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ARTES VISUAIS, HISTÓRIA E

SOCIEDADE
AULA 1

Profª Danielly Sandy


CONVERSA INICIAL

A presente aula, voltada a um recorte específico da história da arte, visa


tratar o tema em consonância com as artes visuais, a história e a sociedade de
cada um dos períodos abordados. Destacamos que a arte produzida pelo
homem surgiu ainda antes do conceito de arte, significando que o homem
sempre teve a necessidade de se expressar de alguma forma e para alguma
finalidade.
Não obstante, devemos compreender que muito do que o homem
produziu ao longo dos milênios tem forte relação com as suas crenças, mas,
também, há muita produção de objetos diversos e itens utilitários, o que não os
exclui em nada de sua cultura. Para melhor contextualizarmos este assunto,
iniciaremos com o período Paleolítico e finalizaremos com as expressões
artísticas do Império Bizantino. Assim, os conteúdos estão organizados da
seguinte forma:

1. A Pré-História: será a criação de pinturas e artefatos mágicos?


2. A arte egípcia e sua forte relação com a morte e imortalidade da alma;
3. A arte na Grécia: por um ideal de harmonia e beleza;
4. A arte em Roma;
5. Expressões artísticas no Império Bizantino.

Quando voltamos nosso olhar para a história da humanidade,


naturalmente podemos observar certas questões, inclusive relacionadas à
cultura de cada grupo ou etnia, bem como a cada época. A cultura pensada por
meio do conjunto de saberes e fazeres diz muito sobre a identidade de cada
grupo. Assim, ela nos permite compreender questões bastante específicas. Não
há grupos na história da humanidade que não tenham produzido a sua cultura e
em decorrência de sua própria cultura. E, em meio a essa produção, que envolve
todo o tipo de material e artefato utilitário, vamos destacar a arte.
A arte, embora ainda não possa ser definida de maneira pragmática
devido ao fato de ser subjetiva, já possui alguns conceitos melhor consolidados
em nosso tempo. Isso se dá em decorrência de uma série de fatores, como a
construção do conhecimento geração após geração, dada por inúmeros
pensadores que se dedicaram a investigar e dissertar sobre essa falange de
questionamentos.

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De qualquer forma, destacamos aqui a arte segundo o prisma de
historiadores e críticos como Arnold Hauser (2003), o qual destaca a forte
relação da arte com a sociedade de seu tempo, abrangendo aspectos culturais,
mas, inclusive, econômicos. Assim, compreendemos que “toda obra de arte é
resultado da tensão entre uma série de objetivos e uma série de resistências à
sua realização” (Hauser, 2003, p. 28).
Vale destacar que o recorte aqui proposto visa apresentar cinco tópicos
específicos com seus respectivos desdobramentos, representando apenas um
recorte temporal diante das inúmeras produções humanas dentro do período
abordado. Assim, compreendemos as palavras de Perigo quando esse afirma
que

muitos artistas importantes podem ter sido deixados de fora da história


da arte que conhecemos, daquela que chega até nós por meio dos
livros ou de exposições em galerias e museus. Nesse sentido, as obras
consagradas pela história da arte são produtos de uma escolha – e
toda escolha pressupõe que algo teve de ser descartado. (Perigo,
2016, p. 26)

Tendo ciência disso, evidenciamos a intenção de propormos aos leitores


algo além do mero conhecimento teórico sobre a história da arte, pois, na
realidade, buscamos fomentar a construção do conhecimento e pensamento
crítico por meio de elementos da história da arte. Ou seja, é imprescindível
pensarmos a história da arte e, para tanto, precisamos nos instrumentalizar de
uma forma instigante. A construção desse conhecimento com base nos
exemplos aqui expostos é que permitirá que continuemos a nossa investigação
sobre qualquer outro período, estilo, artista e obra.
Assim, iniciamos com a Pré-História e as principais interpretações da
produção artística do homem desse período, dividindo-o entre Paleolítico – ou
Idade da Pedra Lascada – e Neolítico – ou Idade da Pedra Polida.

TEMA 1 – A PRÉ-HISTÓRIA: SERÁ A CRIAÇÃO DE PINTURAS E ARTEFATOS


MÁGICOS?

Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre construiu coisas


e expressou a sua condição. Tal expressão pode ser visualizada já na arte Pré-
Histórica, quando o conceito de arte ainda nem existia. Porém, a sua finalidade
ainda pode parecer um verdadeiro mistério para alguns.

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Para além dos utensílios, há muitos registros desse período, como
pinturas rupestres gravadas nas paredes e no teto das cavernas e também
estatuetas. O período Paleolítico é o primeiro do qual a história possui registros.
Acredita-se que o seu início tenha ocorrido há acerca de mais de 2 milhões de
anos. Vale destacar que as condições em que o homem vivia dizem muito acerca
do que podemos compreender já como uma forma de sociedade da época. O
homem paleolítico era nômade, ou seja, ainda não construía a sua própria
moradia e vagava com o seu grupo em busca de locais propícios até que os
recursos fossem esgotados. Isso fazia com que habitassem temporariamente o
interior de cavernas, e sua forma de sobrevivência se dava também por meio da
caça (Hauser, 2003).
Não obstante, há a compreensão entre historiadores e críticos de arte de
que as imagens reproduzidas nesse período possuíam finalidade mágica. Assim
sendo, conforme apontam Janson e Janson:

Aparentemente, para os homens do Paleolítico, não havia uma


distinção muito nítida entre imagem e realidade; ao retratarem um
animal, pretendiam fazer com que ele fosse também trazido ao seu
alcance, e ao “matarem” a imagem julgavam ter matado o espírito vital
do animal. (Janson; Janson, 1996, p. 15-16)

De acordo com Hauser (2003), esse gesto contribuiria para que fosse
assegurada uma caça auspiciosa, tal como se o homem pudesse, de fato,
apreender o animal ao prender a sua imagem. Assim, os responsáveis pelas
pinturas rupestres seriam uma espécie de artistas-mago, caçadores e grandes
conhecedores da anatomia dos animais que seriam representados. Com isso,
temos um registro das primeiras castas sacerdotais de uma religião primitiva.
Conforme Gombrich (1999), o pensamento pode até parecer um tanto
quanto primitivo, todavia, ao analisarmos que atualmente ainda existem grupos
culturais que mantêm a crença de que uma imagem energeticamente tem
relação com a figura retratada, verificamos que tal pensamento recorre no
inconsciente coletivo da humanidade. Ainda de acordo com Gombrich:

A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de


que se trata das mais antigas relíquias da crença universal no poder
produzido pelas imagens; dito em outras palavras, parece que esses
caçadores primitivos imaginavam que, se fizessem uma imagem da
sua presa – e até a espicaçassem com suas lanças e machados de
pedra –, os animais verdadeiros também sucumbiriam ao seu poder.
(Gombrich, 1999, p. 42)

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Assim, é compreensível observarmos que, no período Paleolítico ou Idade
da Pedra Lascada, havia uma extensa produção de representações de animais
com traços naturalistas, ou seja, o mais próximos da realidade. Afinal, o
naturalismo é uma das principais características da arte paleolítica,
apresentando figuras muito bem desenhadas por meio de algumas linhas e
notável conhecimento acerca de volumes e aplicações da cor.

Figura 1 – Arte rupestre. Representação de bisão na parede da caverna de


Altamira, na Espanha

Crédito: Acongar/Shutterstock.

Dessa forma, verificamos a representação de bisões pintados com tons


terrosos cuja tinta utilizada pelo homem desse período se dava por meio do uso
de pigmentos diversos extraídos da natureza, como carvão, terra e pedras
moídas, sangue humano e animal e gordura. Destacamos que nesse período
não há representações humanas bidimensionais, mas há registros escultóricos
de corpos femininos sem face com formatos esteatopígicos, ou seja, com quadris
avantajados. A representação desse formato teria relação forte com a ideia de
fertilidade (Janson; Janson, 1996). Um notável exemplo dessas estatuetas de
corpo feminino é a famosa Vênus de Willendorf.

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Figura 2 – Stonehenge ou Dolmens Megalíticos, Salisbury, Inglaterra

Crédito: Azrok66/Shutterstock.

