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JACY DE ASSIS”
DISCIPLINA DE DIREITO CIVIL V - FAMÍLIA
Uberlândia
2021
1) Introdução
O filme começa com a narração das cartas que Charlie escreve para Nicole e que
Nicole escreve para Charlie, em que reconhecem as qualidades um do outro. Nesse primeiro
momento, não são expressados quaisquer sentimentos de rancor ou mágoa, pelo contrário,
nota-se o afeto entre eles.
Nesse contexto, Charlie era dono de uma companhia de teatro em ascensão da cidade,
e Nicole, após atuar em uma das peças do marido, recebe um convite para estrelar um piloto
em Los Angeles, por um ano. Charlie, por sua vez, se recusa a mudar. Mesmo assim, por ser
importante para sua realização pessoal, ela decide aceitar a proposta e, depois de contratar a
advogada Nicole, intima o marido com o pedido de divórcio judicial, apesar de terem
acordado previamente que não iriam envolver advogados.
A partir desse momento, a relação entre eles fica ainda mais complexa, marcada pela
hostilidade, discussões e disputas pela guarda de Henry, principalmente em razão da conduta
dos advogados, que estimulou o sentimento de ódio entre eles. Todo o contexto do divórcio
culminou em um completo desgaste emocional para ambos e para o filho.
Ao final, o filho ficou com a mãe, em Los Angeles, enquanto o pai continuou em Nova
Iorque. Após certo tempo, superadas as dores do processo do divórcio, Nicole inicia um
relacionamento amoroso com outra pessoa, mas ela e Charlie conseguem manter uma relação
de carinho e afeto, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Isso fica evidenciado com a
emoção de Charlie, ao ler a carta que Nicole escreveu enquanto ainda frequentavam a terapia
de casal, narrada no início do filme. Ela assiste o ex-marido lendo a carta ao filho e também
se emociona.
Portanto, percebe-se que neste filme, assim como em outros produzidos por Noah
Baumbach, há um toque muito sensível com a realidade. Seus filmes não têm efeitos
mirabolantes e causas políticas, por exemplo, mas sim introduzem histórias reais e
sentimentais e trabalham muito bem o que é humano. Desse modo, apesar de o filme ter a
classificação etária para a partir de 14 anos, tem um público universal, vez que provavelmente
já assistimos essa história com um amigo, com um familiar ou foi vivenciada por nós
mesmos, tamanha a verossimilhança com a realidade.
2) Análise jurídica
Para introduzir a nossa leitura jurídica nesse aspecto, convém citar o princípio da
afetividade, a partir do qual se extrai o elo de qualquer núcleo familiar. Isso é concluído a
partir da simples análise do conceito moderno de família, consistente em duas ou mais
pessoas, cuja união decorre do objetivo de desenvolvimento pessoal e em razão da
socioafetividade entre estas.
Em relação aos fatos do filme, é possível perceber com evidência o predomínio desse
princípio quando a assistente social visita Charlie para entender a dinâmica familiar
desenvolvida entre ele e seu filho, visita essencial para que o juízo decida sobre a guarda
familiar. Nessa cena é evidente que, todas as perguntas feitas à Charlie se voltam à criação e
ao afeto que ele proporciona ao seu filho, perguntas como o que eles fazem juntos e quais as
preferências da criança são discutidas, a segurança da criança também é avaliada, quando ele
sugere de viajar de avião com o menino e quando demonstra uma brincadeira arriscada que
costumam fazer.
Nessas hipóteses, é possível perceber que a preocupação da assistente e,
consequentemente, do Estado é assegurar que os direitos da criança estão sendo garantidos
por seus pais com absoluta prioridade, além de também verificar se a criança está sendo
colocada à salvo de qualquer forma de negligência. Assim, é possível aferir que essa forma de
proteção jurídica garantida pelo Estado ao menor é semelhante ao Direito Brasileiro.
· 3) Conclusão
Pretendendo chegar à conclusão de nossa análise, é cabível, por fim, observar dois
pontos relevantes para um olhar jurídico sobre o filme objeto da presente resenha, sendo eles,
a relação entre Charlie e sua sogra, e a ideia do divórcio por meios extrajudiciais, objetivo
inicial do casal protagonista.
Pelo exposto, percebe-se que, no Brasil, não há ex-sogra ou ex-genro, ou seja, Sandra
e Charlie continuarão a ser sogra e genro mesmo com a dissolução do casamento dele com
Nicole. Conforme afirma o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, "rompido o vínculo
matrimonial permanecem o sogro ou sogra, genro ou nora ligados pelas relações de
afinidade."
Daí decorre o motivo para a determinação legal contida no artigo 1.521, inciso II do
Código Civil, qual seja, que não podem se casar os afins em linha reta, sendo nulo tal
casamento.
Finalmente, analisaremos o segundo tema proposto nesta análise conclusiva, qual seja,
o divórcio por meios extrajudiciais, objetivo inicial do casal protagonista.
Com o decorrer do filme, percebemos que, apesar do apoio dado à Nicole, a sua
advogada pretende ganhar a causa e se autopromover, mesmo que, no fim, não haja lado
vencedor ou perdedor, posto que se trata de um divórcio em que ambos tinham pretensões
semelhantes para a dissolução do matrimônio.
Percebe-se que a atuação judicial pode ser, na verdade, extremamente negativa para a
resolução de certos conflitos, vindo a torná-la ainda mais desgastante, como foi o divórcio
narrado no filme. Ressalta-se, por fim, que os processos de conciliação e mediação poderiam
ser positivos para estas situações, e deveriam ser incentivados, inclusive pelos advogados
atuantes na causa.
REFERÊNCIAS
MARQUES, Mariana. Crítica História de um Casamento. Acesso em: 07 de abril de 202. Disponível
em: https://www.institutodecinema.com.br/mais/conteudo/critica-historia-de-um-casamento.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro Vol. 6. 16 Ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2019.
FUKS, Mariana. Filme História de um Casamento. Acesso em: 07 de abril de 2021. Disponível em:
https://www.culturagenial.com/filme-historia-de-um-casamento/
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil. 4. Ed. São
Paulo: Saraiva Jur, 2020.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil Volume Único.11 Ed. Rio de Janeiro: Editora Método,
2021.