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HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO

LUÍS FERNANDO CRESPO


LUIZ CARLOS RAMOS
WELDER LANCIERI MARCHINI

FOTO CAPA

ESTUDO DO SER HUMANO


CONTEMPORÂNEO
UNIDADE 10

SOMOS SERES ARTÍSTICOS!

INTRODUÇÃO
Em um certo dia, enquanto retornava para casa, após mais um dia de aulas, Fred se
surpreende com a longa fila que se forma na frente de um museu. Ali, uma exposição
sobre as obras de Pablo Picasso, pintor espanhol e um dos principais artistas do século
XX, seria aberta ao público. Enquanto caminha, passando pelas diferentes fachadas
e arquiteturas urbanas, pelos grafites nos muros, pelas estátuas e monumentos nas
praças públicas, Fred não está preocupado com a exposição no museu. Ele, aliás,
considera-se bastante alheio às artes visuais e eruditas, de modo geral. Mas, está em-
polgado em chegar logo em casa e continuar suas leituras das HQs da Marvel, que
recentemente comprou e que retratam a última saga dos Vingadores, um dos filmes
preferidos de Fred.

Já em casa, uma de suas irmãs acompanha os ritmos da música que ouve com os fones
de ouvido, enquanto a caçula, ainda criança, testa diferentes formas – e usos – possí-
veis para a massa de modelar. Os pais de Fred estão felizes: enfim colocaram, na pa-
rede branca da sala, um quadro com vaso de flores comprado há algum tempo: “agora,
sim, há vida nessa parede; antes, ela estava sem graça”, comenta a mãe.

A cena descrita acima, embora fictícia, certamente dialoga com algo do cotidiano de
cada um de nós. Nossa relação com a arte e com suas diferentes manifestações está
no dia a dia, nos objetos que nos circundam, na arquitetura e na sua relação com a es-
tética, nas artes visuais em museus ou em outros espaços, e nas mais diferentes lingua-
gens e manifestações artísticas (como a pintura, música, filmes, teatro, literatura etc.).

Há muitas definições sobre o que é a arte; este é um campo de amplo debate na his-
tória do conhecimento humano. Mas, de modo geral, há uma concordância entre os
filósofos sobre a definição da arte como “[...] tudo o que é belo: a arte tem como objeto
IMPORTANTE

o belo, assim como a ciência tem por objeto o verdadeiro, a moral, o bem, a técnica, o
útil”. (MONDIN, 2008, p. 71).

A arte não se confunde com a cultura, mas é parte dela, é um produto cultural de ca-
ráter emocional, sensorial e estético, resultado do processo criativo e imaginativo do
ser humano.

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Poderíamos tratar da relação do ser humano com a arte de diversas maneiras e, mesmo
por meio da história da arte e do desenvolvimento artístico, poderíamos compreender
o próprio desenvolvimento do ser humano e do seu meio. São muitas as possibilidades
para pensarmos sobre a arte e nossa humanidade.

Aqui nesta unidade, entretanto, vamos focalizar em alguns objetivos mais específicos, em
especial, a reflexão sobre a arte como algo intrínseco ao ser humano, como parte do fazer
humano e exclusivamente humano. Somos seres artísticos! Seres capazes de significar e
ressignificar, atribuir sentidos, interpretar e reinterpretar o real por meio da criação artísti-
ca. Assim, mais do que buscarmos pelas definições do que é arte, propomo-nos a pensar
por que a arte é tão essencial ao ser humano. Em outras palavras, vamos refletir sobre
alguns dos porquês pelos quais podemos nos considerar homo artisticus.

Vamos ver mais de perto algumas dessas ideias.

Figura 01. Reprodução de Guernica, Pablo Picasso

Fonte: 123RF.

A arte é o campo em que o ser humano significa e ressignifica a realidade. A imagem


acima é uma das mais importantes obras de Picasso, Guernica, produzida em 1937 e
que retrata o bombardeio à cidade Guernica, localizada ao norte da Espanha, feito por
um ataque aéreo comandado pela Alemanha nazista.

1. A ARTE: TÃO ANTIGA QUANTO A HUMANIDADE


Nas duas últimas décadas, pelo menos duas grandes descobertas feitas por pesquisado-
res acrescentaram novos olhares sobre as formas como viveram nossos antepassados.
A primeira delas foi na década de 1990, numa escavação em uma caverna na Eslovênia.
Ali, os pesquisadores encontraram uma das mais antigas e surpreendentes criações hu-
manas: um instrumento musical, similar a uma flauta, feita a partir de ossos de um animal,
possivelmente um urso. A estimativa é que o instrumento tenha entre 43 mil e 45 mil anos
e tenha pertencido aos neandertais, uma variação extinta da espécie humana.

