Você está na página 1de 46

Teoria e História da Arquitetura e

Urbanismo 2
Aula 7 - O Urbanismo como proposta de solução para as cidades.
A SOCIEDADE INDUSTRIAL É URBANA A CIDADE É O SEU HORIZONTE.

URBANISMO

Françoise Choay (2018) – dicionário Larousse – Urbanismo como: “Ciência e


teoria da localização humana”.

Esse termo corresponde ao surgimento de uma nova realidade: pelos fins do século XIX, a
expansão da sociedade industrial dá origem a uma disciplina que se diferencia das artes
urbanas anteriores por seu caráter reflexivo e crítico, e por sua pretensão científica.
• A origem do URBANISMO enquanto um modelo de estudo científico está associado ao
surgimento da cidade industrial.
• Essência do URBANISMO: estudo das relações entre o espaço e a sociedade que nele vive.
“O urbanismo é o estudo das relações entre determinada sociedade e o espaço que a abriga, bem
como das formas de sua organização e intervenção sobre elas com determinado objetivo.”
(GONÇALVES JR. et. al., 2006, p. 15-16).

O Urbanismo como proposta de solução para as cidades


O URBANISMO COMO SOLUÇÃO
• O Urbanismo quer resolver um problema (o planejamento da cidade maquinista) que foi
colocado a partir das primeiras décadas do século XIX, quando a sociedade industrial começava a
tomar consciência de si e a questionar suas realizações.
No momento em que a cidade do século XIX começa a tomar forma própria, ela provoca um
movimento novo, de observação e reflexão. Aparece de repente como um fenômeno exterior aos
indivíduos a que diz respeito. Estes encontram-se diante dela como diante de um fato natural, não
familiar, extraordinário, estranho.
Assim, em meados do século XIX, nascia a disciplina Urbanismo, a partir de então definida como a
arte de produzir ou mudar a forma física das cidades.
• A disciplina seria formada por ações e práticas de organização do espaço que se apoiam sobre
um corpo de saberes, em conjunto a técnicas e instrumentos de intervenção, que se traduzem por
meio de prescrições dirigidas aos gestores da cidade.
• Nova profissão: engenheiros e arquitetos construtores – arte de construir
Trata-se de uma disciplina do espaço e do tempo, voltada à práxis (prática consciente) (HALL,
2002).
• Desde seu momento inicial, a ENGENHARIA fundou-se na investigação científica
dos problemas físicos que lidava, até marcar o grande desenvolvimento do século XIX e
o engenheiro ser considerado o “homem moderno por excelência”. Foi ele quem
resolveu os novos problemas funcionais, que requeriam soluções originais,
principalmente através das novas técnicas e materiais.
• As origens da urbanística moderna deram-se a partir de dois grupos de agentes que se
propuseram a transformar a cidade industrial, a saber:
A. Reformadores urbanos ou urbanistas neoconservadores: agentes e executores de grandes
intervenções de renovação de alguns centros europeus que, diante da necessidade de dotar as
cidades de condições para o enfrentamento das mudanças produzidas pela industrialização,
reforçaram o caráter técnico do urbanismo, voltando-se para reformas grandiosas;
B. Socialistas utópicos ou pré-urbanistas: na maioria, historiadores, economistas e políticos – que
apresentaram uma série de propostas, que não passavam de obras hipotéticas, de cunho
essencialmente utópico já que se pensava ser possível o restabelecimento da “ordem”.
PRÉ-URBANISMO
Ao mesmo tempo em que se efetivavam, nas grandes capitais europeias, as medidas práticas de
remodelação urbana pelos urbanistas neoconservadores, surgiram modelos utópicos de
comunidades alternativas, cujo conjunto recebe o nome de PRÉ-URBANISMO, já que consistiam
em propostas hipotéticas, feitas por generalistas, na maioria de cunho político-econômico e/ou
sociocultural, mas que se caracterizavam como uma mostra de indignação diante das condições
em que vivia o proletariado. PRÉ-URBANISMO - Socialistas utópicos
Sua importância de estudo está no fato de que, pela primeira vez na história das cidades tinha-se
uma visão integrada do significado das relações sociais e econômicas na influência sobre as
questões da estruturação física e estética dos espaços urbanos.
• Apesar de algumas tentativas de aplicação prática e pouquíssimas bemsucedidas, tais modelos
não passaram de utopia, inclusive por proporem uma intervenção radical não só na distribuição de
riquezas dentro da sociedade, como também na vida em família, por exemplo, com a divisão por
sexo e idade.

Charles Fourier (1772-1837)


• O utópico Charles Fourier propõe a construção de comunidades ideais chamadas de falanges que
seriam alojadas em falanstérios. As famílias morariam em “falanstérios” ou “palácios societários”
diferente da realidade do morar em “um caos de casinhas rivalizando em sujeira e deformidade”.
• O modelo para esta comunidade seria o desenho de Versalhes, em forma de Ω com vários pátios
menores e um pátio central. Segundo Fourier os moradores das falanges deveriam possuir uma
terreno de uma légua quadrada (250 hectares) e morar em um grande edifico unitário, o
falanstério.

Plano de uma cidade


“Devem-se traçar três anéis concêntricos:
– o primeiro contém a cidade central;
– o segundo contém os arrabaldes e as grandes fábricas;
– o terceiro contém as avenidas e o subúrbio.
Os três anéis são separados por paliçadas, relvas e jardins
que não devem cobrir a visão. Toda casa da cidade deve
ter como sua dependência, entre pátios e jardins, pelo
menos tanto terreno vazio quanto ocupa sua superfície
construída.
O espaço vazio será duplo no segundo anel, ou local dos arrabaldes, e triplo no terceiro anel,
chamado subúrbio. As ruas deverão estar voltadas para paisagens campestres ou monumentos de
arquitetura pública ou privada: o monótono tabuleiro de xadrez será abolido. Algumas ruas serão
curvas (serpenteantes) para evitar a uniformidade. As praças deverão ocupar pelo menos um
oitavo da superfície. Metade das ruas deverão ser arborizadas (com árvores variadas)(Fourier,
apud.Choay)
• Ao mesmo tempo urbanos e rurais, os falanstérios seriam autossuficientes trocando bens entre
si, dispondo de terras para agricultura e outras atividades econômicas, para moradias e uma
grande casa comum.
• Segundo Fourier, os falanstérios seriam criados através da associação voluntária de seus
membros e nunca deveriam ser compostos por mais de 1.600 pessoas, que viveriam juntas em um
mesmo complexo edificado para acomodar todos os serviços coletivos
• No Brasil, a Comunidade Cecília (Paraná, 1890-1894) e o Falanstério do Saí (Santa Catarina, 1841-
1843, sobreviveu até 1864), obtiveram autorização de D. Pedro II; terminaram por escassez de
recursos ou conflitos internos.

• Claude Henri de Rouvroy (1760-1825)

• Etienne Cabet (1788-1856)


• Robert Owen (1771-1858)
• James Silk Buckingham (1786-1855)
• Pierre Joseph Proudhon (1809-63)
• Jean-Baptiste André Godin (1817-88) - familistério

PARK MOVEMENT
• Em meados do século XIX, a baixa qualidade de vida nas
cidades decorrente dos efeitos negativos da industrialização,
bem como dos graves processos de exploração da natureza
exercidos pela agricultura e pecuária em expansão nos EUA
conduziram os americanos para o desenvolvimento do
chamado Park Movement.

• Este movimento contribuiu para uma radical transformação no


significado da relação entre homem e natureza, além de promover
uma grande campanha pela conservação dos recursos naturais,
assim como pela renovação das paisagens deterioradas pela ação
humana naquele país.
• Foi sem dúvida Frederick L. Olmsted (1822-1903) o arquiteto
paisagista que, através de seus trabalhos em Nova York, Chicago,
Detroit, San Francisco, Washington, Filadélfia e Boston, além de
outras, forjou um papel definitivo para os parques urbanos no século
XIX, estabelecendo-os em estreita relação com a diminuição dos
problemas ambientais e sociais da cidade naquela época.
• Ele é considerado o pai da arquitetura paisagística.
• O primeiro projeto de Olmsted foi o Central Park, que levou a
muitos outros projetos de parques urbanos.

• Olmsted defendeu o uso econômico do espaço livre,


procurando melhorar o clima urbano e minorar a poluição do ar
e da água, além de mitigar as enchentes e proporcionar um
espaço agradável para passeio e moradia; fornecendo um
contraponto naturalístico aos edifícios e ruas congestionadas.
Via nos parques a possibilidade de assegurar comodidade,
segurança, ordem e economia nas grandes cidades e, mais
ainda, via-os como sinônimo de justiça social e de participação
democrática (CASTELNOU, 2005).

WHITE CITY MOVEMENT


• Em fins do século XIX, diante da situação crítica das cidades americanas industriais, surgiram
várias críticas à sua conformação.
• Contra tal situação, desenvolveu-se uma série de movimentos, entre 1890 e 1900, cujo conjunto
ficou conhecido como White City Movement, consistindo na primeira mobilização baseada em um
controle coordenado da cidade norte americana.
• Tal movimento caracterizou-se pela defesa de uma ação coordenada de funções destinadas a
tornar a cidade higiênica e “mais saudável”, tais como a pavimentação e iluminação das ruas; o
abastecimento de água e implantação da rede de esgoto; a coleta de lixo e o controle dos
incêndios; um conjunto de medidas sanitárias em geral, que deveria ser tratado pelas regras
ditadas pela ciência e tecnologia.
BEAUTIFUL CITY MOVEMENT
• O City Beautiful Movement foi uma filosofia de reforma da arquitetura e do planejamento
urbano norte-americanos que floresceu durante as décadas de 1890 e 1900 com a intenção de
introduzir embelezamento e grandeza monumental nas cidades.
• Foi uma parte do movimento de reforma social progressiva na América do Norte sob a liderança
da classe média alta preocupada com as más condições de vida em todas as grandes cidades.
• O movimento promoveu a beleza não apenas por si mesma, mas também para criar virtude
moral e cívica entre as populações urbanas.
• Os defensores da filosofia acreditavam que tal embelezamento poderia promover uma ordem
social harmoniosa que aumentaria a qualidade de vida, enquanto os críticos reclamavam que o
movimento estava preocupado demais com a estética em detrimento da reforma social; Jane
Jacobs se referiu ao movimento como um "culto do design arquitetônico".
• 1909: Daniel Burnham – City Beautiful – Plano de Chicago (foto)

"Não faça pequenos planos; eles não têm magia para agitar o sangue dos homens e provavelmente
eles mesmos não serão realizados. Faça grandes planos; almeje alto na esperança e no trabalho,
lembrando que um diagrama nobre e lógico, uma vez registrado, nunca morrerá, mas muito depois
de nós se foram será uma coisa viva, afirmando-se com insistência cada vez maior. Lembre-se de
que nossos filhos e netos vão fazer coisas que nos surpreenderiam. Que sua palavra de ordem seja
ordem e seu farol, beleza." 4 -Daniel H. Burnham
*Esta citação foi tirada do discurso feito pelo arquiteto principal Daniel Burnham quando ele se
dirigiu aos trabalhadores da construção antes do início do período de construção de Chicago.
Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo
2
Aula 8 -O Urbanismo como proposta de solução para as cidades:
Garden- Cities / Cidades- Jardim.
GARDEN-CITIES - CIDADES – JARDIM
• Revolução industrial: muitas cidades europeias testemunharam um
crescimento em ritmo acelerado, intensificado pelo movimento das pessoas do
campo para os centros urbanos na busca por maiores oportunidades.
• Mas, se de um lado as cidades tornavam-se cada vez mais atrativas, também
se intensificaram problemas como a poluição e o crescimento das ocupações
irregulares. Em outro contexto, se o campo permitia o contato próximo à
natureza e uma abundância de recursos naturais, também sofria com certo
isolamento e redução nas possibilidades de emprego.
• Com essas questões em vista, surge, na virada do século XIX para o XX, o conceito
das Garden-Cities ou Cidades-Jardim, idealizado por Ebenezer Howard (1850-1928).
• Este modelo de planejamento caracterizou-se por ideais progressistas para
solucionar os problemas decorrentes do êxodo rural e consequente crescimento
desordenado dos centros urbanos.

