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A Expansão Urbana de Barcelona no século XIX com o Plano de Cerdà

Beatriz Vieira dos Santos


Isadora Souza Medeiros
Thaiz Amorim Tomaz

A cidade cosmopolita de Barcelona é referência em urbanismo, arte e arquitetura.


Segundo Zaida (2010), a cidade foi fundada por volta do ano 10 a.C. e é delimitada por dois
rios, sendo eles, o Besòs, a Nnordeste, e o Llobregat, a Ooeste, e pelo Mediterrâneo, a
Lleste e a serra da Collserola, a Nnoroeste. Além disso, possui a forma de um quadrado
de 10 km por 10 km tendo, portanto, uma área de 102,2 km 2. Segundo a autora, em
2009, a cidade tinha uma população de 1,6 milhões de habitantes, sendo, portanto, uma
cidade extremamente adensada.
Ainda segundo Zaida (2010), até meados do século XIX, a cidade havia crescido
dentro de um recinto medieval. Foi somente em 1859 que as muralhas foram demolidas
e os povoados extramuros foram anexados à cidade, a partir do plano de Cerdá. O
centro histórico de Barcelona apresenta características morfológicas especiais, com ruas
muito estreitas e fachadas altas, além das intersecções cobertas com abóbadas, gerando
um lote aéreo.
Budnak et al (2014), explicitam ainda que no final do século XIX, ou seja, auge da
revolução industrial, as cidades ainda viviam uma urbe medieval, cercada por muralhas
e em expansão industrial, assim como a cidade de Barcelona. As zonas externas das
muralhas eram áreas de uso exclusivamente agrícolas, tornando necessário criar
caminhos que interligassem essas áreas à cidade, e também, criar ao longo dessas vias,
zonas de permanência, com jardins e praças. Nesste cenário, ocorre a primeira mudança
decorrente dessa revolução industrial, dando início ao processo de verticalização e
densificação dessa cidade. A segunda mudança ocorreu com o engenheiro Cerdà.
Ildefons Cerdà, segundoo SAENZ RODRUEJO (1972), nasceu em Centelles, em
23 de dezembro de 1815 e se mudou para Madri para estudar Engenharia Civil,
terminando os estudos no ano de 1841.

Em 1849, dedica-se a partir de então à administração do patrimônio da


família e àá especulação sobre as condições de vida urbana. Liberal,
intervém na política a partir da revolução de 1854, tornando-se vice
presidente do Conselho Provincial de Barcelona. É oficialmente
encarregado de fazer o plano topográfico da planície que circunda a
cidade e faz um levantamento minucioso sobre a classe operária de
Barcelona, passando a projetar a expansão da cidade a partir dos dados
assim obtidos. (SAENZ RODRUEJO, F., 1972, pg. 387)

Cerdàá possui duas questões urbanísticas centrais: a organização da expansão e a


utilização das quadras e quarteirões, unindo os conceitos de habitação e circulação,
dentro de um único plano (LAMASLamas, 1995). Logo, possuía o objetivo, não só de
expandir a área, mas de também, promover a mobilidade urbana e a qualidade dos
usuários da cidade, além de integrar a Barcelona Medieval e a Industrial, que
coexistiam durante o século 19. Uma vez queDessa forma,, Cerdàá procurou manter os
traçados existentes da cidade e incorporá-los ao seu projeto, como é o caso da rua Paseo
de Gracia, que unia a Barcelona medieval ao atual Bairro de Gracia  (MUXI, 2010).
Nota-se, portanto, a tentativa da preservação dos costumes medievais e a criação de um
sistema que equilibre essa distribuição de parques, indústrias, estabelecimentos
comerciais e residências (BUDNAK, Angélica Samsel e col .2014).
O Plano Ensanche, de 1859, consiste em criar um sistema de grelhas ortogonais, cada
uma com 113 metros de lado, com um chanfro e ruas de 20 metros, de forma que, se unir às
nove quadras abertas e àas suas respectivas vias, formaria um grande quadrado de 400 metros
de lado (LAMASLamas, 1995). “A quadrícula é suporte geométrico para um jogo
combinatório de composição urbana” (LAMASLamas, 1995). Cada conjunto de 9 quadras
possui seu próprio centro cívico, com igreja e aparelhos públicos e praças. Contudo, essas
construções não poderiam exceder dois terços da superfície dos quarteirões, o que criava
espaços arborizados e espaços públicos dentro das próprias quadras, dinamizando as formas
construtivas dentro das quadras, assim como a circulação dos pedestres, além de promover luz
e ventilação para as edificações. Isso O que evidenciava os desejos de Cerdà,á principalmente
de criar uma cidade homogênea, moderna e sem hierarquia ou zonas de privilégios, propondo
a quebra do pensamento clássico-barroco de composição urbana (MUXI, 2010).
As vias do Plano Ensanche possuííam 20 metros (calçadas de 5 metros em cada lado
mais 10 metros para circulação veicular), pois Cerdàá acreditava que uma rua dteve que servir
quatro carroças ao mesmo tempo e deve fornecer espaços generosos para pedestres, além de
uma boa arborização , além de oferecerem a chance de adaptação do trem a vapor, como meio
de transporte, devido a largura proposta (URBANO,rbano, Judith. 2016). Contudo, algumas
avenidas eram mais largas, poisrque conectavamam zonas importantes e forneciaem conexões
pela cidade, o que gerava um sistema de hierarquia viária ((BUDNAK, 2014). BUDNAK,
Angélica Samsel e col.2014). Ele propunha a existência de 3 vias arteriais maiores, que
interligam a nova expansão e a cidade medieval, as vias estariam dispostas em
diagonaldiagonal, sobrepondo o desenho das quadrículas e criando praças, largos e
quarteirões irregulares. Essas 3 vias se encontrariam em praças, propondo um novo centro
urbano que se formaria em Barcelona (LAMASLamas, 1995).

