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TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA

E URBANISMO II
Terça-feira

Aula 05

Cidades de colonização portuguesa X cidades de


colonização espanhola.

Disciplina: TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO II


2º termo – 1º ano e 6º termo – 3º ano
Profa. Ma. Ananda Soares Rosa
A CIDADE
COLONIAL

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


A CIDADE COLONIAL

• Entre os séculos XV e XVI


tiveram início a Era das Navegações
e a consequente expansão mundial da
civilização europeia, impulsionada
pelo Mercantilismo e pela
posterior descoberta de metais
preciosos nas colônias além-
mar.

• Portugal, Espanha, Inglaterra,


França e Holanda tornaram-se
grandes potências marítimas e
partiram para o domínio do Novo
Mundo.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


• As Cidades Coloniais
constituíam-se nas realizações
urbanísticas mais importantes
do século XVI, já que
demonstraram serem – embora
pobres se comparadas aos
requintes e ambições da
cultura artística europeia
– as concretizações dos ideais
estéticos almejados pelos
mestres europeus da
Renascença (BENÉVOLO,
1981).

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


• Primeiras cidades portuguesas X cidades espanholas na América: diferentes
administrações políticas usam formas espaciais diversas.

• Estudos: estimular sua reflexão sobre como diferentes visões do processo


administrativo colonial foram capazes de se refletir na forma dos
territórios no Novo Mundo.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


A CIDADE DE
COLONIZAÇÃO
ESPANHOLA

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


As cidades de colonização espanhola

• As cidades fundadas pelos espanhóis no Novo


Mundo baseavam-se na Lei das Índias – leis de
urbanismo (decretos, alvarás e medidas reais) –
ditadas para as Províncias hispano-
americanas.

• As leis das Índias correspondem a todo o corpo


legislativo emitido pelos espanhóis em
relação aos territórios coloniais americanos.
Eles pretendiam estabelecer uma regulamentação
de todas as esferas sociais, econômicas e
políticas da América dominadas pela Coroa
Espanhola.

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• Criadas para determinar o traçado das cidades fundadas pelos
espanhóis na ocasião da conquista das Américas, as Leis das Índias não se
limitam à concepção formal, mas também a elaborar o zoneamento e uso do solo
visando equilibrar a relação campo-cidade.

• A cidade assume o papel de “centro” funcional e operacional.

• As Leis das Índias davam indicações precisas sobre a localização das


cidades a serem fundadas.

• Aspirava o ideal da regularidade geométrica, expresso por um tabuleiro de


ruas retilíneas que definiam uma série de quarteirões iguais, geralmente
quadrados; tal modelo (traza) apresentava a facilidade de implantação
e o atendimento às exigências primárias de produção.

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• Elas consideravam dominação e
controle racional do território subtraído
das civilizações pré-
colombianas. Isso porque estas
tinham como caraterística
elevado grau de militarização
e organização administrativa, seja no
México, Peru, Chile, ou
Bolívia, para exploração das
riquezas minerais, para isso
também organizaram a
distribuição espacial das
cidades de forma hipodámica, tal
como o castrum romano.

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• Bom, quando chegaram, os espanhóis encontraram territórios
constituídos pelos planaltos da América Central e Meridional, com
Impérios Indígenas muito ricos e desenvolvidos, porém incapazes de
resistir à colonização europeia.

• Vislumbram vastas terras virgens, palco propício para as realizações


urbanísticas utópicas do Renascimento europeu – possibilidade real de
concretização de modelos e planos de cidades ideais quinhentistas.

• Pode-se dizer que o conjunto das realizações urbanísticas nos


territórios conquistados eram superiores em qualidade do que as
existentes no continente europeu.