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U10 Somos seres artísticos!

CURIOSIDADE
Uma curiosidade sobre esse instrumento musical: músicos contemporâneos analisa-
ram os espaçamentos entre os orifícios e notaram que eles foram configurados com
base na escala de sete notas musicais, estrutura de toda música ocidental que foi
criada nas eras seguintes e que, ainda hoje, ouvimos nos mais variados serviços,
plataformas e aparelhos musicais.

Em artigo no jornal Folha de São Paulo, o físico e escritor Marcelo Gleiser registrou essa
SAIBA MAIS

descoberta dos pesquisadores a partir de uma perspectiva da mimetização ou imitação que


os homens faziam da natureza: “se a natureza cantava, os homens queriam cantar também”.

Leia o artigo completo no link a seguir: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/


fe2308200904.htm. Acesso em: 25 fev. 2021. Link

A segunda descoberta, também em uma caverna, mas dessa vez na Indonésia, en-
controu a mais antiga narrativa feita pelo homo sapiens, com aproximadamente 44
mil anos: uma cena na qual é travada uma luta entre dois javalis e quatro búfalos,
rodeados por oito figuras que parecem ser humanas. Alguns desses homens segu-
ram lanças e cordas. A novidade aqui não está na data da pintura em si; há outras,
inclusive, mais antigas do que essa. Mas nessa, pela primeira vez, identificamos
uma narração humana.

Descobertas como as pinturas rupestres e mesmo outros objetos ornamentais – há,


por exemplo, conchas marinhas pintadas com mais de 115 mil anos – foram feitas
em diferentes partes do mundo, indicando que a espécie humana, ao deixar a África
e se deslocar pelos diferentes continentes, produziu expressões, ideias e emoções
registradas pela produção artística por onde passava; criou símbolos e imagens
significativas registradas em locais significativos; concebeu esteticamente a própria
realidade e a existência.

Desse modo, tão antiga quanto a humanidade é a produção da arte. Claro, não po-
demos saber com exatidão o que tais manifestações significavam, ou seja, qual as
intenções dos artistas que as produziram. Mas, podemos interpretá-las, tentar co-
nhecer e construir os seus significados e sentidos, identificar as técnicas e habilida-
des envolvidas, os materiais disponíveis e, assim, conseguimos compreender – ou
imaginar – como viviam os homens em épocas tão remotas. E, das épocas pré-his-
tóricas, a arte foi, praticamente, tudo o que sobrou e o que nos ajuda a compreender
como se organizavam os homens primitivos (DUARTE JUNIOR, 1994, p. 136).

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Figura 02. Lascaux – Pintura rupestre

Salão dos Touros é uma das duas mil pinturas encontradas no interior das cavernas
Lascaux e que dão a dimensão da vida selvagem pré-histórica. Fonte: 123RF.
SAIBA MAIS

Acesse o site e faça um passeio virtual pelo complexo de cavernas Lascaux, situado
ao sudoeste da França, conhecido pelas pinturas rupestres em seu interior, disponí-
vel no link a seguir: https://archeologie.culture.fr/lascaux/fr?lng=en. Acesso em:
16 abr. 2021. Link

2. A ARTE: MANIFESTAÇÃO ESSENCIALMENTE HUMANA


Entendemos que, antes mesmo dos saberes filosóficos, os homens já produziam arte;
antes do desenvolvimento da linguagem escrita, os homens já expressavam ideias,
criavam e imaginavam realidades por meio da arte; antes dos grandes sistemas reli-
giosos, a arte já servia à realização dos ritos e outras manifestações místicas. Mais
atualmente, pesquisadores do desenvolvimento infantil defendem que, antes de falar,
um bebê já canta. A arte é, assim, uma aptidão espontânea e inata do ser.

Mas por que produzimos arte? Por que povos primitivos, lutando pela sobrevivência em um
ambiente profundamente hostil, ainda assim, produziam arte? Por que, mesmo nos dias
atuais, em sociedades permeadas por problemas políticos, sociais, econômicos etc., ainda
assim, os homens produzem e se relacionam com objetos e manifestações artísticas?

Esse é um debate amplo nos campos do saber, com diferentes perspectivas filosóficas,
antropológicas, psicológicas e outras. Não vamos nos aprofundar especificamente em
cada uma delas, mas apontar algumas linhas gerais que nos auxiliam no entendimento
das questões propostas.

