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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO

BACHARELADO EM ARTES CÊNICAS

DIMITRI SPICHENKOFF RAMOS


JADE MENDONÇA FERREIRA ABDALLAH BITAR
JULYA LOPES
MARIANA MONTEIRO BOSCHI

“O QUE FICOU PRA TRÁS”: UMA DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA


EXPLORANDO A NECESSIDADE DO ACOLHIMENTO NAS RELAÇÕES
PESSOAIS

SÃO PAULO
2023
TEMA: Escrita dramatúrgica que investiga a necessidade e o desejo de
acolhimento dentro dos relacionamentos pessoais.

PROBLEMA: Como as artes cênicas podem trabalhar, explorar e expressar


aquilo que poderia e/ou precisaria ser dito e ouvido dentro dos relacionamentos
humanos.

INTRODUÇÃO: 

Ao longo de nossas vidas, vamos percebendo que sempre existe algo que
queremos dizer, mas nunca podemos. Seja pelo medo de magoarmos alguém,
o medo de não termos um sentimento correspondido, uma tentativa de
evitarmos conflitos ou qualquer outro motivo que seja. Sempre ficamos
pensando como a relação com aquela pessoa (pai, mãe, irmãos, amigos,
parceiros, romances, etc.) poderia ter sido diferente se tivéssemos tido
oportunidade e/ou coragem de demonstrarmos vulnerabilidade e nos abrirmos
para ela. Passamos muito tempo pensando naquilo que gostaríamos de falar.
Porém, existe uma outra forma de pensamento da qual nem sempre pensamos
em abordar: e quanto àquilo que gostaríamos de ter ouvido? E quanto aquilo
que precisávamos ter ouvido?

Infelizmente, em qualquer forma de relacionamento, é comum apenas uma das


partes ser encarregada da responsabilidade de sustentar a relação. Como se a
compreensão, o respeito e a confiança fossem exigidos apenas de uma das
partes em vez de ser uma via de mão dupla. Um clássico exemplo são de filhos
que se distanciam dos pais e demais familiares após tantos anos presos em
um relacionamento tóxico e abusivo com os mesmos. Sem dúvida, essa
pessoa vai acabar por ouvir “nossa, mas é a sua família”, como se dependesse
apenas dela para uma possível reconciliação. A responsabilidade e dever de
reparo nunca pertence aos integrantes mais velhos da família, pois esses se
encontram em uma posição hierárquica mais alta e, mesmo estando errados, a
autoridade nunca pode ser questionada. O quanto alguém nessa situação não
gostaria de poder ter a chance não só de ouvir um pedido de desculpas, mas
também de ter uma chance de um relacionamento realmente saudável e
benéfico para ambas as partes, onde o respeito seja mútuo?

Um outro exemplo possível de ser citado é a clássica ideia do “amor não


correspondido”. Nem sempre é fácil termos coragem para nos declararmos a
alguém, ainda mais quando se trata de alguém próximo. Óbvio, a possibilidade
do sentimento não ser correspondido pode ser um anseio para muitos, mas
não tanto quanto a preocupação de estragar uma amizade ou relação de
companheirismo já existente devido a esse sentimento. Não existe dúvida de
que alguém nessa situação gostaria de poder ver o outro retribuir esse
sentimento. Mas mesmo que esse cenário não seja possível, o que alguém
poderia oferecer nessa situação é justamente a segurança da relação de
amizade e companheirismo já existente. Uma garantia de que ambos poderiam
seguir juntos, mesmo que essa relação nunca tenha chance de evoluir para
algo a mais. Sendo assim não apenas algo que gostaríamos de ouvir, mas sim
algo do qual precisávamos ouvir, não deixando a responsabilidade apenas para
quem precisa superar esse sentimento.

