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O período compreendido entre as duas guerras mundiais (1918-1939) foi significativo no desenvolvimento
arquitetónico. Este foi um momento marcado pelo déficit habitacional e pela reconstrução urbana.
Neste sentido, foram requisitados projetos de conjuntos habitacionais de bairros, legislação urbanística e de cidades
que através do uso de pesquisas e inovações tecnológicas permitiria revolucionar as soluções correntes para a
organização do espaço.
Em 1933, vem a ser criada a Carta de Atenas, que proponha a imagem de uma cidade que funcionasse
adequadamente para o conjunto da sua população.
Introdução à Carta:
o 1933
o Arquitetos e urbanistas internacionais do século XX – Le Corbusier
o Congresso de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, em Atenas
Linhas de orientação sobre o exercício e o papel do urbanismo dentro da sociedade
Pesquisa da situação das cidades (debilidades e problemas)
Rápido crescimento demográfico
Mudança e expansão dos transportes
Congestionamento
Aumento da circulação
Diminuição das áreas verdes
o 33 cidades analisadas
o Soluções (equilíbrio entre várias funções da cidade)
Na Carta de Atenas, foi relatado que a cidade não era apenas uma parte de um conjunto económico, social e político
de uma região, mas a ela estava ligado também um papel de ordem psicológico e fisiológico, o que introduzia
preocupações individuais e coletivas (com atenção a diversos fatores: topografia, o clima, os recursos económicos e
naturais, o sistema administrativo e outros aspetos históricos – defesa, progressão da comunicação e dos
transportes), o que leva a acreditar que o desenvolvimento urbano está sujeito a constantes mudanças.
A cidade é um organismo funcional onde as necessidades do homem deviam ser alcançadas, onde a faixa
urbana é das pessoas e pensada nelas
A revolução industrial causou diversos distúrbios no comportamento do homem, na sua distribuição e nos seus
empreendimentos, o que provocou um desenvolvimento sem precedentes.
5 funções:
o Habitação
o Trabalho
o Diversão/lazer bem-estar + beleza + harmonia
o Circulação
o Património histórico das cidades
A cidade e a sua região
o Habitação
A cidade estava caracterizada por um desenvolvimento sem planeamento,
desordenado, sem ter em conta as necessidades, a qualidade de vida (áreas verdes e
zonas industriais), o rendimento (com os bairros mais pobres, nas piores partes).
Exigiu-se:
Bairros residenciais devem ocupar as melhores localizações, aproveitando a
topografia, o clima, a luz solar e as áreas verdes adequadas
Horas mínimas de insolação
Proibição do alinhamento das habitações (senão quebra-se o sol e as vias de comun)
Prédios mais altos distanciados (maior número de pessoas / maior área verde)
o Trabalho
O local de trabalho não se encontra localizado racionalmente (centrando-se em
bairros de negócios em lugares privilegiados, não possibilitando a ligação com a
família, provocando congestionamento e a especulação dos terrenos, com a
instalação de fábricas desordenada
Exigiu-se
Harmonia entre o local de trabalho e os bairros residências (curta distância)
Setor industrial deve estar inteiramente dividido do residencial (poluição e ruído)
Assegurado de boas vias de comunicação
o Lazer
As áreas de lazer são insuficientes e de reduzida dimensão, o que faz com que sejam
pouco utilizadas
Exigiu-se
Áreas verdes que possibilitem o desenvolvimento de jogos e desportos
Edifícios salubres desmantelados para dar lugar a áreas verdes
Parques infantis, centros de jovens, escolas e todos dedicados ao uso público
Passeios pedestres (passeios e animais)
As construções dos parques devem ter em conta os bosques, campos, lagos, colinas
o Circulação
As vias urbanas remontam a um passado antiquado, concebido para carruagens
(longe do que é necessário hoje). Ademais, o urbanismo adaptou-se às vias
ferroviárias
Exigiu-se
Deve-se ter em conta a circulação (para saber de que forma desenvolver)
Vias de circulação devem ser construídas tendo em conta a sua função (tamanho
dos veículos e a velocidade)
Separação das vias entre peões e viaturas
Devem existir vias dedicadas a um destino específico (habitação, passeio, trânsito)
o Património Histórico das Cidades
Deve existir a preservação da obra histórica e artística do passado, permitindo o seu
uso como memória e não imóvel. A sua área ao redor deve ser protegida, com a
destruição das áreas insalubres e criação de zonas verdes
A Carta em Portugal
Em termos arquitetónicos, durante os anos 30, Portugal ficou marcado por dois marcos: a Exposição do Mundo
Português e pela nova Igreja para o Patriarcado de Lisboa (Nossa Senhora de Fátima), construída para substituir a de
São Julião (destruída para dar lugar ao Banco de Portugal).
