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ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS APLICADOS

URBANISMO
AMERICANO
O pensamento norte americano
entre o século XIX e XX
Nos Estados Unidos, observa-se no início do século XIX um grande crescimento
industrial, que impulsiona o desenvolvimento urbano. Nesta época, New York que
conta com 100 000 habitantes, concentrados na ilha de Manhattan, cresce de
forma desordenada. Para organizar este crescimento urbano, uma Comissão
estuda por 4 anos um projeto de urbanização quem vem a ser proposto e
implementado em 1811. Este plano recorta a ilha de Manhattan com uma malha
uniforme de vias ortogonais: 12 "avenues" no sentido longitudinal, com quase 20
quilômetros de comprimento, e 155 "streets" perpendiculares a elas, com 5
quilômetros. Um imenso parque, o Central Park, é construído em 1858. Até hoje
este é o grande exemplo do urbanismo americano, cartesiano e racional, rígido em
sua concepção viária, mas que admite flexibilidade nas construções dos edifícios
em seus quarteirões ABIKO; ALMEIDA; BARREIRA, 1995
A paisagem urbana do início do século XX atravessou uma crise em relação não só aos
valores estéticos como aos políticos e sociais, produzindo profundas alterações na
estrutura física das cidades.

Plano dos Comissários de


1811 (Nova York)

City Beautiful - 1890


(Chicago, St. Louis)
Em 1609, New Amsterdam criada a partir
dos colonizadores holandeses,
construída na base de Manhattan
(conhecida como lower manhattan)

Em 1664, domínio passado aos ingleses -


originando a denominação Nova York

Plano de NY | 1811
1650 - 5.000 habitantes

NY 1790 - 33.000 habitantes


1800 - 60.000 habitantes

Mas, no final do século seguinte, artesãos, operários e advogados nativos se misturavam a


franceses fugindo da revolução, a uma quantidade enorme de imigrantes irlandeses e muitos
alemães.
A partir de então, cerca de mil novas habitações eram postas de pé a cada ano.
1650 - 5.000 habitantes

NY 1790 - 33.000 habitantes


1800 - 60.000 habitantes

Nos Estados Unidos, observa-se no início do século XIX um grande crescimento industrial, que
impulsiona o desenvolvimento urbano. Nesta época, New York que conta com 100 000
habitantes, concentrados na ilha de Manhattan, cresce de forma desordenada.
Para organizar este crescimento urbano, uma Comissão estuda por
4 anos um projeto de urbanização quem vem a ser proposto e
implementado em 1811. O plano é baseada no plano de grade, um
dos mais famosos do mundo (Mileto).

conceito de que a planta de uma cidade pode formalmente


materializar e explicitar uma ordem social racional
Conhecido como Plano dos Comissários, o projeto instituía a
demarcação de lotes medindo oito por 30 metros em toda a
área não habitada da ilha; 14 avenidas paralelas, que a
cruzavam de norte a sul, além das 172 ruas perpendiculares
a elas, formavam a grade urbana. (NOLASCO; FREITAS;
BATISTA, 2007)

No plano de 1811, a largura das avenidas e ruas principais são


de 30 metros enquanto a das ruas locais chegam aos 18
metros, formando quadras retangulares sem a existência de
desenhos mais rebuscados. (ISRAEL et al., 2021)
"a antítese de um plano futurista...
Exaltou a vida cotidiana comum e
enfatizou que o governo não deve
agir de maneira a criar desigualdades
e privilégios especiais. [...] Serviu para
transformar o espaço em uma
expressão publica filosófica, que
enfatiza a igualdade e a
uniformidade".
A principal alteração existente na malha do plano dos
comisisonários foi o Central Park