Infelizmente, ninguém, nem nós mesmos, podemos garantir que tudo vai ficar
bem no final. E, muito provavelmente, nem tudo vai dar certo. Mas o que mais
alguém poderia querer (ou até mesmo precisar) nos maiores momentos de
ansiedade, medo, agonia ou desespero é o conforto de alguém próximo. O ser
humano é dependente das relações uns com os outros. Desde nossa criação
familiar, o que seria nosso primeiro contato e desenvolvimento de uma relação
entre indivíduos e nosso primeiro refúgio, até o surgimento de novas conexões
e criações de relações sociais com aqueles ao nosso redor, necessitamos de
acolhimento e conforto. 

Assim como necessitamos falar o que sentimos, também necessitamos ouvir o


sentimento do outro. Necessitamos de uma palavra amiga. E as artes cênicas
estão intrinsecamente relacionadas às relações entre pessoas, tanto entre os
colegas de equipe como com o público. Inúmeras obras abordam e focam no
relacionamento e as emoções desenvolvidas entre indivíduos. Desde
dramaturgias como “Música para Cortar os Pulsos”, de Rafael Gomes, que
aborda questões emocionais e de relacionamentos de uma juventude
fervilhante de sentimentos, até produções audiovisuais como “The Last of Us”,
onde o foco da trama é voltado para o desenrolar da relação de pai e filha entre
os protagonistas em meio aos traumas de ambos e as condições fictícias de
um cenário pós-apocalíptico. Através deste trabalho, pretendemos elaborar
uma dramaturgia teatral relacionada à questão: o que as pessoas gostariam de
ouvir e dizer em relacionamentos humanos, mas não conseguem?

Nos baseando na ideia de explorar aquilo que gostaríamos e/ou precisávamos


que nos fosse dito por quem mais nos importamos, decidimos escrever e
produzir uma dramaturgia que possa explorar melhor esse tema. Para a
premissa, nos inspiramos em obras como “Se Eu Ficar…”, do autor Gayle
Forman,  “A Christmas Carol”, escrito originalmente pelo romancista Charles
Dickens e “A Felicidade Não se Compra” do diretor Frank Capra, todas focadas
na visão do protagonista se observando dentro de seus relacionamentos
familiares, sociais, românticos e profissionais. Em todas essas obras, é muito
presente a ideia de uma projeção astral do protagonista ou a visita de seres
espirituais. Porém, tais abordagens serão usadas apenas como referências
para a criação da dramaturgia e em nenhum momento será abordado algum
conceito ou aprofundamento no campo espiritual ou religioso. 

Na dramaturgia a ser escrita, o protagonista se encontra em um quarto de


hospital, em um estado de coma devido a um suposto acidente. Ele passa a
dialogar e desabafar com uma voz do além, em momentos de auto reflexão e
relembra momentos de debates, conflitos, traumas e nostalgia em relação aos
seus familiares, amigos e interesses amorosos. Enquanto ambos dialogam, o
personagem é visitado por seus entes queridos, não apenas para lhe desejar
melhoras, mas também para se abrir com o protagonista, dizendo tudo aquilo
que queriam ter lhe dito antes do mesmo se encontrar nessa situação. Ao
chegar nos momentos finais da peça, o protagonista se lembraria que seu
estado de coma não se deve a um acidente, mas sim, a uma tentativa de
suicidio. Além de perceber que as visitas nunca aconteceram e tudo não
passou de sua própria consciência mostrando para ele aquilo que o mesmo
gostaria ou precisava ter ouvido em vida. E a voz com quem conversaria o
tempo todo seria uma conversa consigo mesmo. Tudo isso trabalhado de uma
forma que não seja expositiva e que brinque e flerte com a dúvida do público
de saber se tudo o que está sendo contado é real ou meramente uma
imaginação. 

A dramaturgia seria montada dentro da ideia do teatro contemporâneo, dando


maior possibilidade de trabalhar e brincar com a ideia de saber se a história da
obra realmente está acontecendo ou não. Como a exemplo da obra “A História
dos Ursos Panda”, do dramaturgo Matéi Visniec.