Já no período Neolítico, também conhecido como Idade da Pedra Polida,


há aproximadamente 10 mil anos e 5 mil a.C., o homem deixou de seu nômade
em busca de ambiente propício e passou a construir as suas próprias moradias.
Esse evento foi bastante significativo para a mudança da condição de vida das
pessoas que pertenciam a esses grupos, posto que não ficariam mais em um
local até esgotarem os recursos naturais para, em seguida, procurarem outros
locais.
Isso permitiu ao homem da época cultivar o seu próprio alimento. A partir
desse momento, temos o início da agricultura. Não obstante, nesse momento
também o homem passa a criar e domesticar animais, podendo garantir o seu
alimento sem que seja necessário sair para caçar. Essas mudanças, conforme
apontam Janson e Janson (1996, p. 17), mostram “um dos passos
verdadeiramente revolucionários da história humana, mesmo que a revolução
tenha se estendido por muitos milhares de anos”.
Ainda em consequência do mencionado desenvolvimento, temos o início
da arquitetura com a construção das primeiras moradias, que eram construídas
com pedras e chamadas de nuragues. Sobre a pintura rupestre, destacamos que
o naturalismo vai sendo substituído por linhas que parecem melhor sintetizar as
formas, resultando muitas vezes em traços bastante simples e que deram origem
à escrita pictográfica.
Para Hauser:

No lugar de uma concretização da experiência cotidiana de vida, a arte


procura agora deter-se na ideia, no conceito, na substância íntima da
coisa – mais para criar símbolos do que semelhanças do objeto. Os
desenhos neolíticos indicam a figura humana por dois ou três padrões
geométricos muito simples, como, por exemplo, uma linha reta vertical

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para o corpo e dois semicírculos, um voltado para cima e outro para
baixo, para os braços e pernas. (Hauser, 2003, p. 9)

Acredita-se que tal sintetização das formas decorreria do fato de que o


homem não precisaria mais recorrer a práticas de magia com imagens
naturalistas para assegurar caças proveitosas, pois, nesse momento, o homem
já estava contando com a prática da criação e domesticação de animais
(Gombrich, 1999).

Figura 3 – Pinturas neolíticas na caverna de Magura, Bulgária

Crédito: MilenG/Shutterstock.

TEMA 2 – A ARTE EGÍPCIA E SUA FORTE RELAÇÃO COM A MORTE E


IMORTALIDADE DA ALMA

Para compreendermos a arte egípcia é necessário conhecermos alguns


pontos altos dessa antiga civilização, como a religião. A religião no Antigo Egito
era politeísta, ou seja, voltada à existência de diversos deuses, sendo cada um
deles direcionado a uma questão específica. Toda a sociedade egípcia possuía
forte relação com essa religião, que tinha os seus valores consolidados em
questões como a morte e imortalidade da alma.
A sociedade egípcia era teocrática, ou seja, os deuses estavam no
comando político e, para tanto, era necessário ter uma figura na Terra que
pudesse representá-los. Nesse caso, a figura era o faraó. Os artistas egípcios
dessa época se esmeravam para produzir uma arte que seguia valores e
padrões rigorosos utilizados há muitas gerações com o intuito de fazer de sua
expressão uma forma de alcançar a linguagens das divindades.

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[...] os padrões básicos das instituições, crenças e ideais artísticos
egípcios formaram-se entre 3000 e 2500 a.C. e foram continuamente
reafirmados nos dois mil anos seguintes, de tal forma que toda a arte
egípcia, à primeira vista, tende a parecer uniforme. Na verdade, a arte
egípcia oscila entre o conservadorismo e a inovação, mas nunca é
estática. (Janson; Janson, 1996, p. 22)

Esse movimento na arte proporciona aos artistas uma busca pelo que
compreendiam como perfeição, sem, no entanto, abrirem mão dos padrões
estéticos para a criação (Janson; Janson, 1996). A arte no Egito podia ser vista
em todos os locais e sempre evidenciava os valores da sociedade, os quais,
conforme anteriormente citado, tinham forte relação com aquele universo
religioso.
Assim sendo, encontramos na pintura, na escultura, na arquitetura e em
toda a produção artística de vários objetos e artefatos mágicos a fé que movia
as engrenagens daquela sociedade bastante suntuosa. Sobre a arquitetura,
podemos destacar grandiosas construções e monumentos que ainda hoje nos
trazem várias indagações, como as pirâmides. Dentre as pirâmides, destacamos
as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, sendo a maior pirâmide a de
Quéops, construída cerca de 2550 anos a.C., com 146,6 metros de altura.