A Igreja de Nossa Senhora de Fátima, construída por Porfírio Pardal Monteiro, foi a primeira a desafiar os códigos
tradicionalistas e revivalistas, baseando-se nos modernos projetos franceses (Igrejas de Raincy e Montmagny),
assumindo o betão.
Para alguns, esta igreja marcava a entrada de uma nova era em Portugal, enquanto outros discordavam e viam isto
como o avanço do comunismo internacional.
O modernismo em Portugal começa durante o golpe militar de 28 de maio de 1928, e mesmo perante um novo
regime, as novas formas de expressão e produção desenvolviam-se devido a vários fatores:
O atraso das infraestruturas e das obras públicas (o que favoreceu o uso de novos materiais de construção e
o racionalismo da arquitetura internacional)
A falta de uma expressão político-cultural própria do regime (o que permitiu abrir novas portas aos novos
arquitetos e à eficácia funcionalista da sua produção)
Neste sentido, os modernistas da primeira geração afirmaram-se, sendo alvo de diversas críticas pelo
conservadorismo/tradicionalismo cultural (que defendia uma arquitetura nacional).
Porfírio Pardal Monteiro foi uma personalidade marcante da arquitetura modernista dos anos 20 e 30 (sendo o que
tem mais obras públicas projetou e realizou). Durante a sua carreira, ocupou vários cargos públicos e honoríficos,
sendo visto como um homem de ação, energético e racional movido pela vontade de construir e noção de serviço
público.
Apesar de alguns virem Pardal Monteiro como um homem do regime, este nunca se filiou ao partido ou à ideologia
mesmo sendo menos atreito à especulação criativa. A relação deste com o Estado era mais uma relação de simbiose
(aproveitava o que de melhor o outro tinha sem que houvesse necessariamente uma cedência de valores), já que
Pardal desejava “servir a Nação” e engrandecer e valorizar Lisboa, e não o Estado. Fez parte do grupo de pioneiros
introdutores do modernismo, sendo dos que menos cedeu às tentações do nacionalismo arquitetónico.
Em termos arquitetónicos, Pardal Monteiro alicerça os seus projetos numa justificação construtiva e funcional,
baseando.se em pressupostos de solidez, qualidade e eficácia (com uma evolução formal às correntes
internacionais). Toda a sua produção ficou marcada pela monumentalidade, onde se evidencia a mescla do
conhecimento, da tecnologia de construção.
Das suas várias obras, hoje afirma-se principalmente pela Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa.
Quando foi erguida, o Cardeal Patriarca de Lisboa queria que esta satisfazesse três condições: fosse uma igreja, uma
igreja moderna e uma igreja moderna bela, sendo a primeira conceção moderna construída em Portugal.
Para o Papa Pio XII, a arte não necessitava de uma missão ética ou religiosa, no sentido em que parte do espírito
humano e, ao respeitá-lo, é uma obra de Deus. Assim, em França, e depois em Portugal, apareceram as primeiras
corporações de artistas católicos, onde subordinavam o seu trabalho à liturgia (artistas da geração do Resgate).
A Igreja aceitava a arte moderna e apenas receava a arte deformadora e ofensiva à doutrina e ao senso religioso (ou
seja, aqueles que ridicularizavam a religião e a dignidade de culto). Assim, a Igreja não tinha uma política de arte e
aceitava as Belas Artes. Admitia-se a arte moderna enquanto esta colaborasse na interpretação da sensibilidade
pastoral e cultural, como método mais eficiente para influenciar as massas que pretende santificar.
Relativamente à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, o Cardeal Cerejeira afirmou que a igreja só podia ser moderna
porque todas as igrejas forma construídas aos olhares do moderno da época. A Igreja apenas devia traduzir o seu
carácter sacro e a finalidade cultural.
Desta forma, a Igreja de Nossa Senhora de Fátima desafiou os códigos tradicionais revivalistas, baseando-se nos mais
recentes projetos franceses, adotando-se no exterior uma linguagem modernizada, aproximando Portugal das outras
nações europeias.
Pardal Monteiro, com a construção da Igreja, afirmou que esta tinha sido a sua obra mais difícil, não pela sua
complexidade, mas precisamente pela sua simplicidade e pela abundância de exemplos acumulados de há cerca de
dois mil anos para cá.
Após a adquirição da Igreja de São Julião foi criada a Comissão Progresso de Portugal (para a criação de uma nova
igreja) que responderia a uma nova freguesia (provocada pelo maior culto católico).