Em debates feitos pelo grupo, decidimos que a "voz do além" com a qual o
personagem conversa seria bem diferente da dele, justamente porque
queremos manter um mistério de quem ou o que seria aquilo, tanto para o
protagonista quanto para a platéia. Quanto ao final da peça, decidimos
trabalhar com um final aberto, não revelando qual foi o destino final dele,
deixando a dúvida pairando no ar para que cada pessoa tenha sua própria
interpretação do que aconteceu. Concordamos em grupo que essa ferramenta
do teatro contemporâneo seria a melhor para conseguir o impacto que
desejamos causar no público.

Tais relações exploradas na obra seriam inspiradas no conjunto de nossas


vivências e experiências pessoais com nossos familiares, amigos e outras
pessoas do nosso meio social ao longo de nossas vidas, como colegas e
interesses amorosos que tivemos ao longo de nossas vidas.

É certo que, quanto mais sentidos são utilizados, melhor é o entendimento de


algo. Com esse trabalho, queremos explicitar esses temas sensíveis que
muitos possam se identificar através do teatro, já que, combinando os sentidos
"visão" e "audição" com as emoções e sensações trazidas através do
espetáculo, em uma montagem simples ambientada em um quarto de hospital
e com elementos de iluminação, possa ser mais fácil o público compreender o
quão importante é prestar atenção no que ocorre com as pessoas que estão ao
nosso redor e também a necessidade de ajudar e pedir ajuda. 
O projeto nos dá a possibilidade e oportunidade de desabafar e nos expressar
de forma criativa e artística. Dessa forma, consequentemente, também
debateremos e compreenderemos coisas que antes não conseguiamos
enxergar sozinhos e, ao mesmo tempo, teremos a experiência de como é
montar um espetáculo teatral totalmente do zero.

JUSTIFICATIVA:

Cada um de nós possui bagagens emocionais adquiridas ao longo de nossas


vidas. Tudo sendo um resultado das relações que temos dentro de nossos
meios sociais e familiares. Somos todos marcados pelo convívio com outras
pessoas e isso acaba por influenciar a construção de nossa personalidade,
nossos gostos, raciocínios críticos, etc. Mesmo que não consigamos nos
lembrar, tudo isso fica intrinsecamente impregnado em nossos corpos e
mentes. Tudo o que já foi nos dito ou feito por nossos pais, amigos, amantes e
entre outros fica marcado em nós, e acaba por, querendo ou não, influenciar
nossas futuras relações.

Todos imaginamos como tais relações, principalmente as mais conturbadas e


problemáticas, poderiam ter seguido um caminho diferente. Talvez evitando
constrangimentos, traumas e complicações nas nossas vidas sociais,
amorosas ou profissionais. Cada integrante do grupo tem consciência de suas
relações passadas e atuais. Cada um de nós viveu e ainda vive situações
conturbadas em nossos relacionamentos (mesmo os mais íntimos) e sempre
imaginamos o que poderia ter sido de diferente. Como os caminhos poderiam
ter sido moldados se a responsabilidade da relação fosse conjunta e não
apenas nossa. Através destas ideias e pensamentos geralmente reservados
apenas a nós, pretendemos elaborar uma dramaturgia teatral, seguindo como
base o teatro contemporâneo, relacionada a essas questões.

Cada vez mais tem se entrado em discussão temas e questões como


educação emocional e relacionamentos tóxicos e abusivos. E cada vez mais
obras como peças, filmes, séries, livros, games e quadrinhos tem aprofundado
e explorado tais temas (como “Música para Cortar os Pulsos”, “Encanto”, da
Disney, “Life Strange: True Colors”, da Square Enix, etc). Ou até já eram
citados antes, mas só agora estão sendo notados e se tornando relevantes
(como “O Despertar da Primavera”, do dramaturgo Frank Wedekind, “Matilda”,
com direção de Danny DeVito, etc). Mais se está criando consciência de como
o que dizemos e fazemos pode influenciar a vida de quem temos proximidade.
Por isso decidimos demonstrar um ponto de vista sobre o qual queremos
mostrar o que gostaríamos e/ou precisaríamos ouvir daqueles que sempre nos
quiseram bem. Mesmo que esses, talvez, não soubessem como nos dizer ou
não quisessem nos dizer.