Figura 4 – A grande Esfinge de Gizé e as Pirâmides ao fundo – Quéops, Quéfren


e Miquerinos

Crédito: AlexAnton/Shutterstock.

2.1 A lei da frontalidade

Quando tratamos da pintura, verificamos as técnicas que eram utilizadas


no Antigo Egito, como a têmpera. Para essa técnica, os artistas utilizavam cera
de abelha derretida com pigmentos coloridos, a qual era aplicada sobre as
paredes ou madeira, sendo essa uma técnica de alta durabilidade, pois somente
o calor ou depredação poderiam prejudicá-la.

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Para ser artista no Antigo Egito, era necessário conhecer e se dedicar às
técnicas, sem contar que ainda era necessário conhecer os ritos e simbolismos
da religião. Para tanto, os artistas e arquitetos também eram grandes iniciados
que transmitiam de forma ímpar todo o seu conhecimento e respeito em suas
obras, que não eram assinadas.
A reverência era elemento-chave para se produzir uma arte que não
apenas decoraria uma tumba, mas que, sobretudo, ajudaria a alma na passagem
harmoniosa do plano físico para o mundo dos mortos. E todos os artistas
respeitavam essas regras e padrões, valorizando cada passo de seu
aprendizado por meio da observação e prática contínuas. Assim sendo,
conforme aponta Gombrich:

O estilo egípcio incorporou uma série de leis bastante rigorosas, e todo


artista tinha que aprendê-las desde muito jovem [...]. Mas, assim que
dominasse todas essas regras, dava-se por encerrada a sua
aprendizagem. Ninguém queria coisas diferentes, ninguém lhe pedia
que fosse “original”. Pelo contrário, era provavelmente considerado o
melhor artista aquele que pudesse fazer suas estátuas o mais
parecidas com os belos monumentos do passado. (Gombrich, 1999, p.
65-67)

Figura 5 – Papiro do livro dos mortos. Museu Britânico, Londres, 2013

Crédito: Danielly Sandy.

No papiro do livro dos mortos, podemos observar com atenção toda a


ritualística de uma passagem, quando o coração de um homem é pesado em
uma balança em oposição ao peso de uma pena. Isso mostra que o coração do
morto deveria pesar menos que uma pena no dia do juízo final liderado pelo deus
Anúbis com cabeça de chacal.
Cada elemento da pintura possui a sua representação simbólica, e,
sabendo disso, ao nos aprofundarmos na arte egípcia, faz-se necessário nos
atermos a esses detalhes que fazem toda a diferença para a leitura e

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interpretação. Outrossim, o que pode contribuir para tanto é a leitura de livros de
egiptólogos, bem como o estudo da escrita hieroglífica. Além disso, as cores
também possuem grande representatividade na arte egípcia, bem como a
disponibilização dos elementos no espaço dividido em planos.

2.2 O naturalismo a partir de Akhenaton

Na história do Egito, podemos destacar um momento histórico bastante


conturbado, quando um faraó tentou impor a sua crença em somente um deus,
buscando impor à sociedade da época uma visão monoteísta. Esse faraó foi
Akhenaton, e não apenas a religião, mas também a arte sofreu mudanças por
meio de suas considerações. Podemos observar que as pinturas e esculturas
passaram a apresentar traços mais naturalistas sobrepostos aos séculos de
tradição pictórica e escultórica baseadas em rigorosos modelos.
Com isso, verificamos leveza e até certa tentativa de volumetria que
alguns artistas já buscavam expressar. De acordo com Gombrich:

As pinturas que ele encomendou devem ter chocado os egípcios do


seu tempo pela novidade. Em nenhuma delas se encontrava a solene
e rígida dignidade dos faraós anteriores. Preferiu fazer-se representar
com sua esposa Nefertiti, acariciando seus filhos sob as bênçãos do
sol. Alguns dos seus retratos mostram-no como um homem feio; talvez
ele quisesse que os artistas o retratassem em toda a sua fragilidade
humana. (Gombrich, 1999, p. 67-68)

Figura 6 – Akhenaton e Nefertiti com seus filhos, cerca de 1345 a.C. Relevo em
altar de pedra calcária, 32,5 x 39 cm. Museu Egípcio

Crédito: D.Serra1/Shutterstock.