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• Eram estas as principais designações normativas para a fundação
das novas cidades espanholas na América:

a) Estabelecimento de uma retícula regular de quarteirões iguais, em cujo centro deveria se


dispor uma grande praça aberta (plaza mayor), central e de forma oblonga, com o
comprimento igual a uma vez e meia a sua largura (festividades);

b) O tamanho da praça deveria ser proporcional ao número de habitantes, sem esquecer seu
possível crescimento (estimava-se de 200 a 500 pés de largura por 300 a 800 pés
de comprimento, sendo o tamanho ideal igual a 400 x 600 pés);

c) A praça seria acessada por quatro ruas, voltadas aos quatro pontos cardeais e cada uma
disposta a partir do ponto médio de cada lado. Sua largura seria definida
conforme o clima (se quente, larga; se frio, estreita);

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d) Na praça deveriam ser dispostos os edifícios mais importantes: a Igreja, o paço
municipal (cabildo) e as casas dos mercadores e dos colonos mais ricos. No caso da
necessidade de conversão dos nativos ao Cristianismo, a Igreja deveria ser
antecedida por um grande pátio (adro) e ao lado da fachada estabelecida uma capela
aberta (capilla de indios);

e) Reservados os principais lotes edificáveis ao redor da praça central, os demais


seriam distribuídos ao acaso para aqueles colonos com condições de ali se
estabelecerem. Já os lotes não-atribuídos seriam destinados a futuros colonos.

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• A colonização da América
pelos espanhóis teve
como ponto de apoio às
minas de ouro e
principalmente de prata,
no México e no Peru,
onde se encontravam as
riquíssimas minas de
prata de Potosí (atual
Bolívia).

Potosi [Biblioteca John Carter


Brown Library, Brown University]

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• A primeira cidade americana
traçada com rigor e concepção
geométrica é São Domingos, fundada
em 1496, na atual República
Dominicana.

• Na segunda década do século XVI,


os espanhóis implantaram as
cidades de La Habana, Guatemala,
Campeche e Panamá. Estes povoados
seguem as mesmas regras: planos
simples e práticos, que se adaptavam à
topografia local.

Planta de Havana, Juan Síscara,


1691

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À esquerda, mapa de 1582 de Tentenango, Vila indígena no México. À direita, Cidade do Panamá, plano do século 17
[GUTIERREZ, Ramón. Arquitectura y urbanismo en Iberoamerica. Madrid, Arte Cátedra, 1992]
À esquerda, traçado de Luiz Díez Navarro para Nova Guatemala, 1776. À direita, plano de Cusco na época da conquista
espanhola [GUTIERREZ, Ramón. Arquitectura y urbanismo en Iberoamerica. Madrid, Arte Cátedra, 1992]
Mapa colonial de Guatemala [University of Wisconsin]
Planta da Cidade de Lima, Peru, século 18
Plano de Montevidéu, Uruguai, século 18
• Enquanto o traçado das ruas e praças da CIDADE COLONIAL ESPANHOLA era
grandioso, as suas edificações eram baixas e modestas.

• Com capacidade de expansão ilimitada, seu contorno externo era


quase sempre provisório, sem a necessidade de muros ou fossos
(somente as cidades costeiras seriam fortificadas para proteção de
piratas), além de não haver uma distinção muito clara entre campo e cidade.

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• Nesse momento, também, Franciscanos,
Beneditinos, Dominicanos e,
principalmente, Jesuítas (padres)
colaboraram na gradativa ampliação das
conquistas, na adaptação dos nativos à língua,
costumes, técnicas necessárias à criação
dos assentamentos urbanos.

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• Devemos destacar a
participação da Companhia
de Jesus como a mais
influente, já que por se
tratar de uma ordem
relativamente nova (fundada
em 1540) sentia-se livre
dos compromissos medievais
para se lançar no Novo
Mundo.

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A DEARQUITETURA
A COMPANHIA JESUS RELIGIOSA

• Foi fundada por Ignacio de Loyola


(espanhol);

• Foi reconhecida pelo Papa Paulo III em


1540;

• Sua primeira intervenção no Novo Mundo


data de 1549, tornando-se efetiva a
partir de 1605;
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• A experiência jesuítica: os jesuítas desenvolveram sua ação missionária na América,
com diferentes grupos nativos e em diferentes regiões, desde o norte do
México até o sul do Chile.