Em janeiro de 1934, anunciava-se o projeto de Pardal Monteiro, com a colaboração de Don Bellot (arquiteto francês)
e Don Martin (abade de Mont Cesar, conhecida pelo seu papel na renovação litúrgica).
Tendo em conta a localização, foi escolhido um local que reunisse as condições necessárias para se contruir uma
igreja, sendo colocada com a orientação a Nascente (para que fosse possível vê-la como fundo de perspetiva da
Avenida Elias Garcia.
Ao analisar o projeto da igreja, é possível evidenciar no exterior diversas semelhanças com outras igrejas
portuguesas e francesas, ao contrário do que se vê no interior onde se evidencia um ambiente místico e íntimo, pela
separação entre o espaço central e as naves laterais (enquanto o arquiteto francês adota uma espacialidade
contínua e uma luminosidade aberta). Pardal Monteiro utiliza também diversos revestimentos – mosaicos e
mármores – ao contrário do arquiteto francês que tira partido do plástico do betão à vista.
Para além da sua expressão plástica, esta é tipicamente moderna pelo seu programa, na medida em que traduziu as
exigências da ordem litúrgica para cada elemento de que se compõe uma igreja.
Para além de Pardal Monteiro, trabalharam aqui também: António Costa (imagem de Nossa Senhora, no exterior);
Francisco Franco (o Apostolário); Leopoldo de Almeida (imagem de São João Batista); Henrique Franco (frescos da
Via-Sacra); Lino António (frescos do arco-triunfal) e Almada Negreiros, que desejou os grandes vitrais, executados
por Ricardo Leone.
Jornal Novidades - A igreja foi vista como um marco, abrindo as portas de Lisboa para uma escola de vida e
solidariedade cristãs. Primeiro exemplo modernista em Portugal foi vista como um ponto de partida para uma nova
época (de renascimento espiritual), provada da competência dos técnicos portugueses.
A igreja veio transformar não só o panorama artístico como litúrgico, sendo a primeira a apresentar uma estrutura
moderna no exterior, correspondendo a todas as prescrições litúrgicas, no interior. Serve como a afirmação da arte,
da beleza e da harmonia. Dos séculos anteriores, muitos monumentos foram recebidos, conhecidos pela rara
imponência e grandeza, mas nem todos correspondiam às exigências da liturgia católica.
A Igreja é digna de admiração e de respeito, pelo valor que revela e pela consciência e atenção especial que pôs ao
serviço de um problema tão difícil de solucionar.
Tomás Ribeiro Colaço – acredita que a igreja não é bonita, pela falta do seu portuguesismo (sendo vista como algo
anti-português), acreditando que nunca mais deve ser repetida.
Arnaldo Ressano Garcia – a arte tem sido e deve ser sempre nacional, impedindo o devastamento do
internacionalismo comunismo – o internacionalismo repudia o Estado, logo não se deve dar-lhe apoio ou
acolhimento. O modernismo é um movimento liderado por revolucionários sociais, sem ideal, sem Deus e sem
moral.
O Patriarca de Lisboa responde aos tradicionalistas que os que criticam a igreja são aqueles que não a frequentam; à
falta de portuguesismo, afirma que esses ficaram nas igrejas que eles conheceram em criança e que o que é
entregue a Deus, é cristão.
Quanto ao valor de bem da Igreja e obra arquitetónica: Por um lado, afirmou sempre o carácter sacro, litúrgico e
cultural do novo templo, por outro não pressionou os artistas, que livremente trabalharam na sua conceção. Na sua
perspetiva, a arte moderna teria de ser capaz de exprimir e interpretar a sensibilidade cristã dos tempos atuais, ser
uma arte sacra autêntica, porque a Igreja, sendo uma realidade divina, também é uma presença entre os homens,
em cuja evolução e sensibilidade se incarna e renova.
Conclusão
Do estuda da Igreja, pode-se afirmar que esta provocou uma verdadeira controvérsia em redor da consagração
oficial daquilo que os tradicionalistas designavam genericamente de arte moderna.
A igreja católica defendeu a arte moderna porque a própria identifica aquela obra como a renovação cristã e
nacional, o que para os tradicionais era um golpe decisivo.
Sendo uma construção moderna de arte religiosa em Portugal, causou acesa discussão na sociedade portuguesa,
principalmente porque se vivia uma era de afirmação nacionalista.
A Igreja Católica, na pessoa do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, respondeu de uma forma
determinante, procurando conciliar a arte e a fé.
Sem dúvida, esta igreja marcou uma época de verdadeira monumentalidade e de procura de valores estéticos
aliados à função litúrgica.