2.1. A ARTE COMO FORMA DE CONHECIMENTO


Sabemos que o ser humano é a única espécie dotada da capacidade de conhecimento.
O conhecimento pode ser resumido como aquilo que nos permite ter consciência de

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algo. Sabemos, por exemplo, o que é uma cadeira porque temos consciência sobre ela:
formatos, funções, materiais, cores, estilos. Mas, também, porque conseguimos imagi-
nar o que é uma cadeira e o que não é; conseguimos imaginar um tipo específico de ca-
deira diferente de outras. E podemos, ainda, imaginar cadeiras que nem existem! Essa
possibilidade de imaginação se relaciona diretamente à arte e é uma das propriedades
da vida humana.

A arte é, assim, uma forma de conhecer. Mas é uma forma particular, específica, ligada
ao conhecimento emocional e criativo. Pertence, assim, aos modos de conhecer do
campo sensitivo, que se obtém por meio dos sentidos externos (visão, audição, tato,
olfato) e internos (imaginação, fantasia). Nesse campo, “[...] as atividades da fantasia
são invenções, criações, sínteses que, elaboradas a partir do estado de espírito do
artista, encontram ressonância ou suscitam sentimentos parecidos em outras pessoas”
(MONDIN, 2008, p. 69).

Manifestações artísticas se realizam quando estabelecem uma relação entre o artista


e um público. Se olharmos para nossas experiências, todos nós já nos emocionamos,
IMPORTANTE

rimos, ficamos angustiados ou tristes, impressionados ou assustados com emoções e


situações que não eram, necessariamente, as nossas, mas, sim, as do protagonista.
Essa relação é, também, uma forma de conhecer, uma vez que, ao vivenciarmos senti-
mentos que não são os nossos, aprendemos sobre as configurações dos sentimentos
humanos, do nosso meio e da nossa cultura. Por isso, a arte nunca é individual, mas
sim uma construção coletiva.

2.2. A ARTE COMO POTÊNCIA CRIATIVA DO SER HUMANO


Algumas perspectivas consideram que a aptidão para a arte é uma dimensão cultural do
ser, mas também biológica e fisiológica e, por isso, apenas o ser humano produz arte. As-
sim, os fenômenos artísticos existem porque possuímos habilidades e capacidades especí-
ficas para isso, como: criatividade e imaginação para dar novas formas e sentidos às coisas;
habilidade manual que nos permite construir o que imaginamos; temos, ainda, a dimensão
simbólica que procura dar um sentido ou sentidos diferentes à realidade (CAICEDO, 2008).

Esta última, em particular, é uma das características essenciais da vida humana: o ser
humano possui a necessidade de significar e dar sentido à sua vida e ao seu meio. A arte
é um desses caminhos. Por meio dela, o ser que produz, sente ou desfruta de fenômenos
artísticos entra em contato com emoções estéticas – aquelas que vivenciamos por meio
da atividade artística –, e discorre sobre outras emoções e sobre a própria realidade.

O filósofo alemão Nietzsche (2007, p. 57) aponta que o ser tem necessidade da arte, de vi-
venciar a vida por meio da arte. Isso ocorre porque o intelecto e a racionalidade não são su-
ficientes para conhecermos o real. Sobretudo, não são suficientes para dar sentido à vida.
Vivemos, seguramente, graças ao carácter superficial do nosso intelecto,
numa ilusão perpétua: temos então, para viver, necessidade da arte a cada
instante. A nossa visão prende-nos às formas. Mas se somos nós próprios
quem, gradualmente, educa esta visão, vemos também reinar em nós uma
força de artista. Mesmo na natureza se encontram mecanismos contrários

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ao saber absoluto: o filósofo reconhece a linguagem da natureza e diz:


“Temos necessidade da arte” e “só precisamos de uma parte do saber”.
(NIETZSCHE, 2007, p. 58)

Sob essa perspectiva, a arte aparece como uma forma de conhecimento superior ao
intelecto. A vida mediada pela arte e pelo impulso artístico produz culturas fortes, se-
gundo o filósofo, pois, apenas pela arte, seria possível contemplarmos a imprecisão e
indeterminação da vida humana, aspectos que o conhecimento racional, científico e
lógico não seriam capazes de apreender.

A aptidão para a arte e o processo criativo são inatos ao ser humano. O que muda é a
coragem e disponibilidade para nos entregarmos a isso. Esse é um dos argumentos que a
SAIBA MAIS

filósofa e psicanalista Viviane Mosé debate com o ator e diretor Enrique Diaz e com o artis-
ta plástico Marcos Chaves, no programa Café Filosófico, exibido em 30 de maio de 2010.