OBJETIVOS:

Geral:

 Desenvolver uma obra fundamentada no teatro contemporâneo da qual


possa brincar com o imaginário do público e fazer o mesmo pensar,
refletir e debater consigo mesmo a respeito das questões abordadas.

Específicos:

 Ter a oportunidade de cada membro do grupo expressar seus próprios


pensamentos e sentimentos íntimos através das artes cênicas.

 Abordar temas atuais voltadas para relacionamentos pessoais e como


poderiam ser trabalhados através de uma dramaturgia.

 Trabalhar com a ideia de uma criação dramatúrgica que brinque e flerte


com a imaginação e curiosidade do público, ao mesmo tempo que
possam se identificar com os temas abordados.
PROPOSTA DE ENCENAÇÃO

CENOGRAFIA

Palco italiano. Será realizado no estúdio 1 da Belas Artes Vila Mariana. Para
cobrir a parede verde da sala, terão tecidos pretos pendurados do teto ao chão
circulando todo o palco, e um tecido branco apenas na parede do fundo
juntamente com o respectivo tecido preto daquela parede. Como cenário, será
utilizado uma cama hospitalar localizada no canto direito médio do palco (ponto
de vista do público), inclinada para a diagonal em direção ao palco central
baixo, e uma poltrona localizada ao lado direito (ponto de vista do público) da
cama. Como objetos de cena, serão utilizados um prontuário médico, um
lençol, suporte e bolsa de soro.

FIGURINO

O personagem principal, Alex, estará usando uma camisola hospitalar para


representar que ele é um paciente, ou uma camisa branca e calça bege para
representar que ele está entre dois planos, o da vida e o inconsciente. Para os
visitantes de Alex, serão utilizadas roupas com cores mais vibrantes e coloridas
para representar que estão vivos.

MAQUIAGEM

Alex terá uma maquiagem de cansaço, com olheiras e contorno para realçar
magreza.
Os visitantes terão uma maquiagem simples e natural, com as bochechas
coradas para mostrar a vida neles.

ILUMINAÇÃO

Será utilizada uma projeção no tecido branco localizado no fundo do palco


durante os primeiros segundos. Uma luz de pino ilumina o personagem Alex na
primeira cena e ficará acesa o tempo todo até acender uma luz difusa lateral
vinda do canto direito do palco iluminando a cama do hospital. Quando Alex for
em direção à cama, uma luz geral gelada irá se acender para passar uma
atmosfera hospitalar. Para os visitantes, a luz hospitalar continuará e, enquanto
eles entram em cena, terá uma luz difusa vinda da lateral esquerda alta para os
iluminar até que cheguem perto da cama. Por fim, terá um blackout gradual na
cena final.

PROPOSTA DE DIREÇÃO

De acordo com Tchekhov, o corpo e a mente estão sempre trabalhando juntos.


Portanto, antes do início do casting e como aquecimento pré cena, serão
realizados alguns exercícios de corpo, tanto para o elenco se conectar quanto
para um melhor trabalho individual.

BLUES

Dinâmica apresentada para nós pelo professor César. Consta em andar pelo
espaço e ver como a ação altera a respiração e como a respiração altera a
ação, algo que será muito trabalhado em cena.

OLHO NO OLHO

Os atores andam pelo espaço durante o Blues e então, quando for pedido pela
direção, eles encontrarão o olhar um do outro e farão o Blues em dupla para
despertar a conexão entre eles.

GUIAR PELO CABELO

Um dos atores segura o outro pela nuca e cabelo, movendo-o pelo espaço e o
movimentando de acordo com o que quem está guiando queira, invertendo os
papéis depois de um tempo. Este exercício é importante para aumentar a
confiança e a conexão entre os atores.