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TEMA 3 – A ARTE NA GRÉCIA: POR UM IDEAL DE HAMONIA E BELEZA

O conceito de arte passa a ser mais bem compreendido, mas não


necessariamente bem definido, a partir da Grécia Antiga. Foi nessa época que
tivemos filósofos lançando seu olhar para reflexões acerca de questões que
envolviam os artistas, trazendo para a arte um papel que extrapolava a função
utilitária.
Essa visão é notavelmente relevante porque nos permite analisar a arte
atual como elemento de deleito, de contemplação da harmonia e de uma beleza
ideal, a qual observamos em diversas esculturas e outras figuras da época.

A fase de formação da civilização grega abrange cerca de quatrocentos


anos, de a.C. 1100 a 700 a.C. Sabemos muito pouco dos três primeiros
séculos desse período, mas, após 800 a. C., os gregos surgem
rapidamente à plena luz da história. (Janson; Janson, 1996, p. 46)

Ao tratarmos da arte na Grécia Antiga, naturalmente devemos, ainda,


abordar as ordens de colunas e capitéis, sendo as mais importante as ordens
jônica, dórica e coríntia. “As realizações gregas em arquitetura têm sido
identificadas, desde os tempos romanos antigos, com a criação das três ordens
arquitetônicas clássicas: a dórica a jônica e a coríntia” (Janson; Janson, 1996, p.
51). Essas colunas se reproduzem em todas as construções gregas, por meio
das quais podemos identificar o seu estilo também por esse tipo de análise.

Figura 7 – Ilustração de estilos de antigos capitéis de colunas gregas

Crédito: Babich Alexander/Shutterstock.

Um dos ícones da arquitetura grega é o Partenon, com suas


características que nos sugerem harmonia e equilíbrio em sua forma. Trata-se
de uma construção ímpar da história da arte que servia como templo na
antiguidade. De acordo com Janson e Janson:

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[...] a impressão dominante é de um equilíbrio gracioso e aprazível.
Uma luminosidade geral e um reajustamento das proporções são
responsáveis por essa impressão: as carreiras horizontais acima das
colunas não são largas em relação ao seu comprimento “[...] a estrutura
do frontispício projeta-se menos insistentemente, e as colunas, além
de serem mais esguias, são separadas por espaços mais amplos. [...]
O Partenon transmite sensação de repouso. (Janson; Janson, 1996, p.
54)

Com base nessa leitura, podemos observar também outras construções,


tanto antigas como ainda aquelas mais recentes que se encontram ao nosso
entorno, buscando compreender os traços e expressões arquitetônicas nas
cidades. Essa experiência vem de encontro com o aperfeiçoamento do olhar
para passarmos a desenvolver nosso pensamento crítico e análise estética.
Assim, evidenciamos que mesmo nos dias atuais ainda encontramos diversas
construções com colunas e capitéis com evidente influência da arquitetura grega.

Figura 8 – Partenon, Atenas, Grécia

Crédito: Ata51/Shutterstock.

3.1 A pintura grega

A pintura na Grécia antiga era considerada como uma “arte menor”, sendo
mais utilizada para a pintura e decoração de vasos e outros objetos e artefatos
utilitários. O pintor de vasos representava não apenas formas geométricas
simples, mas, ainda, figuras humanas e animais que tinham relação com os
mitos e representações de heróis e deuses.
De acordo com Gombrich:

Os artistas gregos ainda procuravam fazer as figuras com os mais


nítidos contornos e incluir tantos conhecimentos sobre o corpo humano
quantos soubessem na pintura sem violentar a sua aparência. Ainda
eram amantes das linhas firmes e do plano equilibrado. Ainda não se
dispunham a todos os relances fortuitos da natureza tal como os viam.
(Gombrich, 1999, p. 82)

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Figura 9 – Vaso grego antigo representando uma carruagem isolada em branco
com caminho de recorte

Crédito: Kamira/Shutterstock.