 “A Av. Meridiana, saída para a Av. França; a Av. Diagonal, que liga
a estrada de Madrid ao mar; e uma via territorial próxima, a Avenida Gran
Vía de les Corts Catalanes, paralela ao mar e que conecta com os pequenos
povoados marítimos da planície". (MUXI, Zaida, 2014, p. 106). 

Esses 3 eixos se estenderam para a cidade antiga, com o intuito de promover aberturas
higiênicas e saneamento àa cidade, esses eixos se perpetuam no traçado atual de Barcelona
(BUDNAK, 2014). (BUDNAK, Angélica Samsel e col.2014). 
A cidade de La Plata, localizada na Argentina, desenvolvida pelo Departamento de
Engenheiros da província e aprovada para construção em abril de 1882, foi planejada para ser
a nova capital, trazendo em seu traçado a regularidade, a linearidade, a busca da harmonia dos
espaços e sua integração ao porto de Ensenada (ARRUDAArruda, 2012), possuindo traços em
conformidade com o traçado da cidade de Barcelona de Cerdà, como visto no trecho abaixo.

“No plano da cidade de La Plata, adotou-se o quadrado como forma de se


organizar o centro urbano da capital. O quadrado perfeito está definido por
um extenso boulevard de cem metros de largura que circunda todo o centro
urbano, o qual está formado por uma rede de ruas e avenidas em retícula. As
ruas possuem 18 metros de largura; as avenidas, 30. A área total do centro é
composta por 36 seções urbanas, cada qual com 36 quarteirões. Tanto na
direção nordeste a sudoeste como na direção noroeste a sudeste, a cada sete
quarteirões, no máximo, existe uma avenida. A retícula, portanto, está
definida pela trama de ruas e avenidas que se cruzam ortogonalmente, mas
com diferenciações hierárquicas privilegiando as avenidas que, mais largas,
permitem efeitos estéticos e funcionais em maior escala.” (ARRUDA, R. P.
pg., 103, 2012)

Ildefonso Cerdàá, buscou antecipar e solucionar as problemáticas consequentes da


Revolução Industrial e do aumento populacional nas cidades, criando um planejamento
urbano de expansão, que além de organizar e ampliar a cidade, visava melhorar a qualidade de
vida dos moradores. O plano, além de contribuir como referência para planejamento
urbanístico de outras cidades, trouxe boas consequências para Barcelona, como
acessibilidade, mobilidade, ruas largas e arborizadas, hierarquia viária, dentre outras.
Entretanto, nem todos os planos de Ildefonso Cerdàá foram executados e alguns se
perderam com tempo, exemplo disso, é a ocupação das quadras, Cerdà,á em sua ideia original,
rompe a ideia da ocupação de todo perímetro dos quarteirões e dá a liberdade de que as áreas
construídas assumam diferentes configurações, deixando pelo menos um lado da quadra
aberto., Pporém, com a pressão do mercado imobiliário, houve ocupação plena do perímetro
da maioria das quadras.

"As propostas de Cerdà eram demasiado avançadas ou demasiado anti


especulativas. Permaneceu o traçado viário principal, enquanto as quadras
iriam ser ocupadas na periferia e no logradouro, seguindo no sentido do
quarteirão tradicional" (LAMAS, 1993, p. 221).

Embora o desejo de uma cidade homogênea e que apresentasse um caráter


comunitário nos quarteirões não tenha se efetivado totalmente, apesar da monumentalidade,
os equipamentos mais nobres não necessariamente criam zonas de privilégio na cidade, como
é o caso da Sagrada Família, que é inserida em uma quadrícula, com praças nas quadras à
frente e atrás, mas que mantém o traçado urbano proposto. Outro ponto que ajudaria a reforçar
esse ideal da cidade sem hierarquias, é que a cada conjunto de 9 quadras haveria a formação
de um pequeno centro, devido aos edifícios e espaços públicos dispostos, porém, também não
foi implantado.

REFERÊNCIAS

ARRUDA. R., P. Belo Horizonte e La Plata: Cidades-Capitais da Modernidade Latino-


Americana No Final do Século XIX. Revista de História Comparada, Rio de Janeiro, 6-
1: 85-123, 2012)

BUDNAK, Angélica Samsel e col. Barcelona/ES: Êxito no Planejamento Urbano. Anais


do 12ºo Encontro Científico Cultural Interinstituciona, 2014.

LAMAS, José Manuel Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. sl:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

MUXI, Zaida. Episódios da transformação urbana de Barcelona. Revista Arqtexto.


Porto Alegre, v. 17, p. 104-123, 2010.

SAENZ RODRUEJO, F. Saenz. Yldefonso Cerda Y La Evolucion Urbana de Barcelona.


Revista de Obras Púublicas. p. 385-392, 1972.

Urbano, Judith (2016). "The Cerdà Plan for the Expansion of Barcelona: A Model for
Modern City Planning," Focus: Vol. 12: Iss. 1, Article 13, 2016..

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