“Os jesuítas (...) haviam optado por um tipo de ação


evangelizadora que se denominava missão, ou seja, um avanço
sobre as zonas indígenas não catequizadas ou sobre centros urbanos
espanhóis, onde por um certo tempo se pregava e em seguida se
retornava ao colégio ou residência central” (Ramón Gutiérrez) Peru
1567.

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• A presençaAdosARQUITETURA RELIGIOSA
Jesuítas no Brasil: Foi Tomé de Sousa, Governador-
Geral da Colônia, quem trouxe os primeiros Jesuítas para o
Brasil.

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• Entre os séculos XVII e XVIII: Jesuítas criam missões espalhadas pela América do
Sul, com destaque para o trabalho com os Povos Guaranis, ao Sul (fronteiras
pouco definidas na região): cerca de 30 povos, dos quais, 7 no território
brasileiro (São Miguel, São Nicolau, Santo Ângelo, São Lourenço, São João Batista, São Luiz
Gonzaga e São Francisco de Borja).

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A ARQUITETURA RELIGIOSA
A ARQUITETURA RELIGIOSA
• Os Jesuítas espanhóis
haviam assim fundado
a imensa colônia
chamada de Sete
Povos das Missões, no
local onde hoje é o
Rio Grande do Sul.
Ocorre que a área
foi alvo de disputa
entre Portugal e
Espanha, o que
culminou no Tratado
de Madri em 1750.

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• O Tratado de Madrid foi um tratado entre os
reis João V de Portugal e Fernando VI de
Espanha para definir os limites entre as
respectivas colônias sul-americanas,
pondo fim assim às disputas.

• O objetivo do tratado era substituir o Tratado


de Tordesilhas, que já não era mais
respeitado na prática.

• O diploma consagrou o princípio do


direito privado romano do uti possidetis,
(quem possui de fato, deve possuir de
direito), delineando os contornos
aproximados do Brasil de hoje.

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MISSÕES JESUÍTICAS

• Missões/reduções:
tentativas bem-sucedidas
de concentrar diversas
aldeias e grupos
indígenas em uma rede de
unidades catequéticas
independentes.

• 2 jesuítas responsáveis
por até 6.000 índios em
uma redução autônoma, com
uma estrutura agrícola, pastoril
e administrativa.

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• Durante mais de 150 anos
os missionários jesuítas
conviveram com os
Guaranis, em diferentes regiões,
estruturando o sistema
reducional que em seu
apogeu foi constituído por
uma rede de trinta povoados,
articulados por estradas, portos e
ligações fluviais, entre estâncias de
gado, lavouras e ervais, chegando a
envolver cerca de 150 mil índios e a
457 jesuítas.

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A ARQUITETURA RELIGIOSA

• Essas missões serviam como refúgio das


progressões escravistas de
portugueses e espanhóis, que se
desenvolveu por 150 anos na região da
Bacia Platina (Rios Paraná e Uruguai).

• Foi um período denominado como “estado


teocrático dos jesuítas”, espalhado pelo que
hoje seriam territórios do Brasil,
Argentina, Uruguai, Paraguai e
Bolívia.

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• MS – Região do Itatim – atacados por paulistas, as missões foram
abandonadas.
• Gado abandonado – região da Vacaria.

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CARACTERÍSTICAS DAS MISSÕES

• Escolha do sítio:lugar
alto, terra fértil, água
acessível e bosque
próximo (proteção e
madeira);

• Plano (traçado): uniforme,


regular, mas com
variantes.

aldeamento no centro do Brasil

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A ARQUITETURA RELIGIOSA

• A diversidade de
contextos
geográficos, culturais
e econômicos impediu
que se criasse um
modelo urbano único
para todas as reduções
americanas.

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Tipologia urbana missioneira:

• A base para a organização espacial das cidades espanholas na América foi


estabelecida por sucessivas diretrizes denominadas Ordenações Reais.

