. Sebastião. Estranhamente, no
entanto, não está com o velame içado e está ancorado.
O terceiro está entre o forte dos Três Paus e o Porto Novo, está fundeado pelas
amarras que se vêm, está com o velame em repouso e não está disparando.
Todos estes dois navios pelo pavilhão são ingleses. Se são navios ingleses, não
compreendo a sua localização dentro da baía, porque são navios inimigos nunca
poderiam ter lá entrado. Na verdade pela descrição de Linschoten, só poderiam entrar
com autorização dos fortes de S. Sebastião e de Santo António. Sem ela seriam
afundados imediatamente, para além disso um deles está a disparar dois dos seus
canhões.
Quanto ao quarto galeão, está saindo da baía de Angra a todo o pano, quase ao
largo, já depois dos ilhéus. Pela sua bandeira é holandês.
415
Estes navios pelas suas caraterísticas, quatro mastros, com mais um na proa,
poderão ser designados por caravelas, mas julgo que mais propriamente por “naus”.
No entanto segundo uma gravura existente no “Theatrum Urbion” de J. Braunio
(século XVI) com caravelas no Tejo, elas são designadas por “caravelas redondas” Já
para Saturnino Monteiro pelo seu perfil seria designada por galeão. (4)
A “armada das Ilhas” era constituída por navios de guerra, que todos os anos a
coroa Portuguesa enviava pela primavera, até Angra, onde aguardavam encontro no
atlântico por alturas das ilhas Corvo e Flores, pelos barcos mercantis que vinham da
Índia e agora também das Américas Espanholas, para os protegerem do ataque dos
piratas e corsários. Após reparações abastecimento dos barcos, e descanso das
tripulações, seguiam em comboio para Lisboa e Cádiz.
São navios de dois e três mastros, mais um à proa, não tem castelos nem na
proa nem na popa, nem cobertas, sendo o leme exterior ao barco. Estas embarcações
são todas semelhantes, só diferindo no número de mastros.
caravelões. Não tem tipologia própria, foi com elas que se iniciaram as viagens de
exploração reconhecimento.
Quanto á sua localização na baía, a primeira está ancorada junto aos estaleiros
da Prainha. A segunda está quase varada no caís da cidade. Três estão varadas no
ancoradouro do porto das pipas.
A última está com todo o velame içado no meio da baía. Pela direção que toma
está saindo da mesma. Pelo pavilhão que ostenta indica que se trata de uma
embarcação holandesa. Leva a bordo cinco tripulantes e o timoneiro, sugerindo que
vai fazer uma viagem de médio curso, possivelmente até Lisboa e de aqui até à
Holanda.
Pelas suas dimensões e por ter um só mastro com uma vela redonda, vou
designá-los por “barcas” ou “galeotas”.
proa e á popa ou só num dos sítios e nestes casos tomava a designação “tilhas”. A
designação para estas barcas dependia também da sua funcionalidade, pois poderia
ser de pesca, de carga, de passageiros ou de cabotagem, como já foi referido. Galeotas
seriam embarcações pequenas a remos, menores do que as galés.
A primeira está a navegar com a vela içada junto ao porto do Fanal. A segunda
sem tripulantes está ancorada no porto Novo. A terceira está varada no estaleiro da
Prainha. As quatro seguintes estão varadas na praia do porto da cidade. A oitava e
última, esta navegando a todo o pano com um tripulante junto aos ilhéus.
Restam estes barcos impulsionados a remos, que vou designar por “batéis” ou
“lanchas”.
amarrados aos navios de grande porte, devendo ser privativos destes para trazer e
levar tripulantes e víveres. Dois estão em reparação no estaleiro da Prainha. Dois estão
no porto da cidade. Outro está eventualmente pescando no porto Novo. O último, que
é o maior, está quase fora da baía, e tem como tripulação, uma espécie de
comandante, quatro remadores e um timoneiro e está a afastar-se do galeão inglês.