• To-morrow a Peaceful Path to Real Reform (1898), livro editado e lançado


quatro anos depois com o título Garden Cities of Tomorrow (1902) – alternativa
para solucionar os problemas que as cidades estavam enfrentando.
• Além das publicações, Howard contribuiu para a formação da Garden City
Association na Inglaterra em 1899, como uma maneira de difundir ideias de
justiça social, eficiência econômica, embelezamento, saúde e bem-estar no
contexto do planejamento urbano que advogava em seus livros.

A PROPOSTA
CIDADE X CAMPO
• Para Howard era necessário equacionar a relação entre a
cidade e o campo.
• Para isso ele fez uma síntese das vantagens e dos problemas
tanto de um ambiente como de outro.
• Ambos atuariam como “ímãs”, atraindo as pessoas para si
• Características da Cidade:
1. Afastamento da Natureza; 9.Jornada excessiva de trabalho;
2. Oportunidades Sociais; 10. Exército de desempregados;
3. Isolamento das multidões; 11.Nevoeiros e seca;
4. Locais de entretenimento; 12.Drenagem custosa;
5. Distância do trabalho; 13. Ar pestilento e céu sombrio;
6. Altos salários; 14. Ruas bem iluminadas;
7. Aluguéis e preços altos; 15. Cortiços e bares;
8. Oportunidades de emprego; 16. Edifícios palacianos;

• Características do Campo:
1. Falta de Vida Social; 9. Ar fresco;
2. Beleza da Natureza; 10. Alugueis baixos;
3. Desemprego; 11. Falta de drenagem;
4. Terra Ociosa; 12. Abundância de água;
5. Matas; 13. Falta de entretenimento;
6. Bosques,campinas, florestas; 14. Sol brilhante;
7. Jornada longa – salários baixos; 15. Falta de espírito público;
8. Casas superlotadas; 16. Carência de reformas;
Resumindo:
• Cidade: espaço da socialização, da cooperação e das oportunidades, especialmente de
empregos, mas padecia de problemas relacionados ao excesso de população e insalubridade.
• Campo: espaço da natureza, do sol e das águas, da produção de alimentos, mas sofria com a
falta de empregos e de infraestrutura e carência de oportunidades sociais.
• Solução:
• Cidade-Campo: criação de um ímã que pudesse
contrabalancear as forças atratoras representadas pela
cidade e pelo campo.
• Terceira via: além das vidas urbana e rural, teria o que ele
chamou de CidadeCampo (Town-Country).
• Nessa alternativa, os dois imãs se fundiriam num só, aproveitando o que há de melhor em cada
um deles, e dessa união nasceria “uma nova esperança, uma nova vida, uma nova
civilização”(HOWARD, 1996, p. 110
• Particularmente emblemático no que diz respeito à síntese das ideias das cidades jardim, o Three
Magnets Diagram (Diagrama de três ímãs), ocupa as primeiras páginas de Garden Cities of
Tomorrow desde a sua primeira versão. Nele, cada um dos ímãs ilustrados representa uma
localidade: a cidade, o campo e a cidade jardim. Enquanto os dois primeiros ímãs reúnem, em cada
um dos pólos, aspectos negativos e positivos desses contextos específicos, o terceiro agrupa
benefícios de ambos.
The people: where will they go?

• Neste terceiro ímã, as promessas das qualidades da cidade jardim soam tão promissoras a ponto
de deslocar seu título para o centro do diagrama, diferentemente dos dois primeiros, como se
indicasse uma forte atração entre as inúmeras qualidades oferecidas por este modelo de
planejamento urbano.
• Com efeito, a proposta de um novo tipo de cidade feita por Howard representou uma ruptura na
concepção existente na época, e teve grande influência no pensamento urbanístico posterior
(HALL, 2002)
A FORMA DA CIDADE-JARDIM
• O modelo proposto, chamado de Cidade-jardim, deveria ser construído numa área que
compreenderia, no total, 2400 hectares, sendo 400 hectares destinados à cidade propriamente
dita e o restante às áreas agrícolas.
• O esquema feito para a cidade assume uma estrutura radial, sendo composto por 6 bulevares de
36 metros de largura que cruzam desde o centro até a periferia, dividindo-a em 6 partes iguais.

• No centro, seria prevista uma área de aproximadamente 2,2 ha, com um belo jardim, sendo que
na sua região periférica estariam dispostos os edifícios públicos e culturais (teatro, biblioteca,
museu, galeria de arte) e o hospital. O restante desse espaço central destinarse-ia a um parque
público de 56 ha com grande áreas de recreação e fácil acesso.
• Ao redor de todo o Parque Central estaria localizado o “Palácio de Cristal”, uma grande arcada
envidraçada que se destinaria a abrigar as atividades de comércio e a se constituir num jardim de
inverno, estando distante no máximo 558m de qualquer morador. Nesse local, poderiam ser
comercializadas as mercadorias que requerem “o prazer de escolher e decidir” (HOWARD, 1996, p.
115).
• Defronte à Quinta Avenida e ao Palácio de Cristal, existiria um conjunto de casas ocupando lotes
amplos e independentes.
• Mais adiante, estariam os lotes comuns, de cerca de 6,1 x 40m, em número de 5.500.
• A população estaria próxima de 30.000 habitantes na cidade e 2.000 no setor agrícola.
• A Grande Avenida dividiria a cidade em duas partes e possuiria 128 m de largura.
• Ela constituiria, na verdade, mais um parque, com 46,5 ha, e nela estariam dispostas, em seis
grandes lotes, as escolas públicas. Também nessa avenida estariam localizadas as igrejas
necessárias para atender à diversidade de crenças existentes na cidade
• No anel externo estariam os armazéns, mercados, carvoarias, serrarias, etc., todos defronte à via
férrea que circunda a cidade.
• Dessa forma, o escoamento da produção e a recepção de mercadorias e matéria-prima seria
facilitado (e barateado), evitando também a circulação do tráfego pesado pelas ruas da cidade,
diminuindo a necessidade de manutenção.
A VIABILIZAÇÃO
• Howard concebeu um mecanismo engenhoso para viabilizar a criação e a manutenção de uma
Cidade- Jardim.
• Inicialmente, um terreno localizado em área rural deveria ser comprado por um grupo de
pessoas, para abrigar a futura cidade.
• Esse terreno seria comprado por um preço baixo, compatível com o preço de terras rurais, a
partir de um financiamento.
• O aumento do número de habitantes nessas terras seria capaz de diluir os juros do
financiamento e de constituir um fundo para ir quitando aos poucos o principal. Assim, a partir de
pagamentos relativamente pequenos, os habitantes da Cidade- Jardim poderiam quitar a dívida
assumida e ainda obter recursos para as ações coletivas necessárias (construção de edificações
públicas, manutenção dos espaços abertos, etc.).
• Na área rural, a competição natural entre os produtores, as culturas e os modos de produção
deveriam indicar quais produtos seriam cultivados. Aqueles que conseguissem gerar mais renda se
estabeleceriam nos arredores da Cidade- Jardim.
• A renda, entretanto, não seria apropriada por um único indivíduo, já que a terra teria sido
adquirida coletivamente.
• Os benefícios obtidos em termos financeiros pelo aumento do valor da terra e, como
consequência, pelo incremento da renda fundiária, seriam convertidos em menores impostos e
mais investimentos coletivos (HOWARD, 1996).
E quando crescesse?

MECANISMO DE CRESCIMENTO
• Howard propôs que um sistema de cidades fosse construído
dentro de distâncias não muito grandes.
• Assim, tão logo a população da primeira cidade-jardim atingisse
seu máximo, outra cidade seria construída em local próximo,
cuidando entretanto para que uma área rural fosse mantida entre
as duas.
• Estas seriam conectadas por estradas de ferro, que se
encarregariam de possibilitar o intercâmbio de mercadorias.

Letchworth - 1903
• Em 1903, Howard e Raymond Unxin projetaram e estabeleceram a primeira cidade-jardim da
Inglaterra, chamada Letchworth.
• Letchworth provou ser um sucesso.

“No início do século XX, duas grandes novas invenções tomaram forma diante dos nossos olhos: o
avião e a Cidade Jardim, ambos presságios de uma nova era: o primeiro deu ao homem asas e o
segundo prometeu-lhe um lugar melhor para habitar quando descesse à terra.” - Lewis Mumford
(1946)

Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo


2
Aula 11 – Urbanismo Moderno : Contextualização
O que aconteceu a nível mundial no começo do séc XX que foi BOMBÁSTICO ?
• Primeira Guerra Mundial ( 1914-1918)

• O Estopim foi a morte do herdeiro austríaco Francisco Ferdinando

No início do século XX, qualificou-se o novo mundo em formação como uma CIVILIZAÇÃO
INDUSTRIAL, voltada ao pensamento coletivo e universal e não mais ao particular e individual.
• A fase que antecede a Primeira Guerra Mundial (1914/18) foi marcada pelo PRÉ-MODERNISMO,
ou seja, um processo de afirmação da ligação entre o valor estético e o valor funcional, inspirando-
se na máquina e mantendo um conceito racional do “belo” como “a perfeita adequação ao uso
através da perfeita forma geométrica”.

PRÉ-MODERNISMO
Antes do Modernismo na Pintura, o que vinha sendo produzido? Antes do Modernismo na
Arquitetura, o que vinha sendo produzido? Antes do Modernismo na Cidade, o que vinha sendo
produzido?
Les Demoiselleis d` Avignon, Dinamismo de um automóvel, Luigi Russolo , 1913 Composição com vermelho,
Pablo Picasso , 1907 amarelo e azul, Piet Mondrian, 1921

São correntes antiornamentais e racionalistas – principalmente CUBISMO, PURISMO, FUTURISMO


e NEOPLASTICISMO – que surgem como movimentos de reforma das artes figurativas (pintura e
escultura) e também tendências para as artes aplicadas (arquitetura e decoração), as quais
preparam o campo para o MODERNISMO.
• Na arte, o PURISMO foi um
movimento que defendia uma
pintura sem valores emocionais,
racional e rigorosa. Sem
subjetividade e qualidades
decorativas.
• O movimento foi fundado por Amédée Ozenfant, pintor e escritor, e Le Corbusier, em 1918.
Existe uma simplificação das formas, geometrização. Representam a natureza morta sem volume,
somente com as duas dimensões.
• O purismo é caracterizado pela utilização de formas geométricas puras, no âmbito da
arquitetura, como símbolo de uma construção racional
As correntes artísticas que formaram a base do MOVIMENTO MODERNO (1915/45) trouxeram uma
nova concepção da arquitetura como síntese das artes plásticas, de formas puras, ortogonais e
sem ornamentos. Adotou-se uma atitude antirromântica em relação ao passado, negando-se o
classicismo por suas formas habituais, que repudiava a vida nas metrópoles e a industrialização. As
correntes pós-realistas e a arquitetura de ferro dos engenheiros apontavam as direções do novo
século.