• Originados no contexto colonial espanhol, os povoados missioneiros também


utilizaram as diretrizes administrativas e as referências urbanas vigentes
para estruturar uma tipologia peculiar, morfológica e funcional, que pode ser considerada
como uma variante da organização espacial espanhola adequada a um programa e a uma
situação política e administrativa própria.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


A ARQUITETURA RELIGIOSA

• 2 fases referentes à estrutura espacial interna:

– 1ª fase: povoações iniciais atendiam às orientações das Leis das índias.

– 2ª fase: missões adquirem autonomia compositiva e funcional em relação ao


traçado da cidade colonial espanhola, moldando características próprias.

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• Tipologia urbana missioneira: se organizava a partir de um traçado
viário estruturado por 2 ruas principais que se encontravam no
centro da praça, formando uma cruz, e por 2 conjuntos básicos
dispostos ao redor da praça central.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


• A implantação dos núcleos doutrinários jesuíticos dava-se, geralmente, de
frente a um grande espaço aberto - praça, para assim os fiéis admirarem a
construção das Igrejas – imponente a seus olhos.

• As missões estruturavam-se territorialmente dentro do espírito barroco, a


partir de um traçado viário em cruz, tendo como principal construção uma Igreja,
geralmente na cota mais alta do território, contendo o local de culto,
oficinas, claustros, depósitos e cemitério, ao fundo, a chamada quinta
dos padres, com pomar e horta; destaque ao campanário único em lado
oposto ao batistério.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


• A implantação dos núcleos doutrinários jesuíticos dava-se, geralmente, de
frente a um grande espaço aberto - praça, para assim os fiéis admirarem a
construção das Igrejas – imponente a seus olhos.

• As missões estruturavam-se territorialmente dentro do espírito barroco, a


partir de um traçado viário em cruz, tendo como principal construção uma Igreja,
geralmente na cota mais alta do território, contendo o local de culto,
oficinas, claustros, depósitos e cemitério, ao fundo, a chamada quinta
dos padres, com pomar e horta; destaque ao campanário único em lado
oposto ao batistério.

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• Nas outras três faces da praça, através de ruas perpendiculares e paralelas,
estruturavam-se grandes pavilhões avarandados, ortogonalmente distribuídos,
com as habitações coletivas utilizadas pelos guaranis, integrados por
blocos de edificações abertas, rodeadas de galerias, alpendradas,
interconectados, para permitir total circulação abrigada do sol ou chuva.

• Na praça realizavam-se atividades cívicas, religiosas, esportivas,


culturais e até militares – daí seu caráter estruturante da vida citadina
das missões.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


Edificações:

- Igreja (prédio monumental – central), localizado na praça de armas;


- Cemitério;
- Habitações alpendradas;
- Prefeitura;
- Hospital;
- Sala de música e Biblioteca;
- Colégio;
- Restaurante;
- Depósitos;
- Oficinas;
- Prisão;
As que
- Cabildo – reuniões do conselho de caciques; mais
- Hospedaria - tambo; variavam
- Casa dos órfãos e Casa das viúvas - cotiguaçú; o lugar

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


“As ruínas da Igreja de São Miguel são
tão importantes quanto as do Coliseu e
da Acrópole e o testemunho mais
imponente e bem conservado da
arquitetura jesuítica missioneira”.
Roberto Di Stefano, Consultor da
UNESCO.

REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO –


HOJE RIO GRANDE DO SUL NO SÉCULO
XVII
Ruínas de São Miguel Arcanjo, 1846, Demersay.
Plano de la Ciudad de
Resurección (Mendoza),
Argentina, 1562
Pueblo de San Juan que e
uno de los del Uruguay
que se intentan entregar
a Portugal, 1756
• Os crescentes desentendimentos dos
religiosos com o poder laico e com a
própria hierarquia da Igreja acabaram
por resultar na sua expulsão das
colônias americanas, não sem antes
ocorrerem revoltas sangrentas, como a
Guerra Guaranítica no sul do Brasil.