NOTAS
3 – A Caravela Portuguesa.
Quirino da Fonseca.
Página 409.
4 – A Caravela Portuguesa.
Quirino da Fonseca.
Pagina 95.
421
BAÍAS
ANGRA
FANAL
425
ANGRA
FANAL
426
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Volume I – 1139-1521
Lisboa 1997.
Oceanos.
Manuel Fernandes .
1616.
428
Após termos demonstrado, ou julgamos nós tê-lo feito, que a carta de Angra de
1595 é real, e representa um levantamento cuidadoso desta cidade em perspetiva
axonométrica. Não um “bird’s-eye map”, como alguns pretendem que seja,
devidamente pormenorizada em todos os seus aspetos.
Em vários locais Linschoten afirma ser ele “o autor da carta”, mas perguntamos
nós o que é que ele quer dizer com esta afirmação, quando ao longo do nosso
trabalho, encontrámos vários intervenientes na execução da mesma.
Linschoten sai da Holanda com dezasseis anos. Até essa idade não poderia ter
obtido esses conhecimentos, nem posteriormente. Nos relatos das suas viagens não
fala que teve contatos ou adquiriu estudos nestas matérias, nem que teve experiência
de navegação, que era também um dos requisitos necessários. Mais confessa no
proémio que não foi educado nem teve exercício nestes assuntos.
430
2 – Outra afirmação de Linschoten de que foi ele que executou a carta, está
expressa na cartela da carta de 1595 na zona inferior à direita onde diz “Autor João
Hugo de Linschoten, ano de 1595”. Se não tivéssemos feito o estudo pormenorizado e
cuidadoso da carta continuava-se a afirmar e a intitular “carta de Angra de
Linschoten”, ou simplesmente “carta de Linschoten”, que já sabíamos a que se
estavam a referir. Foi esta afirmação que coloquei em dúvida ao iniciar o meu
trabalho, porque era o que sempre tinha ouvido dizer aos historiadores e
conhecedores da matéria. E foi esta afirmação de Linschoten na carta, que todos
aceitaram sem questionar. Foi um dogma para os entendidos nestes assuntos,
incluindo os Holandeses. Julgo que a partir do meu trabalho cada vez mais se vai
colocar em dúvida esta autoria.
3 – Nesta única edição em português do Itinerário, preparada por Arie Pos e Rui
Manuel Loureiro, estes afirmam na Introdução, nº 15 – Linschoten, espião dos
holandeses? Que os grandes planos topográficos de Angra e Goa são de Linschoten,
mas os argumentos apresentados são muito frágeis, que ele “tinha um certo jeito para
o desenho” e que “os desenhos tinham sido pedidos pelos portugueses ou a eles
dedicados”. Não tenho dúvidas que isto é verdadeiro. Mas para servir de argumentos
para lhe atribuir a autoria das cartas, na minha modesta opinião, não serve. Na
verdade, esta carta de Angra de 1595, não é um simples desenho é muito mais do que
isso. É uma carta em perspetiva axonométrica com várias fases para a sua execução,
que temos de ter em consideração.
outras duas por P Hoogerb. Gravação do desenho, em que, como já atrás referimos,
este com desenhos pré-gravados como, por exemplo, barcos, rosa-dos-ventos, poderá
inserir na gravação. Finalmente, o editor que com a sua experiência, também poderá
ter aconselhado ou exigido alguma alteração no desenho, de modo a que este fique
mais atrativo ao grande público.
Fernão Vaz Dourado foi considerado o mais célebre e notável cartógrafo do seu
tempo, excelente desenhador e elevado gosto artístico para iluminuras. Sabemos que
esteve na Índia, onde viveu um pouco antes de Linschoten, à volta de 1580, ao tempo
do Vice-Rei D. Luís de Ataíde. Executou várias cartas de Goa, Índia, Ceilão, Japão, etc.