1853: compra dos terrenos


1857: inicio do projeto
1876: finalização

O conceito de parque urbano surge em 1840 e era


argumentado que na cidade não tinha nenhum parque
agraciava a cidade e aumentaria a reputação da cidade
como cidade internacional.
“(...) é a previsão mais corajosa da civilização ocidental: ela divide
uma terra desocupada, descreve uma população hipotética situa
edifícios fantasmagóricos, abriga atividades inexistentes.”
Diferentemente de Paris e Londres, que se desenvolveram a partir
de núcleos medievais junto aos cursos d’água do Sena e do Tâmisa,
Manhattan afirma a supremacia do construído sobre o natural e
sintetiza o caráter programático viário, desprovido de estratégias
para embelezamento de um desenho, “(...) é uma contra-Paris, uma
anti-Londres” (KOOLHAAS, 2008).
“(...) é a previsão mais corajosa da civilização ocidental: ela
divide uma terra desocupada, descreve uma população
hipotética situa edifícios fantasmagóricos, abriga atividades
inexistentes.”

Altamente criticado pela rigidez e monotonia em


comparação com padrões irregulares. Também criticado
pela grande alteração topografica do local para adaptar a
malha.
“(...) é a previsão mais corajosa da civilização ocidental: ela
"longas ruas monótonas que
divide uma terra desocupada, descreve uma população
terminavam em lugar nenhum,
hipotética situa edifícios fantasmagóricos, abriga atividades
inexistentes.” preenchidas por fileira de construção
monótonas"(Lewis Mumford)

Altamente criticado pela rigidez e monotonia em


comparação com padrões irregulares. Também criticado
pela grande alteração topografica do local para adaptar a
malha.
Alguns dos problemas práticos da malha são vistos até
hoje, como por exemplo:

congestionamento excessivo nos cruzamentos

lotes estreitos que geraram alto adensamento

falta de hierarquias viárias

falta de espaços destinados à espaços publicos


Alguns dos problemas práticos da malha são vistos até
hoje, como por exemplo:

congestionamento excessivo nos cruzamentos

lotes estreitos que geraram alto adensamento

não tem outra saída a não ser a extrusão de prismas a partir da


malha urbana. O arranha-céu se consubstanciou no
mecanismo de erigir sobreposições a partir do mesmo plano,
para que haja repetição e proliferação de áreas passíveis de
construção (ISRAEL et al, 2021)
É o grande exemplo do urbanismo americano,
cartesiano e racional, rígido em sua concepção
viária, mas que admite flexibilidade nas construções
dos edifícios em seus quarteirões. (ABIKO;
ALMEIDA; BARREIRA, 1995)
Nasceu nas décadas de 1890 e 1900 pretendia
reformar a arquitetura e o urbanismo americanos
tendo como premissas o embelezamento e a
grandeza monumental das cidades.

crescimento e congestionamento
das zonas habitacionais, uma
conseqüência de altas taxas de
O movimento surgiu nas grandes cidades americanas
natalidade, o aumento da
imigração e consolidação das
migrações rurais para as cidades.

City Beautiful
A inspiração se deu a partir das grandes capitais
europeias e as reformas que aconteceram no século XIX
(como a reforma de Paris por Haussman)

O objetivo primordial do
Sua origem se dá, entretanto, nos Estados Unidos, no
planejador era eliminar os
focos geradores de doenças, começo do século XX, onde líderes municipais buscam
depravação moral,
superar complexos coletivos de inferioridade e
descontentamento e
socialismo (HALL, 2016) impulsionar negócios.
O movimento não procurava a beleza
por si mesma, mas sim para o bem
comum, para criar virtude moral e
cívica das populações urbanas.

Em Chicago, esse movimento influenciou tanto o arranjo


espacial de centros cívicos e parques em importantes
conjuntos de desenho urbano quanto a arborização das
ruas, principalmente no subúrbio - higiene da cidade
fundamentado em duas premissas básicas para a
O movimento não procurava a beleza intervenção urbana: primeiro, a devoção ao estilo
por si mesma, mas sim para o bem clássico-renascentista, aplicado nos edifícios
emblemáticos da cidade e, segundo, à adoção de
comum, para criar virtude moral e
um urbanismo valorizando a monumentalidade.
cívica das populações urbanas. (SIMOES JUNIOR, 2011)

Em Chicago, esse movimento influenciou tanto o arranjo


espacial de centros cívicos e parques em importantes
conjuntos de desenho urbano quanto a arborização das
ruas, principalmente no subúrbio - higiene da cidade
A primeira elaboração em grande escala de City
Beautiful ocorreu em Chicago, na Exposição Mundial
de 1893.