• Foram banidos do Brasil em 1759


através de um decreto do Marquês de
Pombal.
Profa. Ma. Ananda Soares Rosa
A ARQUITETURA RELIGIOSA

• O golpe derradeiro, que selou o fim do projeto missioneiro, foi a dissolução da


Companhia de Jesus em 1773 pelo documento Dominus ac redemptor do Papa
Clemente XIV, mas as reduções não foram imediatamente abandonadas.
Diversas continuaram funcionando até o início do século XIX, com seu
governo então dirigido por oficiais militares e um clero secular ou
membros de outras Ordens, como os franciscanos, mas a dispersão foi
inevitável, ocorrendo queda drástica na produção, motins, deserções em
massa, aprisionamento de índios, depredações dos edifícios e saque das
igrejas.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


A ARQUITETURA RELIGIOSA

“O caráter utópico proposto pela Companhia de Jesus, bem como a sua


localização entre os territórios disputados pelos Reinos de Espanha e
Portugal na América do Sul, foi motivo da reação das duas coroas movida
pelo Marquês de Pombal, celebrando o Tratado de Madri em 1750, gerando
a Guerra Guaranítica (1750-1756), a expulsão dos jesuítas de Portugal
(1756), da Espanha (1767) e da América (1767). E, assim, encerra-se uma
concepção espacial barroca, promovida por uma experiência religiosa,
expressa por um espaço urbano rigidamente estruturado para práticas
sociais, culturais e econômicas, que ecoam nessa região até os dias atuais.”

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


A CIDADE DE
COLONIZAÇÃO
PORTUGUESA

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


As cidades de colonização portuguesa

• Em relação ao Brasil, a ausência de riquezas minerais aparentes levou os


primeiros ocupantes a optarem por uma colonização de baixo investimento, voltada
exclusivamente à exploração de suas riquezas naturais mais evidentes.

• A Conquista Portuguesa era caracterizada pela mestiçagem como assimilação


cultural e a catequese como difusão da Igreja contra a ameaça de um avanço
herético.

• As cidades fundadas pelos portugueses no Brasil Colônia tinham como


referência a cidade medieval, com uma ordem orgânica, de conformação espraiada
sobre a topografia.

• Processo administrativo e disperso de ocupação.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


• De acordo com REIS FILHO (1968; 2004), a colonização portuguesa
limitou-se ao litoral, dada a sua preocupação em encontrar pontos
estratégicos de defesa territorial.

• Terminado o breve Ciclo do Pau-Brasil, foi o açúcar que impulsionou


o desenvolvimento das vilas litorâneas, cuja sociedade era pobre,
escravagista e de fixação rural. No interior, predominavam as áreas
agrícolas e de criação de gado.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


SALVADOR – PRIMEIRA CAPITAL BRASILEIRA

• Primeira capital planejada na Capitania de Todos os Santos – São Salvador


da Bahia de Todos os Santos.

• D. João II ordena ao Governador Tomé de Souza que façam “uma fortaleza e


povoação grande e forte e em lugar conveniente” seguindo “as traças e
amostras que levais” e “instruções orais”.

• Essa capital teria como característica a experiência defensiva.

• A conformação espacial da primeira capital, dividindo funções através do


relevo, superestimando a defesa, mas impondo restrições à circulação,
seria uma representação simbólica da submissão da “terra” aos interesses
da Coroa.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


• Referências para implantação baseadas em Lisboa,

• A cidade tinha quadras regulares mas não era uma quadrícula,

• Projetada pelo mestre de obras português Luís Dias,

• Desnível de quase 60 metros em relação ao mar,

• Cidade possuía muralhas e portas de entrada,

• Salvador chegou a ter 06 planos inclinados (século XVIII), que ligavam


cidade alta à cidade baixa (porto),

• A cidade baixa só é ocupada posteriormente (construção dos fortes).