ESCOLA DE CHICAGO
• Embora se considere a Alemanha como o berço oficial do
MODERNISMO , o ambiente norte - americano, bastante propício às
novidades trazidas com a industrialização, apresentou importante
faceta ao desenvolvimento da arquitetura moderna, esta representada
pela experiência precursora de Chicago IL .
• Fundada em 1804 por John Kinzie (1763-1828), a partir de um
forte às margens do lago Michigan, a cidade de Chicago possuía
suas características urbanas baseadas na tradição americana de se
dividir o terreno de modo reticular, além de ser inteiramente em
madeira, no tradicional sistema do balloon frame.
• Em 1871 - incêndio - arquitetos e engenheiros civis experimentaram novos materiais e sistemas
construtivos, formando uma corrente pioneira do racionalismo arquitetônico.
• Denominou-se ESCOLA DE CHICAGO o conjunto de protagonistas que participaram desse
processo de reconstrução, tratando-se de um esforço de renovação caracterizado por uma série de
tentativas isoladas que foram pioneiras na busca da forma pura.
• Todas elas apropriaram-se dos avanços tecnológicos que estavam ocorrendo, além de difundir o
conceito funcionalista na arquitetura.
• Entre suas contribuições mais importantes para o modernismo, pode-se citar:
• Aperfeiçoamento de novos sistemas de fundações e de elevadores (hidráulicos e elétricos);
• Aplicação de novas tecnologias na construção de estruturas em esqueleto de aço, que permitia
maior rapidez e economia na execução;
• Desenvolvimento do conceito do skyscraper, isto é, do edifício vertical constituído de estrutura
de sustentação independente de paredes internas e externas somente para a vedação, que se
transformaria no símbolo da metrópole americana.

Fundamentos da Arquitetura Moderna Americana:


• Nessa época 2 arquitetos merecem destaque:
• Henry Hobson Richardson (1838-1886) • Louis Sullivan (1856-1924)

Henry Hobson Richardson,


Marshall Field Wholesale Store,Chicago,1885-7

Rotschild Building (1881), Louis Sullivan

BAUHAUS (1919-33)
• STAATLICHES BAUHAUS (“Casa estatal da construção”: Escola alemã de
artes aplicadas fundada em abril de 1919, por Walter Gropius
(1883-1969), na cidade de Weimar.
• Tinha como objetivo principal o de se constituir em um centro de reunião de todas as correntes
vitais de vanguarda europeia, este concebido como local de síntese das artes, artesanato e
indústria. • Desde sua fundação, defendia uma mudança de postura dos arquitetos, na sua
adequação à realidade de seu tempo. A arquitetura moderna seria a superação de todos os estilos,
através de sua atuação definitiva no universo da produção espacial.
• Foram estas as principais modificações promovidas na arquitetura a partir da BAUHAUS:
• O projeto deixou de ser concebido como uma ação simples, passando a ser entendido como uma
série contínua de ações reguladas entre si, feito coletivamente e de modo sistemático
(metodologia racionalista de projeto);
• As experiências projetuais deixaram de ser consideradas independentes entre si, passando a
significar uma espécie de colaboração permanente entre os projetistas, assim como cada obra
passou a servir de campo de experimentação para a próxima;
• A arquitetura passou a ser entendida como a mediação entre qualidade (processo artístico de
idealização de formas) e quantidade (processo técnico de execução e multiplicação),
concretizando-se a união entre arte e indústria;

Marcel Breuer (1902-81), com a Wassily Chair (1925)

MOVIMENTO MODERNO
O século XX pode ser considerado o Século da Tecnologia, pois foi um período onde ocorreram
mudanças radicais na produção e consumo de bens em todo o mundo, em especial na arquitetura
e no urbanismo, resultado da série de transformações que vinham se processando devido à
industrialização.
• Uma renovação completa somente pode nascer depois uma longa etapa de maturação:
• A produção industrializada e seus efeitos materiais e espirituais sobre a sociedade;
• As críticas no âmbito social, cultural e artístico contra a postura historicista; e
• A ação reformadora dos artistas modernos através de uma nova concepção da arquitetura.

MOVIMENTO MODERNO (1915/45)


• O MOVIMENTO MODERNO (1915/45) consistiu em uma série de transformações no modo de
pensar, fazer arquitetura e cidade, tendo sido constituído por várias correntes vanguardistas que
buscavam a expressão de uma arquitetura definitiva para a sociedade industrial, que seria
baseada:
• na funcionalidade, form follows function – a forma segue a função
• pureza geométrica e
• industrialização dos materiais e métodos.
Vítima de reveses e insultos enquanto viveu, este Leonardo moderno é hoje reconhecido como um
dos mais criativos e controvertidos do mundo.

Charles-Édouard Jeanneret (1887-1965)

Casa Domino - L’Ossature Standard Dom-Ino


(1914), Le Corbusier

• De modo geral, pode-se dividir o período do MOVIMENTO MODERNO em 02 (duas) fases:


I. FASE TRIUNFALISTA: Ocorrida das primeiras manifestações após a Primeira Guerra Mundial até a
década de 1920, foi marcada pela enorme necessidade de divulgação do pensamento funcional,
aproveitando-se da ocasião do pós-guerra para demonstrar que os novos princípios podiam ser
aplicados com sucesso aos problemas modernos, tais como a carência de moradias, a implantação
de indústrias, a planificação de cidades, etc. Caracterizou-se pela ação racional da arquitetura
como responsável pelo estabelecimento da justiça e igualdade sociais (Racionalismo).
II. FASE REVISIONISTA: Acontecida principalmente na década de 1930, durante a crise política,
econômica e social que acabou conduzindo à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando se
anularam parcialmente os produtos da primeira fase, o que se fez voltar a pseudo-estilos históricos
em países dominados por governos autoritários (Arquitetura e Urbanismo de Celebração).
Entretanto, paralelamente, surgiu uma corrente crítica que apontava as limitações da postura
racional e resultaria em uma tendência orgânica no Norte europeu (Organicismo )
URBANISMO MODERNO
• Somente no final do século XIX e especialmente nas primeiras décadas
do século XX, com os problemas trazidos com a Primeira Guerra Mundial
(1914/18), que as bases do urbanismo moderno se assentaram com
propostas mais realistas e viáveis que as dos socialistas utópicos.
• O URBANISMO MODERNO estudava a cidade a partir de sua
decomposição – setores, bairros, quadras e ruas, células ou unidades
elementares –; metodologia que objetivava a economia de meios de
realização, já que respondia a critérios de produção industrial.
SOCIEDADE INDUSTRIAL

URBANISMO MODERNO
• Devido à complexidade temática e a necessidade de atualização constante da arquitetura e
urbanismo funcionalistas, foram realizados a partir de 1928 os CONGRESSOS INTERNACIONAIS
PELA ARQUITETURA MODERNA – CIAM’s, que ocorriam periodicamente.
Os CIAM ocorriam periodicamente, para:
• Divulgação do pensamento funcionalista: carência de moradias,
urgência na implantação de indústrias e necessidade de planificação de
cidades, etc.
• Convencer que a NovaArquitetura (Modernismo) funcionava melhor:
- confrontar as experiências modernas e se aprofundar em problemas; - apresentar soluções

CARTA DE ATENAS
• Os ideais modernos em relação à questão
urbana tiveram sua consagração definitiva a partir do 4º
CIAM, cujo tema central era a Cidade Funcional ocorrido
em 1933 em um cruzeiro marítimo de 15 dias entre
Marselha e Atenas, onde foi formulada a CARTA DE
ATENAS, um documento que reunia 95 conclusões
tiradas a partir da análise de 33 cidades, trazendo os
princípios e soluções para os problemas urbanos acumulados no último século
• A CARTA DE ATENAS (1933) foi publicada de forma anônima por Le Corbusier (1887-1965)
somente em 1943, que se identificou como o autor do texto apenas em 1957.
• A Carta considerava o Planejamento urbano como uma atividade de
caráter científico estruturada em 3 grandes instâncias:
1. Planejar: implicava realizar investigações minuciosas sobre a realidade
urbana e suas tendências, para com métodos estatísticos projetar essas
tendências e prever a construção das cidades para os 50 anos seguintes, pelo
menos.
2. Urbanizar: é a operação que distribui os componentes urbanos no
território.
3. Arquitetar: consiste em desenhar as tipologias que correspondem a cada zona funcional.
• A CARTA DE ATENAS (1933) considera, na sua primeira parte, as relações da cidade com o
território que a rodeia.
• Afirma que toda cidade deve ser pensada em relação a um território que se determina a partir
do raio de sua ação econômica.
• A proposta se mantém dentro de uma escala de cidade média ou pequena, cujos limites de
influência seriam possíveis de determinar.
• Na segunda parte do documento são criticados aspectos das cidades existentes e se realizam
algumas propostas, de onde se deduz qual é o modelo de cidade que deve ser feito.
• Esse modelo de cidade conteria 4 funções as quais se atribuía a qualidade de ordenar as cidade.
HABITAR
A função HABITAR deve ocupar os melhor lugares enquanto à aeração, higiene, insolação,
paisagem, etc., sendo resolvida com edifícios altos construídos com as técnicas modernas,
implantados em espaços verdes, o mais separados possível e nunca alinhados às vias de
trânsito de grande circulação.
CIRCULAR
A função CIRCULAR deve unir todas as partes de acordo com 2 princípios: a economia do
tempo e a separação de velocidades. Separar percursos de veículos mecânicos, cujos
caminhos nunca devem se cruzar no mesmo nível. Realizar as velocidades mecânicas em
autopistas sempre separadas do solo. Todas as vias de grande circulação deveriam ser
rodeadas por espaços verdes. As velocidades menores podem ser no nível da superfície.
TRABALHAR
A função TRABALHAR se divide em 2 grandes modalidades: por um lado as áreas
conhecidas como “artesanato urbano” (artesãos, alfaiates, etc.), as quais ficariam junto às
moradias, mas em lugares pré-determinados para isso. E a outra modalidade
compreende a indústria e a administração, a qual deveria situar-se em um lugar separado
das habitações por uma zona verde.
DIVERTIR-SE
A função DIVERTIR-SE considera 2 aspectos: um para o tempo livre semanal, para o qual
são acondicionados setores com qualidades naturais como praias, lagos e montanhas,
unindo-os através de vias rápidas para as zonas de habitação. O outro aspecto, para o
tempo livre diário, inclui os campos desportivos, os clubes, as salas de espetáculos e os
equipamentos educativos, que devem ser implantados nos espaços verdes entre os edifícios de
habitação.