Celebração dos 400 anos da chegada de Cristovão


Colombo e feira de criações. O movimento alcançou dimensões e
difusão em escala nacional, graças a
uma mobilização social além de um
arranjo político e econômico favorável,
uma vez que o movimento fora
O planejamento da exposição foi dirigido pelo
concebido dentro dos valores e
arquiteto Daniel Burnham, que contratou arquitetos
premissas das classes média e média-
do leste dos Estados Unidos alta americanas.
A exposição exibiu uma cidade modelo em grande escala, conhecida como a "Cidade Branca", com
sistemas de transporte modernos e sem pobreza visível. Acredita-se que a exposição resultou na
adoção em larga escala do monumentalismo para a arquitetura americana pelos próximos 15 anos.
Os grandes edifícios neoclássicos
da Cidade Branca tornaram-se
modelos para bancos e edifícios
públicos em todo o país. Eles
também influenciaram os designs
dos museus que agora ficam nas
margens do lago de Chicago.
O Museu da Ciência e Indústria
está instalado no antigo Palácio
de Belas Artes da feira mundial.
A popularização iniciada pela World
Columbian Exposition foi aumentada
pela Louisiana Purchase Exposition
de 1904, realizada em St. Louis. Seu
comissário de arquitetos escolheu o
arquiteto franco-americano
Emmanuel Louis Masqueray para ser
o chefe de design.

Em três anos, ele projetou os


seguintes edifícios de feiras nas
Beaux Arts predominantes: o Palácio
da Agricultura; as cascatas e
colunatas; o Palácio da Silvicultura,
Peixe e Caça; o Palácio da
Horticultura; e o Palácio dos
Transportes.
Era, na verdade, uma típica recriação norte-americana, pois
adaptava a linguagem clássica a uma escala grandiosa de forma a
criar magníficos cenários. E termina dizendo “a exposição afirmou
a possibilidade de tornar as cidades belas” [...] possuía como
princípios, ações visando a qualidade do ambiente através de
projetos que valorizassem a beleza, a ordem, o sistema e a
harmonia, como edifícios públicos, centros cívicos, parques,
sistema viário, embelezamento do espaço público, vegetação e
mobiliário urbano. Com isso pretendia-se atingir os corações e
mentes dos cidadãos e imbuí-los por um sentimento de civismo,
patriotismo, e sentido comunitário. (SIMOES JUNIOR, 2011)
Washington, local de aplicação do berço do planejamento
seguindo a lógica do City Beautiful, era consideradas por
todos como especial: uma cidade à parte das outras norte-
americanas e onde os aspectos cerimoniais e simbólicos
deviam sobrepor-se aos demais. (HALL, 2016)

Os planejadores de Washington, que incluíam Burnham,


Saint-Gaudens, Charles McKim, Mead e White e Frederick
Law Olmsted, Jr., visitaram muitas das grandes cidades da
Europa
O conceito básico era devolver à cidade uma perdida
harmonia visual e estética, criando o pré-requidito físico
para o surgimento de uma ordem social harmoniosa
(HALL, 2016)