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


Salvador planta perspectivada do século XVII
Salvador planta perspectivada
do século XVII.
Notar muralhas e um dos
acessos à cidade.
Salvador planta perspectivada do
século XVII.
O primeiro plano inclinado, chamado
de “Guindaste dos Padres”, criado em
1610 pelos Jesuítas.
Salvador, a primeira cidade brasileira, em 1624, durante um ataque holandês. A capital do Brasil foi também cobiçada por ingleses e franceses. Os holandeses a
ocuparam por cerca de um ano, até serem expulsos. Depois invadiram Pernambuco, mas foram finalmente expulsos do Brasil, em 1654, após várias batalhas e
diplomacia.
Salvador em pintura antiga
Salvador em foto de 1933
Concepção artística de Lisboa antes do terremoto do século XVIII.
Lisboa antes do terremoto do século XVIII, Museu dos
Azulejos (Lisboa).
• No século XVII, a fundação de cidades ganhou maior impulso. De
modo distinto que o espanhol, as CIDADES COLONIAIS PORTUGUESAS
caracterizavam-se por:

a) Localizarem-se em sítios elevados e apresentarem um traçado irregular de inspiração


tardo-renascentista, que se desenvolvia funcional e organicamente em relação aos
acidentes topográficos, sem seguir leis de ordenação territorial;

b) Terem um esquema urbano uniforme baseado em lotes retangulares, com cerca de 10 m de


frente e longo comprimento (30-50 m), cujas vias (sem calçada ou passeio
para pedestres) eram definidas espacialmente pelas edificações;

c) Exporem uma aparência compacta e homogênea de fachadas com casas e sobrados


construídos sobre o alinhamento das vias públicas, e os limites laterais do
terreno, seguindo a tradição portuguesa;

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


d) Seguirem um partido uniforme nas construções*, padronizado pelas Cartas
Régias e/ou posturas municipais, onde se previa o alinhamento com
edificações vizinhas, a altura dos pavimentos e as dimensões e o
número de aberturas;

e) Manterem as Igrejas dispostas geralmente em pontos elevados, para destaque


e observação dos visitantes. Em regiões planas, ficavam no centro,
próximas à Casa de Câmara e Cadeia e em frente a uma praça (adro)
não monumental.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


* A uniformidade de estilo na arquitetura colonial, encontrada em todo o país, se
deu devido a um fator cultural, apesar de imposições contrárias, como as
derivadas do tipo de material de construção disponível. Ao construir sua
morada, por exemplo, o colono empregava as matérias-primas de acordo com a existência de cada
uma no sítio e reproduzia o modelo resgatado de sua terra natal. O homem emigrado conduzia o
aspecto de suas povoações como uma reconstrução de um pedaço de Portugal, o
qual lhe daria conforto diante de uma terra inóspita e aculturada segundo
seus padrões de existência.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


ANTES DE CONTINUAR.... UMA REFLEXÃO:

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


O TRABALHO ESCRAVO -> SIMPLICIDADE DAS TÉCNICAS

• A produção e o uso da arquitetura e


dos núcleos urbanos coloniais
baseavam-se no trabalho escravo;

• Por isso mesmo, o seu nível tecnológico era


dos mais precários;

• A simplicidade das técnicas denunciava,


assim, claramente, o primitivismo
tecnológico da sociedade colonial:
abundância de mão-de-obra determinada
pela existência do trabalho escravo.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


“Imagens não são simples ilustrações. Ao contrário, conformam
e confirmam valores e visões de mundo. Mais uma
vez, concentro-me na “ilustração” que a Folha
selecionou usar. Trata-se de uma aquarela de Jean-
Baptiste Debret — artista francês que aqui chegou em
1815 —particularmente perversa. Nela vemos um
escravizado sendo chibatado por um feitor negro.
Parcialmente desnuda, a vítima aparece de forma
passiva, assim como os demais escravizados. Alguns
assistem à cena de cabeça baixa — aguardando a
punição —, enquanto outros já se encontram no chão
depois de serem seviciados. A mensagem alude à
perfeita ordem. Já a imagem denota passividade e
resignação; muito diferente da reconhecida
historiografia brasileira da escravidão — que vem
mostrando a resistência e a agência dos
escravizados.
Imagens coloniais não são documentos verídicos ou testemunhos. Elas
carregam suas intenções como a afirmação de subserviência e a busca
da naturalização da desigualdade racial, ainda vigente no país.
“Ver” é uma capacidade biológica; já “enxergar” é
uma opção política e social!”
As cidades de colonização portuguesa