LEITURA CONJUNTA

Com todos os atores mais centrados e em conexão uns com os outros, será
realizada uma leitura conjunta. No fim, serão ouvidos os pensamentos deles
sobre os personagens e quais características pensam em trazer para cada um.
O diretor, juntamente com o dramaturgo, tirarão dúvidas relacionadas ao texto.
ROTEIRO NA PRÁTICA

Improvisação baseada no texto para que os atores se situem em seus papéis,


e para a direção ver se a proposta foi entendida na prática e como o ator
expressa isso.

ENSAIOS

Passagem de texto juntamente com a encenação dos atores e marcações


definidas para que a direção tenha uma visão mais ampla de como o
espetáculo está sendo desenvolvido.

HISTÓRIA

A história é focada em Alex em um quarto de hospital onde encontra o seu


corpo físico em um estado de coma após um suposto acidente de carro. Ao
longo da obra ele dialoga com uma voz que interage com o protagonista.
No decorrer da história, Alex recebe visitas de seus entes queridos no quarto.
Eles apenas conversam com o corpo físico do protagonista na cama, sem
perceber a presença de sua "forma astral". A primeira visita é de sua mãe. Ela
começa com uma postura superior contra o filho, mas aos poucos se
recompõe, perdoando e pedindo perdão ao filho em coma.
A próxima visita é de três amigos de Alex. Ambos relembram momentos
juntos, mesmo as discussões. No final reconhecendo a participação de Alex em
suas vidas, mesmo sendo mais introvertido, mas sempre presente.
A próxima visita é da melhor amiga de Alex. Ela conversa e relembra os bons
momentos dos dois juntos, inclusive do amor não correspondido pelo amigo.
A próxima e última visita é da garota pela qual Alex é apaixonado. A relação
dos dois sempre foi ambígua pois um sempre teve sentimentos pelo outro, mas
nunca tiveram a oportunidade de se declararem um para o outro. Até a garota
tomar a iniciativa de se declarar e lamentar por não ter feito antes.
Entre as visitas Alex e a Voz conversam e discutem entre si, tomando
conversas e assuntos mais íntimos até Alex perceber a verdade: a Voz nada
mais é do que ele mesmo; nenhuma das vistas realmente aconteceu, apenas
foi o próprio Alex pensando em tudo o que gostaria de ter ouvido em vida;
nunca houve um acidente, mas sim uma tentativa de suicidio. A peça se
encerra sem saber se Alex realmente acorda ou se decide partir.
Trecho da Dramaturgia

Um foco de luz no centro do palco iluminando um homem em pé:


ALEX (confuso): Olá? Olá?! Ahm... tem alguém aí? Onde é que
eu estou? Oi?!
VOZ: Olá.
ALEX (assustado): Oi?! Quem está aí? Onde você está?
VOZ: Não sei é possível dizer. Creio que eu não me encontro em
um único local especifico. Ainda mais fisicamente.
ALEX: Quem você é? O que você é?
VOZ: Quem e o que são só a forma que deve ter um porquê. E o
que eu sou é uma voz.
ALEX (nervoso): Olha, eu não sei o que está acontecendo. Não
sei onde estou. Só tem você “aqui”! E quero saber onde é aqui e
como eu saio da... (pensativo e surpreso) Espera. Espera um
pouquinho. Você citou V de Vingança?
VOZ: Uma obra interessante, eu admito. Tanto os quadrinhos
quanto o filme. Uma mensagem poderosa. Perigosa em mãos
erradas, mas poderosa.
ALEX (nervoso): Escuta, será que pode me ajudar?! Onde eu
estou? Como eu saio daqui?
VOZ: Bem, até onde eu sei, não existe uma saída.
ALEX: Não. Não! Não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não... Algum jeito, alguma saída deve ter.
VOZ: Acredite, se eu soubesse eu até diria. (Alex começa a sair
correndo do foco de luz pela direita e acaba voltando pela
esquerda) Na verdade eu sou tão novo nisso quanto você. (Alex
sai correndo do foco de luz pela esquerda e acaba voltando pela
direita) Podemos dizer que estamos ambos “presos” aqui. (Alex
sai da luz várias vezes, mas sempre volta para o mesmo lugar)
Talvez nós dois estamos passando pela mesma experiencia
existencial. A qual ainda o propósito ou descoberta ainda
precisamos descobrir.
ALEX: O que é que está acontecendo aqui?! Onde é aqui?! O que
você é? Um fantasma, um anjo ou... (pausa reflexiva) Espera...
Espera só um segundo. Isso... Eu... Eu morri? Eu... eu acho que eu
lembraria de morrer, mas... Isso é o Céu?
VOZ: Não, isso não é o Céu.
ALEX: (preocupado) Eu estou no Inferno?!
VOZ: Não, você também não está no Inferno.
ALEX: (Impaciente) Purgatório, Tártaro, Umbra, Limbo,
Valhala... O que quer que seja?!
VOZ: Você não está em nenhum plano de pós vida. E você não
morreu. Pelo menos, não ainda...
(As demais luzes se ascendem revelando um quarto de hospital.
Na cama se encontra alguém desacordado)
ALEX: Isso... Isso não pode ser real. Isso é um sonho, não é? Isso
não é real, está só na minha cabeça.
VOZ: Óbvio que isso está na sua cabeça. Mas isso não significa
que não é real.
ALEX: (sarcástico) Muito bom. Muito filosófico. O que é isso,
Aristóteles?
VOZ: Na verdade tirei isso do Dumbledore.
ALEX: Ótimo. Maravilha. Eu estou provavelmente morto, preso
onde parece um inferno em forma de hospital com um anjo que
fica fazendo citações da cultura pop.
VOZ: Eu poderia usar exemplos com melhor credibilidade, mas
achei que ficaria mais à vontade com exemplos mais conhecidos
por você.
ALEX: Bom, assim me sinto melhor.
VOZ: Sério?
ALEX: ÓBVIO QUE NÃO! Como você sabe o que me faz me
ficar mais à vontade? Você é o meu anjo da guarda por acaso?
VOZ: Se preferir me ver dessa forma...
ALEX: (respirando fundo) Ok, então, você pode me dizer o que
aconteceu comigo?
VOZ: Qual a última coisa da qual você se lembra?
ALEX: Nada demais, só mais um dia qualquer. Fui pra faculdade,
voltei pra casa e de noite fui dormir. Só isso.
VOZ: Você pode dar uma olhada no prontuário na cama.
(Alex pega o prontuário na frente da cama e folheia)
ALEX: Ahm... várias fraturas... Lesões... Eu acho, não entendo
muito disso. Mas para ele se machucar... Para EU me machucar
tanto assim pare um atropelamento. É isso? Fui atropelado?
VOZ: Precisamente.
ALEX: Mas como isso aconteceu?
VOZ: Eu sei tanto quanto você.
ALEX: Tá bom. Ok, é uma daquelas projeções astrais. Entendi.
Eu já vi isso antes.
VOZ: Sério mesmo?
ALEX: Sim. Bem, em filmes. E agora, como eu... volto?
VOZ: Bom, talvez se você pegar na sua própria mão e se
concentrar... (Alex junta suas mãos) Eu quis dizer com a sua mão
na cama.
ALEX: Ah, claro.
(Alex pega a mão de quem está na cama, fecha os olhos e se
concentra)
ALEX: (abrindo os olhos) Não funcionou.
VOZ: Tenta se concentrar mais.
ALEX: (fechando os olhos com mais força, fazendo uma careta)
Deu certo?
VOZ: Não, mas está divertido de ver.
ALEX: Tá brincando comigo?! Tem como você levar isso a
sério?
VOZ: Lamento, mas nem sempre tenho uma oportunidade como
essa para me divertir.
ALEX: Quantas vezes você já viu alguma coisa assim
pessoalmente?
VOZ: Contando com essa? (Alex confirma com a cabeça) Uma.
ALEX: Eu tô ferrado.

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