Assista ao vídeo que está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=atq-


FRr6n_LI. Acesso em: 16 abr. 2021. Link

A filósofa Viviane Mosé (2010, [n. p.]) diz que “viver é um gesto artístico”.
REFLITA

Nas sociedades contemporâneas, tão permeadas pela racionalidade técnica e econô-


mica e pela busca por resultados, para que serve a arte? Olhe ao seu redor e para sua
formação: como a arte está inserida em seu cotidiano?

3. A FUNÇÃO SOCIAL DA ARTE


Temos, assim, que a arte é um campo particular da expressão e compreensão humana
e que acompanha o desenvolvimento e a história das sociedades, desde suas origens.
Todas as sociedades Figura 03. Davi, escultura Figura 04. Cartaz do filme
produzem arte e, por- de Michelângelo Tempos Modernos, de Charles
tanto, os fenômenos ar- Chaplin
tísticos tornam-se refle-
Modernos#/media/Ficheiro:Modern_Times_poster.

xos dessas sociedades.


O mesmo se dá quando
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tempos_

pensamos sobre a fun-


ção social da arte. Esta
também se transforma
jpg. Acesso em: 16 abr. 2021

conforme o contexto: os
meios técnicos e ma-
teriais disponíveis, as
formas e modos de re-
Fonte: 123RF.

presentação e as ques-
tões sociais, políticas,
econômicas colocadas
em cada época.
A produção e os espaços de fruição e contemplação artística mudam
conforme os contextos sociais.

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A manifestação pela arte é uma das formas de que o ser humano dispõe para com-
preender sua relação com o mundo. Por isso, ela nunca é individual, mas sim dialoga
com o coletivo, com as necessidades e anseios de cada meio social. A arte é tão mais
fundamental quanto mais corresponde a uma representação social.

Ao longo da história, essas representações mudam, pois, as sociedades e suas de-


mandas mudam também: nas sociedades pré-históricas, a arte está profundamente
relacionada à sobrevivência e aos rituais e não à contemplação. Na Idade Média, seu
sentido contemplativo e estético ganham novas dimensões a partir da relação da arte
com a religião; na era mais contemporânea, o fazer artístico está muito ligado à ideia
de liberdade e transformação social ao mesmo tempo em que a produção artística é,
também, parte essencial do mercado de consumo e massificado; e assim ocorre pelas
diferentes épocas históricas e pelas diferentes sociedades.

Leia o artigo Ensaio sobre o ‘gosto’ em Theodor Adorno e Pierre Bourdieu, escrito por
Tássio R. P. de Farias e Jean H. Costa. No texto, os autores apontam a construção
SAIBA MAIS

social do “gosto”, o porquê de gostarmos de determinados produtos culturais e artís-


ticos e não de outros.

Confira o artigo disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.


oa?id=307341015010. Acesso em: 22 mar. 2021. Link

Espetáculo de fogos de artifício pode ser considerado arte? Para o artista chinês Cai
Guo-Qiang, sim. Seu trabalho consiste em criar diferentes espetáculos com fogos de
DICA

artifício. Confira o trabalho do artista, suas tentativas e erros até que a obra fique
pronta e os desafios em produzir artisticamente sob o governo repressivo do sistema
político chinês no documentário Escada para o Céu, disponível na Netflix.

Desse modo, a função social da arte e do fazer artístico possuem diferentes finalidades:
moral e ética, política, religiosa, econômica, social, estética. Mas, apesar das inter-rela-
ções que a arte possui com todos esses campos, ela possui uma finalidade intrínseca,
a saber, um espaço particular, original e único pelo qual o ser enxerga e interpreta o
mundo se adaptando a ele, mas também o transformando. O artista e a arte são, assim,
intérpretes do momento histórico em que vivem. Nas palavras de Fischer (1987, p. 51):
“[...] o artista continua sendo o porta-voz da sociedade”.

Em um momento de tamanhas incertezas e dor, como o causado pela pandemia do


ATUALIDADE DO TEMA

Covid-19, a arte se reorganiza nos cotidianos. A área artística, do fazer e do consumo


da arte, assim como tantas outras, foi profundamente afetada pela necessidade do
isolamento social: teatros, cinemas, museus, casas de espetáculo foram fechados e,
assim, tanto artistas quanto público se viram privados desses espaços. Mas o fenô-
meno artístico é essencial à vida humana e a arte encontra suas brechas em novos
arranjos sociais: é muito provável que você tenha assistido ou participado de alguma
live ou que tenha procurado refúgio na literatura, por exemplo. E quem não se lembra
das cenas de pessoas cantando nas varandas de seus apartamentos em diferentes
cidades italianas como uma forma de lidar com a solidão, durante o isolamento social?