Com certeza que Linschoten contatou com a sua obra durante a sua estada na Índia,
em virtude da sua curiosidade natural e do seu interesse pela cartografia. Tem toda a
lógica ter sido ele o autor do levantamento da carta de Goa e que Linschoten a tivesse
adquirido.
Falta-nos Luís Teixeira que é uma das maiores figuras, de uma grande família de
cartógrafos que exerceram esta profissão durante cerca de cinco ou seis gerações. Fez
vários levantamentos originais nos Açores, Brasil e talvez noutras regiões. Sabemos
que teve contatos com os Países Baixos, através da gravura de quatro cartas que lhe
são atribuídas e teve grande influência na cartografia holandesa. Tinha grande
inclinação para as matemáticas, tendo sido examinado para exercer a profissão de
cartógrafo pelo grande matemático Pedro Nunes. Com certeza, por esta sua inclinação,
teve contatos com os novos métodos de cartografia urbana e com as mais recentes
metodologias, ligadas ao levantamento de cidades.
Como prova destes seus conhecimentos, os seus dois filhos João e Pedro,
também cartógrafos receberam os seus ensinamentos, e o que mais se distinguiu,
Pedro Teixeira Albernaz, fez uma belíssima carta de Madrid, datada de 1656 (é a
primeira carta desta cidade) em perspetiva axonométrica do género da de Angra. É a
prova principal por que Luís Teixeira dominava completamente estas recentes
tecnologias, para poder legar aos filhos. São vinte folhas em que a parte desenhada
mede 1780X2680 mm. Cópia desta carta está na Biblioteca Nacional de Paris. Tem uma
433
6 – Uma das hipóteses que coloquei desde o início do meu trabalho para a
autoria da carta, seria que a sua execução poderia ter sido de um engenheiro militar
que estivesse em serviço em Angra.
Angra poderia ter tido um plano para o traçado da urbanização da cidade, após
a sua fase inicial por via vernácula e popular. Porque era uma cidade desde o seu início
demasiado importante para não a ter, talvez fosse a primeira ou das primeiras
experiências fora da Metrópole. Todos os indicadores nos dizem, que nós teríamos
pessoas capazes para executar esses planos de urbanização.
Sendo assim Linschoten, poderia, por compra ou por empréstimo ter um desses
planos, ter completado e mandado redesenhar esse projeto de urbanização.
435
Não encontrei referências nestes três volumes, a que algum engenheiro tivesse
estado na construção de fortificações da Ilha Terceira, até porque o castelo de S.
Sebastião é de 1550. São muito estranhas, todas estas referências à construção do
Forte de S. Braz em Ponta Delgada, que é relativamente pequeno, situado numa
cidade que, no século XVI, tinha pouca importância, por comparação com Angra e com
as suas fortificações.
Não conseguimos, apesar dos nossos esforços, encontrar elementos que nos
permitam confirmar a tese por mim lançada, sobre a hipótese de engenheiros militares
terem estado na génese do levantamento da carta de Angra.
CONCLUSÕES
A segunda conclusão é sobre a figura central de todo este trabalho, que ainda
tem muito para dar. A minha opinião é de que Linschoten era um indivíduo
extremamente inteligente, muito hábil, dirigia com destreza as pessoas no sentido de
as levar a fazerem aquilo que ele queria, sendo toda a sua vida um bom exemplo desta
minha afirmação, que transparece em toda a sua obra. Não tenho dúvidas, que
enriqueceu com esta sua viagem à Índia de bens materiais, e intelectuais, e já mesmo
depois de estar na Holanda, é que verdadeiramente se apercebeu dos verdeiros
conhecimentos que tinha adquirido.
Quero dedicar também este trabalho à cidade onde nasci e vivi os meus
primeiros anos, e que vão expressos na capa do trabalho “sair de Angra foi fácil, difícil
é Angra sair de mim”.
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