Há vários exemplos desses vasos gregos que chegaram até nós nos dias
atuais. Por meio deles, podemos observar algumas características nos
diferentes estilos que os definem, tais como:

• Estilo geométrico;
• Estilo arcaico;
• Estilo em preto;
• Estilo em vermelho;
• Estilo clássico.

3.2 A escultura grega

A escultura era a linguagem das artes visuais mais respeitada como a


representação do ideal de beleza e harmonia tão buscado pelos artistas gregos.
Podemos notar que inicialmente as esculturas de Grécia tiveram grande
influência das esculturas egípcias, como podemos observar nas esculturas dos
Kouros (jovens). Mas, com o passar do tempo, os gregos se encontraram nessa
arte, trazendo, de maneira majestosa, os seus ideais de proporcionalidade.
Assim, destacamos os seguintes estilos:

• Estilo arcaico: Kouros (jovem) com influência da arte egípcia no que se


refere à forma cúbica e à postura rígida que se reproduz nas diferentes
esculturas. É bastante popular o “sorriso” dessas esculturas arcaicas.

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Figura 10 – Estátuas de dois irmãos Kouros, estilo arcaico. Museu Arqueológico
de Delphi

Crédito: Pit Sotck/Shutterstock.

• Estilo clássico: é um estilo harmonioso em forma e sentimento e com


estabilidade em meio à ação. Foi bastante usado pelos escultores até
quando Atenas foi derrotada por Esparta na Guerra do Peloponeso.

Figura 11 – Estátua de Bronze de Poseidon, a.C. 460-450 a.C. Museu Nacional


de Atenas

Crédito: Arne Berudsen/Shutterstock.

• Estilo helenístico: trata-se de um estilo visivelmente considerado ainda


mais “leve” e “fluídico” que o estilo clássico, com apresentação de maior
realismo nas figuras, além de torsões expressivas e grande movimento
nos tecidos que cobriam os corpos das figuras. Assim sendo, conforme
Janson e Janson:

Comparada às estátuas clássicas, a escultura do período helenístico


mostra, em geral, um realismo e expressividade acentuados, bem
como uma maior experimentação com o drapejamento e a postura, que
frequentemente exibem um movimento de torsão considerável.
(Janson; Janson, 1996, p. 63)

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Figura 12 – Vênus de Milos, Museu do Louvre em Paris, França

Crédito: Iornet/Shutterstock.

Além da famosa escultura “Vênus de Milos” no estilo helenístico, ainda


podemos citar outras como “A Vitória de Samotrácea” e “Laocoonte e seus
filhos”, por meio da qual chegou até nós uma cópia romana que atualmente se
encontra no Museu do Vaticano, em Roma.

TEMA 4 – A ARTE EM ROMA

A arte romana possui grande influência da arte grega, mesmo nas


diferentes linguagens. Não obstante, há características bastante específicas,
como a utilização de arcos na arquitetura, além das abóbadas. Um exemplo de
construção romana nesse formato é o Panteão em Roma, que foi construído em
homenagem a todos os deuses e seus interior apresenta uma abóbada de berço.

É muito difícil pensar no desenvolvimento da capital romana sem o arco


e o sistema de construção de abóbadas que dele se origina: a abóbada
de berço – um cilindro; a abóbada de arestas, que consiste em duas
abóbadas semicilíndricas que se cruzam em ângulos retos; e o domo.
(Janson; Janson, 1996, p. 70)

Outro grande exemplo da arquitetura romana da época é o Coliseu, um


teatro de Arena que era utilizado para proporcionar diversão ao público da época.
O Coliseu chegava a acomodar cerca de 50 mil pessoas e seus arcos de estilo
romano podem ser vistos e facilmente reconhecidos em toda a sua extensão.

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Figura 13 – Ruínas do antigo anfiteatro Coliseu, Roma, Itália

Crédito: Phant/Shutterstock.