A cidade vista como caótica, nascida de um crescimento


demasiado rápido e de mistura de nacionalidadas seira
posta em ordem mediante a abertura de novos
logradouros, a remoção de cortiços e ampliação dos
parques. (HALL, 2016)
"Em nossas escapadas, continuamos indo ao Cairo, Atenas, Paris e
Viena, porque a vida aqui de casa não é tão agradável como nesses
centrs em voga. E assim prossegue, constante, a drenagem dos
recursos para fora da cidade. [..] Qual teria sido o efeito sobre nossa
prosperidade se a cidade fosse tão prazerosa que a maioria dos
homens financeiramente independentes tivessem que vir a Chicago
para gozar a vida? Não deveríamos, sem demora, fazer algo
apropriado para embelezarmos e tornarmos nossa cidade atraente
para nós mesmos e, em especial, para esses desejáveis visitantes?"
(BURNHAM)
Eles esperavam tornar Washington monumental e
verde como as capitais europeias da época; eles
acreditavam que o embelezamento organizado
pelo estado poderia emprestar legitimidade ao A essência do plano cercava o Capitólio dos
Estados Unidos com edifícios governamentais
governo durante uma época de perturbação monumentais para substituir "comunidades
social nos Estados Unidos. faveladas notórias".

Oferecia, em sua essência, um tom poético e


romântico a respeito da descrição de seu projeto.
(HALL, 2016)
O edifício do Capitólio dos Estados Unidos ancorou a extremidade leste do eixo leste-oeste, e a Casa
Branca, a extremidade norte do eixo norte-sul. No centro estava o Monumento a Washington.
Programa do Projeto: recuperação e criação de um passeio em frente ao Passeio do Lago,
largas avenidas originadas em um grande centro cívico e implantação de grandes edificios
publicos ao longo do parque. (HALL, 2016)

"Nenhuma estrutura no mundo teria cenário mais nobre"(Burnham).

lincon Memorial (década de 1920) Museu Nacional de História Natural


Galeria Nacional de Artes (década de (década de 1910)
1930)
Claramente, a proposta de Burnham foi criticada
principalmente por estudiosos de vertente esquerdista e
marxista, que o denominavam como coesmético
municipal, já que o projeto não abordava aspectos
habitacionais, de saude e educação.

de maneira sutil, poder-se-ia chamar esse plano como


centrista: baseava-se num centro cívico e comercial, sem
levar em conta qualquer previsão de expansão comercial
para o resto da cidade
O sucesso da filosofia City Beautiful em
Washington, DC, é creditado por influenciar os
planos subsequentes de embelezamento de
muitas outras cidades americanas (Baltimore,
Cleveland, Denver, Detroit)

Para além dos Estados Unidos, o movimento


volta para a Europa e também passa a ser
praticado em processos de colonização, como é o
caso do Raj Britânico, pela necessidade da
criação rápida de novas capitais.

parque cívico de Denver


O sucesso da filosofia City Beautiful em
Washington, DC, é creditado por influenciar os
planos subsequentes de embelezamento de
muitas outras cidades americanas (Baltimore,
Cleveland, Denver, Detroit)

Para além dos Estados Unidos, o movimento


volta para a Europa e também passa a ser
praticado em processos de colonização, como é o
caso do Raj Britânico, pela necessidade da
criação rápida de novas capitais.

parque Cleveland Mall


referências
SIMÕES JUNIOR, GERALDO SIMÕES. A EXPOSIÇÃO COLOMBIANA DE CHICAGO DE 1893 E O ADVENTO DO URBANISMO
NORTE-AMERICANO. XIV ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR Maio de 2011. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

BONAMETTI, João. Henrique. A paisagem urbana como produto do poder. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian
Journal of Urban Management), v. 2, n. 2, p. 259-273, jul./dez. 2010.

NOLASCO, C.; FREITAS, R.; BATISTA, T. O planejamento urbano e a consagração da rua. Cenas Urbanas. Janeiro/Junho. 2007

ISRAEL, Haniel; GIANELLA, Isabela; FRANÇA, André e CALDANA, Valter. A relação dialógica entre a Rua e a Cidade: panorama
histórico no desenho urbano. In: RUA [online]. Volume 27, número 2 – Ahead of print – e-ISSN 2179-9911 – novembro/2021.

HALL, Peter. Cidades do Amanhã. São Paulo: Perspectiva. 2016.

ABIKO, A.; ALMEIDA, M. A. P.; M. A. F. BARREIRA. ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL URBANISMO: HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO. 1995.

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