Teoria e História da Arquitetura e


Urbanismo 2
Aula 12 Urbanismo Moderno : Contextualização
URBANISMO RACIONALISTA
Tony Garnier Walter Gropius Le Corbusier

• Tendo como principal precursor o francês Tony Garnier (1869-1948), o urbanismo racionalista
encontrou entre seus maiores expoentes o francês Le Corbusier (1887-1965) e o alemão Walter
Gropius (1883-1969).
• Considerando essencialmente os aspectos quantitativos da cidade, seus representantes viam o
homem apenas como uma unidade dentre tantas.
• Preocupavam-se mais com as questões de circulação, eficiência, habitação e produtividade
(baseados nos preceitos da Carta de Atenas (1933)) – “cidades-máquina”.
• Para os racionalistas, as grandes densidades demográficas, sob o aspecto econômico, eram
altamente aceitáveis, fazendo-se uma apologia ao arranha-céu, este entendido como a verdadeira
“máquina de morar”.
Le Corbusier era fascinado pelas grandes cidades, segundo o qual seriam “células ardentes do
mundo (...), delas surge a paz ou a guerra, a abundância ou a miséria, a glória, o espírito
triunfante ou a beleza. A grande cidade, expressa as potências do homem”(FERRARI, 1991

“cidades-máquina” urbanismo
“máquina de morar” Racionalista
“células ardentes do mundo” funcionalista

Depois da destruição feita pela Primeira Guerra Mundial, era necessária uma solução rápida, social
e econômica para a construção de novas habitações, sendo a habitação coletiva uma solução para
os problemas da época. Após Guerra, o déficit habitacional estava em um nível sem precedentes.
1928: CIAM – Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna – declarações e cartas –
difundiram o ideário da arquitetura moderna.
Assim, com o Movimento Moderno, começa-se a estudar as possibilidades da habitação coletiva,
que consistia na conjugação de várias habitações num só bloco, vindo este a ser o elemento
principal do século XX.
QUANTIDADE = linguagem arquitetônica e linha de produção com influências modernas.

as habitações eram construídas rapidamente em muitos lugares do mundo tomando proporção


governamental.
• Seguindo os preceitos modernos do CIAM, Le Corbusier projetou moradias que romperam com a
concepção de lar, as quais não faziam referências às moradias antigas dos operários
. • Eram edificações que refletiam a indústria e a tecnologia, nos espaços de concreto, nas
superfícies sem decoração e nas lâmpadas elétricas nuas, sem lustres.
Dessa forma para os modernistas, a casa transformou-se literalmente em uma máquina de
morar. (BOTTON, 2006).
• Os racionalistas desenvolveram uma série de propostas, principalmente no período entre-
guerras, muitas das quais foram aplicadas na criação de novos bairros de cidades europeias,
voltados às classes proletárias e aos refugiados de guerra.
• Esses NOVOS BAIRROS eram compostos de modo unitário e em bloco (“edifícios-vila”), com
cuidados de iluminação e ventilação, separação de tráfego e arborização. Tudo isso baseado na
racionalização (padronização de elementos construtivos e pré-fabricação visando a
industrialização) e na estandardização (adoção de modelos para as unidades habitacionais).
O foco era a vida comunitária para todos os moradores, um lugar para fazer compras, divertir-se,
viver e socializar, uma "cidade-jardim vertical“ – UNITÉS H’ABITATION.
• 1.600 moradores;
• Ao projetar para um número tão significativo de
habitantes, o instinto natural é projetar horizontalmente
espalhando-se sobre a paisagem. Em vez disso, Le Corbusier
projetou a comunidade que poderia ser encontrada dentro
de um bairro com uso misto, um edifício moderno,
residencial e de grande altura;
• 18 pavimentos;
• a maioria dos aspectos comuns não ocorrem no interior do
edifício; mas inseridos na cobertura.
A Unidade de Habitação foi construída em concreto armado aparente, que era o material mais
acessível na Europa pós-guerra.
COBERTURA: terraço jardim com uma pista de corrida,
um clube, um jardim de infância, um ginásio e uma
piscina rasa. Ao lado, há lojas, instalações médicas, e até
mesmo um pequeno hotel distribuído por todo o interior
da edificação.
A Unite d’Habitation é essencialmente uma "cidade
dentro da cidade", que é espacialmente, bem como
funcionalmente, otimizada para os moradores.
• Os modelos das cidades racionalistas eram altamente segregacionistas. Consideravam as áreas
verdes sob a ótica higienista e enfatizavam o zoneamento. Baseavam-se em 4 pontos principais:
1. Descongestionar o centro das cidades para fazer face às exigências de circulação e da
produtividade;
2. Aumentar a densidade do centro das cidades para realizar o contato exigido pelos negócios;
3. Aumentar os meios de circulação, ou seja, modificar completamente a concepção da rua que se
encontra sem efeito mediante novos e modernos meios de transporte;
4. Aumentar as superfícies verdes, a única maneira de assegurar a higiene suficiente e a calma útil
ao trabalho exaustivo.
Tony Garnier (1869-1948)
• Arquiteto francês que desenvolveu, entre 1901 e 1904 o plano da Citè
Industrielle (Cidade Industrial), publicado em 1917, o qual previa o modelo
de implantação de uma cidade para 35.000 habitantes.
• Ele projetou uma cidade onde prevalecia o zoneamento funcional
(separação de funções) e o emprego de materiais modernos, além de
preocupações sanitárias e paisagísticas.

Cidade Industrial de TonyGarnier


• Garnier acreditava que as grandes cidades do futuro teriam que se basear nas indústrias.
• Uma cidade socialista, sem muros ou propriedades privadas, onde todas as áreas não
construídas seriam parques públicos.

• A cidade é dividida em um plano linear que separa a cidade em zonas, cada zona com sua
atividade e espaço para que uma não implique na outra.
• O plano da Cidade Industrial foi feito em um terreno que ao mesmo tempo era zona montanhosa
e planície, localizado no SO da França, tendo perto uma represa* que foi fundamental para a
implantação da cidade.
• Feita principalmente com concreto armado, a cidade tinha uma
presença grande de ferro e vidro. • A principal fábrica da cidade
ficaria na planície e sua principal atividade seria a metalurgia.
• Os terrenos para construção das residências eram divididos
inicialmente em 150 metros no sentido lesteoeste e em 30 metros
no sentido norte-sul, dividindo em lotes de 15×15 metros.
• Cada habitação podia ocupar quantos lotes fossem necessários, desde que a superfície
construída não ultrapassasse a metade da superfície total (taxa de ocupação). Com a sobra dos
terrenos era feito um jardim publico utilizado pelos pedestres, na cidade não havia muros
definindo os espaços.
• Além disso, Garnier determinava também o interior das residências, de modo que os dormitórios
deveriam ter pelo menos uma grande janela apontada para o sul para entrada de raios solares, os
pátios não poderiam existir caso não recebessem ventilação ou iluminação natural, por fim, a
parede interna das casas e o chão são de materiais lisos e formam ângulos arredondados.
• O centro Garnier dividiu em três grupos de serviços:
1. o grupo 1 localizado ao sul, limitado por um terreno ajardinado, para serviços administrativos,
sala de conferÊncias e reuniões de sindicatos;
2. o grupo 2 localizado em um parque limitado ao norte da rua principal, corresponde às coleções
históricas, arqueológicas, artísticas e industriais;
3. e o grupo 3 na mesma localização do grupo 2, com uma sala de espetáculo, apresentações ao ar
livre, ginásios, casas de banho, quadras e pistas.
• A administração da cidade ainda seria responsável pelos serviços de esgoto, lixo, fornecimento
de água, energia, matadouro, serviços de fabricação de farinha e pão, armazéns de produtos
farmacêuticos e lácteos.

Le Corbusier (1887-1965)
• Arquiteto franco-suíço responsável por alguns planos
fundamentais do urbanismo racionalista, insuperáveis tanto em
termos ideológicos como formais (traçados geométricos e princípios
funcionalistas).
• Em 1922, apresentou o modelo utópico para Une ville
contemporaine; um centro urbano para 3.000.000 habitantes
dividido em três setores distintos, que seriam delimitados por cinturões verdes e interligados por
uma eficiente rede de transportes. A proposta é caracterizada pela simetria do conjunto, a
ortogonalidade das vias e a sistematização viária, além da criação de “prédios-villas”.

Ville Radieuse de Le Corbusier


• Ville Radieuse (Cidade Radiante) foi um plano urbano
não construído de Le Corbusier, apresentado pela primeira
vez em 1924.
• Projetado para conter meios eficientes de transporte,
bem como uma abundância de espaços verdes e luz solar, a
cidade do futuro de Le Corbusier não só almejava oferecer
uma vida melhor aos residentes, mas contribuir para criar
uma sociedade melhor.
• Embora radical, rigorosa e quase totalitária na sua ordem , simetria e padronização , os princípios
propostos por Le Corbusier tiveram extensa influência sobre o planejamento urbano moderno ,
levando ao desenvolvimento de novas tipologias de habitação de alta densidade .
• A nova cidade conteria arranha -céus pré -fabricados de alta densidade e idênticos, distribuídos
por vastas áreas verdes e organizados em uma grade cartesiana , permitindo que a cidade
funcionasse como uma "máquina viva" .
• No cerne do plano de Le Corbusier estava a noção de zoneamento:
a divisão estrita da cidade em áreas segregadas comerciais, de
negócios, de lazer e residenciais.
• A área de negócios localizava-se no centro, e apresentava
megaarranha-céus monolíticos, cada um atingindo uma altura de 200
metros e com capacidade para entre cinco e oito mil pessoas.
• Localizado no centro deste distrito cívico estava a principal plataforma de transporte, a partir da
qual um vasto sistema subterrâneo de trens transportaria cidadãos para os distritos de habitação
do entorno.

PlanVoisin de Le Corbusier
• O Plano Voisin foi uma reconstrução planejada de Paris projetada pelo arquiteto francês suíço Le
Corbusier em 1925. A reconstrução foi planejada para substituir uma grande área do centro de
Paris, na margem direita do rio Sena. Embora nunca tenha sido implementado, o projeto é um dos
mais conhecidos de Le Corbusier, e seus princípios inspiraram muitos outros planos ao redor do
mundo.
• Extremamente ambicioso , o Plan Voisin (1925 )
substituía a tradicional rede viária parisiense por um
gigantesco sistema de auto -estradas retilíneas, além
da demolição do centro antigo e a criação de um
sistema simétrico de arranha -céus em forma de cruz .
• Os edifícios eram imersos em amplas áreas verdes e
as vias de circulação categorizadas por fluxo e tipo de
tráfego .

Qual é a “face obscura” de Le Corbusier de acordo com o filme e com a aula de hoje?