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A produção do artista, também, responde a esse momento. Deixamos como sugestão


o documento Artes visuais em tempos de pandemia, produzido pelo professor Wilson
Cardoso Junior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que traz um compilado
das artes visuais produzidas nesse tempo pandêmico. Essas, possivelmente, serão
algumas das nossas “pinturas rupestres”, pelas quais sociedades futuras tentarão
entender nosso tempo. Disponível no link a seguir: http://observatorioedhemfoc.
hospedagemdesites.ws/observatorio/wp-content/uploads/2020/05/NVersao-Ar-
te-em-Tempos-de-Pandemia.pdf. Acesso em: 16 abr. 2021. Link

Por ser esse o espaço específico e original Figura 05. Desalinho, Acácia Azevedo (2021)
da relação do ser com o seu meio social, com
o seu tempo, como lugar da expressão hu-
mana, o elemento essencial do fazer artístico
é a liberdade. Por isso, a arte não tem, por
princípio, limites. Antes de tudo, a arte é o
espaço da experimentação, do olhar original
sobre as vivências humanas. O artista ocu-
pa, assim, um lugar específico no conjunto
das relações sociais, uma vez que o fazer
artístico não está submetido aos limites mo-
rais, políticos e/ou econômicos.

Painel de cerâmica, sob a técnica de modelagem manual,


que remete às rupturas, às flexibilizações e aos modos
outros de (co)existência. Fonte: http://acaciaazevedo.
blogspot.com/. Acesso em: 6 mai. 2021.

O que é arte? Será que a arte pode ser problematizada política e moralmente? Ouça
o podcast preparado para você e reflita sobre diferentes elementos, a partir de ocor-
REFLITA

rências contemporâneas.

Acesse: https://drive.google.com/file/d/1CiL9wTVwwntoWMBJsqettaHA5il9QXkR/view
Link

Veja, no vídeo a seguir, um curto depoimento do escrito Mario Vargas Llosa sobre a
necessidade da arte. Atente-se à relação entre arte e liberdade pensada pelo escritor
DICA

e seus impactos no meio social. Ative a legenda do seu vídeo no link a seguir: https://
www.youtube.com/watch?v=tUagLka4YYU. Acesso em 16 abr. 2021. Link

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CONCLUSÃO
No livro O que é arte?, Jorge Coli (1995, p. 87) menciona, em uma passagem, uma fala
creditada a Mário de Andrade, que defende que “[...] a arte não é um elemento vital, mas
um elemento da vida”. Podemos passar pela vida sem nenhum contato com o mundo
artístico; certamente, comida e proteção da integridade física são mais essenciais à
sobrevida humana. Mas, admitindo essas circunstâncias, sem a arte o ser humano con-
templaria toda a complexidade da vida humana?

O fazer artístico é um campo que, à primeira vista, parece supérfluo ou inútil, mas que
representa um espaço único, privilegiado e original da experiência humana, do desen-
volvimento das emoções e da imaginação, do conhecimento sensitivo do mundo e da
vida, da possibilidade de enxergarmos nosso cotidiano a partir de outros olhares. Por
isso entendemos, quase instintivamente, a fala da mãe de Fred, do início desta unidade,
ao perceber que o quadro pendurado deu mais vida à parede branca.

Ao mesmo tempo, apesar de sua condição de aptidão inata ao ser humano, no mundo
contemporâneo, nem todos possuem acesso ao desenvolvimento do fazer artístico ou
mesmo à contemplação e fruição da arte. Durante séculos, a arte foi confinada e enten-
dida como um espaço do privilégio, fechado nos museus ou nos grandes teatros. Mas o
que buscamos demonstrar nessa unidade é que a arte é parte da vida, do cotidiano, é
própria da nossa humanidade. Ao voltarmos nossos sentidos e educarmos nosso olhar
para a arte, podemos recuperar esse espaço do conhecimento do mundo por meio do
gesto artístico, tão próprio de todos nós.

Figura 06. Mapa Mental – Homo artisticus

` Significar / Ressignificar ` Cultura


` Atribuição de Sentidos Criação Arte ` Emocional / Sensorial•
` Interpretar / Reinterpretar Artística ` Estética
` Potência Humana

Música ` Cinema
Homo
`
` Imaginativo ` Pintura ` Culinária
Manifestação
` Processo Criativo Fazer Artístico ` Teatro ` Etc.
` Espaço da Liberdade
Artisticus Artística `
`
Filme
Literatura

Função Arte e
` Belo ` Indústria Cultural
Estética Tecnologia

Fonte: elaborado pela autora.

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