4.1 A pintura

Considera-se que há poucas pinturas romanas que chegaram até nós. Há


bastante influência da pintura grega nas pinturas romanas. São mais comuns na
decoração de ambientes, sendo produzidas por meio da técnica de afrescos.
Mas ainda podemos citar que é bastante comum encontrarmos retratos
funerários com belíssimas pinturas romanas, sendo algumas delas produzidas
pela técnica da encáustica.

Figura 14 – Antiga pintura romana na técnica de afresco, representando os


mistérios ocultos de Dionísio

Crédito: Blackmac/Shutterstock.

4.2 A escultura em Roma

As esculturas romanas sofreram bastante influência das esculturas


egípcias e gregas para algumas produções, mas também havia traços próprios
e conceitos para determinadas obras, tal como veremos nos bustos. Dentre as
esculturas romanas, vemos, ainda, muitas reproduções de obras gregas.

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Os escultores romanos faziam uso do naturalismo sem, no entanto, cair
na trivialidade, demonstrando grande afinidade com as figuras retratadas.
Também havia muitas esculturas de retratos, como bustos e outras
representações de pessoas de classes mais abastadas, além dos famosos
bustos dos imperadores.
Uma representação bastante conhecida desse período é o retrato
equestre do Imperador Marco Aurélio, em Roma, na Itália.

Figura 15 – Estátua do imperador Augusto na primeira porta do Museu do


Vaticano

Crédito: PavelJiranek/Shutterstock.

TEMA 5 – EXPRESSÕES ARTÍSTICAS NO IMPÉRIO BIZANTINO

O imperador Constantino (272-337), o Grande, no ano de 323 d.C.,


decidiu fazer da cidade de Bizâncio, localizada na Grécia, a capital do Império
Romano, passando essa a se chamar Constantinopla. “A nova capital também
simbolizava a nova base cristã do Estado romano, uma vez que se localizava no
coração da região mais completamente cristianizada do Império” (Janson;
Janson, 1996, p. 88). No entanto, o que Constantino não esperava era que a
mudança da capital do Império Romano também resultasse na cisão do reino,
resultando, posteriormente, em maior facilidade para ataques e invasões de
povos bárbaros como os visigodos, ostrogodos e outros.
Mesmo assim, o Império Oriental, localizado em Bizâncio, pôde
permanecer ao conseguir sobreviver a esses ataques sob regência do Imperador
Justiniano (482-565).

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O imperador Justiniano foi considerado um protetor das artes, tendo sua
época chamada de Idade do Ouro. Além disso, sua influência foi bastante
significativa para o patrocínio e incentivo do esplendor da arte bizantina.
Com todos os ataques e invasões dos povos bárbaros, o Império Romano
foi reduzido aos Balcãs e à Grécia, perdurando até o ano de 1453, quando a
cidade de Constantinopla foi conquistada pelos turcos, tornando-se a atual
cidade de Istambul, capital da Turquia (Janson; Janson, 1996). Logo, em
Constantinopla, então Istambul, desenvolveu-se uma outra cultura resultante de
um novo grande império com suas características na arte – o Império Otomano.
Sendo assim, a arte bizantina iniciou juntamente com a Idade Média e
buscou trazer ao observador toda a pompa e poder daquele Império,
demonstrados por meio de cores e representações religiosas. Para Janson e
Janson (1996, p. 89), a arte bizantina “designa não apenas a arte do Império
Romano do Oriente, mas também um estilo com características específicas”.
Isso evidencia justamente que essa arte possui características bastante
marcantes, as quais revelam o início da religião cristã como religião oficial do
Império Romano. O historiador da arte Gombrich defende que:

Apesar de uma certa rigidez, a arte bizantina manteve-se, portanto,


mais próxima da natureza do que a arte do Ocidente em períodos
posteriores. Por outro lado, a ênfase sobre a tradição e a necessidade
de respeitar certos métodos permitidos de representar o Cristo ou a
Virgem tornaram difícil aos artistas bizantinos desenvolverem seus
dotes pessoais. Mas esse conservantismo desenvolveu-se
gradualmente [...]. (Gombrich, 1999, p. 138)