Teoria e História da Arquitetura e


Urbanismo 2
Aula 13 - Urbanismo Organicista. Urbanismo Celebralista.
URBANISMO ORGANICISTA
• Os organicistas, cujas ideias difundiram-se na década de 1930, procuraram dar uma expressão
mais popular e cotidiana ao urbanismo moderno, trabalhando com materiais naturais, formas
compostas e preocupações de conforto ambiental.
Frank Lloyd Wright Camillo Sitte
• Na década de 1930 uma nova corrente moderna nascia: a da ARQUITETURA ORGANICISTA ou
orgânica, que abandonou gradativamente o purismo formal em direção ao uso de materiais
naturais, como madeira e tijolo, e forma composta.
• O ORGANICISMO arquitetônico criticava o geometrismo e o universalismo dos racionalistas,
voltando-se mais para a pluralidade das formas oblíquas ou onduladas, desprezando o emprego de
standards e defendendo visões pessoais e abordagens particulares. Passou-se a se preocupar mais
com o espaço interno das edificações, assim como para com as condicionantes psicológicas da
forma.
• Deste modo, Organicismo é possível identificar 02 (duas) fontes irradiadoras do PENSAMENTO
ORGANICISTA:
1. A europeia, expressa pelas experiências escandinavas de apropriação da tradição, em especial
na obra de Alvar Aalto (1898-1976)

Villa Mairea (1938, Finlândia)


• O finlandês Alvar Aalto demonstrou uma maior preocupação com os valores humanos e os
espaços naturais, abandonando o vocabulário racionalista também nos trabalhos urbanos, dos
quais se destacaram o plano regional do Vale de Kokemaki (1942), o plano da Ilha de Säynätsalo
(1942/1949) e o plano de reconstrução de Rovaniemi (1945), entre outros.

plano de reconstrução de Organicismo Rovaniemi

• Na década de 1930, Rovaniemi era uma pacata cidade finlandesa comercial de cerca de 6.000
pessoas até a invasão da Rússia em 1939.
• Os alemães criaram uma base em Rovaniemi, dobrando a população da cidade.
• Quando a maré da guerra virou, a Rússia disse aos finlandeses que expulsassem os alemães;
quando o exército alemão partiu em outubro de 1944, eles queimaram Rovaniemi no chão.
• Os alemães destruíram 90% da cidade – os moradores se lembram de voltar a uma ruína
fumegante com apenas chaminés de pé.
• Este foi o cenário de desolação que saudou Aalto quando ele foi contratado pela Associação de
Arquitetos Finlandeses para reconstruir a cidade em 1945.
• “Ele viu a cidade queimada como uma oportunidade”, diz
Jussi Rautsi, ex-planejador e pesquisador do Alvar Aalto
Foundation
• Aalto começou reconstruindo a cidade com unidades
habitacionais individuais projetadas especificamente para o
clima em Rovaniemi, de modo que tivessem o mínimo
possível de fachada voltada para o norte e máxima exposição
externa ao sol no sudoeste.
• Aalto considerou a construção de usinas hidrelétricas nos grandes rios da Lapônia e encomendou
avaliações de impacto para ver qual seria o efeito no meio ambiente, indígenas Sami, rebanhos de
renas, bacias hidrográficas e microclima.
• Aalto concebeu o plano de rua “chifre de rena” de Rovaniemi em 1945: ele simplesmente impôs
um contorno de cabeça de rena na topografia existente, destacando a forma natural do terreno e a
forma como as estradas principais e a ferrovia se cruzavam. O estádio de futebol virou um olho, e a
rena nasceu.
"Plano de chifre de rena
"A cidade está situada no meio da floresta em um ambiente de parque. No planejamento da
cidade, bem como na construção de apartamentos, uma coisa importante é a flexibilidade, pois
não sabemos o que vai acontecer amanhã. Uma parte da cidade fica para o futuro....Existe um
plano de cidade para Rovaniemi em que o entorno é floresta e as áreas são deixadas separadas
para esperar pelo tráfego futuro e outros arranjos que ainda não conhecemos.“ Aalto, 1950

2. A norte-americana, representada pela postura do arquiteto Frank Lloyd Wright (1869-1959),


numa visão reintegradora da arquitetura que passou a ser difundida na Europa pela crítica anti-
racionalista somente nos anos 1930/40.
• Propondo-se a libertar das teorias dos racionalistas, os urbanistas organicistas acreditavam que a
arquitetura não deveria negar a natureza nem a vida moderna, devendo conciliá-los, juntamente
com as exigências individuais de seus usuários.
• Os urbanistas organicistas procuraram dar uma expressão mais popular e cotidiana ao urbanismo
moderno, trabalhando com formas livres, compostas e nãoortogonais, desprezando a
padronização, mas mantendo o zonning e a hierarquia (ênfase da circulação).
• Foram esses os principais pontos que os organicistas introduziram na discussão urbana moderna:
• Valorizar as características culturais e o caráter humano dos locais públicos, especialmente
as praças e os parques;
• Resgatar as relações de convivência entre as pessoas, assim como o contato humano com a
natureza, buscando enfatizar a noção de vizinhança (influência norte-americana);
• Explorar a variedade formal, a multiplicidade espacial e a complexidade compositiva.

CAMILLO SITTE
• Considerado o grande renovador da forma urbana, o arquiteto austríaco Camillo Sitte (1843-
1903) propôs uma nova busca da estrutura urbana orgânica como reação contra a geometria
racionalista e uma crítica muito forte ao haussmannismo.
• Publicado em 1889, o livro de Camillo Sitte foi uma
crítica às obras de Georges Haussmann, na Paris do séc. XIX,
e à forma com que as cidades vinham sendo “construídas” na
época.
• No livro, ele propõe a reconquista da qualidade
ambiental da cidade, por meio do resgate cultural e artístico,
além da harmonia entre cheios e vazios e o respeito às
formas herdadas do passado.
• Preocupando-se com o desaparecimento da vida cívica e das formas artísticas das cidades,
estudou a função e a distribuição das praças públicas, colocando nelas o papel de verdadeiros
centros cívicos; locais de encontro e de passeio de pessoas que estariam profundamente
ameaçados com o desenvolvimento do automóvel.
• Sitte estuda as relações entre edifícios e monumentos com as praças, a libertação de ocupação
das praças, a sua definição como espaço fechado e, dessa forma, limitado.
• Também estuda a forma, a dimensão e a irregularidade das praças e a articulação entre elas.
• Para Camillo Sitte os monumentos ocupavam lugar de destaque nas cidades antigas, pois a partir
deles é que se estabeleciam os traçados urbanos, integrados a eles. As cidades cresciam ao seu
redor.
• “A coesão das praças” se baseia na relação das ruas com as
edificações. Sitte defendia que as ruas deveriam ser
perpendiculares à linha de visão.
• Era contra grandes espaços vazios e a favor dos espaços com
edifícios e obras de arte que, conforme distribuídos, causam uma
sensação de fechamento, de aconchego, coisa que ele
identificava na cidade antiga e que gostaria de conservar
• Em seus textos censurava a falta de criatividade e a monotonia
dos traçados retilíneos; o isolamento dos monumentos em
vastos espaços abertos; e, principalmente, a ausência de
continuidade entre as malhas existentes e aquelas que eram
propostas pelos progressistas.
• Sua obra sobressaiu-se sobretudo como uma análise
morfológica de setores das cidades antigas, objetivando uma
definição consciente, tanto dos princípios como do método
urbanístico mais adequado para a elaboração de um plano
urbanístico.
• Para ele, questões como zoneamento, infraestrutura, densidades ou índices urbanísticos
deveriam existir, mas ser colocadas em segundo plano.
URBANISMO CELEBRALISTA
• A restrição ao campo de trabalho dos modernos e a pressão política de regimes ditatoriais, na
década de 1930 e início dos anos 40, fizeram ressurgir nos países centrais da Europa um
academicismo decorativista, representado por uma ARQUITETURA DE CELEBRAÇÃO, tipicamente
monumental, neoclássica e tradicionalista.
• Esse período histórico foi fundamentalmente marcado por várias experiências modernas e pelas
propostas desurbanistas soviéticas, pelo urbanismo celebralista dos regimes autoritários de alguns
países centro-europeus e pela corrente organicista do norte da Europa.
• Em meados dos anos 1930, nos ambientes europeus onde as ditaduras instalaram-se, a
arquitetura moderna não sobreviveu nem marginalmente, sendo totalmente substituída por uma
ARQUITETURA MONUMENTAL E CELEBRALISTA – em especial na URSS stalinista, na Alemanha
nazista e na Itália fascista, – o que acabou se refletindo em práticas urbanas tradicionais – o
URBANISMO CELEBRALISTA.
CIDADE STALINISTA
• 1932 – União de Arquitetos Soviéticos (SSA) – que considerava contrarrevolucionários todos os
grupos isolados, promulgando formalismos acadêmicos (simetria, monumentalidade).
• A arquitetura stalinista, cujo maior expoente foi Boris M. Iofan (1891- 1976) – responsável pelo
projeto do Palácio dos Sovietes (1933) – via nos estilos clássicos a conveniência das formas e
símbolos associados às virtudes aspiradas pelo novo regime.
• Nos anos 1930 a URSS planejou a construção do
gigantesco Palácio dos Sovietes, que deveria simbolizar a
vitória do socialismo num único país.
• A ideia foi anunciada em 1922 pelo líder bolchevique
Serguei Kirov que disse no 1º Congresso dos Sovietes: “os
sons da Internacional já não cabem em edifícios antigos, e
no lugar dos palácios de banqueiros, proprietários rurais e
czares, será preciso erguer o novo palácio de operários e
camponeses”. • Naturalmente, Kirov omitia o facto de que
o “palácio de operários e camponeses” será usado pela
nova classe exploradora.
Palácio dos Sovietes: a utopia arquitetónica comunista soviética
• 1935: 8 arranha céus em homenagem ao VIII
centenário de Moscou.
• O principal deles seria o Palácio dos Sovietes –
projetado por B. Iofan com 389m de altura e coroado
com uma estátua de Lenin com 100m de altura –, mas
acabou sendo o único não executado. • As demais
torres foram construídas até o início da década de
1950 – todas historicistas, com elementos tanto
clássicos como góticos – com alturas variando de 133
a 240m, passando a ser conhecidas como as SETE
IRMÂS de Moscou.
• O conjunto formado pelos arranha-céus stalinistas
exemplifica a ARQUITETURA DE CELEBRAÇÃO devido ao
seu caráter suntuoso, monumentalismo e decoração
historicista.
• Quanto às teorias urbanas, procuraram limitar a
dimensão tanto das cidades existentes como das novas
(entre 1917 e 1965 foram fundadas na URSS mais de 900 novas cidades). A lógica do crescimento
concêntrico impôs exigências aos urbanistas.
• Em 1935, foi aprovado o novo PLANO REGULADOR DE MOSCOU, considerado tecnicamente
notável pelo zoneamento perspicaz e pela abundância de zonas verdes, mas afligido por
formalismos acadêmicos. Da Praça Vermelha às colinas de Lênin, foi traçado um eixo monumental
de mais de 20 km, semeado de grandes praças e palácios imensos.