FORMA URBANA
• Ordenamento a partir da capela (Matriz);
• Ruas (vias principais);
• Travessas (vias secundárias);
• Ruas sem calçamento e sem vegetação;
• Concentração se contrapondo ao campo;
• Organicidade;
• Diversidade de perspectivas, surpresas visuais;
• Largos junto às Igrejas (quermesses, procissões, realce do edifício
principal);
• Fachadas contínuas, centros de quadra vazios (hortas e pomares);
• Ambiente pobre e monótono quanto à vida urbana.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


Ouro Preto – MG- caminhos delimitando vias
Ouro Preto – MG- caminhos delimitando vias
Ouro Preto – MG – topografia acidentada, procura por locais altos.
Ouro Preto – MG – construções alinhando vias.
Ouro Preto – MG – edificações se acomodando a topografia
Paraty RJ (imagem atual)- topografia plana, quadras regulares.
Miolos de quadra com maior ocupação.
Paraty-RJ- construções alinhando vias,
Notar ausência de separação pedestres/veículos.
Salvador – Igreja ordenando o espaço urbano, definindo áreas livres.
Salvador – Pelourinho Igreja criando um “largo” no espaço urbano.
Salvador – Pelourinho, perspectivas obliquas ou de esconso.
AS PRIMEIRAS CIDADES BRASILEIRAS

NÚMERO DE VILAS E CIDADES NO PAÍS


SÉCULO XVI
14 vilas, sendo apenas uma no interior,
3 cidades (Salvador fundada em 1580, possuía 800 habitantes)

SÉCULO XVII
37 vilas,
7 cidades (Rio de Janeiro, mais ou menos 2 mil habitantes)

SÉCULO XVIII
118 vilas
10 cidades (Salvador = 50 mil hab., Rio=10 mil hab., Vila Rica =30 mil hab.)
País com 3 milhões de hab. e 1 milhão de escravos.
Criação de estradas para carros de boi.
A partir da metade do século, transporte por tropas de burro.

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


BIBLIOGRAFIA

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BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2015.

CASTELNOU, Antonio. Teoria do Urbanismo. Apostila.

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https://maestrovirtuale.com/leis-das-indias-antecedentes-e-o-que-eles-promulgaram/

BENEVOLO, Leonardo História da Cidade 7 ed São Paulo Perspectiva, 2019.

BENDALA, Manuel Saber ver arte grega São Paulo Martins Fontes, 1989.

COLE, Emily História ilustrada da arquitetura um estudo de edificações, desde o Egito Antigo até o século XIX, passando por
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FAZIO, Michael MOFFETT, Marian WODEHOUSE, Lawrence A História da Arquitetura Mundial 3 Ed Porto Alegre AMGH,
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Profa. Ma. Ananda Soares Rosa


BIBLIOGRAFIA

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LEMOS, Carlos A. C. Arquitetura Brasileira. Edusp, São Paulo, 1979.

MARX, Cidade Brasileira. São Paulo: Melhoramentos/Edusp, 1980.

REIS FILHO, Nestou Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1983.

SEGAWA, Hugo. Arquitetura no Brasil: 1900-1990. São Paulo, EDUSP, 1998.

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LAMAS, José Maria Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.

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https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.050/566#:~:text=As%20Leis%20das%20%C3%8Dndias%2C%20de,%C3%A9%20conserv
em%20uma%20grande%20unidade

Profa. Ma. Ananda Soares Rosa

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