Vale destacar que, na arte bizantina, não era toda a pintura cristã
considerada um ícone, pois, os bizantinos, assim como os egípcios, buscavam
manter as suas tradições na arte. Dessa forma, eram respeitados os
conhecimentos antigos, além de que as figuras contavam com uma consagração
especial para poderem ser reconhecidas como ícones (Gombrich, 1999).
Características estilísticas como a rigidez das figuras, a frontalidade e o caráter
majestoso marcam de maneira insigne a arte produzida por essa cultura. Além
disso, na arte, Jesus Cristo é sempre representado como um majestoso rei e a
sua mãe, a Virgem Maria, como uma majestosa rainha. Conforme afirma Hauser
(2003, p. 135), “essa arte devia ser a expressão de uma autoridade absoluta, de
grandeza sobre-humana e mística inacessibilidade”.

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Dentre toda a expressão artística bizantina são muito conhecidos os
mosaicos, que nos apresentam figuras sempre voltadas aos temas religiosos e
também ao Imperador. Tais mosaicos formam ícones ou imagens por meio da
disposição de pequenas pedras e pedaços de vidro ou cerâmica coloridos. Um
exemplo de mosaico da época, por meio do qual podemos identificar as
principais características da arte bizantina, é o mosaico de San Vitale, em
Ravena, o qual mostra o Imperador Justiniano e seu Séquito. Segundo Janson
e Janson,

aqui encontramos um novo ideal de beleza humana: figuras


extraordinariamente altas e esguias, com minúsculos pés, pequenos
rostos em forma de amêndoa, dominados por grandes olhos, e corpos
que só parecem capazes de gestos cerimoniais, além da exibição de
trajes magníficos. (Janson; Janson, 1996, p. 99)

Figura 16 – Justiniano e seu Séquito, 547 d. C. Mosaico, San Vitale, Ravena

Crédito: Mirage.nl/Shutterstock.

Outra imagem bastante conhecida e de excelsa beleza é a do mosaico


representando Jesus Cristo com fundo dourado, localizado na famosa Igreja de
Hagia Sophia, em Constantinopla, atual cidade de Istambul. O antigo mosaico
bizantino mostra a imagem de Jesus Pantocrator com uma mão em sinal de
bênção e a outra segurando o livro do Evangelho. Na iconografia cristã, a
representação do Pantocrator, que significa Todo Poderoso, é sempre mostrada
por meio da imagem de Cristo com a mão direita levantada com os dedos
polegar, indicador e médio para o alto, em representação de bênção e também
em memória à Santíssima Trindade e onipresença divina.

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Figura 17 – Mosaico de Jesus Cristo com fundo dourado, Igreja de Hagia Sophia,
em Istambul

Crédito: Repina Valeriva/Shutterstock.

NA PRÁTICA

Com base nos conteúdos desta aula:

• Escolha o tópico que mais despertou a sua curiosidade e realize uma


pesquisa com base em livros e sites para se aprofundar ainda mais;
• Escreva um pequeno texto contando sobre o tópico escolhido por você,
e, após isso, selecione uma linguagem artística – pode ser pintura ou
escultura – para tentar reproduzir uma imagem ao seu gosto, segundo a
técnica e estilo do período.

FINALIZANDO

Dada a forte relação da arte com a história e a sociedade, vimos a


imprescindibilidade de nos aprofundarmos cada vez mais na história da arte.
Assim, aprendemos por meio de um recorte temporal na história da arte com
ênfase em alguns tópicos. Iniciamos pela arte produzida ainda antes do
surgimento do conceito de arte, destacando a Pré-História com suas pinturas e
artefatos possivelmente “mágicos”.
Passamos pelo Egito para compreendermos um pouco mais dessa arte
tão incrivelmente pautada em uma sociedade politeísta e teocrática.
Observamos a arte na Grécia, dando destaque aos ideais de beleza e harmonia
tão buscados. Aprendemos sobre a arte de Roma, com especial atenção às
pinturas e esculturas e, por fim, aprendemos sobre expressões artísticas do
período do Império Bizantino.

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REFERÊNCIAS

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.

HAUSER, A. História social da arte e literatura. São Paulo: Martins Fontes,


2003.

JANSON, H. W; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins


Fontes, 1996.

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