CIDADE NAZISTA
• Embora a Alemanha tenha sido o berço fértil do modernismo, a ascensão
do comunismo, facilitada pela então desorganização financeira promovida
pela Crise de 1929, somada ao desemprego e à miséria, redundou na
formação de um movimento de caráter radical e conservador, o NAZISMO
ou NACIONAL-SOCIALISMO, que levaria ao nacionalismo exacerbado.
• A subida ao poder de Adolf Hitler (1889-1945) em 1933 estabeleceu um
regime ditatorial (III Reich), sustentado por uma política repressiva e um
aparelho paramilitar.
• A arquitetura moderna que dependia inicialmente do poder político, viu-
se, a partir dos anos 1930, restringida totalmente pelo interesse nazista por uma arquitetura de
celebração, tradicionalista e estritamente alemã.
• A Bauhaus foi fechada em 1933; e professores e arquitetos modernos acabaram emigrando,
principalmente para os EUA ou a URSS. Hitler levou o Pangermanismo (exaltação da superioridade
da raça germânica em detrimento das estrangeiras, notadamente dos judeus) a limites extremos,
acabando por desencadear a SegundaGuerra Mundial
(1939/45).
• O principal expoente da arquitetura nazista foi ALBERT SPEER
(1905-81), nomeado diretor-geral da construção civil de Berlim
em 1937 e responsável pela imposição de um estilo neoclássico rígido e colossal, principalmente
nos edifícios públicos.
• Ele considerava a arquitetura sobretudo como um “instrumento do poder”, sendo nomeado em
1942 o Ministro dos Armamentos.
• Tendo sido incumbido da tarefa de planejar a remodelação de Berlim como capital do mundo
(Welthauptstadt Germania), Speer criou um novo plano em 1938.
• A arquitetura de Berlim naquela época era, para Hitler, muito provinciana, e ele dizia que iria
demolir a cidade antiga e reconstruir a cidade de forma muito diferente, tornando a capital da
Alemanha a cidade mais importante do mundo e também a maior, superando outras capitais
mundiais, como Londres, Paris, Washington, D.C. e Roma.
"Estes planos loucos dizem muito sobre o espírito da arquitetura nazi. Projetada na sua maioria
numa escala gigantesca e num estilo neoclássico opressivo e despojado, livremente baseado no
estilo do grande arquiteto prussiano Schinkel, o seu objetivo não era simplesmente
impressionar, mas sim subjugar o espírito humano individual.“ Norman Foster

Teoria e História da Arquitetura e


Urbanismo 2
Aula 14 A Cidade Brasileira: Urbanismo no Brasil – 1895 - 1965
• De modo geral, propõe-se uma análise da formação do Urbanismo nas cidades brasileiras no
período de 1895 a 1965 (LEME, 1999).
- O primeiro período, 1895 a 1930: reforma e ampliação dos portos; melhoramentos nas áreas
centrais; obras de saneamento e a formação em engenharia.
- O segundo período, 1930 a 1950: planos de conjunto de áreas urbanas; circulação de ideias;
Estado Novo e transformações radicais na estrutura das cidades.
- O terceiro período, 1930 a 1965: planos regionais; urbanização; planejamento urbano; Brasília.
1895-1930
• Na segunda metade do século XIX, a arquitetura brasileira passou
por transformações que eram parte das modificações
socioeconômicas e tecnológicas ocorridas então na vida do País.
• A agricultura tradicional voltada para a exportação, juntamente
com a mineração, haviam constituído a base econômica do período
colonial, passando, no século XIX, por grandes transformações
iniciadas com a transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808
• 1850: É sancionada a Lei Eusébio de Queiroz, que proíbe o
comércio de negros para o Brasil;
• 1888: Fim da Escravidão no Brasil com a LeiÁurea;
• 1889: Proclamação da República.
• Ciência e civilização eram as palavras de ordem;
• O desafio da nascente República era incorporar a imagem de progresso e modernidade
Proclamação da República (1893) Benedito Calixto
• Progresso: bandeira levantada em meio ao desenvolvimento de novas instituições de ensino
técnico e da passagem da Monarquia para a República (1889).
• Nesse período, o desejo é de transformar a sociedade, avançar ao longo do séc. XIX através da
crença difusa no progresso. Construir uma nação e superar a imagem e a memória do Império era
a tarefa dos republicanos.
• Surgimento de atividades empresariais urbanas: bancos, indústrias e empresas destinadas à
prestação de serviços – promoção do crescimento de cidades.
• Criação de instituições de ensino, bibliotecas, casas tipográficas e imprensa.
• Supressão do tráfico de escravos (1888) + tarifas alfandegárias = melhoria das condições gerais
da economia.
• O vulto assumido pela cultura do café no centro-sul, em meados do
século XIX, transferiu rapidamente para essa região o centro de gravidade
econômica e política do país, que se conservara até então nas províncias
do Nordeste, graças às lavouras de cana-de-açúcar, algodão e fumo.
• Nova cultura: Café: expansão das áreas cultivadas com o quadro
tradicional de latifúndio e monocultura e a maior densidade de riqueza e população até então
atingidos no Brasil.
• São exatamente esses recursos e seu grau de concentração que irão possibilitar e favorecer as
grandes transformações operadas na vida nacional, como a
implantação de ferrovias e o surgimento da industrialização voltada
ao mercado interno.
• Sistema ferroviário a vapor - áreas agrárias do interior em contato
com o litoral (consequentemente com a Europa) - transporte de
materiais de construção mais pesados, além de máquinas e outras
mercadorias para diversas regiões do país.
• Novos tipos de mercadorias como máquinas e materiais de construção mais pesados, cuja
condução seria impossível em lombo de burro, passaram a chegar. Localidades afastadas como São
Paulo, Jundiaí e Campinas viam-se subitamente em contato direto com a sociedade industrial
europeia, que passava a lhes fornecer novas técnicas e recursos construtivos, como materiais de
todos os tipos, desde vigas e colunas de metal até elementos de acabamento, mobiliário e
decoração.
• Constituição de um grande sistema ferroviário + nova situação econômica = iniciam-se as
condições para a instalação de uma rede de cidades que passa a manter os territórios do interior
em contato mais estreito com a capital.
ECLETISMO
• A burguesia nascente, que frequentava a Europa, incentivava o uso de elementos estrangeiros
nas edificações nacionais.
• Mistura de estilos arquitetônicos do passado: criação de uma nova linguagem arquitetônica -
ECLETISMO.
• Desse modo, o impacto da ascensão econômica promovida pelo café, que conduziu à introdução
da malha ferroviária e ao incremento urbano, propiciou manifestações estilísticas de um passado
europeu, usando materiais importados, aplicados por trabalhadores imigrantes, os quais se
reconheceriam nessas manifestações e nos artigos empregados -> Surge o ECLETISMO no Brasil.
• No primeiro período (1895-1930) foram propostos e realizados melhoramentos localizados em
partes das cidades. Projetando sobre a cidade existente, tratava-se, ainda, de melhorá-la.
• Assim, no final do século XIX algumas capitais, cidades com frentes agrícolas ou portuárias,
estavam a caminho de um processo de explosão demográfica que seria sentido a partir da
necessidade de intervenções urbanas para adequar seus centros à visão urbanizadora sanitarista
que se manifestara desde os primeiros momentos da chegada da Família Imperial em 1808.
• Pressionados pelas epidemias que estavam assolando as cidades, a questão do saneamento era
central e os engenheiros eram chamados para elaborar o projeto e chefiar comissões para a
implantação de redes de água e esgoto.
• A primeira geração de profissionais que atuava nesse período era formada em cursos de
engenharia, nas antigas Escolas Militares na Bahia, Pernambuco e no Rio de Janeiro; alguns
formados no exterior. Ocupavam cargos públicos nas estruturas administrativas que estavam em
formação nas prefeituras das principais cidades e no governo dos estados.
Não é mais o acaso, mas o projeto do engenheiro que define as áreas da cidade.
• A circulação era outra questão extremamente importante, mobilizando todas as cidades
tratavam-se de transformar as estruturas urbanas herdadas de uma economia colonial em que a
circulação se fazia mais como passagem entre as cidades e os centros produtores.
• Alargavam-se as ruas adequando-as aos novos meios de transporte
• Os bairros unem-se então aos centros através de trilhos de bonde, inicialmente movidos à tração
animal e, posteriormente, por energia elétrica.
• Os mesmos trilhos do trem que trouxeram a elite cafeeira à vida urbana a conduzem à
modernidade, espalhando-se por novos loteamentos abertos sobre suburbanas chácaras.
• As transformações se fazem sentir também nos equipamentos urbanos, redes de água, esgotos
e iluminação pública.
• Portanto, as cidades seriam o palco da modernidade para a instalação de serviços de drenagem,
abastecimento de água e esgoto, gás, eletricidade, iluminação pública, transportes, etc. – em sua
maioria eram empreendimentos com envolvimento de empresas ou capital estrangeiro, mormente
inglês, tal como acontecera com as linhas férreas no início da segunda metade do século XIX
(SEGAWA, 1999). Seriam as reformas baseadas na Paris de Haussmann.
SÃO PAULO
• 1888: construção do Viaduto do Chá, localizado no Vale do
Anhangabaú, São Paulo, para atender a expansão da área central.
• Foi idealizado pelo francês Jules Martin em 1877, mas inaugurado
apenas em 6 de novembro de 1892.
• 1891: abertura da Avenida Paulista, inicialmente residencial,
que dividia a cidade em duas regiões e onde se concentrariam
os palacetes ecléticos.
• A Avenida Paulista é inaugurada e formada pela alta
aristocracia cafeeira e pela burguesia industrial.

Avenida Paulista no dia da Inauguração,


8 de Dezembro de 1891
• Entre 1899 e 1918: São Paulo sofreu grandes
transformações urbanas aos moldes do Rio de Janeiro e
de grandes cidades do mundo:
- Implantação de bondes elétricos e remodelação do
centro a partir da construção do Teatro Municipal, da
criação do Viaduto de Santa Ifigênia e da reestruturação
do Vale do Anhangabaú como parque público,
decorrentes das propostas do então vereador e
engenheiro Augusto Carlos da Silva Telles.
- Alargamento, calçamento, retificação e arborização de diversas ruas e outros logradouros
públicos – além da criação de parques, como Parque D. Pedro II (1914), pelo arquiteto Francisque
Cuchet.
• O arquiteto Ramos de Azevedo e os italianos Cláudio Rossi e
Domiziano Rossi iniciaram a construção em 1903 e, após oito anos
de trabalho, o Teatro Municipal foi batizado pela ópera Hamlet, de
Ambroise Thomas, diante de uma multidão de 20 mil pessoas .
• São Paulo passa a se integrar ao roteiro internacional dos
grandes espetáculos .
REFORMA E AMPLIAÇÃO DOS PORTOS MARÍTIMOS E FLUVIAIS
• A reforma e ampliação dos portos aconteceu nas principais cidades litorâneas nas duas primeiras
décadas do século 20.
• O porte dessas reformas estende-se, como é o caso de Santos, do Rio de Janeiro, Recife,
Salvador, Niterói, no embelezamento e remodelação de praças e na abertura de largas avenidas.
• Essas obras viárias arrasaram quadras inteiras, eliminando edifícios e marcos históricos da
cidade.
SANTOS
• Francisco Saturnino de Brito (1864 – 1929)
• Em 1904, Saturnino de Brito assumiu o cargo de engenheiro-chefe
da Comissão de Saneamento de Santos e foi nesse município que
iniciou seu projeto pioneiro de saneamento, cujo princípio era separar
as águas de rios e córregos das do esgoto.
• O sistema de rede pluvial e o conjunto de canais em direção ao mar,
que passaram a drenar as áreas passíveis de inundação, foram de
grande importância para evitar a água parada e o surgimento de
epidemias,
RIO DE JANEIRO
• Com a chegada das 15.000 pessoas que compunham a Corte portuguesa, em 1808, o Rio de
Janeiro – que contava até então com cerca de 50.000 habitantes – tornou-se um entreposto
comercial e administrativo que se transformou em uma cidade rica em recursos, conseguindo
investimentos de porte vindos de todo o país, os quais financiaram rápidas e profundas
transformações urbanas.
• Ocorreram mudanças profundas nas determinações legais e normas de construção no governo
entre 1808 e 1821: - Aterramento de mangues, secagem de brejos e alargamento de ruas, que
passaram a ser calçadas; - Abertura de canais de drenagem, construção de pontes e uniformização
da iluminação pública e serviço de abastecimento de água; - “Limpeza” da cidade e imposição do
novo estilo neoclássico;
• Foi a partir da difusão dos trabalhos de Haussmann que o governo imperial promoveu uma
política de modernização da capital brasileira e, em 1874, formou-se a Comissão de
Melhoramentos do Rio de Janeiro, que elaborou o primeiro plano de reforma urbana.
• Porém, houve a necessidade de ocorrerem as mudanças derivadas da REPÚBLICA (1889) para
que se implantassem as reformas, algumas somente viabilizadas graças aos empréstimos junto à
Inglaterra no governo de Campos Sales, entre 1898 e 1902.
• Na sequência, o governo de Rodrigues Alves, entre 1903 e 1907, empenhou-se em implementar
as medidas urbanísticas almejadas pelos republicanos, que viam no centro carioca resquícios do
período colonial e monárquico.
abolição da escravidão
• A partir de 1903, o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836-1913),
então nomeado prefeito pelo presidente, recebeu todo aval para iniciar
uma série de remodelações na capital federal, já com 500.000 habitantes,
que deveria assumir uma imagem cosmopolita como Paris.
• Foram essas as maiores alterações ocorridas no Rio de Janeiro, até hoje
não superadas em escala e proporção: - Abertura da Avenida Central (hoje
Avenida Rio Branco) a partir da demolição de cerca de 3000 casas por
justificativas sanitárias e de livre expulsão de camadas populares sem
indenizações ou planos de apoio, conduzindo à favelização dos morros;
- Criação da Avenida Beira-Mar, unida ao novo cais do porto –
cuja reforma estava sob responsabilidade do engenheiro Lauro
Severiano Müller (1864- 1926) – pela Avenida Central, a qual
estariam ligadas duas novas praças: Mauá e Floriano, hoje
conhecida por Cinelândia;
- Canalização de rios, criação de jardins, construção de túneis e
melhoria do sistema viário e do saneamento urbano com a
colaboração de Oswaldo Cruz (1872-1917) para evitar surtos de febre amarela, varíola e peste
bubônica.
Campanha da vacina (1904) – Rio de Janeiro

ATÉ AGORA ESTAMOS FALANDO DE REFORMAS URBANAS CIDADE EXISTENTES


Diferença entre projeto urbano e arruamento
ARRUAMENTO
• Malha viária composta de ruas e quarteirões.
• O executor do serviço, o arruador era, regra geral, agrimensor em
razão da rara atuação de engenheiros, tanto no país como um todo
como particularmente no interior de São Paulo, até o início do século
XX.
• “2D”.
PROJETO URBANO
• Além da malha viária são previstas também edificações.
• “3D”.
BELO HORIZONTE (MG)
Construída para ser o símbolo de uma nova era, marcada pela onda de modernização que atingia o
País naquele período, sua construção e a transferência da capital de Ouro Preto estão diretamente
associados ao universo ideológico republicano. Cidade que já nasce moderna

• Estudo inédito no Brasil, em que foi avaliada a potencialidade das possíveis localidades em
termos: - de salubridade; - facilidades para a construção em geral; - possibilidades de
abastecimento de água e esgoto, iluminação e articulação viária; - custos demandados para a
implantação da nova capital.
• Construída para ser o símbolo de uma nova era, marcada pela onda de modernização que atingia
o País naquele período, a construção de Belo Horizonte e a transferência da capital está
diretamente associada ao universo ideológico positivista e republicano.
• O engenheiro insistirá nas condições do sítio da localidade, cujo nome, por si só, já é uma
imagem – Belo Horizonte – louvando a beleza e as conveniências do lugar: o panorama, a
luminosidade e a aeração.
Aarão Leal de Carvalho Reis
Engenheiro Aarão Reis
• Participante da primeira geração de urbanistas no Brasil, é
responsável pela maior iniciativa urbanística do século XIX no
Brasil: a construção da nova capital do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte.
O projeto urbano para Belo Horizonte
• Belo Horizonte é uma cidade nova e não uma proposta de intervenção sobre um tecido urbano
existente. O projeto urbano para Belo Horizonte
• O projeto elaborado por Reis para Belo Horizonte é de 1895 e denota conhecimento e
proximidade com relação aos planos de Washington, São Petersburgo, à reforma realizada por
Haussmann em Paris e, sobretudo o projeto pra La Plata, na Argentina.
• Duplo gradeamento ortogonal
imposto ao plano da cidade: O primeiro,
determinando a orientação das ruas com
largura de 20 metros, seguindo em sentido N-S
e E-O. Sobre tal
gradeamento Reis inseriu
diagonais que formariam
outra quadrícula, em sentido NO-SE e NE-SO, formando um sistema de largas avenidas de 35
metros.

• A única via de gabarito diferenciado, destinada à ligação entre bairros opostos, rasgando a
cidade de Norte a Sul, teria uma largura de 50 metros.
• Programado para comportar entre 150 e 200 mil habitantes, o plano de Belo Horizonte procurava
privilegiar o aspecto da circulação.
• O sentido de hierarquia: colocando o parque em posição de privilégio.
A nomenclatura das ruas e o posicionamento das edificações e das principais funções da cidade:
ideia de ordem e hierarquização.
Às vias estabeleceu-se uma
nomenclatura baseada
em datas, fatos históricos,
vultos, rios, tribos indígenas,
capitais e Estados brasileiros.
As praças receberam
denominações que recorriam ao
universo simbólico da República
brasileira (Liberdade, Justiça,
Progresso, Federação,
Tiradentes, Benjamim Constant,
etc.).
A disposição dos edifícios: obedeceu a uma ordenação programada, visando estabelecer um amplo
centro cívico formado pelas pontas de um triângulo que representasse através de uma construção,
em cada um de seus vértices, o Palácio do Governo, o Palácio do Congresso e a Catedral.
Importância maior foi dada ao Palácio Presidencial (colina) para onde confluíam seis avenidas que
garantiam o livre acesso de todas as direções.
TRÊS LAGOAS (MS)
• 1911: O engenheiro Machado de Mello, atuando diretamente na construção da ferrovia, ao
formular o projeto da “Planta para a Futura Cidade de Trez Lagôas” , tomava para si o discurso
progressista e de desenvolvimento, até então semeado pelo
governo.
Natureza inovadora e progressista. A influência francesa,
baseada em Haussmann, é evidente em diversos aspectos:
• Racionalidade, elaborada num plano linear cuja intenção de
expandir a futura cidade é perceptível;
• Grandes vias de escoamento concêntricas formando um “X” de intersecção ao meio do plano;
• Também assemelha-se aos traçados em diagonais de cidades como Washington e Barcelona,
Belo Horizonte, La Plata;
• Ruas e avenidas como bulevares, largas e cujos nomes referiam-se a rios e figuras importantes da
época para a região, na tentativa de enaltecer as qualidades locais e republicanas, tal como em
Belo Horizonte (Praça Afonso Penna, Avenida Sucuriú, Avenida Tietê, Avenida Paranahyba, Praça
Rodrigues Alves).
• No cruzamento do “X”, ao centro do plano, a Praça central traz a Igreja Matriz
• Ao lado da Matriz, são locadas as construções que representam o poder público como a Câmara
e o Fórum, posicionados em lados opostos.
• Também ao redor da Praça medial edificações como o Teatro e o Hotel. • Afastados do jardim
público em um raio maior, a Escola, seguida pelas praças secundárias, o Matadouro, o Hospital, a
Cadeia, o Quartel e um Parque, que delimitava a Oeste o desenho.
As edificações ferroviárias eram previstas no projeto. A linha férrea Itapura – Corumbá restringia o
fim do traçado a Sudoeste de orientação solar. Eram supostos, além da Estação Ferroviária,
Oficinas, Depósitos de carros e prédios administrativos.
A não implantação do projeto urbano para Três Lagoas
Três Lagoas – uma cidade capital que não saiu do papel

SIMILITUDES
Belo Horizonte - 1894

X
X

Três Lagoas - 1911

Teoria e História da Arquitetura e


Urbanismo 2
Aula 15 A Cidade Brasileira: Urbanismo no Brasil – 1895 - 1965.
1930-1950
Vamos relembrar qual era o cenário do Brasil na época?
• Século XX: Cultura do café -> centro-sul pólo de gravidade econômica e política do país;
• Implantação das ferrovias e surgimento da industrialização;
• Grande sistema ferroviário –> formação de redes de cidades;
• Intervenções urbanas para adequar os centros à visão urbanizadora
sanitarista;
• Na década de 1920 parte do país estava de mudança para as cidades,
por conta da industrialização crescente.
• Além disso, as artes estavam se transformando com a Semana de Arte
Moderna em São Paulo.
• A Semana da Arte Moderna, realizada em 1922, ano do centenário da
Independência do Brasil, tinha o intuito de romper com as tradições do
passado e promover a independência cultural frente à Europa,
especialmente Portugal e França.
• A Semana de Arte Moderna representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de
experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado , pois a arte passou então da
vanguarda para o modernismo .
• O evento marcou época ao apresentar novas ideias e conceitos artísticos, como a poesia através
da declamação, que antes era só escrita; a música por meio de concertos, que antes só havia
cantores sem acompanhamento de orquestras sinfônicas; e a arte plástica exibida em telas,
esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e modernos.
• Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia,
Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre
outros, e como um dos organizadores o intelectual Rubens Borba de Moraes que, entretanto, por
estar doente, dela não participou.
• Na ocasião da Semana de Arte Moderna, Tarsila do Amaral, considerada um dos grandes pilares
do modernismo brasileiro, se encontrava em Paris e, por esse motivo, não participou do evento.
• A Arquitetura Modernista manifestara-se na Europa desde o início do século XX expondo na
praticidade de linhas simples sua volumetria, arestas puras em formas livres de ornamentação,
sinceridade estrutural, baseando-se nas novas tecnologias de materiais da produção industrial.
• A racionalização de espaços, a diversidade e a produção capitalista em escala serão a tônica
desde o seu início. A proposta modernista de habitação buscava um racionalismo construtivo que
priorizava a funcionalidade, a dinâmica urbana, com plantas compactas sem espaços supérfluos, e
habitações coletivas, que permitissem uma rápida reprodutibilidade.
• A década de 1930 começa com um contexto econômico desafiador,
devido aos impactos da crise de 1929 em todo o mundo.
• Houve desequilíbrio na produção mundial que afetou,
principalmente, países do chamado Terceiro Mundo, exportadores de
commodities e importadores de produtos finais. O Brasil ainda tinha a
economia baseada nas exportações de café.
• No Brasil, ocorre a Revolução de 30, movimento que chega ao poder
encabeçado pelo político gaúcho GetúlioVargas
. • Revolução de 1930 foi o movimento armado, liderado pelos estados de MG, PB e RS, que
culminou com o golpe de Estado, também conhecido como Golpe de 1930, que
depôs o presidente da República Washington Luís em 24 de outubro de 1930,
impediu a posse do presidente eleito, o paulista Júlio Prestes, e pôs fim à
República Velha.
• Chega ao fim a política do café com leite e tem início o Estado Novo, em
novembro de 1937. Ao longo do restante da década não seriam realizadas
eleições no país (as eleições só voltariam com o fim do Estado Novo, em 1945).

1930-1950
• O segundo período de 1930 a 1950 é marcado pela elaboração de planos que têm por objetivo o
conjunto da área urbana na época – PLANOS DE CONJUNTOS.
• Com uma visão da totalidade, são planos que propõem a articulação entre os bairros, o centro e
a extensão das cidades através de sistemas de vias e de transportes.
• Neste período são formuladas as primeiras propostas de zoneamento.

• Atenção!
• Os planos de saneamento para as cidades existentes, em particular os elaborados
por Saturnino de Brito, desde o final do século 19 já eram elaborados com uma visão
de totalidade, tanto da área urbana existente como a sua integração a uma área de
expansão.
• Esta visão integrada inerente aos projetos de sistemas em rede de infraestrutura só serão
ampliados para o sistema viário e de transportes para a maioria das cidades brasileiras a partir dos
anos 30.
• Também a legislação urbanística controlando o uso e a ocupação do solo será proposta a partir
desta data.
Nessa fase os planos de urbanização passam a considerar o todo da cidade, sendo as ruas
elementos de articulação entre as áreas centrais e os bairros
SÃO PAULO – PLANO DE AVENIDAS DE PRESTES MAIA
• O Plano de Avenidas, elaborado por Francisco Prestes Maia para São Paulo em 1930 é um
exemplo expressivo dessa nova forma de planejar a cidade.
• Propondo um sistema articulado de vias radiais e perimetrais, este
engenheiro, formado pela Escola Politécnica de São Paulo, transforma a
comunicação entre o centro da cidade e os bairros.
• Ele projeta a cidade que se expande de forma extensiva sobre pneus,
substituindo a cidade de alta concentração de atividade e pessoas em que o
transporte coletivo se faz através do bonde.
• O Plano de Avenidas vai ser citado como referência para as outras cidades.
• O Plano guiou o crescimento do município ao longo das décadas
posteriores. O estudo apresentou uma proposta de estruturação física
da metrópole em um sistema de circulação radiocêntrico onde o
elemento central era o perímetro de irradiação.
• Seus principais componentes eram: o perímetro de irradiação, as
avenidas radiais e as avenidas marginais ao Rio Tietê, que, junto com o
Rio Pinheiros, delimitavam a área de abrangência do plano.
• O principal objetivo do
perímetro era ampliar o Centro e
descentralizar o comércio, enquanto as radiais estabeleciam a
fluidez do tráfego que ligava os bairros à região central.
• Trata -se do primeiro plano urbanístico que pensa a cidade
de São Paulo na sua totalidade , como uma unidade, a fim de
entender o processo de planejamento, a redistribuição das redes de mobilidade e a malha viária .
Características
- primeiro plano que pensa São Paulo na sua totalidade;
- importante crítica a centralidade dos caminhos;
- reflete os pensamentos urbanísticos da época, as influências
- Impregnando pela mentalidade haussmanniana e pelo Beautiful City, defendia o crescimento
ilimitado da metrópole
- estrutura o crescimento da cidade ao longo das décadas posteriores;
- Expressa uma concepção urbana adequada a cidades em rápida expansão horizontal, que
necessitam estabelecer a movimentação fácil e ágil entre o centro comercial / administrativo e as
áreas residenciais e industriais distribuídas perifericamente;
- Além de organizar, prever e facilitar o fluxo, o Plano somava a função de remodelar a cidade.
• Prestes Maia traça a Avenida de Irradiação a uma certa distância do centro “matemático” da
cidade, de modo a se apresentar como uma alternativa às avenidas que convergem todas para um
ponto central; sua função seria a de escape para que o tráfego não necessariamente passasse pelo
centro de cidade como única alternativa. Seria a sua função, nas palavras de Prestes Maia:

ESTADO NOVO E AS TRANSFORMAÇÕES RADICAIS NA ESTRUTURA DAS CIDADES


• Observamos que a partir de 1937 são realizadas obras
que transformam radicalmente as estruturas urbanas,
principalmente no que se refere ao sistema viário.
• São, no geral e em grande maioria (isso se repete no
Rio de Janeiro, em Porto Alegre – RS e em Recife – PE,
além de São Paulo), abertas novas avenidas que
permitem a circulação de pessoas e mercadorias
preparando as cidades para a nova fase de
industrialização que se dará a partir dos anos 50.

1950-1965
• Entre 1950 e 1964, o terceiro período, são iniciados os
planos regionais, dando conta da nova realidade que se configura nesta época:
- Migração campo-cidade;
- Processo crescente de urbanização;
- Aumento da área urbana e consequente conurbação.
• No Brasil, a década de 50 é um momento de importantes transformações no campo dos estudos
urbanos pela emergência de novos temas, a introdução de novos métodos e a participação de
profissionais de outras disciplinas – PLANOS DIRETORES.
• A terceira fase é marcada pela incorporação de outros aspectos aos planos, além daqueles
estritamente físicoterritoriais, tais como os aspectos econômicos e sociais. Segundo As principais
características dos planos desse período são:
1) Distanciamento entre as propostas contidas nos planos, por um lado, e as possibilidades de que
essas propostas sejam efetivamente implementadas, por outro;
2) Conflito entre propostas cada vez mais abrangentes, e estruturas administrativas cada vez mais
setorializadas e especializadas;
3) Dificuldades e indefinições quanto à aprovação dos planos, uma vez que até então estes eram
da alçada do Executivo e, a partir da incorporação de leis e recomendações das mais diversas
naturezas, passaram a ser também da alçada do Legislativo.
Quanto mais complexos e abrangentes tornavamse os planos, mais crescia a variedade de
problemas sociais nos quais se envolviam e com isso mais se afastavam dos interesses reais da
classe dominante e portanto das suas possibilidades de aplicação (VILLAÇA, 1999, p. 214).

PLANO DOXIADIS, RIO DE JANEIRO (1965)


• O Plano Doxiadis, também conhecido como Plano
Policromático, foi uma publicação de 1965 e concebido
pelo arquiteto e urbanista grego Constantino Doxiádis,
sob encomenda do então governador do estado da
Guanabara, Carlos Lacerda (1960-1965)
• Destinava-se à reformulação das linhas mestras do
urbanismo da cidade do Rio de Janeiro, preparando-a para o crescimento esperado até ao século
XXI.
• O volume, elaborado por um escritório grego e publicado em inglês, possuía “quase quinhentas
páginas de estudos técnicos, das quais nove – páginas 363 a 372 – são de implementation e uma
única, a 375, é de recommendations.” (VILLAÇA, 1999, p. 213).
• Leme (1999, p. 373), entretanto, argumenta que, apesar de realizar um amplo diagnóstico
econômico e social, além de urbanístico, o Plano Doxiadis é eminentemente físico-territorial nas
suas proposições. Partindo de um modelo ideal baseado em comunidades de diferentes tamanhos
e hierarquias interdependentes, propõe uma série de diretrizes necessárias para alcançá-lo. Entre
elas, está a previsão de acomodação para o crescimento da população em 35 anos, até o ano 2000,
baseada em estimativas numéricas a serem revisadas de 5 em 5 anos.
BRASÍLIA
• A determinação desenvolvimentista do governo de Juscelino
Kubitschek (1902-76), entre 1956 e 1960, produziu fatos expressivos no
terreno da urbanização brasileira, já que a passagem do poder político e
da iniciativa econômica para as mãos da burguesia industrial reforçou a
cultura urbana.
• O Plano de Metas, concebido por Kubitschek e sua equipe para ser
cumprido em quatro anos, continha uma “meta-síntese” de grande
impacto: a construção de Brasília, a nova capital que se constituiu na
aplicação prática dos pressupostos funcionalistas.
• A mudança da capital para o Centro-Oeste era uma ideia existente desde a independência e foi
um dos principais temas arquitetônicos da década de 50.
• Para tal empreendimento, JK criou a Companhia de Urbanização da Nova
Capital – NOVACAP e confiou a Oscar Niemeyer (1907 – 2012) a direção
geral dos trabalhos de arquitetura.
• Niemeyer recusou-se a elaborar o plano-piloto da cidade de 500.000
habitantes para o qual foi aberto um concurso, organizado pelo Instituto de
Arquitetos do Brasil – IAB, com total liberdade de concepção para o traçado
urbano.
• Todos os projetos apresentados refletiam uma profunda influência do
urbanismo funcionalista da Carta deAtenas (1933).
• O resultado do concurso foi divulgado tendo sido a proposta de Lúcio Costa (1902-1988) a
vencedora, por ser considerada a mais viável, pelas condições técnicas disponíveis e o tempo de
execução.
Características
• Estas eram as principais características do Plano-Piloto:
a) Zoneamento da cidade em dois eixos perpendiculares em função do sistema viário planejado:
criação de um eixo monumental como ponto focal da composição, dando ênfase especial aos
edifícios públicos;
b) O Eixo Norte-Sul (eixo rodoviário) corresponderia ao alinhamento em quadras das áreas
residenciais separadas por uma amplo cinturão verde e com blocos de habitação dispostos sobre
pilotis. Cada superquadra teria área de estacionamento e para cada conjunto de 04 quadras seriam
previstos igreja, escola e equipamentos de lazer e esporte;
c) O Eixo Leste-Oeste (eixo monumental) decresceria em
nível lentamente na direção do Lago localizado na
extremidade Leste. Nos níveis superiores estariam os
edifícios da Administração Municipal, seguidos do Setor Esportivo e, lateralmente, dos Jardins
Botânico e Zoológico;
d) A junção dos dois eixos, resolvida por meio de três plataformas, abrigaria, no nível superior, o
Setor de Diversões (cinemas, teatros, restaurantes e hotéis); e, no nível superior, abrir-se-ia a
perspectiva da Esplanada dos Ministérios, tendo em primeiro plano a Catedral. Na Praça dos Três
Poderes, no extremo Leste, estariam o Palácio do Congresso, o Palácio daAlvorada e a Suprema
Corte.

Sua composição morfológica exerceu um papel fundamental na construção de sua imagem, pois,
desde o início, sua planta foi descrita como um “avião” ou “pássaro ao alçar vôo”. Lúcio Costa
afirmava que a ideia havia nascido “do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma
posse: dois eixos se cruzando em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal-da-cruz” (GUIMARÃES,
1996:39).

Você também pode gostar